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Análise documental das linhas prioritárias propostas por organizações articuladas com a construção sustentável brasileira

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Academic year: 2021

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TESE DE DOUTORADO

ANÁLISE DOCUMENTAL DAS LINHAS PRIORITÁRIAS PROPOSTAS POR ORGANIZAÇÕES ARTICULADAS COM A CONSTRUÇÃO

SUSTENTÁVEL BRASILEIRA

LUCI INES BASSETTO

CURITIBA 2016

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TESE DE DOUTORADO

ANÁLISE DOCUMENTAL DAS LINHAS PRIORITÁRIAS PROPOSTAS POR ORGANIZAÇÕES ARTICULADAS COM A CONSTRUÇÃO

SUSTENTÁVEL BRASILEIRA

LUCI INES BASSETTO

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Tecnologia da Universidade Tecnológica Federal do Paraná como requisito parcial para obtenção do título de Doutora em Tecnologia.

Orientador: Prof. Dr. Eloy Fassi Casagrande Junior

CURITIBA 2016

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B319a Bassetto, Luci Ines

2016 Análise documental das linhas prioritárias propostas por organizações articuladas com a construção sustentável brasileira / Luci Ines Bassetto.-- 2016.

187 f.: il.; 30 cm.

Texto em português, com resumo em inglês.

Tese (Doutorado) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Curitiba, 2016.

Bibliografia: f. 170-177.

1. Construção sustentável - Países em desenvolvimento. 2. Desenvolvimento sustentável. 3. Desenvolvimento

econômico. 4. Economia ambiental. 5. Política pública. 6. Recursos naturais - Conservação. 7. Construção civil - Aspectos ambientais. 8. Tecnologia - Teses. I. Casagrande Júnior, Eloy Fassi, orient. II. Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Programa de Pós-Graduação em Tecnologia. III. Título.

CDD: Ed. 22 – 600

Biblioteca Central da UTFPR, Câmpus Curitiba

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Diretoria de Pesquisa e Pós-Graduação Programa de Pós-Graduação em Tecnologia

Doutorado em Tecnologia

TERMO DE APROVAÇÃO

ANÁLISE DOCUMENTAL DAS LINHAS PRIORITÁRIAS PROPOSTAS POR ORGANIZAÇÕES ARTICULADAS COM A CONSTRUÇÃO

SUSTENTÁVEL BRASILEIRA

por

LUCI INES BASSETTO

Esta Tese foi apresentada em ... como requisito parcial para a obtenção do título de Doutora em Tecnologia. A candidata foi arguido pela Banca Examinadora composta pelos professores abaixo assinados. Após deliberação, a

Banca Examinadora considerou o trabalho ...

____________________________________ Prof. Dr. Eloy Fassi Casagrande Junior

Presidente

___________________________________ _

Profa. Dra. Maclovia Corrêa da Silva Membro

____________________________________ Prof. Dr. Renê Eugênio Seifert

Membro

___________________________________ _

Profa. Dra. Libia Patricia Peralta Membro

____________________________________ Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou

Neto Membro externo

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus; à família pela paciência e tolerância; à minha mãe Cecília e meu pai Derci (in memoriam); a todos os professores do PPGTE pela contribuição e principalmente em um momento delicado da minha vida; ao orientador prof. Eloy pela paciência e

compreensão; um especial

agradecimento à profa. Maclovia pelo tempo dispendido para acompanhar o desenvolvimento desta pesquisa.

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RESUMO

BASSETTO, Luci Ines. Análise documental de linhas prioritárias propostas por

organizações articuladas com a construção sustentável brasileira. 2016. 187 f.

Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2016.

O tema central deste estudo refere-se à Construção Sustentável sob a ótica da preservação dos recursos naturais, perpassando pelos temas do papel da Construção Civil como agente transformador e regenerativo de seus impactos ecológicos na sociedade. Apesar dos já identificados limites planetários, no Brasil, a forma de entender a construção civil como agente de transformação social e econômica ainda não é favorável à manutenção do equilíbrio da natureza. Com características diferenciadas, o país apresenta prioridades de ação sobre o saneamento, a água, a exploração das florestas e a produção de alimentos que devem ser incorporadas em suas estratégias. Apesar do termo “construção sustentável” referir-se à preocupação ambiental no setor, a base comum do debate ainda é iniciante. Assim, objetivou-se analisar documentos publicados sobre as linhas prioritárias dos debates entre os agentes representativos do setor da construção civil brasileira para examinar os enfoques da Sustentabilidade Ecológica como base de sustentação para a vida no Planeta. Foram consideradas as contribuições das políticas públicas de “construção sustentável” para estimular a cadeia produtiva para ampliar a sustentabilidade. Acredita-se que este estudo pode promover uma análise da importância da Sustentabilidade Ecológica na “construção sustentável” por meio de produção de inovações, saberes e conhecimentos. A metodologia do estudo tem uma abordagem qualitativa, de natureza teórico-conceitual tendo como objeto de análise documentos públicos e privados. Identificou-se convergências e divergências nos debates relevantes para introduzir avanços na discussão. O conteúdo identificado nos documentos limita-se à importância da construção civil no desenvolvimento urbano e ao suprimento do consequente déficit habitacional sem referência aos grupos privilegiados, a exemplo do declarado na Agenda 21 para a construção sustentável em países em desenvolvimento. Quando se referem às ações alinhadas com o desenvolvimento sustentável, os textos abstêm-se de referências ao tema da inclusão social na habitação. As particularidades dos três documentos apresentam-se como verdadeiras e pertinentes para o setor da construção civil. Considerando o conteúdo dos documentos, as empresas que cuidarem da água, energia e do meio ambiente, podem ser mais competitivas e melhorar a sua produtividade e rentabilidade. Concluiu-se que os documentos são iniciativas de reflexões sobre o tema da Sustentabilidade Ecológica e fornecem orientações para o equilíbrio do desenvolvimento sustentável, o que pode ser alcançado mediante os princípios da economia circular aplicada à Construção Sustentável. Como sugestões para trabalhos futuros, esta Tese destacou a importância da economia circular como uma alternativa para aliar os interesses do desenvolvimento econômico e o desenvolvimento sustentável por meio da Construção Sustentável.

Palavras-chave: Construção Sustentável. Desenvolvimento Sustentável. Países em

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ABSTRACT

BASSETTO, Luci Ines. Análise documental de linhas prioritárias propostas por

organizações articuladas com a construção sustentável brasileira. 2016. 187 f.

Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Tecnologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2016.

The central theme of this study refers to Sustainable Construction from the perspective of Ecological Sustainability, passing by themes of the role of Civil Construction as a transforming and regenerative agent of their ecological impacts in society. It is perceived a conflict between Ecological Sustainability and Sustainable Development due the later suggest economic growth with care for environment and social issues. Despite already identified planetary boundaries, in Brazil, the way to understand the Civil Construction as social and economic transformation agent is still not in favor of maintaining the nature balance. With different characteristics, the country presents action priorities on sanitation, water, forest exploration and food production that should be incorporated into their strategies. Although the term "sustainable construction" refer to environmental concern in the sector, the common basis of debate is still beginner. The objective was to analyze published documents on priority lines of discussions among representative agents of Brazilian Civil Construction sector to examine the focus of Ecological Sustainability as a support basis for life on the planet. It were considered contributions from public policies of "sustainable construction" to stimulate the production chain to increase sustainability. It is believed that this study can promote an analysis of the importance of ecological sustainability in "sustainable construction" through production of innovation, knowledge and expertise. The study methodology has a qualitative approach, theoretical and conceptual nature having as object of analysis public and private documents. It was identified convergences and divergences in debates relevant to introduce advances in the discussion. The content identified in documents is limited to the importance of civil construction in urban development and to supply resulting habitation shortage without reference to privileged groups, such as stated in Agenda 21 for sustainable development in developing countries. When referring to actions aligned with sustainable development, the texts abstain of references to the issue of social inclusion in habitation. The particularities of the three documents are presented as true and relevant to the construction sector. Considering documents content, companies that take care of water, energy and the environment, can be more competitive and improve their productivity and profitability. It was concluded that the documents are initiatives of reflections on the theme of Ecological Sustainability and provide guidance for the balance of sustainable development, which can be achieved by the principles of circular economy applied to Sustainable Construction. As suggestions for future works, this thesis emphasized the importance of circular economy as an alternative to align interests of economic development and sustainable development through Sustainable Construction.

