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Bought by Chance? Understand Why!

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Academic year: 2021

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(1)RBGN – REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO DE NEGÓCIOS. ISSN 1806-4892. © FECAP. ÁREA TEMÁTICA: MARKETING. Comprou sem Querer? Entenda o Porquê! Bought by Chance? Understand Why! ¿Compró sin Querer? ¿Entienda el Porqué! Samuel Lincoln Bezerra Lins1 Rita de Cássia de Faria Pereira2 Recebido em 17 de novembro de 2010 / Aprovado em 16 de dezembro de 2011 Editor Responsável: João Maurício Gama Boaventura, Dr. Processo de Avaliação: Double Blind Review. RESUMO. cada bloco de questões como Variável Dependente. Esta pesquisa teve o objetivo identificar variáveis. (VD) tendo sempre a Impulsividade como Variá-. antecedentes  à  impulsividade  na  compra  e  de. vel  Independente  (VI);  As  variáveis  que  apre-. verificar a relação entre a tendência à compra por. sentaram  poder  preditivo  da  compra  impulsiva. impulso e os valores humanos. Para alcançar esse. foram os valores “Prazer” e “Estabilidade Pessoal”,. objetivo foi realizado um survey por meio de um. o  Sistema  de Valor  “Existência”,  a  circulação  na. perfil  criado  no  Orkut,  em  que  os  estudantes. loja, a frequência do uso do cartão de crédito nas. foram  convidados  a  participar  da  pesquisa  res-. compras,  o  costume  de  freqüentar  shopping. pondendo a um questionário disponível on-line.. centers, e variáveis sócio-demográficas como sexo,. Foram  aplicados  cinco  instrumentos:  1)  Escala. idade  e  renda  familiar.  Esta  pesquisa  contribuiu. de Atividade de Compra; 2) Escala de Circulação. para a compreensão de aspectos que influenciam a. na  Loja;  3)  Escala  de Valores  Humanos  básicos;. compra por impulso, tema que é pouco estudado. 4)  Questionário  sócio-demográfico;  e,  5)  Ques-. no Brasil.. tionário de hábitos de consumo. Participaram da pesquisa 154 estudantes (77 homens e 77 mulhe-. Palavras chave: Valores humanos. Impulsividade. res)  regularmente  matriculados  na  Universidade. na compra. Hábitos de consumo. Jovens. Univer-. Federal da Paraíba, na faixa etária entre 18 a 25. sitários.. anos  (média=21;  DP=2).  Foi  calculada  a  distribuição das frequências das variáveis sócio-demográficas  e  dos  hábitos  de  consumo  dos  partici-. ABSTRACT. pantes; os Alfas de Cronbach para os fatores das. This research has the aim of identifying previous. escalas; e análise de regressão linear múltipla para. variants to impulsivity at the time of buying and. 1. Doutorando  em  Psicologia  na  Universidade  do  Porto,  Faculdade  de  Psicologia  e  Ciências  da  Educação  –  FPCE/UP [samuel.bezerra.lins@gmail.com] Endereço do autor: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, Laboratório de Psicologia Social, Rua Alfredo Allen 4200-135 Porto, Portugal. 2. Doutora  em  Administração  pela  Universidade  Federal  do  Rio  Grande  do  Sul  –  UFRGS.  Professora  da  Universidade Federal da Paraíba – UFPB. [rita_faria@yahoo.com] Endereço da autora: Cidade Universitária, Joao Pessoa – PB Cep. 58051-900 Brasil. 376. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 13, n. 41, p. 376-395, out./dez. 2011.

(2) Comprou sem Querer? Entenda o Porquê! as  well  as  to  verify  the  relationship  between  the. sociodemográfico; y  5) Cuestionario de hábitos. tendency  to  buy  things  by  impulse  and  human. de  consumo.  Participaron  en  la  investigación. values. To  achieve  this  goal  a  survey  was  carried. 154  estudiantes  (77  hombres  y  77  mujeres). out  through  an  orkut  profile  account,  where. regularmente  matriculados  en  la  Universidad. the  students  were  invited  to  take  par t  in  a. Federal  de  Paraiba,  para  el  grupo  de  edad  de. survey  answering  to  an  on  line  questionnaire. 18 a 25 años (media= 21; DP=2).  Se calculó la. available. Five instruments were applied: 1) Scale. distribución  de  las  frecuencias  de  las  variables. of  shopping  activity;  2)  scale  of  circulation  in. sociodemográficas  y  los  hábitos  de  consumo. the  stores  3)  Scale  of  Basic  Human  Values;. de  los  par ticipantes;  los  Alfas  de  Cronbach. 4)  Social-Demographic  Questionnaire;  and,. para  los  factores  de  las  escalas;  y  un  análisis  de. 5)  Questionnaire  about  consumption  habits.. regresión  linear  múltiple  para  cada  bloque  de. 154  students  have  taken  part  in  this  sur vey.. preguntas  como  Variable  Dependiente  (VD),. (77  men  and  77  women)  currently  registered  at. teniendo siempre la Impulsividad como Variable. Universidade  Federal  da  Paraíba,  between  18. Independiente (VI). Las variables que presentaron. to  25  years  of  age  (average=21;  DP=2).  We. importancia predictora de la compra por impulso. have  calculated  the  distribution  of  the  social. fueron  los valores “Placer”  y  “Estabilidad Personal”,. demographic frequencies and the spending habits. el  Sistema  de  valor  “Existencia”,  la  circulación. amongst  the  participants;  the  Alfa  of  Cronbach. en la tienda, la frecuencia de uso de la tarjeta de. to the facts of the scales; and the analyze multiple. crédito en las compras, la costumbre de frecuentar. linear  regression  to  each  block  of  questions  as. shopping centers, y variables socio-demográficas. dependent  variant  (DV)  having  the  impulsivity. como  sexo,  edad  e  ingresos  familiares.  Esta. as  the  independent  variant  (IV);  The  variants. investigación  contribuyó  a  la  comprensión  de. which  have  showed  predicted  power  to  impulse. aspectos que tienen influencia en la compra por. shopping  were  the  values  of  “Pleasure”  and. impulso, un tema poco estudiado en Brasil.. “Personal Stability”, the value System “Existence”, the  circulation  in  the  stores,  the  frequent  usage. Palabras clave: Valores humanos. Impulsividad en. of credit cards on shoppings, the hobby of going. l a   c o m p r a .   H á b i t o s   d e   c o n s u m o.   