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2 – NOVA SERRANA E O CAPITALISMO SUBORDINADO

EIXO DE ANÁLISE E IDEIA-FORÇA

Acumulação Flexível Piore e Sabel (1984) Substituição da produção em série e em massa fordista pela especialização flexível

Modelo dos Distritos

Industriais italianos Brusco (1982) Becattini (1987) Bagnasco (1988)

Conjunto "marshalliano" de pequenas e médias empresas, de base semi-artesanal, que convive em uma atmosfera sinérgica de cooperação, confiança e reciprocidade.

Escola Californiana Scott e Storper (1986) Scott ( 1988) Storper e Walker I (19B9l

Learning Regions, onde o tecido socioprodutivo, do entorno

territorial, promove e potencializa processos endógenos dinâmicos de aprendizagem coletiva

Construção de vantagens competitivas em âmbito localizado

Porter (1990) Construção deliberada de competitividade e vantagens relativas locais. Toma por base o seu "diamante" de quatro elementos. Sociedade (e

Economia) em Rede Castells (1996) [1999] No novo modo de produção do "informacionalismo', com seus fluxos globais de "geometria variável", a busca por identidade local ganha significado tanto quanto estar conectado à Rede

Nova Geografia Econômica

Krugman (1991) A geografia conta e dependendo do balanço entre as forças centrífugas e centrípetas estruturar-se-ão arranjos espaciais mais aglomerativos ou não.

Teoria do Crescimento

Endógeno Romer (1986 e 1990) Lucas (1988 e 1990) Reconhecendo a existência de rendimentos crescentes e economias de escala, colocam as taxas de crescimento como determinadas pelo comportamento e pelas decisões adotadas endogenamente pelos participantes do mercado e por políticas públicas que amenizem as "falhas de mercado" e possam melhorar o ambiente institucional e endógeno do local Mais recentemente, destacam o papel da acumulação do capital humano (habilidade individual e nível educacional).

Convergência de Renda

Sala-1-Martin (1990) [1990a]

Barro e Sala-I- Martin (1995)

As regiões têm a tendência a convergir para a mesma taxa de crescimento e mesmos níveis de renda per capita, em longo prazo.

Capital Social Putnam (1993) [1996] Vantagens do acúmulo de confiança e solidariedade e o papel virtuoso da tradição da comunidade cívica, buscando o sentido do 'bem comum".

Regiões como Ativos

Relacionais Storper (1997) Retroalimentação Relaciona! entre tecnologias, organizações e territórios, destacando o papel das convenções, coordenação e racionalidade.

Estados-Região North (1990) Dependendo da instrumentalidade localizados institucional podem-se construir contextos que amenizam divergências, instabilidades e incertezas, através de normas, costumes e regras que regulam o comportamento dos agentes.

Pós-Fordismo

Regulacionista Lipietz (1985) [1988] Benko e Lipietz (1992) Rede de compromissos, coerências e contratos sociais locais, através de certo modo de regulação localizado, condizente com o regime de acumulação mais geral

Mifieu lnnovateur Aydalot (1986) Meio tecno-científico virtuoso construído e sustentado por um "bloco social" localizado em ambiente coletivo de aprendizado apto a mobilizar conhecimento e recursos.

Clusters ou outros Arranjos

Produtivos Locais com Eficiência Coletiva

Schmitz (1997)

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VERTENTE

TEÓRICA/ ANALÍTICA AUTORES E OBRA PRINCIPAIS

SEMINAL

EIXO DE ANÁLISE E IDEIA-FORÇA

DLIS Desenvolvimento Local Integrado Sustentável

- PNUD (Banco

Mundial Ativismo local a fim de criar uma "osmose perfeita" entre comunidade local e as empresas, com a construção de um "homogêneo sistema de valores", tendo por base a eficiência e a sustentabilidade ambiental.

