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Utilização De Redes Sociais Como Ferramenta De Publicidade Profissional: Como Os Psicólogos(as) Estão Divulgando Seus Serviços Psicológicos No Período Da Pandemia Da Covid-19 No Brasil

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UTILIZAÇÃO DE REDES SOCIAIS COMO FERRAMENTA DE PUBLICIDADE PROFISSIONAL: COMO OS PSICÓLOGOS(AS) ESTÃO DIVULGANDO SEUS SERVIÇOS PSICOLÓGICOS NO PERÍODO DA PANDEMIA DA COVID-19 NO

BRASILI

Brenda Serra da SilvaII Carolina Bunn Bartilotti1

Resumo: Diante da pandemia da COVID-19 no Brasil e a necessidade de distanciamento social, a categoria profissional dos psicólogos precisou adaptar-se a esta nova conjuntura por meio da prestação de serviços psicológicos de maneira virtual. O atendimento on-line e as suas especificidades, para muitos psicólogos, pode ser novidade e um desafio para o exercício profissional, portanto, é necessário compreender a melhor maneira de ser feita a oferta de cuidado e sua publicidade, diante desse contexto e momento de crise. Tendo isso em vista, o presente estudo relata e discute os resultados de uma pesquisa que objetivou investigar, a partir de publicidades em redes sociais, como os psicólogos(as) estão divulgando seus serviços psicológicos no período da pandemia da COVID-19 no Brasil. Trata-se de uma pesquisa de delineamento quantitativo, exploratório, e de corte transversal, elaborado por meio de análise documental. Os dados foram coletados em 58 anúncios nas redes sociais Facebook e Instagram. Foi encontrado que com relação à maneira de anunciar, a preferência de 79% dos profissionais foi por imagem com elementos textuais seguida de legenda com informações complementares. Quanto ao serviço psicológico ofertado, o mais frequente foi a psicoterapia com 98%. No que diz respeito à ética profissional na maneira de fazer publicidade, 36% dos profissionais cometeram em seus anúncios alguma violação do Código de Ética do Profissional Psicólogo (CEPP) sendo que desses 36% cerca de 14% cometeram mais de uma falta ética. Quanto às plataformas mais utilizadas pelos profissionais, 45% dos profissionais optaram por não informar em seu anúncio qual seria o recurso tecnológico utilizado. Dos 47% de profissionais que informaram especificamente qual TIC seria utilizada para atendimento, todos eles optaram por trabalhar com aplicativos que possibilitam o atendimento na forma síncrona. Os mais utilizados foram o Skype com 20% e Whatsapp Vídeo com 17%. Diante dos resultados, foi possível concluir que ainda há psicólogos que demonstram não conhecer o que está preconizado no CEPP, sendo importante que os Conselhos de Psicologia desenvolvam mais atividades de orientação à conduta ética profissional no meio on-line, tanto na publicidade profissional quanto nos atendimentos. Além disso, percebeu-se uma falta de instrumentalização e pouco referencial

I Artigo apresentado como requisito parcial para a conclusão do curso de Graduação em Psicologia da Universidade

do Sul de Santa Catarina – UNISUL. 2020

II Acadêmico do curso Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul. E-mail:

brendaserra76@gmail.com.

1 Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Professora Titular na Universidade

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2 teórico quanto às especificidades desta modalidade de atendimento. Aponta-se então, para necessidade de inclusão da temática das tecnologias de informação e comunicação em psicoterapia nos currículos de graduação de ensino da Psicologia. Sugere-se também, o desenvolvimento de mais pesquisas qualitativas e descritivas sobre como está sendo para os profissionais a adaptação ao atendimento on-line no período de pandemia, no que diz respeito ao sigilo, percepções dos profissionais e dos pacientes, e o vínculo terapêutico.

Palavras-chave: Publicidade em Psicologia. Atendimento On-line. Pandemia COVID-19

1 INTRODUÇÃO

No fim de dezembro do ano de 2019, a Organização Mundial de Saúde (OMS), após receber notificação das autoridades Chinesas de casos de uma “pneumonia misteriosa” na cidade de Wuhan na China, emitiu seu primeiro alerta para o que seria no ano de 2020, a pandemia viral da COVID-19 (G1- O portal de Notícias da Globo, 2020). As pessoas contaminadas pela COVID-19, apresentam como seus principais sintomas febre, falta de ar e tosse, e em casos mais graves pneumonia e insuficiência renal. Quanto à transmissão, ela ocorre por meio da saliva que fica no ar quando a pessoa tosse, espirra ou fala, pelo toque do aperto de mão, e pelo contato físico com objetos superfícies contaminadas. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2020)

A pandemia em pouco tempo se alastrou em grande escala, contagiando milhões de pessoas ao redor do mundo e, até o fim dessa pesquisa, só no Brasil foram totalizadas mais de setenta mil mortes por COVID-19. Diante dessa facilidade de contágio e transmissão, estratégias de combate à propagação do coronavírus precisaram ser tomadas. Perante esse cenário, a principal recomendação da Organização Mundial de Saúde (2020), para o combate à propagação do vírus é o isolamento social. Segundo Porfírio (2020), o isolamento social por decorrência de epidemias e pandemias trata-se de uma medida sanitária contra a proliferação de doenças. Contextualizando para o cenário atual da COVID-19, alguns governos estaduais e prefeituras estão impondo quarentenas - no caso de pessoas já infectadas, e distanciamento social para o restante da população, que opera por meio do fechamento de comércio, do transporte público e de escolas, por exemplo. Nesse sentido, quanto menos o vírus circular entre a população menor será o número de pessoas contaminadas.