Keywords: Sustainable construction. Sustainable development. Developing

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Emissões Diretas e Indiretas de Gases de Efeito Estufa... 13

Figura 2 – América Latina e Caribe: Evolução e projeção da taxa de urbanização, 1970-2050... 28

Figura 3 – População do Mundo, 1950-2100, de acordo com diferentes projeções e variantes... 29

Figura 4 – Pegada ecológica e biocapacidade: 1961-2008... 32

Figura 5 – Aumento previsto para o nível do mar até 2010... 34

Figura 6 – Para além do limite... 35

Figura 7 – Fluxo do sistema econômico... 46

Figura 8 – Os oito objetivos do milênio... 50

Figura 9 – Estrutura para a construção sustentável... 51

Figura 10 – Esquema para compreensão do uso da Teoria da Ação em Análise de Conteúdo... 68

(9)

Quadro 1 - Documentos selecionados para a pesquisa: Construção

Sustentável... 67

Quadro 2 – Categorias de análise... 71

Quadro 3 – Quadro analítico com base na Teoria da Ação... 72

Quadro 4 - Benefícios de sistemas de infiltração de águas no empreendimento 88 Quadro 5 – Cadeia produtiva da construção... 98

Quadro 6 – Regulamentação dos resíduos gerados na cadeia produtiva da construção... 99

Quadro 7 – Evolução recente na normatização – Sistema de gestão integrada 100 Quadro 8 – Normas e propostas para um sistema de gestão integrada... 100

Quadro 9 – Certificações no setor público... 100

Quadro 10 - Programas Prioritários da CBIC, abordando diferentes aspectos da sustentabilidade na construção de edificações... 101

Quadro 11 – Entidades e iniciativas... 101

Quadro 12 – Desafios da sustentabilidade na construção... 102

Quadro 13 - Resumo do conteúdo da fala do Conselho Deliberativo sobre o documento... 127

Quadro 14 - Uso eficiente da água em edificações... 134

Quadro 15 - Programas institucionais brasileiros sobre a água... 134

Quadro 16 - Atuação do PBQP-H... 135

Quadro 17 - Quadro resumo das recomendações de gestão da demanda da água em cidades brasileiras... 137

Quadro 18 - Planejamento e Gestão – sugestões... 143

Quadro 19 - Materiais, matérias-primas e resíduos na construção civil... 149

Quadro 20 – Análises comparativas dos três documentos... 158

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ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

A21 SCDC Agenda 21 for Sustainable Construction in Developing Countries CDMAALC Comissão de Desenvolvimento e Meio Ambiente da América Latina e Caribe

CDS Comissão de Desenvolvimento Sustentável CIB Conseil International du Bâtiment

CNUMAD Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento

CO2 Dióxido de Carbono

DS Desenvolvimento Sustentável

GEE Gases de Efeito Estufa

ISE Índice de Sustentabilidade Empresarial IPCC Intergovernmental Panel Change Climate MIT Massachusetts Institute of Technology PAE Programa de Atendimento a Emergências PGR Programa de Gerenciamento de Riscos ODM Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

OECD Organization for Economic Co-operation and Development

ONG Organização Não Governamental

PIB Produto Interno Bruto

PNMC Política Nacional sobre Mudança do Clima

PNUMA Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente SBCI Sustainable Buildings and Climate Initiative

SGQ Sistema de Gestão da Qualidade

SE Sustentabilidade Ecológica

SU Sustentabilidade Urbana

UNEP United Nations Environment Programme

UNFCCC United Nations Framework Convention on Climate Change WPP World Population Prospects

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO... 12 1.1 Problema de pesquisa... 17 1.2 Objetivos

...

21 1.2.1 Objetivo gera,l... 21 1.2.2 Objetivos específicos... 21 1.3 Propositura da tese... 21 1.4 Justificativa... 22 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

...

26

2.1 Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável como base da construção sustentável... 37

2.2 Sustentabilidade ecológica e economia circular como limites do crescimento... 44 2.3 O modelo circular da economia como um sistema isolado e ineficiente... 46

2.4 Características da construção sustentável baseada na sustentabilidade ecológica e na economia circular

...

50

2.5 Possíveis estratégias para a Sustentabilidade Ecológica no setor da Construção... 58

2.6 O Brasil e o contexto da Construção Sustentável

...

61

3 METODOLOGIA... 65

3.1 Metodologia da pesquisa

...

69

3.1.1 Processo de análise... 70

4 ANÁLISE DOS DOCUMENTOS ESCOLHIDOS SOBRE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL... 75

4.1 Descrição dos conteúdos temáticos dos documentos

(12)

4.1.1 Documento 1 – Guia de Sustentabilidade na Construção... 76

4.1.2 Documento 2 - Guia CBIC de boas práticas em sustentabilidade na indústria da construção... 95

4.1.3 Documento 3 – Aspectos da construção sustentável no Brasil e promoção de políticas públicas... 125

4.2 Discussões analíticas sobre os documentos 1, 2, 3... 154

5 CONCLUSÃO...

...

162

5.1 Limitações do estudo... 168

5.2 Sugestões para futuros trabalhos... 168

REFERÊNCIAS... 170

ANEXO 1 – CAPAS E ÍNDICES DOS TRÊS DOCUMENTOS

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1 INTRODUÇÃO

O tema central deste estudo refere-se à sustentabilidade ecológica, economia circular e o desenvolvimento sustentável como fatores de desafios ao papel da construção como agente transformador e regenerativo de seus impactos socioecológicos. É certo que os termos Desenvolvimento Sustentável – DS e Sustentabilidade apresentam complexidades devido às suas próprias ambiguidades e conceitos diferenciados. A definição de Desenvolvimento Sustentável implica que o meio ambiente e a qualidade de vida humana são tão importantes quanto o desempenho econômico e sugere que o ser humano, ambiente natural e o sistema econômico são interdependentes. Menciona também a justiça inter-geracional, salienta a responsabilidade da atual população para o bem-estar de milhões de pessoas ainda não nascidas; e sugere que estamos emprestando do planeta seus recursos e sua função ambiental e qualidade de as gerações futuras. Ao considerar o aspecto econômico, fica subtendido que o desenvolvimento congrega o uso dos recursos naturais de fontes não-renováveis, escassos e importantes para a vida.

A dependência humana sobre a saúde ecológica está pautada na premissa de que o sustento é retirado do meio ambiente e depende do equilíbrio dos ecossistemas. É, portanto, um fato irrefutável de que a qualidade de vida depende do ambiente artificialmente construído e do natural. Qualquer desequilíbrio no ritmo da vida afetará adversamente o ser humano (HAGUE, 1991 apud SEXTON, 2000). E a busca por um desenvolvimento equitativo entre natureza, tecnologia e seres humanos está entre os maiores desafios para este século.

Neste contexto, a Sustentabilidade Ecológica volta-se para estudar formas de observar o contorno do desenvolvimento econômico, no sentido de preservar os recursos naturais como precaução para manter a qualidade dos seres humanos e toda espécie de vida existente nos ecossistemas. O ser humano cria ambientes diversos dos naturais para desenvolver a vida, mas nem sempre estes conseguem evitar impactos negativos sobre os demais ambientes presentes nos ecossistemas. A mitigação deste comportamento adverso à sustentação poderia advir da busca por

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processos essenciais, que conservem a biodiversidade e sua capacidade de resiliência a longo prazo. Trata-se de um princípio da proteção dos seres vulneráveis, especialmente animais e plantas que estão sendo dizimados e correm riscos de extinção. Além disso, existe a porção não-viva da Terra, também essencial para sustentar a vida. Todas estas prerrogativas fazem parte dos discursos e princípios de sustentabilidade como elementos-chave de suporte de vida. O ser humano é totalmente dependente destes elementos para a sua sobrevivência (KIBERT, 2007).