"Planos Estratégicos Locais"

Borja e Castells (1997) Seria uma "grande operação comunicacional, um processo de mobilização", com o fim não declarado de tratar a cidade ou região como uma mercadoria, dotada de boa imagem, símbolo ou marca, a ser "bem vendida" no mercado mundial, isto é, ter alta atratividade de capitais.

Cidades-Região Scott et al. (1999) [2001]

Aglomerações Urbanas (com pelo menos 1 milhão de hab.) aptas a terem conectividade com os fluxos econômicos mundializados, sendo dotadas dos requisitos para se transformarem em plataformas competitivas e atores políticos decisivos na disputa pelos mercados globais.

Cidades Mundiais Sassen (1991) Metrópoles que estão no topo da rede urbana mundial e que concentram o terciário avançado, grandes corporações, centros de tecnologia, cultura e ciência, etc.

"Máquinas-urbanas-de-

crescimento" Logan e Molotch (1987) As Growth Elites utilizam a cidade como um instrumento de apropriação de riqueza, pois têm consciência de que, sem crescimento, o local perderia seu valor de mercado.

Desenvolvimento Local Endógeno

Vázquez Barquero (1993 e 1999)

A busca de soluções de forma compartilhada conduz ao "desenvolvimento endógeno".

Governança Local Banco Mundial Boa governança alcançada através de construção de ambiente previsível, transparente e com accountability.

Economia Solidária e

Popular Coraggio (1994) Singer (2002) Circuito alternativo de produção, distribuição e consumo de bens dos "setores populares urbanos" ou "unidades domésticas de trabalhadores".

Teoria dos Jogos e Ação Coletiva Localizada

Bates (1988) Ostrom (1990)

E preciso avaliar os dilemas da ação coletiva que se travam no ambiente local para capacitar-se para o exercício de se cooperar para o mútuo proveito. Estabelecendo compromissos confiáveis.

Best Practices Banco Mundial Menu disponível de "experiências que deram certo" que pode ser acionado em qualquer tempo/espaço a fim de selecionar uma ação que possa ser replicada com êxito no âmbito local.

Fonte: Brandão, 2004, p. 11-13

Uma parte da bibliografia sobre localismo chega a afirmar que nessa nova etapa do capitalismo não haveria nem necessidade de haver propriedade dos meios de produção. Isso aconteceria, na razão direta em que mudanças tecnológicas e de organização produtiva avançarem, poderiam alcançar uma governança entre agentes inovativos e empreendedores, cujas iniciativas estariam "no ar", ou seja, agentes visionários poderiam juntar competências dispersas e engendrar uma “federação da

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produção de produtores independentes”. O papel do Estado nesse ambiente de aprendizagem coletiva deve fornecer algumas externalidades positivas: desembaraçar os problemas microeconômicos e institucionais e, sobretudo, avalizar um marco jurídico e normativo que garanta o desenvolvimento local (BRANDÃO, 2004).

Parece truísmo afirmar, mas o poder não está disseminado, como gostaria algumas perspectivas localistas. A assimetria estrutural (tanto espacial como socialmente) a que estão submetidos os países capitalistas periféricos não é captada pelas abordagens que elevam o local e seus potenciais, ao status de motor de desenvolvimento, baseadas numa pretensa vontade de autonomia, conjugada com um controle de decisões cruciais. Assim, “ter centros de controle e de decisão internos à localidade, tendo por base a própria dinâmica endógena, é bastante questionável” (BRANDÃO, 2004, p. 27).

Diversas pesquisas que trataram diretamente da aglomeração de Nova Serrana se aproximam dessa tentativa de aprimorar a produção calçadista local por meio de sugestões de políticas de desenvolvimento que atendam a localidade. Crocco et al (2001), Santos, Crocco e Lemos (2002), Salles et al (2004), Suzigan et al (2005), SEBRAE-MG;IEL-FIEMG;SINDINOVA (2004; 2007), Grossi (2005), Almeida (2008) e Lemos (2010) buscam exatamente soluções para aperfeiçoar um tipo de organização produtiva que tem como fulcro a flexibilidade do trabalho e, consequentemente, a precariedade.

