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Território epistemológico da geografia física brasileira contemporânea

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Instituto de Geociências

JACY BANDEIRA ALMEIDA NUNES

TERRITÓRIO EPISTEMOLÓGICO DA GEOGRAFIA FÍSICA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

CAMPINAS 2019

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JACY BANDEIRA ALMEIDA NUNES

TERRITÓRIO EPISTEMOLÓGICO DA GEOGRAFIA FÍSICA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

TESE APRESENTADA AO INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE DOUTORA EM GEOGRAFIA NA ÁREA DE ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL

ORIENTADOR: PROF. DR. ANTONIO CARLOS VITTE

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA JACY BANDEIRA ALMEIDA NUNES E ORIENTADA PELO PROF. DR. ANTONIO CARLOS VITTE

CAMPINAS 2019

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Marta dos Santos - CRB 8/5892

Nunes, Jacy Bandeira Almeida,

N922t NunTerritório epistemológico da geografia física brasileira contemporânea / Jacy Bandeira Almeida Nunes. – Campinas, SP : [s.n.], 2019.

NunOrientador: Antonio Carlos Vitte.

NunTese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências.

Nun1. Territórios. 2. Geografia física. 3. Epistemologia (Teoria do conhecimento). 4. Pós-graduação. I. Vitte, Antonio Carlos, 1962-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Geociências. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Epistemological territory of contemporary brazilian physical

geography

Palavras-chave em inglês:

Territories

Physical geography

Epistemology (theory of knowledge) Post-graduation

Área de concentração: Análise Ambiental e Dinâmica Territorial Titulação: Doutora em Geografia

Banca examinadora:

Antonio Carlos Vitte [Orientador] Carlos Francisco Gerencsez Geraldino Francisco Sergio Bernardes Ladeira Antonio Henrique Bernardes

Arêude Bortolozzi

Data de defesa: 31-07-2019

Programa de Pós-Graduação: Geografia Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a)

- ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0001-9965-2962 - Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/6965169125366979

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AUTORA: Jacy Bandeira Almeida Nunes

TERRITÓRIO EPISTEMOLÓGICO DA GEOGRAFIA FÍSICA BRASILEIRA CONTEMPORÂNEA

ORIENTADOR: Prof. Dr. Antonio Carlos Vitte

Aprovado em: 31 / 07 / 2019

EXAMINADORES:

Prof. Dr. Antonio Carlos Vitte - Presidente

Prof. Dr. Antonio Henrique Bernardes

Prof. Dr. Carlos Francisco Gerencsez Geraldino

Profa. Dra. Arlêude Bortolozzi

Prof. Dr. Francisco Sergio Bernardes Ladeira

A Ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros, encontra-se disponível no SIGA - Sistema de Fluxo de Tese e na Secretaria de

Pós-graduação do IG.

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Dedico,

A Deus, por ter iluminado mais uma etapa de meu caminho em busca do conhecimento, concedendo-me inspiração e coragem.

À minha família, por suportar uma mãe, companheira, sogra, filha, irmã, tia que, às vezes, parecia pela metade; pelo auxílio nas horas difíceis numa demonstração de amor incondicional.

Em especial, à minha mãe, meu maior exemplo de garra e perseverança.

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AGRADECIMENTOS

Ao professor Dr. Antônio Carlos Vitte, pela confiança, pela orientação dada e, sobretudo, pela compreensão, tranquilidade e sabedoria encorajadora em relação ao meu caminhar no processo.

Aos colegas/amigos do Dinter UNEB/UNICAMP, pela atenção, pelo carinho e pela especial relação afetiva construída na colaboração, que muito contribuíram para a conclusão do doutorado.

Aos professores Antônio Bernardes e Rodrigo Dutra Gomes, pelas contribuições na qualificação, bem como pelo atendimento ao nosso convite para fazer parte da Banca Examinadora.

Às amigas e colegas da UNEB e da Escola Estadual Padre Alfredo Haasler, em especial, Ione Oliveira Jatobá, sempre presente, e Luci Jatobá, pela compreensão.

À minha amiga Rejane Silva Santos, pela sua presteza em contribuir.

Enfim, a todos que contribuíram direta ou indiretamente para que esta pesquisa fosse produzida, em especial, Gisele Lima, cujo auxílio foi imprescindível para a conclusão desta tese.

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As ciências lidam efetivamente com seus limites, descobrem que não podem mais responder às suas perguntas nos redutos de suas especialidades, no reduto em que se mantiveram em reprodução ampliada. Separadas pelo advento de uma necessidade analítica, as ciências reencontram sua fonte comum, a busca que fora deixada de lado em favor de um conhecimento pragmático. Todas as construções científicas procuram o conhecimento e, como tal, este não pode ser reduzido aos limites institucionais, não se encerram no recorte analítico que se impõe às ciências e a seus específicos objetos. Diante de seus limites, as ciências clamam filosofia e, paradoxalmente, a filosofia se torna científica na Academia. A unidade do saber é cobrada depois de um longo voo no rumo da fragmentação e da produção técnica. Já não se pode produzir conhecimento em Física sem filosofar, já não se pode produzir conhecimento em Geografia sem colocar a questão de uma reconstrução epistemológica e, portanto, filosófica. (SILVEIRA & VITTE, 2010, p. 13)

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RESUMO

Este estudo teve como objetivo geral compreender a evolução e o território epistemológico da Geografia Física contemporânea no país, tomando como referência empírica as produções intelectuais dos coletivos sociotécnicos e a expectativa de construir uma proposta conceitual para o construto Território Epistemológico. Ele parte das premissas de que: I) as produções intelectuais (documentos) disponíveis no ciberespaço são práticas discursivas que refletem o cognitivo e o social; II) os coletivos sociotécnicos são os programas de pós-graduação em Geografia – PPGGs; e III) o Território Epistemológico é o campo ou a arena de domínio filosófico, histórico, político, social e cognitivo, que configura a dinâmica científica de um saber ou campo disciplinar. Defende a tese de que o território epistemológico de um campo científico é produto das múltiplas contingências que repercutem na evolução epistemológica de um saber, através das mudanças evolutivas oriundas das interações históricas, sociais e cognitivas. Utiliza como argumento principal que o período que corresponde à contemporaneidade, referente aos últimos 50 anos, é marcado por múltiplas contingências na atividade científica, entre elas a desqualificação

ontológica, a desconfiguração axiológica, a desestabilização epistemológica e a diversidade metodológica, que, associadas à nova ordem social em rede da “Modernidade reflexiva”,

afetam as tradições de pesquisa, implicando a Ressignificação Científica. Ressignificação proveniente das mudanças evolutivas, que afetam e afetarão os modos explicativos e interpretativos, as formas de produzir o conhecimento científico, as concepções, conceitos, propósitos e valores imbricados nas práticas discursivas que estruturam a episteme e na evolução epistemológica da Geografia. O desenho metodológico, à luz dos fundamentos teóricos e metodológicos da perspectiva epistemológica construcionista e da Arqueologia do Saber, articula elementos da Análise de Documentos e da Análise do Discurso, a partir da interlocução com os fragmentos das produções intelectuais (artigos, ensaios, teses e dissertações), disponíveis no ciberespaço. Os percursos da investigação trilhados foram configurados por três caminhos sucessivos, complementares, articulados e, conforme as necessidades, oriundos da busca digital, por documentos dos autores e dos coletivos sociotécnicos. Concebe os documentos de domínio público como produções intelectuais dos Programas de Pós-Graduação em Geografia, disponíveis nas plataformas digitais oficiais, tais como plataforma lattes, catálogo de teses e dissertações da Capes.

