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Aprendizagem musical de três jovens músicos de Buritis-MG

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Academic year: 2021

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Decanato de Ensino de Graduação Universidade Aberta do Brasil - UAB

Instituto de Artes - IdA Departamento de Música

Curso de Licenciatura em Música a Distância

Trabalho de Conclusão de Curso

APRENDIZAGEM MUSICAL DE TRÊS JOVENS MÚSICOS DE BURITIS-MG

CHARLEY CORREIA PINHEIRO

Buritis 2016

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Trabalho apresentado ao Departamento de Música da Universidade de Brasília como requisito parcial para obtenção de Certificado de Conclusão de Curso de Graduação em Licenciatura em Música

Orientadora: Prof.ª Dra. Flávia Motoyama Narita

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Este trabalho procurou conhecer e descrever as experiências de aprendizagem musical de três jovens músicos iniciantes de Buritis-MG, buscando compreender a heterogeneidade verificada no processo de aquisição de conhecimentos musicais em cada caso. Com abordagem exploratória, a pesquisa intentou através de observação e entrevistas, refletir sobre a vivência musical de cada jovem músico, vocalista ou instrumentista, utilizando como fundamentação teórica estudos de pesquisadores cujos trabalhos tiveram como escopo principal o tema “aprendizagem musical de jovens músicos populares”. A pesquisa focou na observação dos jovens músicos em ambientes que eles frequentam cotidianamente, com o objetivo de identificar os tipos de aprendizado que ocorrem em diferentes contextos. Também foi objeto de estudo nesta pesquisa a interação dos jovens músicos entre si e com seus pares, além de analisar brevemente a presença da internet e de dispositivos móveis no cotidiano dos participantes, com intuito de compreender como a tecnologia e o hábito de escuta de música se articulam fomentando a aquisição de conhecimentos musicais. Através da discussão de literatura, do relato dos próprios jovens e da observação realizada, os resultados mostram que o fenômeno de aprendizagem é multifacetado e dinâmico, e que os jovens músicos adquirem conhecimento musical adotando estratégias de aprendizagem distintas de acordo com suas vivências musicais.

Palavras chave: Aprendizagem musical formal e informal; Jovens músicos populares; Estratégias de aprendizagem

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1 - INTRODUÇÃO ... 7

1.1 - Objetivos ... 8

1.2 - Estrutura do Trabalho... 8

2 - DISCUSSÃO SOBRE LITERATURA ... 10

2.1 - Jovens e Música ... 10

2.2 - Aprendizagem Formal, Informal e Não Formal... 10

2.3 - Recursos Tecnológicos na Aprendizagem Musical ... 13

3 - METODOLOGIA: Pesquisa Exploratória ... 16

3.1 - Entrevista Semiestruturada ... 16

3.2 - Observações ... 17

4 - PERFIL DOS ENTREVISTADOS ... 19

4.1 - Bianca... 19

4.2 - Mateus ... 19

4.3 - Luciano... 20

5 - ANÁLISE DE DADOS: Formas e Estratégias de Aprendizagem ... 22

5.1 - Aprendizagem Musical Formal ... 22

5.2 - Aprendizagem Musical Informal ... 24

5.3 - Aprendizagem Musical Informal: Tocar com Amigos ... 25

5.4 - Aprendizagem Musical Informal: Aprendizagem Através da Internet ... 27

5.5 - Escuta Musical como Estratégia de Aprendizagem ... 31

6 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 34

7 - REFERÊNCIAS ... 37

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1. INTRODUÇÃO

Enquanto área de conhecimento, a aprendizagem musical versa sobre como os indivíduos aprendem música através da interação com o outro nos mais variados contextos socioculturais: escola, família, centros comunitários, bandas, conservatório, meio religioso, entre outros (POPOLIN, 2012). A partir do meu gosto por música, reforçado no decorrer do curso de Licenciatura em Música, nasce o interesse de realizar este trabalho, cujo tema central é a aprendizagem musical de músicos populares jovens, empreendendo um estudo reflexivo sobre suas respectivas vivências musicais buscando compreender como eles aprendem música.

Uma vez definido o tema da pesquisa, passei a comparecer com frequência em eventos locais que dão espaço para apresentações musicais, na busca por músicos adolescentes que se destacam neste cenário e que eventualmente aceitassem participar desta pesquisa. Recitais musicais, festas populares tradicionais e gincanas escolares são exemplos de eventos onde a ocorrência de performances musicais é comum, e o processo de observação se concentrou principalmente nesses círculos.

No decorrer do processo observatório, as apresentações musicais de três jovens despertaram minha atenção. São músicos populares, conhecidos na região por realizarem shows e embalarem festas e gincanas na escola em que estudam, local onde trabalho.

Foram convidados a participar da pesquisa esses três músicos, estudantes secundaristas, que permitiram a divulgação de seus nomes reais. Com idades entre 16 e 17 anos, os três estão envolvidos com a música desde a infância e recebem incentivo da família e de amigos, a exemplo da participante Bianca, que estuda canto em escola de música e compõe junto com amigos uma banda chamada ‘Delovers’, na qual atua como vocalista. Já o participante Mateus estudou violão por dois anos em escola de música, mas abandonou as aulas e decidiu prosseguir com os estudos por conta própria, contando com o auxílio de pesquisas na internet. O participante Luciano aprendeu a tocar teclado em convivência com o tio e com amigos sem nunca ter frequentado escola de música. Apresenta-se em eventos diversos na cidade de Buritis e em seu entorno.

Percebe-se que diversas práticas musicais estão presentes na vida cotidiana desses jovens. Tomei a definição de aprendizagem musical proposta por Rêgo (2013)

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como sendo um processo dinâmico e complexo, que exige engajamento dos sujeitos participantes e articulações com as interações sociais deles. A partir de então, questionamentos despontaram ao se ponderar sobre o assunto, tais como: Como esses jovens aprendem? Quais estratégias emergem no processo de aprendizagem de tais jovens? Como as estratégias utilizadas por tais jovens influenciam na aprendizagem musical?

1.1 Objetivos

A partir desses questionamentos foram estabelecidos os seguintes objetivos. Geral: Investigar como ocorre a aprendizagem musical de três jovens músicos que se destacam no cenário musical de Buritis-MG.

Específicos:

✓ Verificar as diferentes formas de aprendizagem musical que acontecem em contextos diversos;

✓ Identificar as estratégias de aprendizagem de tais jovens;

✓ Compreender como as estratégias utilizadas por tais jovens influenciam em sua aprendizagem musical.

1.2 Estrutura do Trabalho

Este trabalho está dividido em 8 capítulos. O próximo capítulo promove uma discussão sobre a literatura que fundamenta as reflexões desenvolvidas na pesquisa. Traz informações de autores a respeito de questões que envolvem a relação do jovem com a música, abordando as diferentes formas de aprendizagem, discutindo a importância da música na fase da adolescência e refletindo também sobre o uso das tecnologias em prol do aprendizado musical. O capítulo 3 descreve a metodologia de pesquisa exploratória adotada neste trabalho, bem como a elaboração e a aplicação da entrevista semiestruturada, utilizada para coletar dados. Narra também as observações realizadas junto aos músicos em seus ensaios e apresentações. O capítulo 4 apresenta os músicos que colaboraram com a realização do trabalho. O

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capítulo 5 traz a análise dos dados que foram levantados. Descreve as experiências de aprendizagem musical dos participantes, refletindo sobre como a escuta musical cotidiana, o hábito de tocar com amigos e a utilização da internet para fins didáticos contribuem com o aprendizado musical. O capítulo 6 apresenta uma síntese das informações obtidas com a realização do trabalho e aponta em que medida a pesquisa pode colaborar com minha prática profissional. Ao final do trabalho, após as referências bibliográficas, apresento o apêndice com o roteiro de entrevista e o termo de cessão de direitos como anexo.

