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O Jovem Adulto de Uberlândia/M.G. e Sua Relação com o Cão: Benefícios e Aspectos Afetivos

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Academic year: 2021

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[a] Graduandos em Psicologia pelo Centro Universitário do Triângulo – UNITRI

[b] Mestre em Linguística pela Universidade Federal de Uberlândia – UFU, professora do Curso de Psicologia – UNITRI [c] Mestre em Educação pelo Centro Universitário do Triângulo – UNITRI, professora do Curso de Psicologia – UNITRI

O Jovem Adulto de Uberlândia/M.G. e Sua Relação com o Cão: Benefícios e

Aspectos Afetivos

The Young Adult of Uberlândia / M.G. and His Relationship with Dog: Benefits

and Affective Aspects

Autores: ASS, Cristiane Van, cristianevanass@hotmail.com[a], MARTINELLI, Cintia Cristina S., Cintia Cristina S. cintia@hotmail.gr[a], MENDES, Dalila Mendonça, dalilamendoncam@hotmail.com[a], SILVA, Francielle de Paula, francielledepaulapsi@gmail.com[a], QUINTINO, Juliana Brigatto juliana.brigatto@hotmail.com[a], MESQUITA, Maria Lucia de Moraes marialuciamoraes@hotmail.com[a], ALVES, Victor Henrique Pires, victorhpires@yahoo.com.br[a] COSTA, Sandra Maria, sandracosta.unitri@gmail.com[b], RAMOS, Maria Tereza de Oliveira, mtramos@netsite.com.br[c]

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Resumo

Esta pesquisa transversal, descritiva, de natureza quali/quantitativa teve como objetivo investigar os benefícios e aspectos afetivos envolvidos na relação jovem adulto e cão. Neste sentido, investigaram-se quais aspectos afetivos podem estar presentes nesta relação, assim como a possibilidade desta proporcionar benefícios biopsicossociais para o homem. Os instrumentos utilizados para esta pesquisa foram: Questionário Sociodemográfico e Entrevista Estruturada. Participaram da pesquisa 30 sujeitos, sendo 14 do gênero masculino e 16 do gênero feminino, com idade entre 20 e 40 anos, que possuíam um ou mais cães há no mínimo seis meses, residentes em Uberlândia, Minas Gerais. Os resultados dos participantes foram analisados em cinco categorias: Aspectos Gerais, Aspectos Relacionais, Aspectos Afetivos, Antropomorfização e Benefícios, indicando que o afeto, bem estar, amizade, alegria, melhora na qualidade de vida e companhia foram os principais benefícios apontados pelos sujeitos. No que se refere aos aspectos afetivos, a pesquisa apontou sentimentos como amor, saudade, preocupação e ligação parental. Compreende-se, através da análise dos dados, a antropomorfização enquanto fator preponderante na relação homem-cão. Pôde-se constatar que não só existem benefícios e afetos nesta relação como os cães representam outro lugar na vida dos participantes passando da posição de objetos para sujeitos.

Palavras-chave: Jovem adulto. Cão. Benefícios. Abstract

This cross-sectional, descriptive, quali/quantitative research aimed to investigate the benefits and affective aspects involved in the young adult and dog relationship. Therefore, we investigated affective aspects that might exist in this relationship, as well as the possibility of this relation provides biopsychosocial benefits to man. The instruments used for this research were: sociodemographic questionnaire and Structured Interview. The participants were 30 individuals, 14 males and 16 females, aged between 20 to 40, who had one or more dogs for at least six months living in Uberlândia, Minas Gerais. The results of the participants were analyzed in five categories: General aspects, Relational aspects, Affective aspects, Anthropomorphization and Benefits, indicating that affection, wellness, friendship, joy, company and the improvement of life quality were the main benefits cited by subjects. In

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regard to emotional aspects, the survey indicated feelings like love, longing, worry and parental connection. It can be seen anthropomorphization as a major factor in the human-dog relationship. It can be noted that not only there are benefits and affects in this relationship as dogs are related to occupied another place in the lives of participants moving from the position of objects to subjects.

Keywords: Young adult. Dogs. Benefits.

Introdução

O presente artigo cujo tema é “O jovem adulto de Uberlândia, MG, e sua relação com o cão: benefícios e aspectos afetivos” procurou responder a seguinte pergunta: quais os benefícios e aspectos afetivos estão envolvidos na relação jovem adulto e cão?

Foram levantadas algumas hipóteses em resposta para essa questão, como: a relação jovem adulto e cão é um forte instrumento que traz benefícios sociais, psicológicos e físicos ao homem; há vários aspectos afetivos presentes na relação jovem adulto e cão como as emoções, o humor, os sentimentos, os afetos e etc.

O objetivo geral fundamentou-se em investigar os benefícios e aspectos afetivos envolvidos na relação jovem adulto e cão, e como objetivos específicos: levantar os dados sociodemográficos dos participantes da pesquisa; relacionar os benefícios que o cão pode proporcionar ao jovem adulto; investigar os aspectos afetivos envolvidos na relação jovem adulto e cão, verificar possíveis significâncias entre as respostas dos participantes às questões da entrevista estruturada e aos dados sociodemográficos.

Este estudo mostrou-se relevante diante à contingência atual de animais de estimação no Brasil, principalmente de cães, os quais além de se estabelecerem como animais de estimação, ocupam um lugar afetivo e social na vida do indivíduo. Ao investigar a relação jovem adulto e cão, foi possível expandir os conhecimentos sobre os aspectos afetivos envolvidos, assim como, os benefícios derivados da mesma, e ainda possibilitou a uma reavaliação e até mesmo uma valorização desta relação que pode ser também considerada uma ferramenta terapêutica.