Perante este cenário, e trabalhando dentro das possibilidades e ferramentas disponíveis, é necessário que outras formas de contato social sejam estabelecidas. É nesse momento então, que os aparatos tecnológicos como as ligações, vídeo chamadas e as redes sociais entram como

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3 maneira de aproximar as pessoas. Pensando nisso, a categoria profissional dos psicólogos, nesse momento de pandemia, também precisou adaptar-se a esta nova conjuntura por meio da prestação de serviços psicológicos de maneira virtual.

No que tange aos dispositivos legais, no ano 2000, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) publicou a resolução CFP Nº 03/2000, a primeira que regulamentava a prática de atendimento psicológico on-line. Desde o ano 2000, mais três resoluções foram publicadas até o ano de 2018 (Resoluções de 2005, 2012 e 2018). Na resolução Nº 011/2012, os psicólogos com interesse em oferecer atendimento psicológico por meio de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), deveriam ter plataforma própria cadastrando seus websites no site do Conselho Federal de Psicologia (CFP) e, se autorizado, apresentar um selo regulamentador. Além disso, o atendimento psicoterapêutico era permitido apenas em caráter experimental, não ultrapassando o máximo de 20 sessões. Na resolução mais recente de Nº 11/ 2018, a prática de atendimento psicoterapêutico, passa a ser permitida sem limite de sessões, e os psicólogos não precisam mais submeter websites para aprovação. No entanto, é preciso um cadastro na plataforma E-Psi, junto aos Conselhos Regionais de Psicologia (CRP) de referência, para que os métodos de atendimento propostos no cadastro sejam analisados e os atendimentos possam ser autorizados. Este cadastro é indispensável para a regularização dos profissionais, e tem caráter obrigatório. Ressalta-se, porém, que nessa resolução é vedado ao profissional psicólogo a possibilidade desse tipo de atendimento diante de situações de urgência e emergência e de desastres, sendo necessário o encaminhamento para o profissional que possa atender de forma presencial.

Nesse sentido, muito se sabe e se tem publicado sobre a atuação presencial e ativa do psicólogo em emergências e desastres, e as melhores orientações para essa prática (TRINDADE & SERPA, 2013; WEINTRAUB Et.al, 2014; PARANHOS & WERLANG, 2015), mas e em situações de isolamento social como é o caso do coronavírus? Até então, os dispositivos legais não permitiam ao profissional uma atuação em emergências e desastres de maneira não presencial.

Em vista disso, o CFP criou a Resolução Nº 04/2020. Essa resolução suspende os artigos da resolução anterior Nº11/2018, em que eram vedados ao psicólogo o atendimento psicológico por meio de TICs a pessoas e grupos em situação de emergência/desastres e em situação de violação de direitos/violência, onde estes atendimentos deveriam ser executados por profissionais de maneira presencial. Além disso, diante do cenário atual, como medida para facilitar e agilizar a prestação de serviços psicológicos de maneira virtual e também devido à

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4 alta demanda no processo de cadastro no E-Psi, o CFP flexibilizou o processo de cadastramento temporariamente, e os profissionais da Psicologia poderão fazer atendimento on-line sem necessidade de aguardar confirmação de cadastro no E-Psi.

Quanto aos estudos nacionais que investigam a prática do atendimento psicológico via TICs (PRADO & MEYER, 2006; DONNAMARIA & TERZIZ, 2011; PIETA & GOMES, 2014; SIEGMUND & LISBOA, 2015; HELLBERG & LISBOA, 2016; FEIJÓ & SILVA, 2018; FARIA, 2019), com exceção do de Faria (2019), todos eles foram baseados na resolução anterior de Nº11/2012 onde o atendimento psicológico só era permitido até 20 sessões tendo caráter experimental. Tendo essa ressalva pontuada, Hellberg e Lisboa (2016) inferiram que apesar dos psicoterapeutas estarem mais familiarizados com ferramentas tecnológicas e acessarem a internet com maior frequência e regularidade para uso pessoal, com relação a pesquisas dos anos 2000, seu uso profissional, para atendimentos psicológicos, ainda é restrito. Além disso, Siegmund e Lisboa (2015) inferiram em seu estudo que muitos profissionais estão acostumados a realizar atendimentos on-line apenas como serviço complementar e secundário em relação ao presencial. Quanto à pesquisa de Faria (2019), onde a pesquisadora é também a psicoterapeuta, foi a única desenvolvida depois da modalidade psicoterápica ser autorizada, sem limites de sessões. Concluiu-se no estudo que apesar da psicoterapia on-line não se adequar a todas as pessoas, possui benefícios e resultados promissores.

Diante das possibilidades de atendimento durante a pandemia serem preferencialmente remotas por questões de segurança da saúde pública, são muitos os cuidados que a classe profissional de psicólogos precisa ter nesse momento com o manejo de sua atuação. Para Veloso (2011), as TIC estão cada vez mais presentes em nossa sociedade, sendo assim, a reflexão sobre as suas possibilidades de aplicação no âmbito profissional tem gerado preocupações a diversas profissões, bem como sua apropriação visando o aprimoramento do trabalho. Nesse sentido, o autor complementa que as TICs podem desempenhar um papel importante para o trabalho profissional, desde que sua incorporação esteja de acordo com os valores e princípios que orientam os projetos de cada profissão.