Jóv e n e s .. to shopping mall, and social-demographic variant. Universitarios.. such as sex, age and family’s wage.. Key words: Human values. Impulsivity on buying.. 1. INTRODUÇÃO. Consumption habits. Youngsters. Undergraduate students.  . Muitos  estudos  têm  direcionado  seus esforços  na  busca  de  compreender  quais  são  os fatores quês estão associados ao comportamento. RESUMEN. do consumidor (DELIZA; ROSENTHAL; COS-. Esta investigación tuvo como objetivo identificar. TA, 2003; MEDEIROS; CRUZ, 2006; MELLO;. variables  que  anteceden  al  impulso  de  compra. LEÃO;  SOUZA  NETO,  2005;  TREVISAN,. y  constatar  la  relación  entre  la  tendencia  de. 2004). Entender seu comportamento é uma for-. comprar por impulso y los valores humanos. Para. ma de buscar vantagens competitivas para encon-. lograr  este  objetivo    se  realizó  un  survey,  por. trar  informações  que  orientem  as  decisões  de. medio  de  un  per fil  creado  en  el  orkut,  con. marketing  visando  a  uma  otimização  das  ações. estudiantes  que  participaron  respondiendo  a  un. destinadas a um público-alvo de um determina-. cuestionario disponible online.  Se aplicaron cinco. do produto ou serviço.. instrumentos: 1) Escala de actividad de compra;. A compra por impulso tem sido uma área. 2)  Escala  de  circulación  en  la  tienda;  3)  Escala. amplamente  pesquisada  (APPLEBAUM,  1951;. de  valores  humanos  básicos;  4)  Cuestionario. COSTA,  2002;  GUTIERREZ,  2004;  JALEES,. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 13, n. 41, p. 376-395, out./dez. 2011. 377.

(3) Samuel Lincoln Bezerra Lins / Rita de Cássia de Faria Pereira 2009;  LINS,  2010;  STERN,  1962;  TIRMIZI;. 2. A COMPRA POR IMPULSO. REHMAN;  SAIF,  2009)  onde  se  tem  buscado. 378. identificar variáveis que tenham relação com este. O interesse pelo estudo do comportamen-. tipo de comportamento do consumidor. Contudo,. to  de  compra  impulsiva  surgiu  com  a  empresa. Costa e Larán (2006) ressaltam que os estudos com. americana DuPont, entre 1945 e 1965 (PIRON,. enfoque na impulsividade do consumidor ainda. 1991).  Nesta  época,  compras  não-planejadas. têm sido pouco realizados em território brasileiro,. tinham  o  mesmo  significado  de  compra  por. pois a maioria dos estudos publicados sobre com-. impulso,  porque,  inicialmente,  as  compras  por. portamento de compra por impulso são realizados. impulso  eram  entendidas  como  aquelas  em  que. fora do Brasil (BAUMEISTER, 2002; GUTIERREZ,. o  consumidor  não  tinha  a  necessidade  de  com-. 2004; HAUSMAN, 2000; TIRMIZI; REHMAN;. prar antes de entrar na loja, causadas devido aos. SAIF,  2009;  VERPL ANKEN;  HERABADI,. estímulos  do  ambiente  da  loja  e  efetuadas. 2001; VERPLANKEN et al., 2005).. de  maneira  rápida  (KOLLAT;  WILLET,  1967).. Segundo  a  Pesquisa  do  POPAI  (2006),. Enquanto  as  compras  planejadas  se  iniciam. 21% dos consumidores brasileiros foram impul-. com o reconhecimento de um problema, passan-. sionados na hora da compra. Já uma pesquisa rea-. do  pela  busca  de  informações  e  avaliação  das. lizada pela Sense Envirosell (SOUZA; ZAKABI,. alternativas de compra até a decisão de consumir,. 2007)  estima  que  15%  das  compras  feitas  em. as compras por impulso têm forte apelo emocio-. supermercados no Brasil são realizadas por impul-. nal e pouco controle do consumidor sobre o pro-. so.  Ademais,  o  Brasil  também  tem  o  índice  de. cesso de compra.. decisão de compra no ponto de venda mais alto. Segundo Welles (1986), nove em cada dez. do mundo de 85%, seguido pela Holanda (80,4%),. consumidores  realizam  ocasionalmente  compras. França (76%), Grã-Bretanha (75,5%), EUA (72%),. impulsivas. Em um estudo realizado por Mowen. Austrália (70%), e Bélgica (69,6%), (POPAI, 1998).. e  Minor  (1998),  mais  de  39%  das  compras  efe-. Tais números nos permitem constatar que a com-. tuadas em lojas de departamento e 67% das com-. pra  por  impulso  está  presente  no  cotidiano  do. pras em supermercado eram por impulso.. consumidor brasileiro e que merece ser estudada.. Para Stern (1962), a compra por impulso é. Vários  fatores  são  considerados  influen-. apenas um dos tipos de compra dentro da classifi-. ciadores  das  compras  por  impulso:  ambiente  da. cação em compra não-planejada. Pode-se afirmar. loja  (COSTA;  LARÁN,  2006),  satisfação  com. que todas as compras impulsivas são não-planeja-. a  vida  e  autoestima  (FERNANDES;  VEIGA,. das,  mas  o  oposto  não  se  aplica  (IYER,  1989).. 2006), estados emocionais (HAUSMAN, 2000). A falta de planejamento é um componente fun-. e  personalidade  (YOUN;  FABER,  2000)  Uma. damental  na  identificação  de  uma  compra  por. das  variáveis  antecedentes  diz  respeito  aos  valo-. impulso, mas não é suficiente para sua categoriza-. res  que  o  consumidor  considera  importantes. ção (PIRON, 1991). A compra por impulso se dife-. para a sua vida, visto que os valores são responsá-. renciaria dos demais tipos de comportamentos de. veis por guiar as escolhas e comportamentos das. compra pela rapidez com que o consumidor deci-. pessoas e influenciam também o comportamen-. de  pela  aquisição,  ou  seja,  quanto  mais  rápida  a. to  de  compra  (BRUNSO;  GRUNERT,  1998;. decisão, maior seria a impulsividade de compra.. FITZMAURICE,  2008;  SHIM,  EASTLICK,. Porém, as compras rápidas não são necessariamen-. 1998).  Desse  modo,  o  presente  estudo  tem  o. te impulsivas, pois pode ser devido ao hábito de. objetivo de analisar a relação entre os valores e a. compra rotineira do consumidor (D´ANTONI;. tendência a compra por impulso, e de identificar. SHENSON, 1973). Por exemplo, um consumi-. as variáveis sócio-demográficas e os hábitos de con-. dor pode comprar todos os dias o jornal na mes-. sumo  que  antecedem  a  realização  de  compras. ma banca de revista ao sair de casa para o trabalho,. impulsivas  em  uma  amostra  de  estudantes  uni-. ele não utiliza tanto a cognição por ser um com-. versitários paraibanos.. por tamento  que  faz  par te  do  seu  dia-a-dia.. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 13, n. 41, p. 376-395, out./dez. 2011.