A relação entre o homem e o cão como animal doméstico teve origem há milhares de anos. Inicialmente essa relação se dava com caráter utilitário, uma vez que os cães ajudavam na caça e recebiam abrigo e alimento em troca. Desde a domesticação, os laços afetivos entre os cães e os seres humanos foram se estabelecendo de forma mais estreita e, atualmente, muitos animais são considerados membros da família (TATIBANA; COSTA-VAL, 2009).

A população de animais de estimação é crescente no decorrer dos anos. Atualmente o Brasil é considerado o segundo país em maior população deste segmento, chegando à estimativa de 35,7 milhões de cães domésticos (TATIBANA; COSTA-VAL, 2009).

Ainda segundo as autoras, as pessoas têm tratado seus animais de estimação como se fossem humanos, atribuindo-lhes grande carga afetiva. Essa humanização dos animais recebe o nome de antropomorfismo, que significa considerar o animal além de suas características biológicas, recriando-o com atributos humanos e tratando-o como se assim o fosse. A antropomorfização é geralmente aceitável, desde que haja consciência de que as necessidades dos cães são distintas das necessidades do homem. Porém se exagerado, pode ser nocivo ao animal, causando transtornos comportamentais e de saúde.

O que deve ser princípio básico para relação do homem com o cão é o respeito biológico e fisiológico de cada espécie. Se as pessoas escolherem o animal adequado às suas necessidades, um forte vínculo se estabelecerá. Além disso, o cão poderá significar a certeza de lealdade e autenticidade, o que nem sempre é encontrado na relação com outro humano,

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diante da incerteza e falta de confiança que circunda as relações humanas atualmente (TATIBANA; COSTA-VAL, 2009).

Faraco (2008) em seus estudos observa que é impossível ser o que se acredita ser, sem que haja o amor e o brincar. Consideram ainda o amor e brincadeira como modos de vida e de relação humana. Sabe-se que o ato de brincar constitui uma prática natural às crianças e também aos demais animais em sua infância, sendo considerado um meio de preparo para a vida adulta.

Uma característica importante em todos os mamíferos e, considerados também os humanos e os cães, é a sua natureza de animais senciente, com a habilidade de perceber subjetivamente as emoções, de entender e de sentir (FARACO, 2008).

O reconhecimento desta capacidade, até há pouco tempo considerada como exclusivamente humana, repercute e auxilia no desvelamento de coerências operacionais desconhecidas entre seres humanos e cães, e que não podem ser atribuídas ao acaso ou explicadas como meramente produto de uma relação estímulo-resposta. Em outras palavras, é questionada a visão cartesiana do animal-máquina em um mundo coisa na qual o comportamento é resposta a estímulo externo. Diante dos novos dados da cognição animal, surgem outras posturas paradigmáticas que revolucionam a compreensão das relações interespécie construídas na sociedade (MATURANA e VARELA, 2005 apud FARACO, 2008).

Faraco (2008) considera conviver como aceitar mutualmente o outro, tendo o outro como legítimo, em espaços de ação em que consenso impera. Aceitar o outro na convivência cotidiana pode ser um espaço para mudança rumo a um novo modo viver. Assim, percebe-se que a aceitação recíproca no sistema entre humano e cão, como relação íntima e estreita que mantém um sistema vivo, dinâmico e duradouro em sua formação.

Um trabalho da American Pet Products Manufactures Association divulgado em 2003, apresenta 64 milhões de donos de cães nos EUA, o que é equivalente a uma população maior que 10 milhões de indivíduos em comparação a pesquisa da década anterior. Já o setor econômico mostra a formação de uma sociedade híbrida humano-cão: foram gastos US$ 31 bilhões em produtos para animais de estimação, que supera os consumos com brinquedos ou doces naquele ano. Isso mostra transformações sociais que são constatadas sob a perspectiva econômica da diminuição do consumo de produtos destinados às crianças. Por outro lado, tal crescimento pode ser indicador de escolhas individuais e das alterações de prioridades sociais. Essa teoria tem base no que Faraco (2008) determina como fator definidor de um sistema social, ou seja, uma vez que a conduta dos indivíduos de uma sociedade particular é alterada, as características sociais também serão modificadas, tal como é o apego entre casais sem filhos e seus animais de estimação.

É preciso ainda levar em consideração os milhares de animais de estimação existentes em diversas residências em todo o mundo e acumulando diversas funções, como ornamental, status social, membro de família, cuidador ou objeto de cuidado e como meio-fim para troca e depósito de emoções. Nos estudos em que se compara a relevância desses animais de estimação com os demais indivíduos de uma mesma família, constatou-se que em 44% dos casos o animal é o membro familiar mais acariciado e que 81% dos que responderam acreditam que em momentos de tensão ou ansiedade no núcleo familiar, tais animais somatizam e apresentam distúrbios gástricos ou convulsionam. Neste sentido encontramos a denominada família multiespécie (FARACO, 2008).

Faraco (2008) ressalta a extensão das relações entre humano-cão nas cidades e classifica, além do familiar, domínios distintos, em que eles participam: nos trabalhos de resgate e apreensão de pessoas e materiais, em serviços de reabilitação física e social e nas diferentes associações terapêuticas e educacionais em que tais animais podem atuar.

