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Sapataria Pandora = informalidade e desenvolvimento da indústria de calçados de Nova Serrana

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Academic year: 2021

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FILIPE OLIVEIRA RASLAN

SAPATARIA PANDORA:

INFORMALIDADE E DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA DE

CALÇADOS DE NOVA SERRANA

Campinas

2014

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Universidade Estadual de Campinas

Instituto de Filosofia e Ciências Humanas

Departamento de Sociologia

Filipe Oliveira Raslan

Sapataria Pandora: informalidade e desenvolvimento da indústria de calçados de Nova Serrana

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Sociologia

Orientador: Prof. Dr. Ricardo Antunes

Campinas-SP. Março de 2014.

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Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas

Biblioteca do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Paulo Roberto de Oliveira - CRB 8/6272

Raslan, Filipe Oliveira,

R184s RasSapataria Pandora : informalidade e desenvolvimento da indústria de calçados de Nova Serrana / Filipe Oliveira Raslan. – Campinas, SP : [s.n.], 2014.

RasOrientador: Ricardo Luiz Coltro Antunes.

RasTese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas.

Ras1. Setor informal (Economia). 2. Trabalhadores da indústria de calçados. 3. Calçados – Indústria. 4. Desenvolvimento Econômico. I. Antunes, Ricardo,1953-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Sapataria Pandora : informality and development of footwear industry of Nova Serrana

Palavras-chave em inglês: Informal sector (Economics) Footwear industry - employees Shoe Industry

Economic development

Área de concentração: Sociologia Titulação: Doutor em Sociologia Banca examinadora:

Ricardo Luiz Coltro Antunes [Orientador] Vera Lucia Navarro

Henrique José Domiciano Amorim Robson Dias da Silva

Selma Borghi Venco

Data de defesa: 28-03-2014

Programa de Pós-Graduação: Sociologia

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)

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vii Resumo

Essa tese busca analisar o processo de reestruturação produtiva contemporâneo, como um conjunto de mudanças nas relações entre as empresas, a classe trabalhadora e o Estado, reflete o âmbito organizacional do trabalho, imantando-se numa fase específica de recomposição das formas da acumulação capitalista. A modernização levada ao cabo pela reestruturação produtiva da década de 1990 em Nova Serrana fez com que a indústria de calçados racionalizasse a exploração do trabalho, recompondo formas da acumulação antes dispersas, reinventando as bancas de pesponto. Tomando como ponto de partida a reestruturação produtiva como processo histórico no contexto do desenvolvimento do capitalismo no Brasil, buscou-se compreender as diversas nuances da informalidade, tais como a feminização do trabalho domiciliar remunerado, o trabalho infanto-juvenil, dentre outros elementos presentes nas práticas diárias dos trabalhadores e como estes têm enfrentado a crise de emprego nos setores produtivos iniciada na década de 1990 com a abertura econômica. Para tanto, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com operários das bancas de pesponto na cidade, utilizando como caminho metodológico a pesquisa explicativa. Os resultados apontam para um cenário em que a informalidade nas bancas de pesponto da indústria calçadista em Nova Serrana como figura imanente à acumulação flexível do capitalismo contemporâneo se reflete no processo de reestruturação produtiva, ao mesmo tempo em que o reverbera.

Palavras chaves: Trabalho informal; reestruturação produtiva, desenvolvimento; indústria calçadista.

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ix Abstract

This thesis looks to analyze the contemporary process of productive restructuring, as a set of changing relationships between companies, the working class and the state, reflects the organizational scope of work, attracting a specific phase of restoration of the forms of capitalist accumulation. The modernization carried out by the productive restructuring of the 1990s in Nova Serrana made the shoe industry rationalize the exploitation of labor, rebuilding forms of accumulation and reinventing the home workshops. Taking as its starting point the productive restructuring as a historical process in the development of capitalism in Brazil, we tried to understand the various nuances of informality, such as the feminization of home paid work, child and youth work, among other elements present in daily practices of workers and how they have faced the crisis of employment in productive sectors starting in the 1990s with the economic opening. To this end, semi-structured interviews with workers of the workshops in the city, using the explanatory methodological research approach. The results point to a scenario in which informality in the home workshops in the footwear industry in Nova Serrana as inherent to flexible accumulation of contemporary capitalism figure which is reflected in the restructuring process.

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Agradecimentos

Agradeço primeiramente ao professor Ricardo Antunes pelos mais de doze anos de convívio e generosidade.

Aos Professores Vera Navarro, Selma Venco, Robson Dias e Henrique Amorim por aceitarem fazer parte da banca e por toda compreensão com os prazos.

Ao Professor Sávio Cavalcante por participar do exame de qualificação e ser membro suplente.

Ao professor Fernando Lourenço por participar do exame de qualificação. Aos professores Mariana Chaguri e Sílvio Camargo por aceitarem a suplência na banca.

Ao professor Mário Augusto pela disponibilidade. A todos que me receberam em Nova Serrana. Aos amigos do grupo de pesquisa.

Aos companheiros da luta social. Aos colegas do CEFET-MG.

Às amigas Natália Cristina, Laura Alberti e Juliana Salles pelo incentivo. A Renata Belzunces e Rodrigo Moreno por todos os diálogos.

Ao Bruno Leal pelo apoio irrestrito. À Ângela Ramos pela revisão.

Ao Daniel Cardoso pela eterna paciência e auxílio na burocracia da pós. À Janaína Porto pelo desprendimento.

À minha família e amigos. À dignidade das mulheres.

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Lista de quadros e tabelas

Tabela 1 Distribuição de empregos por tamanho das empresas do setor calçadista - Brasil,

2011 15

Tabela 2 Quantidade de empresas e empregos no setor calçadista por Estado, 2011 19 Tabela 3 Principais estados por classificação da indústria de calçados segundo a quantidade de

empresas 20

Tabela 4 Principais estados por classificação da indústria de calçados segundo número

empregos gerados 21

Tabela 5 Distribuição dos empregos na indústria calçadista em Nova Serrana 22 Tabela 6 Distribuição das empresas na indústria calçadista em Nova Serrana 23 Tabela 7 Número de empresas distribuídas por região produtora e tipo de fábrica 23 Tabela 8 Número de trabalhadores distribuídos por região e tipo de fábrica 24

Tabela 9 Produção Mundial de Calçados – 2011 28

Tabela 10 Produção mundial de calçados – 2011 29 Tabela 11 Principais países consumidores de calçados – 2011 32 Tabela 12 Consumo de calçados por habitante – 2011 33 Tabela 13 Consumo de calçados por habitante entre maiores consumidores – 2011 34 Tabela 14 Custos do trabalho na indústria dos calçados em países selecionados 1998 39 Tabela 15 Distribuição das empresas segundo dimensão 45 Tabela 16 Distribuição da mão-de-obra empregada em cada zona 47 Tabela 17 Taxa de rotatividade em anos selecionados 94 Tabela 18 Força de trabalho precoce 10-17 anos, 2010 152 Quadro 1 Estrutura industrial e características dos principais grupos de países produtores e

exportadores de calçados 36

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ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES

Mapa 1 - Localização e região de influência da indústria de calçados de Nova Serrana, MG ... 3

Gráfico 1 - Distribuição de empregos por tamanho das empresas do setor calçadista ... 17

Gráfico 2 - Produção brasileira de calçados (2003 a 2008) ... 26

Gráfico 3 - Índice do PIB real de Nova Serrana (MG) 1970 = 100 ... 86

Gráfico 4 - Produto Interno Bruto (PIB) de Nova Serrana (MG) valor (R$mil) a preços de 2011 ... 87

Gráfico 5 - Produto Industrial de Nova Serrana (MG) valor (R$mil) a preços de 2011 ... 92

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xvii SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 1

1 - A INDÚSTRIA CALÇADISTA ... 13

1.1 – Confrontação Internacional ... 27

2 – NOVA SERRANA E O CAPITALISMO SUBORDINADO ... 43

2.1 – Os problemas do desenvolvimento do capitalismo brasileiro ... 62

2.2 – Um desenvolvimento local que precariza o trabalho... 75

3 – INFORMALIDADE DO TRABALHO ... 99

3.1 – Uma certa informalidade - produção “pirata” ... 111

3.2 – Trabalho domiciliar como forma particular da informalidade ... 120

3.3 – Trabalho feminino como reafirmação da precarização ... 129

3.4 – Trabalho Infantil: franja do sistema ou estruturalmente informal? ... 143

À GUISA DE CONCLUSÃO ... 155

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INTRODUÇÃO

O trabalho assalariado sem carteira assinada é uma realidade em expansão no capitalismo contemporâneo e configura-se como uma subproletarização de diversos matizes em que o trabalho parcial, terceirizado, subcontratado, enfim, precário é imanente à realização de valor. A instabilidade permanente da vida de um contingente cada vez maior de trabalhadores revela a lógica perversa que o capital impele aos assalariados. A volatilidade cotidiana do mercado aprofunda os males que a superexploração do trabalho impõe à boa parte da classe operária. A experiência aqui revelada mostra como a indústria calçadista de Nova Serrana está inserida num mundo onde uma existência humana é forjada pelos donos do capital.