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2. DISCUSSÃO SOBRE LITERATURA

A discussão e análise das entrevistas e observações foram realizadas especialmente com base nos seguintes autores: Popolin (2012), Rêgo (2013), Green (2000, 2012), Souza e Freitas (2014) e Wille (2005). Os estudos desses autores possibilitaram a obtenção de importantes informações que serviram como base para reflexões empreendidas acerca do processo de aprendizagem musical e das experiências musicais dos jovens que participaram desta pesquisa. A partir de então, torna-se pertinente analisar os seguintes pontos: Jovens e música, aprendizagem formal, informal, não formal e recursos tecnológicos na aprendizagem musical. Esses pontos serão discutidos nas seções a seguir.

2.1 Jovens e Música

Rêgo (2013) e Popolin (2012) entendem que a música tem importância especial na fase da juventude. Os autores também destacam que a música está presente nos afazeres cotidianos dos jovens desempenhando papel relevante na socialização dos mesmos. De acordo com Popolin (2012, p.109) os resultados de sua pesquisa mostram que a intenção dos jovens nas suas experiências de escuta não é aprender sobre música, mas “estar com a música” em momentos e circunstâncias que esta tinha sentido para eles. No entanto, o autor salienta que apesar da não intencionalidade em aprender música por meio da atividade cotidiana de escuta, os jovens revelam através de suas falas, gestos e atitudes que foram adquirindo conhecimentos sobre gêneros e estilos musicais (sonoridades, instrumentação, timbre vocal, ritmo, técnica instrumental, entre outros) além de conhecimentos para usar a música em várias situações da vida cotidiana (regulação do humor, sentimentos; para dar disposição; para fazer alguma coisa; para gerar respostas; e outras). O autor informa que o modo mais recorrente de os jovens se relacionarem com a música é por meio da escuta utilizando aparelhos eletrônicos (POPOLIN, 2012, p.36).

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Faz-se necessário diferenciar as formas de aprendizagem abordadas neste trabalho: aprendizagem formal, informal e não formal. A aprendizagem formal é aquela que acontece em uma conjuntura que tem como objetivo principal o ensinar propriamente dito, onde o sujeito participa ciente que está ali para aprender, em locais onde há professor, currículo organizado, avaliações e cronograma. Já a aprendizagem informal não exige professores formados, planos de estudo ou métodos de avaliação. Esse tipo de aprendizagem normalmente ocorre em ambiente extraescolar (GADOTTI, 2005).

Green (2000, p.65) afirma que educação musical formal enquanto sistema demanda “currículos escritos, planos de estudo ou tradição explícita de ensino e aprendizagem.” Gadotti (2005, p.2) complementa esclarecendo que a educação formal tem objetivos claros e específicos. É representada principalmente pelas escolas e universidades e depende de uma diretriz educacional centralizada, com estruturas hierárquicas e burocráticas. Green aponta também que o sistema de educação formal requer a presença de:

Professores reconhecidos e pagos, coordenadores ou mestres que na maioria dos casos possuem qualificações relevantes, mecanismos de avaliação sistemática tais como testes, exames nacionais e diplomas de diversos níveis; notação musical, que às vezes é entendida como secundária, mas normalmente é importante, e finalmente, bibliografia, que inclui partitura, textos pedagógicos e manuais de ensino. (GREEN, 2000, p.65).

Complementando o tema, Green (2012, p.68) informa que os professores, nesse sistema, costumam selecionar a música que será estudada em sala de aula. No contexto formal, segundo a autora, os alunos seguem uma progressão do simples ao complexo, que quase sempre envolve um currículo, um programa de curso, exames e peças ou exercícios especialmente compostos. Há também, dentro do domínio formal, uma maior separação das habilidades com ênfase na reprodução.

Em relação à aprendizagem musical informal Green (2000, p.65) afirma: “as práticas de aprendizagem musical informal sempre coexistiram com os sistemas de educação musical formal. Embora não constituam esferas totalmente separadas, possuem diferenças significativas entre si.” A autora define como práticas de aprendizagem musical informal as formas alternativas de aquisição de competências e conhecimentos musicais que existem paralelamente à educação formal em todas as sociedades e não recorrem a instituições de ensino, nem currículo escrito, programas ou

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métodos específicos, nem professores qualificados, nem mecanismos de avaliação ou certificados, contando com pouca ou nenhuma bibliografia.

Ao pesquisar sobre como a adaptação de algumas práticas de aprendizagem informal poderiam influir positivamente nas experiências e nos significados musicais dos alunos em sala de aula, Green (2012, p.68) ressalta que na aprendizagem informal a escolha da música fica a cargo do aluno e a principal prática de aprendizagem nesta modalidade envolve tirar gravações de ouvido. A aprendizagem pode acontecer em grupos, consciente ou inconscientemente por meio de aprendizagem entre pares, envolvendo discussão, escuta e imitação uns dos outros. A assimilação de habilidades e conhecimentos na aprendizagem informal acontece de modo pessoal, frequentemente desordenado, de acordo com as preferências musicais. Por fim, no decorrer de todo o processo de aprendizagem informal, existe uma integração entre apreciação, execução, improvisação e composição, com ênfase na criatividade, avalia Green.

No decorrer deste trabalho de conclusão de curso foi possível identificar que os músicos entrevistados aprendem através dos modos formal e informal. No entanto, convém abordar também outra forma de aprendizagem, a não formal. Wille (2005, p.41) argumenta que o ensino e a aprendizagem musical não estão restritos somente ao que acontece dentro da sala de aula ou da instituição escolar. Nessa perspectiva a autora aborda a questão da aprendizagem não formal, que seria relacionada às atividades que possuem caráter de intencionalidade, mas pouco estruturadas e sistematizadas, onde ocorrem relações pedagógicas, mas que não estão formalizadas.

A aprendizagem na dimensão não formal, de acordo com Wille, vai sendo desenvolvida sem que haja uma obrigatoriedade ou mecanismos de repreensão. Na visão da autora, o que ocorre é que a necessidade do grupo acaba por envolver os participantes em um processo de ensino e aprendizagem. Tal envolvimento produz uma relação mais prazerosa e significativa com a construção do saber, onde a “bagagem” de cada indivíduo é respeitada e apreciada no decorrer das atividades desenvolvidas (WILLE, 2005, p.47).

Gadotti (2005, p.2) corresponde ao pensamento de Wille ao afirmar que a educação não formal apresenta “intencionalidade em seu processo”. Na visão do autor, apesar de ser marcada por uma ausência de formalidade em relação ao ensino formal, “o ensino não formal não atua de forma desorganizada.” Em contraste com o sistema formal convencional, tal modalidade apresenta liberdade capaz de criar disciplinas que

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atendem aos anseios dos diversos públicos. Ainda de acordo com Gadotti, “A educação não formal caracteriza-se por relações menos hierárquicas, possui caráter difuso e pouco burocrático. Os programas de educação não formal não precisam obrigatoriamente seguir um sistema sequencial e hierárquico de “progressão”. Podem ter duração alternável e conceder, ou não, certificados de aprendizagem.”