(4) Comprou sem Querer? Entenda o Porquê! De acordo com Arnould, Price e Zinkhan. d) diminuição  da  capacidade  cognitiva. (2004,  p.  678),  “a  compra  por  impulso  ocorre. para realizar avaliações – no momento. quando  consumidores  sentem  um  desejo  repen-. que o consumidor se envolve na com-. tino, sempre forte, e um desejo emocional persis-. pra  por  impulso  há  uma  extrapolação. tente  de  comprar  imediatamente”,  fruto  de  um. dos  seus  estados  emocionais,  gerando. comportamento  reativo  e  caracterizado  por  um. um baixo controle cognitivo sobre sua. baixo  controle  cognitivo.  Rook  e  Fisher  (1995,. decisão. Como se fosse uma ação auto-. p. 306), por sua vez, definem a compra impulsiva. mática acionada por impulsos psicoló-. como  “a  tendência  do  consumidor  a  comprar. gicos em que avaliação das alternativas. espontaneamente,  sem  reflexão,  de  forma  imediata [...], estimulado pela proximidade física do. é deixada de lado; e). descrédito das consequências – devido. objeto desejado, dominado pela atração emocio-. ao  anseio  gerando  pela  impulsividade. nal e absorvido pela promessa de gratificação ime-. da compra as consequências potencial-. diata”.  Nota-se,  ainda,  que  a  compra  impulsiva,. mente  negativas  são  ignoradas,  sem. além  de  possuir  conteúdo  afetivo  (emocional),. haver  uma  avaliação  minuciosa  das. contém  também  um  baixo  controle  cognitivo  e. possibilidades. As consequências podem. são  acionadas  por  uma  situação  de  estimulação. ser desde ao arrependimento da com-. específica, ou seja, o ambiente da loja pode ser res-. pra  até  causar  comportamentos  pato-. ponsável por desencadear a compra por impulso. lógicos, como a compulsão à compra.. (WEINBERG; GOTTWALD, 1982). Segundo Rook (1987), a compra por impulso é composta por cinco elementos-chave:. Contudo,  compras  não  planejadas  e  por impulso  não  devem  ser  consideradas  necessariamente um fenômeno patológico, mas em vez dis-. a). a  espontaneidade  –  uma  necessidade. so,  como  típico  hábito  de  consumo  contempo-. inesperada de agir, despertando a moti-. râneo,  especificamente  do  ambiente  de  varejo. vação  do  consumidor  a  comprar  na. (WOOD, 1998). Por isso, a compra impulsiva se. hora;  geralmente, este desejo é aciona-. diferencia da compra compulsiva. A compra por. do a partir de um estímulo visual direto. impulso  ocorre  quando  o  indivíduo  sente  uma. no  ponto-de-venda,  ou  alguma  ação. necessidade  repentina  e  persistente  de  comprar,. promocional;. que  pode  acontecer  de  forma  ocasional,  típica. b) sensação  de  desequilíbrio  psicológico. ou inevitável: a ocasional acontece quando o con-. – a intensidade do comportamento de. sumidor  nota  que  algo  lhe  interessa  muito  por. comprar de forma imediata influencia,. ser  uma  novidade  (produtos  com  preço  mais. de certo modo, nas avaliações cogniti-. baixo);  a  típica  inclui  a  sensação  de  urgência,. vas do consumidor sobre o que decidir. em  que  o  consumidor  toma  decisões  mais  emo-. (vantagens e desvantagens, ou a espera. cionais do que racionais; e a inevitável, caracteri-. pela  gratificação  da  compra),  levando. zada pela combinação da redução do autocontrole. a um estado de descontrole;. e do sentimento de urgência, isto é, o indivíduo. conflito  psicológico  –  o  consumidor. se  descontrola  e  gasta  sem  pensar.  Já  a  compra. vivencia um estado de conflito em que. compulsiva é caracterizada pela constante vonta-. avalia a recompensa imediata oriunda. de  de  comprar,  como  forma  principal  de  com-. de  sua  compra  por  impulso,  com  as. pensar  uma  ansiedade  exacerbada.  Este  tipo  de. possibilidades negativas que essa com-. compra é crônico e cíclico. O indivíduo se com-. pra  pode  causar,  ou  seja,  a  compra. porta  de  maneira  perturbada  e  tensa  na  hora  da. por impulso gera um embate entre os. compra,  e  após  o  ato  da  compra  recai  sobre  ele. benefícios  de  uma  compra  imediata  e. um sentimento de culpa por agir dessa maneira.. os riscos oriundos dessa ação;. Desse modo, pode-se afirmar que, tanto a com-. c). R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 13, n. 41, p. 376-395, out./dez. 2011. 379.