O setor de calçados brasileiro tem se esforçado há anos para que produtos asiáticos, principalmente chineses, não inundem o mercado nacional de mercadorias baratas, o que tenderia a provocar um tsunami de falências. A necessidade de manter o preço competitivo das mercadorias nesse setor leva as indústrias a práticas que, por vezes, colocam em dúvida o esforço de existir no Brasil o que a OIT tem chamado de “trabalho decente1”. É uma característica dessa indústria o uso intensivo de força de trabalho em algumas etapas da produção. Então, para desonerar os custos de produção, a estratégia adotada é o que temos conhecido como flexibilidade produtiva,

1 O Trabalho Decente é o ponto de convergência dos quatro objetivos estratégicos da OIT: o respeito aos

direitos no trabalho (em especial aqueles definidos como fundamentais pela Declaração Relativa aos Direitos e Princípios Fundamentais no Trabalho e seu seguimento adotada em 1998: (i) liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; (ii)eliminação de todas as formas de trabalho forçado; (iii) abolição efetiva do trabalho infantil; (iv) eliminação de todas as formas de

discriminação em matéria de emprego e ocupação), a promoção do emprego produtivo e de qualidade, a extensão da proteção social e o fortalecimento do diálogo social. O que é Trabalho Decente. Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/content/o-que-e-trabalho-decente>. Acesso em: 23 set. 2013.

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em que novos métodos de gestão da lean production2, tais como a subcontratação via

terceirização e a externalização são exemplos.

A busca renitente de redução de custos, principalmente no que se refere ao barateamento da força de trabalho, é própria da forma de ser do capital. Essa dinâmica tem levado esses setores industriais à recorrência no uso de trabalhadores informais como mecanismo de barateamento de seus produtos. Mesmo que alguns especialistas vejam na informalidade um problema a ser resolvido, é exatamente ela que garante a competitividade. A indústria calçadista aperfeiçoa a qualidade culpabilizando e onerando as bancas ou ateliês de calçados por produtos com defeitos. Essas bancas são, geralmente, empreendimentos familiares - formalizados ou não - que assumem a etapa domiciliar da produção.

E exatamente esse elemento informal, que é uma das características mais marcantes do trabalho contemporaneamente, pode ser comparado aos sofrimentos ou males trazidos por Pandora3 ao mundo dos mortais. A exploração de trabalho infantil dos produtores de calçados do sudeste asiático, que tem sido muito criticada pelos produtores brasileiros como uma forma de concorrência desleal, também pode ser encontrada em bancas de Sapiranga-RS, Franca-SP, Nova Serrana-MG ou Maranguape-CE. A fiscalização é extremamente dificultada devido à produção ser feita nas casas, onde o trabalho é organizado familiarmente. Nesse caso não seria trabalho infantil, mas uma “ajuda” que as crianças desempenham nas famílias ou uma mera “participação” na organização da intimidade doméstica.

2 Lean production ou produção enxuta tem como princípios fundamentais a redução de custos e a intensificação da produtividade. De acordo com Ohno (1997), uma produção é enxuta quando se produz zero desperdício com 100% de capacidade de trabalho (produtividade). O STP - Sistema Toyota de Produção - “não é um kit de ferramentas. Não é apenas um conjunto de ferramentas enxutas como o Just in time, células, 5S, kanban, etc. É um sistema sofisticado

de produção em que todas as partes contribuem para o todo. O todo, em sua base, concentra-se em apoiar e estimular as pessoas para que continuamente melhorem os processos com que trabalham” (LIKER, 2005, pg.53).

3 Os mitos de Prometeu e Pandora são dos mais presentes na cultura ocidental, juntamente com os mitos de Édipo, Aquiles e Odisseu. Sobre o assunto cf. Torrano (1985), Grimal (1987), Lafer (1996), Vernant (2002).

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Este texto pretende analisar os aspectos da informalidade que se interconectam aos trabalhadores em domicílio do setor calçadista, tendo como lócus de pesquisa do polo de calçados da cidade de Nova Serrana, na região central do estado de Minas Gerais, situada cerca de 112 km de Belo Horizonte.

Mapa 1 Localização e região de influência da indústria de calçados de Nova Serrana, MG

Fonte: Suzigan et al, 2002, p.100

O processo de reestruturação produtiva contemporâneo, como um conjunto de mudanças nas relações entre as empresas, a classe trabalhadora e o Estado, atinge desde a esfera tecnológica e o âmbito organizacional do trabalho, até o estatuto das

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relações entre os agentes no mercado, imantando-se numa fase específica de recomposição das formas da acumulação capitalista, observada a partir das três últimas décadas do século XX (BIHR, 1998; HARVEY, 1992).

Paralelamente à reorganização produtiva iniciada nos anos 1970, o processo concentrador da industrialização nacional também se modificou. Se durante 50 anos (1930-1980) foi possível transformar o perfil econômico de uma nação agroexportadora em um país urbano-industrial, isso aconteceu via concentração industrial principalmente no estado de São Paulo. Essa desconcentração industrial ocorre por meio da modernização da periferia nacional bem como por perdas procedentes das crises que setores produtivos de São Paulo sofreram (SILVA, 2009; SUZIGAN, 2000; DINIZ; CROCCO, 1996).

No que se refere à organização do trabalho, esse processo implica mudanças profundas no arcabouço de leis trabalhistas, com substanciais transformações nas relações entre trabalhadores e empresas, tendendo à elevação da informalidade, da instauração contratos temporários de trabalho, bem como das subcontratações. Essas transformações reduziram os níveis de emprego e de salário frente à crescente produtividade, alargando a extração de mais valia do trabalho feminino, além de outras formas que indicam para um cenário geral de precarização das condições de vida da classe trabalhadora. (ALVES, 2000; ANTUNES, 2001; HIRATA, 1993; MÉSZÁROS, 2002).

Dentro desse cenário de precariedade do trabalho, o desemprego aparece com destaque e de forma contundente. A década 1990 caracterizou-se pelo incremento do desemprego aberto, quando também ampliou-se o trabalho informal, na medida em que uma grande parcela da classe trabalhadora permaneceu à margem do mercado de trabalho. O que se percebe desse quadro é a revelação da acumulação capitalista calcada no capital financeiro. No caso nacional, este novo cenário aberto nos anos 1990 se caracteriza, sobretudo, pela reforma do Estado, abertura comercial,

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desregulamentação do sistema financeiro e reestruturação produtiva (POCHMANN, 2000).

Não por acaso o tema do desemprego é debatido muito além da academia, tendo sua resolução vinculada à retomada do crescimento econômico. São muitas as propostas neste sentido, conforme os interesses em disputa. O governo federal parece priorizar a estabilidade da moeda, ação que exige uma política de juros altos e elevação do superávit primário para cumprimento dos compromissos com os credores internacionais. As expectativas de crescimento surgiriam do crescimento das exportações, a despeito dos resultados negativos dessa política recessiva.

