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Fatores explicativos do nível de evidenciação do relatório de sustentabilidade das empresas brasileiras que adotam as diretrizes do Global Reporting Initiative (GRI)

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Fatores explicativos do nível de evidenciação do relatório de sustentabilidade das empresas brasileiras que adotam as diretrizes do Global Reporting Initiative (GRI)

Resumo

Este artigo tem como objetivo identificar quais fatores explicam o nível de evidenciação do relatório de sustentabilidade das empresas brasileiras que adotam as diretrizes da Global

Reporting Initiative (GRI), versão Standards. Como possíveis fatores explicativos foram

considerados o grau de endividamento, se a empresa possui ações negociadas no mercado de valores, setor de atuação e tamanho. Para isso, foram utilizadas 38 empresas que divulgaram o relatório de sustentabilidade do exercício de 2017 na base de dados do GRI e apurado o nível de evidenciação dos relatórios com base nos indicadores gerais (102-1 a 102-56) da versão

Standards. Para alcançar o objetivo da pesquisa, foi utilizada a estatística descritiva, teste de

médias (T de Student e Wilcoxon), teste de correlação (Pearson) e regressão linear (modelo completo e Stepwise). Como resultado, observou-se que o tamanho das entidades influencia no nível de evidenciação dos relatórios de sustentabilidade, sendo responsável por 9,94% de variação. Observou-se que entre as empresas que apresentaram nível de evidenciação acima da média, cinco pertencem ao setor de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, segmento de alto impacto ambiental. Por meio da apuração do nível de evidenciação constatou-se que as entidades atendem cerca de 62,05% dos indicadores, devendo aperfeiçoar o relato para transmitir maior transparência aos usuários da informação.

Palavras-chave: Relatório de sustentabilidade; GRI Versão Standards; Nível de evidenciação;

Fatores explicativos.

Linha temática: Outros temas relevantes em contabilidade – Responsabilidade social e

ambiental.

1 Introdução

Nos últimos anos, a atenção pública para a questão ambiental aumentou acentuadamente em decorrência de diversos eventos climáticos extremos, tais eventos demonstraram que o equilíbrio climático do planeta está em risco, ocasionados pela ampla intervenção humana na natureza. Assim, há grande interesse da sociedade em reduzir efeitos nocivos ao meio ambiente e encontrar meios de prosseguir seu desenvolvimento de forma sustentável (Mello, 2009).

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momento atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender suas próprias necessidades (ONU, 1999).

Por essas razões, investidores têm optado por entidades que possuam em suas políticas organizacionais práticas sustentáveis, a fim de reduzir eventuais danos causados ao meio ambiente (Rodrigues; Machado & Cruz, 2011). A evidenciação das práticas sustentáveis se dá por meio do Relatório de Sustentabilidade, no qual são mensurados e divulgados os impactos socioambientais causados pelas atividades cotidianas das organizações, bem como o desempenho de sustentabilidade das empresas (Campos et al., 2013).

A Global Reporting Initiative (GRI) é uma organização internacional independente, que auxilia empresas e governos de todo o mundo, a entender e comunicar seu impacto em questões críticas de sustentabilidade, como mudança climática, direitos humanos, governança e bem-estar social, através de diretrizes e padrões globais de relatórios de sustentabilidade (Global Reporting Initiative [GRI], 2018).

Conforme Murcia et al. (2009), em algumas pesquisas já realizadas anteriormente foram constatadas algumas particularidades das empresas que influenciavam no nível de evidenciação ambiental, como o tamanho da entidade, o país em que se situa, nível de governança corporativa, divulgação em anos anteriores, entre outros fatores explicativos.

A partir do cenário exposto, o presente artigo busca responder a seguinte questão: Quais fatores explicam o nível de evidenciação do relatório de sustentabilidade das empresas brasileiras que adotam as diretrizes do Global Reporting Initiative (GRI)? Assim, o objetivo geral é analisar os fatores que explicam o nível de evidenciação do relatório de sustentabilidade das empresas brasileiras que adotam o Global Reporting Initiative (GRI).

Para alcançar este objetivo é necessário identificar o nível de evidenciação dos relatórios de sustentabilidade em conformidade com a GRI e verificar a existência de fatores explicativos para o nível de evidenciação das entidades da população estudada. Dessa forma, foram identificadas as empresas brasileiras que divulgaram o relatório de sustentabilidade do ano de 2017 em conformidade com as diretrizes do Global Reporting Initiative (GRI), servindo de base para o estudo proposto.

A pesquisa demonstrará como as entidades estão divulgando suas práticas sustentáveis aos usuários da informação e se estão aderindo às diretrizes propostas pela GRI, que são ferramentas utilizadas para padronizar as informações e contribuir na tomada de decisão.

Justifica-se a importância deste estudo, em função da crescente conscientização ambiental da sociedade, que busca cada vez mais por empresas que adotam práticas sustentáveis. Desse modo, as organizações têm se preocupado em investir em práticas sustentáveis e realizar a adequada evidenciação através dos relatórios de sustentabilidade, conforme discutido por Domenico, Tormem e Mazzioni (2017) agregando valor à organização, garantindo a credibilidade dos consumidores e investidores e promovendo a transparência das informações. Com a crescente adoção de práticas sustentáveis, torna-se relevante compreender os fatores que explicam as diferenças no nível de evidenciação do relatório de sustentabilidade, conforme as características distintas de cada entidade (Murcia et al., 2009). Também, o presente estudo se mostra relevante para servir de base para pesquisas futuras realizadas na área de contabilidade sobre sustentabilidade.