2.3 Recursos Tecnológicos na Aprendizagem Musical

O acesso à internet e uso de novas tecnologias é algo característico entre a maioria dos jovens. Eles procuram estar “antenados”, gostam de novidades e de se manterem conectados com o mundo. Estes recursos também podem configurar oportunidade de aprendizagem. A ampliação do acesso à internet banda larga tem facilitado a ocorrência de dois fenômenos analisados por Gohn (2013, p.33): 1) o acesso imediato a arquivos de áudio e vídeo através das redes sociais ou de sistemas de compartilhamento online; e 2) o uso de videoconferências em aulas de música, particularmente voltados ao ensino de instrumentos musicais. O autor acredita que ambos os fenômenos podem contribuir em processos de ensino e aprendizagem musical, atuando como ferramentas didáticas ou possibilitando a interação entre educadores e seus alunos. Acompanhar as vivências digitais das gerações mais jovens e utilizar recursos da internet como o Skype, Facebook e Youtube tornam-se desafio constante, além de abrir possibilidades para novas práticas educacionais na área de música. O desenvolvimento tecnológico, na visão do autor, promoveu uma grande circulação de material musical em todo o mundo. Tal circulação facilitou a ampliação das experiências de audição musical dos internautas por diversos meios e vários sistemas de compartilhamento de dados (GOHN, 2013, p.25).

Durante a realização deste curso, Licenciatura em Música na modalidade EaD, pude por diversas vezes experimentar essas tecnologias e recursos multimídias no processo de aprendizagem, e hoje percebo que em tal modalidade de ensino existem vantagens e desvantagens. É extremamente prazeroso para mim, enquanto aluno, mesmo morando no interior do Brasil, poder ter contato com professores renomados e com reconhecidas habilidades musicais, algo que tornou-se possível com advento da internet, em momentos que se consolidam através de uma webconferência. Ao mencionar webconferências, convém lembrar que muitas cidades interioranas como a

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que resido ainda não contam com conexões de internet de boa qualidade, capazes de fornecer desempenho satisfatório. Em muitas ocasiões, webconferências não puderam ser realizadas em decorrência de uma conexão instável ou indisponível.

Gohn (2013, p.26), avalia que o estudo destas questões é de interesse direto de todos os envolvidos com processos de ensino e aprendizagem da música. Para ele, as vantagens das facilidades digitais são facilmente perceptíveis. Menciona a facilidade com que os internautas podem encontrar uma determinada música na internet sempre que desejarem, seja em gravações de áudio ou em vídeos. Para aqueles que decidem utilizar recursos tecnológicos como meio de aprendizagem, certamente encontrarão uma fonte inesgotável, que exige disciplina e dedicação assim como qualquer outra forma de aprendizagem.

Ainda de acordo com Gohn (2013, p.29), o vasto acervo da internet pode ser útil tanto para aprendizes de música como para professores. Destaca o site YouTube, que, em sua visão, transformou-se em uma verdadeira enciclopédia universal audiovisual produzida pela inteligência coletiva dos internautas, tornando-se uma poderosa ferramenta educacional, com diversas estratégias de ensino e aprendizagem. O autor chama a atenção para o fato de que, em muitos casos, os conteúdos são apresentados de forma assíncrona, com vídeos pré-gravados e distribuídos em sequências de complexidade gradual. Cita como exemplo o website de Justin Sandercoe (http://www.justinguitar.com), que conta com mais de 500 vídeos para o ensino de violão e guitarra. Nele é possível assistir às aulas gratuitamente, repetidas vezes. Gohn ressalta que apesar de aulas em vídeo estarem disponíveis para o aprendiz poder assisti-las repetidas vezes, no momento em que desejar, não existe interação entre professor e aluno em tempo real.

A possibilidade de aprender música através de vídeo-aulas, muitas vezes disponibilizadas gratuitamente, representa uma oportunidade ímpar para muitos aspirantes a músicos. Além das aulas que instruem na prática instrumental, atualmente existem no YouTube diversos canais que disponibilizam também aulas de canto. Através desse recurso, muitos aprendizes estão tendo acesso a conteúdos didáticos que podem significativamente auxiliá-los na prática instrumental ou vocal. Uma desvantagem, porém, como lembra Gohn, diz respeito à falta de interação em tempo real entre professor e aluno, o que inviabiliza a elucidação de possíveis dúvidas que podem

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surgir enquanto os aprendizes assistem às aulas. Entretanto, considero que a oportunidade de aprender música através da internet é extremamente positiva, podendo beneficiar sobretudo aqueles que não têm acesso à aula de música em suas escolas ou não podem pagar por uma escola particular.

Souza e Freitas (2014) também abordam a questão da tecnologia vinculada às práticas musicais dos jovens. Para as autoras, a música transmitida pelas mídias é, hoje, parte inerente e inquestionável do cotidiano dos jovens. A disponibilização de músicas na internet e nas redes sociais, na visão das autoras, tornou as práticas musicais mais acessíveis e interativas. Assim, o acesso quase ilimitado à música, promovido pelas tecnologias, faz com que os jovens sejam consumidores criativos, tornando-se ao mesmo tempo receptores e produtores (SOUZA e FREITAS, 2014, p.61). No início, a internet era apenas um local de consultas, preparada para consumidores de conteúdo, neste caso, de conteúdos voltados para a música. Com a ampliação da internet e a popularização de aparelhos que conectam a internet, hoje temos também consumidores e produtores, ou seja, qualquer um pode disponibilizar seus tutoriais, aulas em video ensinando um ritmo ou como se toca determinada música. Vale citar ainda vários fóruns livres que permitem troca de conhecimentos, onde o aluno pode ser professor e o professor pode ser aluno, promovendo conhecimento coletivo em rede.

Convém pontuar que apesar da possibilidade de construção de conhecimento coletivo em rede, este dado não é determinante e não há, necessariamente, uma promoção de conhecimento coletivo na internet.

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3. METODOLOGIA: Pesquisa Exploratória

De acordo com Gil (2010, p.41), “As pesquisas exploratórias têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito.” Seu planejamento costuma ser flexível, pois, ao pesquisador convém considerar os mais diversos aspectos relacionados ao fenômeno estudado.

Ao conduzir uma pesquisa exploratória com jovens músicos, a intenção primordial foi analisar e entender como ocorre o aprendizado musical deles. Para explorar o fenômeno de aprendizagem musical foi necessário realizar um processo de sondagem e observação junto aos jovens que colaboraram com a pesquisa. Os participantes concordaram em receber-me em suas casas, permitiram que eu assistisse aos ensaios e observasse como conduzem suas práticas musicais e aperfeiçoam sua técnica vocal ou instrumental. As entrevistas, intercaladas por conversas informais, além de estreitar a relação entre pesquisador e entrevistados, permitiram-me extrair impressões pessoais dos jovens sobre suas expectativas com relação ao aprendizado musical e conhecer suas aspirações enquanto músicos iniciantes. Através do contato direto com as práticas musicais investigadas e buscando respaldo bibliográfico apropriado, foi possível, na condição de pesquisador, estudar o processo de aprendizagem musical desses jovens, avaliando com atenção as informações encontradas para posteriormente refletir e discorrer sobre o fenômeno em questão.

As técnicas utilizadas para coleta de dados foram: entrevista semiestruturada e observação de ensaios e performance musical, que serão discutidos a seguir.

3.1 - Entrevista semiestruturada

No desenvolvimento do trabalho utilizei como técnica de pesquisa a entrevista semiestruturada. De acordo com Azevedo (2009), esse tipo de entrevista se fundamenta em um roteiro básico de questões ordenadas de forma a garantir ao pesquisador liberdade para acrescentar novos questionamentos a fim de elucidar possíveis dúvidas com relação ao ponto de vista do entrevistado. Em virtude da flexibilidade do roteiro, ela viabiliza maior fluência ao diálogo entre pesquisador e entrevistado.

