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A festa do Divino Espírito Santo de Paraty como patrimônio cultural imaterial e sua relevância para o turismo da cidade

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE FACULDADE DE TURISMO E HOTELARIA

DEPARTAMENTO DE TURISMO

LEANDRO DOS SANTOS REZENDE

A FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO DE PARATY (RJ) COMO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL E SUA RELEVÂNCIA PARA O TURISMO DA CIDADE

NITERÓI 2017

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LEANDRO DOS SANTOS REZENDE

A FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO DE PARATY (RJ) COMO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL E SUA RELEVÂNCIA PARA O TURISMO DA CIDADE

Niterói 2017

Trabalho de Conclusão de Curso, do Curso de Turismo, como requisito parcial de avaliação para obtenção do grau de Bacharel em Turismo.

Orientador: Profa. D.Sc. Valéria Lima Guimarães

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Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Gragoatá

R467 Rezende, Leandro dos Santos.

A festa do Divino Espírito Santo de Paraty como patrimônio cultural imaterial e sua relevância para o turismo da cidade / Leandro dos Santos Rezende. – 2017.

105 f. ; il.

Orientadora: Valéria Lima Guimarães.

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Turismo) – Universidade Federal Fluminense. Faculdade de Turismo e Hotelaria, 2017.

Bibliografia: f. 86-90.

1. Turismo. 2. Religião. 3. Patrimônio cultural. 4. Festa do Divino. 5. Paraty (RJ). I. Guimarães, Valéria Lima. II. Universidade Federal Fluminense. Faculdade de Turismo e Hotelaria. III. Título.

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A FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO DE PARATY (RJ) COMO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL E SUA RELEVÂNCIA PARA O TURISMO DA CIDADE

LEANDRO DOS SANTOS REZENDE

.

BANCA EXAMINADORA

Prof. D.Sc Valéria Lima Guimarães-Orientadora

___________________________________________________________________

Prof. M.Sc Guilherme de Azevedo Mendes Correa Guimarães

___________________________________________________________________

Prof.D.Sc Erly Maria de Carvalho e Silva

Niterói 2017

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Turismo da Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Turismo.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pela oportunidade que me foi dada de realizar um curso de ensino superior. Depois, a minha família, em especial a quatro pessoas: Minha querida mãe Sueli, que com muito esforço e dificuldade me criou e hoje posso dar um pouco de alegria à ela, ao cursar uma faculdade, a minha companheira Renata Silva, que desde que começamos nosso relacionamento acompanhou a minha luta para ter a oportunidade de cursar uma graduação e continua comigo nos momentos de alegria e tristeza e aos meus pais Acácio e George. O primeiro, que também sempre me apoiou e respeitou em todas as decisões, também sendo relevante no momento em que mais precisei. O segundo, por ser meu pai biológico e, mesmo um longo período em que ficamos afastados por divergências, nos reconciliamos e hoje lutamos para recuperar esse tempo perdido.

Dedico também esse Trabalho de Conclusão de Curso ao meu querido sobrinho Kevin Müller, por quem tenho um grande apreço.

Menção especial deve ser feita a minha orientadora, querida professora Valéria Lima Guimarães, que com toda sua gentileza, humildade e conhecimento acadêmico, sempre proporcionou aos seus alunos aulas interessantes, que com certeza agregaram muito valor para minha formação acadêmica.

Também meus elogios à professora Erly Maria Carvalho, da qual tive o grande prazer de ser monitor de sua disciplina, Metodologia do Trabalho Científico, no ano de 2016.

A todo o corpo docente da Faculdade de Turismo e Hotelaria da Universidade Federal Fluminense, que com muito amor, paciência e dedicação nas suas respectivas disciplinas, passa seus conhecimento para seus discentes.

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RESUMO

Este trabalho tem como foco o estudo a respeito da Festa do Divino Espírito Santo de Paraty, de que forma a sua classificação como Patrimônio Cultural Imaterial pelo IPHAN auxilia na divulgação da festa e também na captação de turistas para o evento, consequentemente para a cidade de Paraty. Por meio de uma pesquisa qualitativa-descritiva, em que foram utilizadas entrevistas com grupos específicos, como responsáveis por meios de hospedagem, trabalhadores, moradores e turistas e em cada uma dessas categorias, questões chave foram selecionadas, a fim de obter um resultado que mostre como a Festa do Divino Espírito Santo de Paraty pode ajudar no desenvolvimento turístico da cidade, assim como sugestões para que este evento religioso possa melhorar e utilizar com mais intensidade o título de Patrimônio Cultural Imaterial. Ao longo das pesquisas, realizadas durante dois anos consecutivos, mais precisamente no mês de maio dos anos 2016 e 2017, observou-se que a Festa do Divino de Paraty é um acontecimento feito principalmente por moradores de cidade. Palavras Chave: Turismo religioso. Patrimônio Cultural. Festa do Divino. Paraty (RJ).

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ABSTRACT

This academic work talk about one religious event, called Paraty’s Divine Holy Party and how your new classification, since 2013, when this party received from Historical, Artistic and National Institute (IPHAN), help this party to divulgate yourself better, and how this classification can help to catch more tourists to Paraty.To take the results, we did one descritive and qualitative survey, interviewing specifics groups, like tourists, workers, hospitalitys and people that live in Paraty.In each group, we took specific questions to demonstrate after how Paraty’s Divine Holy Party can help in a tourism development of Paraty. Each people that were interviewed had a chance to give sugestions for this event to be better and approach better also your Intangible Cultural Heritage’s title.These surveys were realized in two years consequently,more specific in may’s month.During this time and interviews,was noted that Paraty’s Divine Holy Party is make for Paraty’s residentes.

Keywords:Religious Tourism.Cultural. Patrimony,Divine’s Holy Party. Paraty (RJ).

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1-Mapa de Paraty _____________________________________________26 Figura 2-Calendário de eventos de Paraty no ano 2017_____________________ 32 Figura 3-Procedência dos turistas entrevistados em 2016 ___________________ 50 Figura 4-Faixa etária dos turistas em 2016_______________________________ 51 Figura 5-Motivação dos turistas para participar da festa em 2016_____________ 52 Figura 6-Ponto forte da festa na opinião dos turistas em 2016________________ 52 Figura 7-Sugestões dos turistas pra melhorar a festa em 2016________________53 Figura 8-Faixa etária dos moradores entrevistados em 2016_________________ 54 Figura 9-Contribuição da festa na opinião dos moradores em 2016____________ 55 Figura 10-Ponto forte da festa para os moradores em 2016__________________ 56 Figura 11-Ocupação dos meios de hospedagem na festa em 2016____________ 57 Figura 12-Perfil dos hóspedes na Festa do Divino de Paraty em 2016__________ 58 Figura 13-Sugestões dos meios de hospedagem para a festa em 2016_________ 58 Figura 14-Faixa etária dos trabalhadores entrevistados em 2016______________ 59 Figura 15-Religião dos trabalhadores entrevistados em 2016_________________ 60 Figura 16-Ponto forte da festa na opinião dos trabalhadores em 2016__________ 61 Figura 17-Ponto fraco da festa na opinião dos trabalhadores em 2016__________ 62 Figura 18-Festa do Divino como Patrimônio Cultural Imaterial em 2016_________ 63 Figura 19-Sugestões dos trabalhadores para a Festa do Divino em 2016_______ 64 Figura 20:Procedência dos turistas entrevistados em 2017 __________________ 65 Figura 21:Faixa etária dos turistas em 2017______________________________ 66 Figura 22:Escolaridade dos turistas em 2017_____________________________ 67 Figura 23:Motivação para participar da festa em 2017______________________ 67 Figura 24:Ponto forte da festa em 2017_________________________________ 68

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Figura 25:Ponto fraco da festa em 2017__________________________________ 69 Figura 26:Infraestrutura da cidade______________________________________ 69 Figura 27:Sugestão dos turistas em 2017_________________________________ 70 Figura 28:Faixa etária dos moradores em 2017____________________________ 71 Figura 29:Escolaridade dos moradores em 2017___________________________ 71 Figura 30:Significado da festa para os moradores em 2017___________________ 72 Figura 31:Ponto forte da festa em 2017__________________________________ 73 Figura 32:Ponto fraco da festa em 2017_________________________________ 73 Figura 33:Contribuição da festa pra cidade para os moradores em 2017________ 74 Figura 34:Faixa etária dos trabalhadores entrevistados em 2017______________ 75 Figura 35:Escolaridade dos trabalhadores em 2017________________________ 75 Figura 36:Ponto forte da festa para os trabalhadores em 2017________________76 Figura 37:Ponto fraco da festa para os trabalhadores em 2017________________76 Figura 38:Contribuição da festa para o trabalho____________________________77 Figura 39:Sugestão__________________________________________________ 78 Figura 40:Festa do Divino de Paraty como Patrimônio Cultural Imaterial_________ 78 Figura 41:Taxa de ocupação em 2017___________________________________ 79 Figura 42:Perfil do hóspede em 2017____________________________________ 80 Figura 43:Sugestão__________________________________________________ 80 Figura 44:Centro Histórico de Paraty enfeitado na Festa do Divino_____________ 97 Figura 45:Igreja da Matriz e missa na Festa do Divino_______________________ 98 Figura 46:Bando precatório____________________________________________ 98 Figura 47:Almoço do Divino___________________________________________ 99 Figura 48:Imperador da Festa do Divino 2017_____________________________ 99

