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Percepção Etnoentomológica por Alunos do Ensino Médio do Município de Alegre-ES. T. A. Alves1*, A. S. Santana1, L. Souza1 & F. G.

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Percepção Etnoentomológica por Alunos do Ensino Médio do Município de Alegre-ES

T. A. Alves1*, A. S. Santana1, L. Souza1 & F. G. Lacerda1

1Universidade Federal do Espírito Santo Centro de Ciências Agrárias – CCAUFES. *Email para correspondência: thammyresalves@gmail.com

Introdução

A etnoentomologia é um ramo da etnozoologia que estuda as interações entre os seres humanos e os insetos, ou seja, é o estudo do modo como esses animais são percebidos, identificados, classificados e utilizados pelo homem (Costa-Neto e Carvalho 2000).

Os insetos são animais que apresentam 3 pares de pernas, 1 par de antenas, são alados, salvo algumas exceções, além de apresentarem corpo dividido em cabeça, tórax e abdômen. É a classe de animais que apresenta maior número de indivíduos. Segundo Erwin (1997), os insetos constituem provavelmente 75% da vida animal da terra. A enorme diversidade de insetos foi resultado, principalmente, de sua extraordinária adaptação. Seu sucesso pode ser atribuído a uma série de fatores como estrutura corpórea dos artrópodes, resistência à dessecação, vôo e desenvolvimento holometábolo. Assim, esses animais conquistaram os diversos ambientes, sejam eles, terrestres, aquáticos ou aéreos. Acredita-se que essa adaptação foi proporcionada pela sua capacidade de voar, Acredita-sendo que a clasAcredita-se Insecta foi a primeira a adquirir essa aptidão dentre todos os animais. Dessa forma, o voo concedeu aos insetos a oportunidade de explorar os vários tipos de ambiente (BARNES, 1996).

Os insetos são animais de grande importância ecológica, cultural e econômica. Eles são utilizados em alguns locais como fonte alimentícia por serem ricos em proteínas. Além disso, podem produzir alimentos, inclusive, para o homem, como é o exemplo das abelhas que produzem o mel. Ademais, são indispensáveis na polinização de plantas, na ciclagem de nutrientes, além de fazerem o controle populacional de outros insetos, uma vez que alguns insetos são predadores. Ao mesmo tempo, são considerados pragas agronômicas por destruírem grandes áreas de plantações, pondo em risco colheitas inteiras. Considerando que estamos em um país de clima tropical, somos privilegiados com uma maior diversidade da classe, porém esse fato pode não representar uma vantagem para o setor agrícola que busca incessantemente, sem economizar nos gastos, por métodos eficazes no controle dos insetos-praga (Barnes, 1996; Ulysséa, 2010).

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O presente estudo foi realizado no município de Alegre, ES, tendo como objetivo avaliar o nível de conhecimento dos alunos do Ensino Médio de uma escola pública e outra particular em relação aos Insetos por meio de entrevistas.

Material e Métodos

Após a aprovação do modelo do questionário semiestruturado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal do Espírito Santo, os questionários foram aplicados em sala de aula para alunos que cursavam o 1° ano(39 alunos) e o 3° ano (49 alunos) do ensino médio na escola pública, sendo que na escola particular apenas os alunos do 3º ano (5 alunos) foram entrevistados, uma vez que esta não possuía o 1º ano. Essas séries foram escolhidas visando comparar o conhecimento dos alunos das séries iniciais do Ensino Médio. Sendo que esse aprendizado foi formado em sua maioria a partir das aulas ministradas durante o Ensino Fundamental, com o dos estudantes que já estavam finalizando o Ensino Médio, já que estes estudaram o Filo Arthropoda que normalmente é ministrado no 2º ano desta etapa de ensino.

Os dados foram coletados em novembro e dezembro de 2012. Das questões referentes ao conhecimento sobre os insetos, uma delas era constituída por uma lista de 40 animais em que o aluno deveria assinalar apenas aqueles que eram insetos. Em outra questão, os alunos responderam sobre as fontes de seus conhecimentos em relação aos insetos, cujas opções eram: escola, livros, televisão, revistas e internet. Houve também uma questão sobre as sensações dos alunos ao verem um inseto que poderiam ser medo, nojo, curiosidade, beleza, ou outras sensações.

Os alunos responderam os questionários individualmente e sem consulta. Os dados de cada turma entrevistada foram analisados individualmente, por meio de uma análise estatística descritiva e pelo teste Qui-quadrado, realizado no programa past. Para verificar se os resultados observados diferiram dos esperados, ou seja, se os animais que são insetos realmente foram marcados como tais e se os animais de outros grupos taxonômicos foram reconhecidos como não insetos e consequentemente não marcados no questionário.