Tendo isso em vista, o atendimento on-line e as suas especificidades, para muitos psicólogos pode ser novidade e um desafio para o exercício profissional da psicologia, portanto, é necessário compreender a melhor maneira de ser feita a oferta de cuidado e sua publicidade, diante desse contexto e momento de crise. Dessa maneira, vale ressaltar que as ações do psicólogo, devem estar articuladas de forma integral com o Código de Ética do Profissional

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5 Psicólogo (CEPP) e Resoluções do CFP. Nesse sentido, quanto ao cuidado com a publicidade, o Artigo 20 do CEPP afirma que:

O psicólogo, ao promover publicamente seus serviços, por quaisquer meios,

individual ou coletivamente: a)informará o seu nome completo, o CRP e seu número de registro; b) fará referência apenas a títulos ou qualificações profissionais que possua; c) divulgará somente qualificações, atividades e recursos relativos a técnicas e práticas que estejam reconhecidas ou regulamentadas pela profissão; d) não utilizará o preço do serviço como forma de propaganda; e) não fará previsão taxativa de resultados; f) não fará auto-promoção em detrimento de outros profissionais; não proporá atividades que sejam atribuições privativas de outras categorias profissionais; h) não fará divulgação sensacionalista das atividades profissionais. (Código de ética do psicólogo, 2005).

Além disso, em nota divulgada no site do Conselho Federal de Psicologia, no dia 21 de março de 2020, o CFP reforçou, quanto à publicidade profissional, que psicólogos como profissionais autônomos vivem de remuneração de acordo com as suas atividades nos mais diversos contextos, e com base nessas atividades devem ser valorizados por elas. Tendo em vista o contexto de emergência e calamidade pública da pandemia, o CFP ainda aponta que o profissional da Psicologia tem a obrigação, conforme previsto no Artigo 1º do CEPP, de prestar serviços psicológicos nesse cenário sem visar benefício pessoal. Portanto, conforme as orientações do CFP quanto a maneira correta de divulgação do serviço do psicólogo(a) deve estar pautada em:

Processos de escuta qualificada, orientação precisa e direcionamento conforme a ciência e a técnica psicológicas, em consonância com os parâmetros legais (e, especialmente, sanitários), considerando o estado de crise atual e as relações de poder em que nos encontramos, e não em ofertas genéricas e sensacionalistas de

acolhimento.(Nota Orientativa – Conselho Federal Psicologia, 2020)

Diante do exposto, percebe-se que devido a atual resolução Nº11/2018 ter entrado em vigor recentemente, a realização de serviços psicológicos por meio das TICs é um tema pouco explorado que carece de mais investigações e esclarecimentos. Em vista disso, espera-se que o presente estudo possa aumentar a visibilidade desse tema, principalmente para futuras produções a serem realizadas de acordo com a atual resolução, proporcionando uma maior compreensão sobre a realização dos serviços pelas TICs, bem como a publicidade desse serviço, para os profissionais que estão começando a atuar, e até mesmo aos que já atuavam de maneira on-line antes da pandemia do COVID-19. Portanto, esse estudo pretende investigar como os profissionais estão conduzindo as divulgações e publicidade dos serviços durante a pandemia do COVID-19, quais os principais recursos tecnológicos utilizados, e quantos dos profissionais já estão cadastrados no E-Psi.

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6 2 MÉTODO

2.1 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA

Trata-se de uma pesquisa de delineamento quantitativo, exploratório, e de corte transversal, elaborada por meio de análise documental. (Gil, 2008).

2.2 FONTES DE INFORMAÇÃO

O presente estudo foi desenvolvido por meio de investigação virtual. Nesse sentido, os dados foram coletados por meio de publicações de oferta de serviço psicológico feitas por psicólogos(as) em Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), como redes sociais. Por tratar-se de uma pesquisa sobre as estratégias de divulgação de serviços psicológicos feito por psicólogos no período da pandemia, as fontes de informação foram as próprias publicações que os profissionais disponibilizaram na internet. Portanto, por tratar-se de informações públicas, esta pesquisa não necessitou de submissão ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP).

2.3 PROCEDIMENTOS DE SELEÇÃO DE DADOS, INSTRUMENTO DE COLETA E PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS

Para o procedimento de seleção dos dados fez-se o uso de palavras-chave como: “psicologia”, “psicoterapia” “coronavírus” “covid-19” e “psicoterapia online” no período entre 09 de abril de 2020 e 20 de abril de 2020 no Instagram, Facebook e Google a fim de encontrar páginas e perfis de psicólogos que tenham divulgado sua forma de atendimento no período da pandemia. Ao todo, foram encontradas 58 publicações de profissionais da Psicologia durante a pandemia

Dessa forma, para organização dos dados encontrados, foi criado um protocolo de coleta e registro como instrumento de coleta de dados. Os dados coletados nas redes sociais foram organizados em uma tabela no programa Excel com as seguintes categorias: o local que foram extraídas as informações (sites, blogs, redes sociais); palavras-chave utilizadas nas buscas; o meio de informação (texto, áudio, vídeo, imagem entre outros.); se consta CRP em sua publicidade; faz divulgação de que tipo de serviço psicológico; se consta qual ferramenta

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7 tecnológica usa pra realizar seu serviço; se faz menção a valores em sua publicidade; se faz menção à gratuidade do serviço em sua publicidade; se faz previsão taxativa de resultado em sua publicidade; se tem cadastro ativo no E-Psi. Após os dados serem organizados em suas categorias, foram contabilizados manualmente para análise.

