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A proteção jurídica dos recursos hídricos e sua correlação com o desenvolvimento sustentável

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

CAROLINE BAUER

A PROTEÇÃO JURÍDICA DOS RECURSOS HÍDRICOS E SUA CORRELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Ijuí (RS) 2016

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CAROLINE BAUER

A PROTEÇÃO JURÍDICA DOS RECURSOS HÍDRICOS E SUA

CORRELAÇÃO COM O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS- Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: MSc. Marcelo Loebleindos Santos

Ijuí (RS) 2016

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Dedico este trabalho aos familiares, em virtude do apoio e confiança externados à mim durante o lapso temporal da jornada acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

À minha família, a qual sempre externou votos de incentivo e apoio, em especial, no lapso que perdurou a jornada acadêmica.

Ao meu orientador Marcelo Loeblein dos Santos, do qual tive o privilégio de ter orientações propulsoras e promissoras para a realização do trabalho e aquisição de conhecimentos.

Ao meu avô paterno, Egon Bauer (in memorian), pelas suas eternas palavras doces, positivas e de prosperidade.

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‘’Se você tem metas para um ano: plante arroz; se você tem metas para dez anos: plante uma árvore; se você tem metas para cem anos: eduque uma criança; se você tem metas para mil anos, então, preserve o meio ambiente’’ (Confúcio).

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise do tipo exploratória, utilizando no seu delineamento a coleta de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede eletrônica. Para a sua realização foi utilizado o método de abordagem hipotético-dedutivo. Em momento inicial, abordou-se a evolução histórica do Direito Ambiental, a fim de proporcionar sua interação com o atual cenário. Examinando, em momento posterior, questões intrínsecas ao Direito Ambiental e ao Desenvolvimento Sustentável. Elenca os principais princípios basilares do Direito Ambiental. Estuda a concepção de educação ambiental e seus paradigmas de atuação. Objetivando, por fim, investigar questões relacionadas com a grande problemática ambiental vigente, qual seja, a escassez de recursos hídricos, bem como os instrumentos judiciais de defesa e proteção destes. Finaliza-se concluindo que, a política de desenvolvimento sustentável esta relacionada à assertiva constitucional de meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem como torna-se mister o dever de preservação e proteção jurídica dos recursos hidrográficos, uma vez que indispensáveis à preservação de um dos maiores bens resguardados juridicamente, qual seja, a vida.

Palavras-Chave: Desenvolvimento sustentável. Direito ambiental. Proteção ambiental. Recursos hídricos.

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ABSTRACT

This course conclusion work is an analysis of exploratory using in your design data collection in bibliographic sources in the media and on the web. For its realization was used the hypothetical-deductive method of approach at an initial stage, about the historical evolution of environmental law in order to provide its interaction with the current scenario. Examining at a later time, questions intrinsic to environmental law and sustainable development. It addresses the key basic principles of environmental law. Examines the conception of environmental education and their operating paradigms. Aiming to finally investigate issues related to the most current environmental problem, that is, the scarcity of water resources, as well as the legal instruments of defense and protection of these. Ends up concluding that sustainable development policy is related to the constitutional assertion of an ecologically balanced environment and becomes mister the duty of preservation and legal protection of water resources, as indispensable to the preservation of one of the greatest assets guarded legally, that is, life.

Keywords: Sustainable development. environmental law. Environmental Protection. Water resources.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 09

1 O DIREITO AMBIENTAL E A PROTEÇÃO JURÍDICA DOS RECURSOS HÍDRICOS ... 11

1.1 Evolução histórica do direito ambiental ... 11

1.2 O direito ambiental na Constituição Federal Brasileira de 1988 ... 15

1.3 Os princípios basilares do direito ambiental ... 17

1.4 A educação ambiental ... 21

2 PROTECIONISMO AMBIENTAL E OS RECURSOS HIDRICOS ... 25

2.1 A problemática da escassez dos recursos hídricos no contexto hodierno ... 25

2.2 O papel do Ministério Público na consolidação da proteção ambiental ... 29

2.3 A importância da mata ciliar para a salvaguarda hídrica... 31

2.4 Os instrumentos judiciais e extrajudiciais de defesa e proteção dos recursos hídricos ... 33

CONCLUSÃO ... 40

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INTRODUÇÃO

O trabalho em apreço apresenta um estudo acerca de noções preliminares sobre o direito ambiental, contemplando sua evolução histórica. Posteriormente, tomam-se acepções relativas à proteção ambiental, bem como ao desenvolvimento sustentável a fim de efetuar a contextualização da proteção hídrica. Essa busca de informações é estritamente necessária face à crescente crise de água que assola diversos países, dentre eles, o Brasil. Acentuam-se importantes passagens legislativas e mecanismos de prestação jurisdicional atual do Estado com fins de proteger o meio ambiente e, intrinsicamente, a água.

Assinala-se que objetivou-se, ao longo da explanação, investigar questões relacionadas com a grande problemática ambiental vigente, qual seja, a escassez de recursos hídricos, bem como os instrumentos judiciais e extrajudiciais de defesa e proteção destes.

Para a realização do presente estudo efetuaram-se pesquisas do tipo exploratória, concretizadas a partir do método de abordagem hipotético-dedutivo, valendo-se de consultas bibliográficas e documentos afins à temática, consultas a legislações vigentes, pesquisas por meio eletrônico, bem como reflexão crítica sobre o material selecionado, com o intento de enriquecer as informações declaradas e permitir determinado aprofundamento no estudo proposto, revelando a necessidade de serem discutidas questões de ordem ambiental.

Inicialmente, no primeiro capítulo, realizou-se uma percuciente abordagem histórica do direito ambiental, ou seja, sua evolução, inclusive, legislativa. Em momento posterior, falou-se das concepções ambientais previstas na Constituição Federal de 1988, abordaram-se, também, acepções de desenvolvimento sustentável no atual contexto, bem como os mais

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citados princípios doutrinários ambientais e, por fim, mencionam-se premissas referentes à educação ambiental e sua aplicabilidade.

No segundo capítulo foram explorados assuntos relativos ao protecionismo ambiental e recursos hídricos. Fora investigada a problemática da escassez hídrica no contexto hodierno, trazendo, oportunamente, passagens literárias no que concerne a discussão estritamente teórica. Abordou-se, em um segundo momento, o papel do Ministério Público para com a consolidação da proteção ambiental, trazendo à baila sua legitimidade e os instrumentos de que dispõe no sentido de concretizar a prevenção e repressão aos danos ambientais causados pelas pessoas físicas e jurídicas. Referiu-se, em outro tópico, explanações sobre a importância da mata ciliar para a salvaguarda hídrica, tema de real aplicabilidade e concretização, inclusive, com previsão legislativa. Com necessário destaque, enfatizou-se os principais e mais utilizados instrumentos judiciais e extrajudiciais de proteção aos recursos hídricos, com menção à suas legitimidades ativas e consideráveis referências bibliográficas e legislativas.

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1 O DIREITO AMBIENTAL E A PROTEÇÃO JURÍDICA DOS RECURSOS HÍDRICOS

A água, historicamente, foi caracterizada como sendo um recurso natural, renovável e ilimitado. Em nível mundial, os debates acerca de sua escassez iniciaram-se, com maior vigor, a partir da Conferência de Estocolmo, em 1972, na qual se realizou a “Declaração do Meio Ambiente”, asseverando, portanto, a real necessidade de unificar o desenvolvimento econômico com a proteção ambiental.

No Brasil, após os recursos hídricos serem considerados pela Constituição Federal de 1988 como um bem comum a todos e intrínseco aos direitos difusos e coletivos, vislumbrou-se, pois, a necessidade de protegê-lo juridicamente com maior eficácia, uma vez que se trata de recurso finito e indispensável a toda e qualquer forma de vida.