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2 Fundamentação Teórica

Nesta seção serão tratados dois tópicos, Global Reporting Initiative (GRI) e trabalhos anteriores.

2.1 Global Reporting Initiative

A Global Reporting Initiative (GRI) é uma organização internacional independente e sem fins lucrativos, pioneira em relatórios de sustentabilidade desde 1997 que visa auxiliar empresas e governos a entender e comunicar seu impacto em questões críticas, como mudança climática, direitos humanos, governança e bem-estar social, resultando em ações reais, criando benefícios sociais, ambientais e econômicos para toda a sociedade (GRI, 2018).

Os padrões de relatório de sustentabilidade da GRI, são o principal produto da empresa e são disponibilizados gratuitamente em seu website. De acordo com a pesquisa KPMG, citado por GRI (2018) de relatórios de responsabilidade corporativa 2017, 93% das 250 maiores corporações do mundo relatam seu desempenho de sustentabilidade. Nesse contexto:

A prática de divulgar informações de sustentabilidade inspira responsabilidade, ajuda a identificar e gerenciar riscos e permite que as organizações aproveitem novas oportunidades. Relatórios com as Normas GRI apoiam empresas, públicas e privadas, grandes e pequenas, protegem o meio ambiente e melhoram a sociedade, ao mesmo tempo em que prosperam economicamente, melhorando as relações entre governança e partes interessadas, melhorando a reputação e fortalecendo a confiança (GRI, 2018, tradução nossa).

Ao longo dos anos as diretrizes para elaboração do relatório de sustentabilidade foram evoluindo e se modificando. Em 1998 a Global Reporting Initiative elaborou a primeira versão das diretrizes para elaboração do relatório de sustentabilidade, sendo submetida a testes e lançada oficialmente no ano de 2000. No ano de 2002, na Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável em Joanesburgo, foi lançada a segunda versão das diretrizes, denominada G2. (GRI, 2018c).

Com o crescimento da demanda pela orientação de relatórios de sustentabilidade, no ano de 2006 foi lançada a terceira geração de diretrizes, o G3. Em 2011, foram divulgadas as diretrizes G3.1, sendo uma atualização e conclusão da diretriz G3 já existente. A quarta geração das diretrizes, denominado G4 foi lançado no ano de 2013, atualizando mais uma vez a ferramenta de elaboração dos relatórios. Por fim, no ano de 2016 a GRI divulgou sua versão mais atual dos padrões globais para relatórios de sustentabilidade, a GRI standards (GRI, 2018c).

Atualmente, a versão GRI standards é a mais recente, devendo ser adotada em todos os relatórios publicados a partir de 1º de julho de 2018 (GRI, 2018b).

Conforme a Global Reporting Initiative (2018b), as normas da versão GRI standards são baseadas no conteúdo das Diretrizes G4, versão anterior a standards, apresentando como diferença algumas alterações e melhorias. Entre as principais alterações estão: I) A nova estrutura modular, sendo organizada como um conjunto de padrões modulares e inter-relacionados; II) Formato revisado com requisitos mais claros, definida de forma mais explicita o que são os requisitos e o que são recomendações; III) Esclarecimentos de conteúdo, esclarecendo os principais conceitos para melhorar o entendimento e aplicação dos padrões; IV) Edição geral, o conteúdo foi editado trazendo uma linguagem mais simples e clara.

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A GRI standards é um conjunto de diretrizes que se divide em várias partes, a GRI 102 é que trata das divulgações gerais, mostrando os indicadores que devem ser evidenciados no relatório de sustentabilidade a fim de retratar as informações contextuais sobre uma organização. Os indicadores tratados na GRI 102 se dividem em seis seções: perfil organizacional; estratégia; ética e integridade; governança; envolvimento dos stakeholders e prática de relatórios (GRI, 2018d)

O perfil organizacional possui treze indicadores (102-1 a 102-13) fornecendo uma visão geral do tamanho da organização, localização geográfica e suas atividades desenvolvidas, perfil dos colaboradores da entidade, participação em associações, inciativas externas, características da cadeia de fornecedores, ajudando a compreender a natureza da organização e seus impactos econômicos, ambientais e sociais (GRI, 2018d).

Os indicadores da seção estratégia fornecem uma visão geral da estratégia da organização no que diz respeito a sustentabilidade, riscos e oportunidades e possuem apenas dois itens (102-14 e 102-15) (GRI, 2018d).

A ética e integridade, trata dos valores, princípios e normas de comportamento de uma organização em relação aos seus fornecedores, clientes, governo entre outros intermediários, bem como os mecanismos de aconselhamento para difundir os princípios éticos adotados pela entidade, esta seção possui dois itens de evidenciação (102-16 e 102-17) (GRI, 2018d).

A seção governança, mostra uma visão geral da estrutura de administração e a sua composição; o papel do órgão de governança na definição dos propósitos da organização, inclusive valores, estratégia, gestão de riscos e relatórios de sustentabilidade; as competências e avaliação de desempenho do órgão de governança; o papel do órgão de governança na avaliação do desempenho econômico; ambiental e social e as remunerações e incentivos. Esta seção possui vinte e dois indicadores (102 -18 a 102-39) (GRI, 2018d).

A seção envolvimento com os stakeholders, fornece informações sobre os grupos de interesse que a entidade deseja se engajar, a abordagem utilizada, a frequência do relacionamento com as partes interessadas e os principais temas e preocupações levantadas por meio do envolvimento com os stakeholders (102-40 a 102-44) (GRI, 2018d).