(5) Samuel Lincoln Bezerra Lins / Rita de Cássia de Faria Pereira pra  por  impulso  como  a  compra  compulsiva. De acordo com a ABECS ([2009]), o núme-. fazem  parte  de  um  mesmo  continuum,  e  estão. ro de cartões de crédito aumentou de 453 milhões,. sujeitas  aos  mesmos  antecedentes.  A  principal. em 2007, para 514 milhões em 2008, uma varia-. diferença  entre  as  duas  formas  de  compra  é  que. ção de 14%. Em 2008 foram realizadas cerca de. a  primeira  se  refere  ao  produto  adquirido  e  a. 5,3 bilhões de transações com cartões de crédito,. segunda diz respeito ao comportamento da com-. resultando o valor de cerca de R$ 375,4 bilhões,. pra (KARSAKLIAN, 2004).. com ticket médio de R$ 71. Por isso, “cartões de. Diversos  estudos  relacionam  a  compra. crédito, caixas automáticos, crédito instantâneo,. impulsiva com outras variáveis, como a influên-. sistemas de entrega a domicílio e a propaganda faci-. cia  social  (ROOK,  FISHER,  1995),  gênero. litam  e  incitam  a  compra  de  itens  por  impulso”. (DITTMAR; BEATTIE; FRIESE, 1995), idade. (LEJOYEUX et al., 1996, p. 2) , visto que o valor. (WOOD, 1998), e humor (ALMEIDA; JOLIBERT,. dos  gastos  do  consumidor  se  eleva,  pois  o  valor. 1993;  BEATTY;  FERRELL,  1998)  e  Silvera,. investido na transação não é percebido de forma. Lavack  e  Kropp  (2008)  ressaltam  a  importância. efetiva  por  não  existir  troca  de  moeda  de  forma. de relacionar este comportamento de compra com. tangível (ROBERTS, 1998).. outros constructos psicológicos, neste estudo em questão, os valores humanos básicos..  Em estudo realizado com 248 estudantes de Administração da cidade de São Paulo, constatou-se uma relação direta entre a frequência do uso de cartão de crédito nas compras e a compra. 2.1. Antecedentes da compra por impulso. compulsiva (VELUDO-DE-OLIVEIRA; IKEDA; SANTOS,  2004),  e  em  outro  estudo  com  594. 380. O  grupo  mais  propenso  a  comprar  por. americanos também apresentou esta relação com. impulso  está  na  faixa  etária  entre  18  e  24  anos,. a compra por impulso (WOOD, 1998). O indi-. portanto, quanto mais velho, menor a associação. víduo  que  apresenta  tendência  a  comprar  por. à compra impulsiva (WOOD, 1998). No Brasil,. compulsão,  pode  expressar  esse  comportamento. jovens entre 14 e 25 anos parecem se comportar. com mais facilidade ao estar em um shopping center. dessa maneira com mais intensidade (VELUDO-. (BLOCH; RIDGEWAY; DAWSON, 1994) e ao. DE-OLIVEIRA,  IKEDA,  SANTOS,  2004).. utilizar  com  frequência  o  cartão  de  crédito  para. Veludo-de-Oliveira, Ikeda, Santos (2004, p. 90). realizar suas compras (VELUDO-DE-OLIVEIRA;. afirmam que “pessoas que constantemente adqui-. IKEDA; SANTOS, 2004).. rem mais do que conseguem pagar podem apre-. Quanto  ao  gênero,  pode-se  afirmar  que. sentar  indícios  de  comportamento  de  compra. este tipo de comportamento é mais evidenciado. compulsiva”, sendo este comportamento expresso. no público feminino (WOODRUFF, 1997). Em. principalmente entre os jovens. Desse modo, os uni-. estudo  realizado  por  Silvera,  Lavack  e  Kropp. versitários passaram a ser um público-alvo lucra-. (2008) com 277 estudantes canadenses, os resul-. tivo  para  diversas  empresas  que  oferecem  bens  e. tados apontaram que as mulheres tendem a com-. serviços, inclusive o crédito, como também, o seu. prar mais por impulso do que homens, corrobo-. uso frequente estaria associado com a compra com-. rando  outros  estudos  que  obtiveram  resultados. pulsiva e o endividamento (NORUM, 2008). Vale. semelhantes (DITTMAR, 2005; WOOD, 1998).. ressaltar, que a compra compulsiva é o estágio mais. Ademais, pode-se dizer que, quanto mais. elevado  da  compra  por  impulso,  quando  já  se. tempo  o  consumidor  disponibiliza  para  a  rea-. enquadra em um comportamento patológico.. lização  da  compra,  maior  será  a  probabilidade. Segundo a Associação Brasileira de Empre-. que  ele  tem  de  efetuar  compras  não  planejadas. sas de Cartão de Crédito e Serviços (ABECS), nos. (FERNANDES; VEIGA, 2006), pois a circulação. últimos  anos,  houve  mudanças  significativas  do. dentro da loja pode provocar nos indivíduos esta-. uso de cartão de crédito entre os mais jovens, que. dos emocionais positivos que o direcione a adqui-. passaram a utilizá-los mais para realizar suas com-. rir  algo  naquela  situação  específica  de  consumo. pras (ABECS, [2009]).. (BABIN; DARDEN; GRIFFIN, 1994; BEATTY;. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 13, n. 41, p. 376-395, out./dez. 2011.