Para o capital financeiro, a estabilidade da moeda, a atração de investimentos estrangeiros e a redução do déficit público se colocam como alternativas simultâneas para o crescimento econômico. Especialmente nos setores produtivos, propõe-se a redução das jornadas de trabalho, necessidade de crescimento econômico (com dinamização de novos setores), aproximando-se até mesmo de se estabelecer critérios de flexibilização dos direitos trabalhistas, na busca de manter postos de trabalho já existentes, ainda que sob relações informais (ANTUNES, 2001; GORZ, 2003; CHESNAIS, 1996; SINGER, 1998).

O contexto de lento crescimento da economia mundial, as recorrentes crises econômicas pelas quais vêm passando os países periféricos nas últimas três décadas e a grande crise que atinge hoje o capitalismo central, a par do recuo das políticas de caráter protecionista dos Estados, resultaram em muitas falências entre empresas de capital nacional, impelindo uma parcela delas a ser anexada por grupos transnacionais, ao mesmo tempo em que outras se fundiram ou simplesmente sumiram do mercado. O setor calçadista não foge a esta situação, escorando-se na flexibilidade típica da subcontratação de parte da produção para redução dos custos, especialmente as etapas com uso intensivo de força de trabalho (NAVARRO, 2006, SUZIGAN, 2005; RUAS e ZAWISLAK, 2005; RUAS e ANTUNES JUNIOR, 1992).

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Geralmente, o trabalho em domicílio insere-se nas pontas das cadeias produtivas, muitas vezes com extensão internacional. De acordo com Lavinas et al (2000) esse tipo de o trabalho é uma das modalidades de trabalho informal, estando presente em cadeias produtivas que ultrapassam fronteiras nacionais. Em geral, essa forma de contratação tem tirado proveito tanto das competências de trabalhadores em diferentes regiões do mundo, como de menores níveis de remuneração. Além disso, uma das características fundamentais desse tipo de trabalho é sua feminização, fenômeno de inserção das mulheres nos mecanismos centrais de flexibilização associados à redução de custos, transferindo os riscos para os elos inferiores da cadeia produtiva com postos precários, insalubres, mal remunerados e destituídos de direitos trabalhistas (ABREU; SORJ, 1993).

A flexibilização direciona-se ao processo produtivo das empresas e busca a externalização de atividades periféricas ou aquelas que usam intensivamente a força de trabalho e, dessa forma, utilizam-se diversas formas de subcontratações como as terceirizações ao longo das cadeias produtivas. Aparecem assim, uma grande gama de médias e pequenas firmas, que se vinculam subordinadamente à uma empresa mãe e adaptam-se às vicissitudes das demandas das contratantes que, comumente contratam trabalhadores informais (DRUCK, 1995; HIRATA, 1993).

Nova Serrana destaca-se por agrupar um grande número de empresas fabricantes de calçados, notadamente tênis e seus componentes. Esse município se localiza na região Centro-Oeste do Estado de Minas na microrregião de Divinópolis. De acordo com SUZIGAN et al (2005), esse polo calçadista tem grande importância no cenário da indústria brasileira de calçados, respondendo, em 2002, a 55% da produção nacional de tênis e gerando entre 20 e 25 mil empregos diretos e indiretos no município e região.

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O processo de terceirização da produção do setor calçadista acontece geralmente, segundo Navarro (2006), nas etapas4 de corte e de costura. Contudo,

diferentemente da indústria de Franca-SP, a indústria de calçados de Nova Serrana tem na etapa da costura a principal fonte de subcontratação de trabalhadores domiciliares. De acordo com Enoque (2003), em Nova Serrana há um processo de descentralização das fases produtivas. Enquanto o processo de corte, a montagem e o acabamento são etapas tipicamente fabris, a modelagem concentra-se no âmbito do Centro de Desenvolvimento Empresarial – CDE5 e a fase da costura é a etapa típica do âmbito doméstico.

O processo de reestruturação produtiva, nesse sentido, transverberou-se em transformações nos processos de produção desde o âmbito da divisão internacional do trabalho, passando pela regionalização e pelos arranjos produtivos locais, chegando às estruturas organizacionais das empresas e materializando-se na descentralização da produção por meio da precarização do trabalho via fragmentação e terceirização, sob a feição dissimulada dessa dinâmica: a informalidade. Nessa tese, focalizou-se a informalidade no ambiente as bancas de pesponto da indústria calçadista em Nova Serrana como figura imanente à acumulação flexível do capitalismo contemporâneo.

Tomando como ponto de partida a reestruturação produtiva como processo histórico no contexto do desenvolvimento do capitalismo no Brasil, buscou-se compreender as diversas nuances da informalidade, tais como a feminização do trabalho domiciliar remunerado, o trabalho infanto-juvenil, dentre outros elementos presentes nas práticas diárias dos trabalhadores e como estes têm enfrentado a crise

4 Modelagem, corte, costura, montagem e acabamento são as principais etapas do processo produtivo do calçado.

5 É um centro empresarial, vinculado ao SINDINOVA - sindicato patronal do setor calçadista de Nova Serrana - que é uma instituição de coordenação que desempenha um papel relevante para o desenvolvimento do polo calçadista. Criado em 1993, o CDE realiza, dentre outras ações, cursos para os empresários, bem como atividades fundamentais e dispendiosas para as empresas filiadas. A

modelagem (design - CAD) e o corte (CAM) são exemplos dos serviços onerosos prestados pelo centro. CAD (Computer Aided Design) e o CAM (Computer Aided Manufactured) são tecnologias de base microeletrônica. O CAD é utilizado para desenvolver o design dos calçados, enquanto o CAM opera o corte computadorizado da matéria prima, acionado geralmente por jatos de água. Cf. Crocco (2001); Enoque (2003); Suzigan (2005).

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de emprego nos setores produtivos iniciada na década de 1990 com a abertura econômica.

Nesse contexto, os operários do setor calçadista que realizam trabalhos remunerados em seus domicílios na cidade de Nova Serrana configuram-se em sujeitos importantes nessa investigação. Primeiramente, por pertencerem a um setor extremante dinâmico da economia, que tem uma posição de significativo destaque numa cadeia produtiva cujas exigências em termos de inovações tecnológicas e organizacionais têm sido crescentes, especialmente após a abertura econômica iniciada no início da década de 1990. Em segundo lugar, pela especificidade desse tipo de trabalho, com seus múltiplos elementos, em que perpassam relações de gênero, relações familiares, trabalho juvenil, fragmentação da classe trabalhadora, dentre outros domínios que se interconectam com as relações de trabalho.

A descoberta desse sujeito de pesquisa se relaciona com o meu mestrado, quando investiguei o processo de recuperação de fábricas por trabalhadores. Uma parte da bibliografia sobre o tema, nomeadamente sobre a economia solidária, aponta como solução para o desemprego a necessidade da organização de trabalhadores informais em cooperativas. Dialogando com a questão da informalidade na dissertação, desconfiei dos potenciais de organização dos trabalhadores informais e tentei esboçar como se balizam as relações entre esses trabalhadores. Logo após a defesa de mestrado, comecei a lecionar no centro-oeste mineiro, próximo a Nova Serrana. Esses elementos uniram minha curiosidade cientifica à escolha do objeto dessa pesquisa.

Diante destas diversas experiências, uma análise argumentativa criteriosa sobre a informalidade nas bancas de pesponto da indústria de calçados em Nova Serrana como uma manifestação particular do processo histórico de reestruturação produtiva no desenvolvimento do capitalismo no Brasil pretende contribuir para um aprofundamento das análises sobre os aspectos do trabalho domiciliar no setor calçadista, avaliando-se como têm conseguido enfrentar as múltiplas fisionomias da informalidade num contexto de intensa concorrência internacional, crescentes

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exigências tecnológicas e deslocamento de empresas para outras regiões do país e até para outras partes do mundo.

Para além disso, uma pesquisa que aborde as múltiplas relações dos diversos trabalhadores que estão submetidos a esse quadro de flexibilizações nos regimes e condições de trabalho, pode contribuir para uma melhor compreensão do significado das particularidades do trabalho em domicílio no âmbito da informalidade.