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As perguntas foram formuladas buscando instigar os entrevistados a falar o que pensam sobre música, como aprendem e o que almejam alcançar através dela. A entrevista contou com treze questões previamente definidas, sendo dez questões abertas e três de múltipla escolha. A linguagem adotada foi simples e direta, próxima aos jovens, de modo a permitir que eles desenvolvessem seus pensamentos e se expressassem de forma natural e fluida. A entrevista foi realizada em grupo, com os três participantes, onde os entrevistados responderam por escrito as questões listadas no roteiro de entrevista. O roteiro encontra-se no Apêndice, p.39.

Após a conclusão da entrevista, sugeri que cada um expusesse oralmente suas respostas. A sugestão foi acatada pelos três e com a permissão deles comecei a gravar em áudio as respostas. Dessa forma foram registradas em áudio as respostas dadas aos questionamentos listados no roteiro bem como novas interpelações que foram feitas enquanto os participantes compartilhavam suas experiências.

Posteriormente, dei início ao processo de transcrição das entrevistas. Todas as falas foram transcritas em cerca de cinquenta minutos. As transcrições que ilustram o trabalho foram extraídas dos arquivos registrados em áudio. Os trechos escritos pelos entrevistados foram descartados, somente os áudios foram utilizados.

3.2 – Observações

Ao realizar esta pesquisa, sempre lancei mão de um diário de campo, por vezes material para fazer anotações e em outros momentos com equipamento eletrônico para gravar conversas em áudio. Os diálogos registrados em áudio durante a observação dos ensaios não foram transcritos, mas a partir deles foram obtidas relevantes informações a respeito do modo como os músicos interagem em grupo. O quadro a seguir representa os processos de seleção dos músicos e as ações realizadas por eles.

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4. PERFIL DOS ENTREVISTADOS

A partir das observações e das entrevistas, descreverei o perfil dos jovens que aceitaram colaborar com a pesquisa, com o intuito de apresentar os participantes individualmente e expor como se relacionam com a música, como surge o interesse pelo aprendizado musical e quais são suas expectações enquanto músicos.

4.1 Bianca

Bianca é estudante secundarista e tem 16 anos de idade. Estuda canto em uma escola de música há aproximadamente dois anos. Afirma que desde a infância sempre gostou de cantar e aos 14 decidiu estudar música para aprimorar sua técnica vocal. Disciplinada, se esforça para conciliar rotina escolar, afazeres domésticos e estudo musical. Bianca atua como vocalista em uma banda que formou juntamente com três colegas, à qual deram o nome de ‘Delovers’. A banda se reúne semanalmente para ensaios. A interação entre os jovens no grupo é amigável, apesar de eventuais desentendimentos passageiros. Durante as observações dos ensaios, pude notar que não há uma relação de hierarquia entre eles e as decisões que envolvem os rumos da banda são tomadas em conjunto. Embora os músicos sejam iniciantes e a banda no presente momento execute apenas covers1, dando a impressão de que as reuniões possuem

motivações exclusivamente recreativas, em alguns momentos percebi que Bianca tem aspirações maiores e pensa construir uma carreira musical futuramente. A participante mencionou em um dos ensaios, enquanto conversava com os colegas, o desejo de se apresentar para grandes públicos e a intenção de compor canções, mas antes julga necessário se dedicar mais ao estudo musical. A banda se apresenta em eventos escolares e eventualmente realiza pequenos shows para grupos de amigos e familiares.

4.2 Mateus

Cursando o ensino médio, Mateus, de 17 anos de idade, começou a tocar violão aos 8. Apesar de ter frequentado escola de música dos 12 aos 14 anos, afirma que pouco

1Pessoa (ou grupo de pessoas) que apresenta imitações de um(a) artista, um(a) cantor ou banda

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aprendeu durante esse período. Revela certa insatisfação em relação aos conteúdos ensinados na escola e citou que o repertório musical escolhido pelo antigo professor também não o agradava. Considera maçante o estudo instrumental teórico e parece não ter se adequado à rotina das aulas. Em decorrência desses fatores, decidiu abandonar a escola de música e se dedicar ao estudo musical de forma independente, priorizando a prática instrumental de violão e cavaquinho. Mateus afirma que aprendeu a tocar

“online” (via internet), através de vídeo-aulas, tutoriais e sites que fornecem

gratuitamente uma grande diversidade de músicas cifradas. O entrevistado não tem uma rotina organizada de estudos e se dedica à prática musical quando se sente disposto. Destaca a liberdade de poder escolher quais músicas quer aprender a tocar e valoriza a possibilidade de organizar livremente seus horários de estudo. Mateus não demonstra ter grandes aspirações no que diz respeito à música. Mesmo se apresentando eventualmente na igreja e na escola, não pensa em trabalhar como músico profissionalmente. Tocar violão, para ele, é uma atividade de lazer, que, em suas palavras, traz “sensação de liberdade e despreocupação”.

4.3 Luciano

Luciano é tecladista e foi presenteado pelo tio com um teclado aos 15 anos. Aprendeu a tocar sem ter frequentado escola de música. Afirma que deve ao tio todo o conhecimento que adquiriu em relação ao instrumento e que aprendeu a tocar observando. Luciano, na verdade, aprendeu a tocar ouvindo e imitando, técnica de aprendizagem amplamente utilizada por músicos populares conforme afirma Green (2000, p.70). Também estudante secundarista, Luciano tem 17 anos de idade e desde os 14 toca com seu tio e amigos, com os quais compõe um grupo de forró bastante conhecido na região. O grupo se apresenta em bares, festas populares tradicionais, festas de aniversário e confraternizações familiares. Luciano divide seu tempo entre a escola, tarefas domésticas e as apresentações, que funcionam para ele como trabalho remunerado extraoficial. Frequentemente o grupo viaja para pequenas comunidades rurais dentro do município de Buritis - MG. Nesses locais, se apresentam para o público tocando o forró, ritmo musical popular na região. Luciano não possui horários definidos para ensaios. A prática do instrumento pode se intensificar em véspera de festas nas quais irá se apresentar ou quando pretende, juntamente com o grupo, reproduzir versões

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de músicas sertanejas recém-lançadas em ritmo de forró. Ele já gravou algumas músicas em estúdios amadores e expressa o desejo de gravar um CD em estúdio profissional, para que o grupo cresça em reconhecimento e seja convidado a animar festas com frequência cada vez maior e em locais inéditos.

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5. ANÁLISE DE DADOS: Formas e Estratégias de Aprendizagem

Neste capítulo analisarei as práticas musicais específicas dos três jovens músicos participantes da pesquisa. Pretende-se realizar uma análise reflexiva a partir das observações empreendidas e das informações extraídas em entrevistas, à luz da literatura selecionada.

5.1 Aprendizagem Musical Formal

A participante Bianca estuda canto há aproximadamente dois anos. Credita à escola de música grande parte de seu aprendizado. A experiência musical de Mateus se inicia aos oito anos de idade, quando manifestou o interesse de aprender a tocar um instrumento. Mais tarde, aos doze, começou a estudar violão em escola de música. Este tipo de aprendizado, adquirido em escolas de música ou conservatórios, recebe o nome de aprendizagem musical formal, tema discutido no capítulo 2.

Ao iniciar o estudo de canto na escola de música, Bianca relata ter entrado em contato com um universo de saberes até então desconhecido para ela. Relaciona o aprendizado obtido na escola com sua experiência musical no ambiente extraescolar. Ao colocar em prática os conhecimentos e técnicas adquiridos na escola de música, afirma ter experimentado uma melhora em sua performance como vocalista no grupo Delovers:

Antes de começar as aulas eu já cantava, mas não entendia nada sobre música. Praticamente só repetia as músicas que ouvia no rádio e na tv. Depois das aulas que fui conhecer sobre teoria, notação, escala, essas coisas (pausa). Isso foi muito importante para o meu desempenho como vocalista na banda porque uma coisa é você cantar sozinha, outra coisa é cantar em grupo, com instrumentos e tudo mais. Saber escala e notação musical é muito importante, pois sem isso fica bem mais difícil fazer o acompanhamento e saber que tipo de música combina com a minha voz. (Bianca, entrevista em 20/10/2016).