Argumentações sobre desenvolvimento sustentável e sustentabilidade neste estudo permeiam em especial aspecto ecológico da construção civil. Em países desenvolvidos, o setor da construção representa 30% do consumo de energia e 40% das emissões (IPCC, 2014; UNEP-SBCI, 2009). Este setor está caracterizado como um dos que mais impacta o desenvolvimento e crescimento econômico de um país. Reitera-se a importância de mudar os processos de trabalho e de produção fundamentados no desperdício; no consumo excessivo de materiais, água, energia; na produção de resíduos e nas emissões de gases, de contaminantes do ar e do solo. Alguns destes procedimentos que deixam externalidades negativas no ambiente já foram destacados por instituições, Organizações Não-Governamentais e Academia.

A EUROSTAT (2011) demonstrou que o consumo da construção civil supera o setor de transportes e também o setor industrial. Não obstante, o consumo de energia e as emissões de Gases de Efeito Estufa - GEE, estão crescendo a uma taxa maior do que os outros setores (AKASHI; HANAOKA, 2012; EIA, 2012).

De acordo com o Intergovernamental Panel Climate Change - IPCC (IPCC, 2014), a construção civil está entre os setores representantes da sociedade civil que emite CO2 direta e indiretamente. As emissões acontecem na indústria, agricultura, reflorestamento, usos do solo (Agriculture, Forestry e Land Use - AFOLU), transporte, produção de energia e variam de 0% a 25%. A participação do setor da construção é significativa nas emissões e acontece direta e indiretamente.

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Figura 1 – Emissões Diretas e Indiretas de Gases de Efeito Estufa

Fonte: Adaptado de Rockström et al, (2009).

Além da construção, o uso e a restauração das construções geram muitos benefícios sociais e econômicos. De acordo com a Global Construction Perspectives and Oxford Economics (2013), em 2025, o volume do lucro a ser gerado pelas construções chegará a 15 trilhões de dólares em todo o mundo. Conforme a UNEP-SBCI, o setor de construção gera de 5% a 10% de empregos em nível nacional e geralmente contribui de 5% a 15% do Produto Interno Bruto (PIB) dos países (UNEP-SBCI, 2009). Entretanto, esses benefícios podem trazer impactos contraditórios, especialmente para o ambiente natural. Baseando-se em diversas metodologias, constata-se que o setor de construção ultrapassou a Pegada Ecológica, que contabiliza a pressão do consumo da população sobre os recursos naturais. Um aspecto mais tangível da Pegada Ecológica diz respeito às construções em uso. No entanto, há uma parcela menos compreendida dessa proporção que inclui o projeto e o processo de construção em si; e também a escolha de materiais. Todo ano, por exemplo, aproximadamente três bilhões de toneladas de matéria prima – de 40% a 50% – são utilizadas na manufatura de produtos e componentes para a construção civil (ROODMAN et al, 1995; ANINK et al, 1996 apud SMITH; WHITELEGG; WILLIAMS 1998). Esses números não estão contabilizados na Pegada Ecológica das construções.

No que diz respeito à água, estima-se que 12% do uso global deste recurso está sendo gasto pelo setor de construção civil (UNEP, 2011). Porém, esse uso poderia ser ainda maior se a demanda de água nos processos de construção,

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produção do material e outros processos auxiliares fossem contabilizados (CRAWFORD, 2011). Estima-se que a utilização de água pelo setor crescerá acima dos 20% da demanda global até 2030, criando uma carência de água em potencial de 40%, com base na demanda estimada, considerando o máximo da disponibilidade do recurso no mundo (MCKINSEY, 2009).

Quanto aos resíduos da construção e sobrantes de demolição, bem como o desperdício de materiais utilizados nos processos construtivos – madeira, cimento, objetos plásticos, tubos e embalagens - contribuem com cerca de 40% do lixo sólido em países desenvolvidos (UNEP, 2011).

Entre os desafios específicos do setor, está a escolha e utilização dos materiais. A demanda por aço, segundo previsões, deve aumentar em até 80% entre 2010 e 2030, liderada principalmente pela China e outros mercados emergentes, enquanto a produção de cimento mundial deve crescer entre 43% e 72% até 2050 (MCKINSEY, 2009). Apesar de não ser percebido como um problema imediato, a escassez de minérios metálicos de alta qualidade obrigará o setor a buscar substitutos de menor qualidade e, consequentemente, usar mais energia para extrair minérios utilizáveis (UNEP, 2011); e para Kibert (2012), a preocupação foca-se em desenvolvimento tecnológico para substituir a matriz energética.

Em países em desenvolvimento, a demanda por um ambiente construído e de melhor qualidade – condição para uma sociedade justa – exigirá um acentuado crescimento do setor. Nestes, espera-se que a indústria de materiais de construção cresça 2,5 vezes entre 2010 e 2050 em nível mundial. No Brasil, a expectativa é de que o setor de construção dobre de tamanho até o ano 2022 (AGOPYAN; JOHN 2011).

Se por um lado o setor é responsável por uma parcela significativa do consumo de recursos naturais, incluindo energia e água, além de ser um dos maiores responsáveis pela geração de resíduos sólidos e emissão de GEE, também apresenta potencial para contribuição no sentido de minimizar os impactos ambientais e sociais, tais como a escassez de água; o desmatamento; a degradação da própria edificação; a baixa qualidade do ar pelas emissões de GEE; dentre outros.

O Brasil apresenta características diferenciadas de países desenvolvidos onde as discussões sobre a indústria da construção civil emergiram mais cedo. Apesar da inserção do tema nos debates internacionais e nacionais sobre o

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desenvolvimento sustentável - e em outras agências - ainda não existem pesquisas para afirmar avanços significativos nas questões ambientais e, principalmente, quanto a estratégias para redução dos impactos do setor. Por exemplo, os dados do desmatamento no Brasil podem ilustrar que não têm acontecido movimentos de redução, mas sim aumento de degradação florestal em regiões da Amazônia e dos Estados do Pará, Mato Grosso, Amapá, Acre, Roraima, Tocantins e Rondônia (BOLETIM..., 2015).

Com as políticas de habitação estimuladas a partir do Plano de Aceleração do Crescimento implementado em 2007 e a disponibilidade financeira provinda dos recursos transferidos do Orçamento Geral da União para o Fundo de Arrendamento Residencial houve um aquecimento no setor imobiliário. Com o objetivo de atender ao déficit habitacional urbano para as famílias de baixa renda, desde de 2009 até 2015 foram construídas mais de 3,8 milhões de unidades.

O programa Minha Casa, Minha Vida alcançou todas as metas das duas primeiras fases e, em março deste ano, chegou à marca de 3,857 milhões de unidades. Deste total, as famílias beneficiadas já receberam 2,169 milhões de moradias. Mais 1,688 milhão de casas e apartamentos foram contratados para entrega nos próximos meses e anos (MINHA CASA..., 2015).

Além disso, os processos migratórios e a expansão e concentração populacional nas áreas urbanas constatadas nos censos do IBGE estimularam o crescimento do consumo de materiais de construção, que em grande medida são recursos naturais não-renováveis, tais como aço, cimento, entre outros (MCKISSEY, 2009).

Em países em desenvolvimento, como no Brasil, os recursos naturais não estão totalmente exauridos; e sua matriz energética, em grande parte, está constituída de fonte renovável. Parte-se da hipótese que a sustentabilidade ecológica no setor construtivo pode ser avaliada pela conservação e preservação dos recursos naturais e a importância da qualidade de vida no ambiente construído.

Portanto, há uma oportunidade para os dirigentes nacionais desenvolverem formas criativas de ação e alcançar qualidade de vida sem passar necessariamente pelo processo de exaustão de recursos. Caso se constituam linhas prioritárias para o alcance da sustentabilidade ecológica, as probabilidades da construção sustentável colaborar com este processo se acrescem (AGOPYAN; JOHN 2011).

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1.1 Problema de pesquisa

De acordo com Marconi e Lakatos (2010), o problema de pesquisa parte de dificuldades teóricas ou práticas quando existe o interesse e o contexto apropriado para se buscar novos saberes e conhecimentos necessários para resolução de problemas. Para Marinho (1980 apud MARCONI; LAKATOS 2010, p. 143), “[...] a caracterização do problema define e identifica o assunto em estudo, quando bem delimitado, simplifica e facilita a maneira de conduzir a investigação”.