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Figura 49:Congada na Festa do Divino de Paraty em 2017___________________100 Figura 50:Boi, Cavalinho e Miota_______________________________________100 Figura 51:Dança das Fitas____________________________________________101 Figura 52:Dança dos Velhos__________________________________________ 101 Figura 53:Jongo do Quilombo do Campinho da Independência_______________ 102 Figura 54:Libertação simbólica do preso_________________________________ 102 Figura 55:Procissão do Divino no encerramento da festa____________________ 103 Figura 56:Representação de outros santos na procissão de encerramento da festa103 Figura 57: Foto tirada com o Sr Diuner Mello, morador de Paraty e escritor do livro: Festa do Divino Espírito Santo de Paraty, manual do festeiro________________ 104 Figura 58: Foto tirada com o pároco da Igreja da Matriz, Padre Roberto_______ 104

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LISTA DE ABREVIATURAS

ABEOC-Associação Brasileira de Empresas e Eventos ACIP-Associação Comercial e Industrial de Paraty DPI-Departamento de Patrimônio Imaterial

FLIP-Festa Literária Internacional de Paraty

IBGE-Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IHAP-Instituto Histórico e Artístico de Paraty

IPHAN-Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico e Nacional JMJ-Jornada Mundial da Juventude

SPHAN-Serviço do Patrimônio Histórico, Artístico e Nacional TDT-Trindade Desenvolvimento Territorial

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...8

1 O TURISMO RELIGIOSO NO BRASIL ...12

1.1 A INFLUÊNCIA DA IGREJA CATÓLICA NO BRASIL E NAS FESTAS POPULARES ... 17

1.2.1 O Círio de Nazaré ... 22

2 PARATY, SEUS PATRIMÔNIOS CULTURAIS E SEUS EVENTOS ...26

2.1 PARATY COMO PATRIMÔNIO CULTURAL ... 28

2.2 EVENTOS ... 30

2.3 FLIP ... 35

2.4 FESTIVAL DA CACHAÇA ... 37

2.5 AS FESTAS RELIGIOSAS ... 38

2.5.1 Festa de Santa Rita ... 39

2.5.2 Festa de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito ... 39

3.A FESTA DO DIVINO DE PARATY E O TURISMO ...41

3.1 A FESTA DO DIVINO NO PERÍODO COLONIAL DO RIO DE JANEIRO ... 42

3.2 A FESTA DO DIVINO EM PARATY ... 43

3.3 O FESTEIRO ... 45

3.4 PARTE RELIGIOSA E PARTE PROFANA ... 46

3.5 CLASSIFICAÇÃO DA FESTA DO DIVINO DE PARATY COMO PATRIMÔNIO CULTURAL IMATERIAL ... 47

3.6 A CONTRIBUIÇÃO DA FESTA DO DIVINO PARA O TURISMO EM PARATY ... 49

3.7 FESTA DO DIVINO DE PARATY:PESQUISA DE CAMPO ... 49

3.8 VISÃO DOS DIVERSOS ATORES SOCIAIS NA FESTA DO DIVINO DE 2016 ... 50

3.8.2 Moradores ... 54

3.8.3 Meios de Hospedagem ... 57

3.8.4 Trabalhadores na festa... 59

3.9 VISÃO DOS DIVERSOS ATORES SOCIAIS NA FESTA DO DIVINO NO ANO DE 2017 ... 64

3.9.1 Turistas ... 65

3.9.2 Moradores ... 71

3.9.3 Trabalhadores ... 74

3.9.4 Meios de hospedagem ... 79

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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...84 5.REFERÊNCIAS ...86 6 APÊNDICE ...91

A:TRANSCRIÇÃO DE TRECHOS ENTREVISTA COM O SECRETÁRIO DE

TURISMO DE PARATY, SR GABRIEL RAMOS COSTA.. ... 91 B:PERGUNTAS FEITAS NA FESTA DO DIVINO DE PARATY EM 2016 ... 95 C:PERGUNTAS FEITAS NAS ENTREVISTAS DURANTE A FESTA DO DIVINO DE PARATY EM 2017 ... 96 D:FOTOS DA FESTA DO DIVINO DE PARATY ... 97

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INTRODUÇÃO

Este trabalho de conclusão de curso trata a respeito da importância da Festa do Divino Espírito Santo para a cidade de Paraty, no estado do Rio de Janeiro, tanto como acontecimento religioso, em que os moradores locais se engajam na preparação da festa quanto para o turismo local, após receber do Instituto do Patrimônio Histórico, Artístico e Nacional (IPHAN), a classificação no ano de 2013 de Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil.

A escolha do tema ocorreu durante as aulas de Turismo e Desenvolvimento Cultural II, quando se discutiu ao longo de uma das aulas, o turismo religioso e sua relevância cultural para o turismo. Colaborou também para despertar o interesse pelo tema a viagem técnica a Paraty, realizada sempre no segundo período do curso de turismo da Universidade Federal Fluminense. Na época em que o autor realizou a viagem técnica, no primeiro semestre de 2014, estavam próximos os festejos do Divino em Paraty, então pôde-se perceber a relevância cultural da festa para a cidade, com algumas ruas sendo enfeitadas com bandeirinhas nas cores vermelho e branco e também a decoração da Igreja da Matriz, local em que são realizadas as missas durante a festa.

Considerada Patrimônio Histórico Nacional, com atrativos naturais e culturais, Paraty é uma cidade turística que proporciona a quem a visita vários tipos de entretenimento.Com forte influência portuguesa, em especial da maçonaria, o município recebe turistas de diferentes partes do mundo, sendo um dos destinos indutores do turismo no estado do Rio de Janeiro.

Dentre algumas oportunidades de se fazer turismo em Paraty, os turistas e excursionistas têm a chance de conhecer o seu centro histórico por meio de caminhada pelas suas ruas de pedra, por meio de guias de turismo que prestam serviços para as agências de turismo da cidade ou com o guiamento de charreteiros que, com seus conhecimentos empíricos e memórias sobre Paraty, apresentam aos turistas e/ou excursionistas a história da cidade.

Além de sua riqueza histórica e cultural estar disponível ao conhecimento dos visitantes, tem-se a chance de explorar a parte gastronômica e seus atrativos naturais, visto que dispõe de praias, trilhas, cachoeiras e a própria Baía de Ilha Grande, na qual são realizados passeios de barcos com turistas, com paradas para mergulho, além do

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Parque Nacional da Serra da Bocaina, Parque Estadual da Serra do Mar, Área Ambiental do Cairuçú e a Reserva da Joatinga.(PREFEITURA DE PARATY,2016).

No quesito gastronomia, conta com uma boa variedade de restaurantes em seu centro histórico e tem seu pólo gastronômico que desenvolve eventos, promovendo os sabores da cidade e organiza projetos educativos em prol da comunidade local. Uma ação importante do pólo gastronômico de Paraty que merece ser comentada é a Folia Gastronômica, que ocorre normalmente na metade do mês de novembro e consiste num evento que reúne chefs de cozinha de todo o Brasil. Dentro da Folia Gastronômica ocorre o Programa Educativo Folia Gastronômica, em que alunos, professores e merendeiras das escolas públicas de Paraty participam do evento a fim de conhecer mais sobre produtores locais de alimentos e com o intuito também de se ter uma alimentação melhor nas escolas.Com isso, ocorre o fortalecimento do setor gastronômico local, em que o Sebrae atua de forma a oferecer consultorias para os participantes do pólo, além de ofertar cursos na área de gastronomia. Outra contribuição do pólo gastronômico de Paraty está na requalificação das praças de alimentação da Festa do Divino e do Festival da Cachaça, como por exemplo, uma variedade maior de produtos e apresentação mais requintada, com maior fiscalização na parte de limpeza (PÓLO PARATY,2017). Além dos restaurantes, merecem destaque os doces artesanais, vendidos por ambulantes em seus carrinhos de madeira no centro histórico e os alambiques que produzem cachaças reconhecidas nacionalmente.