Desta forma, depreende-se que é imperioso um país proteger juridicamente sua hidrografia, uma vez que, como dito alhures, são recursos finitos, portanto, merecedores de cautela e preservação, a fim de almejar qualidade de vida para as atuais e futuras gerações.

Feitas essas primeiras colocações, esclarece-se que o presente capítulo tem o intuito de analisar o tema historicamente, ou seja, a evolução histórica do direito ambiental, bem como a proteção jurídica dos recursos hídricos, contextualizando-a no atual ordenamento jurídico pátrio, mormente na Constituição Federal de 1988, para fins de possibilitar posterior averiguação de sua eficácia e correlacioná-la com a acepção de desenvolvimento sustentável, objeto do estudo em tela.

1.1 Evolução histórica do direito ambiental

As discussões acerca de problemáticas ambientais ligadas à escassez dos recursos naturais, dentre eles, os recursos hídricos, como mostra Maria Luiza Machado Granziera (2009), tomam robustez, em nível mundial, a partir da Conferência das Nações Unidas sobre o Homem e o Meio Ambiente, ocorrida na capital da Suécia, Estocolmo, em 1972, contando com a presença de representantes de cento e treze países, e mais de quatrocentas instituições governamentais e não governamentais.

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Infere-se que se vislumbrou, pois, a necessidade de abordagem de questões alusivas ao desenvolvimento e ao meio ambiente, em especial, aos impactos ambientais causados pelos modelos capitalistas vigentes posteriores à Revolução Industrial, sucedida no século XVIII.

Nesse sentido, é o relato de Alexandre Kiss (2004, p. 02):

A preservação do meio ambiente está obrigatoriamente focada no futuro. Uma decisão consciente para evitar o esgotamento dos recursos naturais globais, em vez de nos beneficiarmos o máximo das possibilidades que nos são dadas hoje, envolve necessariamente pensar o futuro.

Assim, denota-se que “pensar o futuro”, em senda ambiental, adquire espaço ao longo de debates, travados intensamente no atual contexto social, eis que surge a necessidade de refletirem-se questões relativas à preservação do meio ambiente, como uma medida prévia de conscientização.

Nas palavras de Aurélio Virgílio Veiga Rios (2005, p. 91):

O primeiro documento internacional que faz referência a um direito intergeracional foi a Declaração de Estocolmo de 1972, que apregoava, em seu princípio inaugural, que “o homem tem a solene responsabilidade de proteger e melhorar o meio ambiente para a atual e as futuras gerações”.

A Conferência de Estocolmo-72, assim nominada, teve seu marco embasado na proposta de estagnação total da economia mundial, visando, nesse sentido, repelir a ocorrência de tragédias ambientais de grande porte. Certamente, os países subdesenvolvidos não foram agradados com a referida propositura, uma vez que defendiam o desenvolvimento econômico a qualquer custo.

Em nível nacional, segundo Granziera (2009), a interpelação de temas ambientais se intensifica quando da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), denominada Rio-92, realizada em junho de 1992, no Rio de Janeiro, sob os auspícios da ONU, a qual deflagrou o alerta, pois mostrou ao mundo os efeitos do desenvolvimento e da industrialização sem um planejamento e uma cautela especial na preservação dos recursos naturais.

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Infere-se, pois, que os assuntos pautados na referida Conferência, direcionavam-se à conciliação entre o desenvolvimento socioeconômico com a utilização dos recursos da natureza.

Noutro ponto, atenta-se para o fato de que a preocupação com o meio ambiente, de certa forma, não é recente, a propósito, o próprio texto bíblico já abordava questões ambientais, contudo, recente e jovem é a maneira e afluência como tais matérias passam a ser discutidas.

Nesse diapasão, assinala José Rubens Morato Leite (2000, p. 13):

É inegável que atualmente estamos vivendo uma intensa crise ambiental, proveniente de uma sociedade de risco, deflagrada, principalmente, a partir da constatação de que as condições tecnológicas, industriais e formas de organização e gestões econômicas da sociedade estão em conflito com a qualidade de vida. Parece que esta falta de controle da qualidade de vida tem muito a ver com a racionalidade do desenvolvimento econômico do Estado, que marginalizou a proteção do meio ambiente.

Em pertinência à legislação ambiental brasileira, é indubitável que suas raízes estão atreladas ao quadro legislativo português, ao passo de que quando do descobrimento, encontravam-se em vigência as Ordenações Afonsinas, redigidas em 1446, as quais possuíam grande preocupação com a escassez alimentícia, depredação dos animais e corte de árvores frutíferas.

A autora que analisou com notória percuciência toda a legislação ambiental a partir do século XVI foi Ann Helen Wainer (1993), em suas concepções, as Ordenações Manuelinas e Filipinas demonstravam determinadas preocupações ambientais relativas, principalmente, à caça, construção de poços, incentivo ao plantio de árvores em terrenos baldios, continuidade da tipificação criminal para o corte de árvores frutíferas, proteção aos olivais e pomares, bem como proibição de poluições que pudessem matar peixes ou sujarem as águas dos rios e lagos.

De acordo com Wainer (1993),no Brasil, constata-se que a primeira lei protecionista ambiental foi editada em 1605, caracterizada como “Regimento sobre o pau-brasil”, penalizando, portanto, os indivíduos que cortassem a referida madeira sem prévia

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autorização da Corte Real. Já em 1773, D. Maria I, em uma carta-régia direcionada ao Vice-Rei do Brasil, passa a ordenar sejam protegidas e fiscalizadas as matas e os arvoredos localizados próximos aos rios e mares, principalmente aquelas detentoras do pau-brasil.

De certa forma, embora o escopo português fosse proteger a fonte econômica advinda das madeiras, necessário reconhecer que a legislação elaborada era, à época, avançada, mencionando-se imperiosa a autorização da Corte Portuguesa para realizar intervenções no meio natural, em especial, à derrubada de árvores.

Neste âmbito, leciona Wainer (1993, p. 206):

[...] verificou-se que em determinadas épocas existiam dispositivos ambientais muito avançados. Contudo, esses ordenamentos eram ineficazes, pois a população não tinha um sentimento de amor e valorização da coisa pública nacional. A história nos mostra que há vários séculos já havia a noção do bem público de uso comum do povo. No entanto, o individualismo e a ganância de certos segmentos da sociedade se sobrepuseram ao interesse coletivo.

Ainda acerca da evolução legislativa, atesta Érgio Buarque de Holanda (1985), também citado por Wainer (1993, p. 200), que os holandeses, no lapso temporal de conquista das terras nordestinas, também editaram leis abundantes em matéria ambiental, proibindo o corte do cajueiro, inserindo a cautela com a caça, bem como proibindo o lançamento do bagaço de cana-de-açúcar nos açudes e rios, com o intuito de inibir a poluição das águas e preservar os peixes.

Após a independência brasileira, foi outorgada, em 1824, a Constituição Imperial do Brasil, todavia, se manteve omissa em matéria ambiental.

Assim, a legislação ambiental pós-independência começou a elencar traços através do Código Civil de 1916 e Código de Águas de 1934, tendo este último atribuído ilicitude à conduta de envenenamento de água potável.

Nesse sentido, é outra lição de Wainer (1993, p. 204):

Sendo a norma jurídica o reflexo das aspirações e dos ideais de uma sociedade, foi certamente com a Proclamação da República que, lentamente,

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o sentido de valorização do bem público se exacerbou. Quando repensamos um modelo econômico ligado à valores e propostas de preservação do meio ambiente nacional, estamos, com toda certeza, protegidos por uma das legislações mais avançadas do mundo.