Palavras-Chave: Território Epistemológico; Geografia Física; Evolução epistemológica;

Programas de Pós-Graduação em Geografia.

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ABSTRACT

This study aimed to understand the evolution and epistemological territory of contemporary Physical Geography in Brazil, taking as empirical reference the intellectual productions of socio-technical collectives, and the expectation of constructing a conceptual proposal for the Epistemological Territory construct. Part of the premises: I) the intellectual productions (documents) available in cyberspace are discursive practices that reflect the cognitive and the social; II) the socio-technical collectives are the postgraduate programs in Geography - PPGG; II) the Epistemological Territory is the field of philosophical, historical, political, social and cognitive domain that configures the scientific dynamics of a knowledge or disciplinary field. The thesis defends that the epistemological territory of a scientific field is the product of the multiple contingencies that affect the epistemological evolution of knowledge, through the evolutionary changes arising from historical, social and cognitive interactions. It uses as its main argument that the period that corresponds to contemporaneity, referring to the last 50 years, is marked by multiple contingencies in scientific activity, including ontological

disqualification, axiological deconfiguration, epistemological destabilization and methodological diversity, which, associated to the new networked social order of “Reflective

Modernity”, affect the research traditions and implied the Scientific Reframing. Reframing from evolutionary changes, which affect and affected the explanatory and interpretative modes, the ways of producing scientific knowledge, the conceptions, concepts, purposes and values imbricated in the discursive practices that structure the episteme and in the epistemological evolution of Geography. The methodological design, from the theoretical and methodological foundations of the constructionist epistemological perspective and the Archeology of Knowledge, articulates elements of Document Analysis and Discourse Analysis, from the dialogue with the fragments of intellectual productions (articles, essays, theses and dissertations), available in cyberspace. The routes of the research were configured through three successive, complementary, articulated paths and derived from the digital search for documents by the authors and the socio-technical collectives. It conceives public domain documents as intellectual productions of postgraduate programs in geography, and available on official digital platforms such as: lattes platform, catalog of theses and dissertations by Capes.

Keywords: Epistemological Territory; Physical geography; Epistemological evolution;

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Fragmentos do livro “Epistemologia”, de Bachelard ... 43 Quadro 2 - Abordagens da perspectiva antidiferenciacionista da sociologia da

ciência. ... 71 Quadro 3 - Fragmentos do texto do professor Antônio Carlos Vitte ... 80 Quadro 4 - Fragmentos do texto “A pesquisa Geográfica”, de Pierre Monbeig ... 128 Quadro 5 - Fragmentos do texto “A revolução quantitativa na geografia e seus

reflexos no Brasil, de Galvão e Faissol (1970) ... 139 Quadro 6 - Fragmentos do texto “Tendências atuais da Geografia Brasileira”, de Manuel Correira de Andrade, 1985 ... 141 Quadro 7 - Fragmentos do texto “As perspectivas dos estudos geográficos”, de Chistofoletti. ... 150 Quadro 8 - Árvore genealógica de orientação ... 167

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LISTA DE MAPAS

Mapa 1 - Representação dos quantitativos da produção intelectual dos PPGGs, de 2012 a 2018 ... 35 Mapa 2 - Localidade onde foram realizadas as pesquisas da PPGG/USP-GF, no recorte temporal 1987 – 2018 ... 169

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1 Configuração do Objeto de Estudo da Geografia Física Contemporânea. ... 158 Ilustração 2 Nuvem de palavras do coletivo PPGG/UFBA, recorte temporal 2012 – 2018 ... 161 Ilustração 3 Nuvem de palavras do coletivo PPGG/UFF, recorte temporal 2012 – 2018 ... 163 Ilustração 4 Nuvem de palavras do coletivo PPGG/UFF, recorte temporal 2012 – 2018 ... 164 Ilustração 5 Nuvem de palavras do coletivo PPGG/UFPA, recorte temporal 2012 – 2018 ... 165 Ilustração 6 Nuvem de palavras do coletivo PPGG/UFG, recorte temporal 2012 – 2018 ... 165

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

AD – Análise de Discurso

AGB – Associação dos Geógrafos Brasileiros

ANPEGE – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia BPG – Boletim Paulista de Geografia

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico DC – Desenvolvimento do conhecimento científico

PPGGs – Programas de Pós-Graduação em Geografia TE – Território Epistemológico

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Sumário

INTRODUÇÃO ... 15

1 Das suposições filosóficas aos percursos da investigação: o caminho metodológico trilhado ... 25

1.1 As suposições filosófica ...26

1.2 o desenho metodológico ...27

1.3 A análise das produções intelectuais ...36

2 Evolução epistemológica do desenvolvimento científico: contextualizando as ligações evolutivas. ... 40

2.1 A elucidação conceitual ...40

2.2 A episteme do desenvolvimento do conhecimento científico ...49

2.3 As ligações evolutivas da evolução epistemológica na Geografia ...76

3 Cenário epistêmico da Modernidade Reflexiva: o espaço-tempo das múltiplas contingências? ... 85

3.1 Modernidade Reflexiva e a Ressignificação Científica ...87

3.2 As redes na ressignificação científica ...99

3.3 De disciplinas científicas ao conceito de territórios epistemológicos .. 108

3.3.1 Elementos estruturantes do TE ... 117

4 Da territorialidade dos programas de pós-graduação ao Território Epistemológico da Geografia Física ... 122

4.1 Trajetória da pós-graduação em Geografia no Brasil. ... 123

4.2 A episteme dos Territórios Epistêmicos (TE) da Geografia Física contemporânea ... 157

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 173

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INTRODUÇÃO

Vamos, dia a dia, superando nossas ingenuidades. Ninguém tem uma compreensão total de todas as coisas, nem mesmo a compreensão total de uma única coisa. Vamos arranhando as coisas passo a passo, momento a momento, descobrindo novos sentidos, ampliando compreensões, penetrando mais a fundo no seu mistério.

Pedrinho A. Guareschi - PUC do Rio Grande do Sul

Empreender a produção de uma tese doutoral é um processo dialógico. Implica imersão profunda não só na interlocução com os professores/autores das obras lidas, apropriadas e (res)significadas, mas também nas idas e vindas com as lembranças, inseguranças e inquietações, que vão contribuindo passo a passo para a construção do relato, elucidando as compreensões construídas e reconstruídas. Implica, por vezes, embates institucionais, cognitivos e afetivos sobre os fatos e fenômenos estudados. Este relato de pesquisa diz respeito aos produtos dessa jornada e tem como intuito apresentar as reflexões e interpretações estabelecidas no processo de construção do objeto de investigação.

Produto que surgiu do desejo inicial de desvelar a complexidade da dinâmica científica na Geografia contemporânea através da sua evolução epistemológica. Entretanto, com as delimitações e (res)significações contínuas das experiências no doutorado e no percurso da investigação, bem como das contribuições na qualificação, observamos a ocorrência de setores específicos da experiência científica no âmbito da ciência geográfica, para as quais, Bachelard (2006) atribuía a noção de “região epistemológica”, passou a ter como focos o saber1 e as condições históricas, sociais e cognitivas para a existência de seu domínio epistêmico, daí a proposta de construção conceitual do construto Território

1

Consideramos relevante esclarecer que “o saber” a que nos referimos nesta tese “trata de uma categoria metodológica, um recurso instrumental, que significa o nível do discurso e das formulações teóricas, próprios do saber científico ou com pretensão à cientificidade. Mesmo quando não legitimado como ciência, o saber possui uma positividade e obedece a regras de aparecimento, organização e transformação que podemos descrever”. (PORTOCARRERO, 2002, p. 45)

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Epistemológico2 - TE da Geografia Física contemporânea. Um fenômeno geográfico e imaterial desvelado nas produções intelectuais dos programas de pós-graduação em Geografia no Brasil, na condição de coletivos sociotécnicos que criam, consolidam e propagam TEs na dinâmica científica.