No tocante aos atrativos culturais, a cidade dispõe do seu próprio centro histórico, que com seus casarios e sobrados dão um charme a mais à Paraty. Outras fontes de atrativos culturais seriam suas igrejas, ricas em história, dentre as quais destacam-se a Igreja da Matriz, em que se realizam as missas da Festa do Divino, a Igreja de Santa Rita, em que se localiza também o Museu de Arte Sacra de Paraty, a Igreja de Nossa Senhora dos Remédios e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito. Aponta-se também o Teatro Espaço, que de quarta-feira a sábado, faz apresentação do Teatro de Bonecos, organizado pelo grupo Contadores de Estórias. Um outro atrativo cultural interessante, que conta a história do Caminho do Ouro na cidade, mas que infelizmente não está disponível por conta da falta de visitação, é a

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Mini Estrada Real, que localiza-se na estrada Paraty-Cunha 1(informação verbal). Vale

destacar também a Casa de Cultura de Paraty, onde qualquer pessoa pode conhecer mais sobre a história e cultura da cidade.

Paraty tem investido fortemente no turismo de eventos, destacando-se alguns, como a Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), Festival Blue Jazz, Festival da Cachaça e as Festas Religiosas, dentre as quais, a principal é a Festa Do Divino Espírito Santo, segundo moradores da cidade 2.

A Festa do Divino Espírito Santo é motivo de muito orgulho para os paratienses, pois foi trazida junto com a colonização portuguesa e perdura por mais de trezentos anos na cidade, sendo incorporada pelos moradores, que se encarregam da organização do evento religioso junto com o Festeiro, que é a pessoa escolhida para a organização da Festa do Divino, com a tarefa de arrecadar fundos para a festa.

Pelo fato de ser uma Festa com tradições locais e também por ter recebido do IPHAN, no ano de 2013, o título de Patrimônio Cultural Imaterial, deve-se tomar o cuidado para se evitar os impactos negativos decorrentes da falta de um planejamento adequado que oriente o processo de turistificação da festividade, retirando o protagonismo dos moradores que organizam e participam da festa.

A fim de discutir sobre a Festa do Divino Espírito Santo de Paraty, será abordado no primeiro capítulo o turismo religioso no Brasil e a influência portuguesa no catolicismo brasileiro, assim como o início das festas religiosas no país, com destaque para do Círio de Nazaré, também classificada pelo IPHAN como Patrimônio Cultural Imaterial e conhecida pela sua importância no segmento religioso, haja vista a enorme devoção dos fiéis para com a santa e a forma como tal evento impacta no que se refere ao turismo religioso na cidade de Belém do Pará.

O segundo capítulo discorrerá a respeito da cidade de Paraty, seu contexto histórico, sua classificação como patrimônio cultural nacional, seus principais eventos turísticos que movimentam um fluxo de turistas relevantes para a cidade e o processo de turistificação desses eventos.

No terceiro capítulo, a Festa do Divino Espírito Santo de Paraty será relacionada, com todo o seu contexto histórico, sua importância para o turismo da

1 Notícia fornecida na entrevista com o Sr Juan, guia de turismo da Free Walk Tour em Paraty, em junho de

2017.

2 Fato observado nas entrevistas com moradores da cidade,que abordavam a questão dos eventos como

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cidade de Paraty e como o título de Patrimônio Cultural Imaterial pode ajudar na captação de turistas para a festa. Além disso, será mencionada também a Festa do Divino na cidade do Rio de Janeiro, no século XIX.

Como fontes, serão citados livros, documentos extraídos da internet e artigos que falam a respeito da introdução do catolicismo no Brasil e a influência portuguesa no processo de colonização do país, da formação da cidade de Paraty e documentos que falam a respeito desta festa religiosa como Patrimônio Cultural Imaterial.

Sobre a metodologia, é de caráter qualitativo descritivo, dividida em três etapas: Levantamento bibliográfico, entrevistas e análise de dados. O levantamento bibliográfico será utilizado para dar embasamento nas entrevistas realizadas no campo; as entrevistas foram obtidas com moradores da cidade, turistas, trabalhadores do comércio local e representantes dos meios de hospedagem. As entrevistas têm como objetivo recolher informações de campo a respeito da questão problema do presente trabalho, que é saber de que forma a Festa do Divino, a partir do momento em que foi classificada como Patrimônio Cultural Imaterial pode ajudar no turismo em Paraty, mais especificamente o segmento religioso, assim como deixar o entrevistado livre para expressar suas opiniões sobre a Festa do Divino de Paraty, bem como dar sugestões para o aprimoramento da Festa. Na parte de análise de dados, as entrevistas serão separadas em blocos, a fim de que os dados recolhidos na mesma temática possam ser analisados e comparados.

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1 O TURISMO RELIGIOSO NO BRASIL

O turismo religioso pode ser considerado como turismo cultural, mas existem diferenças entre os dois segmentos. Enquanto o turismo religioso é motivado pela fé, o cultural refere-se mais a atrações históricas, artísticas ou determinado modo de vida de uma população (SILBERBERG,1995, apud KÖHLER; DURAND,2007). Dentre alguns exemplos ofertados pelo turismo cultural, destacam-se museus, festivais de gastronomia, eventos, mercados tradicionais, dentre outras ofertas de turismo cultural (KÖHLER; DURAND,2007).

No caso do turismo religioso, este também necessita ser visto com atenção, já que a religiosidade se faz presente em qualquer parte do planeta, o que acarreta no deslocamento de fiéis em nome daquilo que acreditam, de suas crenças. De acordo com Souza e Corrêa, (2000, apud Oliveira, 2004, p.16), turismo religioso é “o tipo de turismo motivado pela cultura religiosa, cuja característica principal é a ida a locais que possuam conotação fortemente religiosa”. A partir dessa motivação que faz com que fiéis se desloquem de seu local de origem até o atrativo religioso, destacam-se as excursões, que muitas dessas pessoas realizam no popularmente chamado “bate e volta”, visto que chegam ao destino religioso e vão embora no mesmo dia, caso muito comum aos que visitam a basílica de Nossa Senhora Aparecida.

No Brasil, o caso mais emblemático de turismo religioso é na cidade de Aparecida (mais conhecida como Aparecida do Norte), no estado de São Paulo, com a economia local fortemente influenciada por este segmento turístico, cujo ápice das visitações se dá no dia 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil. Seus fiéis a reverenciam por meio da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, coberta com manto azul.

Sua história se remete à crença popular de que um grupo de pescadores, incumbidos de conseguir peixes para uma festa a ser dada em homenagem ao Conde de Assumar, que passava pela cidade de Guaratinguetá, depois de várias tentativas frustradas de pegar peixes, foi surpreendido com o achado de um pescador de nome João Alves, que lançou ao mar sua rede e encontrou a imagem de Nossa Senhora da Conceição sem a cabeça. Ao jogar novamente sua rede ao mar, encontrou a cabeça da Santa e completou assim a imagem de Nossa Senhora da Conceição. A partir

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desse fato, o grupo de pescadores obteve grande êxito na pescaria e voltou à terra com uma grande quantidade de peixes (CRUZ; TERRA SANTA ,2017).

Atualmente, o atrativo turístico religioso de Aparecida conta com duas basílicas, conhecidas como Basílica Menor e Basílica Maior, unidas por uma ponte. A Basílica Maior foi construída devido ao fato do número de fiéis ter aumentado consideravelmente e a primeira basílica não comportou tamanha quantidade de pessoas. No ano de 1980, a nova basílica foi consagrada pelo Papa João Paulo II (CRUZ; TERRA SANTA,2017).

Como outros destinos turísticos de destaque, vale mencionar a cidade de Nova Trento, ao sul de Santa Catarina, local que ganhou grande projeção no turismo religioso nacional após a beatificação, no ano de 1991 e canonização, na data de 19 de maio de 2002, de Madre Paulina, considerada a primeira santa brasileira (A ARTE DO TURISMO E DA HOTELARIA,2014).

Fora do espectro do turismo religioso católico, encontra-se na cidade de Uberaba, o Memorial Chico Xavier, que impulsiona a movimentação religiosa local principalmente por parte de pessoas ligadas ao espiritismo.