O contexto de limites planetários, além do crescimento populacional e concentração em áreas urbanas, também a geração de resíduos em cadeia produtiva, determinam uma mudanças na forma de se conceber edificações. No entanto, os países em desenvolvimento em especial o Brasil, apresentam problemas emergenciais e certas peculiaridades diferentes de grupos internacionais formados por países desenvolvidos do mundo.

Conforme o Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (CBCS), o setor da construção civil, no Brasil, apresenta impactos ambientais importantes e variados, tais como:

• A construção e a manutenção da infraestrutura do país consomem até 75% dos recursos naturais extraídos, sendo a cadeia produtiva do setor a maior consumidora destes recursos da economia.

• A quantidade de resíduos de construção e demolição é estimada em torno de 450 kg/habitantes por ano ou cerca de 80 milhões de toneladas por ano, impactando o ambiente urbano e as finanças municipais. A este total devem ser somados os outros resíduos industriais formados pela cadeia.

• Os canteiros de obras são geradoras de poeira e ruído; e causam erosões que prejudicam os sistemas de drenagem.

• A construção causa a diminuição da permeabilidade do solo, mudando o regime de drenagem, causando enchentes e reduzindo as reservas de água subterrânea.

• A utilização de madeira extraída ilegalmente, além de comprometer a sustentabilidade das florestas representa séria ameaça ao equilíbrio ecossistêmico.

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• A cadeia produtiva da construção contribui para a poluição, inclusive na liberação de gases do efeito estufa, como CO2 durante a queima de combustíveis fósseis e a descarbonatação de calcário e de compostos orgânicos voláteis, que afetam também os usuários dos edifícios.

• A preocupação com a contaminação ambiental pela lixiviação de biocidas e metais pesados de alguns materiais vem crescendo;

• A operação de edifícios no Brasil é responsável por cerca de 18% do consumo total de energia do país e por cerca de 50% do consumo de energia elétrica;

• Os edifícios brasileiros gastam 21% da água consumida no país, sendo boa parte desperdiçada (CBCS, 2007).

Logo, se as nações desejam bons resultados nas políticas econômicas, sociais, culturais e ambientais é necessário que a visão de mundo seja sistêmica. A dinâmica da realidade precisa exibir interdependência entre os fatores, disciplinas, organizações e domínios do conhecimento para romper as visões compartimentadas. Tanto interesses humanos quanto os processos cognitivos de pensar e proceder fazem parte da complexidade dos problemas do mundo real.

Este é um dos pontos significativos para entender a concepção sistêmica de mundo em termos de relação e integração das partes. Na concepção da construção sustentável, a visão de mundo flexível, ampla e consciente colocaria em dependência estas partes pertencentes a um sistema maior, a qual se insere também na própria ideia de sustentabilidade. Outro conceito complementar é o de “sustentabilidade ecológica”, e economia circular que são um estado necessário para manter as condições planetárias favoráveis à vida como um todo e aos seres humanos em sociedade.

É importante que o indivíduo não perca o seu vínculo com o contexto, o seu passado, suas referências e sua capacidade crítica para analisar a concepção de um projeto de construção sustentável. Este envolve uma complexidade organizada, redes dinâmicas de interações em um contexto de comunidades, com respeito ao uso e apropriação da terra, além de articular a proteção de comunidades vulneráveis. As funções sociais de uma edificação devem ultrapassar o seu significado convencional de construção enquanto um objeto situado em um lugar físico para alcançar também o significado de espaço relacional (KIBERT, 2012).

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Kibert (2012) insere princípios éticos para a humanidade agir sobre a natureza e corrobora com conceitos filosóficos baseados em afirmações fundamentais, resumidos a seguir: (a) os humanos são membros da comunidade de vida da Terra; (b) todas as espécies estão interconectadas em uma rede de vida; (c) cada espécie é um centro teleológico da vida que busca o bem no seu trajeto na Terra; e (d) o foco da vida deve deslocar do antropocentrismo para o biocentrismo.

Na construção sustentável, o edifício seria pensado como um todo; e a sustentabilidade dele envolveria o uso, a manutenção e a provável demolição, além de incluir o ciclo de vida dos materiais (DEEKE et al, 2009). Todavia, na concepção biocentrista, a construção civil teria ainda a função de regeneração e sua sustentabilidade estaria baseada na durabilidade, na saúde e bem estar da população circundante. Ao final de vida útil, o edifício estaria disponível para novas funções, dentro de uma estrutura circular de compreensão visualizada na forma de uma espiral de pensamentos e idealizações (KIBERT, 2012; HEEMANN, 2004).

O contexto de limites dos recursos naturais, o crescimento populacional e suas demandas e os impactos do setor da construção civil na natureza traz discussões sobre limites do crescimento econômico contidos nos fundamentos da sustentabilidade ecológica e economia circular. No entanto, o desenvolvimento sustentável admite o crescimento com a preocupação com os recursos naturais, principalmente com os não-renováveis, o que não acontece em sua plenitude.

O setor da construção civil é abordado neste estudo na dimensão da escassez e o consumo de recursos naturais não-renováveis, tais como: os impactos ambientais pela emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE); e as mudanças climáticas decorrentes de ações antropogênicas. Adiciona-se a estes desafios na resiliência do setor; a oferta e demanda por materiais não-biodegradáveis que geram resíduos contaminantes; a energia obtida por fontes poluentes, tais como hidrelétrica e carvão; e o uso da água potável nos processos construtivos. Neste sentido, o setor da construção civil, no Brasil, além dos desafios já apontados, ainda deve encontrar soluções para atender as demandas por moradia em especial as comunidades vulneráveis.

De acordo com um conjunto coordenado de ações, adequado a cada realidade, é necessário “[...] uma boa dose de imaginação e uma luta contra a tradição de, simplesmente, copiar de forma acrítica e simplificada as soluções do norte desenvolvido” (AGOPYAN; JOHN 2011, p. 33). Segundo estes autores, no

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Brasil, estratégias têm sido adotadas para economia de energia e metodologias de certificação viáveis em alguns poucos edifícios corporativos de padrão internacional. No entanto, outra realidade faz parte do contexto social e ambiental brasileiro.

Assim o problema de pesquisa expressa-se na necessidade de identificar as potenciais soluções e seus obstáculos para o setor brasileiro da construção se inserir como Construção Sustentável. Estes elementos podem ser encontrados na expressão de diversos atores envolvidos: academia, instituições da sociedade organizada, organizações não governamentais e profissionais da arquitetura e engenharia civil.

A falta do conhecimento daquilo que os diversos atores entendem como propostas para uma Construção Sustentável no contexto de desenvolvimento e sustentabilidade socioeconômico e ambiental no contexto brasileiro da construção civil constitui-se de uma lacuna entre o que é ideal discutido por atores da academia e o que pode ser adequado a cada realidade.

Neste sentido, o problema se formaliza na seguinte questão: Que elementos constituem-se em propostas e obstáculos para a Construção Sustentável no contexto de desenvolvimento e sustentabilidade sócio econômico e ambiental na visão de diversos atores da construção civil brasileira?

A presente tese buscou respostas para a pergunta de pesquisa por meio de análise de conteúdo de três publicações: 1) Guia da sustentabilidade na construção da Câmara da Indústria da Construção – CIC-FIEMIG (2008); 2) Guias CBIC de boas práticas em sustentabilidade na indústria da construção da Câmara Brasileira da Construção, Serviço Social da Indústria, e Fundação Dom Cabral (2012); e 3) Aspectos da construção sustentável no Brasil e promoção de políticas públicas do Conselho Brasileiro da Construção Sustentável, Ministério do Meio Ambiente, e Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (2014).

Tratam-se de documentos de Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público, de âmbito nacional e internacional, disponibilizados na Internet para públicos diversos. Na busca dos documentos, uma pré-leitura constatou a necessidade de inserir o setor da construção civil nas propostas de uso eficiente dos recursos naturais. Além disso, os documentos reconhecem o setor da construção civil como um setor altamente impactante, positiva em áreas como geração de emprego e renda; e negativamente decorrentes da extração, uso e descarte de recursos.

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1.2 Objetivos

Esta seção descreve os objetivos geral e específicos que guiam a presente tese.