Em retomada a abordagem ambiental no contexto contemporâneo, observa-se que com significativa menção relativa aos recursos naturais, dentre as constituições, destaca-se a atual Constituição Federal, promulgada em 1988, a qual realçou, essencialmente em seu artigo 225, o direito fundamental a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, o que será objeto de estudo em item posterior.

1.2 O direito ambiental na Constituição Federal Brasileira de 1988

Em pertinência à Constituição Federal Brasileira de 1988, constata-se a tutela do direito ambiental como inovação na ordem jurídica das Cartas Magnas até então elaboradas, uma vez que seu artigo 225 entabulou o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, colocando-o, destacadamente, em capítulo próprio e relativo à ordem social.

Foi nesta Constituição que a expressão meio ambiente de fato apareceu, objetivando aliar a preservação ecológica à qualidade de vida do cidadão, caracteres esses que se fundem em um direito superior, qual seja, o direito à vida.

Nesse âmbito, cita-se o caput da referida norma:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preimpondo-servá-lo para as presentes e futuras gerações. (BRASIL, 1988).

Note-se que a expressão meio ambiente ecologicamente equilibrado, citada pelo referido artigo, pode, sem delongas, ser interpretada como compatibilização do binômio desenvolvimento versus meio ambiente, concepção essa, que se aproxima do conceito atribuído ao desenvolvimento sustentável.

Certamente, equilibrar os ecossistemas não significa torná-los imutáveis, entretanto, significa a mutabilidade consciente e de forma proporcional.

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Hodiernamente, o direito ao meio ambiente não se caracteriza como fundamental, ou seja, não se encontra elencado no artigo 5º da Constituição Federal de 1988 - embora essa inserção já tenha sido pauta de discussão no Congresso Nacional -, tem-se que este poderia, de certa forma, ser considerado como direito fundamental, uma vez que a vida não perpetuará, ou ao menos prevalecerá de maneira precária, frente a erradicação dos recursos naturais.

Imperioso enfatizar, por conseguinte, que a tutela ao direito mencionado é caracterizada como típica de terceira geração, eis que se trata de direito coletivo e difuso que não pode ser individualizado, notadamente porque, como assevera o texto constitucional, impõe-se ao poder público e a coletividade defender o meio ambiente e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Nesta senda, mister destacar as acepções de José Afonso da Silva (2000, p. 28):

O problema da tutela jurídica do meio ambiente manifesta-se a partir do momento em que sua degradação passa a ameaçar não só o bem-estar, mas a qualidade da vida humana, se não a própria sobrevivência do ser humano [...] O que é importante é que se tenha consciência de que o direito à vida, como matriz de todos os direitos fundamentais do homem, é que há de orientar todas as formas de atuação no campo de tutela do meio ambiente. Cumpre compreender que ele é um fator preponderante, que há de estar acima de quaisquer outras considerações como as de desenvolvimento, como as de respeito ao direito de propriedade e como as de iniciativa privada.

Sob este prisma, verifica-se, no entanto, que a tutela jurídica do meio ambiente é direito dos povos, possuindo como destinatários uma coletividade ou um Estado, consequentemente, a afronta aos recursos naturais passa a ser uma afronta contra a humanidade, contra a vida biológica em si.

Doutra banda, em análise à concepção de desenvolvimento sustentável, elencado nuclearmente, de forma subjetiva, pelo contexto da Constituição Federal de 1988, infere-se que esta engloba questões de ordem ideológica, a serem pautadas através de legislações específicas, inclusive, no âmbito jurídico-penal.

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A divisão da responsabilidade em cuidar do meio ambiente entre o Poder Público e a coletividade impõe-se especialmente neste momento tão importante da consciência ecológica internacional. A atuação do Poder Público pode exteriorizar-se por meio de seus órgãos sob os ditames da lei, mas a coletividade não existe em si mesma senão nas pessoas e organizações que a compõem.

Assim, os preceitos ambientais constitucionais exigem, para sua concretização, que normas infraconstituicionais estabeleçam regras e penalizem condutas, bem como incitem o Poder Público a criar mecanismos essenciais à preservação ambiental, através de programas governamentais de atuação ou, até mesmo, de conscientização da coletividade, uma vez que o discernimento, responsabilidade e colaboração desta última, são figuras fundamentais para a consolidação da preservação dos recursos naturais.

1.3 Os princípios basilares do direito ambiental

Em análise aos princípios matrizes do direito ambiental, necessário aclarar, por oportuno, sua caracterização geral.

Para Ricardo Luis Lorenzetti (1998, p. 316) Princípio é a base, o alicerce, o início de alguma coisa. É a regra fundamental de uma ciência. Há quem entenda que o princípio é fonte normativa.

Em caracterização específica, Paulo de Bessa Antunes (2004, p. 31) esclarece que:

Os princípios do Direito Ambiental estão voltados para a finalidade básica de proteger a vida, em qualquer forma que esta se apresente, e garantir um padrão de existência digno para os seres humanos desta e das futuras gerações, bem como de conciliar os dois elementos anteriores com o desenvolvimento econômico ambientalmente sustentado.

Dessa feita, denota-se a real importância atribuída aos princípios no ordenamento jurídico, uma vez que estes direcionam determinada razão a um argumento, norteiam a aplicação no mundo dos fatos, visando, ainda, suprir possíveis lacunas legislativas existentes.

Ressalta-se que no direito ambiental, assim como nas demais disciplinas jurídicas, elencam-se uma série de princípios basilares, os quais estabelecem parâmetros com os preceitos constitucionais e, como dito alhures, baseiam-se em conteúdos intrínsecos às

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declarações e tratados internacionais. Diante disso, mencionam-se aqueles pertinentes à matéria ambiental e usualmente enfatizados pela doutrina.

O primeiro a ser abordado, quiçá o mais importante, é o princípio do direito humano, o qual possui fundamentos legais pátrios centrados nos artigos 5º e 6º da Constituição Federal de 1988, bem como no artigo 2º da Lei n. 6.938/81.

Para Sirvinskas (2015, p. 143), o princípio do direito humano decorre do primeiro princípio da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, aprovado em Congresso realizado no Rio de Janeiro em 1992, onde se reza que os seres humanos estão no centro das preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com o meio ambiente.

Necessariamente, verifica-se que tal princípio possui viés constitucional, assim como fulcro em documentos internacionais.

O segundo, por sua vez, trata-se do valoroso princípio do desenvolvimento sustentável, expressão última que surgiu em meados de 1987, tomando relevo no Relatório de Brundtland1 – documento da ONU – e tornando-se, posteriormente, matéria principiológica, estabelecendo, portanto, a conciliação da proteção do meio ambiente com o desenvolvimento socioeconômico, almejando, em suma, a melhoria da qualidade de vida do homem, com observância à gestão racional dos recursos naturais.

Na visão de Édis Milaré (2004, p. 150), o Princípio do Desenvolvimento Sustentável visa a harmonizar a durabilidade do modelo de desenvolvimento adotado com a preservação dos recursos naturais e da qualidade do meio ambiente. Visa a garantir o progresso, sem prejudicar o acesso das futuras gerações aos recursos naturais. Abrange ainda questões pertinentes à coibição de agressões ao meio ambiente e à erradicação da pobreza no mundo.

É, portanto, a partir desde princípio que se discutem os modelos de desenvolvimento sustentável, com embasamentos legais pátrios contidos nos artigos 170, inciso VI, e 225, da

1 Relatório de Brundtland é o documento intitulado “Nosso Futuro Comum” (Our Common Future), publicado

em 1987. Neste documento o desenvolvimento sustentável é concebido como: o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades.