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Sobre esse tópico, os pesquisadores de hábitos de consumo constatam um aumento nos cuidados com os animais de estimação como parte integrante da vida social, confirmando essa alegação com a expansão do mercado de artigos especiais para animais domésticos: alimentos, acompanhamento veterinário, plano de saúde, e os artigos de luxo que são indiscutivelmente um êxito mercadológico. Ressaltam a mudança na forma de viver pelas experiências trocadas e perceptíveis no ato de brincar, na rotina doméstica (passeio com o cachorro, hora da refeição, hora de tomar banho), nas comemorações familiares (presentes do Natal, festas de aniversário, casamentos e eventos funerários) e na preocupação com a saúde, sobrevida e longevidade dos animais, com a razão que as pessoas atribuem aos animais um lugar em suas vidas (FARACO, 2008).

Tal vínculo não ocorre apenas na espécie humana. O comportamento canino, se comparado aos demais animais, costuma apresentar preferência à companhia do ser humano em detrimento aos demais de sua própria espécie. Os cães, apesar dos benefícios obtidos, sofreram um custo para desfrutar dos mimos, cuja maior perda foi a liberdade. Contudo pondera que há dúvidas se eles de fato sofreram e considera ainda que os cães são absolutamente sociais: preferem a proximidade de seu cuidador humano em detrimento de poder passear sem limitações (FARACO, 2008).

Quanto aos humanos, tal opção tem um custo: a responsabilidade pelo animal durante toda sua vida. Concede-se sentido aos fatos quando Faraco (2008) dispõe sobre a propriedade de sistemas dinâmicos de continuada mudança estrutural. Tal condição constante de transitoriedade pode causar condutas particulares, ainda não descritas ou observadas. Assim, pode-se perceber essa preferência associativa revelada entre ambos os seres e ainda considerar que essa associação tem um “preço” para as duas espécies. Presume-se que arcar com esse preço seja apenas um compensador em função da contribuição às necessidades de cada e, essencialmente, da cooperação para viver em comum.

O presente estudo objetiva analisar prioritariamente a relação homem-cão em uma fase descrita por Papalia, Olds e Feldman (2009) como Jovem Adulto. Este se insere na faixa etária dos 20 a 40 anos de idade. Esta fase do desenvolvimento humano se mostra adequada ao que objetiva esse estudo, uma vez que a interação e relação do homem com o animal refletem as experiências e desenvolvimento psicossocial do indivíduo, considerando seus aspectos afetivos e os benefícios envolvidos nessa relação.

Quando se pensa em afetividade há uma associação quase inevitável de ligá-la a sentimentos como: carinho, amor, afeição e etc. Porém sua definição engloba outros aspectos imprescindíveis ao desenvolvimento e estruturação do indivíduo que não se limitam a estes descritos, como humor, sentimentos, afetos, emoções e etc. (DALGALARRONDO, 2008).

Quanto mais os estímulos e os fatos ambientais afetam o indivíduo (até a intimidade do ser) mais nele aumenta a alteração e diminui a objetividade. Assim há o surgimento de uma nova experiência íntima, experiência esta que afeta a totalidade individual e que, por isso mesmo recebe o qualificativo de afetiva (MYRA Y LÓPEZ, 1974 apud DALGALARRONDO, 2008).

A afetividade tem como meios de exteriorização diversas formas e, segundo Dalgalarrondo (2008), os cinco tipos básicos de vivência afetiva incluem o humor, as emoções, os sentimentos, os afetos como também as paixões. O humor pode ser definido como o tônus afetivo do indivíduo, o estado emocional basal e difuso em que se encontra a pessoa em determinado momento; as emoções como reações afetivas agudas, momentâneas, desencadeadas por estímulos significativos; os sentimentos são estados e configurações afetivas estáveis em relação às emoções; define-se o afeto como a qualidade e o tônus emocional que acompanha uma ideia ou representação mental; a paixão é um estado afetivo

extremamente intenso, que domina a atividade psíquica como um todo

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A vida afetiva é a dimensão psíquica que dá cor, brilho e calor a todas as vivências humanas. Sem afetividade, a vida mental torna-se vazia, sem sabor (DALGALARRONDO, 2008, p.155).

Método

O estudo realizado foi do tipo transversal, descritivo e de natureza quali/quantitativo, ou seja, conjugou características dos dois tipos de pesquisa, qualitativo por adequar-se a aprofundar a complexidade de fenômenos, fatos e processos particulares e específicos de grupos mais ou menos delimitados em extensão e capazes de serem abrangidos intensamente. E, como quantitativo, uma vez que as respostas dos participantes foram organizadas em categorias e posteriormente analisadas estatisticamente a fim de orientar a discussão teórica, a qual se constituiu o foco central dessa pesquisa (MINAYO e SANCHES, 1993).

Participantes

A amostra não probabilística por conveniência foi composta por 30 participantes, seguindo assim as orientações de Barbetta (2002), que sugere a utilização de uma amostra mínima de trinta participantes para a validação da pesquisa. Os participantes poderiam ser de ambos os sexos, jovens adultos, o que segundo Papalia; Olds e Feldman (2009) corresponde a faixa etária de 20 a 40 anos, que possuíssem um ou mais cães há no mínimo 6 meses, que residissem em Uberlândia, Minas Gerais e que concordassem em participar da pesquisa ao assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram critérios de exclusão: pessoas que não se enquadrassem na faixa etária que corresponde ao jovem adulto (20 a 40 anos), que não possuíssem um ou mais cães há no mínimo 6 meses, que não residissem em Uberlândia, Minas Gerais, e que não concordassem em participar da pesquisa ao assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Instrumentos

Foram utilizados neste estudo dois instrumentos: questionário sociodemográfico, contendo dados de identificação como gênero, faixa etária, grau de escolaridade e condição socioeconômica e entrevista estruturada, contendo 25 perguntas que investigaram como se dá a relação do jovem adulto com o cão, assim como seus benefícios e aspectos afetivos. Compuseram este questionário questões como: O que o cão representa para você?