1.2.1 Objetivo geral

O objetivo geral deste estudo é analisar documentos que constituem-se de propostas e desafios para a Construção Sustentável na construção civil brasileira.

1.2.2 Objetivos específicos

Para alcançar o objetivo geral os seguintes objetivos deverão ser atendidos: • Identificar, por meio de pesquisas bibliográficas, conceitos que

fundamentam a Construção Sustentável (CS).

• Analisar, nos documentos selecionados, os fundamentos dos diversos atores que correspondem aos desafios e propostas de CS que venham a contribuir para a sustentabilidade dos recursos naturais, desenvolvimento social e econômico.

• Descrever e analisar as ações, propostas e desafios contidos nos documentos voltadas à uma construção sustentável para o contexto brasileiro.

• Comparar os três documentos selecionados, com apoio do referencial teórico, para identificar similitudes e discrepâncias e sintetizar as contribuições dos mesmos para a CS no contexto brasileiro.

1.3 Propositura da tese

Defende-se a tese de que a sustentabilidade da construção civil convencional se mostra inviável pela escassez de recursos naturais não renováveis.

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1.4 Justificativa

Diante dos desafios globais de crescimento, urbanização, escassez de recursos naturais e mudanças climáticas que determinam a transformação na forma de construir, a modificação que se tem pela frente representa grandes oportunidades em um espectro amplo de setores da cadeia produtiva da construção. Além das questões estruturantes de saúde, educação e atenção à sociedade e ao meio ambiente, as cidades brasileiras precisam mais do que nunca construir com boas equações de corresponsabilidade a fim de enfrentar os desafios de mobilidade, infraestrutura, sustentabilidade e coexistência (CBIC, 2011).

Conforme a A21 – SCDC (UNEP, 2002), a construção sustentável nos países em desenvolvimento tende a se concentrar na relação entre o setor da construção e o desenvolvimento humano, muitas vezes marginalizando os aspectos ambientais. Considerações biofísicas do ambiente construído não foram claramente articuladas para além do impacto sobre as questões ambientais. No entanto, à luz da intensa degradação dos recursos naturais e serviços ecossistêmicos observados também em países em desenvolvimento, a indústria da construção não pode ignorar o meio ambiente.

Além disso, a redução nos níveis de chuvas verificados mensalmente (desde 2012, na região nordeste e desde outubro de 2013, na região sudeste), em relação à média histórica mensal, considerando dados monitorados desde 1930, traz um fato novo, de natureza ambiental, que se mostra ainda imprevisível. A compreensão das causas dessas alterações climáticas e da dinâmica tendencial da pluviometria interanualmente ainda é imprecisa devido, principalmente, ao curto período de observações dessas anomalias (AGÊNCIA..., 2014).

Os elementos que constituem a discussão da sustentabilidade ecológica nas organizações poderão promover uma base dos dados acerca da temática, com o intuito de compilar saberes e conhecimentos e disponibilizados para gestores públicos e profissionais do setor. Os engenheiros e arquitetos têm papel fundamental na seleção e adoção de tecnologias, materiais e produtos menos agressivos ao meio ambiente (SILVA et al, 2000).

Já o sétimo objetivo estipulado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento é dedicado, em especial, ao meio ambiente e visa garantir a

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sustentabilidade ambiental juntamente com preocupações sociais propondo as seguintes metas:

1) Integrar os princípios do desenvolvimento sustentável às políticas e programas nacionais e reverter a perda de recursos ambientais;

2) Reduzir a perda de diversidade biológica e alcançar, até 2010, uma redução significativa na taxa de perda;

3) Reduzir pela metade, até 2015, a proporção da população sem acesso permanente e sustentável a água potável segura e esgotamento sanitário; e, por fim, 4) Até 2020, ter alcançado uma melhora significativa nas vidas de pelo menos 100 milhões de habitantes de bairros degradados (PNUD, 2015).

Além dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, em 2002, durante a Conferência Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a ONU aprovou o Plano de Implementação Johanesburgo, no qual há o compromisso com a proteção da biodiversidade e o incentivo ao aumento de medidas de equidade econômica, como banir para sempre o subdesenvolvimento.

Para atingir esse objetivo, algumas áreas de intervenção foram identificadas na agenda mundial de desenvolvimento sustentável: água limpa, saneamento básico, energia, habitação adequada, saúde e segurança alimentar. Sendo assim, o tipo de construção a ser desenvolvida nos próximos anos e os processos pelos quais ele será estabelecido serão fatores determinantes na realização dos objetivos dessas áreas prioritárias.

Este estudo visa contribuir, também, para o acúmulo de experiências do Escritório Verde, projeto da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), o qual foi projetado e executado para funcionar como um laboratório de experiências e ações que contribuam para o compartilhamento das informações.

Além disso, como apontado por Agopyan e John (2011), no Brasil:

A indústria em geral, e da Construção Civil em particular, demorou para começar a discutir e enfrentar os problemas de sustentabilidade. Apesar de a Construção Civil ser a indústria que mais consome recursos naturais e gera resíduos, com significativa geração de poeira

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e poluição sonora em canteiros localizados dentro de cidades, além de ser historicamente considerada como uma atividade “suja”, não tinha sido colocada como uma indústria com problema de sustentabilidade, até meados da década de 1990 (AGOPYAN; JOHN 2011, p. 29).

Além da demora apontada pelos autores, a adoção de conceitos e modelos de países desenvolvidos descaracteriza as particularidades emergenciais de países em desenvolvimento. Desta forma, surge a importância de se conhecer os elementos que constituem a construção sustentável no Brasil.

O Brasil, país signatário da Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudança Climáticas1, adotou a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), criada por meio da Lei 12.187, de 29 de dezembro de 2009, a qual estabeleceu princípios, objetivos, diretrizes, instrumentos ao compromisso nacional voluntário, de ações de mitigação das emissões de GEE, com vistas em reduzir entre 36,1% e 38,9% suas emissões projetadas até 2020 (IPEA, 2011). Isto introduziu o setor da construção na urgência de medidas para mitigação dos efeitos das emissões de GEE. O conhecimento já é comum, porém estratégias para resolver os principais problemas de edifícios e seus impactos são ainda imperceptíveis (KIBERT, 2012). Em nível internacional, o contexto global deve ser considerado, mas a inclusão de cenários próprios é fundamental para uma plataforma de conhecimento.

O debate não se encontra somente nos meios educacionais, como por exemplo, através de escolas e instituições de pesquisa, mas também através de agenda política e de outros mecanismos institucionais adequados (LEMONS et al, 1998). É relevante, portanto, entender as visões diversas dos agentes permitirá estabelecer políticas de ações necessárias para superar os obstáculos que dificultam o avanço do setor no estabelecimento de estratégias e ações comuns no sentido de ancorá-lo como agente transformador da sociedade e regenerador da natureza.

Justifica-se esta escolha porque ela remete a articulações entre academia, o setor público e o privado para promover a construção sustentável. A metodologia

1 Criada por ocasião da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1992, no Rio de Janeiro (Nota da autora).

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da pesquisa inclui uma abordagem qualitativa de cunho exploratório e análise teórico-conceitual dos documentos.

Os resultados do estudo inserem-se nas discussões do PPGTE, na Linha de Pesquisa Tecnologia e Desenvolvimento, e nas ações do Escritório Verde, um laboratório desenvolvido pela UTFPR com o objetivo de desenvolvimento de propostas inovadoras para o setor da construção.

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Se o crescimento da população depende acima de tudo do funcionamento contínuo dos sistemas de suporte à vida do ambiente natural como ar, água, e organismos vivos - então os conceitos de crescimento e desenvolvimento requerem um modificador de sustentabilidade já que os parâmetros relevantes de vida na Terra são tomados como finitos e nem todas as formas de crescimento consideradas indefinidamente sustentáveis.

As tecnologias, instituições e concepções de mundo que prevalecem na modernidade não atendem mais as necessidades humanas devido às rápidas, grandes e constantes transformações do mundo. Fatores como alterações climáticas, diminuição do suprimento de petróleo, destruição da biodiversidade, redução da camada de ozônio, poluição e destruição dos serviços ecossistêmicos representam sérias ameaças à humanidade.