A questão aqui colocada é que as teorias do localismo tendem a autonomizar os locais, abstraindo qualquer tipo de contradição que possa haver nos processos históricos. É preciso captar as manifestações concretas do desenvolvimento capitalista e entender cada fenômeno local como um momento particular desse desenvolvimento. Essas pesquisas sobre Nova Serrana, bem como os estudos sobre outras tantas localidades, retoma o tema das diversidades regionais capitalistas, trazendo à luz o problema da produção de desigualdade.

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O desenvolvimento desigual existente nas diferentes nações, bem como em blocos de nações, têm sido respondido por diagnósticos e políticas públicas que buscam compensar o processo reconcentrador. Segundo Brandão (2004), as análises do mainstream da ciência econômica regional e urbana têm como ponto de partida a constatação da desigualdade no que se refere à distribuição espacial de fatores de produção. Contudo, a partir dessa constatação inicial das diferenças entre as regiões, essas correntes de pensamento focam na racionalidade dos agentes de cada local, como se esse ambiente de cada lugar não fosse não construído historicamente, “mas dado "naturalmente", inerte, isto é, conformado pelas forças mercantis, sendo apenas o receptor dessas decisões individuais” (BRANDÃO, 2004, p. 28).

A questão é ter em mente que as desigualdades entre regiões está diretamente ligada à divisão social do trabalho que se articula entre diferentes espaços e massas de trabalhadores para promover a acumulação de capital.

A divisão do trabalho na sociedade é base histórica da diferenciação espacial de níveis e condições de desenvolvimento. A divisão espacial ou territorial do trabalho não é um processo separado, mas está implícito, desde o início, no conceito de divisão do trabalho (SMITH, 1988, p. 152).

Dessa maneira, a ascensão de lugares periféricos como espaços de produção está diretamente ligada à necessidade de o capital ir em direção à acumulação. Os solavancos que a economia brasileira viveu a partir da crise dos anos 1980, possibilitou a emergência de novos lugares de se acumular capital. O que se assistiu, então, foi uma busca de força de trabalho para se explorar. Em sua busca por riqueza abstrata, são utilizados todos os recursos possíveis para o ganho privado, “reproduzindo a segregação, as assimetrias e as descontinuidades, acirrando a competição e aprofundando a desigualdade entre pessoas e lugares” (BRANDÃO, 2004, p. 44).

O incremento industrial de Nova Serrana realmente possibilitou à cidade um dinamismo econômico capaz de aglutinar empresas e atrair novos trabalhadores. Isso foi capaz de aproximar o município a circuitos próprios da dinâmica do mercado ao

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mesmo tempo em que o distancia de outros lugares onde o capital não se aprofundou, como uma integração típica do processo de acumulação capitalista. Se o desenvolvimento surgido daí incorporou a urbe a um mundo típico da produção de mercadorias e aumentou a riqueza no lugar, isso aconteceu, entretanto, de maneira a aprofundar suas desigualdades sociais internas. Dito de outra maneira, espacialmente a articulação das empresas de calçado submeteu a cidade ao universo do capital, diminuindo a disparidade em relação a outras localidades industrializadas, mas aumentando a desigualdade onde não acontece esse tipo de produção. Socialmente, a fabricação de calçado aumentou a riqueza do município e, ao contrário, aumentou as disparidades sociais.

