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Vantagens da integração lavoura-pecuária na recuperação de pastagens degradadas

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Vantagens da integração lavoura-pecuária na recuperação de

pastagens degradadas

Armindo Neivo Kichel1; José Alexandre Agiova da Costa1; Roberto Giolo de Almeida1 1 Pesquisador – EMBRAPA – Gado de Corte, Campo Grande – MS

1. INTRODUÇÃO

A pastagem é a base da pecuária de corte e leite e, portanto, deve apresentar alta produtividade, valor nutricional, palatabilidade e longevidade. Assim, deve-se promover o manejo adequado para evitar a degradação das pastagens. Em caso de degradação, deve-se adotar alguns procedimentos e técnicas para recuperação ou renovação das mesmas, como alternativas mais sustentáveis.

Define-se como pastagem degradada, aquela que está produzindo abaixo de 50% do seu potencial produtivo em relação às condições edafoclimáticas do local onde foi implantada e da espécie ou cultivar da forrageira utilizada.

A degradação das pastagens é um dos maiores problemas da pecuária brasileira, afetando diretamente a sustentabilidade do sistema produtivo. O problema torna-se evidente quando, por exemplo, consideram-se as fases de recria e engorda de bovinos de corte, nas quais a produtividade de carne de uma pastagem degradada está em torno de 3 arrobas/ha/ano, enquanto que numa pastagem em bom estado pode-se atingir, em média, 16 arrobas/ha/ano.

De forma geral, estima-se que cerca de 80% dos 117 milhões de hectares de pastagens cultivadas no Brasil (IBGE, 2006) apresentem algum estágio de degradação.

As pastagens degradadas, além de produzirem forragem em pouca quantidade e de baixo valor nutricional, durante o período seco, são as primeiras a diminuírem a produção e as últimas a reiniciarem o crescimento, potencializando ainda mais a falta de forragem nesta época do ano.

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A falta de forragem para a alimentação dos animais durante algum período do ano afeta a produção pecuária, promovendo perdas sucessivas e resultando em uma pecuária de ciclo longo, com baixa produção de carne de baixa qualidade e, consequentemente, um sistema com baixa rentabilidade. Estima-se que apenas 10% do total de animais abatidos são precoces, com idade de abate de até 32 meses, sendo que o restante (90%) sofre restrição alimentar em alguma fase da vida.

A grande maioria das pastagens é implantada inadequadamente, além de mal manejada e explorada de forma extrativista, favorecendo o início do processo de degradação. Como principais fatores envolvidos na degradação das pastagens, destacam-se:

a) Espécies ou cultivares de forrageiras inadequadas às condições de clima, solo e nível tecnológico adotado;

b) Uso de semente de baixa qualidade e de taxa de semeadura insuficiente; c) Preparo de solo e técnica de plantio/semeadura inadequada;

d) Ausência de práticas conservacionistas, o que leva à erosão do solo; e) Falta de fertilização na formação e na manutenção das pastagens; f) Manejo inadequado da carga animal;

g) Ausência de práticas de prevenção e controle de pragas, doenças e invasoras.

Para a exploração de uma pecuária de corte de forma sustentável, a recuperação das pastagens, em algum momento, torna-se inevitável. Existem duas grandes alternativas para recuperação ou renovação das pastagens, sendo diretamente ou por meio de sistemas integrados de produção, ou seja, utilizando a integração lavoura-pecuária (iLP) ou a integração lavoura-pecuária-floresta (iLPF).

Os sistemas de iLPF consistem na produção de carne, leite, grãos, fibras, energia e madeira, em consórcio, sucessão ou rotação na mesma área, buscando efeitos sinérgicos, potencializadores ou complementares, visando a sustentabilidade do agronegócio. Portanto, a utilização desses sistemas, nas

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situações em que é possível a sua adoção, passa a ser de grande importância para a recuperação de áreas degradadas, tanto de pastagens como de lavouras.

A recuperação das pastagens diretamente é recomendada quando o diagnóstico das condições edafoclimáticas, de infra-estrutura, de mão-de-obra e financeiras do sistema de produção não forem favoráveis para adotar-se sistemas de iLP, sendo que, neste caso, todos os custos do investimento com a recuperação são amortizados pela produção animal, com menor rentabilidade.