A origem desses desequilíbrios pode ser atribuída a problemas de abrangência global e à impossibilidade de adaptação das ações humanas a um modelo sócioecológico de mundo vazio2. Para um planeta populoso, caracterizado por crescente complexidade das tecnologias e das instituições, com aumento das limitações dos recursos e redução do retorno sobre investimento em energia, água, ventos, florestas e agricultura a sociedade humana está mais frágil (CONSTANZA et al, 2013).

Os trabalhos de Ehrlich (1975) e Hardin (1968) (apud KANASHIRO, 2009), de inspiração neo-malthusiana, tiveram um impacto significativo nas discussões a serem travadas em nível internacional, a partir da difusão do argumento da explosão demográfica e sua trajetória para uma catástrofe ambiental global. Esse tipo de alarme neo-malthusiano reforçou-se de maneira decisiva com a publicação do estudo Limits to Growth (1972) – encomendado pelo Clube de Roma a um grupo de cientistas do Massachusetts Institute of Technology - MIT, cujo clube criticava duramente o “mito” do crescimento econômico ilimitado.

Seguidor dessa teoria, David Ricardo (1772-1823) e Malthus expressaram o "pensar limites ambientais" em termos dos limites de oferta de terras agrícolas a

2 Concepção do mundo como um ambiente com quantidade de seres humanos e infraestrutura relativamente pequenos (Nota da autora).

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fim de promover uma oferta decrescente de alimentos per capita (limite de escassez absoluta) como proposta de enfraquecimento do crescimento populacional. Na realidade, as inovações técnicas – como, por exemplo, o uso de fertilizantes – aumentaram a produção por unidade de entrada e de compensação mantendo, no entanto, a tendência de retornos decrescentes. Apesar de ser considerada radical, a teoria malthusiana de limites ambientais pode ser considerada uma precursora do conceito de desenvolvimento sustentável.

Diante desse quadro, pesquisas de diversas instituições ao redor do mundo mostram essa realidade contemporânea a partir de observações nos impactos sociais, econômicos, culturais e ambientais; e também na segunda natureza, mencionada pelos filósofos gregos e economistas, esses fatores decorrem das mudanças sociais e suas demandas. As estimativas divulgadas pela Organização das Nações Unidas (ONU, 2012) em seu relatório World Population Prospects – WPP, indicam um aumento da população humana mundial dos atuais 7,2 bilhões, em meados de 2013, para 8,1 bilhões de habitantes em 2025 e 9,6 bilhões em 2050. Para 2100, o relatório prevê 10,9 bilhões de pessoas. Deste total, 3,7 bilhões de pessoas serão adicionadas à população de países em desenvolvimento, avançando de 5,9 bilhões em 2013 para 8,2 bilhões em 2050 (ONU/DESAPD, 2013).

Em 2011, a população do planeta atingiu a marca de sete bilhões. Isto ocorreu em apenas 12 anos depois de ter atingido a marca dos seis bilhões. Estatísticas sempre apontaram aumento da população. Contudo, o que se percebe é a rapidez com que tal fenômeno está acontecendo. Segundo IBGE, esta tendência, no Brasil, foi favorecida pelos avanços na medicina e a expansão do saneamento básico no pais os quais colaboraram para redução da taxa de mortalidade. Por outro lado, a partir dos anos 1960 com o uso de métodos anticonceptivos houve uma redução da taxa de natalidade.

Em meio século de observação, ou seja, entre os anos de 1950 e 2000, a população do Brasil passou de 51,9 milhões para 169,8 milhões de pessoas, a esperança de vida aumentou de 43,3 para 70,4 anos; a taxa de fecundidade total reduziu em mais da metade; baixando de 6,2 para 2,4 filhos por mulher; e a taxa média geométrica de crescimento anual diminuiu de 2,99% para 1,64% ao ano (IBGE, 2016).

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A humanidade precisou de 123 anos para dobrar de um bilhão para dois bilhões de pessoas. No entanto, necessitou apenas de 33 anos para chegar aos três bilhões. Isto demonstra que o crescimento ocorre em ritmo acelerado, sendo que 93% desse crescimento estão ocorrendo em países em desenvolvimento. Estima-se que todo o crescimento populacional futuro ocorra em áreas urbanas, especialmente da África, Ásia e América Latina (ONU/DESAPD, 2013).

Junto ao crescimento populacional outro fenômeno a ser considerado é a crescente concentração da população em áreas urbanas. Segundo o relatório O Estado das Cidades no Mundo, publicado pela UN/HABITAT (BRASIL, 2010), apenas há um século, 20% da população concentrava-se em centros urbanos, chegando a 5% nos países menos desenvolvidos, sendo a grande maioria da população rural. No século XXI, a população das cidades perfaz 50% da população mundial. A urbanização do mundo está ocorrendo de forma rápida e sem precedentes. Em 2011, a população urbana superou a população rural, e até o fim deste século prevê-se que 70% das pessoas do planeta estarão vivendo nas cidades. A figura 2 aponta a evolução e o crescimento da taxa de urbanização em diversos países da América Latina e Caribe no período entre 1970 e 2050.

A partir da figura 2 constata-se que enquanto países como México acompanham a média de todos os países da América Latina e Caribe, o Brasil mostra uma acentuada taxa de concentração a partir do início dos anos 1990. Uma razão a mais para o estabelecimento de políticas públicas brasileiras para o desenvolvimento das cidades.

A cada dez pessoas vivendo em áreas urbanas no mundo, sete encontram-se nos países em desenvolvimento, cuja população representa a alarmante porcentagem de 82% da população mundial. Na América Latina e Caribe, a concentração urbana é a maior do mundo (80% em comparação com a concentração urbana na Europa, de 73%). Em 2050, espera-se um ritmo urbano de aproximadamente 87% nesta região da América Latina e Caribe (UN/HABITAT, 2014).

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Figura 2 – América Latina e Caribe: Evolução e projeção da taxa de urbanização, 1970-2050

Fonte: UN/HABITAT (2012).

Com o crescimento das cidades, cresce também o consumo de recursos naturais. Segundo o relatório Urban Patterns for a Green Economy – Optimizing Infrastructure, entre 1900 e 2005, a utilização mundial de recursos aumentou oito vezes – quase duas vezes mais rápido que o crescimento da população (UN/HABITAT, 2012). No relatório, o crescimento mais significativo foi no setor de materiais de construção, que aumentou 34 vezes, enquanto os minerais industriais e minérios aumentaram 27 vezes. Combustíveis fósseis tiveram um aumento de 12 vezes e a extração de biomassa, por outro lado, aumentou apenas 3,6 vezes (UN/HABITAT, 2012).

Na figura 3, conforme dados da Divisão do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da Secretaria das Nações Unidas de 2012, a variável “fertilidade” constante, alta e baixa está baseada na projeção da variante média, que prevê tanto um declínio da fertilidade nos países em que famílias numerosas ainda são a maioria, bem como um ligeiro aumento da fertilidade em vários países com uma taxa menor do que dois filhos em média por mulher (figura 3).

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Figura 3 – População do Mundo, 1950-2100, de acordo com diferentes projeções e variantes

Fonte: ONU/HABITAT (2012).

A partir da figura 3 é possível constatar que a fertilidade apresentará uma predisposição para o declínio a partir de 2020 e ainda assim não será superada pela fertilidade constante. A biologia humana tem algumas necessidades fundamentais como a de alimentos, água, ar puro, abrigo e constância climática relativa, o que depende de um conjunto de serviços, cujo processo é gerado pela própria natureza por meio dos ecossistemas, com a finalidade de sustentar a vida na Terra. Responsáveis pela manutenção da biodiversidade, os serviços ecossistêmicos permitem a geração de produtos como madeira, fibra, peixes, remédios, sementes, combustíveis naturais e outros, que são consumidos pelo homem.

Esses serviços geram benefícios diretos e indiretos que os seres vivos obtêm a partir do funcionamento de uma complexa rede de processos (funções) ecológicos, os quais envolvem os vários componentes ecossistêmicos. Serviços como regulação climática, formação dos solos, mitigação de danos naturais, capacidade de absorção de resíduos, dentre outros, são vitais para suportar a vida no planeta e a contínua degradação dos ecossistemas ameaça o equilíbrio da organização dos serviços ambientais, o que justifica a necessidade e urgência de protegê-los.