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Constituição Federal de 1988, matéria a ser abordada ao longo da explanação do segundo capítulo.

Noutro ponto, elenca-se o princípio democrático ou da participação, o qual está enraizado, essencialmente, na Declaração do Rio/92, possuindo fulcro em dois aspectos relevantes, sendo a informação e a conscientização ambiental.

Nesse sentido, em primeira análise, extrai-se que se o cidadão não for possuidor de uma mínima consciência ambiental, de nada lhe será válida a informação.

Para Antunes (1999, p. 26), o princípio democrático assegura ao cidadão a possibilidade de participar das políticas públicas ambientais. Essa participação poderá dar-se em três esferas: legislativa, administrativa e processual.

Denota-se, assim, que a participação legislativa dar-se-á mediante instituição do plebiscito ou referendo ambiental, a processual dar-se-á mediante participação nas ações judicias e, por fim, a administrativa se concretizará através da participação na formação das decisões administrativas, bem como nos recursos e julgamentos.

Dito isso, passa-se à análise do princípio da prevenção, o qual abrange o agir de forma antecipada, significando, pois, a atitude preventiva de cuidado frente ao meio ambiente, no intuito de evitar possíveis danos.

Encontra-se embasado no princípio quinze da Conferência do Rio/92, bem como no artigo 1º da Lei n. 11.105/2005, a qual trata da biossegurança.

Posteriormente, em referência ao princípio do equilíbrio, tem-se que este, como o próprio nome já refere, resulta da ponderação dos benefícios e dos impactos ambientais provenientes da intervenção ao meio ambiente, a ponto de questionarem-se todas as consequências possíveis e previsíveis.

Ainda, ao discorrer sobre o tema, elenca Antunes (1999, p. 30), que é o princípio pelo qual devem ser pesadas todas as implicações de uma intervenção no meio ambiente, buscando-se adotar a solução que melhor concilie um resultado globalmente positivo.

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Em observância a tais assertivas, pode-se afirmar que tal princípio está atrelado, principalmente, ao licenciamento ambiental, bem como aos estudos de impactos ambientais.

Noutro ponto, elenca-se o princípio do poluidor-pagador, ressaltando que este possui seu alicerce no décimo terceiro princípio da Conferência do Rio/92. Infere-se de tal nomenclatura, que o ônus econômico da poluição recairá sobre o poluidor, em responsabilidade objetiva, quando identificável, de modo a reduzir os custos de danos que recaem sobre o poder público, ou seja, sobre a sociedade em si.

Nas acepções da autora Cristiane Derani (2001, p. 206), o proprietário de um bem natural só participará para a sua conservação, à medida que os custos para evitar o dano ambiental fiquem abaixo do custo de reparação do dano. Acima desse limite, perde-se o interesse por uma redução da poluição.

Quanto ao embasamento legal pátrio do princípio do poluidor-pagador, citam-se os artigos 225 §§ 2° e 3° da Constituição Federal de 1988, bem como os artigos 4º e 14, § 1°, da Lei n. 6.938/81 e artigos 27 e 28 da Lei n. 9.605/98.

No que tange ao princípio da proibição do retrocesso, podemos tomá-lo como uma imposição de higidez à legislação ambiental até então declarada, de forma a impedir que novas legislações ou atos normativos retrocedam no aspecto de proteção dos recursos naturais.

Por fim, destaca-se o princípio da responsabilidade socioambiental, sendo que, consoante pronunciamento do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (World Business Council for Sustainable Development - WBCSD), primeiro organismo internacional puramente empresarial com ações voltadas à sustentabilidade, define Responsabilidade socioambiental como o compromisso permanente dos empresários de adotar um comportamento ético e contribuir para o desenvolvimento econômico, melhorando, simultaneamente, a qualidade de vida de seus empregados e de suas famílias, da comunidade local e da sociedade como um todo.

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Dessa forma, tal princípio, no contexto atual, tem sua aderência atrelada à política ecologicamente correta, adotada especialmente por empresas, instituições financeiras, órgãos governamentais e não-governamentais e, ainda, por instituições de ensino, visando promover a educação ambiental, bem como aderir a atos de preservação ou menor impacto ambiental quando de suas atividades econômicas.

Dessa feita, em sede de finalização da abordagem, denota-se que a questão principiológica é, sem dúvidas, abundante e reflexiva em matéria ambiental, ao passo de que novas declarações e tratados internacionais surgem, modificam-se ou acrescentam-se princípios à doutrina.

1.4 A educação ambiental

Há quem diga que a temática é utópica, ou, então, filosófica em demasia. De outro modo, acredita-se que a educação ambiental, se aplicada de forma correta, pode sim, surtir consideráveis efeitos. É, indubitavelmente, um mecanismo de relevância.

Em pertinência a expressão educação ambiental, tem-se que seu surgimento está atrelado à Conferência de Estocolmo, realizada em 1972, em Estocolmo, na Suécia.

Certamente, foi nesta época, como dito alhures, que os debates ambientais se intensificaram, tomando cena, em especial, assuntos relativos à degradação ambiental e uso indiscriminado dos recursos não renováveis.

Nesta senda reflexiva, mister destacar as acepções de Edson Ferreira de Carvalho (2005, p. 446):

A Carta Mundial da Natureza, proclamada pela Assembléia Geral da ONU, reconhece, em seu Preâmbulo, a consciência de que a espécie humana é parte da Natureza e a Vida depende do funcionamento ininterrupto dos sistemas naturais que são fonte de energia e de matérias nutritivas. Reconhece, também, que a civilização tem suas raízes na Natureza, que moldou a cultura humana e influenciou todas as obras artísticas e científicas e que a Vida, em harmonia com a Natureza, oferece ao Homem possibilidades ótimas para desenvolver sua capacidade criativa, descansar e ocupar seu tempo livre.

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Neste diapasão, infere-se que o maior interessado na preservação da natureza é o ser humano, dotado de racionalidade e, capaz de usar da mesma inteligência direcionada ao uso devastador dos recursos ambientais e do alto crescimento econômico, para que seja aplicada de forma a beneficiar o meio ambiente através do cuidado, da proteção, do uso consciente.

Como bem relata Marcos Reigota (1994, p. 10), “[...] uma resolução importante da Conferência de Estocolmo foi a de que se deve educar o cidadão para a solução dos problemas ambientais.”

É certo que, atualmente, as referências e notícias relacionadas ao meio ambiente são de ordem problemática, ao passo de que as respostas advindas do próprio meio natural são alarmantes, contudo, parece o ser humano não conseguir processar tais informações, eis que continua, de igual forma, sua conduta agressiva e indiscriminada.

A mencionada educação ambiental poderia ser cogitada como uma estratégia contributiva para a conscientização, a fim de possibilitar que o homem reflita sua conduta e perceba a necessidade de preservação dos recursos naturais como um dever de toda a coletividade, não apenas lance tais responsabilidades às expensas do Estado, pois, obviamente, este é formado pelo coletivo e, portanto, a incumbência de agir é inerente a todos.

Nesse sentido, é a abordagem de Sirvinskas (2015, p. 88), sobre o analfabetismo ambiental:

O cidadão não conhece a ciclo da vida e dos recursos ambientais. Muitas pessoas têm nível superior e até pós-doutorado, mas não possuem a mínima noção do que se passa à sua volta.

Denota-se que educar é ensinar, conscientizar. É indubitável que o homem, em princípio, precisa ter elucidada a sua relação com a Terra, com o meio ambiente em si.

Destaca-se que a preservação dos recursos naturais passou a ser preocupação mundial, não tão-somente devido às ameaças e catástrofes da natureza a que estamos expostos, mas também, pela necessidade de pensarmos nas gerações futuras.