Entretanto, a recuperação das pastagens, por meio da iLP, é recomendada quando o diagnóstico for favorável para a produção de grãos, fibra, energia, entre outras. Neste sistema, grande parte dos investimentos para a recuperação das pastagens é amortizada pela produção das lavouras.

Com a introdução dos sistemas de iLP, além da intensificação e maior eficiência do uso da terra, são gerados benefícios ao meio ambiente, tais como: preservação da vegetação nativa e maior seqüestro de carbono, aumento da matéria orgânica do solo e redução da erosão, além de melhoria das condições microclimáticas e do bem-estar animal. Quanto aos benefícios econômicos gerados pela diversificação do sistema de produção, destacam-se: a redução dos custos de produção, aumento de produtividade e a diminuição do risco inerente à agropecuária.

A produtividade de carne de uma pastagem recuperada com iLP pode atingir cerca de 30 arrobas de carne/ha/ano, quando são consideradas somente as fases de recria e engorda de bovinos.

2. PRODUÇÃO DE CARNE BRASILEIRA E SEU POTENCIAL

O Brasil possui, atualmente, um rebanho de 176,6 milhões de bovinos (ANUALPEC, 2010) e uma área de 190 milhões de hectares com pastagens (IBGE, 2006), sendo 117 milhões de hectares com pastagens cultivadas e 73 milhões de hectares com pastagens nativas. A lotação média é de 0,93 animal/ha/ano, com uma produção total de carne de

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7,8 milhões de toneladas, resultando em uma produtividade de apenas 41 kg de carne/ha/ano ou 44 kg de carne/animal/ano, que corresponde a 88 kg de peso vivo por animal/ano e um ganho médio de 241 g/animal/dia.

O potencial de produtividade da pecuária de corte na iLP, em ciclo completo (Tabela 1), cria, recria e engorda, considerando -se uma lotação de 3,0 animais/ha/ano e produtividade de 230 kg de carne/ha/ano ou 76,6 kg de carne/animal/ano, que corresponde a um ganho médio diário de 420 g/animal/dia, ou seja, um aumento na produtividade de 5,47 vezes a média atual.

Tabela 1. Índices zootécnicos médios da pecuária de corte em pastagem degradada comparada com pastagem recuperada com iLP

Índices Pastagem

degradada

Pastagem recuperada com iLP

Natalidade 60% 85%

Mortalidade até a desmama 8% 2,7%

Taxa de desmama 54% 80%

Peso na desmama 160 200

Mortalidade pós-desmama 4% 1%

Idade à 1a cria 4 anos 2 anos

Intervalo entre partos 21 meses 12 meses

Idade de abate 4,0 anos 1,5 ano

Taxa de abate ou desfrute 17% 40%

Lotação 0,9 animal/ha 3,0 animais/ha

Ganho PV/animal/dia 246 g 420 g

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Produção de carne/ha/ano 42 kg 230 kg

Ciclo da Pecuária Tardia Precoce

Qualidade de carne Baixa Alta

Rentabilidade Baixa Alta

Fonte: Adaptado de Kichel & Kichel (2002).

Com a iLP, na fase de recria e engorda, é possível aumentar a lotação para 4 a 5 animais/ha, média ano, produtividade de 450 kg de carne/ha/ano ou 30 arrobas/ha/ano. Isto equivale a 110 kg de carne/animal/ano ou 220 kg de peso vivo por animal/ano, correspondendo a um ganho médio de 600 g/animal/dia.

Estes ganhos de peso vivo podem variar, tanto pela espécie ou cultivar da forrageira (Tabela 2), quanto em decorrência da genética, sanidade e suplementação animal, condições climáticas, manejo das pastagens, fertilidade do solo e nível de adubação das pastagens, dentre outros.

Tabela 2. Estimativa do potencial de desempenho animal, em ganho médio diário de peso vivo (GMD), proporcionado pelas principais forrageiras perenes e anuais, utilizando animais de recria e engorda, sem considerar o ganho compensatório, com boa oferta de forragem durante todos os dias do ano Forrageira GMD (g) Brachiaria humidicola 400 B. decumbens 480 B. brizantha cv. Xaraés 480 B. brizantha cv. Marandu 500 B. brizantha cv. Piatã 550

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Andropógon 550 Massai 600 Tanzânia 700 Mombaça 700 Tifton 750 Sorgo forrageiro/pastejo 900 Milheto 950 Aveia e Azevém 1.000

Com adoção das tecnologias disponíveis e qualificação da mão-de-obra em todos os níveis da pecuária de corte, pode-se obter um grande aumento na produção nacional de carne bovina.