A última seção, prática de relatórios, demonstra uma visão do processo que uma organização tem seguido para definir o conteúdo de seu relatório de sustentabilidade e também os processos seguidos para identificar os temas materiais e seus limites, juntamente com quaisquer alterações ou atualizações em relação aos relatórios de anos anteriores, além disso, são fornecidas informações básicas sobre o relatório, a versão GRI utilizada e sumário do conteúdo GRI presente no relatório. Este tópico possui doze indicadores (102-45 a 102-56, GRI, 2018d).

2.2 Trabalhos anteriores

Assim como o presente estudo, várias outras pesquisas científicas já foram realizadas a fim de identificar o nível de evidenciação dos relatórios de sustentabilidade em conformidade com a GRI e as características das organizações que são possíveis fatores explicativos para a variação no nível de evidenciação dos relatórios, conforme quadro 1.

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Quadro 1 – Trabalhos anteriores

AUTOR RESULTADO DA PESQUISA

Murcia et al. (2008) Constatou que as características auditoria, tamanho da empresa e presença no Índice deSustentabilidade Empresarial (ISE) são fatores explicativos para o nível de evidenciação

Madalena et al. (2016) Constatou o aumento no nível de evidenciação das empresas, bem como o aumento nopercentual de empresas que evidenciaram todos os indicadores essenciais. Souza (2011) Constatou que as características auditoria e tamanho da empresa são fatoresexplicativos para o nível de evidenciação. Domenico, Tormem e

Mazzioni (2017)

Constatou que quanto mais complexa a informação do indicador, menor o nível de evidenciação. Em relação ao setor de atuação, o segmento utilidade pública apresentou

maior nível de evidenciação. Demonier, Demonier e

Pires (2015) Observou que cerca de 65% dos indicadores analisados foram evidenciados. Oliveira et al. (2013) reduzidas e observou que as empresas do setor de energia publicam mais que os demaisConstatou que até 2008 o volume de publicações com adesão a GRI eram bem

segmentos. Miranda e Malaquias

(2013)

Observou que o nível de evidenciação das empresas aumentou no ano de 2010, em comparação com as publicações de 2005. Constatou ainda que a variável tamanho

parece exercer influência no nível de evidenciação das entidades.

Gomes et al. (2015) Identificou que o tamanho e o nível de desempenho são fatores explicativos para o nívelde evidenciação das entidades. Burgwal e Vieira (2014) Constatou que o tamanho da entidade e o setor são fatores explicativos para o nível deevidenciação.

Braga e Ricarte (2015) Constatou que o tamanho da entidade é um fator explicativo para o nível deevidenciação. Fonte: Elaborado pelos autores.

Murcia et al. (2008) realizou uma pesquisa cujo objetivo era identificar os fatores que explicam a evidenciação ambiental das organizações e para isso, utilizou como amostra as empresas abertas com ações listadas na B3 que publicaram as demonstrações contábeis referentes ao ano de 2006, pertencentes a setores de alto impacto ambiental. Como variáveis das características das entidades foram formuladas seis hipóteses, relativas ao tamanho da empresa, rentabilidade, endividamento, serviço de auditoria, sustentabilidade empresarial e internacionalização.

Como resultado, foi encontrada a relação de fatores explicativos em três variáveis, Murcia et.al (2008) constatou que as empresas auditadas por ‘big four’, companhias maiores e presentes no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), evidenciam mais informações de caráter ambiental.

Na pesquisa de Madalena et al. (2016), foi realizado um estudo com o objetivo de identificar o nível de evidenciação dos relatórios de sustentabilidade em conformidade com as diretrizes do Global Reporting Initiative. Como fonte de dados foram coletados os relatórios de sustentabilidade do ano de 2013 publicados em conformidade com a versão G3 das diretrizes da GRI, das empresas de capital aberto pertencentes ao nível A+ de evidenciação da versão G3, como critério de escolha foi utilizado a listagem do ISE divulgado pela B3.

Como resultado, Madalena et al. (2016) identificou um aumento no nível de evidenciação, comparado com estudos anteriores realizados, observou ainda, um aumento de 66,67% de

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empresas da amostra que evidenciaram todos os indicadores essenciais.

Souza (2011), realizou uma pesquisa com o objetivo de identificar os fatores significativos para explicar o nível de evidenciação da perda do valor recuperável de ativos, para isso foram verificadas as notas explicativas dos anos de 2008 e 2009 de todas as empresas listadas a B3. Foram testadas sete hipóteses com base nas variáveis: tamanho, rentabilidade, empresa de auditoria, governança corporativa, internacionalização, oportunidades de crescimento e endividamento.

O resultado da pesquisa de Souza (2011) demonstrou que as empresas maiores e auditadas por Big Four tendem a ter maior nível de evidenciação.

O estudo de Domenico, Tormem e Mazzioni (2017) teve como objetivo analisar o nível de evidenciação dos relatórios de sustentabilidade e observar possíveis fatores explicativos. A pesquisa permitiu concluir que a medida em que há maior complexidade nas informações dos grupos de indicadores apresentados no relatório de sustentabilidade, reduz-se o nível de evidenciação. Domenico, Tormem e Mazzioni (2017) constataram também que em relação ao setor de atuação, as empresas do segmento de utilidade pública apresentaram maior nível de evidenciação comparada às demais da amostra. Em relação aos fatores explicativos, os resultados apresentaram indícios de que as empresas maiores, com comitê de auditoria, que não possuem investidor institucional, com nível diferenciado de governança corporativa, com maior concentração de capital e com maior nível de endividamento, apresentaram níveis mais elevados de evidenciação, entretanto, as diferenças não foram significativas.