Quanto à análise dos dados, foi utilizada a estatística descritiva. Conforme Zanella (2011, p.123) o método quantitativo de pesquisa faz o uso do conhecimento estatístico para descrever (utilizando estatística descritiva). Para Gil (2008), grande parte das pesquisas sociais são passíveis ou requerem algum tipo de análise estatística. Ainda segundo Gil (2008, p.160) “as técnicas estatísticas disponíveis constituem notável contribuição não apenas para a caracterização e resumo dos dados, como também para o estudo das relações que existem entre as variáveis”.

3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Para analisar os dados coletados, as categorias foram distribuídas em três eixos de acordo com os objetivos específicos da pesquisa. Dessa forma, o primeiro eixo abrange o objetivo específico “Analisar as estratégias de divulgação utilizadas por psicólogas(os) no período da pandemia do COVID-19 no Brasil”. O segundo eixo abrange o objetivo específico “Identificar quais as TIC’s utilizadas pelos psicólogas(os) como meio de intervenção durante o período da pandemia do COVID-19”. E o terceiro eixo abrange o objetivo específico “Identificar a quantidade de profissionais que tem o E-Psi ativo”

3.1 ESTRATÉGIAS DE DIVULGAÇÃO DE SERVIÇOS PSICOLÓGICOS UTILIZADAS POR PSICÓLOGAS(OS) NO PERÍODO DA PANDEMIA DO COVID-19 NO BRASIL

Este eixo verificou: os locais onde foram divulgadas as publicidades de psicólogos (redes sociais, sites ou blogs); o meio de informação que foi utilizado (imagem, texto, vídeo, áudio); se os profissionais informaram seu CRP em sua publicidade; o tipo de serviço psicológico ofertado; quantos dos profissionais fizeram menção a valores do seu serviço; quantos dos profissionais fizeram menção à gratuidade do seu serviço; quantos dos profissionais fizeram previsão taxativa do resultado de seu serviço; e outras informações.

Facebook com 38% e Instagram com 62% foram as plataformas de divulgação de publicidade escolhidas pelos profissionais da Psicologia durante a pandemia, visto que pela

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8 busca no Google, por sites e blogs não foram encontradas publicações a partir de março de 2020 (período de início do distanciamento social). Portanto, este eixo foi analisado a partir de 58 anúncios encontrados nas redes sociais Facebook e Instagram, tendo o Código de Ética do Profissional Psicólogo (CEPP) como um dos nortes para análise, e principalmente o que ele traz em termos de publicidade dos serviços psicológicos em seu Artigo 20.

Pode-se identificar que 79% dos profissionais optaram por divulgar seus serviços por meio de Imagem Textual e Texto2, 12% optaram por Imagem Textual, 4% optaram por Imagem Textual e Vídeo, 3% optaram por Imagem e Texto e 2% por apenas Texto. A grande maioria dos profissionais (59%) seguiu pelo caminho de deixar pouca informação na publicidade e esclarecer maiores dúvidas em uma conversa privada. No entanto, indo pelo caminho de deixar poucas informações, 9% dos profissionais cometeram falta ética deixando de colocar informação obrigatórias como o número de CRP. Não indicando também, informações simples como qual a TIC que seria utilizada, que esta, apesar de não ser obrigatória, seria relevante para o anúncio de um atendimento on-line.

Ao mesmo passo que alguns profissionais deixaram de informar itens importantes e até obrigatórios, outros informaram mais que o necessário. Nesse sentido, 11% dos profissionais divulgaram publicamente informações como a gratuidade de seu serviço e 3% mencionaram uma gratuidade para uma primeira sessão. Houve também menção a valores, onde 7% dos profissionais mencionaram uma flexibilização do valor, e 2% dos profissionais que mencionou explicitamente valores de seus serviços psicológicos. Sabe-se que, estas sim, são informações que deveriam ser discutidas de maneira privada, na medida que o Código De Ética Do Profissional Psicólogo (CEPP) deixa claro, no Art.20 sobre publicidade de seus serviços, que “d) não utilizará o preço do serviço como forma de propaganda”.

Em Nota Técnica do Conselho Regional de Psicologia do Paraná (CRP-PR) – de número 002/2019, publicada em junho orientou-se as(os) profissionais da Psicologia que, compreendendo que o a(o) psicóloga(o) não deve utilizar o preço como propaganda, as publicidades profissionais: “não poderão ofertar “cupons” de desconto, realizar promoções ou utilizar palavras como: preço acessível, custo social, vaga social, desconto, gratuito, valores diferenciados, valores reduzidos, etc.” (p.5). Além disso, o Conselho Federal de Psicologia (CFP), também reforçou em uma nota orientativa no dia 21 de março de 2020, que por mais que desperte no profissional desejo de colaboração e solidariedade nesse momento de calamidade, não é possível distanciar-se das prerrogativas éticas que orientam a profissão.

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9 Nesse sentido, o CFP aponta que a legislação do profissional não proíbe a prestação de serviços psicológicos gratuitamente. No entanto, ao anunciar seu serviço não fará referências a valores e, tratando-se de gratuidade, este fato deverá ser informado individualmente. Apesar de estar presente na legislação, este foi um assunto que não foi consenso nos anúncios encontrados nessa pesquisa, na medida que houve profissionais que fizeram essa divulgação de maneira pública.