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Desta forma, a idealização de certa alfabetização ambiental é de extrema importância, haja vista que determinadas questões merecem serem aclaradas, as ignorâncias ambientais existentes precisam ser extintas, pois, o ser humano necessita ter a mínima noção da dimensão dos atos agressivos causados à natureza, bem como ser conscientizado a respeito de suas reponsabilidades socioambientais.

Para Paulo Freire (1997, p. 27), constatar a realidade nos torna capazes de intervir nela, tarefa incomparavelmente mais complexa e geradora de novos saberes do que simplesmente a de nos adaptarmos a ela.

Destarte, tem-se que a educação ambiental não deve atentar-se tão-somente à aquisição de conhecimento, mas sim, torna-se fundamental que possua o escopo de mudar comportamentos através de processos de obtenção de novas informações, conceitos, e valores, relativamente atrelados às necessidades da realidade atual.

A proteção ambiental, obviamente, deixou de ser atuação correlacionada a grupos radicais ambientalistas, hodiernamente, é um dever de todos. Assim, infere-se que a educação ambiental assume posição de proeminência frente ao desenvolvimento de conscientizações que buscam sanar ou reconhecer as problemáticas existentes e pré existentes, para posterior a isto fomentar possíveis práticas e decisões no intuito de melhorar o meio sócio ambiental, visando a adoção de pequenos e grandes atos de preservação, em esfera local ou regional, os quais certamente fazem a diferença.

Em sede legislativa nacional, constata-se a inserção da Política Nacional de Educação Ambiental - PNEA, elencada subjetivamente pelo artigo 225, §1°, VI, da Constituição Federal de 1988, e regulada, portanto, pela Lei n. 9.795/1999, a qual versa sobre a educação ambiental e instaura incumbências ao Poder Público para a concretização desta.

Assim, é o teor do artigo 1º da referida lei:

Art. 1º Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade. (BRASIL, 1999).

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Ainda, em sede legislativa, o artigo 3° da lei também merece destaque:

Art. 3° Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito à educação ambiental, incumbindo:

I - ao Poder Público, nos termos dos arts. 205 e 225 da Constituição Federal, definir políticas públicas que incorporem a dimensão ambiental, promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e o engajamento da sociedade na conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente; II - às instituições educativas, promover a educação ambiental de maneira integrada aos programas educacionais que desenvolvem;

III - aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente - Sisnama, promover ações de educação ambiental integradas aos programas de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente;

IV - aos meios de comunicação de massa, colaborar de maneira ativa e permanente na disseminação de informações e práticas educativas sobre meio ambiente e incorporar a dimensão ambiental em sua programação; V - às empresas, entidades de classe, instituições públicas e privadas, promover programas destinados à capacitação dos trabalhadores, visando à melhoria e ao controle efetivo sobre o ambiente de trabalho, bem como sobre as repercussões do processo produtivo no meio ambiente;

VI - à sociedade como um todo, manter atenção permanente à formação de valores, atitudes e habilidades que propiciem a atuação individual e coletiva voltada para a prevenção, a identificação e a solução de problemas ambientais. (BRASIL, 1999).

Diante do exposto, denota-se ser incumbência do Poder Público o processo educativo ambiental, de forma continuada e articulada, no que compete a sua esfera de atuação, através de mecanismos que o possibilitem. Em outra órbita, tem-se que é dever de todos os cidadãos perpetuarem a educação ambiental, com o escopo de contribuir para o bem comum social, pois, nunca é tarde para educar e aprender.

Dessa feita, analisados os primeiros caracteres do direito ambiental, em especial, seu contexto histórico, bem como trazido à baila questões pertinentes à educação ambiental, analisar-se-á, em um segundo momento, as particularidades dos recursos hídricos e, ainda, a proteção jurídica destes últimos, assuntos esses, intercalados à construção do raciocínio temático.

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2 PROTECIONISMO AMBIENTAL E OS RECURSOS HIDRICOS

No tocante à abordagem relativa aos recursos hídricos, vale realçar que trata-se de temática reiteradamente debatida, quiçá, um dos assuntos elencados como principais quando menciona-se o Direito Ambiental, a proteção ambiental e, suas peculiaridades.

Nesta esteira, percebe-se que o protecionismo ambiental visa um meio ambiente equilibrado como necessário à propagação da vida humana com qualidade e dignidade, vertendo, assim, normas por todo o ordenamento jurídico pátrio ou internacional, as quais, por vezes, não se concretizam a ponto de representar soluções mais objetivas ao Direito Ambiental e a seu campo de atuação.

Desta forma, analisar-se-ão algumas das particularidades concernentes aos mecanismos de proteção ao meio ambiente e aos recursos hídricos, bem como a polêmica escassez destes últimos.

2.1 A problemática da escassez dos recursos hídricos no contexto hodierno

A temática hídrica, já mencionada em momentos antecedentes, nos remete ao raciocínio de que as diversas formas de atividades humanas, desde as mais pacatas - inerentes à sobrevivência - até as mais complexas, ou seja, aquelas desenvolvidas pelo setor econômico atingem, reiteradamente e agressivamente, o ambiente natural em que vivemos.

Como consequência dos atos perpetrados pelo ser humano em detrimento da natureza, indubitavelmente, alguns impactos ambientais advém em forma de reação. Grande percentual dessas reações estão conectadas à escassez do setor hídrico, seja em esfera nacional ou mundial.

Á título numerário sobre a água cita-se o pronunciamento do autor Sirvinskas (2015, p. 399):

A água é um dos recursos naturais mais importantes para a sobrevivência do homem na Terra e a pressão sobre ela está cada vez mais intensa. Como sabemos, a água é essencial a toda espécie de vida do planeta e ela se apresenta na sua forma líquida (salgada e doce), sólida (doce) e de vapor

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(doce). [...] 97,5% da água é salgada e 2,5% água doce. Desta, 68,9% encontram-se nas calotas polares e geleiras, 29,9% no subsolo e 0,3% nos rios e lagos e 0,9% em outros reservatórios. [...] Somente 90 milhões de quilômetros cúbicos (doce) encontram-se prontos para beber, mas nem todo esse estoque está disponível na natureza, e só podemos utilizar os recursos renováveis pelas chuvas, reduzindo-se para 34 milhões de quilômetros cúbicos anuais, correspondendo a 0,002% das águas do planeta.

Ainda, nas concepções de Sirvinskas (2015, p. 399), o aumento do consumo de água duplicará nos próximos trinta e cinco anos, chegando ao limite da disponibilidade. Atualmente, perto de 70% da água do mundo é utilizada na agricultura, 20% nas indústrias e 10% no abastecimento doméstico. Já no Brasil, 54% destinam-se à agricultura, 17% às indústrias e 23% ao abastecimento doméstico.

Assim, ao passo de que a crise de escassez hídrica toma robustez no cenário mundial, começa-se a ressuscitar temores alusivos a novos conflitos ou guerras civis, os quais estariam, certamente, revestidos de interesses na disputa pela água.

Como bem afirma Boaventura de Sousa Santos (2001, p. 24), embora a crise de água não atinja apenas os países pobres, são eles os que mais sofrerão com a falta desse recurso, na medida em que algumas alternativas para a minimização do problema, como a dessalinização das águas dos mares e oceanos, não são economicamente viáveis aos países de Terceiro Mundo.

O autor, ao demostrar preocupação com a crise hídrica, enfatizou que os países mais pobres sofrerão ainda mais com a ausência de tal recurso, o que já se pode depreender da atual situação em que vivem os países Africanos e do Oriente Médio, os quais geograficamente se encontram desprovidos do bem e, além disso, não possuem condições econômicas para amenizar esse desprovimento.