Demonier, Demonier e Pires (2015), realizou uma pesquisa com o objetivo identificar o nível de adesão do relatório de sustentabilidade as diretrizes GRI G3, para isso utilizou como base para o estudo as cinco maiores empresas atuantes no mercado capixaba, que adotaram o modelo GRI G3 no exercício de 2012. Os resultados demonstraram que apesar dos sete anos de existência do modelo GRI, as empresas ainda não conseguiram aderir completamente ao modelo. Aproximadamente 65% dos indicadores foram atendidos, conforme requisitos mínimos solicitados, foi constatado ainda que o nível de evidenciação não teve relação com o tamanho das entidades (medido através da receita), porém houve indícios que o seguimento pode ser um fator explicativo (Demonier; Demonier & Pires, 2015).

Oliveira et al. (2013), buscou identificar o nível de adesão e o volume de publicação dos relatórios de sustentabilidade conforme as diretrizes da GRI entre os anos de 2000 a 2008. Para a análise foram observados os volumes de relatórios publicados globalmente e definidas cinco variáveis: setor econômico, ano de adesão as diretrizes, nível de aplicação das diretrizes, existência de ações negociadas na B3 e participação no índice de sustentabilidade empresarial (ISE) da B3.

A pesquisa permitiu concluir que as publicações de relatórios conforme o modelo GRI são bem reduzidos, sendo adotados por poucas entidades. Com relação as características analisadas, constatou-se que as empresas do setor de energia publicaram mais em relação aos demais segmentos (Oliveira et al., 2013).

Miranda e Malaquias (2013), tinham como objetivo geral da pesquisa comparar o nível de

disclosure ambiental fornecido pelas companhias em suas demonstrações contábeis, comparando

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brasileiras listadas na B3, que negociavam papéis na Bolsa de Valores de Nova Iorque (NYSE). Como resultado, foi observado que o nível de disclosure aumentou com o decorrer dos anos, sendo possível ainda verificar que a variável de tamanho parece exercer influência no nível de evidenciação ambiental das empresas analisadas (Miranda & Malaquias, 2013).

Gomes et al. (2015), investigou a relação das características econômico-financeiras das empresas e os respectivos níveis de disclosure voluntário em conformidade com as diretrizes da GRI. Para isso foram analisados os dados de empresas de capital aberto dos quatros países pertencentes ao BRIC – Brasil, Rússia, Índia e China – que publicaram no ano de 2010 relatórios de sustentabilidade conforme as diretrizes da GRI.

Constataram que o nível de evidenciação está associado a incentivos econômicos. O desempenho e o tamanho da entidade se mostraram como um fator explicativo para o nível de evidenciação das empresas (GOMES et al., 2015).

Burgwal e Vieira (2014), realizaram uma pesquisa cujo objetivo era identificar variáveis que possuam impacto significativo no nível das práticas de divulgação ambiental conforme a GRI. Para isso foram coletados os dados de companhias abertas holandesas. Como variáveis foram utilizadas: o tamanho da companhia, o setor e a lucratividade.

Os testes estatísticos comprovaram que o tamanho da entidade e o setor apresentaram uma associação significativa com o nível de evidenciação (Burgwal & Vieira, 2014).

Braga e Ricarte (2015), realizaram um estudo cujo objetivo era identificar o nível de divulgação da informação socioambiental das empresas do setor de energia elétrica brasileiro no ano de 2012. Para analise, utilizaram as seguintes variáveis: rentabilidade, tamanho, investimento sociais internos e externos e investimentos ambientais.

Como resultado, foi constatado que a variável tamanho da entidade é um fator significativo no nível de evidenciação das empresas analisadas (Braga & Ricarte, 2015).

Conforme estudos realizados demonstrados acima, diversas pesquisas buscam identificar o nível de evidenciação e as características das entidades que podem ser fatores explicativos para esta variação, indo ao encontro do objetivo do presente estudo.

3 Metodologia

Os procedimentos metodológicos empregados no estudo científico contemplam quanto ao objetivo, a pesquisa descritiva, sendo aplicado como procedimento de coleta de dados a pesquisa documental e abordando o problema de forma quantitativa, através de testes estatísticos que contribuíram para interpretação e análise das informações.

A pesquisa descritiva retrata aspectos e comportamentos da população analisada, esclarecendo determinadas características e aspectos inerentes a ela. Este método de pesquisa, preocupa-se em observar os fatos, registrá-los, analisá-los, classificá-los e interpretá-los, sem que haja a manipulação do pesquisador (Beuren et al., 2003).

Conforme Beuren et al. (2003), como uma das características mais significativas da pesquisa descritiva, tem-se a utilização de técnicas padronizadas de coletas de dados, sendo aplicado no presente artigo o procedimento da pesquisa documental. Este procedimento baseia-se em materiais que ainda não receberam um tratamento analítico ou que podem ser reelaborados de acordo com o objetivo do estudo, visando dessa forma, selecionar, tratar e interpretar as

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informações brutas, a fim de extrair algum sentido e introduzir lhe algum valor.

A tipologia da pesquisa quanto a abordagem do problema se configura como quantitativa, caracterizando-se, segundo Beuren et al. (2003) pelo emprego de instrumentos estatísticos, tanto na coleta como no tratamento dos dados, em uma tentativa de compreender por meio de uma amostra o comportamento de uma população.