Para a concretização deste trabalho, foi realizada uma pesquisa de campo nos domicílios dos operários em questão, analisando-se in loco a divisão das tarefas entre os trabalhadores e seus familiares, e, neste sentido, os resultados trazidos por esta antiga prática nesses novos tempos de crise do capital, concretizada em diversas formas de ser da precarização do trabalho dada, entre outros meios, pela flutuação de demanda e falta de proteção social a qual estão submetidos estes operários. A pesquisa contou, ademais, com uma investigação bibliográfica de estudos científicos já realizados sobre esta questão, permitindo situar a abordagem proposta dentro do espectro de análises já realizadas acerca de outros processos de informalidade do trabalho.

A pesquisa realizada pode ser classificada como explicativa, por buscar identificar a informalidade como fenômeno determinante do processo de reestruturação produtiva, ao mesmo tempo em que é determinada por ele. A pesquisa explicativa serve aos objetivos dessa tese, pois, se configura em:

um tipo de pesquisa mais complexa, pois, além de registrar, analisar, classificar e interpretar os fenômenos estudados, procura identificar seus fatores determinantes. A pesquisa explicativa tem por objetivo aprofundar o conhecimento da realidade, procurando a razão, o porquê das coisas e por esse motivo está mais sujeita a erros (ANDRADE, 2002, p.20).

O universo da pesquisa foram as bancas de pesponto da indústria calçadista de Nova Serrana. A amostra configurou-se em não probabilística intencional, selecionada por meio do procedimento “bola de neve” em que cada entrevistado indicou

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uma ou mais possibilidades de sujeitos que poderiam colaborar com a pesquisa dando seus depoimentos.

Várias dificuldades se impuseram durante a realização da pesquisa, talvez a principal delas tenha sido a de ordem material. Foi possível visitar quatorze casas, das quais, somente em seis havia bancas, onde fiz entrevistas com doze pessoas. Contudo, a desconfiança em relação aos objetivos de minha abordagem era persistente por parte dos entrevistados. O receio da possibilidade de uma fiscalização disfarçada foi patente durante quase todo o processo.

Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas, contendo perguntas que obedeceram a um roteiro flexível e aberto para garantir a liberdade no depoimento dos participantes.

Essas sinuosidades que apareceram durante o transcurso da pesquisa me levaram à estrutura formal do texto. Seu desenho orienta o leitor da seguinte maneira: o primeiro momento é o capital da indústria calçadista, apresentado como tese. No segundo momento é desnudada a antítese, onde aparece o desenvolvimento contraditório desse capital; o terceiro momento é o de síntese, em que se procura revelar as agruras que a informalidade impelida pelo capital impõe ao trabalho.

Nessa direção, o que se pretende na primeira parte do texto é dar um panorama geral da indústria calçadista, mostrando suas conexões internacionais, nacionais e locais. Nesse caso, tenta-se apontar como o comando das transnacionais do setor opera, revelando-se a divisão internacional do trabalho e suas desigualdades entre distintos locais. O sentido desse ordenamento é partir da floresta para se entender a árvore, ou seja, vamos do geral ao específico.

No segundo capítulo do texto procurei mostrar a dinâmica do desenvolvimento de Nova Serrana nos marcos da subordinação da periferia do capitalismo. Num primeiro momento desse capítulo tentei refazer o percurso do desenvolvimento da indústria calçadista da cidade, procurando evidenciar como o local

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é uma forma particular do movimento geral do capitalismo. Assim, o desenvolvimento local e seus ajuntamentos industriais refletem a dinâmica do capital em superexplorar os trabalhadores.

No capítulo de finalização, o leitor poderá perceber os elementos da informalidade. O trabalho informal subjugado nos marcos da ilegalidade da “pirataria”, o trabalho feminino nas bancas como particularidade da informalização e por fim, o trabalho infantil, como expoente da informalidade e configuração última da superexploração.

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1 - A INDÚSTRIA CALÇADISTA

A cadeia coureiro-calçadista configura-se como uma das mais relevantes para a economia brasileira, tanto no que tange ao volume de mercadorias consumidas internamente e o montante exportado, bem como no que se refere à geração de empregos. Para além disso, esse setor possui uma característica bem peculiar por ser altamente consumidor de força de trabalho formal e informal como será demonstrado ao longo do texto.

Para se entender a indústria de Nova Serrana é importante traçar um perfil do setor coureiro-calçadista brasileiro, que tem no capital nacional6 a sua principal base de sustentação. Esse complexo industrial pode ser dividido em sete segmentos distintos, conforme asseveram Noronha e Turchi (2002):

a) as próprias indústrias calçadistas, tanto de material sintético como de couro;

b) um segmento de artefatos de couro (como malas, bolsas, etc.); c) o segmento dos curtumes;

6 Aqui se deve ter cuidado ao lidar com a dicotomia nacional-imperialista. A ideia de que um dito “capital nacional” poderia acumular e ter autonomia na economia mundial está longe de ter conexão com a realidade. A subordinação em que estão as economias periféricas ou semicoloniais como o Brasil está em acordo com a divisão internacional do trabalho. No caso brasileiro, o país se especializou como exportador de matéria-prima ao mercado mundializado, associando a produção de algumas mercadorias industrializadas para o mercado interno e subcontinental. Mais adiante será retomada essa discussão sobre desenvolvimento do capitalismo brasileiro de maneira mais articulada. Antes, porém, Ianni (1981, p.35) lembra dos tentáculos que o imperialismo lança sobre a economia nacional, especialmente a partir da ditadura, cuja forma de organização da economia aprofundava “a concentração e a centralização do capital, reforçando-se o poder do capital monopolista, altamente articulado com o poder estatal, e em conformidade com as determinações do imperialismo”. Segundo o autor, houve uma reconfiguração entre empresas estrangeiras, nacionais e estatais, com associações, fusões e aquisições entre elas sempre direcionadas à monopolização. Além disso, como mais a frente será apontado, a mundialização do capital dá um novo impulso à subordinação da economia nacional.

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d) e segmento dos componentes para calçados e outros objetos de couro.

Além desses quatro principais segmentos, os autores apontam mais três que fazem parte desse complexo coureiro-calçadista: “a indústria de máquinas para o complexo, os frigoríficos e o setor pecuarista” (NORONHA; TURCHI, 2002, p. 10).

A pesquisa do IPEA feita pelos dois autores afirmava que em 1998, desses quatro segmentos principais, eram mais de 10 mil empresas que empregavam 300 mil pessoas diretamente, sendo mais de um milhão de empregos indiretos7. Conforme o levantamento feito para esta pesquisa, no ano de 2011 os dados RAIS 14.165 estabelecimentos apontavam que o total de empregos ligados ao complexo couro-calçadista e chegavam a 417.089 postos formais de trabalho. Noronha e Turcchi (2002) apontam que em 1998 o total de empresas eram 6.036 listadas no que a RAIS informa como indústrias de calçados. Nossa investigação aponta para o ano de 2011, último disponível na base de dados do Ministério de Trabalho e Emprego, que existiam 10.655 estabelecimentos ligados especificamente à indústria calçadista, um crescimento de 81% no total de estabelecimentos no período entre 1995 e 2011.

7Segundo Najberg e Ikeda (1999) emprego direto é a força de trabalho necessária ao setor em que existe aumento de produção. Para se obter o cálculo do chamado emprego direto é necessário produzir o coeficiente de emprego, que é uma relação entre os empregos formais e informais e o Valor Bruto da Produção. Já os empregos indiretos são os postos adicionais de um setor conexo a produção de um bem final. Assim, na indústria automobilística induz a criação de empregos para se fabricar outros produtos como peças, máquinas e equipamentos, siderurgia, etc. ao longo da cadeia produtiva.