Dentre outras religiões que promovem visitações, encontram-se o budismo e seus templos, como o Gonpa Khadro Ling, localizado na cidade de Três Coroas, no estado do Rio Grande do Sul, único templo budista tibetano da América do Sul (QUANTO CUSTA VIAJAR, 2016) ,o candomblé, com seus vários terreiros espalhados pelo país, com destaque para a Mãe Menininha do Gantois , com o Terreiro Gantois, na cidade de Salvador e que enfrentou preconceitos sociais com relação ao candomblé, além de intervenções policiais, que só diminuíram com a Lei de Jogos e Costumes, que liberava o funcionamento das casas de candomblé (A COR DA CULTURA,2017). Atualmente, com o apoio da comunidade local, existe o memorial do terreiro de Mãe Menininha do Gantois que a fim de captar turistas, passará por reformas estruturais.

Culturalmente, tanto os destinos turísticos religiosos quanto as atrações que envolvem a religião nos eventos representam uma forma de preservação da fé e histórias relacionadas à religiosidade, o que auxilia também na renovação de crenças por parte das novas gerações de pessoas interessadas num determinado segmento

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religioso. No caso dos turistas, mais precisamente aqueles que são do segmento religioso, junta-se a esse sentimento de fé o lazer, por meio das festas religiosas locais, uma mistura de cultura popular e religiosa (CHAVES,2013). Sendo assim, o turista religioso fica numa posição intermediária entre um turista comum e o peregrino, já que não é apenas o motivo de fé que o leva a um determinado local. Outras características também o atraem, como a cultura desse determinado destino turístico, entretenimento, lazer, dentre outras formas de distração (CHAVES,2013). Já o peregrino, busca uma satisfação espiritual, algo como um ato de sacrifício, a fim de pagar alguma promessa, por exemplo. Mas isso não o exclui, necessariamente, da apreciação cultural em seu tempo livre, apenas uma forma de classificação que ajuda a compreender diferentes formas de comportamento no que tange aos deslocamentos por motivação religiosa, podendo-se encontrar tipos de pessoas que se encontram ao mesmo tempo em duas ou mais classificações aqui mencionadas.

Assim, a religião foi aos poucos se transformando numa atividade rentável, voltada tanto para o lazer, quanto para uma cultura consumista, como souvenirs do destino turístico religioso, imagem de santos, dentre outros acessórios religiosos, o que traz renda para destinos turísticos que têm neste segmento sua principal fonte de receita.

Atualmente, percebe-se também um trabalho mais intenso em eventos religiosos de grande magnitude, como a Jornada Mundial da Juventude, que em todo local que é sediado reúne uma quantidade considerável de pessoas, principalmente jovens de toda a parte do mundo, tendo sua 28ª edição realizada no Rio de Janeiro no ano de 2013 (FSB COMUNICAÇÃO, 2017).

Com início no ano de 1985,a JMJ é um evento criado pela igreja católica, no período em que o pontífice representante da Igreja Católica era João Paulo II.A JMJ reúne fiéis católicos de várias partes do mundo, sobretudo jovens e o evento, que em seu início era anual, atualmente ocorre de três em três anos (OBSERVATÓRIO DO TURISMO,2013).Para o turismo da cidade do Rio de Janeiro, a JMJ contribuiu de forma relevante, pois durante aproximadamente duas semanas,1,5 milhão de peregrinos estiveram na cidade, o que gerou impactos econômicos pro município do Rio de Janeiro (OBSERVATÓRIO DO TURISMO,2013).Além dos valores deixados

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pelos turistas, um evento da magnitude da JMJ colocou em evidência internacional a cidade do Rio de Janeiro.

Outras religiões, como a evangélica, por exemplo, passaram a ter mais expressividade atualmente. Estima-se que no ano de 2040 o número de evangélicos supere o de católicos no país (REVISTA EXAME,2013). Dentre algumas formas de turismo religioso evangélico, há o recente Templo de Salomão, pertencente à Igreja Universal, na cidade de São Paulo.

Conhecido no turismo religioso como Caminhos da Fé, refere-se ao deslocamento do profano ao sagrado, feito pelos peregrinos, que por meio da questão do misticismo, são capazes de enfrentar longas viagens e adversidades no trajeto, tudo para praticar sua religiosidade (OLIVEIRA, 2004). No caso do Brasil, segundo dados do Ministério do Turismo, no ano de 2014, as viagens motivadas pela fé representavam 17,7 milhões de pessoas, o equivalente a 3,6% de todas as viagens realizadas no país (O ECONOMISTA,2015). Já no Portal Brasil (2016) afirma-se que no país existem 96 destinos religiosos, com um número de viajantes em torno de 18 milhões de pessoas por conta da fé e que movimentam algo em torno de R$15 bilhões por ano. Vale destacar que no ano de 2017 esse número de turistas e excursionistas deve aumentar, visto que por conta dos 300 anos da descoberta da imagem de Nossa Senhora Aparecida no rio Paraíba, a imagem da santa percorrerá várias cidades brasileiras (PORTAL BRASIL, 2016). Sendo assim, o turismo religioso, além de impulsionar o fenômeno da mobilidade em escala mundial, motivada por uma profissão de fé, é um segmento que movimenta muito dinheiro.

O turismo religioso no Brasil, em especial o católico, que será abordado neste capítulo, envolve milhões de pessoas que percorrem vários cantos do país para cultuar suas crenças, pagar promessas, frequentar uma festa religiosa tradicional ou simplesmente lazer. Nesse caso, a questão do simbolismo religioso se faz presente, visto que é acreditar naquilo que não se vê, mas que sua força existe e é capaz de atuar em favor de quem crê. Independentemente do meio de transporte utilizado e das horas gastas até se chegar ao destino religioso desejado, o que vale para o fiel é exercer a aliança com a sua religião. Como afirma Oliveira (2004), o turismo encontra na religiosidade uma multiplicação dos atrativos turísticos, por meio da palavra fé.

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Dinâmico e diversificado, o fenômeno do turismo tem a capacidade de proporcionar para qualquer localidade que o planeje e desenvolva de maneira adequada, uma ótima oportunidade de receita financeira que tem a chance de ser utilizada em melhorias do determinado destino turístico. Com vários segmentos, ao longo do tempo e de acordo com a demanda das pessoas, novas oportunidades no turismo surgem e com isso, precisa-se de mão-de-obra especializada para cada um destes setores.

Dentre alguns problemas enfrentados pelo turismo religioso, um que pode ser destacado é a pouca quantidade de agências especializadas em turismo deste tipo de segmento, assim como a falta de um inventário a respeito do turismo religioso, a fim de facilitar pesquisas para melhorar o setor.

No Brasil existe o chamado roteiro da fé católica, que são as várias atrações da religião católica nos estados brasileiros, com manifestações sacro-profanas, visto que estas festas religiosas do catolicismo aqui no país têm a sua parte profana, entendida como um momento de lazer, após o cumprimento das obrigações religiosas. Há de se destacar que também existe a possibilidade de espetacularização da festa religiosa e o evento então ganha proporções maiores, como por exemplo, a festa em homenagem a Padre Cícero, no Estado do Ceará, as Cavalhadas de Corumbá, no Estado de Goiás, as festas de São João em Caruaru e Campina Grande, nos Estados de Pernambuco e Paraíba, respectivamente. Vale ressaltar também a espetacularização das representações religiosas, caso da encenação da Paixão de Cristo na cidade de Nova Jerusalém, no estado de Pernambuco, que conta com atores famosos na teatralização. Cercada de polêmicas, essas teatralizações religiosas para grandes públicos, acabam também projetando a imagem de cidades e as convertendo ou reforçando os destinos turísticos.

Outro aspecto que denota a riqueza da religiosidade brasileira e possui grande diferencial turístico é o sincretismo religioso, tendo um dos principais exemplos a lavagem das escadas da Igreja do Senhor do Bonfim, na cidade de Salvador, que conta com representantes católicos e do candomblé.

Para que exista essa quantidade tão grande de fiéis católicos no Brasil, há de se voltar no tempo e buscar fatos que colaboraram para o desenvolvimento do catolicismo no país e com isso, o ponto importante passa a ser a chegada dos

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portugueses ao novo mundo, consequentemente, a descoberta do Brasil, a transformação desse novo território em colônia de Portugal e com isso, a nação europeia insere em sua nova área descoberta a sua influência cultural-religiosa, o que será visto adiante.

1.1 A INFLUÊNCIA DA IGREJA CATÓLICA NO BRASIL E NAS FESTAS POPULARES

A Igreja Católica tem grande participação no processo de formação da cultura do Brasil em diferentes campos: No artístico, com pinturas e esculturas de obras jesuíticas; na arquitetura, com as cidades sendo construídas ao redor das Igrejas Católicas e com o estilo Barroco, e principalmente no campo religioso, que será discutido a seguir.