Como amostra para o desenvolvimento do trabalho, foram identificadas as empresas constantes na base de dados da GRI que divulgaram o relatório de sustentabilidade referente ao exercício do ano de 2017. Inicialmente foram identificadas 56 empresas, sendo excluídas entidades que não divulgaram os demonstrativos contábeis ou que divulgaram apenas a versão preliminar do relatório de sustentabilidade, resultando em 38 entidades aptas para presente pesquisa.

Para coleta de dados, foram reunidos os relatórios de sustentabilidade das entidades e aplicado um check list para observar se foram considerados os indicadores gerais (1 a 102-56) definidos na GRI versão Standards

(https://www.globalreporting.org/standards/gri-standards-download-center/). Assim, foi atribuída uma pontuação para os indicadores que foram

divulgados adequadamente, chegando desse modo ao nível de evidenciação dos relatórios de sustentabilidade das empresas coletadas. Desta forma foi atribuído zero pontos se não houve evidenciação do indicador, um ponto se atende parcialmente aos requisitos da evidenciação e dois se atende totalmente ao conteúdo estabelecido na norma.

Após a atribuição dos pontos, foi calculado o nível de evidenciação, considerando que a pontuação máxima possível para um relatório que atende completamente as diretrizes exigidas são 112 pontos, tendo em vista 56 indicadores gerais de dois pontos cada. Assim, foi realizada a somatória de pontos obtida por cada entidade e dividido o valor por 112, resultando no percentual correspondente ao nível evidenciação.

Foram consideradas ainda, algumas características a fim de verificar a existência de fatores explicativos para a variação do nível de evidenciação das empresas analisadas, como o grau de endividamento, se possui ações negociadas no mercado de valores, setor de atuação e tamanho.

O grau de endividamento, medido através da fórmula capital de terceiros/ total do ativo, demonstra quanto a empresa possui de capital de terceiros para cada real do ativo. Segundo Murcia et al. (2008), gestores de entidades que possuem maior nível de endividamento tendem a divulgar mais informações aos usuários para satisfazer os credores e remover suspeitas sobre a transparência de riqueza dos acionistas.

A negociação de ações no mercado de valores e balcão, B3, exige que as entidades publiquem informações acerca do patrimônio e demais eventos contábeis ou financeiros pertinentes, conforme legislação vigente aplicável e de forma padronizada e objetiva aos usuários da informação (Ghani, Martelanc & Kayo, 2015). Dessa forma, espera-se que as empresas listadas na B3 apresentem maior nível de evidenciação em seus relatórios.

Em relação ao setor de atuação (Domenico; Tormem & Mazzioni, 2017), espera-se que o nível de evidenciação varie de acordo com a amplitude do impacto ambiental praticado pelas entidades em suas atividades produtivas. Esta variável foi identificada conforme a classificação setorial internacional definido pelo código North America Industrial Classification (NAICS,

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2019).

O tamanho da entidade, composto pelo tamanho do ativo, tende a ser outro fator que pode estar relacionado com o nível de evidenciação dos relatórios de sustentabilidade. Conforme Murcia et al. (2008), empresas com maior visibilidade tendem a evidenciar mais, aumentando assim sua reputação corporativa. Para apuração da variável tamanho foi utilizado como proxy o logaritmo natural aos dados coletados de ativo total de cada entidade, conforme Teixeira, Nossa e Funchal (2011).

Em vista das características tratadas acima, para analisar os dados coletados foram realizados também diversos testes estatísticos a fim de observar se a relação entre as características das empresas e o nível de evidenciação proposto pelo problema da pesquisa ocorre, reconhecendo dessa forma, a existência de fatores explicativos.

A estatística descritiva, composta por diversas medidas como: média, mediana, desvio padrão, mínimo, máximo, foi apresentada para explorar as informações específicas das variáveis. Esta foi a etapa inicial da análise estatística, sendo utilizada para descrever o conjunto de dados utilizado na pesquisa (Barbetta, 2010).

Foi realizado o teste de comparação entre duas amostras que, de acordo com Barbetta (2010), permite avaliar se as diferenças observadas entre os dois grupos podem ser meramente justificadas por fatores casuais, ou se tais diferenças são reais e significativas. Para o teste de média foram realizados previamente o Teste de Skewness and Kurtosis e Teste de Homogeneidade que são pressupostos do teste de média para detectar a normalidade e homogeneidade. Para as variáveis que apresentaram normalidade e homogeneidade foi aplicado o teste T de Student e para as variáveis que não apresentaram normalidade foi aplicado o teste de

Wilcoxon, a fim de realizar a adequada comparação das amostras de acordo com as

peculiaridades de cada variável.

A análise de correlação, cujo método é utilizado para avaliar o grau de relacionamento entre as variáveis (Barbetta, 2010), foi aplicada a fim de identificar se existe relação entre as características das empresas analisadas e o grau de evidenciação de seus relatórios. Dessa forma, para as características quantitativas foi aplicado o teste de correlação de Pearson, sendo possível identificar forte correlação nas variáveis que apresentaram coeficiente próximo a um ou menos um.

Para verificar a possível existência de multicolinearidade entre as variáveis utilizadas, foi observado no teste de Pearson se as variáveis tamanho e grau de endividamento apresentavam forte correlação entre si, após o teste esta hipótese foi descartada. Foi realizado ainda o teste

Variance Inflation Factor (VIF), segundo teste para detectar a possibilidade de

multicolinearidade entre as variáveis. O resultado apontou que não há problema de multicolinearidade entre as variáveis utilizadas, pois o resultado foi abaixo de cinco, como sugerido por Fávero et al. (2009).