(6) Comprou sem Querer? Entenda o Porquê! FERRELL, 1998; COSTA, 2002; COSTA; LARÁN,. 2006) e no julgamento de significado do produ-. 2006).  Outro  preditor  da  compra  por  impulso. to (NEPOMUCENO; PORTO; RODRIGUES,. seria a renda, pois se entende que, quanto maior. 2006).  Contudo,  poucos  são  os  esforços  reali-. a disponibilidade de recursos financeiros, mais o. zados  no  Brasil  na  investigação  da  relação  entre. consumidor  tenderá  a  efetuar  compras  impulsi-. os  valores  e  o  comportamento  do  consumidor. vas (BEATTY; FERREL, 1998; FERNANDES;. (TORRES; ALFINITO, 2008).. VEIGA, 2006; JEON, 1990).. Os valores representam as crenças do con-. Por fim, os valores pessoais também podem. sumidor a respeito da vida, a forma de comporta-. ser considerados antecedentes do comportamen-. mento  aceitável,  que  demonstram  as  metas  que. to de compra. Dittmar (2005) demonstrou que a. motivam as pessoas e as formas adequadas de alcan-. adesão  aos  valores  materialistas  é  um  preditor. çarem  essas  metas  (ENGEL;  BLACKWELL;. significante  da  compra  compulsiva,  e  resultados. MINIARD, 2000). Desse modo, os valores e esti-. semelhantes  foram  encontrados  em  um  estudo. los  de  vida  assimilados  pelas  pessoas  fazem  com. realizado no Brasil (MATOS; BONFANTI, 2008).. que  elas  comprem  marcas  e  produtos  diferentes. Em outro estudo realizado por Jalees (2009), indi-. uma das outras (SOLOMON, 2002), possibilitan-. cou que a adesão a valores individualistas e cole-. do assim a elaboração de estratégias de marketing. tivistas tem uma relação direta com a compra por. focadas em grupos de pessoas com determinados. impulso. Contudo, são escassos na literatura cien-. valores e estilos de vida, facilitando o posicionamen-. tífica brasileira estudos que relacionem valores e. to  da  marca  e  a  segmentação  do  mercado. compra por impulso.. (MADRIGAL; KAHLE, 1994; STATT, 1997). Milton Rockeach (1973), com seu livro The. 2.2. Valores. Nature of Human Values, foi um dos primeiros pesquisadores a estudar sobre o tema de valores que influenciou os estudos científicos, principalmen-. Diversos estudos têm demonstrado que os. te, nas décadas de 70 e 80. Ele conceitua os valores. valores  influenciam  na  tomada  de  decisão  dos. como crenças duradouras e desejáveis socialmente. consumidores na hora da compra (ALLEN, 2000;. que orientam e que são determinantes das atitudes. GUTMAN,  1982;  HENRY,  1976;  KAHLE,. em  relação  a  objetos  e  situações,  para  Rokeach. 1996; KAHLE; MATSUURA; STINSON, 2005;. (1968) a fontes dos valores estariam nas necessida-. M A D R I G A L ;   K A H L E ,   1 9 9 4 ;   TO R R E S ;. des  individuais.  Para  Schwartz  (1996,  p.  58),  os. ALFINITO,  2008;  TORRES;  ALLEN,  2009),. valores são “metas desejáveis e transituacionais, que. e que conhecer os valores dos consumidores ser-. variam em importância, servem como, princípios. vem  como  auxílio  às  decisões  mercadológicas,. na vida de uma pessoa ou de outra entidade social”.. como a maneira de expor um produto, criação de. Estas metas têm o objetivo de satisfazer três con-. promoções, escolha do ponto de venda e caracte-. dições  universais:  as  necessidades  biológicas,. rísticas  de  uma  nova  embalagem  (TORRES;. de interação social e de sobrevivência dos grupos.. ALFINITO, 2008).. O aporte teórico de valores utilizado nes-. Os tipos motivacionais dos valores huma-. te  artigo  será  o  proposto  por  Gouveia  (2003,  p.. nos têm sido utilizados para predizer comporta-. 293),  que  apresenta  uma  tipologia  dos  valores. mentos  de  consumo  e  podem  ser  considerados. humanos  básicos,  conceituando-os  como  “cate-. como preditores da preferência por tipo de auto-. gorias de orientação que são desejáveis, baseadas. móveis (PORTO, 2005), estar relacionados ao com-. nas necessidades humanas e nas pré-condições para. portamento socialmente responsável (QUEIROGA. satisfazê-las, sendo adotadas por atores sociais. Tais. et al., 2006), estar relacionados ao efeito “país-de-. valores apresentam diferentes magnitudes e seus. origem” na escolha de produtos (GIRALDI, 2006),. elementos constitutivos podem variar a partir do. na  escolha  do  destino  das  férias  ( TORRES;. contexto social ou cultural em que a pessoa está. PÉREZ-NEBRA, 2007), na influência dos com-. inserida”. Gouveia (2003, 2005) tomou como base. pradores de carne vermelha (ALLEN; TORRES,. a Teoria  das  Necessidades  Humanas  de  Maslow. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 13, n. 41, p. 376-395, out./dez. 2011. 381.

(7) Samuel Lincoln Bezerra Lins / Rita de Cássia de Faria Pereira (1954)  para  identificação  de  24  valores  básicos.. cado específico, bem como entender o seu com-. Estes  valores  compõem  um  sistema  de  valores. portamento  para  a  formulação  de  estratégias. baseados em três critérios de orientação:. (VERGARA,  1997,  p.  35).  Além  disso,  pode-se caracterizá-la como uma pesquisa de levantamen-. a). valores pessoais – priorizam-se os bene-. to, pois houve a utilização de questionários “com. fícios próprios, aquels que são orienta-. o  objetivo  de  solicitar  às  pessoas  informações. dos  por  esses  valores  são  egocêntricos. sobre si mesmas – suas atitudes e crenças, dados. ou possuem um foco intrapessoal;. demográficos” (COZBY, 2003, p 143).. b) valores sociais – seguem um padrão de. O estudo foi desenvolvido sob uma abor-. orientação voltado para os outros, asse-. dagem quantitativa que, segundo Godoy (1995,. gurando a aceitação e integração em seu. p. 62), possui quatro características:. grupo, as pessoas que são guiadas por a). esses  valores  são  focadas  na  sociedade. do ambiente natural;. pessoal; e c). o investigador como instrumento principal e a fonte direta dos dados oriunda. ou possuem um direcionamento inter-. valores centrais – são a base organizadora. b) o caráter descritivo;. ou  espinha  dorsal  dos  demais  valores,. c). a  preocupação  principal  do  pesquisa-. indicam uma característica neutra desses. dor  diz  respeito  ao  significado  que  as. valores, localizados entre os pessoais e. pessoas atribuem às coisas e à sua vida; d) e o enfoque indutivo.. os sociais.. A escala de mensuração dos sistemas valorativos deste autor tem sido utilizada em diversos. Participantes. 3.1. estudos  de  comportamento  do  consumidor  no O universo deste estudo foram os estudan-. Brasil (QUEIROGA et al., 2005, 2006). Estudos  realizados  na  área  da  Psicologia. tes  regularmente  matriculados  na  Universidade. do  Consumidor  e  na  literatura  do  marketing. Federal da Paraíba, na faixa etária de 18 a 25 anos,. indicam que valores e estilos de vida dos consu-. que  fazem  parte  de  comunidades  do  Orkut  dos. midores contribuem para a escolha de uma mar-. cursos superiores da UFPB e da comunidade ofi-. ca em detrimento das outras (SOLOMON, 2002).. cial da IES, totalizando 41 comunidades. A amos-. Desse  modo,  as  pessoas  podem  ser  reunidas  em. tra foi não-probabilística por conveniência. A faixa. um determinado grupo de acordo com seus esti-. etária foi definida a priori por ser, segundo a lite-. los  de  vida  e  valores  (HANSEN;  HANDRUP;. ratura, o público mais predisposto a realizar com-. REYNERT,  2002),  possibilitando  um  melhor. prar impulsivas.. posicionamento  do  produto  como  segmentar  o. Foram  respondidos  220  questionários,. mercado que se pretende atuar. A argumentação. porém, após verificar se todas as questões foram. para a prática da segmentação é que se os valores. respondidas,  a  faixa  etária  foco  da  pesquisa  e  as. guiam a ação humana em comportamentos social-. questões  filtro,  foram  considerados  válidos  ape-. mente desejáveis, então, quando um consumidor. nas 154 questionários.. adquire  uma  marca  desejada,  pode-se  buscar  a compreensão do seu comportamento via os valores humanos (PORTO, 2005).. 3.2. Instrumentos de pesquisa Como dito anteriormente, foi realizado um. 3. MÉTODO. levantamento  pela  Internet  utilizando  um  questionário como instrumento de pesquisa. O ques-. 382. Esta pesquisa é caracterizada como descri-. tionário  era  composto  inicialmente  de  questões. tiva porque visou a descrever os atores de um mer-. sócio-demográficas  como:  idade,  gênero,  estado. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 13, n. 41, p. 376-395, out./dez. 2011.