Em enredo fático histórico, relata Sérgio Buarque de Holanda (1995, p. 49) que, com relação especificamente ao Brasil, a própria história de nossa colonização é uma história de degradação. A implantação de um sistema de latifúndios agrários, baseado na monocultura e no trabalho escravo, com a utilização de técnicas arcaicas e de terra farta para gastar e arruinar, foi o modelo adotado pelo colonizador, que levou, ainda na época do Brasil Colônia,

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à devastação de extensa área florestada, à contaminação dos cursos de água pelas águas servidas dos engenhos e à esterilização dos solos.

Dessa feita, ao analisarmos as concepções expressadas pelo autor, percebe-se, como já afirmado em momento oportuno, o histórico de degradação ambiental e, por conseguinte, hídrica do país.

Em passagens mais atuais acerca da situação das águas no Brasil, notícias midiáticas ligadas à escassez e monitoramento pluvial, à insegurança das barragens, aos reservatórios de água com medidas cúbicas ínfimas e abastecimentos controlados, mostram-se significativos em sua quantidade de propagação e intensidade de preocupação.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a avaliação dos recursos hídricos disponíveis, tanto nos mananciais de superfície quanto nos mananciais de subsuperfície, constitui-se numa preciosa informação para os diversos setores da sociedade, visto que a água representa um recurso fundamental, mormente para a Região Nordeste, face à irregularidade das precipitações pluviométricas e aos graves problemas sociais e econômicos decorrentes da estiagem.

Nesta senda, percebe-se que a região nordeste do Brasil é a que mais suporta irregularidades hídricas e, consequentemente, estiagens. Região passível de maior atenção, inclusive, pelos institutos nacionais de pesquisas e mapeamentos, a fim de apontar dados norteadores de soluções, como se observa do pronunciamento anterior.

Nas acepções de Viegas (2006, p. 91):

A crise da água assola a todos. Mesmo países ricos em água doce, como o Brasil, são atingidos pela escassez qualitativa. Ao lado disso, o ciclo hidrológico vem sofrendo alterações perceptíveis, de tal modo que, até em locais de tradicional abundancia, hoje é possível observar falta de água. Dentre as causas da crise estão a poluição ambiental, o efeito estufa, o desmatamento, o crescimento populacional e o desperdício. Suas consequências são a guerra pela água, a proliferação de doenças de veiculação hídrica e o aumento da mortalidade por esse motivo, o encarecimento da água e a limitação na produção de alimentos.

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Em pertinência as colocações citadas, depreende-se que a adversidade quanto ao abastecimento de água nas cidades, ocorre, especialmente, devido a questões intrínsecas ao crescimento da urbanização desacelerada e de sua inerente demanda, bem como ao desperdício no uso, dentre outros fatores. Já na zona rural, verifica-se a exploração hídrica realizada de forma irregular pelos agricultores, muitas vezes desproporcional e poluidora, além da depredação das vegetações correspondentes à proteção das bacias hidrográficas, qual seja, das matas ciliares.

Nesta esteira, em consonância com as anotações pertinentes ao primeiro capítulo, frisa-se que a água é recurso finito e renovável, suscetível, portanto, de gestão e conscientização na sua utilização.

Assim, no Brasil, diante da premissa de gerir e conscientizar a população quando da utilização dos recursos hídricos, editou-se a Lei n. 9.433 em 1997, a qual institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, concebendo, na oportunidade, o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, tema a ser abordado em momento posterior. Criou-se, ainda, a Lei n. 9.984, de 17 de julho de 2000, a qual dispõe sobre a criação da Agência Nacional de Águas - ANA, entidade federal de implementação da Política Nacional de Recursos Hídricos e de coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, e dá outras providências.

Em pronunciamento da Organização das Nações Unidas (ONU), tem-se que:

A Agenda 2030 entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 2016, após ser aprovada por todos os 193 Estados-membros das Nações Unidas, durante o início da 70ª sessão da Assembleia Geral, em setembro de 2015. Os ODS representam o mais abrangente – e ousado – esforço coletivo para melhorar a qualidade de vida e a resiliência das pessoas e do planeta Terra na história da humanidade. A Agenda 2030 é um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade, para ser implementado por todos os Estados-membros da ONU como um caminho para o desenvolvimento sustentável, melhorando a qualidade de vida das gerações atuais sem comprometer o direito das gerações futuras ao desenvolvimento.

No que tange a Agenda 2030, como bem explicitado pela ONU, trata-se de determinado plano de ação em caminho para o desenvolvimento sustentável, abrangendo, em sua órbita, elementos provedores do bem estar social em consonância com o desenvolvimento econômico, o que caracteriza, intrinsicamente, a proteção hídrica, ou seja, pactos e

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convenções de ordem internacional mostram-se deveras relevantes, uma vez que a problemática abrange o contexto mundial.

Ainda, mais uma vez ao lecionar sobre o assunto, Viegas (2006, p. 91) relata que diversas são as formas de enfrentamento do problema, e elas se ampliam na medida em que a ciência e a tecnologia evoluem, uma coisa, contudo, é certa: toda e qualquer intervenção humana que tenha reflexo nos recursos hídricos só pode ser efetivada se estiver em conformidade com o sobreprincípio do desenvolvimento sustentável.

Assim, portanto, constata-se que a problemática da escassez hídrica existente carece de maior atenção aos olhos do poder público e da população, eis que suas raízes estão atreladas estritamente ao comportamento humano para com o meio ambiente em que vive e realiza suas atividades, sejam elas de mera sobrevivência ou econômicas, logo, modificar o atual cenário significa modificar comportamentos e adequá-los à premissa de desenvolvimento sustentável.

2.2 O papel do Ministério Público na consolidação da proteção ambiental

No que se refere ao papel do Ministério Público na proteção ambiental, verifica-se tal instituição dispor de instrumentos judiciais e extrajudiciais a serem invocados para a consolidação desta.

Primeiramente, mister focalizar o conteúdo do artigo 127, da Constituição Federal de 1988, ao elencar as funções essenciais à justiça, rezando que:

O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. (BRASIL, 1988).

De igual contexto é o artigo 1º, da Lei n. 8.625 de 1993, ou seja, Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, a qual dispõe sobre normas gerais para a organização do órgão e dá outras providências.

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Do mesmo diploma legal extrai-se o artigo 25, ao dispor sobre as funções institucionais do Ministério Público, vejamos:

Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda, ao Ministério Público:

[...]

III - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; [...]

IV - promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei: a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, e a outros interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos;

b) para a anulação ou declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio público ou à moralidade administrativa do Estado ou de Município, de suas administrações indiretas ou fundacionais ou de entidades privadas de que participem;

V - manifestar-se nos processos em que sua presença seja obrigatória por lei e, ainda, sempre que cabível a intervenção, para assegurar o exercício de suas funções institucionais, não importando a fase ou grau de jurisdição em que se encontrem os processos;

VII - deliberar sobre a participação em organismos estatais de defesa do meio ambiente, neste compreendido o do trabalho, do consumidor, de política penal e penitenciária e outros afetos à sua área de atuação; [...] (BRASIL, 1993).

Verificadas as legitimidades do Parquet e suas competências para com a defesa do meio ambiente, em um segundo momento, tomam-se as colocações de Sirvinskas (2015, p. 947), ao referir que o Ministério Público poderá agir na tutela dos interesses individuais homogêneos desde que esteja presente interesse que atinja um número extenso de pessoas lesadas.