Constata-se, assim, que o processo de crescimento econômico e urbano envi- dado por Nova Serrana apresentou forte caráter concentrador ao longo da década de 1990. Embora a cidade tenha incrementado substancialmente sua renda per capita, que saltou de R$ 184 para R$ 371 (o maior nível de renda per

capita entre os Nuir), a desigualdade na apropriação da riqueza produzida

também teve crescimento pronunciado: o percentual da renda apropriada pelos 10% mais ricos da população (bolo) passou de 33,5% em 1991 para 57,1% no ano de 2000. No mesmo período, a razão entre a parcela da renda apropriada pelos 10% mais ricos e aquela angariada pelos 40% mais pobres (raz1040) saltou de 8,86 para 21,73, evidenciando que os mais ricos passaram a abocanhar uma fatia muito maior do bolo econômico. O índice de Gini,que era de 0,44 em 1991, passou a 0,62 em 2000 (LINHARES, 2008, p. 149).

Talvez seja interessante notar que segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) de 2010 feita pelo IBGE, existiam 21.888 domicílios ocupados28 na cidade, sendo 332 com renda per capita de 1/4 do salário mínimo, 1.542 com renda per capita na faixa de 1/4 a 1/2 salário mínimo, e 6830 entre 1/2 e 1 salário mínimo per capita e, por fim, 530 domicílios nos quais as pessoas não tinham rendimento29. Em outras palavras, são 9.234 domicílios ou em 42% dos domicílios a

renda per capita não ultrapassa um salário mínimo.

28 Segundo o recenseamento de 2010, existia um total de 24271 domicílios.

29 Segundo o site do IBGE “empregados e trabalhadores domésticos que recebiam apenas alimentação, roupas, medicamentos, etc.(benefícios),à guisa de rendimento de trabalho, foram incluídos no grupo "sem rendimento ".” disponível em

<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/mapa_mercado_trabalho/notastecnicas.shtm>. Acesso em: 12 ago. 2013.

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Mesmo acontecendo a produção da desigualdade, a implementação da aglomeração não foi pautada por combater as disparidades locais, mas pela simples necessidade de se criar condições para que a indústria local se mantivesse. Assim, as dificuldades do empresariado foram colocadas sobre os ombros dos trabalhadores precarizados. Nos anos 1990, a não legalização das empresas, que era uma característica generalizada na cidade, passou por uma reviravolta quando os empresários organizaram a campanha de formalização. Contudo, a informalidade do trabalho não foi tocada, na medida em que as firmas externalizaram o pesponto para as bancas informais, etapa da produção onde há maior consumo de força de trabalho.

Essa característica de aglutinação de muitas empresas em uma dada região também é conhecida como clusters informais, que podem ser caracterizados por micro e pequenas empresas, com nível tecnológico reduzido, em que os proprietários/administradores têm formação gerencial insuficiente. Junto a isso, a força de trabalho pouco qualificada se soma à facilidade de se montar uma pequena fábrica, como a de calçado, e a abertura de novas plantas fabris tende a se multiplicar. Crocco et al (2001, p.332) afirmam que se isso é um elemento positivo para a geração de empregos, por outro lado, isso dificulta a cooperação inter-firmas. Devido a esses fatores, a “capacidade de inserção dinâmica via exportações, de geração de novos processos e produtos e da própria sobrevivência em médio prazo é pequena”.

Um fenômeno importante que está presente em Nova Serrana e que precisa ser salientado, é que são verificados entre as micro e pequenas empresas canais de comercialização de seus produtos também tendem a ser informais. Como asseveram Crocco et al (2001, p. 353), os consumidores30 prioritários para os fabricantes

pertencem às camadas C e D dos cortes econômicos. Segundo o levantamento dos autores, “94,1% vendem para a classe C e 76,5% para a D”. Os intermediários, representantes autônomos, eram, em 2001, o principal vínculo entre produtores e consumidores. Contudo, a partir de 2002 foi criada uma feira que reunia fabricantes de

30 Mais adiante será analisada a questão da falsificação em Nova Serrana. Sobre consumo de mercadorias “piratas” e informalidade cf. Durães (2011), Rocha Junior (2006), Galli; Hinz (2006).