Estas questões de valores e gratuidades de serviço, foi um assunto que dividiu opiniões na própria publicação do CFP no Instagram referente a esta mesma nota do dia 21 de março de 2020. Muitos profissionais se mostraram contrariados com o seu conteúdo e teceram comentários do tipo “se posso voluntariar-me por que não anunciar?”. Em um momento delicado como este da pandemia pode-se notar o senso de solidariedade aflorar, porém é necessário atentar-se à melhor maneira de contribuir como profissional nesse momento. Também está presente no CEPP como princípio fundamental que: “O psicólogo atuará com responsabilidade social, analisando crítica e historicamente a realidade política, econômica, social e cultural.”, e também no Art. 4º que “Ao fixar a remuneração pelo seu trabalho, o psicólogo: a) Levará em conta a justa retribuição aos serviços prestados e as condições do usuário ou beneficiário”. No entanto, foram encontrados anúncios de psicoterapia gratuita e “acessível” destinada a qualquer público que se mostrasse interessado. Ofertas como esta podem ser entendidas como autopromoção e concorrência desleal em detrimento de outros profissionais. Tendo em vista que o psicólogo como profissional autônomo, vive da remuneração de acordo com os seus serviços prestados, ele deve ser valorizado por eles.

Sendo assim, ressalta-se que psicólogos devem “Prestar serviços profissionais em situações de calamidade pública ou de emergência, sem visar benefício pessoal.” (Código de Ética do Profissional Psicólogo, Art.20). Entendendo que, pela frase “sem visar benefício pessoal” o profissional pode sim cobrar pelos seus serviços, mas não se autopromover em detrimento de outros profissionais utilizando-se de gratuidades. Nesse sentido, não é negado ao profissional que faça divulgação de seus serviços. No entanto, é de responsabilidade da classe profissional se atentar a vários aspectos dessa publicidade, seja ela on-line ou presencial, para que não fira o Código de Ética ou diretrizes do Conselho Federal de Psicologia.

Quanto à categoria referente a fazer previsão taxativa de resultados, identificou-se que 86% dos profissionais não o fizeram, e 14% o fizeram. Dentre os profissionais que fizeram previsão taxativa do resultado, foram encontradas frases que afirmavam que a psicoterapia on-line teria o mesmo “resultado”, “eficácia” ou “qualidade” da psicoterapia presencial. Além de estar presente no Art.20 do CEPP que o psicólogo “; e) não fará previsão taxativa de resultados”.

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10 Os estudos no Brasil sobre o vínculo terapêutico em psicoterapia on-line, apesar de indicarem haver potencialidades nessa modalidade, não garantem que atendimento on-line terá o mesmo resultado que o presencial, e inclusive apontam algumas limitações e incompletudes (DONNAMARIA & TERZIZ, 2011; SIEGMUND & LISBOA, 2015; FEIJÓ & SILVA, 2018; FARIA, 2019). No estudo de Faria (2019), no qual foi realizado psicoterapia breve com três mulheres, foi possível identificar que a psicoterapia on-line não se adequa a todas as pessoas, na medida que uma de suas pacientes não se adaptou e continuou preferindo pelo atendimento presencial. Portanto, entende-se que os sujeitos são singulares e possuem suas particularidades e subjetividades, não sendo possível, dentro da Psicologia, estabelecer um prazo ou dar uma certeza quanto a eficácia de seu trabalho.

Quanto ao tipo de serviço psicológico ofertado, a psicoterapia no modo on-line, apareceu em 98% dos anúncios. De acordo com o Jornal do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (2014), a Psicologia Clínica, área de atuação da Psicologia que abrange os serviços de psicoterapia, é onde há a maior concentração de profissionais, reunindo cerca de 70% das(os) psicólogas(os) brasileiras(os). Dessa forma, como um reflexo da alta concentração de oferta de psicoterapia no modo presencial, a psicoterapia, por sua vez no modo on-line, também foi o serviço psicológico mais ofertado pelos psicólogos.

Sabe-se que desde 2012, com a resolução do CFP de N° 011/ 2012, os serviços psicológicos realizados por meios tecnológicos de comunicação, são regulamentados para a modalidade de atendimento psicoterapêutico em caráter experimental. No entanto, apenas em 2018, com resolução do CFP de Nº 011/2018, se torna possível as consultas e atendimentos psicológicos de diferentes tipos sendo eles síncronos ou assíncronos. Infere-se então, que a regulamentação, e a prática de psicoterapia propriamente dita, por meio de TICs, são recentes no exercício profissional do psicólogo. Nesse sentido, além da pesquisa de Faria (2019) que estudou o vínculo terapêutico em psicoterapia on-line, ainda não há pesquisas que investiguem o quanto a prática está difundida entre os profissionais e como está sendo a familiaridade com essa modalidade, após a regulamentação da resolução de Nº 11/2018.

Contudo, pelos estudos anteriores à resolução de Nº11/2018, quando a psicoterapia era permitida apenas em caráter experimental, Siegmund e Lisboa (2015), verificaram que para os psicoterapeutas, o atendimento psicológico no modo on-line é tido como um meio de trabalho secundário e complementar à clínica presencial. Além disso, para Siegmund & Lisboa (2015) e Helberg & Lisboa (2016) a visão polêmica, preconceitos e receios acerca do atendimento on-line são fatores que podem interferir nessa evitação e baixa procura da prática. Tendo isso em

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11 vista, é possível que muitos dos profissionais que antes da pandemia não eram familiarizados com a prática do atendimento psicoterápico on-line, por tratar-se de uma prática autorizada recentemente, tiveram que adaptar-se rapidamente a esta modalidade.

Além disso, nos dados coletados 98% profissionais que ofertaram psicoterapia, 5% deles também oferecem serviços de acolhimento no modo plantão psicológico. Um profissional, dentro dos 5% de profissionais que ofertaram plantão psicológico e psicoterapia, também ofertou avaliação neuropsicológica e curso on-line para psicólogos sobre atendimento on-line. Ainda teve um profissional que apenas divulgou o serviço de “bate-papo terapêutico” gratuito via Whatsapp.