Para Libâneo (1996, apud WILLE, 2005, p.42), entender a educação como “atividade mediadora no seio da prática social” significa considerar um acesso ao saber institucionalizado e reconhecido àquele estabelecido cotidianamente, viabilizando uma articulação entre ambos. Quando Bianca relata que emprega os conhecimentos adquiridos com as aulas de canto em sua atuação junto à banda, percebe-se que ocorre a articulação dos saberes referida por Libâneo, onde a escola de música representa o saber

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institucionalizado e a banda simboliza a prática social, o saber convencionado cotidianamente.

Bianca considera que as aulas na escola de música resultam em aprendizado significativo. Assegura que se esforça para comparecer às aulas com regularidade, pois, de acordo com ela, cada dia de estudo é fundamental. A entrevistada considera que as aulas de canto influenciaram fortemente sua participação na banda. Avalia que as aulas práticas a ajudaram no controle da entonação vocal, contribuindo com a redução de desafinações. Destaca a importância dos exercícios vocais aprendidos na escola, técnicas utilizadas por ela na banda. Bianca relata que pretende continuar com as aulas de canto para garantir a ampliação de seus conhecimentos musicais, superando dificuldades, sanando dúvidas e aprimorando sua performance como vocalista na banda.

Contrastando com a experiência de Bianca, Mateus relata não ter tido bom aproveitamento enquanto estudava violão em escola de música. Embora tenha frequentado as aulas durante dois anos, o entrevistado afirma que não sentiu empolgação suficiente para prosseguir com os estudos:

Na escola eu não sentia que estava aprendendo. Os conteúdos (pausa) tive dificuldade para aprender. Outra coisa que eu não gostava na escola era o tipo de música que eles ensinavam lá. Eu queria aprender um estilo e o professor ensinava outro, assim eu não tinha vontade de praticar e acho que por isso acabei perdendo o interesse pelas aulas, foi aí que resolvi sair. (Mateus, entrevista em 20/10/2016)

A respeito do desinteresse apresentado por muitos alunos em relação à música abordada em sala de aula, Green (2012), comenta:

A maioria dos educadores musicais provavelmente também concordaria que a resposta dos alunos à música em sala de aula é tristemente indiferente. Os melhores e mais inspiradores professores de música tendem a estar entre os primeiros a sugerir que a educação musical não atinge todos os alunos. (GREEN, 2012, p. 65)

Na educação formal, de acordo com Green (2012, p. 68), os professores normalmente escolhem a música visando introduzir os alunos a áreas com as quais ainda não estão familiarizados. O fato de Mateus abandonar a aprendizagem formal, sair da escola de música, pode estar relacionado a este fator. Conforme o entrevistado relata em sua fala, não houve identificação com a música selecionada pelo professor, o que contribuiu para um desestímulo inicial, culminando com a desistência das aulas.

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Ao investigar os fatores de abandono escolar no ensino vocacional de música, Sousa (2003, p.28) argumenta que um possível descompasso entre a oferta e a procura pode contribuir para um baixo desempenho acadêmico. O autor fala da incompatibilidade entre o que as escolas de música ofertam e aquilo que alunos buscam nelas. A fala de Mateus, mencionada anteriormente, evidencia a proposição de Sousa. Ao dizer que desejava aprender um estilo e o professor ensinava outro, fica evidente o descontentamento do músico com os conteúdos abordados pela escola, contrariando suas expectativas. Tal discordância pode resultar na obtenção de notas insatisfatórias ou em reprovações, um insucesso escolar, em outras palavras. Este insucesso, na visão de Sousa, pode, por sua vez, conduzir a uma redução dos índices de autoestima por parte dos alunos, sendo capaz de provocar uma consequente e provável diminuição ou mesmo ausência de motivação para estudar o instrumento ou para frequentar as aulas de música. Indagados sobre a possibilidade de aprender música sem frequentar uma escola especializada, Mateus e Luciano responderam que sim, Bianca respondeu que não.

5.2 – Aprendizagem Musical Informal

Como já informado, Luciano foi presenteado pelo tio com um teclado eletrônico aos 15 anos. Apesar de já ter noções básicas no manuseio do instrumento, aprendidas no teclado antigo do tio, o fato de ter um exclusivo para si o incentivou a intensificar sua prática musical, para que pudesse tocar junto com seu tio e amigos em festas, casas de show ou confraternizações diversas.

Luciano nunca frequentou escola de música. Todo o conhecimento musical que possui adquiriu através da convivência com o tio, que é músico popular e compõe em conjunto com amigos um grupo de forró, ritmo bastante apreciado nas comunidades rurais do município de Buritis.

Quando questionado sobre como aprendeu a tocar teclado, Luciano responde:

Meu tio queria me colocar na escola de música, mas eu nunca quis ir. Eu consigo aprender só olhando. Quando ganhei o teclado eu já sabia tocar, não muitas músicas, mas já dava pra fazer um barulho. Desde pequeno ia junto com ele nas festas e ficava olhando, isso me fez ter vontade de aprender a tocar que nem ele. (Luciano, entrevista em 20/10/2016)

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É possível perceber forte influência exercida pelo ambiente familiar e recreativo de Luciano em seu gosto musical. Enquanto os demais participantes da pesquisa se interessam basicamente por música pop e música sertaneja contemporânea, Luciano, mesmo pertencendo à mesma faixa etária, dedica seu tempo ao estudo de teclado exclusivamente para tocar o forró. É o estilo musical prevalecente entre os membros de sua família e em seu círculo de amigos mais próximos.

Green (2000, p.70) define por “enculturação” a imersão na música e nas práticas musicais do meio ambiente natural do indivíduo. A pesquisadora entende que este é um aspecto fundamental de toda a aprendizagem musical, seja ela formal ou informal. Quando a produção de sons, mesmo aquela realizada despretensiosamente, é considerada atividade musical, estão ali envolvidos processos de improviso, execução/performance e audição.

Ao analisar as experiências musicais de Luciano, pode-se inferir que seu aprendizado musical se caracteriza como informal. As reuniões com o grupo, apesar de não terem uma regularidade definida, se tornam ocasiões onde ocorre aprendizado significativo. Através dos ensinamentos de seu tio, Luciano assimila técnicas que o auxiliam na execução de músicas que compõem o repertório dos shows. Contrastando com o esquema formal de aprendizagem, as práticas musicais de Luciano não seguem uma progressão do simples ao complexo. Não há currículo ou programa de estudo, a bibliografia é escassa e as relações são pouco hierárquicas, prevalecendo a afetividade nas interações.

5.3 - Aprendizagem Musical Informal: Tocar com Amigos

Faz parte da experiência musical de Bianca o hábito de tocar com amigos. A jovem demonstra claramente a satisfação que sente ao cantar na companhia dos colegas e afirma que o grupo aprende em conjunto. Para ela, praticar o canto isoladamente não produz o mesmo nível de satisfação obtida quando está cantando com a banda e o aprendizado coletivo é mais divertido e empolgante:

Os ensaios da banda são muito divertidos. Estamos tocando juntos há pouco tempo e acho que já melhoramos em comparação com o começo (pausa). Todo mundo é meio iniciante, então estamos aprendendo juntos. Isso tem um lado positivo porque não existe aquela cobrança quando na banda tem alguém mais experiente. (Bianca, entrevista em 20/10/2016).