O teste de Breusch-Pagan foi aplicado para detectar a existência de heterocedasticidade entre as variáveis independentes e apresentou o resultado de 0,6839. Como foi acima de 0,05, as variáveis não apresentam problema de heterocedasticidade.

Após assegurar que a variável dependente tem normalidade a partir do resultado do Teste de Skewness and Kurtosis e que o modelo não possui problema de multicolinearidade e

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heterocedasticidade, foi realizada a regressão linear. Segundo Barbetta (2010), a regressão linear relaciona uma variável dependente com variáveis independentes ou explicativas, sendo possível identificar na amostra estudada qual percentual de variação da variável dependente é explicado pela variável independente. Para assegurar a significância da variável indicada no modelo de regressão linear, foi utilizado modelo Stepwise.

4 Análise dos resultados

Nesta seção serão tratados quatro tópicos: análise descritiva, análise do teste de médias, análise de correlação e regressão linear.

4.1 Análise Descritiva

A fim de atingir o objetivo proposto pela pesquisa, foram coletados os dados de 38 entidades brasileiras que divulgaram o relatório de sustentabilidade referente ao exercício do ano de 2017 na base de dados da GRI.

Dessa forma, além da apuração do nível de evidenciação (N. E. GRI) dos relatórios de sustentabilidade, foram coletadas as variáveis setor de atuação, se a entidade está listada na B3 (B3), o grau de endividamento (G. E.) e o tamanho (TAM.), conforme exposto no Quadro 2 referente a coleta de dados.

Quadro 2 – Coleta de dados N. E.

GRI SETOR B3 G. E. TAM.

1 A. C. Camargo Cancer Center 91,07% Hospitais de Cirurgia e Méd. em Geral NÃO 11,57% 14,668 2 Aliansce Shopping Centers 49,11% Locadora de imóveis SIM 47,81% 15,383

3 Banco do Brasil 73,21% Bancos SIM 92,79% 21,037

4 Banco do Estado do Pará S. A. - Banpará 62,50% Bancos SIM 85,23% 15,752 5 Casa da Moeda do Brasil 63,39% Autoridades monetárias - Banco Central NÃO 30,20% 14,925 6 Cia Est. de Dist. de Ener. Elét. (CEEE-D) 52,68% Empresa de eletricidade, gás e água SIM 132,46% 15,156 7 Cia Est. de Ger. e Trans. de Ener. Elét. (CEEE-GT) 50,00% Geração, trans. e distri. de energ. elét. SIM 50,52% 15,369 8 Celulosi Irani S A 73,21% Indústria de papel, celulose e papelão SIM 77,31% 14,222 9 Central Nacional Unimed 57,14% Cia Diretas de Seguro Méd. e de Saúde NÃO 64,50% 14,304 10 Cia energética de São Paulo (CESP) 75,00% Geração, trans. e distri. de energ. elét. SIM 36,09% 16,225 11 Cia Hidro Elétrica de São Francisco (CHESF) 63,39% Geração, trans. e distri. de energ. elét. NÃO 47,74% 16,836 12 Cia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE) 55,36% Água, esgoto e outros sistemas NÃO 56,27% 16,428 13 Cia Brasileira de Alumínio (CBA) 58,93% Produção primária de alumínio  NÃO 50,10% 16,244 14 CPFL Renováveis 60,71% Empresa de eletricidade, gás e água SIM 67,81% 16,369 15 Energias do Brasil S. A. (EDP) 77,68% Geração, trans. e distri. de energ. elét. SIM 56,15% 16,841 16 Eletrobrás (Centrais Elétricas Brasileiras) 82,14% Geração, trans. e distri. de energ. elét. SIM 75,28% 18,969 17 Eletrobras Eletronuclear 58,93% Geração de Energia Elétrica Nuclear NÃO 158,39% 15,992 18 Eletrobras Furnas 74,11% Geração, trans. e distri. de energ. elét. NÃO 48,40% 17,475 19 Embraer 83,04% Indústria de equipamentos aeroespacias SIM 65,11% 17,495 20 Engie Brasil Energia (Tractebel Energia) 67,86% Geração, trans. e distri. de energ. elét. SIM 65,07% 16,789 21 Equatorial Energia 43,75% Geração, trans. e distri. de energ. elét. SIM 67,13% 16,677