Na Tabela 3, seguem exemplos de sistemas de produção e seus respectivos índices zootécnicos.

Tabela 3. Produtividade de sistemas de produção de carne de ciclo completo, em relação à taxa de lotação, taxa de desfrute e produtividade de carne (kg/ha/ano) Sistema Lotação (cab/ha) Taxa de desfrute (%) Produtividade (k (kg/ha/ano) 1. Pastagem degradada 0,7 17 30 2. Pastagem melhorada 1,5 19 60 3. Pastagem intensiva 2,0 21 90 4. 3+Suplementos 2,2 22 120 5. 4+Confinamento 2,5 25 150 6. 5+Integração iLP 3,0 35 230

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7. 6+Recria e engorda 5,0 40 450

8. 7+Pastagem irrigada 9,0 42 1.125

Como exemplo, considerando-se a meta brasileira assumida na COP-15, em 2009, de aumentar a área com sistemas de iLPF em 4,0 milhões de hectares, até 2020, como estratégia de recuperação de pastagens degradadas, sendo que 50% da área ficaria disponível para pastagem e os outros 50% para lavoura, anualmente; esses sistemas contariam com pecuária de corte em ciclo completo de cria, recria e engorda, em pastagem recuperada com o cultivo da soja e, admitindo-se uma produtividade de carne de 230 kg/ha/ano, poderia-se atingir uma produção anual de 460.000 t, ou seja, cerca de 283% a mais de carne do que a mesma área com pastagem degradada (30 kg de carne/ha/ano) e ainda liberando 2 milhões de hectares para a produção de grãos, sem a necessidade de abertura de novas áreas.

É importante ressaltar que apenas uma pequena proporção do rebanho de corte está em áreas de pastagens com razoável reposição de nutrientes. Uma proporção menor ainda recebe alguma suplementação alimentar para terminação. Verifica-se então, que cerca de 90% dos animais abatidos são criados exclusivamente em pasto ou com uma pequena suplementação em períodos críticos, com idade de abate entre 36 e 50 meses.

Antes de qualquer tomada de decisão para escolher o melhor sistema de produção ou tecnologia a ser adotada, deve-se realizar um bom diagnóstico da propriedade.

3. DIAGNÓSTICO DA PROPRIEDADE

Segundo Kichel et al. (2010), o diagnóstico da propriedade engloba a identificação detalhada da fazenda, sua área total, lo calização, clima predominante, tipo(s) de solo, infra-estrutura, capacidade de transporte e logística, insumos, mão-de-obra, sistema de produção atual e tecnologias

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adotadas, tipos de culturas e animais, produtividades, custos de produção e rentabilidade.

Deve-se levar em conta a aptidão natural da propriedade em relação aos sistemas de produção predominantes na região .

Para a pecuária de corte e leite existente (cria, recria ou engorda) , deve-se observar o potencial genético do rebanho, os manejos adotados (reprodutivo, sanitário e nutricional), os índices zootécnicos médios obtidos, os custos médios de produção (kg de peso vivo ou carne) , a quantidade de animais por categoria, e a lotação das pastagens, em animais e UA/ha/ano.

Quanto às pastagens existentes, deve-se registrar as tecnologias utilizadas na formação, recuperação e/ou renovação de pastagens, o número e tamanho das divisões, o sistema de pastejo utilizado (contínuo, alternado ou rotacionado), a altura de pastejo adotada, a distribuição de aguadas, principais pragas e controles, principais invasoras e controle, topografia e tipo de solo, suscetibilidade à erosão e controle, uso de leguminosas, idade e períodos de exploração das pastagens, áreas degradadas, áreas em degradação e áreas em bom estado.