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Luciano também toca teclado juntamente com amigos e com seu tio, hábito que teve início em sua infância e perdura até os dias de hoje. Embora o grupo de forró do qual o entrevistado faz parte não possua uma rotina organizada de ensaios, os músicos se reúnem com certa frequência para tocar em festas. Eventualmente se reúnem também para ensaiar, mas sem regularidade. O entrevistado também deixa transparecer empolgação ao tocar com os demais integrantes do grupo. Nas festas onde o grupo se apresenta, é perceptível a concentração do jovem enquanto toca seu teclado, chegando a arriscar pequenos passos de dança e cantarolar a letra das músicas em sincronia com o vocalista.

Tal como ocorre com os jovens entrevistados nesta pesquisa, os músicos populares londrinos entrevistados por Green (2000, p.73) também apreciam grandemente as atividades em grupo, especialmente os mais jovens no início da formação de bandas, mesmo que os indivíduos ainda não toquem muito bem e não percebam nada de encadeamento de acordes, passagens ou canções. Entre os músicos observados pela pesquisadora, todos com exceção de dois começaram a tocar em grupo tão logo iniciaram o aprendizado em algum instrumento. Green salienta que os primeiros grupos musicais geralmente são formados por colegas. As bandas analisadas pela autora tocavam músicas que conheciam e gostavam, produziam suas próprias canções e improvisavam coletivamente. A interação amigável entre os integrantes das bandas permitia o aprimoramento das habilidades adquiridas. Desta forma, tocar, compor e improvisar constituíam atividades possíveis através do contato direto com os colegas.

Assim como alguns dos músicos investigados por Green, a banda na qual Bianca participa é composta por músicos iniciantes. Os instrumentistas não possuem grande experiência na manipulação dos instrumentos, mas demonstram domínio suficiente para que executem covers de bandas e artistas contemporâneos de música pop e pop-rock, principalmente norte-americanos. Com relação à idade dos indivíduos, os membros da banda ‘Delovers’ são todos adolescentes, e, de acordo com Bianca, esse fator parece favorecer a interação entre eles. Sobre essa questão a entrevistada afirma:

Antes da ideia da banda nós já éramos colegas. Temos mais ou menos a mesma idade, gostamos das mesmas bandas, temos muitas coisas em comum (pausa). Acho que seria mais difícil a banda dar certo se não fosse essa amizade. Mesmo quando discutimos ninguém fica de mal por muito tempo

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porque a amizade fala mais forte. Como amigos, respeitamos as dificuldades uns dos outros e queremos evoluir sempre. (Bianca, entrevista em 20/10/2016)

No caso de Luciano, no entanto, existe diferença considerável de idade entre ele, seu tio e os amigos, mas esse fator parece não interferir no entrosamento do grupo. Seu tio e amigos são músicos experientes, adultos, e embalam festas há aproximadamente dez anos no município de Buritis. A convivência de Luciano com seu tio e a proximidade com o grupo fez com que ele tomasse gosto pelo ritmo do forró desde a infância. A relação de amizade entre eles é anterior ao ingresso do jovem no grupo.

Sobre a importância da amizade no processo de interação dos músicos populares que formam bandas, Green (2000, p.75), em seu estudo, quis saber dos entrevistados o que mais valorizavam em outros músicos. Muitos relataram que valorizavam a amizade, a tolerância e o compartilhamento dos mesmos gostos. “Ser boa pessoa”, “ser capaz de interagir em grupo”, “ser capaz de manter os ânimos sob controle mesmo após itinerários exaustivos” constituem também atributos apreciados pelos músicos entrevistados pela pesquisadora. Comprometimento com a música e com o grupo também é bastante valorizado. Para Green, a ênfase na amizade está ligada às relações sociais que são próprias dos ensaios das bandas e dos concertos, como também ao fato de que a música que tocam ser produto do grupo e das negociações entre os seus elementos. Toda a produção da banda se baseia em um gosto comum consensual e na tolerância pelas preferências individuais, no comprometimento em comparecer aos ensaios nos horários previstos, trazendo consigo o material necessário em ordem, sem a tutela de adultos (no caso das bandas mais jovens). A colaboração mútua necessária para a organização dos grupos musicais exige intimidade e cooperação, e a amizade existente entre os envolvidos influencia até mesmo a natureza da música produzida, avalia a autora.

5.4 Aprendizagem Musical Informal: Aprendizagem Através da Internet

A experiência pouco produtiva que Mateus teve com a escola de música não foi capaz de arrefecer sua vontade de aprender a tocar violão. Após abandonar a escola de música, passou a se dedicar sozinho à prática do instrumento, contando com o auxílio de conteúdos voltados ao ensino musical disponibilizados na internet.

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De acordo com Rêgo (2013, p.48), as mudanças sociais contemporâneas ocorridas nos âmbitos sociais, econômicos e culturais, sobretudo aquelas mediadas pelo advento e consolidação das tecnologias digitais, produziram transformações em diversas áreas, como por exemplo no acesso a informações, nas relações interpessoais, nas formas de estudar, comprar, vender, brincar e também nas interações com a música. As tecnologias, na concepção da autora, abrem uma gama de possibilidades ou maneiras de se ouvir, assistir, estudar, aprender, tocar, dançar, fazer, divulgar e produzir música.

Nesse sentido, Mateus relata sua experiência de busca por interesses específicos ao estudar música através da internet: “Estudando na internet posso escolher as músicas que quero aprender a tocar, praticar os estilos de música que estão na moda e isso me motiva a treinar mais.” Aprender música através da internet pode ser uma alternativa para aqueles que não se adaptam ao plano de estudos organizado geralmente ofertado na maioria das escolas de música. A aprendizagem musical informal permite a assimilação de conhecimentos de modo pessoal, por vezes desordenado, conferindo ao aprendiz liberdade para priorizar conteúdos que são de sua preferência, de acordo com os objetivos que deseja alcançar (GREEN, 2012, p.68).

Todavia, em sua experiência de aprendizado musical através da internet, Mateus revela certa insatisfação com relação ao fato de não poder interagir com os professores que disponibilizam as vídeo-aulas em sites como o YouTube:

O professor faz falta sim na hora de tirar uma dúvida por exemplo. No YouTube a aula está gravada lá, se você aprendeu, beleza, se não, tem que se virar pra aprender. Você pode fazer perguntas no espaço dos comentários do vídeo, mas raramente eles respondem, porque é muita gente. (Mateus, entrevista em 20/10/2016)

Gohn (2013, p.29), informa que os professores, nesta modalidade de ensino musical, obtêm retorno financeiro através da venda de cds ou por meio de doações voluntárias feitas por alunos e seguidores, a exemplo Justin Sandercoe (ver capítulo 2). O autor menciona também sites que oferecem o ensino de instrumentos musicais na internet cobrando mensalidades ou anuidades, citando como exemplo JamPlay (http://www.jamplay.com), TrueFire (http://www.truefire.com) e WorkshopLive (http://www.workshoplive.com). Gohn observa que mesmo com uma preparação geralmente cuidadosa de vídeos e textos, não existe qualquer forma de feedback para os aprendizes. Para ele, não há garantias de que o aluno esteja livre de erros e que muitos

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deles podem resultar em tensões musculares e lesões graves. Mesmo os sites que permitem troca de e-mails entre professores e aprendizes não fornecem um acompanhamento verdadeiro do desenvolvimento de cada caso. A respeito dos aspectos relacionados às modalidades de ensino via internet Valente (2011, p.102 apud GOHN, 2013, p.29) pondera:

Pensar que na web é possível encontrar pessoas dispostas a auxiliar os aprendizes no seu processo de aprendizagem é assumir uma visão romântica de como as pessoas e as comunidades atuam. O que encontramos na rede são pessoas disponibilizando informação por meio da publicação de artigos nos portais pessoais, a criação de blogs discutindo os mais diversos assuntos, ou seja, uma vasta distribuição de informação. A questão é como encontrar pessoas na web dispostas a interagir com aprendizes, mediando o processo individual de construção de conhecimento. (VALENTE, 2011, p. 102 apud GOHN,2013, p.29).