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15 Tabela 1

Distribuição de empregos por tamanho das empresas do setor calçadista8 - Brasil, 2011

Nº de Empregados

ANO 0 De 1 a 4 De 5 a 9 De 10 a 19 De 20 a 49 De 50 a 99 De 100 a 249 De 250 a 499 De 500 a 999 1000 ou Mais Total 1990 1.010 3.560 1.086 664 564 273 312 121 46 29 7.665 1991 1.312 3.357 954 550 531 286 289 120 47 25 7.471 1992 1.429 3.766 979 595 531 287 315 133 66 21 8.122 1993 1.215 3.690 985 704 569 331 333 138 77 24 8.066 1994 685 2.090 796 688 625 349 311 125 59 25 5.753 1995 1.204 2.102 761 602 548 263 206 109 52 24 5.871 1996 868 2.025 711 590 556 297 192 111 51 27 5.428 1997 892 2.349 893 624 594 244 192 93 47 19 5.947 1998 978 2.377 858 674 556 243 191 90 49 20 6.036 1999 931 2.439 936 720 633 277 241 93 51 25 6.346 2000 862 2.572 1.023 860 744 357 250 105 62 25 6.860 2001 996 2.768 1.084 897 815 349 274 108 56 27 7.374 2002 976 2.863 1.187 915 810 393 274 101 55 29 7.603 2003 1.074 2.942 1.238 922 867 393 303 103 53 32 7.927 2004 924 3.024 1.345 1.093 1.010 506 315 121 62 33 8.433 2005 1.061 3.326 1.449 1.179 1.033 501 289 99 64 31 9.032 2006 1.158 3.344 1.548 1.188 1.114 541 302 101 62 31 9.389 2007 1.277 3.459 1.528 1.248 1.185 528 327 98 49 34 9.733 2008 1.300 3.674 1.632 1.324 1.166 569 287 87 46 31 10.116 2009 1.323 3.634 1.528 1.282 1.229 537 298 103 45 31 10.010

8 O parâmetro escolhido para aferição da evolução do emprego no setor foi o IBGE 95 Subsetor 12 – Indústria de Calçados. Apesar de haver a CNAE 2.0 (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) que deixa a pesquisa mais refinada, subdividindo a indústria calçadista (Fabricação de calçados de couro, Fabricação de calçados de material sintético, Fabricação de calçados de materiais não especificados anteriormente, Fabricação de partes para calçados de qualquer material), a escolha do padrão IBGE aconteceu para se ter um mesmo critério da evolução ao longo do tempo, já que a CNAE 2.0 só pode ser acessada a partir de 2006.

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Nº de Empregados

ANO 0 De 1 a 4 De 5 a 9 De 10 a 19 De 20 a 49 De 50 a 99 De 100 a 249 De 250 a 499 De 500 a 999 1000 ou Mais Total 2010 1.173 3.588 1.689 1.451 1.349 574 343 100 52 32 10.351 2011 1.375 3.671 1.726 1.466 1.376 538 316 99 53 35 10.655

Fonte: RAIS, 2012. Elaboração própria.

Deve-se perceber nesse panorama do número de empresas o quadro da distribuição de seus tamanhos. Em 2011, do total de 10.655 estabelecimentos, 8.238, ou seja, 77,31% deles têm até 19 funcionários, isto significa que mais de 3/4 são consideradas microempresas. As pequenas empresas, com entre 20 e 99 funcionários, somam 1.914, isto é, 17,96% do total. Em outras palavras, 95,27% dos estabelecimentos do setor são compostos por micro e pequenas empresas. A figura a seguir permite visualizar como as micro e pequenas empresas são o componente principal do setor.

Fazendo-se a comparação por número de funcionários as microempresas totalizam 38.502 ou 11,78% e as pequenas empresas representam 77.967 postos formais de trabalho ou 23,85%. No ano de 2011, as empresas com mais de mil funcionários - apenas 35 - representam 0,32% do total de estabelecimentos, concentram 97.839 trabalhadores ou 29,93% do total de empregos do setor.

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17 0 20000 40000 60000 80000 100000 120000

De 1 a 4 De 5 a 9 De 10 a 19 De 20 a 49 De 50 a 99

De 100 a 249 De 250 a 499 De 500 a 999 1000 ou Mais

Tamanho das empresas N ú m e ro  d e  E m p re g a d o s

Gráfico 1 - Distribuição de empregos por tamanho das empresas do setor calçadista

Fonte: RAIS, 2011. Elaboração própria

Aqui cabe uma pequena reflexão sobre a estrutura econômica do setor de calçados no Brasil. Quando se observa de maneira rápida a quantidade de empresas do setor, à primeira vista parece ser um setor com grande dinâmica concorrencial no mercado brasileiro. Contudo, não é isso que esses números sobre a distribuição da força de trabalho revelam, aparentemente demonstrando um setor com grande concentração e centralização de capital.

Parece lugar comum tratar desse grande número de empresas manufatureiras com poucos trabalhadores e escassos meios de produção, em contraposição a grandes empresas altamente desenvolvidas tecnologicamente e com grande concentração de capital. Contudo, é importante retomar essa dinâmica e perceber não somente processos concorrenciais, mas, sobretudo a subordinação que as maiores empresas impõe às menores.

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18

As empresas de maior porte atuam no mercado interno, especialmente produzindo tênis, com altos padrões tecnológicos e fortes gastos com marketing. Segundo o Boletim Setorial do BNDES (1998), são exemplos disso empresas como Azaléia, que possui a marca de tênis Olympikus; da São Paulo Alpargatas proprietária das marcas Rainha e Topper; a Grendene; a Cambuci, detentora da marca Penalty; a Vulcabrás; a Ortopé. Já as empresas de porte médio, que atuam no segmento de sapatos em couro natural, voltam-se para o mercado externo, não atuando com suas próprias marcas no exterior, sendo, geralmente, subcontratadas por empresas estadunidenses. Paquetá, Daiby, Schmidt, Maide, Reichert, Dilly, Andreza, Cariri, dentre outras, são exemplos de médias empresas que atuam na exportação de calçados (BNDES, 1998).

Nesse panorama de empresas e empregos, o Rio Grande do Sul, especialmente o Vale dos Sinos,e a região de Franca em São Paulo despontam-se como os principais polos produtores. Conforme Noronha e Turchi (2002) esses dois estados arregimentavam em 1998 60,6% do total dos empreendimentos de calçados, de curtimento e de artefatos de couros brasileiros, perfazendo um montante de 72% do emprego do setor. No ano de 2011 nosso levantamento aponta que não houve variação significativa desses números, tendo o RS um total de 3949 empresas, ou 38,08% do setor. São Paulo possui 3138 ou 30,26% dos empreendimentos, perfazendo cerca de 68% do número de estabelecimentos.

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19 Tabela 2

Quantidade de empresas e empregos no setor calçadista por Estado, 2011

Unidade Federativa Empresas Empregos Rio Grande do Sul 3.949 116.173 Ceará 369 61.843 São Paulo 3.138 54.708 Bahia 138 37.085 Minas Gerais 1.811 29.942 Paraíba 141 14.158 Santa Catarina 387 7.692 Sergipe 17 6.366 Paraná 150 3.445 Mato Grosso do Sul 28 2.168 Goiás 259 2.006 Espírito Santo 41 1.931 Pernambuco 58 1.888 Rio de Janeiro 61 1.055 Rio Grande do Norte 26 801

Pará 5 336 Distrito Federal 15 159 Alagoas 10 162 Piauí 17 109 Mato Grosso 17 76 Tocantins 6 61 Maranhão 8 38 Amazonas 3 14 Roraima 1 2 Total 10.655 342.218

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No Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais as indústrias se caracterizam por serem de pequeno e médio portes, diferentemente das empresas instaladas no Nordeste, que empregam grandes quantidades de trabalhadores. Mesmo com a característica de possuir principalmente Pequenas e Médias Empresas (PME), RS continua sendo o grande polo produtor de calçado do Brasil, empregando mais de um terço da força de trabalho brasileira do setor, mesmo com o deslocamento de grandes empresas, que têm origem gaúcha, para estados do Nordeste, especialmente Ceará, Paraíba e Bahia (GARCIA, 2001)

Nas duas tabelas a seguir é possível identificar os principais estados produtores distribuídos pela quantidade de firmas e quantidade de empregos formais gerados.