4. RECUPERAÇÃO E RENOVAÇÃO DE PASTAGENS

Recuperar uma pastagem consiste no restabelecimento da produção de forragem de acordo com o interesse econômico, mantendo-se a mesma espécie ou cultivar. Renovar uma pastagem consiste no restabelecimento da produção da forragem com a introdução de uma nova espécie ou cultivar, em substituição àquela que está degradada.

As técnicas agronômicas desenvolvidas para a recuperação e renovação das pastagens objetivam o restabelecimento da biomassa das plantas em um período de tempo determinado, com custo econômico viável para o produtor.

A análise de solo é de fundamental importância, tanto para a implantação de uma pastagem como para uma cultura anual, porque por intermédio dela

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pode-se conhecer o grau de deficiência ou depode-sequilíbrio de nutrientes espode-senciais ao desenvolvimento de cada cultura. Conhecidas as quantidades de nutrientes no solo e as exigências nutricionais da cultura, para alcançar uma produtividade desejada, podem ser adicionados os insumos (calcário, adubos) nas quantidades necessárias, para se obter uma produtividade mais econômica, tanto para fins de correção como de manutenção. Também, em função da análise de solo, pode-se escolher a espécie ou espécies mais produtivas a serem mantidas ou trocadas.

De forma geral, podem ser divididos em dois os sistemas de recuperação e renovação de pastagens, quais sejam: recuperação ou renovação com o uso de agricultura, ou seja, integração lavoura-pecuária, e recuperação ou renovação direta da pastagem. Neste trabalho será abordada somente a integração lavoura-pecuária.

4.1. Sistemas de recuperação e renovação de pastagens com a integração lavoura-pecuária (iLP)

Não existe o melhor sistema de iLP e sim as melhores condições para a adoção de certo sistema de iLP, que é determinado pelo diagnóstico realizado na região e na propriedade, de acordo com os objetivos do proprietário e da disponibilidade e qualificação da mão-de-obra nos níveis gerencial e operacional.

O tempo de exploração da lavoura ou pecuária vai depender do sistema de iLP adotado, podendo-se utilizar a pecuária por um mês até cinco anos e retornar novamente com a lavoura, utilizando a mesma por cinco meses a cinco anos e assim sucessivamente.

Em regiões com clima e solo favoráveis para a lavoura de grãos, pode-se utilizar a pecuária por seis meses a um ano e a lavoura, por dois a cinco anos. Os objetivos do uso da pastagem são: rotação de culturas, aumentar a produção de palhada para o plantio direto, redução de pragas, de doenças e de riscos climáticos.

Em regiões com clima e solo desfavoráveis para as lavouras de grãos, deve-se utilizar a lavoura por um ano e a pecuária por dois a cinco anos. Nesse

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caso, as lavouras de grãos têm por principal objetivo, recuperar as pastagens degradadas, aumentando a produtividade e a qualidade das forrageiras e potencializando a produtividade e a lucratividade da pecuária.

Algumas alternativas são:

a) Recuperação ou renovação da pastagem com plantio de lavoura em monocultivo por um ou mais anos e, após, implantação do pasto na safra ou safrinha, em monocultivo ou consorciado.

b) Plantio consorciado das lavouras de grãos com forrageiras na safra ou safrinha.

c) Exploração das pastagens por um ou mais anos e retorno com lavoura de grãos.

4.1.1. Benefícios esperados com o uso da iLP

Esperam-se benefícios de ordem econômica, ambiental, social e agronômica/zootécnica com a implantação da tecnologia de iLP, tais como:

a) Incremento anual, com menor custo, na produção de grãos e produtos de origem animal, sem a incorporação de novas áreas e desmatamento, particularmente, no Cerrado e no bioma Amazônico. b) Aumento da competitividade da carne bovina no mercado nacional e

internacional, com produção, a pasto, de carcaças de melhor qualidade.

c) Aumento da produtividade de grãos, carne, leite e fibras, especialmente, pelos integrantes das pequenas e médias propriedades rurais.

d) Recuperação do solo com custos mais baixos, uma vez que o lucro obtido com a cultura amortiza os gastos da recuperação da pastagem.

e) Facilidade de renovação da pastagem: em geral, n os plantios de culturas anuais, o preparo do solo é mais intensivo, com o uso de herbicidas, proporcionando uma redução no potencial de sementes

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de invasoras no solo, possibilitando a troca de espécie forrageira, principalmente, entre as espécies de Brachiaria.

