O programa econômico e social
desenvolvimentista e o dilema
crescimento e estabilidade
Seminário “Qual desenvolvimento?”
Centro Celso Furtado, 11/7/2016
Luiz Fernando de Paula
Professor Titular da FCE/UERJ e ex-Presidente da Associação Keynesiana
Apresentação
• Visão keynesiana-estruturalista do
desenvolvimento
• Redução do “policy space” sob condições
de globalização financeira
• Avaliação da experiência
desenvolvimentista da Era Lula/Dilma
• Agenda de política
Visão keynesiana
• Não há forças automática de mercado que conduza uma economia capitalista ao pleno emprego.
• Decisões de “como produzir” são em boa medida induzidas pelas expectativas de demanda dos
empresários; logo há interação entre oferta e demanda agregada.
• Necessidade de uma ação complementar Estado-mercado.
• Estado do bem-estar social funcional ao crescimento: estabilizadores automáticos; efeitos multiplicadores de renda
• Papel fundamental da política econômica para criar um ambiente propicio ao investimento produtivo ->
Keynes – TG, cap.24
• “...os principais problemas da sociedade econômica em que
vivemos [...] [quais sejam] sua incapacidade para proporcionar o
pleno emprego e a sua arbitrária distribuição de renda” (1964:
372)
• “[o] Estado deverá exercer uma influência orientadora sobre a propensão a consumir, seja através de seu sistema de tributação, seja, em parte, por meio da fixação da taxa de juros e, em parte, talvez, recorrendo a outras medidas [...] Eu entendo, portanto, que uma socialização algo ampla dos investimentos será o único meio de assegurar uma situação aproximada de pleno emprego, embora isso não implique na necessidade de excluir ajustes e fórmulas de todas as espécies que permitam ao Estado cooperar com a iniciativa privada” (1964: 378).
Visão estruturalista
• Condição periférica: especificidades da estrutura produtiva e social; heterogeneidade estrutural; inserção subordinada na economia mundial.
• Desenvolvimento como um processo de mudança estrutural e “desequilibrado” em parte induzido pelo Estado.
• Papel fundamental do setor industrial como difusor do progresso técnico e forte efeito de encadeamento, permitindo circulo virtuoso produtividade/crescimento da renda.
Desenvolvimento como processo
múltiplo
• “...o desenvolvimento é ao mesmo tempo um problema de acumulação e progresso técnico, e um problema de expressão dos valores de uma coletividade” (FURTADO, 1967).
• “...um processo de mudança social pelo qual um número crescente de necessidades humanas – preexistentes ou criadas pela própria mudança – são satisfeitas através de uma diferenciação no
sistema produtivo decorrente da introdução de inovações tecnológicas.” (FURTADO, 1964).
Macroeconomia do desenvolvimento
• Importância da política econômica como indutora do processo de desenvolvimento.
• Papel chave da indústria no processo de desenvolvimento.
• Crescimento com poupança doméstica e tendência
crônica a sobrevalorização da moeda (Bresser Pereira). • Problema de acesso a demanda.
• Criação de um ambiente favorável ao investimento
produtivo: “preços básicos” (taxa de salário, taxa de
juros, taxa de câmbio) e politica fiscal contracíclica (investimento público)
• Financiamento do desenvolvimento: taxa de juros e banco de desenvolvimento
• Distribuição de renda: política de salário mínimo, estrutura tributária e políticas sociais.
Fluxos de entrada e saída de capitais (US$
milhões) (Fonte: Paula e Prates, 2016)
Redução do “policy space” das economias
periféricas sob globalização financeira
• Elevada volatilidade dos fluxos de capitais
• Fluxos de capitais determinados principalmente por fatores exógenos (push factors)
• Integração financeira assimétrica gera volatilidade da taxa de câmbio
• “Fear of floating” / relação câmbio-juros
• Politica econômica sujeita ao “escrutínio” dos investidores globais e movimento da politica econômica externa
Experiência desenvolvimentista
recente: Governos Lula
• Combinação entre politica de valorização de
salário mínimo com politicas do Novo Consenso Macroeconômico (juros, câmbio e superávit
primário) e estimulo ao crédito.
• Uso do cambio valorizado para reduzir inflação e aumentar salário.
• Alguma flexibilização na política econômica (acumulação de reservas, redução dívida externa, bancos públicos, PAC, “Minha Casa Minha Vida).
• Inclusão social pelo lado do consumo e transferência de renda.
Wage Share no Brasil (a preços de 2012)*
(Ferrari Filho e Paula, 2016)
36,4% 37,7% 37,3% 38,0% 36,9% 36,9% 36,7% 35,7% 36,6% 35,7% 36,7% 38,2% 38,9% 39,8% 41,5% 41,8% 42,7% 45,3% 45,1% 30,0% 32,0% 34,0% 36,0% 38,0% 40,0% 42,0% 44,0% 46,0% 48,0% 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
(*) Massa salarial (deflacionada pelo INPC) dividido pelo PIB (deflacionado pelo deflator implícito).