Devido ao fato das nações ibéricas terem se lançado ao mar em busca de novos parceiros comerciais e também, para adquirirem territórios em que pudessem fincar suas bandeiras e colonizar determinado local a sua forma, a religião católica estava inserida nesse interesse em expansão de seus domínios, a fim de agregar mais fiéis e aumentar suas doutrinas, evitando assim o avanço dos protestantes em outras partes do mundo, uma maneira de realizar a Contra-Reforma fora da Europa. Para tanto, por meio da Santa Sé, os Papas oferecem aos monarcas portugueses documentos oficiais católicos, mais conhecidos como Bula. Nesses documentos, Portugal tinha autonomia para indicar candidatos ao episcopado, cabendo à Igreja a aceitação das indicações lusitanas. No entanto, Portugal deveria implantar o catolicismo em todos os seus territórios conquistados e, além da responsabilidade de construir e manter paróquias, caberia à Coroa arcar com custos de missionários, remuneração do clero e recolhimento de dízimo por parte dos fiéis da Igreja Católica (VIEIRA, 2016).

A priori, considera-se o ano de 1500 como o ano de descoberta do Brasil. No entanto, existem distintos comentários a respeito de quem foi de fato a primeira nação europeia a pisar em solo brasileiro. Ocorre que mesmo que tenha chegado ao território do novo mundo, nenhuma dessas nações fez o registro dessas parcelas de terra, muito menos colocou de forma intensa suas características, sejam elas sociais e culturais nessa nova terra, apenas os portugueses, de fato, é que realizaram

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determinada tarefa.Com isso, Pedro Álvares Cabral, com sua expedição, foi o grande responsável pelo início da versão conhecida da história do Brasil, tendo a nova terra sido relatada nos escritos de Pero Vaz de Caminha, em que descrevia a nova terra, a data de chegada e suas observações a respeito do local (VIEIRA, 2016).

Na data de 9 de março de 1500, ano jubilar da Igreja, uma frota bem estruturada para os padrões da época, com 13 naus e 1200 homens, dos quais 17 missionários, sendo oito franciscanos e nove padres seculares, deixava Portugal, tendo um dia antes uma celebração religiosa na Igreja de Nossa Senhora do Restelo, em Lisboa, conduzida por Dom Diogo Ortiz de Vilhegas, bispo de Ceuta, e presença do Rei Dom Manuel I, “O Venturoso”, que tinha como um dos objetivos da expedição, a dilatação da fé em Cristo. Em 22 de abril de 1500, a cruz portuguesa chega à nova terra, mais precisamente no Monte Pascoal, 44 dias após ter deixado Lisboa, dando-se assim o “achamento do Brasil” (MATOS,2011). Em 26 de abril do mesmo ano, Frei Henrique de Coimbra, um dos franciscanos que junto com Cabral em sua expedição, auxiliado por padres e frades seculares, realizou a primeira missa no Brasil, na praia da Coroa Vermelha, em Santa Cruz Cabrália, litoral sul da Bahia e no dia 1°de maio de 1500, uma Grande Cruz, de aproximadamente 7 metros de altura foi fincada no território descoberto pelos portugueses, declarando a posse oficial da terra em nome da Coroa Portuguesa.Com isso, Frei Henrique realiza a segunda missa no Brasil, desta vez com o ritual católico sendo observado pelos anfitriões da terra, os índios, que ao mesmo tempo curiosos e fascinados, observavam a missa transcorrer (MATOS, 2011).

Dentre os primeiros tempos de ocupação do território no continente americano, Cabral denomina a nova localidade como “Ilha de Santa Cruz” e no ano de 1501,muda o nome do local para “Terra de Santa Cruz”, terra em que “[...]gentes [vivem] nuas como na primeira inocência, mansas e pacíficas”(MATOS, 2011, p.27).A partir do ano de 1503, Pedro Álvares Cabral muda novamente o nome do local para “Terra do Brasil”, também sendo chamada de “Brasil”, nome este dado em homenagem à primeira descoberta e possível fonte de riqueza para a Coroa Portuguesa, o pau-brasil, madeira usada para tingir tecidos de vermelho.

A descoberta dessa nova terra fez com que o rei de Portugal atribuísse o fato a um milagre de Deus, visto que era de grande relevância para se chegar às Índias. Sendo assim, Dom João III acabou por decretar o descobrimento oficial do Brasil, a

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fim de que nenhuma outra nação viesse a reivindicar depois o direito à terra. Como forma de se estabelecer no local, acabou incentivando o povoamento da terra, além de expulsar intrusos que não fossem de nacionalidade portuguesa. Estabelecido oficialmente o descobrimento do Brasil, tem-se um outro momento no processo de ocupação da terra, com o início da influência da Igreja Católica.

Para que houvesse maior facilidade de penetração na nova terra descoberta, fez-se uso das missões religiosas, por meio da Companhia de Jesus, ordem religiosa criada em 1534 por Santo Inácio de Loyola, em que seus discípulos, os inacianos, formam uma companhia que tem como ferramenta de trabalho os exercícios espirituais realizados para Cristo, contrapondo-se ao mal (MATOS,2011). Com o objetivo de introduzir a religião católica nas colônias portuguesas ultramarinas, a Companhia chega ao Brasil no ano de 1549, época em que Tomé de Sousa, primeiro governador-geral, exerce seu poder na colônia e o padre Manuel da Nóbrega como o superior dos missionários inacianos neste período. Todo custo dos religiosos era financiado pela Coroa Portuguesa, como forma de acordo no Padroado com a Igreja Católica. À primeira vista, o objetivo era catequizar os índios, mas escondia-se dentro dessa ideologia a questão político-econômica, com interesses expansionistas e vantagens comerciais para a Metrópole. (MATOS,2011).

Dentre algumas formas de aproximação dos jesuítas para com os índios, faziam-se presente os aldeamentos, uma espécie de acampamento em que os jesuítas ficavam e com isso, estreitavam os laços com os nativos. Aliado a esse fato, os religiosos utilizavam a própria cultura indígena a seu favor, como língua e música dos índios e com isso, passavam a introduzir os ideais da Igreja Católica e, aos poucos, acabando com a cultura dos anfitriões. A fim de intensificar um pouco mais esse domínio, começou-se a fazer uso da intimidação aos indígenas, além de um etnocentrismo como paradigma (MATOS,2011).

Outra forma de cativar dos jesuítas, na tentativa de dominar os índios, foram os ensinamentos musicais e, para isso, fizeram uso da chegada, no ano de 1550, dos meninos órfãos, advindos do Colégio dos Órfãos de Lisboa, que se adaptaram rapidamente ao modo de vida indígena, fazendo até mesmo uso de instrumentos musicais dos índios e usando as mesmas roupas destes. Com a chegada desses meninos, inicia-se aos poucos uma forma de comemoração profano religiosa, já que

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aumentou o convívio com os índios, principalmente os mais jovens e estes aceitaram com mais facilidade os folguedos lusitanos. Essas comemorações não tinham caráter liberador, eram apenas forma de diversão popular (TINHORÃO,2000).

Mas não eram apenas os índios que tiveram a oportunidade de participar desses folguedos populares. Existiam também aqueles portugueses dotados de menor condição financeira e os negros escravos, que em seus raros momentos ociosos, preenchiam com festas e cantos de sua cultura.

Inúmeras foram as festas medievais ocorridas no período colonial, mais precisamente entre os séculos XVI e XVII, tendo como destaque o Torneio das Cavalhadas, em que monarcas, príncipes e fidalgos homenageavam o período da Reconquista. Vinda de Portugal, essa festa tornou-se com o tempo uma atração do povo. Outro bom exemplo de festa foi a do Boi Voador, período de ocupação holandesa no nordeste brasileiro em que, a fim de recuperar o dinheiro investido na construção de uma ponte sobre o rio Capibaribe, na cidade de Recife, o conde Maurício de Nassau, antes de se retirar do Brasil, prometeu como atratividade um boi que voaria. Para realizar tal façanha, mandou preencher de palha o couro de um boi, semelhante a um boi que era conhecido na cidade de Recife por sua mansidão. A fim de convencer a população de que era aquele o boi que voaria, ordenou que trouxesse o tal boi manso e mostrou para o povo. A seguir, retirou de cena este boi e, por meio de uma corda que ligava o alto de seu jardim até a outra parte da rua, fez com que o falso boi “voasse” de um ponto a outro (TINHORÃO,2000).

Com relação às festas populares, a maioria das pessoas era apenas espectadora, com privilégios para as classes mais abastadas. Somente nas celebrações religiosas era que a população mais pobre tinha a oportunidade de participar, principalmente nas procissões. Por meio da herança medieval do cristianismo, com dramatizações e atos sacros de propagação, os mais humildes eram mais ativos (TINHORÃO,2000). Com a criação da festa de Corpus Christi, também conhecida como Corpo de Deus, as procissões serviam como resposta ao poder espiritual da Igreja contra as heresias. Aos poucos, ganhou caráter teatral, o que ajudava na participação das camadas mais populares, até chegar ao período Barroco, no século XVIII.