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Nova Serrana, a FENOVA, que passou a ser realizada em Belo Horizonte a partir de 2012, como uma tentativa coordenação da formalização dos canais de comercialização. Ainda assim, a pesquisa de campo mostra que os canais informais de comercialização ainda perduram, vis a vis, a quantidade de produtos copiados de grandes marcas que são feitos e levados para os comércios populares tanto de São Paulo como de Belo Horizonte, conforme também se verificam nas matérias jornalísticas elencadas na seção sobre falsificação desta tese.

Outro relevante estudo que trata do aglomerado produtivo de Nova Serrana é o trabalho feito pelo pesquisador do IPEA Mansueto Almeida (2008). Nesse artigo, o autor registra os esforços de empresários de três pequenas cidades31 brasileiras na busca da formalização das empresas e cumprimento da legislação trabalhista. Segundo o autor, o Sindinova, a partir de meados dos anos 1990, conseguiu recursos do SEBRAE-MG e apoio do governo estadual para promover uma campanha de formalização das empresas e de seus trabalhadores. Segundo o autor, como consequência dessa formalização, aconteceu, entre os anos de 2001 e 2005, um crescimento do PIB municipal na ordem de 9,1% ao ano.

Em 1994, o Sindinova apresentou um plano de intervenção junto aos empresários e a instituições estaduais para promover a formalização e a regularização da legislação trabalhista e tributária. Depois de pedirem recursos a fundo perdido para a aquisição do sistema CAD/CAM e terem sido negados pelo SEBRAE-MG e à Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia, os empresários fizeram uma contra proposta às instituições estaduais. O plano pretendia organizar cursos modulares, com auxílio de consultores, visando à associação de novos empresários ao Sindinova e à sua adequação à Lei. Com a baixa eficiência das empresas de até então, os cursos resultaram ao mesmo tempo numa redução de custos e cumprimento da legislação trabalhista dentro de suas empresas. Depois de convencerem os fiscais da Delegacia Regional do Trabalho a diminuírem a fiscalização durante a regularização, “as

31 Os outros dois municípios descritos no artigo são Toritama (PE), especializado na produção de jeans, com 15% da produção nacional; e Jaraguá (GO), também produtor de jeans.

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empresas começaram a registrar os trabalhadores, recolher impostos e, nos últimos anos, o município apresentou o maior crescimento no emprego no setor de manufaturados entre os municípios com menos de 100 mil habitantes” (ALMEIDA, 2008, p. 24).

Eu te dou três mil registros porque SEBRAE, SESI, SENAI, etc., é o chamado Cinco S. Recebe pelo registro que tem de empregados. Eu dou três mil empregos para você em 4 anos. O SEBRAE não disponibiliza recurso para construção. Eu vou dar um seminário gratuitamente para os empresários e vou te dar emprego e te dou a renda no registro de pessoal. E você me passa recurso como se fosse consultor, porque para isso eles dão. Eu dou os meus cursos gratuitamente para os empresários e você passa o dinheiro como se fosse para o Seminário e eu construo o meu centro de inteligência (CDE). Foi o chamado negócio ganha-ganha. (Edson, empresário, 80 anos).

É interessante notar que no mesmo período em que está presente a campanha pela formalização das empresas, há um salto vertiginoso no crescimento do PIB, entre os anos de 1996 e o ano 2000, conforme demonstra o gráfico apresentado na figura 2, a seguir. Segundo Almeida (2008, p. 35), há uma “clara ligação entre a regularização e o lucro”, com o consequente aumento de produção. Com a regularização das empresas, foi possível ter acesso aos serviços oferecidos pelo SEBRAE, governos estaduais e locais, além dos serviços da associação empresarial.

Gráfico 3 - Índice do PIB real de Nova Serrana (MG) 1970 = 100

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Contudo, é preciso ficar claro que, mesmo com a taxa de crescimento mais acentuada entre os anos de 1996 e 2000, a formalização empresarial não ecoa necessariamente numa diminuição do trabalho informal, na medida em que principalmente os custos da etapa produtiva de pesponto são externalizados para as bancas, não estando presentes na estrutura de uma empresa formalizada. Apesar de haver uma pequena queda do PIB entre os anos de 2000 e 2003, há um aumento crescente quando se considera todo o período.