Procedimentos:

Para a coleta de dados, de acordo com as Normas e Diretrizes Regulamentadoras de Pesquisa com Seres Humanos, Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, após aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa, foi realizado contato com os jovens adultos para serem esclarecidos quanto aos objetivos da pesquisa e a relevância social do mesmo, sobre o caráter voluntário de sua participação e garantia de que seus dados individuais serão mantidos em sigilo. Após os participantes realizarem a leitura e assinarem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, aconteceu a aplicação individual dos instrumentos: Questionário Sociodemográfico e Entrevista Estruturada.

As respostas dos participantes foram inicialmente organizadas em categorias e, posteriormente, codificadas numa planilha do SPSS (Statistical Package for the Social Sciences), versão 15.0, programa por meio do qual foram submetidas a estatísticas descritivas como médias, frequências e desvio padrão.

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Participaram desta pesquisa, 30 sujeitos, sendo 46,67% do gênero masculino e 53,33% do gênero feminino, dos quais 60% têm entre 20 e 25 anos, 23,33% têm entre 26 e 31 anos, 13,33% têm entre 32 e 36 anos e 3,33% têm entre 37 a 40 anos.

Dos participantes 3,33% têm casa própria e 36,67% não possuem, 76,67% moram com a família, 6,67% moram com cônjuges, 6,67% moram com amigos, 6.67% moram sozinhos e 3,33% moram com outros. Em relação à quantidade de moradores na casa, 76,97% residem com uma a duas pessoas, 20% residem com três a quatro pessoas, 3,33% residem com cinco ou mais pessoas.

A renda familiar de 36,67% é de um a três salários mínimos, a de 33,33% são de quatro a seis salários mínimos, a de 16,67% são de sete a dez salários mínimos, a de 13,33% são de onze ou mais salários mínimos.

Quanto ao estado civil 80% são solteiros, 16,67% são casados e 3,33% são separados. Não possuem filhos, 76,67%, 10% possuem um filho e 13,33% possuem dois filhos.

Com relação à escolaridade 60% possuem ensino superior incompleto,23,33% possuem ensino superior completo, 10% concluíram o ensino fundamental, 3,33% não concluiu o ensino fundamental e outro 3,33% possui curso técnico completo.

Já no que se refere à quantidade de cachorros que os participantes possuem, possuindo um cachorro encontramos 46,67% participantes, 23,33% possuem dois cachorros, 13,33% possuem três cachorros e 16,67% possuem cinco ou mais cachorros como animais de estimação. Com relação ao tempo de convivência com o animal, 50% possuem o animal entre dois e cinco anos, 20% possuem o animal entre seis e dez anos, 16,67% possuem o animal há um ano, 10% possuem o animal entre 11 e 15 anos e 3,33% entre 16 e 20 anos.

Dos participantes, 83,33% possuem apenas o cachorro como animal de estimação, enquanto 16,67% possuem outros animais também. Com relação aos que possuem outros animais, foi investigado quais eram estes. Dos participantes, 20% possuem apenas além do cão, 10% possui apenas gato além do cão, 10% possuem gato e pássaro e 10% possuem gato, tartaruga e peixe como animal de estimação além do cão.

Com relação ao gasto mensal com o cão, 66,67% gastam entre R$101,00 e R$300,00, 16,67% gastam até R$100,00 por mês, 10% gastam acima de R$600,00 por mês, 3,33% gastam entre R$301,00 e R$600,00 e 3,33% não sabem o valor gasto mensalmente com o cão. Em relação à Antropomofização, 100% dos participantes relataram conversar com o cão e o consideram como um membro da família. Destes, 86,67% relataram que o tratamento dado ao cão pode ser comparado ao tratamento dado a um humano. 10% disseram que não pode ser comparado e 3,33% não respondeu à pergunta. Quando questionados que tipo de relação humana estaria simbolizada no tratamento que a pessoa dá ao cão, 40% disseram ser uma relação pai e filho ou mãe e filho e 20% responderam como relação de amizade, 10% consideram a relação como dono/cão, 3,33% dos participantes não responderam à pergunta e 26,67% deram outras respostas, como relação de afeto, carinho e atenção.

Devido à modernização das cidades e à individualização, surgem novos estilos de vida e composições familiares, que atualmente tem ocasionado posições de destaque aos animais no contexto domiciliar, conforme nos diz Oliveira (2006 apud Carvalho, Pessanha, 2013). Os fenômenos sociais de isolamento e solidão, presentes nas sociedades modernas, acabam sendo minimizados com a presença de um animal de estimação (Pastori, 2012). Aliado a isso, o antropomorfismo contribui para a inclusão desses animais como extensão familiar e não como posse, propiciando a participação destes em atividades diárias desenvolvidas por seus tutores, confirmando o resultado de todos os participantes da pesquisa sobre considerarem o cão como membro da família. Os indivíduos que veem seus animais de estimação como membros da família recebem alguma forma de carinho e proteção, delegando aos seus cães o papel de satisfazer as necessidades humanas de companhia, amizade, amor incondicional e afeto (CARVALHO, PESSANHA 2013).

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Esse resultado pode justificar a recente inclusão de questões referentes ao tema na Pesquisa Nacional de Saúde de 2013 divulgada pelo IBGE em 02/06/2015, revelando que o brasileiro tem mais contato com os cães do que se poderia deduzir, pois 44,3% (o equivalente a 28,9 milhões) dos domicílios do país possuem pelo menos um cão de estimação, sendo a região Sul apresentando a maior proporção, de 58,6% e a região Nordeste a menor, com 36,4%. Estima-se que a população de cães domésticos em 2013 era de 52,2 milhões, enquanto outra pesquisa do IBGE, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD 2013) apontou que havia 44,9 milhões de crianças de até 14 anos no país neste mesmo ano. Estes dados indicam grande relevância em se estudar a relação homem-cão, visto que o cão tem ocupado um lugar de destaque nas famílias brasileiras, sendo que o número de cães presentes nos lares é expressivamente maior que o número de crianças (IBGE, 2015).