f) Melhoria nas propriedades físicas, químicas e biológicas do solo: com a rotação de lavoura e pecuária, evitando-se a monocultura, eliminam-se camadas compactadas de solo, adoção de práticas de conservação do solo, bem como a incorporação de resíduos animais (principalmente esterco), raízes e palhadas dos cereais e da forrageira, estimulando a vida do solo pela adição de material orgânico.

g) Redução de pragas e doenças, pela quebra dos seus ciclos, bem como redução da infestação de plantas invasoras e, consequentemente, reduzindo o uso de agrotóxicos.

h) Aproveitamento de adubo residual: parte do fertilizante aplicado à lavoura permanece no solo sendo, depois, aproveitado pela pastagem.

i) Maior eficiência na utilização de máquinas, equipamentos e mão -de-obra na fazenda, com otimização do uso por um maior período de tempo no ano.

j) Diversificação do sistema produtivo (pastagens e cultivos): a empresa pode utilizar tanto as fases de cria, recria e engorda, como a produção de grãos, propiciando maiores garantias contra os riscos climáticos e flutuações de mercado.

k) Fixação do homem no campo, tanto pela necessidade de mão -de-obra como pela melhoria da renda do produtor e produtividade do trabalho, aumentando a oferta de emprego.

l) Inserção social pela geração de trabalho, renda e estímulo à qualificação profissional.

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n) Aumento da produtividade do negócio agropecuário, tornando o sistema sustentável em todos os seus termos, econômico, social e ambiental.

4.1.2. Principais requisitos para adoção da iLP

Identificam-se duas situações distintas para a implantação da iLP, aquela em que a agricultura é introduzida nas áreas de pastagens e aquela em que a pecuária é introduzida nas áreas de lavouras de grãos.

4.1.2.1. Introdução de agricultura em áreas de pastagens

Para a produção de grãos em áreas de pastagens, considerando -se que esta é uma atividade de maior risco e requer uma maior especialização por parte dos produtores, os principais requisitos são:

a) Solos favoráveis para a produção de grãos, em áreas de clima propício.

b) Infra-estrutura mínima para a produção de grãos: máquinas, equipamentos e instalações.

c) Acesso à entrada de insumos, escoamento de produtos e capacidade de armazenamento.

d) Recursos financeiros para os investimentos na produção. e) Domínio da tecnologia requerida para a produção.

f) Assistência técnica.

g) Possibilidade de arrendamento da terra ou de parceria com produtores tradicionais de grãos.

No caso do emprego de lavouras para recuperação e renovação de pastagens, os custos podem, em anos normais, serem amortizados total ou parcialmente, já no primeiro ano de cultivo. Redução na quantidade de insumos, nas operações de preparo e conservação do solo, e, a partir do segundo ano, possibilita, também, obter margens pos itivas.

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4.1.2.2. Introdução de pecuária em áreas de lavouras de grãos Para a produção pecuária em áreas de lavoura de grãos, os principais requisitos são:

a) Infra-estrutura mínima para pecuária: pastagens, curral, cercas, cochos, aguadas e outros.

b) Recursos financeiros para os investimentos na atividade. c) Domínio das tecnologias requeridas para o sistema. d) Assistência técnica.

e) Possibilidade de arrendamento da terra e/ou parceria com produtores tradicionais de pecuária de corte.

f) Disponibilidade de animais na região.

A exploração intensiva da atividade de pecuária de corte, principalmente, na recria e engorda de animais cruzados, em solos corrigidos, com manejo sanitário e nutricional adequados, poderá apresentar maior rentabilidade, com menor risco, quando compa rada com a produção de soja, milho, feijão, arroz, sorgo e outras.

4.2. Pontos importantes a serem considerados na iLP

4.2.1 Espécies/cultivares mais indicadas para a produção de grãos em iLP Utilizar as espécies/cultivares de ciclo precoce a médio, principalmente, quando consorciadas com as forrageiras tropicais, possibilitando a implantação de lavouras ou pastagens em safrinha.

4.2.2. Espécies/cultivares de forrageiras perenes mais indicadas para a integração lavoura-pasto

Tem por objetivo principal a rotação de culturas e a produção de palhada para o plantio direto. As mais indicadas são: Brachiaria ruziziensis, Brachiaria decumbens, Brachiaria brizantha cv. Marandu e B. brizantha cv. Piatã.