Portanto, esta tese se revela numa produção que, através do olhar geográfico sobre a evolução e o domínio epistemológico, dialoga com o campo da Epistemologia3, da Historiografia e da Arqueologia dos Saberes. Por isso, manifesta-se numa interlocução entre a Geografia do Conhecimento e outros campos científicos como a Sociologia do Conhecimento, a Filosofia da Ciência e a História Social da Ciência, com o intuito de promover a compreensão da dinâmica científica “no tempo presente” (SILVA, 2012, p. 221).

A celeuma que vem se desvelando nos últimos anos nos estudos sobre a Epistemologia da Geografia e a História social do pensamento geográfico contribuiu para a existência de um número significativo de produções neste campo científico4. No entanto, a expectativa é superar potenciais lacunas na Epistemologia da Ciência Geográfica sobre a temática da evolução epistemológica, pois, conforme apontam Bernardes, Reis Jr e Dutra Gomes (2015, p. 297), “a Geografia brasileira traz uma situação de [...] incipiência de tais discussões (epistemológicas) em âmbito nacional [...] Com isso, muitas vezes, são percebidas certas carências nas discussões”.

Perspectiva que confirmamos nas buscas nos bancos de teses e dissertações on-line, pois, embora apareçam estudos sobre a produção científica na

2 Metáfora científica utilizada para designar o campo ou arena de domínio epistêmico de possibilidade de existência de um saber (temática/área de conhecimento), que, no âmbito deste estudo, é a Geografia Física.

3Que “

devotam atenção às questões da racionalidade, linguagem, julgamento e evolução das ideias e práticas científicas – por isso, aliás, a estreita relação entre epistemologia e metodologia”. (BERNARDES; REIS JR; DUTRA GOMES, 2015, p. 297)

4 Pois, segundo Reis Jr (2007, p. 3), é impossível ignorar que “Os últimos anos vêm testemunhando uma muito legítima preocupação por parte da comunidade acadêmica ligada à Geografia. Estamos nos referindo ao cuidado coerentemente dispensado ao resgate de autores e das textualizações que eles nos deixaram como herança [...], o empreendimento tem prosperado sobremaneira, fazendo com que, por conta disso, determinados centros de pesquisa – muitos dos quais já notabilizados pelas investigações a que tradicionalmente se propõem, em campos teóricos e/ou pragmáticos da disciplina geográfica – vão adquirindo status de polo. [...] poderíamos citar o caso da Universidade Estadual Paulista, com (no campus de Rio Claro) a atuação dos Professores Sílvio Carlos Bray e José Carlos Godoy Camargo e (no campus de Presidente Prudente) a do Professor Eliseu S. Sposito. Mas também os casos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em virtude da atuação engajada da Professora Lia Osório Machado, bem como do Professor Paulo César da Costa Gomes, e da Universidade de São Paulo, pelas sabidas preocupações historiográficas do Professor Antônio Carlos Robert Moraes.”

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Geografia em nível da pós-graduação, não identificamos nenhuma referência à

episteme da Geografia Física contemporânea ou sobre território epistemológico,

temáticas que serão abordadas nesta produção. Observamos nos últimos anos um número significativo de historiografias que se aproximaram de tais discussões e que trazem contribuições significativas na tessitura do relato de pesquisa.

Uma das produções cujas ideias mais se aproximaram da nossa temática foi a tese de André Nunes de Souza, da Universidade Federal da Bahia, que teve como objetivo “analisar o percurso historiográfico do campo disciplinar e acadêmico da Geografia na Bahia e em São Paulo” (SOUZA, 2017, p. 10). Neste trabalho, o autor responde a “como as universidades UFBA/USP se inserem na historiografia da geografia brasileira”. O ponto de vista é que, pela constituição de dois programas de pós-graduação, é possível elucidar as principais influências teórico-epistemológicas que fundamentaram sua consolidação (institucionalização da Geografia brasileira), diante dos antecedentes político-institucionais relevantes.

Mas qual a contribuição efetiva desta tese para este estudo? Entre as várias contribuições, destacamos duas. Primeiro, por reconhecer e indicar a força centrífuga e centrípeta dos programas de pós-graduação em Geografia, como instituições sociais e lugares de mediação na construção epistêmica, dando-lhes a atribuição de coletivos sociotécnicos na consolidação disciplinar, na diversidade das perspectivas e práticas discursivas que permeiam a produção científica brasileira. Segundo, por apontar a necessidade de superar as tradicionais análises “internalistas” versus “externalistas”, que marcaram a história social da ciência, conforme denúncia Lira (2013, p. 42):

Este paradoxo fomentou o debate cujas posições aparentemente opostas foram chamadas de ‘externalistas’ por aqueles que defendiam a determinação do contexto histórico e social sobre a teoria científica e de ‘internalistas’, cujos requisitos lógicos e a coerência davam conta de explicar o apogeu e o declínio das teorias.

Destarte, a nossa tese é que a evolução epistemológica é um produto histórico, sociológico e simultaneamente cognitivo, que envolve uma multiplicidade de contingências, entre elas: a concepção e os propósitos da ciência em vigor, a forma como ela foi organizada no país, a interação entre ciências, atores e ideias, o papel do Estado e como ela foi consolidada e legitimada pela sociedade. Por isso, o nosso argumento principal é que as múltiplas contingências, oriundas da

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modernidade reflexiva, atuam como um conjunto de circunstâncias eventuais, articuladas, complementares e, simultaneamente, contraditórias, contemplando diversas dimensões – filosófica, social, cognitiva, afetiva, cultural, temporal, científica, política e econômica – que afetam a evolução epistemológica dos campos e saberes científicos. Em outras palavras, as múltiplas contingências funcionam como estruturas objetivas e subjetivas, internas e externas, micro e macro, que repercutem direta ou indiretamente na práxis científica e, por isso, implicam diretamente a evolução epistemológica.

Outra produção que contribuiu de forma significativa para a construção do nosso objeto de investigação foi a tese de Ana Lúcia Felix dos Santos, defendida em 2008, na UFPE. Seu estudo tem como foco a análise do “subcampo política e educação nos programas de pós-graduação em Educação do Nordeste”. Entre as várias contribuições que, inclusive, justificam a aproximação com nosso objeto de estudo, destacamos: I) a compreensão de que o fazer científico é um processo de produção, distribuição e consumo dos discursos científicos; II) a elucidação de que existe uma relação intrínseca entre saber, poder, refletir e fazer, que repercute direta ou indiretamente no potencial de “consolidação/manutenção e subversão do campo acadêmico”; e III) o reconhecimento do potencial das produções intelectuais como fontes de dados relevantes. (A. L., SANTOS, 2008)

No entanto, não foram só as teses e dissertações, na condição de produções intelectuais, que esclareceram o que já se sabia e o que precisava ser elucidado, contribuindo para a construção do nosso objeto de pesquisa, pois a interlocução estabelecida nas leituras das obras e artigos indicados e/ou localizados nos periódicos on-line no transcorrer do doutorado foi significativa, tendo feito com que nossa investigação ganhasse novos contornos, diferenciando-se das teses consultadas, por isso, faz-se relevante destacar algumas contribuições.