Dos entrevistados, 90% compram presentes para seu cão e 10% não compram. A maioria deles, 53,33% compram roupas, brinquedos e petiscos, 16,67 apenas brinquedos, 10% compram somente petiscos e 3,33% compram apenas roupas, 6,67% compram outros tipos de presente como shampoo, cama e acessórios e 10% não responderam o tipo de presente, pois não compram. 63,33% pensam no bem-estar do cão ao comprarem presentes, 10% pensam em outras coisas como a durabilidade do brinquedo e em enfeitar seu cão e 26,67% não responderam à pergunta.

Segundo Lue, Pantenburg e Crawford (2008, apud Carvalho, Pessanha, 2013), conforme o tutor apresente tamanho vínculo emocional com seu cão, ele desenvolverá equivalente cuidado com o mesmo, independentemente de sua renda. Assim, os tutores com um maior vínculo tendem a levar seus animais mais vezes ao veterinário, seguir orientações e recomendações, sem levar em conta o custo financeiro. Somado ao cuidado, nota-se o consumo por afetividade definido por Miller (2002, apud Carvalho, Pessanha, 2013), pois o ato de presentear os cães é similar ao consumo por afetividade presente nas relações humanas, em que a maior preocupação não é somente com a relação custo/benefício, mas também com o simbolismo de amor e carinho que é trago ao seu cotidiano. Tais informações condizem com os dados da pesquisa onde a maioria dos participantes diz que pensa no bem-estar do cão ao presenteá-lo, num indicativo de consumo por afetividade. Além disso, a satisfação de ter seu cão vestido com alguma roupa, por exemplo, tem relação com a alegria com que seus donos sentem, pois o cão tem sua autoconsciência limitada (TATIBANA; COSTA-VAL, 2009).

Dos participantes, 96,67% tratam seu cão como gostaria de ser tratado. Apenas 3,33% responderam de forma negativa. Ainda neste mesmo questionamento 76,67% já receberam esse tipo de tratamento de alguém, 13,33% disseram que não receberam esse tipo de tratamento de alguém, 10% disseram que não tratam o cão como ser humano e nunca receberam este tipo de tratamento.

Em relação à percepção de características pessoais semelhantes no animal, 83,33% responderam positivamente que o seu animal possui características semelhantes às do dono e 16,67% disseram que seu cão não possui características semelhantes ao dono.

Perceber características próprias de humanos em animais é um claro indício de antropomorfização, pois está acrescentando no animal características além das biológicas, recriando-o com características humanas (TATIBANA; COSTA-VAL, 2009). Logo, o animal começa a ser tratado como se trata um humano – ou até melhor, visto que o animal é representado como um ser mais desenvolvido que os humanos, capaz de oferecer amor incondicional. É buscado no animal algo que parece estar além das características encontradas nas relações com os seres humanos (PASTORI, 2012). Tratar um animal como gostaria de ser tratado, declarado por 96,67% dos participantes, pode estar ligado às motivações que Bernard e Demaret (apud Delarissa, 2003) apresentam sobre o ser humano cuidar de um animal de estimação: O animal satisfaz a necessidade de afeto, e cita Katcher (Bernard, Demaret, 1996

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apud Delarissa, 2003) que acrescenta sete funções desempenhadas por um animal para compensar essa falta:

Atenuar a solidão, dar uma oportunidade para cuidar de “alguém mais”, fornecer uma ocupação, oferecer contato físico e sinais de afeto, ser sujeito de atenção, fornecer um sentimento de segurança, promover exercício físico.

Os benefícios que os cães trazem para o ser humano, citados pela maioria dos participantes, 86,67% são afeto, bem-estar, amizade, alegria e companhia, enquanto 13,33% relataram como benefício paciência e responsabilidade. 93,33% relataram que a convivência com o cão trouxe uma melhora na qualidade de vida, enquanto 6,67% não notaram essa melhora. Quanto aos motivos da melhora da qualidade de vida 73,33% relataram mais afeto, bem-estar, amizade, alegria e companhia, 16,67% disseram ter mais paciência e responsabilidade, 6,67% não responderam e 3,33% participante responderam de outra forma, disse não saber como é viver sem cão, pois sempre teve cachorros em sua casa.

Em relação às transformações ocorridas na vida através da convivência com o cão, 26,67% relataram terem se tornado mais alegres, amorosos, carinhosos e companheiros. 23,33% perceberam melhorias no humor e no convívio social, 16,67% se tornaram mais atenciosos, responsáveis e equilibrados, 33,33% deram outras respostas como maior paciência, mais simplicidade, maior objetividade, redução da ansiedade e maior união familiar.

Quando questionados sobre as vantagens de se relacionar com o cão, 40% relataram terem se tornado mais alegres, amorosos, carinhosos e companheiros, 16,67% disseram que melhoraram o humor e o convívio social, 3,33% relataram ter se tornado mais atencioso, responsável e equilibrado, 40% deram outras respostas como o fato de poderem contar com o cão a qualquer momento, pois não esperam nada em troca e são bons ouvintes, citaram também a troca que existe na relação e o conforto possibilitado pela mesma, e melhora no convívio familiar.