Dessa feita, podemos citar a titularidade do órgão para promover o Inquérito Civil Público, conforme prescreve o artigo 129, inciso III, da Constituição Federal de 1988 e artigo 8º, § 1º, da Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985, bem como propor a Ação Penal Pública, nos termos do artigo 25, inciso III, da Lei n. 8.625 de 1993.

A titularidade para firmar o Termo de Ajustamento de Conduta - TAC, o qual está previsto legalmente no artigo 5º, § 6º, da Lei n. 7.347 /85, bem como para propor a Ação Civil Pública, consoante artigo 5º, inciso I, da Lei n. 7.347 de 1985 e, com previsão na Constituição Federal de 1988, no artigo 129, inciso III.

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Neste diapasão, outra é a colocação de Sirvinskas (2015, p. 946) ao enfatizar que o Ministério Público tem legitimidade para defender o meio ambiente de maneira expressa e clara. Entende-se por meio ambiente o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (artigo 3º, da Lei n. 6.938 /81). Em outras palavras, meio ambiente é a interação do conjunto do elementos naturais, artificiais, culturais e do trabalho, ou seja, abrange a proteção de uma gama imensa de interesses difusos dentro de cada um dos elementos citados.

Destaca-se, de forma peculiar, a criação e organização, no Brasil, de Promotorias de Justiça Especializadas em Meio Ambiente, com o escopo de atuar nas demandas e temáticas ambientais que vierem a serem suscitadas.

Em sede conclusiva, constata-se a notória incumbência atribuída ao Ministério Público de preservar e zelar pelo patrimônio ambiental, utilizando-se de instrumentos legítimos, arraigados nas atitudes preventivas e repressivas alusivas aos casos em concreto.

2.3 A importância da mata ciliar para a salvaguarda hídrica

Primordialmente, mister referir o significado etimológico da expressão ¨mata ciliar¨ que, segundo a organização não governamental WWF-Brasil, são florestas, ou outros tipos de cobertura vegetal nativa, que ficam às margens de rios, igarapés, lagos, olhos d´água e represas. O nome “mata ciliar” vem do fato de serem tão importantes para a proteção de rios e lagos como são os cílios para nossos olhos.

Compreende-se que as matas ciliares são formações vegetais presentes no entorno dos cursos d´água, atuando, assim, na proteção destes últimos.

De acordo com o diploma legal estabelecido pela Lei n. 12.651 de 2012, denominado Código Florestal Brasileiro, verifica-se que este conta com especial ênfase nos recursos hídricos e nas matas ciliares ao abordar as áreas de preservação permanente (APPs) ao longo do artigo 61-A, uma vez que as citadas matas estão compreendidas em APPs.

Desta forma, apura-se do aludido artigo que os proprietários de terras que possuem corpos d’águas em seus domínios, têm o escopo de conservar a mata ciliar ao longo destes,

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sendo que a largura de APP e consequentemente de mata ciliar dependerá do módulo fiscal do imóvel, com medidas previamente estabelecidas por determinação legal.

Nesta senda, leciona José Gustavo de Oliveira Franco (2005, p. 106):

É cabível a propositura de ações cíveis públicas pleiteando a imposição ao proprietário de respeitar e recuperar as áreas de preservação permanente (APPs), existente em sua propriedade e que encontrem degrada por sua utilização irregular. Nos termos da Lei 7.347/85. Ação Civil Pública.

Verifica-se, nesse sentido, a aparição de medidas judiciais cabíveis quando do desrespeito as imposições legais de preservação das matas ciliares.

Nesse ponto, ao anotar-se a ideia de imprescindibilidade de preservação da mata ciliar, logo, paira sob o raciocínio, questões alusivas a sua degradação. Não raras vezes, toma-se a pretoma-servação, o cuidado, como argumentos inerentes tão-somente à estreita necessidade de uso daquilo que está sendo destruído, modificado ou prejudicado.

Conforme as declarações de Antônio Herman de Vasconcelos Benjamim et al (2007, p. 166), as matas ciliares desempenham importante papel na proteção das margens dos cursos d’água contra erosões e o assoreamento, garantindo desta forma a constância do volume d’água.

Em necessário destaque, infere-se, mais uma vez, a importância da vegetação em comento, entretanto, comumente, não há tomada de cautela ou aquisição de hábitos por simples conveniência à ideia de conservação do que é belo, do que traz benefícios, do que é essencial, mas sim, toma-se consciência ecológica, ou parte-se desta premissa, quando se constata, de forma avassaladora, a escassez de recursos hídricos, escassez esta que já acomete alguns Estados geograficamente menos privilegiados no território brasileiro e, por sinal, territórios mundiais.

Nesta mesma órbita, para o autor Senitiro Suguio (2003), os rios representam um dos mais importantes agentes geológicos e desempenham papel de grande relevância na modelagem do relevo, no condicionamento ambiental e na própria vida do ser humano.

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Assim, torna-se imperioso realçar elementos que contribuam para a preservação dos recursos hidrográficos, como é o caso das matas ciliares, haja vista o fundamental papel destas.

Com efeito, a degradação das matas ciliares causa prejuízos inenarráveis do ponto de vista ambiental e futurista, uma vez que preservar a referida vegetação significa preservar a água potável, e, consequentemente, a vida. As matas ciliares, por sua vez, são indispensáveis mecanismos de preservação da água potável e de suas peculiaridades, o que por si só, merece realce.

Cabe trazer à baila, o reiterado argumento de que a resolução ou amenização da problemática que envolve a degradação da mata ciliar merece engajamento e compromisso de todos os atores relevantes, incluindo governos, iniciativas privadas, instituições de pesquisa, e, é claro, a figura principal, o cidadão.

Infere-se, pois, necessária seja executada a preservação das matas ciliares existentes, bem como torna-se basilar a implantação de novos projetos de recuperação e reflorestamento ao entorno dos recursos hídricos existentes.

Em sede conclusiva, portanto, acentua-se que atitudes e conscientização do ser humano para com a proteção da mata ciliar merece presteza, atuação concreta em nome do individual e do coletivo, e ainda, em nome das gerações próximas, sob pena de um futuro sombrio e arraigado na míngua do líquido mais precioso: a água potável.

2.4 Os instrumentos judiciais e extrajudiciais de defesa e proteção dos recursos hídricos

No que se refere aos instrumentos judiciais e extrajudiciais de defesa e proteção dos recursos hídricos, pode-se destacar, ao longo da explanação, aqueles de maior relevância, abrangência e aplicabilidade, bem como passagens legislativas a respeito do tema.

Com primordial destaque, enfatiza-se a Constituição Federal de 1988, a qual preconiza em seu artigo 225, caput, que:

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Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preimpondo-servá-lo para as presentes e futuras gerações. (BRASIL, 1988).

Posteriormente, o § 3º do mesmo artigo dispõe que:

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sansões penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. (BRASIL, 1988).

A Carta Magna, ao destacar o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, refere-se intrinsicamente ao direito à água e abre direções para legislações infraconstitucionais versarem sobre a matéria, determinando, portanto, que tal competência legislativa será privativa da União, consoante dispõe o artigo 22, inciso IV, da mesma Carta.

Em consonância com a abordagem, Viegas (2006, p. 86), relata que após a Constituição Federal de 1988, a legislação brasileira sobre recursos hídricos avançou significativamente. A Lei das Águas - Lei Federal n. 9.433/97 – foi acompanhada de vários instrumentos normativos federais, estaduais e municipais. No início de 2006, publicou-se o Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH). Ao lado do arcabouço legal, surgiram fontes secundárias de relevo, como doutrina especializada, decisões jurisprudenciais, atos dos Comitês de Bacias, dos Conselhos de Recursos Hídricos, enfim, pode-se sustentar que um novo “direito de águas” esta sendo rapidamente construído nos últimos anos.

