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Considerações finais

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Academic year: 2021

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Considerações finais

A investigação realizada baseou-se num conjunto de elementos teóricos, na recolha de informação estatística, na análise dos dados estatísticos e no trabalho de campo.

Os resultados apresentados do trabalho de campo e do conhecimento da realidade industrial em diversos aspectos são elementos que complementam as fontes bibliográficas, a informação e o tratamento estatístico realizado.

Os objectivos inicialmente enunciados e os resultados desta investigação pretendiam analisar o processo de industrialização de um território específico e a sua contribuição para a promoção do desenvolvimento local.

Deste modo, os elementos centrais apresentados nos dois primeiros capítulos procuraram enquadrar a problemática numa perspectiva teórica e prática, que enfatizou conceptualizar o desenvolvimento e analisar o desenvolvimento no espaço físico. Por outro lado, sublinhou-se a importância do processo de inovação de base territorial, com o objectivo de reflectir sobre o “meio” como um colectivo com dinâmicas internas próprias.

A inovação é um processo interactivo em que se relacionam diversos elementos, destacando-se o conhecimento, a aprendizagem colectiva e a organização fundamentais para a promoção do desenvolvimento dos territórios. Este depende do “saber-fazer” especifico localmente absorvido pelo respectivo sistema produtivo, isto é, a capacidade do território proporcionar recursos que possibilitam novas “combinações” produtivas. Esta abordagem consiste numa nova forma de organização territorial da produção que engloba na sua génese aspectos de organização da produção industrial e também social, na medida em que, para além da reestruturação do sistema produtivo, tem como objectivo a melhoria geral do nível de vida da população e o aumento do emprego local. Não podemos esquecer o facto de esta abordagem teórica ter siso desenvolvida e aplicada em países com níveis de desenvolvimento mais elevados e com estruturas sociais, produtivas e, até, institucionais mais consolidadas e complexas. Portanto, decorre deste contexto, uma necessidade de reajustar a adaptação de conceitos de inovação e “meios inovadores” à realidade de países como Portugal, com níveis de desenvolvimento intermédios. Para que esta nova estratégia de desenvolvimento económico seja eficaz é necessário, primeiro, promover um coerente enquadramento político e institucional para a política de inovação e a existência de territórios com

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sistemas produtivos consolidados ao longo do tempo, com “massa crítica” suficiente para se auto-organizar em redor de iniciativas e projectos comuns e a integração em espaços mais vastos (redes territoriais de inovação) que contribuem com novas formas de organização e de conhecimento ao longo de toda a cadeia de produção.

Por outro lado, os territórios necessitam ser encarados numa perspectiva diferente à luz de importantes mudanças no mundo actual.

A progressiva integração das economias ao nível mundial obriga os diversos agentes económicos a adaptar-se aos novos desafios competitivos. As redes e os “meios inovadores” concorrem em simultâneo à escala global, há uma nova noção de interdependência dos diferentes locais à escala global. Uma das prioridades da estratégia actual do desenvolvimento regional e local é o desenvolvimento dos territórios com capacidade competitiva e inovadora. Neste contexto mundial de incerteza e agitação, os territórios capazes de enfrentar os novos desafios e retirar benefícios destas novas oportunidades (as novas regras do comércio internacional criam menos obstáculos à circulação de bens e serviços à escala global e as Tecnologias de Informação e Comunicação permitem integrar territórios muito distantes entre si) são “regiões ganhadoras”: com capacidade de promoção de estratégias de auto-organização dos vários intervenientes do sistema produtivo em redor de iniciativas e projectos comuns e convergentes; e com capacidade local de estabelecer contactos externos e integrar-se nas dinâmicas de desenvolvimento globais (Lipietz, cit. por Vale, 2001).

Neste contexto de economia à escala global, cada território tem de promover uma estratégia de afirmação competitiva centrada em factores diferenciadores, com capacidade de criar oportunidades e implementar projectos de desenvolvimento económico e de qualificação territorial. Para que este quadro teórico se torne, efectivamente, num sistema produtivo local é importante, para além de potenciar e suportar a aposta em sectores industriais inovadores ao nível local, promover a cooperação entre todos os elementos intervenientes no processo de inovação. Neste contexto, para as economias de base territorial é importante ter uma estrutura industrial ou sectorial com determinados limiares quantitativos (uma “massa crítica” mínima considerando os diversos recursos indispensáveis à formação de “meios inovadores”), diversificação e dimensão funcional que aumentam as vantagens comparativas e o potencial de inovação. Por outro lado, é imperativo a integração em espaços mais vastos que possibilitam o desenvolvimento de sinergias com instituições do conhecimento e sectoriais. (…) no novo contexto de competitividade e globalização, a inovação

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(tecnológica) e o domínio de determinado conhecimento são características fundamentais para a evolução dos territórios. (…) o território ganhou identidade própria ao ser entendido como produto económico-social historicamente construído e com aptidão para se autotransformar, por comparação à visão anterior assente na quantidade e natureza dos factores de localização que cada região apresentava.