Estes resultados são consonantes com as afirmações de Faraco (2008), percebendo a presença dos cães na vida de seus donos como dinamizadores ao desenvolvimento de várias habilidades e exercício de responsabilidades, sendo também um facilitador social; meio simbólico para a expressão de emoções; foco de atenção e ainda ser um agente tranquilizador. Santos (2008), diz que, pessoas convivendo e interagindo com seus cães, constantemente tendem a apresentar níveis controlados de estresse e de pressão arterial, além de estarem menos propensas a desenvolver problemas cardíacos. Em termos psicológicos, os cães, através de sua pureza e espontaneidade instintiva, resgatam a criança interior do sujeito e podem aumentar sua capacidade de amar.

Já sobre as desvantagens, 36,67% relataram não haver desvantagens. 23,33% descreveram a responsabilidade com despesas e sujeira como principais desvantagens. 16,67% relataram ser a vida curta do animal e o medo da morte do mesmo como desvantagem. 23,33% relataram outras desvantagens como cansaço, falta de paciência com os cães, o fato de também terem doenças, limitações com mobilidade e preocupação com quem deixar o cão quando viajam.

Quando questionados sobre o que o cão oferece que as pessoas deixam a desejar, 43,33% relataram amor, lealdade e fidelidade. 23,33% responderam amor incondicional. 13,33% descreveram ambos os itens – amor incondicional, lealdade e fidelidade. 20% deram outras respostas como o fato de não fazerem julgamentos, o respeito, o carisma e a segurança que propiciam.

Berzins (2000) reforça algumas vantagens resultantes do convívio com o animal de estimação, destacando o alívio para situações tensas, disponibilidade ininterrupta de afeto,

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representa companhia constante, oferece amizade, proteção e segurança de maneira incondicional e que a presença do animal faz com ocupe seu tempo ocioso. Já em Santos (2008) temos a informação de que o cão parece suprir, em muitos casos, uma necessidade emocional. Pode ser a fonte de segurança e, quando as pessoas se sentem ansiosas, o cão pode ter um efeito calmante. Assim, a natureza do laço entre humanos e cães contém um forte elemento de segurança emocional.

Fazendo um adendo neste ponto da pesquisa, cabe ressaltar que esses benefícios da relação homem e cão são evidentes na terapia mediada (ou assistida) por animais, conhecida também por TAA. Volpi e Zadrozny (2012) já descreveram que o cão em atividade terapêutica pode servir como ponte para resgatar o indivíduo de seu mundo interior, reestabelecendo seu contato com a realidade e servir como um facilitador na comunicação entre terapeuta e paciente. Pode ainda ser um facilitador em questões como: socialização, lidar com o luto, processos de aprendizagem, desenvolvimento de autoestima e autoconfiança. Além disso, auxilia na expressão de sentimentos, na inclusão de alunos com deficiência, na comunicação de situações de abuso sofrido por crianças, dentre vários outros aspectos.

Neste sentido percebe-se que os benefícios da relação homem e cão, obtidos como resultados desta pesquisa confirmam a validade da terapia mediada por animais, que utiliza o cão e também os benefícios e aspectos afetivos que o mesmo proporciona como facilitador para a comunicação e o estabelecimento do vínculo terapêutico. Os autores supracitados reforçam que a terapia mediada por animais, abre portas para sentimentos e memórias, e pode ser útil para o tratamento de sujeitos de qualquer faixa etária, sexo ou classe social. Ainda pouco difundida no Brasil, a TAA não conta com grande número de produções acadêmicas ou publicações. Porém considera-se uma área importante para a psicologia, que merece mais atenção pela eficácia do seu uso relatado em estudos que foram utilizados para a construção da presente pesquisa.

Em relação à categoria Aspectos Gerais foram questionados sobre os meios de aquisição do(s) cachorro(s), no qual 40% compraram, 33,33% ganharam e 26,67% adquiriram de outras formas como adoção, cria dos próprios cachorros e resgate. No que se refere à escolha do animal, 53,33% afirmaram ter feito a escolha por múltiplas razões, não considerando fatores como sexo e raça importantes, 43,33% escolheram em função da raça, e 3,33% em relação ao sexo do animal. No que se refere ao momento de aquisição, se esteve relacionado a alguma perda pessoal ou situação delicada, 60% responderam negativamente, 23,33% responderam outros fatores como melhora da saúde, ganhou de presente, questões relacionadas ao espaço disponibilizado ao cão e como companhia, 16,67% responderam afirmativamente. Relacionado ao tempo que possui o cão, 50% tem cachorro(s) entre dois a cinco anos, 20% o(s) possui (em) de seis a dez anos, 16,67% de zero a um ano, 10% de 11 a 15 anos e 3,33% de 16 a 20 anos.

Percebe-se que a maioria dos participantes, 60% não compraram o cão, o obtiveram por meio de questões que envolvem afeto. Não quer dizer que a compra não envolva questões afetivas, mas sim que presentear alguém com um cão, adotar ou resgatar da rua e ficar com filhote da cria de seu próprio cão, envolve puramente aspectos afetivos. Conforme Vaccari e Almeida (2007 apud Volpi e Zadrozny 2012), em um estudo sobre a terapia mediada por animais, os cães podem proporcionar bem-estar, fazendo com que as pessoas esqueçam por algum tempo os traumas da hospitalização, recordando suas boas lembranças, afastando a dor, o medo e a tristeza, mesmo que temporariamente, e preenchendo o vazio da solidão e da incerteza. Este significado afetivo e de suporte emocional que o cão pode representar, ilustra o significado de a maioria dos participantes não envolverem uma questão comercial para aquisição dos seus cães.