Por ser um estudo que transita no campo da História Social do Pensamento Geográfico, considerando o que Godoy (2010) aponta no texto “Algumas considerações para uma revisão crítica da História do Pensamento Geográfico”, a produção científica da área vem se constituindo basicamente por duas tendências: uma em que a reconstrução histórica vai em direção ao passado, investigando as origens das concepções de ciência existentes no presente; e outra, que faz o processo inverso, isto é, vai do “passado em direção ao presente”,

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convictos da existência de uma correlação entre a sucessão dos acontecimentos no tempo e no espaço, com o intuito de “confirmar o paradigma do presente”. Para transcender tais tendências, o autor alerta que é preciso compreender “a organização, a produção do conhecimento, as disputas institucionais de segmentos específicos da sociedade no interior da comunidade científica e as relações de poder que o historiador estabelece com o passado, [...] fundamentais para a compreensão e a crítica do pensamento científico” (GODOY, 2010, p. 159), visto que, além da dimensão geográfica, contempla as dimensões sócio-históricas e filosóficas, pois tenciona compreender a evolução e o domínio epistemológico do presente, em que passado distante, recente e futuro estão imbricados, coexistem, performam e se articulam de forma contínua e dinâmica nas práticas discursivas, produzindo sentidos.

Claval (2013) alerta que, para superar o senso comum e construir uma história que seja coerente com a ciência geografia, é condição indispensável que o pesquisador se ligue “à evolução das práticas, dos saberes-fazeres e dos saberes geográficos vernaculares, indispensáveis a todos”, de forma que esse relato possa se situar e dar sentido, isto é, uma identidade (um sentido ou significado), sua própria existência e a existência dos grupos de que faz parte. Na fala do próprio autor:

Traçar a história da geografia tal como ela se desenrolou desde o fim do século XIX não é somente contar a história da carreira e das pesquisas de certo número de indivíduos, é sublinhar a formação que eles receberam, os saber-fazer que eles assimilaram, as práticas das quais eles se impregnaram, é relembrar que suas atividades se inscreviam dentro de um métier – o dos geógrafo universitários. (CLAVAL, 2013, p. 4 - 5)

A ideia é que a formação, o conteúdo geográfico, o saber-fazer e as atividades dos pesquisadores, isto é, suas interações, estão inscritas numa temporalidade e simultaneamente numa espacialidade, produzindo territorialidades, que se consubstanciam no métier do doutor/geógrafo e ator social. Daí o intento desta tese, que se constitui num “discurso” da pesquisadora, segundo seu métier de licenciada e professora de Geografia na Educação Básica e na Graduação em Geografia da Universidade Estadual da Bahia - UNEB, Campus IV/Jacobina.

Mas por que especificamente a aplicação da discussão teórica através dos Territórios Epistemológicos na Geografia Física? Primeiro, é relevante

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esclarecer qual acepção de território estamos utilizando, pois, segundo Haesbaert (2004) e Saquet (2010), é notória a polissemia que acompanha as várias utilizações da categoria e de sua conceituação. Assim, com Fernandes (2017), dialogamos com as ponderações de Saquet (2010) em relação às características que o autor atribui à categoria:

Estou considerando central a necessidade de se apreender o movimento em estudos territoriais, como produto de determinações (i)material, de forças econômicas, políticas e culturais em unidade e em saltos quanti-qualitativos na dinâmica socioespacial. Movimento que é relacional, processual e condições da (i)materialidade de nossa vida cotidiana. A matéria e a ideia estão em movimento constante, no qual, há superações, articulações territoriais, internas e externas a cada território, des-continuidades, fluidez e identidade. (SAQUET, 2010, p. 22)

Diante das características apontadas pelo autor, acreditamos que a categoria Território seja adequada para contemplar a arena de domínio histórico, político, social que a dinâmica científica configura, considerando que é um fenômeno relacional, processual, multidimensional e multiescalar, é imaterial e paradoxalmente produto das determinações objetivas e subjetivas e é portador de uma territorialidade com fronteiras epistêmicas, embates, coletivos e solo.

Segundo, o que compreendemos com olhar ‘Epistemológico’? Utilizamos

epistemologia, epistemológico5 ou epistêmico, no sentido de elucidar o que garante efetivamente a identidade científica entre as várias positividades de existência de um saber, o seu núcleo de articulação da explicação científica e domínio de atuação como campo acadêmico ou área de conhecimento científico, de forma que possa apresentar “a ‘interface’ do campo disciplinar em questão com as demais ciências [...] na intenção de desenhar as possibilidades de tráfego epistemológico entre as vizinhanças: trânsito de conceitos, teorias e técnicas” (REIS JR, 2014, p. 3). Isso porque tencionamos, com a investigação, compreender o que possibilita aos pesquisadores geógrafos responder, através de suas produções discursivas, a questões como: Qual(is) a(s) natureza(s), os propósitos da Geografia Física que

5

No âmbito desta produção, defendemos a perspectiva adotada por Gomes (2009, p. 15) de que a epistemologia é “um domínio aberto ao reconhecimento da pluralidade de recursos e orientações disciplinares científicas. Ser um domínio de discussões significa exatamente não estar orientado de forma exclusiva e não agir como se detivéssemos algum tipo de certeza que legitimasse, a priori, esse ou aquele caminho em detrimento de outros possíveis”. Com isso, reconhecemos a existência de Epistemologias diversas e possíveis, daí porque o intuito de uma análise epistemológica não pode ser o de “estabelecer, ao final, uma orientação que deve ser seguida por todos ou quase todos”, mas de “demonstrar que a cada momento as respostas são múltiplas e que essa pluralidade crítica é a razão mesmo da existência da ciência” (GOMES, 2009, p. 15)

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está sendo produzida nos programas de pós-graduação em Geografia no Brasil na contemporaneidade? Qual a maneira de fazer ciência, legitimada e apropriada pelo coletivo sociotécnico da Geografia Física? E, o quê, efetivamente, dá à produção intelectual da Geografia Física contemporânea o elo de pertencente à Ciência Geográfica?

E, terceiro, esclarecemos que optamos pela Geografia Física porque, de acordo com Vitte (2011a, p. 67):

Ao longo do tempo e, principalmente, a partir do forte impacto do positivismo na Ciência Geográfica, é que houve uma profunda especialização de as disciplinas se tornarem relativamente independentes entre si e, [...] se apresentarem desconexas em relação ao sentido da Ciência Geográfica e da Geografia Física em particular. Esse fato se reflete na constante criação de associações independentes, congressos e seminários específicos de cada disciplina em outros campos de investigação, como pode ser exemplificado pela geomorfologia, com a Geologia. A geografia física contemporânea tem uma grande diversidade de assuntos. [...] vivemos o problema filosófico da identidade.

O autor revela um itinerário e um fundo epistêmico em que a Geografia Física, como uma especialidade cognitiva (um saber) da Ciência Geográfica, busca uma identidade científica e social na contemporaneidade, não só em função de sua natureza interdisciplinar com fronteiras epistêmicas transitórias, mas como produto da fragmentação da própria Geografia, que, para Vitte (2011b), está enraizada e reverbera no interior do saber-fazer, potencializando o “isolamento” do subcampo e de seus pesquisadores, pois instaura barreiras epistemológicas6 e dialógicas na comunidade científica e cria a imagem de que suas especialidades são ‘disciplinas’ “independentes da própria Ciência Geográfica”, que necessitam ser “aplicáveis”, evidenciando uma imagem social desta ciência.

Nessa perspectiva, a fala de Vitte (2011b), entre outras, reafirma e justifica a originalidade e a demanda pela pesquisa sobre as inquietações com que se debruça esta tese, pois o foco de produzir uma análise das condições históricas, sociais e cognitivas para a existência científica de um sabe, implica contemplar as mudanças ou permanências e características de seu domínio epistêmico, através da dinâmica científica do presente, bem como no diálogo com as dimensões

6

Defendemos que tais barreiras são constituídas através da diversidade lexical, epistemológica e metodológica estabelecidas no sentido e no significado do fazer científico de um saber.