(8) Comprou sem Querer? Entenda o Porquê! civil, religião, renda familiar, área do curso, ocu-. fator (Alfa de Cronbach = 0,676). Os itens tinham. pação profissional. Além disso, o questionário con-. uma escala de resposta tipo Likert de sete pontos. tinha  algumas  questões  relativas  aos  hábitos  de. (1=discordo totalmente e 7=concordo totalmente). consumo  abordando  aspectos  relacionados  ao. e seus itens foram distribuídos aleatoriamente na. comportamento  de  compra  dos  universitários. Escala de Atividade de Compra descrita a seguir.. como:  frequência  e  uso  de  cartão  de  crédito  nas compras, frequência de visitas ao shopping Center, quantidade de cartões de créditos e conhecimen-. 3.2.3 Escala de atividade de compra. to  dos  seus  limites,  preferência  nas  formas  de pagamento. Por fim, junto às questões de caracte-. A  escala  desenvolvida  por  Youn  e  Faber. rização da amostra e hábitos de consumo, foram. (2000) foi traduzida e validada por Costa (2002). utilizadas as escalas descritas a seguir.. para  sua  utilização  no  contexto  brasileiro.  Ela  é composta de 24 itens agrupados em cinco dimensões  com  índices  de  consistência  interna  acei-. 3.2.1. Questionário dos valores humanos básicos. II – Emoções Positivas ( O  instrumento  criado  e  validado  por. a=0,80); a=0,90); III – Gerencia-. táveis:  I  –  Necessidade  de  Compra  (. a=0,90);  IV  –  Deliberação a=0,69); V – Desconsideração com o. mento  do  humor  (. Gouveia  (2003,  2005)  composto  por  24  itens. Cognitiva (. (valores  específicos)  agrupados  nos  três  critérios. futuro (. de  orientação  (Pessoais,  Centrais  e  Sociais),  em. escala  tipo  . que cada um apresenta duas funções psicossociais. totalmente e 7= concordo totalmente). É impor-. com  seus  respectivos  valores.  Neste  estudo  foi. tante mencionar que o foco da escala é identificar. utilizada  a  escala  reduzida  composta  por  18. a tendência à compra impulsiva, isto é, a pré-dis-. itens,  validada  em  diversos  estudos  (FISCHER;. posição do consumidor em efetuar uma compra. MILFONT; GOUVEIA, 2011; GOUVEIA et al.,. com uma demasiada influência emocional e pouco. 2008,  2009,  2010)  e  apresentada no Quadro  1.. investimento cognitivo.. a=0,75). Cada item foi avaliado por uma Likert  de  sete  pontos  (1=  discordo. Foi  solicitado  ao  participante  que  indicasse  o  grau  de  importância  atribuído  a  cada um dos valores em uma escala tipo Likert de sete. 3.3. Procedimentos de coleta. pontos  (1=nada  importante  e  7=  extremamente importante).. A elevada disseminação do uso da Internet tem despertado o interesse de pesquisadores em realizar estudos coletando dados por meio de partici-. 3.2.2 Circulação na loja. pantes oriundos do ambiente virtual (BIRNBAUM, 2000). Uma das principais vantagens para reali-. A escala foi elaborada por Costa (2002) e. zar estudos pela Internet diz respeito à facilidade. é  composta  por  3  itens  que  formam  um  único. de encontrar os participantes, além de vantagens. &ULWpULRVGHRULHQWDomR. )XQo}HVYDORUDWLYDV. 9DORUHV. 3HVVRDLV. Experimentação Realização Existência Suprapessoal Normativo Interacional. Emoção, sexualidade, prazer Êxito, poder, prestígio Sobrevivência, estabilidade pessoal, saúde Maturidade, conhecimento, beleza Tradição, religiosidade, obediência Afetividade, apoio social, convivência. &HQWUDLV 6RFLDLV. Quadro 1 – Questionário dos valores humanos básicos. Fonte: dos autores. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 13, n. 41, p. 376-395, out./dez. 2011. 383.