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Segundo a análise de Acalmo e Bennett (2003), em sua publicação Ecosystem and Human Well-Being: A Framework for Assessment, os ecossistemas são sistemas que englobam as complexas, dinâmicas e contínuas interações entre seres vivos e não-vivos em seus ambientes físicos e biológicos, nos quais o homem é parte integrante. Os autores afirmam que os ecossistemas estão sendo profundamente modificados pela ação humana por intermédio da interação com o sistema econômico que extrai recursos naturais (componentes estruturais dos ecossistemas) e os devolve em forma de resíduos contaminantes natural e vegetal ou tóxicos provenientes de substâncias com propriedades químicas nocivas. Assim, pode-se dizer que o sistema econômico tem impactos sobre os ecossistemas, sendo estes funções da sua escala (tamanho, dimensão) e do estilo dominante de crescimento econômico, modo pelo qual o sistema econômico se expande (ACALMO; BENETT 2003).

Para o Living Planet Report (2012), relatório divulgado pela WWF3, o crescimento populacional, ocorrendo de maneira geral nas áreas urbanas, exigirá continuamente exploração de recursos naturais, como água, disponibilidade de solo para produção de alimentos, e outros produtos necessários à sobrevivência. Sendo assim, essa demanda impactará no abastecimento dos serviços contínuos dos ecossistemas ameaçando não somente a biodiversidade como também a segurança, saúde e bem-estar da própria espécie humana (WWF/LPR, 2012).

Neste sentido de mudanças, o Relatório Planeta Vivo da WWF (2012) identificou, em 2008, um déficit ecológico da população em relação ao planeta correspondente a 0,9 hectares globais per capita (GHA/CAP) medida obtida por meio do método para calcular a Pegada Ecológica e a Biocapacidade. A medida comum desse sistema contábil é expressa em hectare global (GHA). Um hectare biologicamente produtivo é representado por 1 GHA em média.

Em um sistema de Balanço Contábil, a Biocapacidade representa os ativos gerados pela natureza e a Pegada Ecológica representa os passivos gerados pelo uso dos recursos da natureza. A diferença neste caso representa um ganho se o ativo for maior que o passivo. Caso contrário, a diferença representa um déficit. Trata-se de um sistema contábil que avalia e registra a demanda da população por recursos naturais biológicos renováveis (grãos e vegetais, carne, peixes, madeira e

3 Do inglês, World Wide Fund for Nature.

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fibras, energia renovável) e da oferta desse capital disponível na natureza. Segundo o relatório The National Footprint Accounts de 2012, publicado pela Global Footprint Network, a Biocapacidade total da Terra era de 12 bilhões de GHA (1,8 GHA por pessoa), enquanto a Pegada Ecológica da humanidade foi 17,6 bilhões de GHA, o que corresponde 2,6 GHA por pessoa. Os números significam que a humanidade necessita a partir de 2008, de 1,47 planeta para manter seu padrão de consumo. Com isto, o planeta está em grande risco quanto à capacidade regenerativa (GLOBAL..., 2012). Contabilmente, o déficit gerado até esse momento é de 5,6 bilhões de GHA geral e 0,80 de GHA por pessoa.

A figura 4 mostra o crescimento populacional, a Pegada Ecológica e Biocapacidade no mundo a partir de 1961 até 2008 segundo dados do The National Footprint Accounts. Depreende-se da figura 4 que a Biocapacidade apresenta-se como uma variável que se manteve constante com pouca variação entre 1961 e 2008, indo de 9,82 GHA para 11,97 GHA, enquanto que a Pegada Ecológica acompanhou o crescimento populacional. Assim, pode-se concluir que o cenário de crescimento populacional, observado na figura 4, contribuirá para o crescimento da Pegada Ecológica, o que pode aumentar os riscos de perda dos serviços ecossistêmicos e da capacidade de regeneração da Terra.

Outro fenômeno que se insere neste contexto de crescimento populacional e suas demandas são as mudanças climáticas antropogênicas evidenciadas pelo Intergovernamental Panel Change Climate (IPCC). Em relatórios constantemente atualizados, o AR – versão 5 – avalia a literatura sobre os aspectos científicos, tecnológicos, ambientais, econômicos e sociais da mitigação da mudança climática. Para a produção deste quinto relatório, o IPCC baseou-se no AR – versão 4 – Relatório Especial sobre Fontes Renováveis de Energia e Mitigação da Mudança Climática (SRREN) – e em relatórios anteriores, com o objetivo de incorporar novas descobertas e pesquisas.

O relatório também avalia opções de mitigação nos diferentes níveis de governo e nos setores da economia; e as implicações sociais de políticas para reduzir os impactos das emissões nocivas de gases, mas não recomenda qualquer ação específica neste sentido. O AR – versão 5 – menciona o aumento da temperatura média do planeta entre 3ºC e 6ºC até o ano de 2100, bem como alterações dos ciclos das chuvas. No Brasil, as alterações poderão ocorrer nas Regiões Sul e na Mata Atlântica do Sudeste prevendo um aumento de até 30% na

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precipitação, enquanto na Amazônia e na Caatinga o cenário mais provável será de seca, com redução de até 40% nas chuvas (IPCC, 2014).

Figura 4 – Pegada ecológica e biocapacidade: 1961-2008

Fonte: Adaptado de The National Footprint Accounts (2012).

As consequências das mudanças climáticas no planeta incluem o aumento de eventos extremos, particularmente nas grandes cidades, como se constata no Brasil, em forma de grandes enchentes e secas, por exemplo. Nos Estados de São Paulo e Minas Gerais nos últimos 30 anos, eventos extremos de precipitação e seca têm ocorrido constantemente, até mesmo no inverno, período que historicamente registra menos eventos de precipitação extrema. As repercussões deste evento foram fortemente noticiadas entre 2013 e 2015. A crise hídrica que São Paulo vive há quase dois anos vai mudar a forma de gestão do desidratado sistema Cantareira, que passa pelo pior momento de sua história (GERAQUE, 2015). Em outubro de 2015, os jornais noticiaram que 114 cidades do Estado de Minas Gerais decretaram situação de emergência por causa da seca. A maior parte dos municípios presentes na lista da Defesa Civil pertencem a regiões do Vale do Jequitinhonha, Vale do Mucuri e Norte do Estado. A situação tem sido agravada pela crise hídrica que afeta o Estado desde o final do ano passado (MINAS..., 2015).

Emissões antropogênicas de Gases de Efeito Estufa (GEE) também são observadas no relatório (IPCC, 2014), sendo que, em 2011, os níveis de CO2 – o

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principal gás-estufa – registrados foram de 391 partes por milhão (ppm) na atmosfera; um aumento de aproximadamente de 40% em comparação aos níveis pré-industriais. Até 2011, as emissões totais antropogênicas de CO2, desde a industrialização foram de 545 bilhões de toneladas de carbono. Gerado por combustíveis fósseis, os níveis de CO2 chegaram a 365 bilhões de toneladas; o desmatamento e outros usos do solo responderam por 180 bilhões de toneladas. O oceano absorveu 155 bilhões de toneladas, os sistemas terrestres naturais 150 bilhões; e 240 bilhões estão na atmosfera (IPCC, 2014).

Com relação ao futuro, os efeitos da mudança climática persistirão por muitos séculos, mesmo se forem colocados em prática mecanismos para deter as emissões. Segundo a pesquisa, entre 15% e 40% do CO2 emitido continuará na atmosfera no próximo milênio. Caso este gás estabilize abaixo de 500 ppm, a elevação do nível do mar deverá ser menor do que um metro em 2100, podendo chegar a três metros se as concentrações forem maiores que 700 ppm (IPCC, 2014).

Na figura 5, é possível constatar o aumento previsto para o nível do mar até o ano de 2100; e logo em seguida o aumento da temperatura. Em vermelho, o cenário mais pessimista do IPCC; e, em azul, a previsão caso medidas de mitigação sejam tomadas o quanto antes (IPCC, 2014).