(Fernandes, 2004:292,293).

Conclui-se, portanto, que o desenvolvimento de novas técnicas de produção e de novos produtos parece ser uma estratégia fundamental para proporcionar características de competitividade aos territórios, através de elementos de diferenciação, tendo em consideração a perspectiva da economia e da sociedade dos países ocidentais e a crescente expansão económica dos países emergentes.

Por oposição à abordagem de certos processos de desenvolvimento económico que privilegiam a concorrência pelos custos de produção, os mecanismos de mercado e a concorrência entre empresas, a abordagem dos “meios inovadores”, dos territórios com diferenciação, propõe uma melhor adaptação do desenvolvimento económico ao território, dando ênfase à concorrência pela inovação, à organização da produção e transferência de conhecimento em redes e à concorrência entre territórios.

No trabalho de campo, apresentado nos terceiros e quarto capítulos, privilegiou-se a dimensão sectorial. Realizaram-se inquéritos e entrevistas em estreita complementaridade com a análise estatística.

No terceiro capítulo foi apresentado uma série de dados estatísticos que permitem obter uma análise socioeconómica do concelho de Ponte de Sor desde o início do século XX até ao período mais recente.

O concelho de Ponte de Sor está inserido ao nível administrativo e geográfico na região Alentejo (NUT II), pertencente à NUT III - Alto Alentejo. Devido à sua localização geográfica bastante central no contexto nacional e à facilidade de comunicações, regista desde a primeira metade do século XX uma significativa evolução da actividade industrial. Até aos anos 60, a indústria do concelho encontrava-se directamente relacionada com as suas características rurais, os principais ramos de actividade eram de transformação de cortiça (florestas) e agro-alimentar.

A partir dos finais dos anos 60, registou-se uma maior diversificação do tecido industrial, com a instalação da indústria do sector automóvel (unidades de fabrico de componentes para automóveis e artigos em borracha). Este facto é importante evidenciar, pois, o tecido industrial do concelho e na região do Alentejo em geral era

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composto por empresas de pequena dimensão empresarial e tecnologicamente pouco evoluídas.

Ao nível demográfico, o concelho de Ponte de Sor tem registado, até aos últimos censos (2001), um crescimento demográfico que contraria a tendência da maioria dos concelhos do Alentejo. Na década de 1991-2001, o concelho não perde população. O crescimento populacional de Ponte de Sor registado de 1991 para 2001 deve-se, sobretudo, ao saldo natural e não ao saldo migratório, que tem uma tendência negativa. No que diz respeito à diversificação do tecido industrial actual, este é composto sobretudo por indústrias ligadas ao sector corticeiro e florestas, agro-alimentar, automóvel, construção civil (equipamentos) e sector aeronáutico.

A indústria do sector automóvel até ao encerramento da unidade da Delphi em 2009 era a actividade mais importante em termos de emprego, pelo que somente esta empresa empregava mais de 35% da população ao serviço da indústria transformadora do concelho.

A indústria corticeira e da aeronáutica constituem, respectivamente, o segundo e terceiro sectores mais importantes ao nível da percentagem de população ao serviço da indústria transformadora do concelho.

O processo de industrialização mais recente e o consequente crescimento económico do concelho (como ao nível nacional) caracterizou-se, por um lado, por sectores geradores de emprego em larga escala, com o objectivo de obtenção de lucros rápidos e com um baixo índice de integração local. Neste modelo de crescimento económico insere-se a Delphi, que encerrou a sua unidade em Ponte de Sor e deslocou-se para outro país com melhores vantagens comparativas para o grupo, deixando atrás de si uma situação de desemprego e de crise social. No concelho aumentaram os factores de risco de dependência da economia local face a uma única empresa que, para além do mais, desenvolve uma actividade condicionada pelo mercado e pelas estratégias definidas pelo grupo empresarial.

Por outro lado, o incentivo à instalação no concelho de empresas valorizadoras dos recursos locais, nomeadamente a indústria corticeira, de grandes grupos económicos nacionais e, numa menor dimensão funcional, a indústria de transformação de pimentão. Ambas com uma forte tradição no tecido industrial do concelho, uma herança que acrescenta ao território “saber-fazer” específico e conhecimento adquirido. É uma realidade e uma mais-valia que deve ser aproveitada sempre que surjam novos projectos industriais destes sectores.

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Por último, no quarto capítulo procedeu-se à caracterização do quadro produtivo privilegiando o sector aeronáutico. Esta análise foi realizada a partir da investigação sobre aspectos estruturais e de produção do sector aeronáutico, numa perspectiva de organização e desagregação espacial.