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4. 2.3. Espécies/cultivares de forrageiras perenes mais indicadas para a iLP Tem por objetivo principal a produção de carne e leite, a rotação de culturas e produção de palhada para o plantio direto. As mais indicadas são: Brachiaria brizantha cvs. Piatã, Xaraés e Maradu; Brachiaria ruziziensis; Panicum sp. cvs. Massai,Tanzânia, Aruana e Mombaça.

4.2.4. Qualidade e quantidade de sementes de forrageira para a iLP

Deve-se utilizar semente de melhor qualidade, com alta pureza e germinação, baixa dormência e, de preferência, tratadas com fungicida e inseticida.

A taxa de semeadura a ser utilizada depende dos seguintes fatores: espécie ou cultivar, objetivo de utilização, condições de clima, solo, ocorrência de pragas e invasoras, equipamento disponível e sistema de plantio.

De modo geral, deve-se aumentar a taxa de semeadura em 20 a 40% para semeadura na safra e aumentar de 40 a 60 %, na safrinha, onde os riscos climáticos são maiores. O aumento da taxa de semeadura tem como objetivo garantir um estabelecimento mais uniforme. Para a pecuária, proporciona maior produtividade de forragem, antecipa a utilização pelos animais, favorecendo uma maior produtividade de carne e leite. Para a lavoura subsequente, uma boa formação da pastagem favorece a cobertura do solo mais uniforme, minimiza a formação de touceiras, facilitando o processo de dessecação e de plantio direto da cultura (ALMEIDA et al., 2009).

4.2.5. Manejo da pastagem

O manejo das pastagens adotado em sistemas tradicionais visa, além da produtividade, a longevidade das mesmas. Na iLP, o manejo deve ser mais intensivo, pois ávida útil da pastagem é menor, em decorrência da rotação com a lavoura. Assim, os solos apresentam maior fertilidade e o potencial de produção forrageiro é maior, podendo-se reduzir a altura de pastejo e os dias de descanso. Está prática estimula um maior perfilhamento das plantas, minimizando a formação de grandes touceiras e aumentando o ganho animal.

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4.3. Sistemas de produção da pecuária bovina em iLP

Em propriedades que adotam a iLP, os sistemas mais indicados são: recria e engorda, produção de leite, dupla aptidão e produção de matrizes e reprodutores.

4.3.1. Desempenho bioeconômico de um sistema de iLP realizado na Embrapa Gado de Corte, em Campo Grande-MS

Na Tabela 4 é apresentado um sistema de iLP desenvolvido na Embrapa Gado de Corte, no período de outubro de 2006 a setembro de 2010.

Esse sistema consiste em dividir a área da fazenda em quatro módulos, sendo que cada módulo é utilizado por 10 meses, com lavouras de grãos e 14 meses, com pastagens. Nos módulos com lavoura, 100% da área é cultivada com soja na safra (verão), sendo que, na safrinha (outono -inverno), metade dessa área é cultivada com milho consorciado com forrageiras e a outra metade, formada com pastagem das mesmas forrageiras. Nos módulos com pastagem, esta é utilizada durante todo ano. Assim, a área da fazenda ocupada com pastagens no inverno (julho a outubro) é de 100%, e no verão (outubro a março) é de 50%. As forrageiras utilizadas foram: capim-piatã, no 1º e 2º anos, e capim-mombaça, no 3º e 4º anos. A área onde foi realizado o experimento era utilizada com pastagem de Brachiaria decumbens, com produtividade média de 4 @/ha/ano, na recria de bovinos.