(9) Samuel Lincoln Bezerra Lins / Rita de Cássia de Faria Pereira econômicas,  pois  uma  pesquisa  realizada  pela. Ao terminar de responder o questionário, o. Internet  pode  ser  oito  vezes  menos  dispendiosa. IP do computador era registrado, assim, caso hou-. que  uma  pesquisa  nos  moldes  convencionais. vesse  mais  de  um  respondente  por  computador,. (KAPLOWITZ; HADLOCK; LEVINE, 2004).. seria considerado apenas o primeiro a responder,. Além  disso,  a  correspondência  entre  pesquisas. evitando  fraudes  e  que  uma  pessoa  respondesse. realizadas de maneira e convencional e na Internet. diversas vezes o questionário.. tem  sido  constatadas  em  estudos  correlacionais. Com o objetivo buscar o máximo de con-. (DANAHER; WILSON; DAVIS, 2003; GEHRT;. trole  amostral,  para  que  os  participantes  fossem. YAN,  2004;  MCGRAW;  TEW;  WILLIAMS,. realmente  alunos  da  instituição,  foram  inseridas. 2000; WACHELKE; ANDRADE, 2006).. perguntas filtro (Ex. sou regularmente matricula-. Um fenômeno peculiar aos estudos realiza-. do  nesta  universidade;  tenho  mais  de  18  anos),. dos na Internet é a autoseleção visto que o indiví-. aqueles  que  não  responderam  corretamente  às. duo tem mais autonomia para escolher em quais. questões-filtro foram desconsiderados, como tam-. pesquisas participar, por sua vez, também possibi-. bém  aqueles  que  responderam  e  não  estavam. lita o envolvimento de participantes mais motiva-. inclusos  na  faixa  etária  desejada  (18  a  25  anos)..  o acesso à Internet aumentou 75,3% de 2005 a 2008 e abrandos (REIPS, 2000; 2002). No Brasil,. ge em maior parte pessoas com maior renda fami-. 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO. liar, escolaridade mais alta e idade entre 15 e 24 anos (IBGE, 2009). Como os participantes dessa pes-. Quanto às características sócio-demográ-. quisa foram universitários da Universidade Federal. ficas dos 220 participantes, a amostra teve o gêne-. da Paraíba com faixa etária entre 18-25 anos, se. ro balanceado (50% masculino e 50% feminino),. tornou viável a realização da pesquisa na Internet.. quase todos são solteiros (95,5%) e moram com. Para se ter acesso ao público alvo, foi cria-. a  família  (91%).  A  renda  familiar  ultrapassa  R$. do um perfil no Orkut que apresentava os objeti-. 5000,00 de 31,2% dos sujeitos e a religião mais. vos da pesquisa, contato do estudante e os currí-. citada foi a católica (44,3%). Pode-se perceber que. culos dos autores deste artigo na Plataforma Lattes. os alunos não se encontram em uma classe social. a fim de transparecer maior confiança possível para. com renda familiar baixa, possivelmente pelo fato. os participantes. Posteriormente, os membros de. de  grande  parte  dos  alunos  do  ensino  superior. comunidades relacionadas à UFPB (comunidade. público é oriunda do ensino médio privado.. oficial  e  de  cursos)  eram  solicitados,  através  de. No que se refere aos hábitos do uso de car-. convites  na  página  de  recados  dos  seus  perfis,  a. tão de crédito, pode se observar que 73,4% têm. responderem aos questionários. Similarmente ao. cartão de crédito, 57,8% possui de um a dois car-. perfil, nesse convite eram apresentados os objeti-. tões, 91,2% têm conhecimento do seu limite de. vos da pesquisa, formas de contato com o pesqui-. crédito e 24,7% utilizam o cartão em aproxima-. sador e os currículos dos autores deste artigo.. damente 25% de suas compras. Possuir e utilizar. O questionário online estava disponível em. o cartão de crédito nas compras é comum na vida. um endereço eletrônico exclusivo. Na página ini-. dos sujeitos da pesquisa e merece atenção o núme-. cial  do  site  estavam  descritas  as  informações. ro expressivo de estudantes que possuem três ou. supracitadas, como também o termo de consen-. mais cartões de crédito (15,5%), tendo-se em vista. timento  da  pesquisa,  isto  é,  o  respondente  era. que  a  popularização  dos  cartões  de  crédito  con-. informado que seu nome seria mantido em sigi-. tribui para o aumento do índice de inadimplência,. lo, que sua participação no estudo era voluntária,. visto que as transações financeiras que utilizam o. que poderia desistir a qualquer momento de par-. cartão  de  crédito  induzem  aos  consumidores  a. ticipar sem sofrer dano, e que ao responder o ques-. aumentarem seus gastos (ROBERTS, 1998).. tionário  autorizaria  a  publicação  dos  resultados em eventos e publicações científicas.. 384. Ao  serem  questionados  sobre  suas  preferências  de  compra,  os  participantes  preferem. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 13, n. 41, p. 376-395, out./dez. 2011.

(10) Comprou sem Querer? Entenda o Porquê! realizá-las  acompanhados  (50,6%),  utilizando  o. humanos, circulação na loja, hábitos de consumo. débito (64%) como tipo de pagamento preferido,. e  características  sócio-demográficas  (variáveis. e à vista (72,1%) como forma de pagamento prefe-. dependentes) com o fator Impulsividade na Com-. rencial. Nota-se que a maioria dos estudantes pre-. pra (Variável Independente).. fere  comprar  no  débito  e  à  vista,  possivelmente,. Ao se relacionar os 18 valores humanos bási-. porque o uso parcelado pode ser observado com. cos e o fator impulsividade [R=0,330; F(2,151) =. mais  frequência  nas  classes  sociais  com  menor. 9,244; p<0,000], observa-se uma relação preditiva. poder aquisitivo (ALMENDRA, 2007).. do valor Prazer (. Os  participantes  costumam  frequentar. valor . b= 0,150; t= 2,53; p<0,012) e do. Estabilidade  Pessoal   ( b =0,204;  t=  3,01;. shopping centers pelo menos uma vez ao mês (47,4%). p<0,002), que fazem parte do Sistema de Valores. ou quinzenalmente (24%) e apenas 9,2% afirmam. “Experimentação” e “Existência”, respectivamente.. que não frequentam. O ambiente de shopping center. (Tabela 1). Contudo, quando são inseridos ape-. é  bastante  estimulante  para  que  a  pessoa  efetue. nas  os  sistemas  de  valores  [R=0,207  (1,152)  =. compras  compulsivas  (BLOCH;  RIDGEWAY;. 6,817; p<0,010], observa-se que o único que apre-. DAWSON; 1994), por isso, frequentar estes locais. senta  poder  preditivo  é  o  Sistema  “Existência”. constantemente indica que o sujeito disponibiliza. (. b=0,207; t= 2,61; p<0,010).. de mais tempo para o lazer e, consequentemente, se. No  que  diz  respeito  aos  valores  pessoais,. predispõe mais para realizar compras por impulso.. dois surgiram com poder preditivo, o ‘Prazer’ ( des-. Por meio do cálculo das regressões múlti-. frutar da vida; satisfazer todos os seus desejos ), isto. plas (método  stepwise), buscou-se analisar a rela-. é, aqueles que aderem aos valores hedônicos ten-. ção  direta  de  cada  bloco  de  variáveis:  valores. dem a agir impulsivamente na compra e, contra-. Tabela 1 – Regressão múltipla dos valores humanos básicos com impulsividade. 9DORUHV 3HVVRDLV Emoção ([SHULPHQWDomR Sexualidade 3UD]HU Êxito 5HDOL]DomR Poder Prestigio  &HQWUDLV Sobrevivência ([LVWrQFLD (VWDELOLGDGHSHVVRDO Saúde Maturidade 6XSUD Beleza SHVVRDO Conhecimento  6RFLDLV Tradição 1RUPDWLYR Religiosidade Obediência Afetividade ,QWHUDFLRQDO Apoio social Convivência Coeficiente de correlação múltipla % Variabilidade explicada Significância da amostra P. <. (VWDWtVWLFDV %HWD W ,102 1,284 -,091 -1,158   -,055 -,670 ,029 ,368 ,100 1,287   ,024 ,297   -,025 -,312 -,082 -1,06 ,116 1,50 -,063 -,821   -,045 -,567 -,004 -,055 -,122 -1,44 -,013 -,153 -,025 -,312 ,004 ,046 5  5  )  . S ,201 ,249  ,504 ,714 ,200  ,767  ,756 ,292 ,135 ,413  ,571 ,957 ,151 ,879 ,756 ,964. %HWD. W. S. ,107. 1,35. ,179. ,078. ,950. ,344. . . . . . . ,015. ,191. ,849. . . . -,113. -1,27. ,205. -,026. -,299. ,765. 5  5  )  . Fonte: dos autores. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 13, n. 41, p. 376-395, out./dez. 2011. 385.