COLETA DE DADOS

CARACTERÍSTICAS ENTIDADE

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22 Fundação Banco do Brasil 59,82% Organizações Cívicas e Sociais NÃO 30,75% 12,704 23 Itaipu Binacional 68,75% Geração de Energia Hidroelétrica NÃO 99,14% 17,466 24 Liga Solidária 50,89% Outras Organizações de Defesa Social NÃO 9,07% 12,493 25 Multiplus 66,07% Outros serviços de apoio NÃO 86,07% 14,359 26 OuroFino Saúde Animal 73,21% Indústria de remédios SIM 49,94% 13,605 27 Renault Brazil 65,18% Fabricação de Automóvel NÃO 77,26% 15,842 28 Cia de Saneam. Básico do Est. de S. P. (SABESP) 61,61% Instalações de Tratamento de Esgoto NÃO 55,72% 17,493 29 Sirio Libanes Hospital 58,93% Hospitais de Cirurgia e Méd. em Geral NÃO 32,76% 14,659 30 UFSC 43,75% Faculdades, Univers. e Escolas Profissi. NÃO 2,52% 13,766 31 Unimed Amparo 61,61% Cia Diretas de Seguro Méd. e de Saúde NÃO 64,57% 11,023 32 Unimed Campinas 75,89% Cia Diretas de Seguro Méd. e de Saúde NÃO 61,32% 13,430 33 Unimed Cuiabá 67,86% Cia Diretas de Seguro Méd. e de Saúde NÃO 54,48% 12,977 34 Unimed do Brasil (Conf. Nac. das Cooper. Méd.) 49,11% Cia Diretas de Seguro Méd. e de Saúde NÃO 38,58% 12,679 35 Unimed Goiânia 58,93% Cia Diretas de Seguro Méd. e de Saúde NÃO 71,88% 13,610 36 Unimed Limeira 55,36% Cia Diretas de Seguro Méd. e de Saúde NÃO 48,38% 11,231 37 Unimed Vitória 71,43% Cia Diretas de Seguro Méd. e de Saúde NÃO 63,34% 13,257 38 Votorantim Energia 60,71% Geração, trans. e distri. de energ. elét. NÃO 84,48% 14,465 Fonte: Elaborado pelos autores.

Com o intuito de explorar as informações específicas das variáveis, foi apresentada a estatística descritiva contendo os elementos: média, mediana, desvio padrão, mínimo e máximo dos dados. A Tabela 1 mostra os resultados encontrados (a sigla NSA corresponde a eventuais situações em que não se aplica a medida descritiva).

Tabela 1 – Estatística descritiva

Variáveis Média Mediana Desvio-Padrão Mínimo Máximo Observações

Evidenciação 63,74 62,05 10,97 43,75 91,07 38

Endividamento 60,95 58,79 30,00 2,52 158,39 38

Capital Aberto NSA NSA NSA 0 1 38

Tamanho 15,21 15,26 2,08 11,02 21,03 38

Fonte: Elaborado pelos autores

Em relação ao nível de evidenciação, observa-se que sobre a totalidade das empresas analisadas apenas 16 apresentaram o percentual acima da média de 63,74%. Destas, cinco pertencem ao setor de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica e três pertencem ao setor de companhias diretas de seguro médico e de saúde. Este resultado pode se justificar por serem empresas pertencentes a setores de alto impacto no meio ambiente, como o segmento de energia elétrica.

Por outro lado, se observou que nenhuma empresa evidenciou completamente todos os indicadores propostos pela GRI, o nível máximo de evidenciação constatado pertence a empresa A. C. Camargo Câncer Center, do setor hospital de cirurgias e médicos em geral, com 91,07% do seu relatório em conformidade com as diretrizes. Metade da amostra analisada apresentou nível de evidenciação maior ou igual a 62,05%, ou seja, apesar de nenhuma entidade evidenciar 100% em conformidade com a GRI, as entidades aplicam na prática mais da metade das diretrizes fornecidas pela GRI.

(12)

Em relação ao grau de endividamento, as empresas analisadas apresentaram em média 60,95% de endividamento, ou seja, em média as entidades analisadas possuem R$ 0,60 de capital de terceiros para cada real de ativo. O desvio padrão da variável foi alta, apresentando grande dispersão entre os dados de cada entidade e grande amplitude dos dados, sendo o menor valor 2,52% e o maior 158,39%.

A variável tamanho apresentou mediana de 15,26 (logaritmo natural do Ativo), demonstrando que apesar de apresentar intervalo entre 11,02 e 21,04, o tamanho de metade das entidades analisadas está próximo ao limite mínimo identificado. O baixo desvio padrão demonstra que os dados apresentam pouca dispersão entre si.

4.2 Análise do teste de médias

A análise do teste de médias foi realizada para identificar se as diferenças observadas entre os dois grupos podem ser meramente justificadas por fatores casuais, ou se tais diferenças são reais e significativas (Barbetta, 2010). Conforme exposto na tabela 2, o nível de evidenciação das empresas que negociam ações no mercado de valores não difere do nível de evidenciação das empresas de capital fechado. Em relação ao grau de endividamento, foi constatado o mesmo resultado, não há diferença do grau de endividamento entre as empresas listadas na B3 e as empresas de capital fechado.

Tabela 2 – Teste de médias

Variáveis Evidenciação Endividamento Tamanho

Teste de Skewness and Kurtosis 0,711 0,011 0,494

Teste de Homogeneidade 0,064 0,601

Teste T de Student -0,97 -2,99***

Teste de Wilcoxon -1,72*

Fonte: Elaborado pelos autores

A variável de tamanho apresentou diferença significativa ao nível de confiança de 1%, mostrando que há diferença de tamanho entre as entidades listadas na B3 e as entidades de capital fechado. A relação pode ser justificável pois em geral as entidades abrem o capital com intuito de captar recursos para atingir suas metas estratégicas, dessa forma, empresas listadas no mercado de valores podem ser maiores que as de capital fechado (Ghani, Martelanc & Kayo, 2015).

4.3 Análise de Correlação

Foi realizado o teste de correlação de Pearson, para identificar se há correlação entre as variáveis quantitativas e o nível de evidenciação das entidades analisadas, conforme tabela 3.