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filosóficas, sócio- históricas, geográficas e epistemológicas da Geografia Física Contemporânea.

Daí a consciência de que a elaboração desta produção trará também contribuições de ordem prática, porque, na trajetória profissional como professora de metodologia da pesquisa em Geografia, orientadora de Trabalhos de Conclusão de Curso - TCC, membro do Comitê Científico do campus IV/UNEB/Jacobina e do Comitê de Ética em pesquisa com seres humanos/UNEB, foi possível constatar práticas científicas e conteúdos diversos que denotavam múltiplas imagens e situações intersubjetivas de conceber e desenvolver ações com a função de ‘prescrever’, ‘normatizar’ e ‘colonizar’ o fazer científico na ciência geográfica, que legitima, consolida e subverte determinados subcampos em detrimentos de outros, fragmentando a ciência geográfica.

Outro fator a ser observado é que as produções intelectuais, principalmente TCC e IC, só apresentavam padrões e critérios de cientificidade estabelecidos à luz da racionalidade moderna, exaltação dos procedimentos técnicos, sem mais reflexões axiológicas (ética e valores), epistemológicas e metodológicas. Por vezes, o uso da técnica pela técnica ou da teoria pela teoria sem articulação com a operacionalização dos conceitos, sem o exame da identidade científica do componente curricular, independentemente da área ou modalidade, pode estar a serviço de interesses diversos, seja omitindo dados e informações, seja permanecendo no óbvio ou na mera descrição, desconsiderando a essência da realidade e do raciocínio geográfico, isso porque não são consideradas as características e propriedades inerentes à identidade social e científica da Geografia.

Daí, os percursos investigativos trilhados serem configurados numa espiral dinâmica com encadeamento de autoprodução e reconstrução contínua do ir e vir das produções intelectuais (seus fragmentos) para a teoria, por meio de etapas sucessivas, complementares, articuladas entre análise documental e do discurso, conforme as necessidades oriundas da construção do objeto, utilizando a busca digital por documentos dos autores e dos coletivos sociotécnicos, disponíveis nas plataformas digitais oficiais, tais como plataforma lattes, plataforma sucupira, catálogo de teses e dissertações da Capes, entre outras fontes utilizadas na investigação.

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O estudo se constitui num compromisso de produzir conhecimento ético e científico sobre um fenômeno teórico e empírico, partindo do pressuposto de que o “ciberespaço”7 se constitui num campo empírico, não como reflexo do ‘espaço real’, mas se consubstanciando, efetivamente, como um espaço de interação entre os atores sociais, portando, um “Espaço do saber” continuamente “presente, mas dissimulado, disperso, transvertido, mesclado, produzindo rizomas aqui e ali. Emerge por meio de manchas, em pontilhado, em filigrana” (LÉVY, 1999, p. 120), mas pouco explorado teoricamente na produção científica da Geografia, cuja relevância informa o potencial para responder à questão que emergiu das considerações elencadas na construção do objeto de estudo – O que as produções intelectuais dos programas de pós-graduação em Geografia, na condição de coletivos sociotécnicos, nos revelam sobre a evolução e o território epistemológico da Geografia Física Contemporânea no Brasil?

Nessa ótica, esta pesquisa tem como objetivo geral compreender a evolução e o território epistemológico da Geografia Física contemporânea no país, através das produções intelectuais dos coletivos sociotécnicos, à luz dos fundamentos da Arqueologia do Saber. E como objetivos específicos:

 Apontar as circunstâncias que fazem do Território Epistemológico um fenômeno oriundo das múltiplas contingências que afetam evolução epistemológica.

 Descrever as mudanças, permanências e características que consubstanciam, nutrem e disseminam o Território Epistemológico da Geografia Física na Ciência Geográfica brasileira e contemporânea.

 Relatar o que as produções intelectuais dos coletivos sociotécnicos nos revelam sobre a episteme dos TEs na Geografia Física contemporânea, que consolida sua identidade científica e social.

Para alcançar os objetivos propostos, a composição da tese está organizada em quatro capítulos, esta introdução e as considerações finais. Uma estrutura que, através do trânsito dialético entre teoria, empiria e reflexão, contém

7 Ciberespaço, assim como Espaço do saber, são construtos cunhados por Pierre Lévy (1999), na obra “A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço”.

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como macroestrutura a apresentação dos fundamentos metodológicos e do processo de investigação no primeiro capítulo; no segundo, sistematização dos fundamentos teóricos utilizados e obtidos, através da revisão bibliográfica sobre a evolução epistemológica do desenvolvimento do conhecimento científico; o terceiro capítulo caracteriza o cenário epistêmico da modernidade reflexiva e as múltiplas contingências que contribuíram para a formação dos territórios epistemológicos na contemporaneidade; o quarto capítulo apresenta os resultados e a análise dos dados, descrevendo a territorialidade dos programas de pós-graduação em Geografia - PPGGs no Brasil, que contribuíram para a formação da episteme da Geografia Física, desvelando a episteme do Território Epistemológico da Geografia Física.

No entanto, embora cada capítulo tenha uma função na tessitura da rede de inferências e embates que emergiram das leituras, vivência profissional, formação , análise e interpretação dos dados coletados no ciberespaço, eles podem ser lidos de forma independente e estão diretamente relacionados com os objetivos propostos, e todos estabelecem questionamentos e conexões diretas entre si e com a tese final, por meio de argumentos, suposições iniciais e de seu papel no conjunto da obra. Por isso, alertamos que:

A dificuldade no Espaço do saber consiste em organizar o organizador, objetivar o subjetivante. O saber sobre o saber deriva de uma circularidade essencial, originária, inelutável. O conhecimento do conhecimento é, ipso facto, uma transformação do conhecimento, uma perpétua deriva, um pôr-se em situação dinâmica de reativar, reavaliar continuamente. (LÉVY, 1999, p. 163)

Essa é razão pela qual este relato não pode ser concebido como “verdade absoluta e acabada”, mas como um conjunto de elucubrações e provocações sobre outras tantas inferências e ‘dados’, que são fluidos, exorbitantes e transcendentes, características intrínsecas ao “ciberespaço”. Assim, fica a sugestão de que o intento de entrar de forma mais profunda na temática dos Territórios Epistemológicos e dos coletivos sociotécnicos no “Espaço do saber” implica uma contínua busca pelas atualizações dos dados.

Nessa perspectiva, esta produção intelectual teve como desenho básico o percurso metodológico que passaremos a apresentar.

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1 Das suposições filosóficas aos percursos da investigação: o

caminho metodológico trilhado

Caminhante, não há caminho, faz-se o caminho ao andar.

António Machado

Tomamos por empréstimo a fala do poeta espanhol António Machado para introduzir este capítulo por acreditarmos que a Metodologia da pesquisa utilizada foi uma contínua construção pautada inicialmente por três entendimentos que balizaram o processo. O primeiro foi o entendimento de que este capítulo deveria responder como desvelar a evolução e o território epistemológico da Geografia Física contemporânea do país. Em outros termos, qual o melhor percurso metodológico para nosso objeto de investigação? Nesse sentido, o intuito principal deste capítulo é apresentar o desenho metodológico que nos possibilitou alcançar os objetivos propostos na investigação.

O segundo entendimento que tínhamos foi necessidade de tomar como referência a articulação entre as suposições filosóficas8 da pesquisadora, a natureza do nosso objeto de investigação e os procedimentos de investigação. Isso porque construir conhecimentos científicos implica a contínua reflexão sobre os pressupostos que orientam a visão de ciência, de método e de realidade, bem como das várias possibilidades de interpretá-la.