Esta análise de dimensão sectorial teve como objectivo analisar a dinâmica e impacte territorial dos processos de inovação empresarial promovidos pela indústria do sector aeronáutico. Assim como, evidenciar e reflectir sobre o processo de industrialização do concelho de Ponte de Sor, centrado na dimensão deste sector inovador ao nível local. Foram apresentados determinados elementos que permitem analisar e concluir se, de facto, a indústria é o “motor” do desenvolvimento local neste concelho. E, se na dimensão sectorial, a aposta no surgimento do sector aeronáutico pode ser uma estratégia de afirmação competitiva capaz de potenciar oportunidades e consolidar o desenvolvimento económico deste território.

Nesta última década, surgiu um sector industrial inovador ao nível local, a aeronáutica. Organizado em torno de duas empresas, uma de capital social nacional, a Motoravia, e outra de um grupo francês, a Dyn’Aero Ibérica.

A aposta neste sector inovador integra-se numa estratégia territorial, de âmbito nacional, que tem como objectivo articular as iniciativas emergentes, nomeadamente, os pólos de Ponte de Sor (com a produção de aviões ultraleves), Évora (com a instalação de unidades de construção de aviões) e Beja (com o aproveitamento da infra-estrutura aeroportuária).

Por último, detenhamo-nos nas conclusões que resultaram da análise dos indicadores estatísticos e do conhecimento de aspectos estruturais das unidades do sector aeronáutico em Ponte de Sor.

O quadro teórico desta investigação tomou em consideração um conjunto de elementos de natureza qualitativa, com o objectivo de reflectir sobre a existência de condições para a formação de um “meio-inovador” em Ponte de Sor, baseado no surgimento deste sector inovador – a aeronáutica – ao nível local, tendo em conta a complexidade do processo de inovação.

A aposta local no surgimento do sector aeronáutico constituiu, de facto, uma promissora estratégia de afirmação competitiva baseada em factores diferenciadores, ou seja, numa actividade emergente com um grande potencial de inovação, bastante produtiva e com capacidade de criar emprego com maiores qualificações.

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Estes projectos de desenvolvimento do sector aeronáutico em Ponte de Sor (em geral nas regiões do interior de Portugal, como no Alentejo e na Beira) surgiram a partir de uma estratégia de aproveitamento de nichos de mercado, a produção de aviões de desporto ultraleves.

Embora, Portugal ainda não apresentar uma alteração significativa no padrão de especialização industrial ao nível internacional, tem registado algumas transformações na sua estrutura produtiva, nomeadamente, o desenvolvimento do ensino universitário nas áreas da ciência e da engenharia, o colocar em destaque na agenda das políticas públicas o reforço das capacidades de I&D do país, a constituição de interfaces entre instituições do conhecimento e empresas, a criação de centros tecnológicos ao nível sectorial, que têm contribuído para a multiplicação de PME com novas actividades e novos produtos.

Neste contexto de reestruturação produtiva nacional insere-se o caso de estudo: uma estratégia de incentivo ao desenvolvimento de pólos de competitividade regional, centrados em factores da economia do conhecimento e da inovação.

Através de uma análise comparativa, o concelho de Ponte de Sor tem uma percentagem de população activa na indústria transformadora superior à média da região Alentejo, o que supõe um território com um sistema produtivo consolidado e com trajectórias sustentadas ao longo do tempo. Esta longa trajectória do sistema produtivo local, como constatamos, tem permitido o acumular de conhecimento, de “saber-fazer” e de aprendizagem (nomeadamente através do sector automóvel, da cortiça e agro-alimentar), que se traduz na dinâmica que este território tem apresentado nestes últimos vinte anos.

Contudo, o ciclo industrial que estamos a viver tem revelado uma certa estagnação e até algum retrocesso, como o encerramento da Delphi e a situação de insolvência da Dyn’Aero revelam.

Um elemento que permite perspectivar a evolução futura dos ciclos industriais em Ponte de Sor, baseados no aproveitamento dos sectores inovadores, neste caso o sector aeronáutico, está relacionado com a constituição de grupos de empresas em sectores complementares ou a participação em empresas do mesmo ramo. Ou seja, a criação de redes territoriais de interdependência, com o objectivo de aumentar a capacidade produtiva e valorizar a criação de novos produtos. A esta sequência de elementos está inerente o surgimento de fenómenos de organização da produção, os clusters.

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Este cenário apenas será possível se a estratégia nacional para o sector aeronáutico tornar-se uma realidade. Reforçar a clusterização da economia de modo a proporcionar crescimento, competitividade e capacidade de inovação a esta indústria emergente.

Referências

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