(11) Samuel Lincoln Bezerra Lins / Rita de Cássia de Faria Pereira b=0,191;. ditoriamente,  o  outro  com  relação  preditiva  é  o. o hábito de frequentar  shopping centers (. valor ‘Estabilidade Pessoal’ (ter certeza de que ama-. t= 2,49; p<0,014) tem uma relação preditiva com. nhã  terá  tudo  o  que  tem  hoje,  ter  uma  vida  orga-. a impulsividade na compra (Tabela 2).. nizada  e  planificada).  É  mais  fácil  compreender. As relações preditivas dos hábitos de con-. que aqueles que valorizam satisfazer seus desejos. sumo dos estudantes com a impulsividade se asse-. pessoais tenham relação com a compra por impul-. melham a outros resultados encontrados em pes-. so,  pois  muitas  vezes,  adquirir  um  produto  é. quisas  que  buscaram  essa  relação  com  a  compra. reflexo  das  necessidades  de  satisfazer  um  desejo. compulsiva.  Norum  (2008)  verificou  que  o  uso. próprio.  Contudo,  como  se  pode  relacionar  a. do  cartão  de  crédito  é  preditor  da  compra  por. valorização  pela  estabilidade  pessoal  com  a  ten-. compulsão, pois como o cartão de crédito alivia a. dência ao comportamento de compra por impul-. necessidade de se obter o dinheiro para adquirir. so?  Esta  relação  pode  ser  explicada  pela  própria. algo pode proporcionar um desenvolvimento ace-. característica  do  jovem  contemporâneo,  que. lerado do vício do consumo. Bloch, Ridgeway e. devido à escassez de emprego e a busca da estabi-. Dawson (1994) admitem que o indivíduo que tem. lidade  financeira,  bastante  valorizada  em  países. tendência a comprar compulsivamente pode apre-. emergentes, como o Brasil. Entretanto, ressalta-se. sentar  esse  comportamento  mais  facilmente  no. que uma coisa é valorizar a estabilidade pessoal, e. ambiente de shopping centers, logo, quem tem mais. outra é afirmar que o respondente tenha uma vida. costume de frequentar estes ambientes tendem a. ‘pessoal estabilizada’. Por isso, sugere-se a realiza-. comprar mais por impulso.. ção de outras pesquisas para que haja uma melhor compreensão desse resultado.. Características  sócio-demográficas  [R  = 0,239; F. =6,327; p<0,000], também demons-. (3,150). Quanto mais tempo a pessoa passa “apenas. traram poder preditivo da tendência a se comprar. olhando”  mais  chances  ela  tem  de  comprar  por. por impulso, corroborando outras pesquisas rea-. impulso, pois “nota-se que a variável tempo é bas-. lizadas  na  área  de  comportamento  do  consumi-. tante  sensível  na  explicação  do  gasto,  indicando. dor. (Tabela 3). que, quanto maior o tempo de exposição do con-. Nesta pesquisa as mulheres apresentaram. b = -0,213;. sumidor aos argumentos de venda disponíveis na. mais tendência a comprar por impulso (. loja,  maior  o  gasto  (ANGELO;  SIQUEIRA;. t=  -2,74;  p<0,007),  corroborando  pesquisas. FÁVERO,  2003).  Contudo,  nenhum  item  do. que apontam o gênero feminino com maior pro-. fator ‘Circulação na Loja’ apresentou poder pre-. babilidade  de  realizar  compras  impulsivas. ditivo com a compra impulsiva.. (JALEES,  2009;  WOOD,  1998)  e  compulsivas. Na  relação  entre  os  hábitos  de  consumo. (HIRSCHMAN;  STERN,  2001;  NORUM,. dos  participantes  e  a  Impulsividade  [R=0,338;. 2008;  WOODRUFFE-BUTTON;  ECCLES;. F(2,151) = 9,449; p<0,000], nota-se que tanto a. ELLIOT, 2002). Este resultado pode ser explica-. frequência do uso de cartão de crédito para realizar. do devido às mulheres apresentarem mais ansie-. b=0,266; t= 3,46; p<0,001), quanto. dade  que  os  homens  de  forma  geral  (KINRYS;. as compras (. Tabela 2 – Regressão linear múltipla dos hábitos de consumo com impulsividade. 9DULiYHLV +iELWRVGHFRQVXPR )UHTXrQFLDGRXVRGHFDUWmRGHFUHGLWRQDVFRPSUDV )UHTXrQFLDDRVKRSSLQJFHQWHU Coeficiente de correlação múltipla % Variabilidade explicada Significância da amostra P. <. (VWDWtVWLFDV %HWD   5  5  )  . W  . S  . Fonte: dos autores. 386. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 13, n. 41, p. 376-395, out./dez. 2011.

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