8 Optamos por usar o termo suposição filosófica como bases que sustentam o “conjunto de crenças básicas que guiam a ação” do pesquisador. Isso porque as suposições filosóficas contemplam as principais concepções “com orientação geral sobre o mundo e sobre a natureza da pesquisa defendidas por um pesquisador. E tais concepções são moldadas pela área da disciplina do aluno, pelas crenças dos orientadores e dos professores em uma área do aluno e pelas experiências que tiveram em pesquisa. Os tipos de crenças abraçadas pelos pesquisadores individuais com frequência os conduzirão a adotar em sua pesquisa uma abordagem qualitativa, quantitativa ou de métodos mistos. (CRESWELL, 2010, p. 28 – 29)

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E, consequentemente, o terceiro entendimento é que consideramos o método científico como “um conjunto de concepções sobre a natureza, sobre o ser humano e sobre o próprio conhecimento, embasando os procedimentos utilizados na construção do conhecimento científico.” (SPINK; MENEGON, 2004, p. 65). Destarte, este capítulo introdutório coteja, além das suposições filosóficas que fundamentaram a pesquisa, descrever os percursos empreendidos no transcorrer da investigação.

1.1 As suposições filosófica

A principal suposição filosófica que norteou os caminhos metodológicos percorridos nesta pesquisa está diretamente vinculada à concepção de realidade e do real. Trabalhamos com a concepção de que a realidade é uma construção sócio- histórica e, simultaneamente cognitiva, na qual, elementos objetivos e subjetivos existem e se articulam de forma indissociável, contraditória, complementar e recursiva. Pois homens e mulheres vão de forma imbricada interpretando e ressignificando o ‘real’ e o ‘ideal’, sendo que o real na contemporaneidade, além de ser um fenômeno humano, social, espacial, temporal, é também virtual e passível de interpretação pela compreensão dos elementos objetivos e subjetivos, intrínsecos às práticas discursivas humanas.

Tomamos como referência que os critérios constituídos para definir ciência e validar o científico, tais como a existência de “evidências empíricas” ou o “ideal positivista” de um “método único” capaz de “dar conta do real”, fazem parte da “perspectiva do empiricismo ontológico”, na qual, segundo Corrêa (2018, p. 300), “o real se dá a conhecer e que o que devemos fazer é apreendê-lo com nossos sentidos e informações obtidas com base em diversas fontes”. Em contrapartida:

A adoção de uma postura construcionista implica a ressignificação da relação entre sujeito e objeto, que pressupõe a desfamiliarização da ideia cristalizada de dualidade. Há duas posturas que alimentam essa dicotomia: a) o empirismo (perspectiva exogênica), em que o objeto é a determinação última do conhecimento, sendo o objetivo da ciência a aproximação cada vez mais precisa aos objetos; b) o idealismo (perspectiva endogênica), em que as categorias de entendimentos são constitutivas da mente humana, sendo universais e necessárias para que se chegue ao conhecimento. Em contraste, na perspectiva construcionista, tanto o objeto como o sujeito são construções sócio-históricas: o modo como acessamos a realidade institui os objetos que constituem a realidade. (SPINK; MENEGON, 2004, p. 76)

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Por isso, este estudo no ensejo de transcender e diferir das concepções substantivas da tradicional epistemologia tomou como perspectiva epistemológica o Construcionismo e adotou encaminhamentos diversos, entre os quais destacamos: i) contempla o ciberespaço ou o virtual como mais uma dimensão do real, assim como as dimensões espacial e temporal; ii) considera que as produções intelectuais como referência empírica e, simultaneamente, como práticas discursivas, portadoras de sentidos explícitos e implícitos, que refletem não só o estilo de pensamento do(s) autor(es) como também o coletivo de pensamento legitimado no contexto de produção e publicação; e iii) utiliza percursos e procedimentos metodológicos diversos e articulados, considerando que o conhecimento científico se constitui numa construção intelectual, obtido na interlocução dinâmica, complexa e dialética entre sujeito e objeto do conhecimento, em que o trabalho do pesquisador, além de descrever, “interpreta o objeto que o informa”, consciente que a interpretação não nos permite “conhecer em sua plenitude” a realidade. E, por isso, concebe “a pesquisa científica como uma prática reflexiva e crítica, mas também como uma prática social”. (SPINK; MENEGON, 2004, p. 65).

1.2 o desenho metodológico

O esforço empreendido foi o de compatibiliza as referências teóricas e metodológicas, primando pela sintonia entre os elementos da pesquisa e os procedimentos utilizados, pois, conforme nos alerta Bonin (2001, p. 12), as:

Propostas multimetodológicas devem ser construídas em articulação orgânica com o problema, os objetivos e as problemáticas teóricas da pesquisa. Isto requer assumir efetivamente a tensão entre o objeto teórico e empírico na pesquisa. É neste embate que devem surgir as eleições de métodos e técnicas, assim como o desenho efetivo dos instrumentos de captação dos dados. Estratégias [...] não podem resultar de modismos, da pura e simples reprodução de construções já realizadas, nem do acionamento burocrático de métodos e de técnicas.

Diante da recomendação da autora, optamos por um desenho metodológico de base qualitativa que dialogou com dados quantitativos9, pela

9

Isso porque “a postura construcionista não trata mais de definir que métodos - quantitativos ou qualitativos – têm mais possibilidades de traduzir como são de fato as coisas. Ambas as metodologias, quantitativas e qualitativas, produzem versões sobre o mundo. A opção pela vertente

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pesquisa descritiva e, simultaneamente, interpretativa dos sentidos construídos, e por procedimentos que conjugaram um desenho multimetodológico em três percursos complementares, recursivos e articulados.

No primeiro percurso, com o intuito de responder às questões norteadoras: o que a evolução epistemológica do desenvolvimento do conhecimento científico nos revela na contemporaneidade sobre o seu território epistemológico? E por que a modernidade reflexiva, através das múltiplas contingências, provocou a ressignificação científica? Optamos como procedimentos a Revisão Bibliográfica, considerando que esta é reconhecida como estado da arte e tem como intuito situar o estado atual do conhecimento sobre a temática (evolução epistemológica), contribuindo para a construção do objeto de investigação, através da sistematização e do diálogo com as teorias já produzidas. No tocante aos resultados obtidos neste percurso, nós os apresentamos nos dois primeiros capítulos da tese.

O segundo percurso considera a necessidade de responder: como a territorialidade dos programas de pós-graduação em Geografia, através das redes discursivas consolidam, nutrem e propagam territórios epistemológicos na ciência geográfica contemporânea? Como a evolução epistemológica na modernidade reflexiva repercutiu no processo de formação dos Territórios Epistemológicos da Geografia Física no Brasil? E quais as ligações evolutivas oriundas dessa territorialidade? No esforço de elaboração de uma proposta conceitual para o construto científico Território Epistemológico, à luz dos fundamentos teóricos estabelecidos pelo diálogo com as proposições teóricas, conceituais e metodológicas da “Arqueologia do saber10”, de Foucault, estabelecemos com os procedimentos para a coleta dos dados os fundamentos da Análise Documental, isto, considerando que:

O documento constitui, portanto, uma fonte extremamente insubstituível em qualquer reconstituição referente a um passado relativamente distante, pois não é raro que ele represente a quase totalidade dos vestígios da atividade humana em determinadas épocas. [...] ele permanece como o único qualitativa em pesquisa tem talvez o mérito de tornar mais claros [...] os problemas e possibilidades de dar sentido ao mundo.” (SPINK; MENEGON, 2004, p. 78)

10 Isso porque, conforme nos aponta Portocarrero (2002, p. 48), “A história das problematizações se realiza por uma Arqueologia dos saberes e de sua integração a uma genealogia dos poderes, que permite traçar suas práticas. A história arqueológica permite delinear a forma das problematizações por meio da pesquisa do surgimento dos saberes, explicitando o nível do discurso, ao passo que a genealogia remete à prática em que se exercem as relações de poder”.