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Nessa nova etapa do período colonial, as festas ganharam um destaque ainda maior com a encenação sobre rodas e das alegorias, com acabamentos mais detalhados e melhores esteticamente. Tinham o intuito de representar melhor as encenações religiosas, assim como mostrar o poder da Igreja Católica. Esse tipo de representação religiosa fazia com que as pessoas de camada mais humilde se divertissem bastante.

Com o fim do período colonial, apenas as festas tradicionais da Igreja Católica conseguiram se manter interessantes para o apelo da população, que se entregava aos festivos profanos e religiosos, numa espetacularização da religião. Como forma de atrair mais pessoas e, consequentemente novos fiéis para a Igreja Católica, os padres também eram vistos nos momentos de lazer das festas.

Assim, surge a chamada religiosidade popular, em que o povo mais humilde passa a ter um forte apelo à fé cristã, encarnação da religião em seu cotidiano, uma mistura de cristianismo medieval advindo da Europa misturado com tradições religiosas dos povos nativos da colônia, no caso, os indígenas. Adiciona-se à essa mistura de religiosidade popular a influência africana na religião e tem-se um catolicismo multifacetado, pluralista e rico em história.

Há uma nítida ligação entre fé e vida, manifestada, por exemplo, em orações para afastar inimigos, curar doenças ou em atos penitenciais para pedir chuva em época de seca prolongada. Semelhante experiência é testemunhada e comunicada aos outros mediante sinais externos e, muitas vezes, públicos. Mas não se trata apenas de exterioridades, vazias de conteúdo espiritual e hipertrofiadas por emoções ou direcionadas essencialmente ao prático e ao imediato. Pelo contrário, na autêntica religiosidade popular—não obstante parecerem suas formas, às vezes, um tanto bizarras—esconde-se uma impressionante profundidade religiosa (MATOS, 2011, p.198).

A respeito das imagens dos santos, esse tipo de culto tem um ponto importante, pois faz com que as pessoas tenham alguma referência para problemas específicos e cria uma relação de divindade maior entre imagem e fiel. Dentre essas imagens, a de maior propagação no período colonial foi a do Bom Jesus, filho de Deus que morre na cruz para salvar dos pecados da humanidade. Além da imagem de um homem pregado na cruz e sua simbologia, serve para as pessoas se conformarem com seus problemas e suportar seus sofrimentos diários. Após o culto do Bom Jesus, já em fins do período colonial, tem-se a imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, considerada hoje a padroeira do Brasil.

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Tendo essa influência da Igreja Católica na colônia de forma mais intensa, aparecem também manifestações religiosas de homenagem a imagens de santos católicos. Vale destacar que na questão das festas religiosas, esses eventos de certa forma já começaram desde que a primeira missa foi realizada em Santa Cruz Cabrália e com o passar do tempo, agregando mais características sacras, com as adorações das imagens.

Dentre algumas festas que se originaram do catolicismo e apresentam relevância no segmento religioso brasileiro, têm-se a Festa de Nossa Senhora Aparecida, comemorada no dia 12 de outubro, a Festa de Nossa Senhora dos Navegantes, na região sul do país e festejada no dia 2 de fevereiro, as Festas Juninas, em especial a de São João, em 24 de junho e a Festa do Círio de Nazaré que, assim como a Festa do Divino Espírito Santo de Paraty, é considerada pelo IPHAN como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil e será descrita com mais detalhes a seguir.

1.2.1 O Círio de Nazaré

Considerado um acontecimento religioso de grandes proporções, é realizado na cidade de Belém do Pará no mês de outubro, sendo de grande relevância cultural para a população, em especial os católicos, além de envolver fortemente a fé e tradição local. Toda a cidade acaba envolvida com o Círio de Nazaré, que influencia em questões sociais, econômicas e religiosas. Na parte social, com a chegada de pessoas para o evento; na parte econômica, ao atuar no turismo local e comércio ligados ao turismo, como restaurantes e meios de hospedagem; no religioso, com o evento em si, marcado pela intensa manifestação de fé.

Nome originário do latim Cereus, que significa vela de cera, por conta das romarias em Portugal que levavam os devotos até o santuário de Nossa Senhora de Nazaré com velas de cera acesas ao longo da caminhada, a história do Círio de Nazaré inicia-se no país luso, quando pastores encontram a imagem de Nossa Senhora de Nazaré numa gruta. No século XII, o fidalgo Dom Fuas Roupinho cai num abismo, mas acaba sendo salvo e atribui tal fato a um milagre de Nossa Senhora de Nazaré. A partir do ocorrido, o fidalgo passa a difundir sua fé em Portugal (IPHAN,2006).

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O município de Saquarema, no estado do Rio de Janeiro, é considerado o primeiro local no Brasil a reverenciar a imagem de Nossa Senhora de Nazaré. No entanto, foi no estado do Pará, por meio dos jesuítas, que começou a intensa adoração à imagem da Santa no país. Nesta cidade, encontravam-se colonos advindos das regiões portuguesas dos Açores e Algarves, locais que tinham uma ligação com o culto à imagem de Nossa Senhora de Nazaré e seus navegantes (NOSSA SENHORA DE NAZARÉ, 2017).

Numa ligação entre história e mito, existe a versão de que o caboclo Plácido encontra a imagem de Nossa Senhora às margens do Igarapé Murucutu. Ao encontrar a imagem, Plácido a leva para casa e, ao amanhecer, percebe que a Santa não está mais em sua residência, encontrando-a novamente às margens do Igarapé. Ao ser resgatada, foi levada para a Capela do Palácio do Governo da Província, sendo escoltada, mas no dia seguinte, havia desaparecido novamente. Entendendo que o desejo da Santa era ficar na margem do Igarapé, lá foi construída uma ermida para a imagem, iniciando assim a romaria da Santa pela população local. (CÍRIO DE NAZARÉ-PARÁ-CULTURA, FAUNA E FLORA,2006).

Realizado há mais de dois séculos, o primeiro Círio de Nazaré aconteceu na data de 8 de dezembro de 1793, visto que o número de fiéis aumentava cada vez mais, o que fez com que eclesiásticos se apressassem em oficializar o evento religioso. Somou-se a tal fato a necessidade do presidente da Província do Pará, Francisco Coutinho, de realizar a primeira procissão do Círio de Nazaré naquele ano, como forma de pagamento de promessa (IPHAN,2006). Atualmente, a festa ocorre no mês de outubro, com o segundo domingo deste mês sendo definido como o dia exato para comemoração a partir do ano de 1901.A procissão segue um roteiro que vai da Catedral de Belém até a Praça Santuário de Nazaré, num percurso de 3,6 quilômetros, sendo percorrido num tempo aproximado de 9 horas local em que fica exposta por um período de quinze dias aos seus fiéis e demais pessoas interessadas em cultuar a imagem da Santa, além de receber no dia da procissão, aproximadamente dois milhões de pessoas (DOSSIE IPHAN-CÍRIO DE NAZARÉ,2006)

Dentre algumas atividades proporcionadas pelo evento religioso, algumas acabam ocorrendo antes do dia exato da procissão do Círio de Nazaré, como por exemplo na noite de sexta-feira que antecede o Círio o Traslado para a cidade de

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Ananindeua, em que a imagem da Santa fica sob vigília na cidade; a Romaria Rodoviária, realizada no sábado que antecede o Círio, em que por esta romaria a imagem da Santa é levada até o distrito de Icoaraci e lá são realizados eventos religiosos para homenagear a imagem de Nossa Senhora de Nazaré; a Romaria Fluvial, realizada no sábado à noite, logo após a saída da imagem do distrito de Icoaraci, até chegar na escadinha do Cais do Porto, já na cidade de Belém do Pará; a Moto Romaria, em que ao chegar a imagem da Santa na escadinha do Cais do Porto, romeiros com motocicletas conduzem a imagem até o colégio Gentil Bittencourt e por fim a Trasladação, em que romeiros, já na cidade de Belém do Pará realizam também no sábado à noite uma procissão em sentido inverso até a Igreja de Nazaré, na contramão da procissão realizada no domingo festivo e por fim, no dia exato da festa, o segundo domingo do mês de outubro, ocorre de fato a festa religiosa do Círio de Nazaré, em homenagem à Nossa Senhora de Nazaré. Outro ponto a ser considerado na procissão é a corda, utilizada pelos romeiros para acompanhar a romaria. Nessa ocasião, as pessoas aproveitam para agradecer a milagres e graças alcançadas (DOSSIE IPHAN-CÍRIO DE NAZARÉ,2006).