Sabe-se, de acordo com Bock, Furtado e Teixeira (1999, p.152), que conversar com qualquer pessoa pode exercer uma função terapêutica, como conversar com os amigos em um bar, por exemplo. No entanto, consultar-se com um psicólogo é diferente de “bater um papo”. Ainda de acordo com os autores, o psicólogo em seu trabalho dispõe de técnicas e instrumentos científicos para intervir de maneira técnica. Estes, junto de um modelo de interpretação e intervenção também científico, possibilitam ao profissional diagnosticar com propriedade os problemas de natureza psicológica. Logo, diferente de um amigo, psicólogo não “bate-papo”, desvaloriza-se a profissão a realização desse tipo de publicidade, sendo ela veiculada em um perfil profissional. Seria, portanto, mais adequada se veiculada em um perfil pessoal.

Outras informações como vantagens e desvantagens da psicoterapia on-line foram encontradas nos anúncios de 22% dos profissionais. Questões como a flexibilidade de horários, facilidades no deslocamento, acessibilidade para pessoas com deficiência, e o custo foram as principais vantagens mencionadas pelos terapeutas. No entanto, apenas 3% desses 22% apontaram também, as desvantagens dessa modalidade de atendimento, onde apareceram questões relacionadas ao sigilo e distrações.

3.2 AS TIC’S UTILIZADAS PELOS PSICÓLOGOS COMO MEIO DE INTERVENÇÃO DURANTE O PERÍODO DA PANDEMIA DO COVID-19

Considerando que alguns profissionais informaram utilizar mais de uma plataforma, os recursos tecnológicos que mais apareceram nos anúncios como meio de intervenção foi o Skype com 20%, seguido do WhatsApp Vídeo com 17%. Facetime foi utilizado por 4%, seguido do Messenger e o ZOOM aparecendo com 3% cada um, e o Whereby, o Google Duo, e o WhatsApp via texto apareceram os três com 1% nos anúncios. Apesar de se tratar da divulgação de um

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12 serviço on-line, 45% dos profissionais optaram por não informar em seu anúncio qual seria o recurso tecnológico utilizado. A oferta do serviço em plataforma própria também apareceu em 1% dos anúncios.

Dos 47% profissionais que informaram especificamente qual TIC seria utilizada para atendimento, todos eles optaram por trabalhar com aplicativos que viabilizam a maneira síncrona de interação. Além disso, 1% dos profissionais acrescentou também a maneira assíncrona como possibilidade. Essa baixa adesão dos profissionais por meios assíncronos, pode ser justificada pelas limitações quanto à falta de interação que este método oferece. Desvantagens como a falta de contato olho a olho, e fatores envolvendo interpretações e leitura da linguagem corporal são levantados nos estudos de Oliveira (2009), como um empecilho para a construção do vínculo terapêutico. Além disso, psicólogos e psicanalistas que participaram do estudo de Oliveira (2009), apontaram a possibilidade de edição no recurso assíncrono, como outro fator que impede a captação de atos falhos, por exemplo. Questões como o empobrecimento da exposição do paciente, e o impedimento de analisar outras formas de comunicação não-verbal, também foram abordadas no estudo.

Outra justificativa possível para pouca aderência do método assíncrono, é o pouco conhecimento pelos psicólogos quanto a sua prática. No Brasil, há apenas um estudo (PRADO & MEYER, 2006), que aborda unicamente a psicoterapia on-line assíncrona, tendo neste um resultado favorável, e um estudo mais amplo e recente de Faria (2019), sobre constituição do vínculo terapêutico em psicoterapia on-line, onde duas das três participantes foram atendidas de maneira assíncrona, dessas duas apenas uma delas achou a prática viável. Nesse sentido, apesar do estudo de Prado e Meyer (2006) apresentar resultados favoráveis quanto ao atendimento on-line assíncrono, seria interessante mais pesquisas e investigações sobre o tema, para que assim os profissionais possam desenvolver mais familiaridade com a prática e maior entendimento quanto a sua eficácia.

Já a prática síncrona, pode-se perceber pelos resultados desta pesquisa, onde 98% dos profissionais optaram por este modo de atendimento, e por outros estudos já publicados, ser mais difundida pelos profissionais da Psicologia em relação à prática assíncrona. Tais estudos, concluem que apesar de suas limitações referentes à falta de interação corporal, e dificuldades em analisar o paciente de maneira completa, a psicoterapia on-line síncrona se mostra uma prática eficaz e promissora, sendo bastante próxima à psicoterapia presencial. (PIETA & GOMES, 2014; DONNAMARIA & TERZIZ, 2011; SIEGMUND & LISBOA, 2015; FARIA, 2019; HELLBERG & LISBOA, 2016; FEIJÓ & SILVA, 2018).

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13 Quanto às questões de sigilo e segurança, dos aplicativos anunciados pelos psicólogos, apenas o ZOOM, que apareceu em 3% das respostas, não é criptografado. Isso significa que as mensagens e chamadas compartilhadas não possuem confidencialidade, ou seja, não garante que as informações permaneçam particulares entre o profissional e a pessoa que recebe. Em vista disso, o CRP-23 no dia 09 de abril de 2020, comunicou em nota, para que os profissionais não utilizem essa ferramenta para realizarem seus serviços psicológicos enquanto houver falhas que comprometam o sigilo e a segurança dos usuários. No entanto, vale ressaltar que o comunicado de que o ZOOM não é um aplicativo criptografado, foi divulgada apenas após a coleta de dados dessa pesquisa.