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testemunho de atividades particulares ocorridas num passado recente. O documento permite acrescentar a dimensão do tempo à compreensão do social. [...] graças ao documento, pode-se operar um corte longitudinal que favorece a observação do processo de maturação ou de evolução de indivíduos, grupos, conceitos, conhecimento, comportamentos, mentalidades, práticas etc., bem como o de sua gênese até os nossos dias. (CELLARD, 2008, p. 295)

Nosso ponto de vista coaduna com a fala de Cellard (2008), além de elucidarmos a relevância do ‘documento’ na condição de prática discursiva, ele apresenta o potencial para nos revelar o estilo de pensamento de seu autor e, simultaneamente, o coletivo de pensamento legitimado num dado contexto geográfico, social e histórico, consequentemente, fazer emergir as ligações evolutivas.

Nessa ótica, a estratégia de coleta foi feita por busca digital em documentos de domínio público, disponibilizados pelos programas de pós-graduação em Geografia – PPGGs (nos periódicos on-line) e de seus atores sociais (doutores), considerando que tais produções intelectuais (artigos e capítulos de livros, entre outras) são práticas discursivas que produzem sentido e nos remetem às regularidades no modo-de-ser-ver-perceber-agir do sujeito e do coletivo, além de que:

Os documentos de domínio público são produtos sociais tornados públicos. Eticamente estão abertos para análise por pertencerem ao espaço público, por terem sido tornados públicos de uma forma que permite a responsabilização. Podem refletir as transformações lentas em posições e posturas institucionais assumidas pelos aparelhos simbólicos que permeiam o dia a dia ou, no âmbito das redes sociais, pelos agrupamentos e coletivos que dão forma ao informal, refletindo o ir e vir de versões circulantes assumidas ou advogadas. Para os grupos profissionais, situados simultaneamente no institucional e no cotidiano, o mundo das publicações é igualmente rico, permitindo acesso às coalizões de pensamento e diálogo que denominou, [...] a partir de sua análise sociocultural. (P. SPINK, 2004, p. 136)

A perspectiva que adotamos e que converge com o ponto de vista do autor é que os documentos de domínio público são cotejados por redes discursivas peculiares que nos remetem a um estrato específico da sociedade, no nosso caso, a comunidade científica. E seus fragmentos (ou vestígios conforme dispõe a arqueologia) nos revelam, através dos elementos explicativos e explanatórios utilizados pelo autor, seus fundamentos (pressupostos teóricos e metodológicos). Daí, a razão por que os fragmentos foram utilizados como principal unidade desta

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análise, bem como fundamentos da visibilidade11 para a “explicitação do processo de interpretação12” e “elemento básico da produção de sentidos” (SPINK; LIMA, 2004, p. 104), Destarte, nos possibilitaram identificar as ligações evolutivas, através “dos ditos” (sentidos explícitos – termos, conceitos etc.) e dos “não ditos” (sentidos implícitos – pressupostos, concepções etc.), que permeiam e informam a legitimidade discursiva dos coletivos de pensamento na contemporaneidade, isso, tomando como referência a questão – Quais as materialidades discursivas

(fragmentos) aparecem nessa episteme? E estas materialidades nos permitiram

construir as categorias específicas e derivadas (ligações evolutivas) que foram utilizadas na análise das produções intelectuais (resumos das teses e dissertações). Portanto, as categorias específicas e derivadas foram construídas segundo as afinidades (similitudes) de significação que emergiram dos fragmentos das produções intelectuais dos autores/obras (documentos públicos) analisados nesse segundo percurso, cujos resultados apresentamos na primeira parte do quarto capítulo quando abordamos a territorialidade dos coletivos sociotécnicos .

No terceiro percurso investigativo, o foco concentrou-se na aplicação da proposta conceitual de território epistemológico, além de utilizarmos como estratégia para coleta dos dados os programas computacionais13 scriplattes e Iramuteq, levando em consideração suas potencialidades e limitações para obtenção, mineralização e visibilidade dos dados, articulamos elementos da Análise do Discurso - AD para estabelecermos a interlocução entre o referencial teórico-metodológico utilizado e as produções intelectuais (teses e dissertações) da Geografia Física, pela análise dos resumos das produções intelectuais, disponíveis na biblioteca digital do catálogo de teses e dissertações da Capes. Um corpus que teve seu recorte temporal de 2012 a 2018, período disponível na plataforma.

11

Para Spink e Lima (2004, p. 104), a visibilidade é concebida como pressuposto básico da intersubjetividade, como estratégia para assegurar o “rigor” científico da interpretação.

12

Tomamos a fala de Spink e Lima (2004) também para indicar que defendemos o ponto de vista de que: “A interpretação emerge, dessa forma, como elemento intrínseco do processo de pesquisa. Não haveria, assim, momentos distintos entre o levantamento das informações e a interpretação. Durante o percurso da pesquisa, estamos imersos no processo de interpretação.” (SPINK; LIMA, 2004, p.105)

13

Caso contrário, seriam inviabilizadas a detecção, a visualização e a análise dos dados/informações no ciberespaço, considerando o volume e fluxo de atualização contínua dos mesmos.

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Nessa ótica, além da Análise de Documentos que apontamos no percurso anterior, utilizamos a Análise do Discurso14, cuja construção dos dados foi conduzida em quatro etapas, sempre articuladas e complementares na interpretação dos fragmentos encontrados. Na primeira etapa, considerando a representatividade intencional, de máxima heterogeneidade, num universo de 64 Programas de Pós-Graduação em Geografia no país, estabelecemos que a representatividade seria determinada em função dos seguintes critérios:

i) incluir os cinco primeiros cursos de pós-graduação em Geografia criados no Brasil – USP (1971), UFRJ (1972), UFPE(1976), UNESP(1977), UFSC (1985);

ii) após eliminar os PPGGs incluídos no item anterior, incluir os cinco coletivos sociotécnicos com maiores índices de produção intelectual em Geografia Física, segundo a plataforma de teses e dissertações da Capes – UFMG (277), UFRGS (197), UFPR (165), UECE (138), UFU (135).

iii) observar a inclusão de, no mínimo, 01 PPGG de cada região do país, estabelecendo como prioridade para aos menores índices de produção intelectual – UFF (76), UFG (75), UFBA (37), UFPA (36), UFRN (36).

Com isso, ficaram 15 PPGGs e passamos para a segunda etapa, que consistiu no levantamento nos sites dos programas para rastrear os nomes dos professores que atuavam nos respectivos programas. Dessa etapa, conseguimos uma relação com os nomes de 142 docentes.

Na terceira etapa, com o intuito de montar uma robusta base empírica para o corpus de análise da produção intelectual dos coletivos, recorremos à plataforma Catálogo de teses e dissertações15 da Capes, no período de julho a

14 Para Foucault (2014, p. 143), “A análise do discurso está colocada, na maior parte do tempo, sob o duplo signo da totalidade e da pletora. Mostra-se como os diferentes textos de que tratamos remetem uns aos outros, se organizam em uma figura única, entram em convergência com instituições e práticas e carregam significações que podem ser comuns a toda uma época. Cada elemento considerado é recebido como a expressão de uma totalidade à qual pertence e que o ultrapassa. Substitui-se, assim, a diversidade das coisas ditas por uma espécie de grande texto uniforme, ainda jamais articulado e que, pela primeira vez, traz à luz o que os homens haviam “querido dizer”, não apenas em suas palavras e seus textos, seus discursos e seus escritos, mas nas instituições, práticas, técnicas e objetos que produzem”.