Tabela 3

Principais estados por classificação da indústria de calçados segundo a quantidade de empresas UF de calçados Fabricação de couro Fabricação de tênis de qualquer material Fabricação de calçados de material sintético Fabricação de calçados de materiais não especificados anteriormente Fabricação de partes para calçados, de qualquer material Total Rio Grande do Sul 3.173 44 84 110 538 3.949 São Paulo 2.312 20 225 285 296 3.138 Minas Gerais 607 206 168 609 221 1.811 Santa Catarina 283 1 21 32 50 387 Ceará 167 2 67 107 26 369 Paraíba 65 6 23 32 15 141 Bahia 78 0 11 24 25 138

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Como se pode observar nesta configuração, Minas Gerais se destaca como um dos principais produtores calçadistas do país, sendo o maior detentor de fábricas de tênis de qualquer material. Como se poderá notar a, seguir, esse segmento de mercado foi explorado a partir da década de 1990 pelos empresários de Nova Serrana, município que concentra a maior parte das empresas desse nicho.

Tabela 4

Principais estados por classificação da indústria de calçados segundo número empregos gerados UF de calçados Fabricação de couro Fabricação de tênis de qualquer material Fabricação de calçados de material sintético Fabricação de calçados de materiais não especificados anteriormente Fabricação de partes para calçados, de qualquer material Total Rio Grande do Sul 80.332 4.490 17.819 2.773 10.759 116.173 Ceará 32.200 142 24.326 3.876 1.299 618.43 São Paulo 31.009 3.387 9.646 6.550 4.116 54.708 Bahia 33.469 0 450 618 2.548 37.085 Minas Gerais 9.969 5.701 2.939 9.214 2.119 29.942 Paraíba 4.615 1.240 291 7.560 452 14.158 Santa Catarina 6.247 44 263 604 534 7.692

Fonte: Rais, 2011. Elaboração própria

Apesar de ter ocorrido a partir de 1990 uma migração de unidades produtivas para o Nordeste brasileiro, isso não foi capaz de rivalizar com os principais arranjos produtivos do sul e sudeste brasileiro. Desse deslocamento produtivo para o Nordeste, cabe destaque para três estados, Ceará, Paraíba e Bahia, que concentram os maiores potenciais produtivos de calçado. A característica principal desses lugares é a presença de grandes empresas que migraram para estes estados devido o baixo custo da força de trabalho, pela produção em grande escala, bem como atraídas pelos incentivos fiscais para enfrentar a concorrência internacional. No Ceará, por exemplo, dos quase sessenta e dois mil empregos gerados por essa indústria, quarenta e cinco mil estão

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concentrados em grandes empresas. Na cidade de Sobral, apenas uma empresa, a Grendene, consome a força de trabalho de dezessete mil operários, com a fabricação de calçados de material sintético, conforme a CNAE de 2011. Em Horizonte, existe também uma única fábrica com mais de doze mil empregos, a Vulcabras-Azaléia. Cidades como o Crato, Russas e outras cidades também possuem com grandes empresas. Pode-se afirmar, assim, que a produção calçadista no Ceará tem padrões semelhantes à China, com grandes instalações voltadas para a exportação. As exportações de calçados cearenses foram, no ano de 2010, a primeira em número de calçados e a segunda em valores, atingindo mais de quatrocentos milhões de dólares9.

A indústria de calçado mineira também ganha relevo na produção nacional, estando em terceiro na concentração de empresas e em quinto lugar em estoque de empregos. Uma característica marcante para entender o perfil da indústria calçadista de Minas é semelhante ao perfil de Nova Serrana, onde a média ao longo dos dez anos gira em torno de dezesseis empregados por firma.

Tabela 5

Distribuição dos empregos na indústria calçadista em Nova Serrana

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Nova Serrana 9.670 9.189 11.959 12.177 12.490 12.428 13.071 13.901 16.337 15.468 Centro-Oeste MG 9.042 10.518 13.870 14.595 15.522 16.104 17.395 17.814 20.672 19.840 Minas Gerais 16.774 18.767 23.137 23.515 25.806 26.182 26.325 26.518 30.960 29.942 Brasil 262.537 272.124 312.579 298.659 306.791 316.508 306.584 319.174 384691 344.218

Fonte: Rais, 2011. Elaboração própria.

Como se pode notar nesta tabela anterior, Nova Serrana concentra a maior parte dos empregos na indústria de calçados no estado de Minas Gerais, perfazendo 51,65% do total de empregos do ramo calçadista estadual. Esse destaque na

9 As informações sobre a produção cearense estão disponíveis na Federação das Indústrias do Estado do Ceará. Disponível em

<http://www.fiec.org.br/portalv2/sites/indi/files/files/INDICADORES_SETORIAIS_%20ANO%201_JULHO_ 2011.pdf>. Acesso em 7 set. 2013.

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quantidade de empregos mostra a relevância que o município tem para o setor tanto no que se refere ao estado como relevância nacional.

Tabela 6

Distribuição das empresas na indústria calçadista em Nova Serrana

2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Nova Serrana 613 648 690 726 732 763 807 819 879 913 Centro-Oeste MG 751 793 842 899 939 1.004 1.075 1.098 1.160 1.190 Minas Gerais 1.296 1.353 1.410 1.493 1.540 1.627 1.689 1.703 1.757 1.811 Brasil 7.603 7.927 8.433 9.032 9.389 9.733 10.116 10.010 10.351 10.655

Fonte: RAIS, 2011. Elaboração própria.

A distribuição dos empregos ao longo dos anos revela que Nova Serrana mantém-se como o principal polo calçadista do estado de Minas Gerais, com pouco mais de 50% das empresas e do número de empregos gerados. Esse traço característico dessa região mostra que essa cidade mineira mantém um perfil de ter pequenas empresas, com uma média de cerca de 16 empregados por firma, enquanto o Brasil tem em média o dobro disso, com cerca de 32 empregados por firma.

Tabela 7

Número de empresas distribuídas por região produtora e tipo de fábrica

Município Fabricação de Calçados de Couro Fabricação de Tênis de Qualquer Material Fabricação de Calçados de Material Sintético Fabricação de Calçados de Materiais não Especificados Anteriormente Fabricação de Partes para Calçados, de Qualquer Material Total Nova Serrana – MG 46 174 92 442 159 913 Birigui – SP 35 8 117 167 69 396 Franca – SP 1.650 5 15 21 136 1.827 Novo Hamburgo-RS 398 4 12 21 112 547 Sapiranga – RS 379 1 6 4 79 469 Parobé – RS 297 0 12 3 30 342

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Se se compara Nova Serrana frente aos principais aglomerados industriais do país, é possível perceber que o município também se destaca no que se refere à produção de calçados esportivos, especialmente os tênis. O que fica claro pela comparação é que o município estudado tem números muito elevados nesse segmento de tênis e concorre com Birigui, no estado de São Paulo, no que tange ao número de funcionários, como se observa na tabela a seguir. Contudo, o município paulista especializou sua produção no segmento infantil.

Tabela 8

Número de trabalhadores distribuídos por região e tipo de fábrica

Município Fabricação de Calçados de Couro Fabricação de Tênis de Qualquer Material Fabricação de Calçados de Material Sintético Fabricação de Calçados de Materiais não Especificados Anteriormente Fabricação de Partes para Calçados, de Qualquer Material Total Nova Serrana 1.005 4.450 1.502 6.864 1.647 15.468 Birigui 660 2.951 5.374 4.413 1.248 14.646 Franca 18.713 116 181 288 1.424 20.722 Novo Hamburgo 4.737 236 2.538 447 3.024 10.982 Sapiranga 8.538 96 1.099 30 1.159 10.922 Parobé 8.569 0 299 24 329 9.221

Fonte: RAIS, 2011 – Elaboração própria

As tabelas anteriores mostram as principais regiões de aglomerados produtivos do setor de calçado do Brasil. Nova Serrana possui uma média de 16,95 trabalhadores por empresa. Birigui possui 36,98; Franca 11,34; Novo Hamburgo 20,07; Sapiranga, 23,28; e Parobé, 26,96 trabalhadores, em média, por empresa.

A região mais importante do Brasil no que tange a produção de calçados é o Vale do Sinos, no Rio Grande do Sul, que Schmitz (1995) denominou de supercluster porque, além de ser uma vasta região, há uma efetiva integração entre os vários elos da cadeia (chan link) produtiva. O autor afirma que a aglomeração do Vale do Sinos congrega as micro regiões administrativas gaúchas de Porto Alegre, Gramado-Canela,

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Lajeado-Estrela e Montenegro. Quando o autor fez sua pesquisa, essa região respondia por cerca de 40% do emprego do setor no Brasil Ainda que o perfil do emprego tenha mudado, pois houve expansão de grandes empresas na região nordeste brasileira, o Rio Grande do sul ainda mantém, para o ano de 2011, um quarto de todas os empregos gerados no setor.