Quando perguntados sobre o espaço disponibilizado ao(s) cachorro(s), 46,67% disseram oferecer a casa toda, 43,33% o quintal/garagem e 10% responderam outros espaços

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como canil, área do condomínio e quarto. Quanto às atividades desenvolvidas com o(s) cachorro(s), 40% afirmam brincar e passear, 23,33% afirmam outras atividades como dar banho, conversar, viajar, adestramento simples, 20% afirmam apenas brincar e 16,67% afirmam apenas passear. No que se refere aos agrados feitos aos animais, 43,33% dão atenção, carinho, comida e petiscos, 23,33% dão atenção/carinho, 20% participantes agradam com banhos, passeios, brinquedos, adestramento simples, mimos e deixam os cães se sujarem e 13,33% dão comida/petiscos diferentes.

Percebe-se com esses dados que os animais são tratados como extensão da família, o que conforme Carvalho e Pessanha (2013) o papel desses animais é de satisfazer as necessidades humanas de companhia, afeto, amizade e amor incondicional, participando de atividades diárias da família, ter acesso a todos os locais do domicílio etc. As relações entre humanos e animais de estimação podem propiciar novas oportunidades de mercado (como, por exemplo: rações, presentes, brinquedos, roupas, serviços, entre outros).

Os autores supracitados relatam ainda que, o processo de antropomorfismo dos animais

leva os proprietários a tratarem seus cães com bastante atenção e carinho e que a compra da

ração, por exemplo, passa a ser uma forma de transparecer sua afetividade, pois os donos

compram alimentos de alta qualidade a fim reforçar seu cuidado afetivo, podendo proporcionar uma vida mais saudável e prolongada ao seu animal de estimação o que identifica uma relação

de consumo por afetividade.

Em relação aos Aspectos Afetivos, 33,33% dos entrevistados definem sua relação com o(s) cão(s) como ótima, saudável, divertida, intensa, tranquila, de cuidado, harmoniosa e até como “a melhor relação da vida”, 26,67% definem sua relação com o cachorro de amor, cinco 16,67% de amizade, 16,67% definem como uma relação parental e 6,67% como relação de carinho. No que se refere aos sentimentos em relação ao(s) cachorro(s), 63,33% afirmam sentir amor, 20% sentem saudade, preocupação e sentem os cães como membros da família, 10% afirmam sentir carinho e 6,67% afirmam ter o(s) cachorro(s) como amigo. Quando perguntados se a atenção dada ao(s) cachorro(s) era suficiente, 70% responderam afirmativamente e 30% responderam negativamente.

Estes dados vêm confirmar o que segundo Tatibana e Costa-Val (2009) seriam características da domesticação dos cães, na qual há um estreitamento dos laços afetivos entre humanos e cães que muitas vezes são considerados até mesmo como membros da família. De modo que as pessoas têm tratado seus cães como seres humanos atribuindo-lhes grande carga afetiva.

Ainda sobre esta questão, Beck e Katcher (1996 apud Faraco, 2008) em pesquisa com norte-americanos puderam constatar que 70% dos indivíduos consideram que a família pode ser formada por animais de outra espécie e que podem até mesmo ser considerados mais importantes do que outras figuras parentais. O que reafirma a postulação de Maturana (2002 apud Faraco, 2008) sobre a possibilidade da constituição de famílias multiespécies, considerando o fato das emoções serem propriedades inerentes ao reino animal, vê-se a possibilidade de relações amorosas e substanciais entre cães e pessoas.

Quanto à aceitação do sacrifício do(s) cachorro(s) em caso de doenças graves, antes 66,67% disseram que sacrificariam. 20% disseram que nunca pensaram neste aspecto ou deixariam para outra pessoa decidir e 13,33% disseram que não sacrificariam. Sobre a realização de rituais simbólicos em caso de morte do cachorro(s), 56,67% participantes disseram que não fariam, 33,33% disseram que fariam algum tipo de ritual e 10% disseram que não querem pensar sobre isso ou que enterrariam sem fazer nenhum ritual. Em relação à representatividade do animal na vida do sujeito, 40% os têm como membro da família, 40% consideram o animal importante em sua vida, 30% os têm como amigo/companheiro, e 3,33% disseram que os cães representam tudo em sua vida.

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No que se refere ao sacrifício do cão e representatividade do mesmo pode-se perceber a importância atribuída ao cachorro na vida dos sujeitos. Tais aspectos vão de encontro à análise de Oliveira (2006 apud Yamashita; Sasaki; Ramirez-Gálvez, 2014) sobre o novo lugar social que os animais de estimação acabam por assumir. Uma vez que ocupam uma posição híbrida, tanto de atores como de objetos, deixam de ser uma mera propriedade para adquirirem também o status de sujeitos, com sentimentos, vontades e intenções.

A categoria “Aspectos relacionais” é composta pelas questões 13, 14, 15, 19 e 20 da entrevista estruturada.

Em relação aos Aspectos relacionais, quanto questionados se gostam de "exibir" seu animal para que outras pessoas possam admirá-lo 60% responderam negativamente e 40% responderam positivamente. Já quando perguntados a respeito da reação dos sujeitos quando outras pessoas não aceitam ou maltratam seu animal, 33,33% disseram sentirem-se tristes ou com raiva, 23,33% relataram outros sentimentos como indiferença, nojo e perplexidade, chegam a brigar devido ao fato, 16,67% responderam respeitar tal atitude, 13,33% disseram respeitar e afastar o animal da pessoa incomodada, 13,33% sujeitos disseram não compreender tal comportamento. Em relação a sofrer críticas ou preconceitos sobre o tratamento dado ao animal 56,67% responderam afirmativamente e 43,33% responderam negativamente.