15

(32)

agosto de 2018. Conscientes da necessidade de garantir uma maior representatividade do corpus e contemplar tanto produções mais antigas como recentes, atentamos para o recorte temporal disponível da produção intelectual de cada PPGG, com maior ou menor variação entre 1 a 2 anos de 2012 a 2018, cotejando a totalidade de 871 títulos e resumos das teses e dissertações dos PPGGs que disponibilizaram estas informações nos links “detalhes” da plataforma digital.

No primeiro rastreamento digital automatizado, utilizando como parâmetro as obras inscritas (registradas) como de “Geografia Física”, obtivemos como resposta o total de 797 produções, 435 dissertações e 362 teses. Estas produções estavam distribuídas entre 192 orientadores do PPGGs, sendo que os 5 primeiros deles foram Jurandir Luciano Sanches Ross (53), Magda Adelaide Lombardo (47), José Bueno Couti (38), Adailson Avasi de Abreu (33), Ailton Luchiari (26). As universidades com maior número de produções intelectuais inscritas foram USP (697), UFMG (14), UFRJ (11), UNICAMP (10), UECE (8). Das 25 áreas de concentração, sendo “Geografia Física” (151), Natureza e produção do espaço (5), Análise Ambiental (4), Amazônia: território e ambiente (3). Resultado que foi aferido durante dez dias seguidos com pequenas variações de 1 ou 2 produções intelectuais para mais.

No entanto, por consideramos que os dados obtidos com a consulta (automática do sistema de busca) não apontaram uma quantidade significativa, procedemos a um segundo rastreamento, utilizando com indicador “Geomorfologia”, e tivemos como resultado 1.652 produções, distribuídas em 192 programas de pós-graduação, sendo 10 deles de Geografia. Quando inserimos o filtro “programas de pós-graduação em geografia”, o total foi reduzido para 815 obras, número superior às produções classificadas como de Geografia Física, curiosamente, todas oriundas dos PPGGs, e só 311 destas produções estavam simultaneamente inscritas como de Geomorfologia e de Geografia Física, e alguns dos mais citados professores/orientadores foram Jurandyr Luciano Sanches (37), Cristina Helena Ribeiro Rocha Augustin (22), Cleide Rodrigues (21), Adilson Avansi Abreu (15) e Silvio Carlos Rodrigues (13), todos inscritos como professores permanentes nos PPGGs. As cinco áreas de concentração mais indicadas foram “Geografia Física” (65), “Análise Ambiental” (33), Dinâmica das Paisagens (23) e “Análise das

(33)

paisagens e Dinâmica Territorial” (14). Das universidades: USP (179), UFMG (106), UFRJ (46), UNESP/RIO CLARO (36), UNICAMP (32). Portanto, das 815 obras, 394 foram agregadas às 792 produções que fariam parte do corpus de investigação. Assim como na busca anterior, no transcorrer dos dez dias de observação, a variação foi de 1 a 2 obras para mais. Daí é possível inferir com tais resultados que os docentes dos PPGG consideram a Ciência Geográfica uma Geociências, o que foi confirmado no terceiro rastreamento.

No terceiro rastreamento, utilizando como descritor “Geologia”, obtivemos como resultado 7.752 produções oriundas de 310 programas de pós-graduação, 9 deles de Geografia. Dos PPGGs, obtivemos 352 produções, sendo que 198 delas estavam simultaneamente classificadas como de Geologia e de Geografia Física, distribuídas entre 206 orientadores, sendo eles: Jarbas Bonetti Filho (23), Norberto Olmiro Horn Filho (22), Deocleciano Bittencout Rosa (7) e Antônio José Teixeira Guerra (5). Das 43 áreas de concentração, as 4 mais inscritas foram “utilização e conservação de recursos naturais” (32), “Geografia física” (17), “Análise ambiental e territorial do cone sul” (6) e “Espaço sociedade e ambiente” (6). Das universidades, UFSC (90), USP (40), UFRJ (19), UFMG (15) e UFRS (14). Desse acervo, agregamos ao corpus 154 produções. A variação durante os dez dias foi uma média de 2 a 3 obras para mais.

Em síntese, com o rastreamento digital (sistema de busca automático), ficou perceptível:

i. A superioridade quantitativa da produção intelectual de Geologia e Geomorfologia, respectivamente, em relação à Geografia Física;

ii. 73% das produções intelectuais dos PPGGs são catalogadas na plataforma Capes como pertencentes à área de conhecimento “Geociências”, 15% pertencentes à área de conhecimento “Geografia” e 12% aparecem, simultaneamente, em ambas as áreas.

iii. 80% desta produção eram dos PPGGs de Geografia Física da USP, isso porque o “sistema de busca” da plataforma só informava aquelas produções que tinham no seu conteúdo a expressão “Geografia Física”, sendo que muitas, inclusive, não tinham qualquer conteúdo atribuído à Geografia Física.

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iv. 75% dos 142 docentes inscritos nos sites dos PPGGs como de orientadores de Geografia Física não aparecem na coleta das produções.

v. E, por fim, o corpus das 1.240 produções intelectuais não indicava a representatividade do fenômeno que seria investigado, o que implicou a necessidade de outra forma de obter os dados que fossem representativos.

Diante de tais resultados e com o intuito de evitar possíveis vieses, partimos para a busca orientada (uso de filtros) como procedimento de coleta dos dados. No banco de teses e dissertações da Capes, para cada um dos 15 PPGGs, fizemos os seguintes procedimentos:

i. Usar o descritor “Geografia” (sem a designação de Física);

ii. Aplicação dos filtros, indicando a “Universidade ‘tal’” e “programa de geografia ...”, com isso buscava-se especificamente a produção intelectual de cada um dos PPGGs;

iii. Refinamos a busca usando como filtro os nomes dos professores/orientadores inscritos pelos coletivos sociotécnicos como atores sociais da Geografia Física.

Esses procedimentos nos permitiram obter o retorno quantitativo de 7.304 produções intelectuais de Geografia (antes de aplicar o terceiro filtro); um total de 2.206 produções intelectuais de Geografia Física (ou que foram orientadas pelos atores sociais deste subcampo disciplinar), sendo que destas produções apenas 871 continham o link para os “detalhes” (isto é, continham os dados disponíveis para análise – o resumo) e apresentavam o recorte temporal de 2012 a 2018. Veja no Mapa 01 como esse quantitativo está distribuído por PPGGs, considerando o recorte temporal.

(35)

Mapa 1- Representação dos quantitativos da produção intelectual dos PPGGs, de 2012 a 2018

Destarte, o corpus que serviu de base descritiva de análise e suporte para a construção da segunda parte do quarto capítulo da tese foi composto inicialmente por 871 produções (títulos e resumo), o que corresponde a 39,5% de um universo de 2.206 produções, registradas e classificadas pelos coletivos sociotécnicos como de Geografia Física na plataforma digital da Capes, no recorte temporal de 2012 a 2018.

Na quarta etapa, de posse do corpus, partimos para a análise e a interpretação. Inicialmente a sensação foi de pânico diante da quantidade de dados que pareciam não ter qualquer conexão. Além disso, ficou evidente que 32% dos resumos não continham dois ou mais dos elementos indicados nas normas da ABNT (628/2013) para o resumo informativo (finalidade, objetivos, metodologia e resultados).

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