O ano de 2011, a distribuição de empresas do setor calçadista aponta o Rio Grande Do Sul como maior representante brasileiro em número de empresas com 3.949, São Paulo como segundo, alcançando 3.138 e Minas Gerais como terceiro representante com 1.811 estabelecimentos. Contudo, esse panorama muda se discriminarmos as empresas de calçados com fabricação de material de couro. Considerando a fabricação de Tênis de Qualquer Material, de Calçados de Plástico e de Calçados de Outros Materiais, MG aparece com maior número de empresas com 983, São Paulo em segundo com 530 e o RS com 238 estabelecimentos Nesse panorama de empresas a comparação entre os principais polos calçadistas brasileiros, Nova Serrana se destaca no que tange ao tipo específico de produção, possuindo 708 empresas nessa especialidade da produção calçadista.

Suzigan et al (2005) apontaram Nova Serrana como o principal produtor de calçados esportivos nacional. Segundo os autores, no ano de 2002 a cidade era responsável por 55% da produção nacional de calçados esportivos. Pelos números anteriores, a cidade continua sendo o maior polo de produção de tênis do país, tanto no que se refere ao número de fábricas quanto no que se refere ao número de empregos. Conforme aponta o Sindicato das Indústria Calçadistas de Nova Serrana, o ano de 2011 a cidade produziu 110 milhões de pares de calçados, sendo responsável ainda a principal responsável pelo setor esportivo no país.

As flutuações econômicas tendem a influenciar os resultados do setor coureiro-calçadista diretamente. Correa (2001) afirma que apesar de ter havido uma queda de 5% da produção de calçados no Brasil entre 1993 e 1999, a produção mundial cresceu 10% no mesmo período. Além disso, nesse mesmo período houve

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aumento da demanda interna de calçados no montante de 31%. Contudo, no ano 2000, portanto após a desvalorização cambial, o setor cresceu 16% em relação ao ano de 1999, com um aumento do total exportado de 17% Em 2000 o Brasil produziu 580 milhões de pares de calçados. Segundo o autor, em 2000 houve 163 milhões de pares de calçados exportados ou 28% da produção nacional, sendo 61% destinados aos EUA.

O gráfico a seguir, extraído de Guidolin, Costa e Rocha (2010) mostra a característica da produção nacional de calçado. O Brasil é um grande produtor mundial mas, como a Índia, consome a maior parte de sua produção.

Gráfico 2 - Produção brasileira de calçados (2003 a 2008)

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É importante ressaltar que a estratégia brasileira de inserção internacional teve uma reviravolta no final dos anos 1960, com o chamado ‘milagre econômico’ que por meio de incentivos fiscais e desvalorização cambial possibilitou uma maior presença brasileira no mercado mundial de produtos industrializados. Conforme asseveram Botelho e Xavier (2006) essa política foi muito importante para a indústria calçadista nacional.

Este estudo sobre a inserção brasileira internacional no mercado de calçados feito por Botelho e Xavier (2006) tratou principalmente das importantes mudanças competitivas do setor de calçados no período de 1994 até 2002, cujo cenário é de rearranjos estruturais no setor. Os autores mostram a evolução da produção nacional e as exportações entre os anos de 1975 e 1990 foram progressivas, havendo um aumento continuado das exportações brasileiras de calçados desde a década de 1970, com uma pequena oscilação desse crescimento nos últimos anos da década de 1980, com uma relativa estabilização em torno de US$ 1,2 bilhão.

1.1 – Confrontação Internacional

É recorrente nos meios midiáticos setores da indústria calçadista nacional relatarem a concorrência de seus produtos no mercado internacional, inclusive reclamando de afluxos no mercado interno de mercadorias provindas do mercado asiático. Essa confrontação leva os empresários a praticarem estratégias diversas para conseguir se manter na disputa. As atitudes tomadas vão desde pressões para aumentar a taxação de produtos importados, passando por deslocamento industrial para regiões onde a força de trabalho é mais barata – tanto no Brasil como fora, indo até a externalização da produção por meio de subcontratação de força de trabalho muitas vezes na condição de informalidade, etc.

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Mas, é interessante entender como o Brasil figura no mercado internacional de calçados, pois apesar de aparecer como um relevante ator na produção mundial e no consumo de calçados, nosso país não figura com destaque nas trocas internacionais. Como se pode observar na tabela a seguir, a produção nacional tem relevância no que tange ao volume mundial para o ano de 2011.

Tabela 9

Produção Mundial de Calçados – 2011

País Pares (Milhões) Parcela Mundial (%)

China 12.884 60,5 Índia 2.209 10,4 Brasil 819 3,8 Vietnã 804 3,8 Indonésia 700 3,3 Paquistão 298 1,4 Bangladesh 276 1,3 México 253 1,2 Tailândia 244 1,2 Itália 207 1,0 Fonte: APICCAPS, 2012.

Entre os cinco maiores produtores calçadistas mundiais o Brasil é o único país não asiático. Como se verá adiante, em números absolutos também como consumidor o Brasil figura entre os 5 principais mercados. Contudo, similarmente à Índia, cuja produção nacional está voltada para o mercado interno, o Brasil figura como consumidor de seus próprios calçados, ficando no ano de 2011 no 15o exportador no cenário mundial dessa mercadoria. Na tabela a seguir, produzido a partir de informações da Associação Portuguesa de Produtores de Calçados e Componentes,

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estão os 67 principais10 representantes calçadistas do mundo. Segundo estimativa da

APICCAPS a produção mundial de calçados está estimada em vinte e um bilhões de pares, com a China ocupando 60,5% da produção mundial de calçados e 15,9% do consumo.

Tabela 10

Produção mundial de calçados – 2011

País Pares/

Habitante Exportado Importado Média de preço Exportado Milhões US$ Importado Exportado Importado Milhões de Pares Produção Consumo

Albânia 1,33 15,31 4,00 181 31 12 8 8 4 Alemanh a 5,24 22,66 14,69 4.392 8.717 194 593 31 430 África do Sul 4,88 10,01 4,40 33 905 3 206 47 249 Arábia Saudita 4,53 5,66 10,12 7 433 1 43 86 127 Argentina 3,39 14,68 17,11 27 395 2 23 118 136 Austrália 5,78 22,92 10,08 45 1.333 2 132 3 133 Áustria 6,12 33,39 21,42 931 1.596 28 75 2 49 Bélgica 2,0 20,16 11,89 4.172 2.322 207 195 1 22 Bósnia-Herzegovi na 1,5 21,82 15,76 244 95 11 6 11 6 Brasil 3,79 11,47 12,58 1.296 428 113 34 819 740 Bulgária 2,85 13,82 5,35 177 98 13 18 15 20 Canadá 4,70 18,00 12,72 224 2.089 12 164 8 160 Chile 6,47 3,89 11,78 135 925 35 134 11 110 China 2,04 3,87 29,93 39.374 1.289 10.170 43 12.888 2.761 Colômbia 2,5 15,87 7,45 34 477 2 64 53 115 Costa Rica 3,4 10,40 9,84 1 130 0 13 4 17 Croácia 5,75 35,64 10,54 160 189 4 18 10 23 Dinamarc a 6,00 33,51 20,19 747 989 22 49 9 36 Egito 0,73 14,50 9,49 14 94 1 10 49 36 Equador 2,4 9,50 11,39 37 118 4 10 30 36 Emirados Árabes 11,0 3,01 5,17 228 678 76 131 0 55 Estados Unidos 7,20 13,07 10,10 1.023 23.245 78 2.302 25 2.249

10 Angola, Argélia, Tunísia e Nigéria são grandes mercados africanos de calçados, mas seus dados não estão disponíveis.

(48)

30

País Pares/

Habitante Exportado Importado Média de preço Exportado Milhões US$ Importado Exportado Importado Milhões de Pares Produção Consumo