Tabela 3 – Análise da correlação

Variáveis Evidenciação Endividamento Tamanho

Evidenciação 1

Endividamento 0,044 1

Tamanho 0,315* 0,316* 1

(13)

Ao analisar a relação da variável dependente nível de evidenciação, observa-se que a maior correlação foi com o tamanho com coeficiente de 0,315, dessa forma o tamanho pode estar influenciando no nível de evidenciação dos relatórios de sustentabilidade. Quanto as variáveis de tamanho e endividamento, a correlação apresentou o coeficiente de 0,316, o que descartou a hipótese de multicolinearidade.

4.3 Regressão linear

A regressão linear possibilita identificar qual a variação no nível de evidenciação explicado pelas variáveis grau de endividamento, capital aberto e tamanho. Antes de realizar a regressão linear foram realizados testes (Pearson, VIF e Breusch-Pagan) para garantir que não há problemas de multicolinearidade e heterocedasticidade que poderiam distorcer a informação fornecida pela análise. Na tabela 4 constam os resultados da regressão linear

O grau de endividamento, conforme modelo de regressão Stepwise, não apresenta relação com o nível de evidenciação, isso pode se justificar pois o grau de endividamento decorre de características operacionais, podendo variar de acordo com o segmento de atuação da entidade.

O capital aberto (B3), conforme modelo de regressão Stepwise, também não apresentou relação com o nível de evidenciação. Apesar de empresas listadas na B3 divulgarem obrigatoriamente grande número de informações aos usuários, o relatório de sustentabilidade, por ser uma informação voluntária, pode não receber a mesma relevância pelas entidades que as demais demonstrações contábeis.

Tabela 4 – Regressão linear

Variáveis Modelo Completo Modelo Stepwise

Coef. T Coef. T Endividamento -0,0232 -0,37 Capital Aberto 0,6564 0,16 Tamanho 1,6933 1,72* 1,6509 1,99* Constante 39,1571 2,79*** 38,5457 3,02*** Observações 38 38 Teste F 1,31 3,97* R2 0,1034 0,0994

Fonte: Elaborado pelos autores

O tamanho, conforme modelo de regressão Stepwise, apresentou relação positiva com nível de evidenciação. O resultado da regressão confirmou a hipótese levantada por Murcia et al. (2008) que empresas com maior visibilidade tendem a evidenciar mais, aumentando assim sua reputação corporativa. O R² do modelo de regressão Stepwise foi 0,0994, o que significa que 09,94% da variação no nível de evidenciação dos relatórios de sustentabilidade é explicado pelo tamanho da entidade.

5 Conclusão

A presente pesquisa analisou os fatores que explicam o nível de evidenciação do relatório de sustentabilidade das empresas brasileiras que adotam o Global Reporting Initiative (GRI).

(14)

Como fatores explicativos foi considerado o grau de endividamento, se empresa está listada na B3, o setor de atuação e o tamanho da entidade. Incialmente, foi apurado o nível de evidenciação dos relatórios de sustentabilidade conforme os indicadores gerais da GRI Standards e coletado os dados do passivo total e ativo total para o grau de endividamento, realizado o logaritmo natural do ativo total para o proxy de tamanho, identificado o setor de atuação conforme NAICS e identificado se a empresa está listada na B3 para a variável capital aberto.

Para alcançar o objetivo foram realizados alguns testes estatísticos com o intuito de transformar os dados coletados em informação com valor agregado, sendo eles a estatística descritiva das variáveis, teste de médias (T de Student e Wilcoxon), teste de correlação (Pearson) e regressão linear (modelo completo e Stepwise).

Como resultado, constatou-se que o nível de evidenciação dos relatórios de sustentabilidade em conformidade com as diretrizes da GRI foi de 62,05%, valor abaixo do encontrado na pesquisa de Demonier, Demonier e Pires (2015) que identificou que a evidenciação das empresas no exercício de 2012 era de 65%.

No tocante aos fatores explicativos para a variação no nível de evidenciação dos relatórios, foi identificado que o tamanho é uma característica que influencia a evidenciação, conforme também observado nas pesquisas de Murcia et al. (2008), Souza (2011), Miranda e Malaquias (2013), Gomes et al. (2015), Burgwal e Vieira (2014) e Braga e Ricarte (2015), sendo responsável pela variação de 09,94% no nível de evidenciação dos relatórios de sustentabilidade em conformidade com a GRI.

De certa forma, esperava-se que as empresas listadas na B3 apresentassem maior nível de evidenciação, pois há a exigência que divulguem diversas informações acerca do patrimônio aos usuários da informação. Do mesmo modo, esperava-se que o grau de endividamento fosse um fator explicativo, pois conforme Murcia et al. (2008) gestores de entidades que possuem maior nível de endividamento tendem a divulgar mais informações aos usuários para satisfazer os credores e remover suspeitas sobre a transparência de riqueza dos acionistas. As duas variáveis foram descartadas, não sendo fatores explicativos para o nível de evidenciação.

Em relação ao setor de atuação, foi observado que das empresas que apresentaram nível acima da média de 63,74%, cinco pertencem ao segmento de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, conforme também observado na pesquisa de Oliveira et al. (2013), o que corrobora com a hipótese que as atividades operacionais que exercem maior impacto no meio ambiente tendem a evidenciar mais em seus relatórios de sustentabilidade.

O resultado obtido na pesquisa se mostra relevante para contribuir com o conhecimento cientifico e servir de base para pesquisas futuras realizadas na área de contabilidade sobre sustentabilidade.

Para os próximos estudos sugere-se que seja aumentado o período analisado a fim de verificar a variação do nível de evidenciação ao longo dos anos e que sejam utilizadas outras características como possíveis fatores explicativos para o nível de evidenciação dos relatórios de sustentabilidade.

(15)

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