Resultados e Discussão

A maioria dos entrevistados indicou a escola como maior fonte de conhecimentos e o sentimento mais apontado pelos entrevistados em relação aos insetos é de nojo, seguido por curiosidade. Porém, mesmo com o aprendizado mais significativo sendo o escolar, nota-se que muitos erros referentes aos indivíduos que compõem o grupo ocorreram, isso

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285 pode ser causado por uma aula ministrada sem associação do conteúdo com o cotidiano do aluno. Esse erro também pode ser devido, ao “bloqueio” que as pessoas apresentam em relação à classe e que acabam classificando todos os animais lhes passam a imagem de sujeira, doença, nojo ou que não gostam por algum motivo, e associam os seres que passam essas sensações indesejadas, como insetos (Ulysséa, 2010).

O questionário era composto de uma questão que continha uma lista com o nome de 40 seres vivos, e pedia para que o entrevistado marcasse apenas os que fossem insetos e os demais fossem deixados em branco. Na Figura 1 e na Figura 2 encontra-se a relação com as opções de animais e a quantidade de marcações que cada um recebeu nessa questão entre os 49 alunos do 3º ano do Ensino Médio, na escola pública.

Figura 1. Relação dos 20 seres vivos

presentes no questionário que foram selecionados como insetos por mais alunos do 3º ano do Ensino Médio da escola pública.

Figura 2. Relação dos 20 seres vivos

presentes no questionário que foram selecionados como insetos pelo menor número de alunos do 3º ano do Ensino Médio da escola pública.

É importante destacar que aproximadamente 90% da população amostrada selecionou de maneira correta, a mosca, o grilo, o mosquito e o pernilongo como insetos e 100% da população acertaram ao não marcarem o camarão, o sapo, a cobra e o tatu-bola como insetos, este último ilustrado na Figura 2.

No 3º ano do Ensino Médio da instituição particular estavam matriculados 5 alunos, sendo este o número de pessoas que foram entrevistadas nesta escola. Nas Figuras 5 e 6 estão relacionadas o número de marcações que cada ser vivo recebeu durante o preenchimento do questionário, sendo que todos os entrevistados reconheceram corretamente como insetos: a joaninha, o besouro, a esperança, o gafanhoto, a abelha, o louva-deus, a maria-fedida, o pernilongo e o mutuca, Figura 3. Eles também não relacionaram como insetos, de maneira correta, a aranha, o escorpião, o camarão, o caramujo, o sapo, o rato, a cobra, a

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minhoca, o tatu-bola, o calango e a lagartixa. Porém, todos os estudantes deixaram erroneamente de selecionar o piolho como inseto, Figura 4.

Figura 3. Relação dos 20 seres vivos

presentes no questionário que foram selecionados como insetos por mais alunos do 3º ano do Ensino Médio da escola particular.

Figura 4. Relação dos 20 seres vivos

presentes no questionário que foram selecionados como insetos pelo menor número de alunos do 3º ano do Ensino Médio da escola particular.

No 1º ano do Ensino Médio da escola pública havia 39 estudantes na turma entrevistada. A Figura 5 demonstra os vinte seres vivos mais marcados por estes alunos e a Figura 6 mostra os seres menos marcados como insetos pelos mesmos.

Figura 5. Relação dos 20 seres vivos

presentes no questionário que foram selecionados como insetos por mais alunos do 1º ano do Ensino Médio da escola pública.

Figura 6. Relação dos 20 seres vivos

presentes no questionário que foram selecionados como insetos pelo menor número de alunos do 3º ano do Ensino Médio da escola pública.

Observou-se que essa foi a turma com maior quantidade de erros, o que já era esperado por estes ainda não terem estudado o grupo no Ensino Médio e o assunto em questão ser tratado nas séries iniciais do Ensino Fundamental, desse modo, a maioria provavelmente já esqueceu o conteúdo. Assim, nenhum animal deixou de ser considerado como inseto por todos os estudantes e nenhum inseto foi marcado por todos dos entrevistados. Logo, eles

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287 não obtiveram 100% de acerto nem reconhecendo quais seres da lista eram de fato insetos, e nem reconhecendo quais não eram.

Para cada grupo entrevistado a proporção de acertos diferiu do esperado (3º ano público: Chi^2=195,96; gl=1; p<0,001, Figura 7; 3º ano particular: Chi^2=79,88; gl=1; p=0,005, Figura 8; 1º ano público: Chi^2=211,5; gl=1; p<0,001, Figura 9).

Figura 7. Valores observados e esperados

como resposta dos estudantes do 3º ano Ensino Médio da instituição pública para insetos e não- insetos.

Figura 8. Valores observados e esperados

como resposta dos estudantes do 3º ano Ensino Médio da instituição particular para insetos e não- insetos.

Figura 9. Valores observados e esperados

como resposta dos estudantes do 1º ano Ensino Médio da instituição pública de ensino para insetos e não- insetos.