Eslováqui a 5,2 12,17 6,23 1.122 604 92 97 22 26 Eslovênia 5,00 18,20 13,42 151 214 8 16 2 10 Espanha 6,91 22,04 8,42 2.870 2.977 130 354 94 318 Estônia 4,48 27,38 18,75 69 95 3 5 2 4 Filipinas 2,02 3,17 1,17 11 138 3 118 79 194 Finlândia 4,4 46,70 17,76 156 384 3 22 4 22 França 6,73 30,18 13,55 2.409 6.506 80 480 24 424 Grécia 5,27 7,86 9,05 80 588 10 65 3 58 Guatemal a 1,93 13,58 10,88 34 115 2 11 21 29 Holanda 6,11 20,55 14,14 2.933 3.465 143 245 1 104 Hong-kong 9,14 14,70 11,40 5.317 4.850 362 425 1 64 Hungria 2,4 13,55 10,42 385 299 28 29 23 24 Índia 1,82 34,74 1,41 1.421 149 113 106 2.209 2.202 Indonésia 2,18 15,65 5,75 3.227 184 206 32 700 526 Irlanda 6,2 9,40 11,67 78 448 8 38 1 31 Israel 5,25 23,43 9,87 49 413 2 42 3 42 Itália 5,50 45,32 15,83 10.376 5.662 229 358 208 336 Japão 5,44 29,88 8,17 45 5.062 1 619 79 697 Coréia do Sul 2,26 15,30 13,29 144 1.536 9 116 5 111 Lituânia 3,50 22,73 15,52 34 94 1 6 2 7 Lituânia 2,66 12,03 11,72 41 121 3 10 1 8 Luxembu rgo 2,0 60,73 42,18 86 150 1 4 0 2 Malásia 2,41 6,54 7,96 201 259 31 33 68 70 México 2,62 18,43 10,61 711 718 22 68 254 299 Nova Zelândia 5,5 24,68 10,61 38 242 2 23 1 22 Noruega 5,2 29,25 27,86 20 721 1 26 1 26 Paquistão 1,76 14,35 4,46 110 73 8 16 299 308 Panamá 1,75 11,07 10,69 1.130 1.153 102 108 1 7 Paraguai 2,42 15,18 7,30 0 112 0 15 2 17 Peru 2,43 7,96 7,47 22 255 3 34 42 73 Polônia 2,84 14,05 9,30 543 1.070 39 115 32 108 Portugal 4,63 32,00 10,90 2.091 606 65 56 61 51 República Checa 12,81 11,27 4,20 570 790 51 188 4 142 Reino Unido 5,90 15,90 11,35 1.400 5.169 88 455 5 372

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País Pares/

Habitante Exportado Importado Média de preço Exportado Milhões US$ Importado Exportado Importado Milhões de Pares Produção Consumo

Romênia 2,80 24,35 4,70 1.391 343 57 73 44 59 Rússia 2,12 4,83 15,39 30 3.940 6 256 52 302 Sérvia 1,71 20,08 10,37 162 164 8 16 4 12 Singapur a 10,20 10,25 8,41 284 506 28 67 12 51 Suécia 4,55 27,81 19,22 262 949 9 49 1 41 Suíça 7,25 34,01 18,72 274 1.402 4 61 1 58 Tailândia 2,5 6,37 3,91 899 220 141 56 245 160 Tunísia 1,63 14,99 10,63 409 18 27 2 44 18 Turquia 2,00 4,30 15,63 398 816 93 52 188 148 Ucrânia 1,32 8,86 5,54 118 284 13 51 23 61 Vietnã 1,5 16,20 14,57 5.123 25 316 2 805 136 Fonte: APICCAPS, 2012.

Ao se fazer um cálculo rápido sobre o quadro populacional desses países, consegue-se encontrar cerca de 5.200 milhões de pessoas ou 75% da população mundial que consumiram em 2011 cerca de 15.294 milhões de pares. Conforme se pode notar na tabela seguinte, somente 10 países do mundo, ou cerca 53% da população mundial, consumiram neste ano 61,7% do mercado mundial de calçados. Nesse cenário, podemos estimar o consumo mundial girando em torno de 17.400 milhões de pares.

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32 Tabela 11

Principais países consumidores de calçados – 2011

País Pares (Milhões) Parcela Mundial (%)

China 2.761 15,9 EUA 2.248 12,9 Índia 2.202 12,7 Brasil 740 4,3 Japão 697 4,0 Indonésia 526 3,0 Alemanha 429 2,5 França 424 2,4 Reino Unido 372 2,1 Itália 336 1,9 TOTAL 10.735 61,7

Fonte: APICCAPS, 2012. Elaboração própria.

Sabe-se, conforme a APICCAPS, que no ano de 2011 foram consumidos cerca de 17.400 milhões de pares de calçados no mundo, dos mais variados tipos de materiais e modelos. Se aprofundarmos a estimativa entre consumo pela população mundial, tem-se por volta de 25% da população mundial ou 1.800 milhões de pessoas participando com 11% do consumo mundial de calçados ou cerca de 2.100 milhões de pares, o que equivale a 1,17 pares por habitante.

Esse quadro de desigualdade no que se refere ao consumo se aprofunda quando se analisa a média consumida por habitante. A média mundial de calçados por habitante de 2,48 pares por pessoa não reflete a discrepância entre produtores e consumidores. A Itália que é o 10o maior produtor e consumidor em números absolutos, figura como 17o na relação consumo/habitante. Nenhum outro grande produtor de calçado aparece entre os 20 maiores consumidores per capita.

(51)

33 Tabela 12

Consumo de calçados por habitante – 2011

Posição País Pares por Habitante 1 República Checa 12,81 2 Emirados Árabes 11 3 Singapura 10,2 4 Hong-kong 9,14 5 Suíça 7,25 6 Estados Unidos 7,2 7 Espanha 6,91 8 França 6,73 9 Chile 6,47 10 Irlanda 6,2 11 Áustria 6,12 12 Holanda 6,11 13 Dinamarca 6 14 Reino Unido 5,9 15 Austrália 5,78 16 Croácia 5,75 17 Itália 5,5 18 Nova Zelândia 5,5 19 Japão 5,44 20 Grécia 5,27 34 BRASIL 3,79

Fonte: APICCAPS, 2012. Elaboração própria.

A desigualdade entre o consumo absoluto e o consumo per capita mostra como o mercado se posiciona em relação a um aparente excesso na quantidade absoluta do consumo de calçados e a média por habitantes em cada país. Entre os 10 maiores consumidores absolutos de calçados, EUA e França são os únicos que se repetem no que se refere ao consumo per capita, enquanto a Itália, Japão e o Reino

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34

Unido que figuram entre os 10 maiores consumidores, permanecem entre os 20 maiores consumidores per capita.

Tabela 13

Consumo de calçados por habitante entre maiores consumidores – 2011

País Pares (Milhões) Pares por

Habitante Posição Consumo por Habitante11

China 2.761 2,04 52 EUA 2.248 7,2 6 Índia 2.202 1,82 58 Brasil 740 3,79 34 Japão 697 4,0 19 Indonésia 526 2,18 50 Alemanha 429 5,24 22 França 424 6,73 8 Reino Unido 372 5,9 14 Itália 336 5,5 17

Fonte: APICCAPS, 2012. Elaboração própria.

Saindo-se dessa relação entre produção/consumo e entrando especificamente na estrutura mundial de produção de calçados, consegue-se perceber vários elementos importantes para a pesquisa. Pode-se afirmar que fases de produção dos calçados são as mesmas em toda a indústria calçadista, contido pode haver variação de acordo com a especialização de cada firma, conforme seu tamanho ou segmento de mercado onde se atua. De acordo com Souza (2009) a heterogeneidade do setor confere às indústrias tanto operarem em nichos específicos de mercado como atuares em diversificados estágios da produção, sendo inclusive fornecedoras de outras empresas do setor. Assim, pode-se classificar a estrutura da indústria mundial em quatro grandes grupos conforme as classes de produtores e exportadores (SOUZA, 2009).

11 Entre os países selecionados

Referências

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