Junto a isso, 4% dos profissionais informou que utiliza “qualquer plataforma”. A Resolução CFP Nº 04/2020 não determina para os psicólogos qual plataforma deve ser utilizada para a prestação de serviços mediados por Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Porém o Código de Ética profissional do Psicólogo aponta que é de responsabilidade do profissional zelar pelo sigilo das informações. Nesse sentido, “qualquer plataforma” é segura?

Em mesma nota no dia 09 de abril de 2020, o CRP-23, sinalizou que é necessário que profissional da Psicologia tenha responsabilidade ao oferecer seus serviços adotando procedimentos técnicos que garantam o sigilo da comunicação, reduzindo a vulnerabilidade no uso de TICs e que orientem aos usuários dos serviços a fazer o mesmo. Para além da nota publicada, está presente no Código de Ética do psicólogo que é dever do mesmo manter o sigilo das informações a ele confiadas. Portanto, é preciso ter cuidado e principalmente responsabilidade para que a confidencialidade seja garantida e preservada, tanto em atendimentos realizados presencialmente, quanto em atendimentos realizados por TIC’s.

Outro fator importante encontrado no estudo de Carlino (2010 apud DONNAMARIA E TERZIS, 2011) é a necessidade de preparação do terapeuta quanto ao manejo do instrumento tecnológico escolhido. A autora ilustra seu pensamento com uma situação em que um paciente acabou por ensinar e dar dicas ao terapeuta sobre a melhor maneira de utilizar o instrumento tecnológico. Logo, um terapeuta que não domina bem o instrumento tecnológico, pode prejudicar a assimetria do vínculo terapêutico e o transferencial. Isto posto, pode-se inferir que é fundamental que os profissionais da Psicologia tenham domínio sobre o recurso tecnológico com que trabalham. Nesse sentido, quando o terapeuta aponta que usa “qualquer plataforma”, será que ele domina o uso de “qualquer plataforma”? Ressalta-se que, assim como no presencial, para o atendimento on-line também é necessário estudo e preparo.

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14 Interessante ressaltar que as questões como o sigilo das informações e familiaridade com o instrumento de atendimento não é empecilho para profissionais que possuem plataforma própria, tendo em vista que as principais plataformas de atendimento psicológico no país possuem criptografia e segurança própria. No entanto, apenas 1% dos profissionais atende deste modo.

Outro cuidado que deve ser comum tanto no atendimento presencial quanto no on-line, é a questão do sigilo. Em um dos anúncios encontrados foi apontado que tendo um espaço com privacidade e silêncio, o sigilo e a qualidade de atendimento não são comprometidos. Foi visto, tendo como exemplo o aplicativo ZOOM, que mesmo em ambiente seguro o sigilo pode ser afetado.

Além de plataformas inseguras, mais um ponto importante a ser levantado, é a garantia desse ambiente ser seguro para o atendimento. O psicólogo pode e deve garantir esse espaço seguro e privativo. No entanto, é possível garantir que o espaço seja realmente adequado e seguro por parte do paciente? Existem questões como violência doméstica ou relacionamentos abusivos por exemplo, onde a/o paciente pode ser coagida/o a realizar os atendimentos somente na presença do agressor. Por não estar no mesmo espaço físico que o paciente, não há como o psicólogo saber se há ou não mais pessoas presentes naquele ambiente. Portanto, no atendimento on-line não há como afirmar com certeza de que o sigilo será garantido.

Em estudo, Feijó e Silva (2018), no que diz respeito à falta de instrumentalização profissional, relataram que os participantes afirmaram encontrar pouca literatura acerca do tema atendimento virtual, no que diz respeito ao uso de mídias, arranjos ou negociações no modo on-line. É importante, portanto, para uma prática mais segura do atendimento on-line, os profissionais disporem de dispositivos legais que orientem de maneira mais específica quanto à prática desse tipo de atendimento, e de material teórico científico que os auxiliem nessa construção de conhecimento.

3.3 – PROFISSIONAIS QUE ESTÃO PRESTANDO SERVIÇO(S) PSICOLÓGICO(S) VIA TICs E O CADASTRO NO E-PSI

Este eixo verificou quantos dos profissionais que anunciaram oferta de serviço(s) psicológico(s) via TICs possuem cadastro no E-Psi ativo. O E-Psi, em sua definição, é o Cadastro Nacional de Profissionais de Psicologia para Prestação de Serviços Psicológicos por meio de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Sendo assim, para um profissional

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15 da Psicologia estar apto para prestar serviços psicológicos on-line é obrigatório que esteja cadastrado no E-Psi. A partir de uma busca pelo seu nome completo e CRP, a plataforma disponibiliza, a lista de profissionais que estão autorizadas(os) pelo Sistema Conselhos de Psicologia a prestarem serviços psicológicos on-line. No entanto, em razão da pandemia o CFP flexibilizou em caráter temporário questões cadastrais no E-Psi, embora continue sendo obrigatório os profissionais se cadastrarem na plataforma, durante os meses de março e abril não é necessário esperar autorização do CFP para iniciar os atendimentos remotos.