Em contrapartida, Souza e Freitas (2014, p.71) acreditam que a tecnologia e as mídias podem viabilizar relações e interações que adquirem uma força equivalente àquelas acontecidas pessoalmente, se existirem similitudes e interesses comuns entre os conteúdos compartilhados gerando elementos emocionais e afetivos de caráter positivo. De acordo com as autoras, a superoferta de música na internet, com acessos e downloads gratuitos (ou não) produzem redes de compartilhamento e comunidades virtuais que se afinam pelas preferências musicais. As conexões em tempo real permitem não somente o acesso a obras musicais e informações sobre músicos como também o fazer música juntos, seja criando, improvisando ou executando repertórios já conhecidos e disponíveis.

Escovedo, Machado e Silveira (2004, p.4), assim como Valente, também apontam um aspecto que consideram ser uma limitação no que diz respeito ao aprendizado musical via internet. Para os autores, o fato de não existir avaliação dos conhecimentos adquiridos pode prejudicar o aprendizado. Ressaltam que no ensino musical tradicional, a medição dos resultados e rendimentos, que indica o sucesso e o fracasso, auxilia na identificação de áreas, níveis e unidades de aprendizagens difíceis de assimilar e de ensinar. Ainda de acordo com os autores, ao estudar música em escola regular, o aluno pode ter seu rendimento avaliado individualmente, de forma que o professor possa perceber facilmente seus pontos de dificuldade, reforçando assim a prática dos mesmos.

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Ao observar o modo como Mateus desenvolve seu aprendizado através de vídeo aulas, tutoriais e textos online, é possível pressupor que exista ali uma forma independente de se aprender música. Enquanto aprendiz, ele privilegia a prática instrumental ao passo em que deixa questões teóricas em segundo plano. Parece não haver clareza em relação a metas a serem atingidas e a frequência da prática instrumental está sujeita à disposição do jovem. Em função da disponibilidade permanente dos conteúdos na internet, os horários dedicados ao estudo musical podem ser tranquilamente flexibilizados. Foi possível observar também que no processo de aprendizagem de Mateus não há critérios de avaliação e a bibliografia à qual o entrevistado recorre é limitada. O processo de aquisição de conhecimentos musicais se dá sem o intermédio de uma escola de música ou de professores. Juntos, esses fatores constituem o que Green (2000, p. 65) chama de práticas de aprendizagem musical informal (ver capítulo 2).

Outra peculiaridade observada nesta modalidade de aprendizado refere-se à livre escolha do aprendiz em selecionar as músicas que deseja aprender a tocar. Mateus busca na internet aulas que ensinem os acordes e ritmos adequados para a execução de músicas dos artistas que estão em evidência no rádio e na televisão. Green (2012, p.67) informa que é próprio da aprendizagem musical informal que os alunos escolham a música que desejam, música que lhes é familiar, que eles gostam e têm uma forte identificação.

Embora haja na web uma vasta gama de informações correspondentes ao ensino musical, com acesso cada vez mais facilitado, eventualmente os aprendizes podem enfrentar dificuldades no que diz respeito à seleção, apreciação e organização das informações disponibilizadas. Mateus deixa transparecer esse fato em sua fala:

É muita informação que às vezes você fica meio perdido. Já aconteceu de eu estar treinando uma música e antes de aprender ela, começar a treinar outra que foi lançada. Também tentei estudar a parte teórica do violão, mas não sabia por onde começar. Não é a mesma coisa que na escola. (Mateus, entrevista em 20/10/2016)

Ao lançar o questionamento “Posso aprender música através da internet?” os três músicos concordaram que sim, é possível aprender música através a internet. Diante das respostas e do contexto tecnológico que vivemos, pode-se afirmar que os recursos tecnológicos, incluindo a internet, são de fato fortes aliados no processo de

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aprendizagem musical. O tema recursos tecnológicos na aprendizagem foi discutido capítulo 2.

5.5 – Escuta Musical como Estratégia de Aprendizagem

Segundo Green (2000, p.70), “a técnica de aprendizagem mais utilizada por músicos populares é a imitação, de ouvido, de gravações”. Sobre tal informação, Luciano reflete:

Sempre tive facilidade de tirar música de ouvido e acho que de tanto escutar meu tio tocando acabei aprendendo. Acho que a escola de música ajuda muito porque ensina as notas e os toques, mas dá pra aprender sem ela também. (Luciano, entrevista em 20/10/2016)

Ainda de acordo com Green (2000, p.70), o ouvir e imitar requer reforçada atenção e intenção auditiva. Seis dos catorze músicos participantes de sua pesquisa mencionam a importância da notação, considerando-a como ferramenta útil, porém utilizando-a sempre como apoio secundário à audição e imitação. Green constata que entre os músicos entrevistados por ela a notação musical era utilizada sempre como método secundário de aprendizagem. Músicos populares utilizam a notação como forma de tocar arranjos ou composições originais, com as partes escritas ou entregues durante os ensaios ou “encontros”. A autora salienta também que as partituras editadas nunca são usadas e as que existem são pouco confiáveis.

Em relação à notação, tal como ocorre entre os músicos observados por Green, Luciano também a utiliza como ferramenta secundária no processo de aprendizagem, priorizando o processo de audição e imitação de sons. As músicas executadas pelo grupo de forró não exigem grande variação de acordes, o que talvez explique a ausência de interesse por parte do entrevistado em aprender sobre notação, melodia e acordes, conhecimentos geralmente ensinados nas escolas de música.

Para Green (2000, p.73), a imitação proveniente da audição possibilita a percepção de muitos elementos musicais, tais como timbre, “dirt”, “groove”, “feel”,

“swing” e flexibilidade rítmica, aspectos que a notação musical não consegue codificar

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aprendizagem musical e acaba atuando como meio principal de transição e reprodução no decorrer da carreira do músico.

A audição musical praticada por Luciano não acontece somente nos momentos em que está acompanhado do tio e dos amigos, seja ensaiando ou se apresentando. O entrevistado relata que passa boa parte do dia ouvindo música através de seu smartphone. Para ele, o ato de ouvir música constantemente contribui com a memorização das letras e ajuda a “pegar a batida” das canções. Em seu tempo livre, conecta o fone de ouvido ao aparelho celular e passa horas ouvindo sua seleção de músicas. Faz isso também enquanto executa tarefas cotidianas.

Popolin (2012, p.69), em sua pesquisa realizada com estudantes secundaristas, identifica que a escuta diária de música mediada por aparelhos eletrônicos é recorrente entre jovens. Dos 51 jovens estudantes do 1º ano do Ensino Médio que participaram de sua pesquisa, 100% escutam música todos os dias, alguns mais, outros menos, mas a prática da escuta está sempre presente. Com relação aos modos de escuta, o pesquisador destaca os seguintes: 1) Escutar cantando junto: Muitos jovens escutam música reproduzindo letra e melodia em conjunto com o vocalista que ouvem; 2) Escutar dançando: Outro modo de escutar é executando movimentos de dança em harmonia com o ritmo da música em reprodução; 3) Escutar enquanto realiza alguma outra atividade: Quando o jovem ouve música ao mesmo tempo em que realiza seus afazeres cotidianos.