Segundo Modro et al, os docentes não têm colaborado com o ensino formal, seja considerando os insetos como sem importância ou até mesmo não diferenciando os indivíduos pertencentes à este grupo taxonômico dos pertencentes a outros grupos, o que torna o ensino nas escolas indiferenciado do da cultura local. O que não acontece na zona rural do noroeste do Ceará, em que Braga e Araújo, citam em seu trabalho que mesmo com dificuldade na aplicação de aulas práticas por falta de laboratórios ou matérias, os professores abordam o conteúdo utilizando outros recursos para suprir a curiosidade dos alunos, que diz respeito a importância dos insetos e possíveis doenças que estes podem causar.

Segundo Vital et al, os artigos que estimulam o uso de insetos em experimentos na sala de aula são escassos, sugerindo que essa prática ainda se encontra pouco difundida no ensino básico. Baptista e Costa Neto em seu trabalho, ressaltam que em relação aos conteúdos

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didáticos de ciências e biologia, a classe Insecta é o grupo animal que possibilita ao professor uma aproximação, com maior facilidade, dos alunos com os indivíduos pertencentes ao grupo. Visto que são de fácil acesso por serem abundantes no clima tropical e altamente didáticos no ponto de vista curricular, desta maneira facilitando os estudantes a construírem o conhecimento referente ao grupo com eficiência e coerência, além de ajudar a remodelar a visão que muitos desses alunos obtêm sobre insetos.

Os insetos podem ter várias finalidades, como nutrição, sendo utilizados como alimento em alguns lugares do mundo como na China, na medicina popular, que é comum em zonas rurais, além de decorativa como a borboleta, a libélula e da joaninha foram utilizadas na comunidade do Ribeirão da Ilha, sendo caracterizados como elementos decorativos de festas de aniversário de crianças, enfeites para casa, pinturas em quadros, portas retratos, toalhas e colchas, entre outros (Ulysséa et al., 2010).

É necessária a aplicação de um ensino com maior qualidade e uma desmistificação dos insetos, pois nota-se que grande parte da população dos entrevistados sente curiosidade pelos mesmos, sendo esta a segunda sensação com maior índice de citação pelas turmas entrevistadas, deixando claro que faltam informações sobre o assunto. Quando o conhecimento referente ao mesmo é construído, possibilita observação dos aspectos positivos dos insetos na natureza e com isso a supervalorização dos aspectos negativos diminui, possibilitando que, talvez, com um melhor conhecimento haja uma melhor interação da parte dos humanos para com os insetos, evidenciando sua importância para as pessoas, plantas e ecossistema em geral.

Conclusão

A partir do trabalho conclui-se que os alunos do 3º ano do Ensino Médio apresentam maior conhecimento referente à classe Insecta que os estudantes do 1º ano. Além disso, observamos que o conhecimento, em sua maioria, é proveniente da escola e que grande parte dos entrevistados sente curiosidade ou nojo ao se depararem com um inseto.

Agradecimentos

Gostaria de agradecer a Deus, aos meus pais e irmãos, ao meu namorado, a Universidade Federal do Espírito Santo que me deu os subsídios necessários para o desenvolvimento do presente trabalho e a minha orientadora por me incentivar a trabalhar com pesquisas científicas.

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Literatura Citada

Baptista, G. C. S.; Costa Neto, E. Reunião de Feira de Santana: Conhecendo os insetos na escola. 2004. Jornal da Ciência, E-mail, 2660. Disponível em: <http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=23683>. Acesso em: 10 ago. 2013

Braga, P. E. T.; Araújo, A. C. M. A concepção docente sobre o estudo dos insetos no Ensino Médio na região noroeste do Ceará, Brasil. Revista Homem, Espaço e Tempo. Mar. de 2012.

Costa-Neto, E. M.; Marques, J. G. W. 2000. Notas de etnoentomologia no estado de Alagoas, com ênfase na utilização medicinal de insetos. In: Introdução à etnoentomologia: Considerações metodológicas e estudo de casos. UEFS, Feira de Santana, Brasil, p.83-97.

Modro, A. F. H.; Costa, M. S.; Maia, E.; Aburaya, F. H. Percepção entomologia por docentes e discentes do município de Santa Cruz do Xingu, Mato Grosso, Brasil. Biotemas, p. 153 – 159, jun. 2009.

Ruppert, E. E.; Barnes, R.D. Zoologia dos Invertebrados. 6 ed. São Paulo: Ed. Roca. 1996. Ulysséa, M. A.; Hanazaki, N.; Lopes, B. C. Percepção e uso dos insetos pelos moradores

da comunidade do Ribeirão da Ilha, Santa Catarina, Brasil. Biotemas, p. 191 – 202, set. 2010.

Vital, M. V. C.; Vieira, L. C. G.; Carvalho, R. A. De; Costa, D. A.; Silva, L. C. F. Da; Silveira, A. V. T. Da; Lima Filho, G. F de. Insetos em experimentos de ecologia de populações: um exemplo de abordagem didática. Acta Scientiarum. Biological Sciences, Maringá, v. 26, n. 3, p. 287-290, 2004.

Referências

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