No fim de semana posterior ao Círio ocorrem atividades como a ciclo romaria, romaria da juventude, romaria dos corredores, a romaria das crianças e por fim o Recírio, em que uma missa é realizada numa segunda-feira, quinze dias após a procissão do Círio de Nazaré. Nessa missa, as súplicas, que são os pedidos dos fiéis, são queimadas no Altar Monumento da Praça Santuário (DOSSIE IPHAN-CÍRIO DE NAZARÉ,2006).

Toda essa grandiosidade na representação do Círio de Nazaré está relacionada principalmente à enorme fé que seus fiéis depositam em Nossa Senhora de Nazaré, o que faz com que católicos de diferentes partes do Brasil realizem uma viagem até Belém do Pará a fim de participar dos festejos religiosos, além dos próprios fiéis que residem na cidade. No dia exato da procissão, a corda é parte importante, já que muitos dos fiéis desejam tocá-la, visto que tal ato representa para esses devotos uma ligação maior entre eles e a santa (G1.GLOBO.COM, 2015).

Não sendo diferente das demais cidades que apresentam alguma característica no turismo que seja incorporada por sua população residente, o Círio de Nazaré também enfrenta a turistificação, em que, ao receber uma quantidade considerável de

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turistas, esses visitantes, de alguma forma, acabam por alterar a rotina dos paraenses que frequentam o Círio e estão acostumados com um tipo de evento religioso.

De acordo com Fratucci ([s.d]), os agentes sociais são grupos de pessoas, sociais, empresas e instituições que têm a capacidade de gerar efeito sobre fenômeno ou atividade turística, podendo intervir ou modificar suas formas. Na comemoração do Círio de Nazaré, esses agentes sociais atuam de maneira a cada um obter os seus respectivos interesses. Especificamente no Círio de Nazaré, esses agentes seriam o poder público, a Igreja Católica, a comunidade local e os agentes de mercado (SERRA,2014).No caso do poder público, este procura atender as exigências dos outros agentes sociais, em especial da Igreja a fim de obter vantagens em campanhas eleitorais; a Igreja Católica, com o intuito de ampliar a divulgação da Festa do Círio de Nazaré, o que acaba por transformar numa espetacularização do evento, além do fato de tornar a festa como atrativo durante todo o ano; a comunidade local, que participa da turistificação no processo de convidar e receber os turistas , oferecendo o seu local para quem vem da área emissiva usar e por fim, os agentes de mercado, que investem no Círio de Nazaré com o intuito de passar uma boa imagem para os moradores, poder público e representantes da Igreja (SERRA,2014).

No próximo capítulo, será abordada a cidade de Paraty, seus principais eventos, como a FLIP e o Festival da Cachaça, assim como o processo de turistificação e suas tensões envolvendo os atores do processo.

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2 PARATY, SEUS PATRIMÔNIOS CULTURAIS E SEUS EVENTOS

Localizada na região da Costa Verde do estado do Rio de Janeiro, a aproximadamente 250 quilômetros de distância da capital fluminense, Paraty é uma cidade que dá a quem a visita um leque de opções turísticas, seja na parte natural, cultural e principalmente no seu diversificado calendário de eventos, que aliás é uma forma de manter o turismo e diminuir a ociosidade de uma baixa temporada para um destino turístico. Além disso, Paraty é rica em história, haja vista o centro da cidade, que oferta aos visitantes seus casarões em estilo barroco, suas igrejas e ruas de pedra, o que inevitavelmente desperta a curiosidade dos turistas a respeito do passado da cidade. Vale destacar também o fato de Paraty ser considerada uma cidade Patrimônio Histórico Nacional (PARATY, TURISMO E ECOLOGIA, 2016). Um outro ponto interessante a ser abordado sobre Paraty, é que a cidade é uma das que a mais recebem turistas internacionais (MORAES; TRENTIN,2011).

Segundo o IBGE, Paraty apresentou no ano de 2010 um quantitativo de 37.533 residentes, com uma estimativa para o ano de 2016 de 40.975 pessoas. e o município, com uma área de 925,392 Km², conta com três distritos: Paraty, Paraty-Mirim e Tarituba.

Figura 1- Mapa Satélite de Paraty

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Com distintas informações e algumas lendas, acredita-se que o território em que se encontra atualmente Paraty tenha sido descoberto pelos lusitanos, no ano de 1531, mais precisamente no dia 16 de agosto, dia de São Roque. Quanto ao nome da cidade, alguns atribuíram o nome ao peixe Pirati ou que a tradução do nome Paraty é golfo, de acordo com a língua indígena Tupi (NADRUZ,2008). Na parte escrita do nome, este já sofreu algumas modificações em sua grafia, sendo escrito como “Paratii”, “Parathy”, “Parati” e por fim, “Paraty” (NASCIMENTO,2015).

Divergências ocorrem entre historiadores com relação à fundação da cidade. Conforme Gurgel e Edelweiss (1973, apud MAIA; MAIA,2015, p.20) enquanto uns acreditam ser o ano de 1600, quando paulistas de São Vicente povoavam a cidade, outros historiadores acreditam ser o ano de 1606 o ano de fundação de Paraty, momento este em que os primeiros sesmeiros chegaram ao local, beneficiados com doações feitas pelo Conde da Ilha do Príncipe, donatário da Capitania de São Vicente. Existe também a versão de que Paraty foi fundada no ano de 1667, ao redor da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, padroeira da cidade. Economicamente, teve grande importância, já que do seu porto se escoava o ouro e pedras preciosas de Minas Gerais para Portugal e além disso, os engenhos de cana-de-açúcar, que chegaram a ser mais de 250 e trouxeram a fama de boa produtora de cachaça para a cidade, também contribuíram para a economia local. (PARATY, CULTURA E TURISMO ,2016).

Com uma rota comercial importante, em que se utilizava as trilhas feitas pelos índios Guaianás, o ouro trazido de Minas Gerais era enviado por esse caminho até chegar ao porto de Paraty e posteriormente ser enviado à Portugal. No entanto, ladrões agiam durante o caminho acidentado, empurrando os animais ribanceira abaixo e, a seguir, descendo para pegar tudo o que encontrassem de valioso (NADRUZ,2008). Devido a esses problemas, foi criado em 1726 o “Caminho Novo da Freguesia da Piedade para o Rio de Janeiro”, uma maneira de ligar a Capitania de São Paulo ao Rio de Janeiro e evitar assim a ação dos corsários que atuavam no litoral paratiense. Nessa mesma época, engenhos começaram a surgir, o que fez com que Paraty começasse a ter produção de cachaça, bebida que é uma das referências da cidade pela sua produção de qualidade (MAIA,2015).

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Outros pontos relevantes a serem considerados são o fato de Paraty também ter se destacado por ter sido escoadora da produção do café vindo do Vale do Paraíba, assim como de mercadorias como vinho, seda, cristais, dentre outros produtos que agradavam aos Barões do Café (NADRUZ,2008).

Vale destacar também a influência da maçonaria no processo de urbanização e arquitetura de Paraty, em que se nota cunhais de pedras nas esquinas do centro histórico, em que três das quatro casas recebem esses cunhais, formando assim um triângulo imaginário, símbolo da maçonaria. Outros pontos que lembram a maçonaria podem ser observados, como a cor azul hortênsia, típica da maçonaria, faixas decoradas em formas geométricas e o espaço entre janelas das fachadas das casas, dentre outras características que lembram a maçonaria (NADRUZ,2008).

Pouco depois da segunda metade do século XIX, por volta de 1870, foi construída a estrada de ferro que ligava São Paulo ao Rio de Janeiro, o que fez com que a cidade ficasse praticamente isolada e sua economia perdesse força, além do fato de em 1888 ter ocorrido a abolição dos escravos, o que agravou ainda mais a situação econômica de Paraty. Apenas no século XX, mais precisamente na década de 70, com a construção da rodovia Rio-Santos, foi que Paraty voltou a ter ligação intensa com Rio de Janeiro e São Paulo, e o turismo sendo o grande responsável pela geração de receitas para a cidade (NADRUZ,2008).

A seguir, será abordada Paraty e a sua relação com o patrimônio cultural.