Percebe-se que os cães podem também adotar a posição de objeto quando seus donos denotam a necessidade de exibi-los à sociedade. Tomados como artigo exibicionista os cães adquirem certo status social tornando-se objeto de ostentação. O cão funcionaria como um facilitador das formas de desejo social do proprietário que estariam projetadas deste modo no animal (Beverland et al., 2008 apud Carvalho; Pessanha, 2013).

No entanto, no que se refere à possibilidade de não aceitação ou maus tratos aos cães, nota-se que os cães são colocados na posição de sujeitos ao contrário da coisificação dos mesmos, exposta acima. Esta subjetivação dos cães pode ser melhor entendida quando associada ao fenômeno denominado “Pet Love” o que, segundo Smith (2009 apud Carvalho; Pessanha, 2013), seria característica da relação entre homem e animal de estimação na qual se encontram presentes um alto nível de cuidado, por um período de tempo longo, em que aos animais de estimação são atribuídos afetos e lugares normalmente ocupados por seres humanos, como o status de amigo, filho(a), irmão(ã), dentre outros tipos de relação.

Quando perguntados se preferem passar mais tempo com seres humanos ou com animais, 36,67% relataram a preferência tanto por seres humanos quanto por animais, 23,33% relataram a preferência por animais, 23,33% relataram “depender do momento” e 16,67% relataram a preferência por seres humanos. Em relação aos benefícios de se passar mais tempo com animais, 36,67% relataram benefícios como respeito, gratidão, conforto, redução de estresse e troca afetiva 33,33% relataram mais amor e alegria, 16,67% relataram não haver benefícios e 13,33% relataram que o(s) animal(s) oferece maior sinceridade.

A relação humano-cão tem sido estudada também no campo da Antropologia. Segundo Pastori (2012 apud Yamashita; Sasaki, 2014) os trabalhos antropológicos desenvolvidos procuram responder as mudanças ocasionadas na relação entre o homem e o animal. Tais estudos convergem afirmando “um novo estatuto da condição animal, na qual estes parecem possuir cada vez mais agência na relação com humanos”. Estes dados parecem justificar a prevalência de determinada dependência e preferência dos participantes em relacionaram-se com seus cães se comparados aos homens.

Discussão

Esta pesquisa objetivou investigar quais os benefícios e aspectos afetivos estão envolvidos na relação jovem adulto de Uberlândia, Minas Gerais e cão. Foram levantadas duas hipóteses como resposta para essa questão: “a relação jovem adulto e cão é um forte

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instrumento que traz benefícios sociais, psicológicos e físicos ao homem” e “existem vários aspectos afetivos presentes nesta relação”.

Os resultados encontrados nesta pesquisa revelaram que, a relação homem-cão inclui benefícios como: afeto, bem estar, alívio de estresse, amizade, alegria, companhia e melhora na qualidade de vida. Vários sujeitos relataram ocupar seu tempo ocioso cuidando de seu animal, levando-o para passear e brincando, o que resulta em incentivo para realizar atividades físicas. Além disso, foram relatados fatores referentes à melhoria na sociabilidade promovida pelo cão. Em se tratando dos aspectos afetivos, a pesquisa mostra a presença de sentimentos como: amor, amizade, saudade, preocupação e amor parental, confirmando assim as duas hipóteses levantadas no início da pesquisa.

Além disso, verificou-se como fator relevante e presente na maioria das relações estabelecidas pelos sujeitos com seus cães a antropomorfização, visto que, todos os participantes conversam com o cão e o consideram como membro da família. Além disso, 90% dos participantes compram presentes para seus cães e 83,33% percebem características pessoais semelhantes no animal. Atribuir características humanas ao animal é aceitável, desde que se considerem as necessidades distintas entre as espécies. Apenas um dos sujeitos emitiu respostas que denotavam algo exagerado em sua relação com o cão. Respostas como: “é a melhor relação da vida”, “prefere passar seu tempo com o cão do que com pessoas” “o cão representa tudo na vida” dentre outras. Percebe-se a necessidade de atentar-se para esses extremos, que podem sair do benefício para o patológico. Um aspecto de grande importância encontrado foi o significado que o cão representa ao seu tutor. Respostas como amor incondicional, lealdade, fidelidade, respeito e segurança foram emitidas pela maioria dos sujeitos, associando que essas características o ser humano deixa a desejar.

Analisando os dados obtidos, percebemos que o cão tem ocupado um lugar de sujeito na vida das pessoas entrevistadas. Esse novo lugar representa uma vinculação afetiva, muitas vezes parental, em que se busca no animal algo que parece estar além do que o homem pode oferecer. Nesta nova relação, o cão deixa de ser visto como animal, porém não é visto como humano, parece possuir uma nova definição de “ser” que permeia entre o primitivo e o civilizado. Estas características nos levam à reflexão da importância de se estudar mais profundamente a relação homem-cão, pois inúmeras podem ser as vantagens extraídas desse convívio, já utilizadas em psicologia através da Terapia Assistida por Animais, porém com pouco campo de pesquisa dedicado a esse estudo.

A relevância se torna mais clara, se tomarmos por referência a recente pesquisa divulgada pelo IBGE, que pela primeira vez na história pesquisou a presença dos cães nas famílias brasileiras. Os dados desta pesquisa revelaram que a população de cães domésticos em 2013 era expressivamente maior que a população de crianças. Como foi relatado na discussão, a maioria dos sujeitos dessa pesquisa são solteiros e não possuem filhos. Como a relação estabelecida pode ser considerada parental, abre-se outra oportunidade para pesquisas, no intuito de descobrir o lugar que o cão tem ocupado nas novas constituições familiares. Referências

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