Resumo do texto “Soberania” de Dalmo de Abreu Dallari
Júnio Alves B. Barbosa Bacharelando em Direito / FADOM 1) CONCEITO DE SOBERANIA
Lês Six Livres de la Republique, de Jean Bodin de 1576, é a primeira obra teórica a desenvolver o conceito de soberania, como padrão para análise, a situação da França. Inicia-se o Livro I com conceituação da República, e capítulo VIII do Livro I, esclarece Bodin que a “Soberania é o poder absoluto e perpétuo de uma república, palavra que se usa tanto em ralação aos particulares quanto em relação aos que manipulam todos os negócios de estudo de uma República”. É perpétuo, pois a soberania não pode ser exercida por um tempo certo. Sendo absoluto, a soberania não é limitada nem em poder e nem em cargo, porém, as únicas coisas que o limitam, são as leis divinas e naturais.
Em 1762, Rousseau em “O Contrato Social” no Livro II, Capítulo I, ele demonstra que a Soberania é inalienável e também indivisível, inalienável por se exigido da vontade geral e indivisível porque a vontade só é geral se houver participação do todo. Rousseau também traça os limites do poder soberano, dizendo que “o poder soberano, completamente absoluto, sagrado e inviolável, não ultrapassa nem pode transgredir os limites das convenções gerais. A regra básica da limitação é que o soberano não pode sobrecarregar os
cidadãos de coisas inúteis à comunidade e tampouco pode exigi-las, devendo fazer exigências iguais a todos os súditos.”
Voltando ao aspecto conceitual da palavra Soberania, há vários autores há quem se refira a ela como um poder do Estado, como também há outros que preferem concebê-la como qualidade do poder do Estado, diferentemente de Kelsen, que segundo sua conceituação normativista, entende a soberania como expressão da unidade de uma ordem. Por outro lado, Heller e Reale, ela é uma qualidade essencial do Estado, enquanto Jellinek já entende-se como nota essencial do poder do Estado. Entenda-se que a noção de soberania está sempre ligada a uma concepção de poder. Há, no entanto, uma progressão de entendimentos em termos puramente político para uma interpretação jurídica, mas que o resultado seja absoluto.
Em termos jurídicos, leva ao conceito de Soberania como o poder de decidir em última instancia sobre a atributividade das normas, sobre a eficácia do direito. Partindo do pressuposto de que todos os atos dos Estados são passíveis de enquadramento jurídico, tem-se como soberano o poder que decide qual a regra jurídica aplicável em cada caso, podendo, até, negar a juridicidade da norma. Portanto, não há Estados mais fortes ou mais fracos, uma vez que para todos a noção de direito é a mesma.
Para o nosso brilhante jurista Miguel Reale, o denomina como política e o define, “A soberania é o poder de organizar-se juridicamente e de fazer valer dentro de seu território a universalidade
2) Características da Soberania:
A Soberania é una, porque não pode existir mais de uma autoridade soberana em um mesmo território. “É inadmissível a coexistência de poderes iguais na mesma área da validez das normas jurídicas”.
A Soberania é indivisível. O poder soberano delega atribuições, reparte competências, como no caso dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, mas não divide soberania.
A Soberania é inalienável, ou seja, não se transfere a outrem. O Poder Soberano emana do corpo social (entidade coletiva dotada de vontade própria), constituída pela soma das vontades individuais. Os representados devem exercer o poder de soberania segundo a vontade do corpo social consubstanciada na Constituição e nas leis.
A Soberania é imprescritível, ou seja, não sofre limitações pelo tempo. Não se admite soberania por tempo determinado.
Para fins característicos da soberania, temos ela como una, porque não se admite num mesmo Estado a convivência de duas soberanias; Indivisível: se aplica à universalidade dos fatos ocorridos no Estado, sendo inadmissível, por isso mesmo, a existência de várias partes separadas da mesma soberania; Inalienável: aquele que a detém desaparece quando ficar sem ela, seja o povo, a nação, ou o Estado;
Imprescritível: porque jamais seria verdadeiramente superior se tivesse prazo certo de duração. Todo poder soberano aspira a existir permanentemente e só desaparece quando forçado por uma vontade superior.
Quanto à justificação e titularidade da Soberania, podem ser dividas em dois grupos com várias subdivisões.
Teorias teocráticas, principais pontos:
• Fim da Idade Média e período absolutista do Estado Moderno; • Ponto de partida é o princípio cristão de que todo poder vem de Deus;
• Apresentavam-se como de direito divino sobrenatural quando afirmavam que o próprio Deus concedera o poder ao príncipe, e de direito divino providencial, quando sustentavam que a soberania vem de Deus, como todas as coisas terrenas, mas que, diretamente, ela vem do povo, razão pela qual apresenta imperfeições. Em ambos os casos, o titular da soberania acaba sendo a pessoa do monarca.