2.1 PARATY COMO PATRIMÔNIO CULTURAL

Uma das formas de orgulho para um determinado destino turístico é quando se tem alguma boa referência e, uma destas referências é a identificação de um patrimônio cultural, que pode ser tanto material quanto imaterial. No caso do patrimônio cultural material, tal classificação faz referência a bens tombados móveis ou imóveis, como por exemplo as cidades históricas, os sítios arqueológicos e paisagísticos, acervos documentais, bibliográficos, museológicos, dentre outros bens (IPHAN, 2017). Já os bens patrimoniais imateriais , referem-se às práticas e domínios de determinada população, como seus conhecimentos, sua forma de fazer tal ofício, celebrações, como por exemplo festas populares, dentre outras maneiras intangíveis

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de se analisar o comportamento de uma localidade (IPHAN,2017).No caso de Paraty, percebe-se tanto as características dos bens culturais materiais e o seu centro histórico com belos exemplos a ser citados, como também a presença dos bens culturais imateriais, caso da Festa do Divino Espírito Santo, o que faz com que os habitantes desse destino turístico tenham carinho e prazer ao falar sobre determinada característica de sua cidade em termos patrimoniais e, no caso dos turistas, estes buscam os principais atrativos da localidade visitada.

Com a criação em 1937 do Serviço de Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (SPHAN), hoje Instituto do Patrimônio Histórico Artístico e Nacional (IPHAN), era mais valorizado o patrimônio conhecido como “pedra e cal”, que era tudo o que se referia ao conjunto arquitetônico do período colonial português, referenciado mais pelas cidades históricas, com estilo Barroco e influência de uma elite branca e católica (SILVA,2015). Atualmente, o termo patrimônio tem um sentido bem mais amplo, incluindo também o meio ambiente Contabiliza-se também o meio ambiente, a diversidade e elementos característicos das pessoas que compõem uma determinada localidade, como danças, festas, gastronomia, dentre outros elementos de natureza imaterial.

Dentre um dos principais marcos da influência e ocupação portuguesa no Brasil, principalmente no período do caminho do ouro e do café, Paraty é hoje uma cidade que apresenta a quem a visita uma vasta opção de atrativos, sejam eles naturais e culturais, com rico patrimônio nas áreas citadas. No ano de 1958, seu conjunto arquitetônico e paisagístico foi tombado pelo IPHAN. Já no ano de 1966, Paraty recebeu o título de Monumento Nacional e em 1974, houve um novo tombamento, que desta vez incluía o entorno do conjunto arquitetônico e paisagístico do município3 (IPHAN, 2017).

Em Paraty, muitas são as opções de turismo, como por exemplo, o turismo cultural, ecoturismo, turismo de eventos e o turismo religioso. Destaca-se principalmente a parte cultural, vista com maior frequência nos cartões postais da cidade. Além disso, a fauna e flora local recebem uma política de preservação em termos paisagísticos, além de estratégias de preservação de povoado caiçara e escravos, no caso quilombo, assim como características culturais desses grupos

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citados (SILVA,2015). Como principal observação turística, a cidade apresenta o seu centro histórico como um desses patrimônios. Considerado pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) como o conjunto arquitetônico colonial mais harmonioso, o centro histórico de Paraty também é tombado pelo IPHAN como Patrimônio Nacional e a cidade de Paraty candidata a Patrimônio da Humanidade. Vale destacar algumas características dessa parte patrimonial de Paraty, como as ruas com calçamento pé de moleque, em que a água invade essas ruas em período de maré cheia, visto que ao ser construída a parte central, a cidade não dispunha de saneamento básico e todos os dejetos eram jogados na rua e levados pela maré, as ruas protegidas por correntes que impedem a passagem de carros, o comércio e expressões culturais e artísticas que embelezam e encantam quem passa pelo centro histórico (PARATY.COM.BR,2016) .

Dentre os espaços da religião católica em Paraty, vale destacar as quatro principais Igrejas da cidade: A Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, a Igreja de Nossa Senhora do Rosário, a Igreja de Nossa Senhora das Dores e a Igreja de Santa Rita, esta última sendo a mais antiga construção religiosa da cidade e que atualmente abriga o Museu de Arte Sacra de Paraty.

A seguir, será abordada a questão dos eventos na cidade e a parte da turistificação, em que serão utilizados como exemplo a FLIP e o Festival da Cachaça, visto que são acontecimentos de grande relevância para a cidade e o turismo local.

2.2 EVENTOS

Uma das formas de se gerar receitas no turismo e também de causar uma boa impressão para quem visita uma localidade pela primeira vez é por meio de eventos. Não à toa várias cidades competem ferozmente para sediar encontros que causam uma visibilidade considerável para seu destino, haja vista que não é só o evento em si, mas a oportunidade de fazer com que esse turista que possivelmente não conhecia o local, volte outras vezes. Em Paraty, além de sua riqueza histórico-cultural e belos atrativos naturais, mais um segmento ganha destaque: o de eventos.

Ao perceber que eventos poderiam dar vida e rotatividade no turismo, o poder público de Paraty, por meio da Secretaria de Turismo e da Casa de Cultura, começou a trabalhar de maneira mais intensa nesse tipo de segmento. Somados os eventos

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tradicionais da cidade, como as festas religiosas locais e os eventos que surgiram a partir do momento em que se pensou numa política mais consistente nesse segmento, tem-se pelo menos uma atração por mês em Paraty.

Aproximadamente 42 finais de semana do ano são dedicados a eventos em Paraty e dos eventos que a Secretaria de Cultura organiza, que seriam os eventos menores e voltados para a área cultural, 80% dos recursos repassados à Secretaria de Cultura pela Prefeitura são destinados para esse fim. Além disso, pesquisas são feitas pela Secretaria de Turismo em cada evento, a fim de colher opiniões dos participantes e com isso, melhorar os próximos eventos (SILVA,2015).

Mais precisamente no ano de 2014, o governo local assinou um acordo com o Convention & Visitors Bureau, na tentativa de promoção do destino turístico Paraty. O Convention & Visitors Bureau tem como objetivo a atração de turistas de eventos, negócios, lazer e entretenimento para uma determinada localidade e tem representação em várias cidades brasileiras que desejam alavancar seu turismo. Dentre algumas contribuições que esse órgão privado ofereceu a Paraty vale destacar a participação em feiras nacionais e internacionais, cuja divulgação do destino turístico Paraty se faz importante e a captação de eventos para a cidade. Dentre alguns desses eventos, tem-se o Bourbon Festival Paraty, mais conhecido como o Festival de Jazz de Paraty e o Paraty Latino, com seu festival de música latina (SILVA,2015).

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Figura 2-Calendário de eventos de Paraty ano 2017 Janeiro 06-Folia de Reis 01 a 24-Viva Verão Paraty Fevereiro 24 a 28-Carnaval 28-Aniversário de Paraty Março 10 a 19-FestJuá 26-Mini Maratona Abril 13 a 16-Encontro de Ceramistas 14-Paixão de Cristo 16-Circuito de Ciclismo 21-Tiradentes Maio 1-Dia do Trabalho 26/5 a 4/6-Festa do Divino Junho 9 a 11-Bourbon Festival 15-Corpus Christi Julho 07 a 16-Festa de Santa Rita 26 A 30-FLIP Agosto 17 a 20-Festival da Cachaça, Cultura e Sabores de Paraty Setembro 7-Independência 13 a 17-Festival de Aves de Paraty 13 a 17-Paraty em Foco Outubro 06 a 08-MIMO 12-Nossa Senhora Aparecida 18 a 22-Paraty Eco Festival Novembro 02-Finados 15-República Dezembro 01 a 03-X Terra Paraty 09 a 10-Action Paraty 25-Natal 31-Reveillon

Fonte: Prefeitura de Paraty,2017

No que se refere aos eventos realizados em Paraty, atenção deve ser dada para a questão de uma possível turistificação desses acontecimentos, em que a população local acaba por receber as consequências, como se fosse um estranho em próprio terreno. Conforme afirma Knafou [s.d], as três fontes de turistificação dos lugares e dos espaços seriam: Os turistas, que se apresentam na origem do turismo, já que esse próprio turista pode investir na descoberta de um novo local; o mercado, que seria a segunda fonte de criação de lugares turísticos, pois traz a concepção e colocação dos produtos turísticos, devendo tomar o cuidado de não analisar tarde demais a evolução das práticas turísticas de um determinado destino turístico em que teve influência; a terceira e última fonte de turistificação de lugares e espaços seria a dos planejadores e promotores territoriais, que são ligados ao lugar turístico. Um perigo que pode ocorrer é o fato de esses planejadores ignorarem as características, demandas e conflitos que envolvem todos os agentes inseridos no processo.

Vale adicionar entre os fatores que ampliaram o fluxo de turistas à cidade, inerentes ao processo de turistificação da mesma, a expansão da BR 101, na década de 1970 (o que fez com que o acesso ao município ficasse mais fácil); o próprio tombamento do centro histórico, que valorizou demais os imóveis, consequentemente

Referências

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