No gráfico a seguir, que se baseia em preços correntes do ano de 2011, também há um aumento crescente do PIB de Nova Serrana.

Gráfico 4 - Produto Interno Bruto (PIB) de Nova Serrana (MG) valor (R$mil) a preços de 2011

Fonte: Fundação João Pinheiro, 2011. Elaboração Própria. Nota: Utilizado Deflator Implícito do PIB - IBGE

Apesar de haver uma pequena queda entre os anos de 2006 e 2007, e entre os anos de 2008 e 2009, é preciso frisar que o crescimento do PIB municipal é constante, se comparado todo o tempo selecionado, perfazendo um crescimento de

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110% no período de 10 anos, que vai de 2002 a 2011. Com os preços atualizados em 2011, o PIB cresceu de R$ 463 milhões para R$ 976 milhões.

Se Almeida (2008) tende a conectar a formalização de empresas com o crescimento do PIB, um estudo realizado pelo SEBRAE-MG, IEL/FIEMG32 e Sindinova no ano de 2004 mostra como as bancas de pesponto estão em sua maioria absoluta na informalidade. As empresas fazem da sub-contratação um instrumento importante para a redução dos custos de produção, já que essa etapa de colagem, costura e acabamento do cabedal exige uso intensivo de força de trabalho.

Segundo o diagnóstico realizado com 172 bancas de pesponto de Nova Serrana, apenas 6,4% estão na formalidade, 22,7% não pretende se formalizar e 70,9% pretende se formalizar.

É baixo o índice de formalização das bancas (6,4%), mas muitas delas informaram que pretendem se tornar formais, apesar de não verem, no curto prazo, possibilidades de atingir o objetivo. Dentre os entraves estão a elevada burocracia, o alto custo dos encargos sociais e trabalhistas, a falta de uma maior relação de estabilidade e comprometimento entre as bancas e as fábricas, fatos que justificam porque 22,7% dos entrevistados não se dispuseram ainda a formalizar sua banca (SEBRAE-MG;IEL- FIEMG;SINDINOVA, 2004, p. 39).

A perspectiva empresarial no que se refere à formalização das bancas de pesponto não responde ao que de fato representa a informalidade no trabalho executado nesses estabelecimentos. Ainda que uma banca de pesponto seja formalizada, as relações informais de trabalho podem persistir. Sendo formalizada, facilitaria a atuação de fiscais do trabalho que garantissem o cumprimento da legislação trabalhista. Contudo, os dados da pesquisa do SEBRAE-MG apontam que a grande maioria dos proprietários das bancas é oriunda das empresas.

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Figura 1 – Origem dos proprietários das bancas de pesponto

Fonte: SEBRAE-MG;IEL-FIEMG;SINDINOVA, 2004, p. 43.

Entre eles, 9,9% são ex-funcionários dispensados, 27,3% são ex- funcionários que foram dispensados por alguma empresa e montaram suas bancas, 41,3% pertence ao segmento "Proprietário desempregado viu na Banca de Pesponto um meio de sobrevivência" e mais 21,5% classificam-se como "Outros".

É sintomática a categoria “proprietário desempregado” arrolada como um dos itens a serem respondidos na pesquisa do SEBRAE-MG. Tavares (2008, p. 35-36) afirma que “a elasticidade e a capacidade de adaptação desses empreendimentos ao novo padrão produtivo tomaram-nos o foco das ações de organismos como o SEBRAE”, havendo uma complexa justificativa ideológica como matriz subsidiária para

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dar vazão às novas políticas de emprego. Abordagens como “capital social, capital humano, cooperação, território, governança e inclusão” parecem justificar a razão de haver um “proprietário desempregado” presentes nas bancas de pesponto.

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