Sobre sua experiência cotidiana de escuta musical, Luciano relata:

Ouvir música virou vício pra mim. Minha mãe até briga comigo porque estou sempre com fone no ouvido e às vezes ela chama e eu não escuto. Não sei te falar exatamente quantas horas fico ouvindo música por dia, mas acho que são muitas. Aproveito pra ouvir quando não tenho nada pra fazer, ou quando estou trabalhando com meu tio. Às vezes escuto enquanto estou estudando, e às vezes antes de dormir também. (Luciano, entrevista em 20/10/2016)

Green (2000, p.71-72) aponta diferentes métodos de aprendizagem através da escuta: o primeiro ocorre por meio de uma escuta atenta e intencional, com ou sem assistência do sistema de notação. Os outros métodos envolvem uma audição desatenta e descompromissada. Os músicos observados em sua pesquisa tocavam os sons que ouviam utilizando técnicas que mesclam memória e imaginação. Audição atenta e

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audição descompromissada acontecem nos primeiros estágios da aprendizagem e perduram até a fase das ambições profissionais, avalia a autora.

Durante a entrevista perguntei aos três jovens se ouvir música diariamente os ajudava a aprender. Todos responderam que sim. Destaco aqui o comentário de Bianca: “Eu aprendo ouvindo, mas também tenho que estudar a música, ver a tonalidade. Se possível gosto de fazer a leitura da partitura”.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao delimitar o campo de estudo, focando em jovens músicos populares, procurei em minha cidade por músicos que se encaixassem neste perfil. Busquei sanar algumas inquietações particulares que me vinham à mente todas as vezes em que pude contemplar apresentações dos músicos que colaboraram com a realização da pesquisa; questionamentos sobre como esses jovens aprendem música e quais estratégias estão envolvidas no processo de aprendizagem musical deles sempre despontavam nessas ocasiões. Procurei responder a esses questionamentos através de observações realizadas junto aos jovens, coletando informações e embasando o trabalho em leituras pertinentes ao tema. As informações reunidas, submetidas a uma análise reflexiva, culminaram neste trabalho, que poderá contribuir com os estudos sobre aprendizagem musical de jovens e ser útil àqueles que pretendem realizar pesquisas sobre o referido tema.

Estabeleci como objetivo geral investigar como ocorre a aprendizagem musical de três jovens músicos: Bianca, Luciano e Mateus, que se destacam no cenário musical de Buritis-MG. Durante o processo de desenvolvimento da pesquisa, pude constatar que a música se faz presente na vida cotidiana de todos eles. O hábito diário de escuta musical é comum aos três e o uso de aparelhos eletrônicos para apreciação musical é recorrente. Conforme constatado em observações e relatado pelos jovens entrevistados, o hábito de ouvir música resulta em aprendizado musical, principalmente por meio da imitação de gravações, que possibilita a percepção de elementos musicais diversos e ajuda na memorização de letras e ritmos. Sobre as estratégias empregadas no processo de aprendizagem, destaco o uso dos recursos tecnológicos, que podem ser utilizados como grandes aliados para aqueles que buscam aprender informalmente, a exemplo do participante Mateus, ou mesmo para aqueles que querem ampliar o aprendizado. O aumento das conexões banda larga permite que os jovens músicos se mantenham conectados, viabilizando o acesso a redes de compartilhamento de conteúdos audiovisuais, muitos deles de cunho didático, que favorecem o aprendizado.

Pude perceber também que a aprendizagem dos músicos participantes da pesquisa acontece de diversas formas, em variados contextos e situações. Pode acontecer através de uma educação formal, como no caso de Bianca, ou em contexto informal, a exemplo de Luciano e Mateus. Ao realizar uma pesquisa exploratória com os três jovens músicos, pude constatar que todos estão alcançando progresso no que diz

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respeito à aquisição de conhecimentos musicais, e que não adotaram o mesmo caminho para construir seu aprendizado. Através desta pesquisa foi possível também notar que não existe um caminho melhor que outro. O indivíduo pode, à sua maneira, utilizar diferentes modos de aprendizado, mesclando estratégias que se adequem aos seus objetivos enquanto músico aprendiz. Outra questão que merece destaque é a motivação que leva um jovem a querer a aprender música: vai desde a influência dos familiares até um sonho pessoal, o desejo de tornar-se profissional na área ou o prazer de estar junto com amigos que gostam de música, como acontece com Luciano e Bianca.

No atual contexto, sinto-me à vontade para expor minha experiência sobre a utilização de recursos tecnológicos voltados ao aprendizado. Tive a oportunidade de realizar o meu curso de Licenciatura em Música através da modalidade a distância – UAB/UnB. Nesta modalidade de ensino é empregado o uso constante da tecnologia e suas especificidades, como: internet, e-mail, plataforma moodle, upload, download, entre outros. Pelo fato de ser a distância, muitas atividades são enviadas para os professores avaliarem via internet. Nem sempre foi possível que o professor fizesse suas considerações de forma presencial e, em função disso, percebi no decorrer desse percurso que o processo de ensino-aprendizagem foi de alguma forma afetado em alguns momentos. Quando o professor faz uma consideração por escrito, surgem várias possibilidades ao recebê-la, e isso se dá por vários motivos, tais como: os termos usados, o estado emocional do emissor e do receptor, a bagagem de vivência e nível cultural. Tudo isso influencia no recebimento de uma crítica, por exemplo. Porém, este gargalo tem sido amenizado com a evolução da própria tecnologia, pois quando começamos o curso, no ano de 2011, era pouco utilizado o recurso de aulas via internet, ferramenta que permite professor e aluno se comunicarem em tempo real. Atualmente ele tem sido utilizado com muito mais frequência e com maior eficácia. No meu caso especificamente, os resultados são concretos e sinto que as aulas que possibilitam interação em tempo real são muito mais produtivas. Durante este último estágio, de elaboração do Trabalho de Conclusão de Curso, percebi que progredíamos com maior efetividade através das videoconferências, que permitem interação em tempo real, em detrimento da troca de mensagens realizadas via plataforma.

Finalizo concluindo que após a realização deste trabalho minhas inquietações sobre a aprendizagem musical dos três jovens puderam ser esclarecidas, e que esta pesquisa exploratória, fundamentada em estudos de autores que se debruçaram sobre o tema,

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muito contribuiu para a minha formação. Acredito que os conhecimentos adquiridos durante o processo de construção do trabalho serão úteis em minha prática como professor de música, uma vez que, conhecendo melhor como o jovem se relaciona com a música, os modos como a aprecia e como utiliza diferentes estratégias para o desenvolvimento de sua aprendizagem musical, poderei compreender com mais clareza quais são as expectativas dos alunos com relação ao estudo musical. Dessa forma, espero poder desenvolver abordagens pedagógicas voltadas ao ensino de música que sejam interessantes aos meus futuros alunos, colocando em prática os conhecimentos adquiridos até aqui e promovendo reflexões junto aos estudantes acerca do relevante tema que é a aprendizagem musical.

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7. REFERÊNCIAS

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<http://www.inf.puc-rio.br/~francis/2004-apsi.pdf >. Acesso em: 22 de outubro de 2016.

GADOTTI, M. A questão da educação formal/não formal. In: Institut International des Droits de L'enfant (IDE). Droit à l 'éducation: solution à tous les problèmes ou problème sans solution? [conference]; 2005 Oct 18-22; Sion, Switzerlan Disponível em:

<http://pt.scribd.com/doc/53944682/GADOTTI>. Acesso em 22 de outubro de 2016. GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa, 5 edição. Editora Atlas S/A, São Paulo, 2010.

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