Tendo isso em vista, foi verificado que 72% dos profissionais cujos anúncios foram analisados possuem E-Psi ativo, este dado pode ser um indicativo de que a prática da psicoterapia on-line, ao contrário dos achados nos estudos anteriores a resolução de Nº11/2028 (SIEGMUND & LISBOA, 2015; HELLBER & LISBOA, 2016; FEIJÓ & SILVA, 2018), está cada vez mais presente e difundida entre os profissionais da Psicologia. Além disso, 23% dos profissionais não possuem E-Psi ativo, e 5% dos profissionais não foi possível verificar o cadastro por não constar informações como CRP e nome completo no anúncio. Importante ressaltar que, ainda que nos meses de março e abril de 2020, os profissionais possam atuar sem a devida autorização do CFP, sugere-se que este dado conste no anúncio como forma de informar a população que, trata-se de uma autorização temporária. Dos 23% dos profissionais que não possuem o E-Psi ativo, nenhum informou tratar-se de uma autorização temporária para atendimento on-line.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das publicidades analisadas nessa pesquisa, foi possível inferir que os profissionais no período da pandemia preferiram fazer seus anúncios em redes sociais como Facebook e Instagram ao invés de blogs e sites, na medida que não foram encontradas publicações de publicidade em blogs e sites no período de início da pandemia. Com relação à maneira de anunciar, a preferência foi por imagem com elementos textuais seguida de legenda com informações complementares, aparecendo em 79% dos anúncios. Quanto ao serviço psicológico mais ofertado pelos profissionais foi a psicoterapia com 98%. Essa grande oferta por psicoterapia no modo on-line pode ser entendida como um reflexo da sua alta demanda também no modo presencial que, segundo o Jornal do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (2014), a área clínica reune 70% dos profissionais psicólogos.

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16 No que diz respeito à ética profissional na maneira de fazer publicidade, 36% dos profissionais cometeram em seus anúncios alguma violação do Código de Ética do Profissional Psicólogo (CEPP), sendo que desses 36% cerca de 14% cometeram mais de uma falta ética. Dentre elas, foram encontrados descumprimentos nos itens do Art.20 que se referem à: utilização do preço do serviço como forma de propaganda; previsão taxativa de resultados; e obrigatoriedade de constar CRP. Dessa forma, é possível perceber que ainda há psicólogos que demonstram não conhecer o que está preconizado no CEPP, sendo importante que os Conselhos de Psicologia desenvolvam mais atividades de orientação à conduta ética profissional no meio on-line, tanto em sua publicidade profissional quanto nos atendimentos.

Quanto as plataformas mais utilizadas pelos profissionais, apesar de se tratar da divulgação de um serviço on-line, 45% dos profissionais optaram por não informar em seu anúncio qual seria o recurso tecnológico utilizado. Dos 47% de profissionais que informaram especificamente qual TIC seria utilizada para atendimento, todos eles optaram por trabalhar com aplicativos que possibilitam a maneira síncrona de interação. Os mais utilizados foram o Skype com 20% e Whatsapp Vídeo com 17%. Importante ressaltar que 4% disse utilizar “qualquer plataforma”. Como foi possível perceber a exemplo do aplicativo ZOOM, nem todas as plataformas são seguras, e de acordo com o CEPP, é de responsabilidade do profissional zelar pelo sigilo das informações.

Nesse sentido, a regulamentação recente, a falta de instrumentalização e o pouco referencial teórico quanto à modalidade on-line de atendimento, pode ser um dos fatores que possam justificar a falta de familiarização dos profissionais com os cuidados a serem tomados ao realizar a psicoterapia on-line.

Apesar de notar-se uma falta de familiarização dos profissionais com as especificidades e os cuidados a serem tomados ao realizar a psicoterapia on-line. Foi verificado que 72% dos profissionais cujos anúncios foram analisados possuem E-Psi ativo, este dado pode ser um indicativo de que a prática da psicoterapia on-line ao contrário dos achados nos estudos anteriores a resolução de Nº11/2028 em que apontavam um distanciamento dos profissionais quanto a prática on-line (SIEGMUND & LISBOA, 2015; HELLBER & LISBOA, 2016; FEIJÓ & SILVA, 2018), está cada vez mais presente e difundida entre os profissionais da Psicologia. Essa difusão, em grande parte, pode ser atribuída a conjuntura da pandemia, onde o atendimento on-line tornou-se quase que o único recurso de trabalho em situação de isolamento social. Dessa forma, é cada vez mais necessário que discussões acerca das especificidades da prática do atendimento on-line, no que diz respeito ao sigilo e a instrumentalização, sejam fomentadas

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17 para que as potencialidades dos atendimentos sejam cada vez melhores. Dessa forma, corroborando com os achados de Hellberg & Lisboa, (2016); Feijó & Silva (2018); Faria (2019) aponta-se para necessidade de inclusão da temática das tecnologias de informação e comunicação em psicoterapia nos currículos de graduação de ensino da Psicologia.

Importante ressaltar que a pesquisa se fundamentou apenas por meio das publicidades realizadas nas redes sociais dos profissionais, portanto, não é do conhecimento da pesquisadora como os profissionais percebem a prática on-line durante este período, nem o que foi conversado e estabelecido nos contratos individualmente, sobre questões de sigilo e os procedimentos adotados de maneira geral. Sugere-se, então, o desenvolvimento de mais pesquisas qualitativas e descritivas sobre como está sendo para os profissionais a adaptação ao atendimento on-line no período de pandemia, no que diz respeito ao sigilo, percepções dos profissionais e dos pacientes, e o vínculo terapêutico. Para que assim, os conhecimentos acerca da prática do atendimento on-line, e principalmente da psicoterapia on-line recentemente regulamentada, sejam ampliados e possam ser analisados de maneira mais completa.

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