Assim, constata-se que começam a surgir novos e amplos horizontes legislativos direcionados à proteção hídrica, os quais tomam cenário com maior robustez após a Constituição Federal de 1988.

Desta forma, com necessária proeminência, corroboram as acepções de Granziera (2006, p. 02), a qual relata que nos corpos hídricos de domínio da União, cabe à Agência Nacional de Águas – ANA, entre outras atribuições, conceder as outorgas de direito de uso da água (Lei n. 9.984, de 17/7/2000, art. 4, IV). Aos órgãos estaduais compete emitir as outorgas no que se refere aos corpos hídricos de domínio estadual e das águas subterrâneas. Ocorre que é comum, em uma mesma bacia hidrográfica, encontrarem-se corpos hídricos de domínios diferentes, cabendo a diferentes órgãos ou entidades proceder ao respectivo controle. Todavia,

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sendo a bacia hidrográfica a unidade de planejamento e gerenciamento de recursos hídricos (Lei n. 9.433/ 97, art. 1o, V) e podendo ser formada por corpos hídricos de distintos domínios, devem os órgãos e entidades competentes atuar em harmonia.

A autora, como se depreende, relata as titularidades sobre outorgas de direito de uso da água, sendo que as entidades competentes que desempenham tais funções devem atuar harmonicamente para melhor atender as demandas.

Noutro diapasão, mister salientar o Código Florestal, Lei n. 12.651 de 2012 que, ao versar sobre a vegetação que constitui áreas de preservação permanente (APPs) ao longo de cursos d’água naturais, dispõe o seguinte:

Art. 61-A. Nas Áreas de Preservação Permanente, é autorizada, exclusivamente, a continuidade das atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo e de turismo rural em áreas rurais consolidadas até 22 de julho de 2008.

§ 1o Para os imóveis rurais com área de até 1 (um) módulo fiscal que

possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais em 5 (cinco) metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d´água.

§ 2o Para os imóveis rurais com área superior a 1 (um) módulo fiscal e de

até 2 (dois) módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais em 8 (oito) metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d´água.

§ 3º Para os imóveis rurais com área superior a 2 (dois) módulos fiscais e de até 4 (quatro) módulos fiscais que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais em 15 (quinze) metros, contados da borda da calha do leito regular, independentemente da largura do curso d’água

§ 4o Para os imóveis rurais com área superior a 4 (quatro) módulos fiscais

que possuam áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente ao longo de cursos d’água naturais, será obrigatória a recomposição das respectivas faixas marginais:

I - (VETADO); e

II - nos demais casos, conforme determinação do PRA, observado o mínimo de 20 (vinte) e o máximo de 100 (cem) metros, contados da borda da calha do leito regular.

§ 5o Nos casos de áreas rurais consolidadas em Áreas de Preservação

Permanente no entorno de nascentes e olhos d’água perenes, será admitida a manutenção de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo ou de turismo rural, sendo obrigatória a recomposição do raio mínimo de 15 (quinze) metros.

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§ 6o Para os imóveis rurais que possuam áreas consolidadas em Áreas de

Preservação Permanente no entorno de lagos e lagoas naturais, será admitida a manutenção de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo ou de turismo rural, sendo obrigatória a recomposição de faixa marginal com largura mínima de:

I - 5 (cinco) metros, para imóveis rurais com área de até 1 (um) módulo fiscal;

II - 8 (oito) metros, para imóveis rurais com área superior a 1 (um) módulo fiscal e de até 2 (dois) módulos fiscais

III - 15 (quinze) metros, para imóveis rurais com área superior a 2 (dois) módulos fiscais e de até 4 (quatro) módulos fiscais; e

IV - 30 (trinta) metros, para imóveis rurais com área superior a 4 (quatro) módulos fiscais [...]. (BRASIL, 2012).

O referido diploma legal tem a finalidade de proteger a vegetação que se encontra ao longo dos cursos d’água, com o papel, portanto, de proteção dos recursos hidrográficos, tese primeira que foi assunto em temática já proferida.

Ainda, necessário mencionar a Lei n. 9.605, de 12 de Fevereiro de 1998, a qual dispõe sobre sanções penais e administrativas correspondentes as condutas e atividades que causarem lesão ao meio ambiente; lei esta de grande abrangência e aplicabilidade no cenário ambiental.

No que tange aos instrumentos processuais, toma-se o comentário narrado por Antunes (2005, p. 02), o qual afirma que:

[...] A tutela judicial do meio ambiente, por meio dos diferentes instrumentos processuais postos à disposição do cidadão, de certa maneira, é uma forma de controle da atividade do Poder Executivo e do próprio Poder Legislativo, dependendo da situação concreta e do instrumento que esteja sendo aparelhado em cada caso. Além das funções políticas, o Poder Judiciário tem por finalidade dirimir conflitos entre partes privadas, com base no sistema legal e com vistas a evitar ameaças ou lesões de direitos [...].

Partindo-se da premissa exposta pelo autor, pode-se aferir que a tutela judicial do meio ambiente conta com diversos instrumentos processuais a serem utilizados quando se encontrarem lesionados ou na eminência de lesão direitos ambientais de ordem difusa, coletiva ou interesses individuais homogêneos.

Em relação aos recursos hídricos, como se pode denotar, o âmbito legislativo do assunto tem se mostrado cada vez mais denso e, no que tange especificamente aos

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instrumentos processuais a serem invocados judicialmente ou extrajudicialmente, podemos conceber os mais utilizados e importantes.

Desta forma, destaca-se o Inquérito Civil Público que, na interpretação de Ubiratan Cazetta (2005, p. 348) é, então, instrumento para apurar indícios que possam dar sustentação a uma ação civil pública, servindo como uma espécie de produção antecipada de provas, afim de que não ingresse o autor da ação civil pública em uma mera aventura provocada por denúncia infundada ou aparente suspeita, o que levaria a demandas temerárias. Como o próprio nome indica, herdou o inquérito civil público de seu correlato penal a característica de procedimento não submetido ao contraditório.

Nesse campo de qualificação, importante mencionar a titularidade conferida pela Constituição Federal de 1988 ao órgão do Ministério Público para a promoção de Inquéritos Civis, conforme preceitua o artigo 129, inciso III, do referido diploma e artigo 8º, § 1º, da Lei n. 7.347, de 24 de julho de 1985.

No que se refere ao Termo de Ajustamento de Conduta - TAC, Cazetta (2005, p. 353) leciona ser o instrumento que busca, com a celeridade inata das formas de autocomposição, fazer cessar, evitar que opere ou mesmo reparar a situação que poderia levar a interposição da ação civil pública. É, portanto, um mecanismo extraprocessual, pois não se vincula a nenhuma homologação ou ratificação judicial para gerar efeitos, tendo a eficácia de um título executivo extrajudicial.

O Termo de Ajustamento de Conduta - TAC, por sua vez, está previsto legalmente na Lei n. 7.347 /85, em seu artigo 5º, § 6º, sendo, deste modo, considerado como uma das medidas mais eficientes para a conclusão do Inquérito Civil.

Dessa feita, os dois instrumentos aclarados até o presente momento tem o condão de proporcionar uma solução extrajudicial para a lide, sem necessitar adentrar na esfera judicial, contudo, não obtido êxito para o caso concreto (dano ambiental) no âmbito extrajudiciário, necessário ingressar no âmbito jurisdicional através de Ações Penais (prática de crime ambiental), Ações Civis (reparação de dano ambiental), Ações Civis Públicas, Ação Popular e Mandado de Segurança Coletivo.

Referências

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