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Tabela 4. Produtividades de soja, milho e carne, obtidas no período de outubro de 2006 a setembro de 2010 Ano Out -2006 Set -2007 Out-2007 Set- 2008 Out-2008 Set- 2009 Out-2009 Set- 2010 Setor Soja milho @ Soja milho @ Soja milho @ Soja milho @

1 - - 23,1 66,2 46,7 - - - 37 64 50,0 -

2 54 - - - 29,2 49,0 - - - - 38

3 - - 22,0 64,0 - - - - 37 60 - -

4 54 54,2 - 26,7 52,5 - - - - 38

Total 108 54,2 45,1 130,0 46,7 55,9 101,5 0,0 74 124 50,0 76

Os resultados médios obtidos de produtividade da cultura da soja, milho safrinha e carne, no período de outubro de 2006 a setembro de 2010 (Tabela 5) foram de: 58 sc/ha/ano, 37,7 sc/ha/ano e 31,4 @/ha/ano, respectivamente. A pastagem foi utilizada para recria e engorda de bovinos, que entraram no experimento com peso vivo de 170 a 200 kg e, após um ano de pastejo, saíram da área com 370 a 400 kg de peso vivo médio, com ganho médio diário de 548 g/animal.

A lotação média obtida nos quatro anos foi de 4,71 animais de recria e engorda/ha/ano ou 3,3 UA/ha/ano, a lotação máxima foi obtida no último ano com 5,7 animais/ha ou 4 UA/ha/ano

Tabela 5. Produtividades de soja, carne e milho, obtidas no período de outubro de 2006 a setembro de 2010 Setor Soja (sc/ha) Carne (@/ha) Milho (sc/ha) 1 130,2 60,1 96,7 2 103,2 67,2 - 3 124,0 59,0 - 4 106,5 64,7 54,2 Média/ano 58,0 31,4 37,7

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Na Tabela 6, são apresentados os resultados de rentabilidade do sistema de iLP conduzido na Embrapa Gado de Corte, sendo que foram utilizadas as produtividades médias de carne, soja e milho, obtidas em quatro anos de pesquisa. Em relação aos custos de produção e receita bruta do sistema, foram utilizados os valores obtidos no ano de 2009/2010. Para efeito de cálculo, foram utilizados os valores de mercado da arroba de carne, saca de soja e saca de milho, praticados no mês de setembro de 2010, por ocasião do encerramento do experimento. Para o sistema com pastagem degradada, foram obtidos dados médios da região.

Tabela 6. Resultados obtidos em sistema de iLP conduzido na Embrapa Gado de Corte em comparação à pastagem degradada

Atividade Produtividade por ha/ano Custo (R$/ha/ano) Receita bruta (R$/ha/ano) Receita líquida (R$/ha/ano) Soja 58 sc 1.200,00 2.030,00 970,00 Milho safrinha 37,7 sc 570,00 592,00 33,20 Pastagem com iLP 31,4 @ 1.361,82 2.826,00 1.464,00 Pastagem

degradada

4 @ 280,00 360,00 80,00

A receita líquida por atividade, obtida em uma fazenda que utiliza o sistema de iLP acima descrito, em uma área de 1.000 ha, sendo que na safra, com 500 ha de lavoura de soja e 500 ha de pastagem, e na safrinha, com 250 ha com milho, 250 ha com pasto novo e 500 ha com pasto de 1 ano, seria de:

500 ha de soja x R$ 970,00 = R$ 485.000,00 250 ha milho safrinha x R$ 33,20 = R$ 8.300,00 500 ha de pastagem x R$ 1.464,00 = R$ 732.000,00

A receita liquida total seria de R$ 1.225.300,00 em 1.000 ha de exploração com iLP, media anual de R$ 1.225,30/ha, sendo que a rentabilidade da lavoura de grãos seria de R$ 986,60/ha/ano e da pecuária de corte, de R$ 1.464,00/ha/ano.

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Para cada R$ 1,00 de receita líquida obtida com a cultura da soja, a pecuária de corte proporcionou R$ 1,50 com a recria e engorda de animais. Os animais foram abatidos aos dois anos de idade, com 60 dias de confinamento, sendo que em sistemas extensivos os mesmos são abatidos, em média, com quatro anos de idade.

No sistema de iLP, pode-se aumentar a produtividade em 7,85 vezes ou 685% e a lucratividade em 18,3 vezes ou 1.730%, com redução no uso de pesticidas, tanto para as lavouras quanto para a pecuária de corte. Além da alta produtividade e qualidade da carne, o sistema permite reduzir a emissão de gases de efeito estufa por kg de carne, aumentando os níveis de matéria orgânica no solo, mostrando ser um sistema altamente sustentável.

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5. BIBLIOGRAFIA

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Referências

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