Teorias Democráticas, principais características e subdivisões: • Soberania se origina do próprio povo;
1a) aparece como titular da soberania o próprio povo, como massa amorfa, situado fora do Estado;
2a) Revolução Francesa, século XIX e início do século XX, a titularidade é atribuída à nação, que é o povo concebido numa ordem integrante;
3a) o titular da soberania é o Estado, o que começaria a ser aceito na segunda metade do século passado e ganharia grande prestígio no século XX.
Enfim, resta ressaltar que os cidadãos do Estado estão sempre sujeitos ao seu poder, havendo inúmeras hipóteses em que esse poder é exercido além dos limites territoriais do Estado, que já assunto para outra exposição.
Resumo do Texto “A Soberania” de Paulo Bonavides
Em primeira instância, Paulo Bonavides coloca o problema da Soberania, para dissertar sobre suas complexidades, em conceitos históricos e relativos. Histórico, porque a antiguidade o desconheceu em suas formas de organização política. Relativo, porque são raros os autores que preocupam sobre o prisma do Direito Internacional, do ponto de vista externo, a soberania é apenas uma qualidade do poder, já do ponto de vista interno, é considerada como um conceito jurídico, resultando então o Estado como portador de uma vontade suprema e
soberana, a suprema protestas, o papel de monopolizador da coação incondicionada na sociedade.
No que diz a problema, envolve conceitos fundamentas: a dificuldade de conciliar a noção de soberania do estado como a ordem internacional.
Há correntes contemporâneas entendendo a soberania como dado histórico, representando apenas determinada qualidade do estado. No entanto, há também a soberania como qualidade do poder, elemento relativo não essencial, arredando-se a torná-la em termos absolutos.
Jellinek adotou a posição mais seguida na doutrina contemporânea do direito público ao conceituar a soberania como “capacidade do Estado a uma autovinculação e autodeterminação jurídica exclusiva”, corrigindo o abuso cometido na concepção de Bodin, que fazia da soberania um poder absoluto, ilimitado, incontrastável. Surgindo a partir deste ponto, uma dificuldade de explicar a existência do direito internacional e a impossibilidade ademais de atribuir caráter de Estado a certos ordenamentos políticos como os que fazem parte de uma federação.
Em se tratando dos traços característicos da soberania, ela é una e indivisível, não se delega a soberania, a soberania é irrevogável, a soberania é perpétua, a soberania é um poder supremo, um dos
Todavia, tem-se feito distinção sobre a soberania do Estado e a soberania no Estado. Com a expressão “Soberania do Estado”, refere-se a preeminência do grupo político, o estado e refere-seus ascendentes hierárquicos. E a expressão “Soberania no Estado”, diz respeito por conseqüência à questão dos elementos característicos do poder estatal que o distinguem, consoante assinalamos, dos demais poderes e instituições sociais.
Quanto às doutrinas democráticas, que sustentam que a soberania se origina do próprio povo, são divididas em duas, a doutrina da soberania popular e a doutrina da soberania nacional.
A doutrina da soberania popular, a primeira e mais democrática das doutrinas em exame, não suplica necessariamente uma forma republicana de governo, tanto que Hobbes a desenvolveu para derivar a vontade popular na sua teoria do contrato social à justificação do poder monárquico de Rousseau. Segundo Rousseau, a soberania popular é tão somente a soma das distintas frações de soberania, que pertencem como atributo a cada indivíduo.
A doutrina da soberania nacional, já presente após o movimento revolucionário contra o ancien régime, cumpriria resolver os problemas da soberania jurídica, política e social. A doutrina democrática da soberania que os poderes da Revolução fundaram e fizeram prevalecer na Assembléia Constituinte foi a doutrina da soberania nacional, onde surge a Nação, como depositária única e exclusiva da
autoridade soberana. Povo e nação formam uma só entidade, um novo ser, personificado, dotado de vontade própria, superior às vontades individuais que o compõem. Apresenta-se como um corpo político vivo, real, atuante, que detém a soberania e a exerce através de seus representantes, a Nação.
A doutrina da soberania nacional conquista quase todo o direito político da França pós-revolucionária, com efeito, a proclamação da Declaração dos Direitos do Homem de 1789 e da Constituição de 1791, citando respectivamente o artigo 3º da Declaração, “o princípio de toda soberania reside essencialmente em a Nação” e que “nenhuma corporação, nenhum indivíduo pode exercer autoridade que dela não emane expressamente”, e do artigo 1º do título III da Constituição Francesa de 1971, “A soberania é uma, indivisível, inalienável e imprescritível. Pertence à nação; nenhuma seção do povo, nenhum indivíduo pode atribuir-se-lhe o exercício”.