O objetivo da mitigação é alcançar a estabilização de concentrações de GEE na atmosfera a níveis aceitáveis, em prazos que permitam aos ecossistemas adaptarem-se naturalmente à mudança do clima. Além disso, visa-se assegurar que a produção de alimentos não seja ameaçada e que permita ao desenvolvimento econômico prosseguir de maneira sustentável. Tudo isso deve ocorrer em conformidade com as disposições pertinentes da Convenção Quadro das Nações Unidas Sobre Mudanças do Clima; um tratado internacional resultante da Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro em 1992 (IPCC, 2014).

A Terra entrou em uma nova era, a do Antropoceno4, na qual os seres humanos constituem o condutor dominante da mudança para o Sistema Terrestre (ROCKSTRÖM et al, 2009). Isso porque o crescimento exponencial das atividades humanas está levantando a preocupação de que a pressão sobre o planeta poderia

4 Este termo, que tem antigas raízes etimológicas gregas significa “época da dominação humana” e representa um novo período da história da Terra em que o ser humano tornou-se a causa da escalada global da mudança ambiental (Nota da autora).

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desestabilizar o ambiente biofísico. O dilema tem suas raízes no paradigma predominante de desenvolvimento social e econômico intensificado a partir da Revolução Industrial, cujo sistema permanece, em grande parte, alheio às mudanças e aos riscos inerentes (ROCKSTRÖM et al, 2009).

Figura 5 – Aumento previsto para o nível do mar até 2010

Fonte: IPCC (2014).

Na tentativa de quantificar o limite que não deve ser transgredido para evitar a mudança ambiental global a um nível inaceitável, Rockström et al (2009) identificaram nove processos, os quais os autores chamaram de Sistema Terrestre. O conceito de alteração inaceitável foi definido em relação aos riscos que a humanidade está sujeita desde o início do período Antropoceno, que começou há cerca de dez mil anos.

Em seu estudo sobre “Limites Planetários”, Rockstrom et al (2009) identificaram nove processos para os quais se acredita ser necessário definir os limites do planeta:

1) mudanças climáticas;

2) taxa de perda de biodiversidade (terrestre e marinha); 3) interferência nos ciclos de nitrogênio e fósforo;

4) destruição do ozônio estratosférico; 5) acidificação dos oceanos;

6) uso de água doce global; 7) mudança no uso da terra; 8) poluição química; e

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9) carga de aerossóis na atmosfera.

A figura 6 apresenta esses processos que, se avançarem, podem gerar mudanças ambientais inaceitáveis.

Figura 6 – Para além do limite

Fonte: Adaptado de Rockström et al (2009).

O sombreamento verde interno representa o espaço operacional seguro proposto para esses nove sistemas planetários. As cunhas vermelhas representam uma estimativa da posição atual (até o período de 2009) para cada variável. Os limites em três sistemas – taxa de perda de biodiversidade, mudanças climáticas e da interferência humana no ciclo do nitrogênio – já foram ultrapassados.

Embora as fronteiras planetárias sejam descritas em termos de quantidades individuais, os processos são fortemente acoplados uns aos outros. Caso alguns dos limites sejam ultrapassados, outros limites também podem ser reduzidos. Por exemplo, mudanças significativas no uso da terra na Amazônia poderiam influenciar os recursos hídricos tão longe quanto Tibet. O limite seguro de mudanças climáticas depende da manutenção da água doce, terra, aerossol, nitrogênio-fósforo, oceano e os limites estratosféricos. Transgredir o limite de nitrogênio-fósforo pode enfraquecer a resiliência de alguns ecossistemas marinhos, potencialmente reduzindo sua capacidade de absorver CO2 e afetando assim a fronteira climática (ROCKSTRÖM et al, 2009).

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Tal constatação reforça a ideia de um desenvolvimento socioeconômico baseado na sustentabilidade dos recursos naturais e dos serviços ecossistêmicos, que necessita de uma mudança no próprio contexto socioeconômico convencional; portanto, mudanças na forma de processo, produto e consumo.

2.1 Sustentabilidade e desenvolvimento sustentável como base da construção sustentável

Apesar dos termos Sustentabilidade e Desenvolvimento Sustentável fazerem-se presentes em inúmeras discussões e publicações, inclusive em áreas como comunicação e marketing, seus conceitos ainda se mostram bastante ambíguos. Holmberg (1994, apud DALY, 1996) pesquisou mais de 80 definições e interpretações diferentes, fundamentada no conceito central da definição do WCED. Em 1995, no entanto, esta indefinição inicial já não era uma base de consenso, mas um terreno fértil para a discordância (DALY, 1996).

Segundo o dicionário Priberam da Língua Portuguesa5 (2015), o termo sustentabilidade significa “[...] qualidade ou condição do que é sustentável; modelo de sistema que tem condições de se sustentar”.

Não muito longe dessa definição, o Dicionário Michaelis (2015) apresenta a origem do termo, que vem do latim sustentare e que possui diversos sentidos, como: suportar; suster; prover do necessário para a conservação da vida; conservar; manter; conservar-se firme; equilibrar-se. As definições atribuídas ao termo sustentabilidade provém do verbo sustentar, que também é condição de perenidade, ou seja, prazo contínuo ou longo para que aquilo que se sustenta tenha condições de permanecer e cumprir as mesmas funções indefinidamente, mantendo-se estável ao longo do tempo. Sendo assim, o termo sustentável adquire a prerrogativa de qualificar um sistema para que este possa adquirir a condição de sustentar-se.

Kanashiro (2009) argumenta que a confusão da interpretação da expressão desenvolvimento sustentável pode estar na concepção econômica – que constrói uma identidade direta entre desenvolvimento e crescimento econômico. Essa percepção crescente da compreensão entre ambiente e desenvolvimento representou um progresso significativo na promoção do princípio da sustentabilidade

5 Disponível em: <http://www.priberam.pt/dlpo/sustentabilidade>. Acesso em: 6 ago. 2015.

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e foi a International Union for Conservation of Nature (IUCN) que, em 1980, introduziu formalmente o termo Desenvolvimento Sustentável, por meio do documento original sobre a Estratégia Mundial da Conservação.

A continuidade das discussões sobre Desenvolvimento Sustentável consolidou-se no Mundo a partir do relatório Our common future, divulgado em 1987 pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD)6. O relatório também ficou conhecido como Relatório Brundtland, uma vez que a referida comissão foi presidida pela então primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland (WCED, 1987). Ressaltou-se a incompatibilidade entre os padrões de produção e consumo vigentes nos países desenvolvidos, a adoção desse modelo pelas nações em desenvolvimento e o uso racional dos recursos naturais, bem como a capacidade de suporte dos ecossistemas.

O documento não só enfatiza a satisfação das necessidades básicas (por exemplo, alimentos, água, energia e saneamento) para as gerações atuais e futuras, como também exige uma mudança em direção a um novo modelo de crescimento econômico que seja equitativo e sustentável (MEBRATU, 1998). Além disso, sugere fortemente a ligação entre a redução da pobreza, a melhoria ambiental e a equidade social por intermédio de um crescimento econômico sustentável; fatores que deram margens a diversas interpretações que tornaram o termo ambíguo e deficiente.

Há grupos de pessoas que compreendem o termo a partir de um contexto que envolve estilos de vida em aldeias como nas culturas antigas. Seriam pequenas comunidades sobrevivendo de artesanato, com suas próprias técnicas em um mundo humanamente tolerável, o que estaria alinhado ao pensamento de Schumacher (1979) em Small Is Beautiful quando argumenta os erros e incoerências do pensamento econômico tradicional. É uma abordagem econômica e política, adotado por líderes porta-vozes deste tipo de economia descentralista. Essas ideias, embora controversas e discutíveis, deram novo impulso a toda uma geração de defensores do meio ambiente, além de acrescentar uma nova dimensão para o discurso sobre a "escala da organização." Esse tipo de economia política libertária distingue-se do socialismo ortodoxo e do capitalismo, pois busca solução de problemas em menor escala (ROSZAK, 1989 apud MEBRATU, 1998). As leituras idealizadas por Schumacher trouxeram "um raio de esperança" para se pensar em

6 Do inglês, World Commission on Environment and Development (WCED).

Referências

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