Produção industrial (quantum) e vendas reais no
varejo ampliado (100 = Jan/2003) (IPEADATA)
50,0 70,0 90,0 110,0 130,0 150,0 170,0 190,0 210,0 230,0 20 04 .01 20 04 .05 20 04 .09 20 05 .01 20 05 .05 20 05 .09 20 06 .01 20 06 .05 20 06 .09 20 07 .01 20 07 .05 20 07 .09 20 08 .01 20 08 .05 20 08 .09 20 09 .01 20 09 .05 20 09 .09 20 10 .01 20 10 .05 20 10 .09 20 11 .01 20 11 .05 20 11 .09 20 12 .01 20 12 .05 20 12 .09 20 13 .01 20 13 .05 20 13 .09 20 14 .01 20 14 .05 20 14 .09 20 15 .01 20 15 .05 20 15 .09 20 16 .01
Ind. Transform. (quantum)
Coeficiente de penetração das
importações (Paula et al, 2015)
Retorno sobre patrimônio líquido das
Cias Abertas (%) (CEMEC, 2015)
Endividamento das famílias em relação à renda
acumulada dos últimos 12 meses (%) (BCB)
Experiência desenvolvimentista
recente: 1º Governo Dilma
• Herança maldita: indústria fragilizada e taxa de câmbio apreciada
• Politica econômica: “biruta do aeroporto”?
• Intento heterodoxo: pq fracassou a nova matriz macroeconômica? Problema de dosagem?
• Desvalorização cambial (30% jul/11 a mai/12), redução de juros (7% a 2% aa.) e expansão fiscal
• Cenário internacional desfavorável (comércio internacional)
• Setor produtivo atrofiado -> “maquiladoras”? Rentista? • Má coordenação da politica econômica: politica fiscal
com isenção fiscal, estimulo ao consumo, perda de credibilidade; controle de preços administrados
Contribuição no crescimento do PIB
(variação percentual) (IPEADATA)
-6,0 -4,0 -2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 2 0 0 4 T 1 200 4 T2 2 0 0 4 T 3 2 0 0 4 T 4 2 0 0 5 T 1 2 0 0 5 T 2 2 0 0 5 T 3 2 0 0 5 T 4 2 0 0 6 T 1 2 0 0 6 T 2 2 0 0 6 T 3 2 0 0 6 T 4 2 0 0 7 T 1 2 0 0 7 T 2 2 0 0 7 T 3 2 0 0 7 T 4 2 0 0 8 T 1 2 0 0 8 T 2 2 0 0 8 T 3 2 0 0 8 T 4 2 0 0 9 T 1 2 0 0 9 T 2 2 0 0 9 T 3 2 0 0 9 T 4 201 0 T1 2 0 1 0 T 2 2 0 1 0 T 3 201 0 T4 2 0 1 1 T 1 2 0 1 1 T 2 2 0 1 1 T 3 2 0 1 1 T 4 2 0 1 2 T 1 2 0 1 2 T 2 2 0 1 2 T 3 2 0 1 2 T 4 2 0 1 3 T 1 2 0 1 3 T 2 2 0 1 3 T 3 2 0 1 3 T 4 2 0 1 4 T 1 2 0 1 4 T 2 2 0 1 4 T 3 Consumo final
Formação br de capital fixo Exportações
2º Governo Dilma: missão impossível
• Herança maldita: forte deterioração fiscal e problema de credibilidade da autoridade econômica.
• Mercado “impõe” ajuste.
• O ajuste impossível de Levi: forte recessão leva a drástica redução na arrecadação de tributos; juros elevadíssimos
• Meta inicial superávit primário 2015: 1,2% PIB, depois 0,15% (jul/2015) e déficit 0,8% (out/2015)
• Contração fiscal expansionista?
• Tentativa de fazer um ajuste fiscal de curto prazo “a fórceps”-> FRACASSO e desgaste do governo
• Inflação: choque de custos com ajuste de preços administrados • Desvalorização cambial: custo fiscal elevado da operações de
swaps cambiais
Legado da experiência
desenvolvimentista
• Necessidade de se fazer uma avaliação aprofundada da experiência desenvolvimentista recente no Brasil.
• Devido a apreciação cambial, estímulos de demanda “vazaram” para o exterior.
• Semi-estagnação está em parte relacionada ao processo de desindustrialização do país.
• Redução da desigualdade social é limitada qdo se considera ganhos de capital.
• Desaceleração econômica: perdas dos ganhos sociais alcançados?
• Populismo econômico e social? Desenvolvimento pela via fácil? Fuga pra frente?
• Espaço limitada para se implementar uma politica econômica autônoma em condições de globalização financeira?
Plano Trienal
• Taxas de crescimento da renda nacional da ordem de 7%; • Estratégia gradual de combate à inflação, de modo que a
inflação de 1963 não excedesse a metade da taxa do ano anterior e que, em 1965, a taxa se aproximasse de 10% ao ano;
• Salários reais crescendo a uma taxa idêntica à taxa de
crescimento da produtividade da economia como um todo, bem como os ajustamentos em função do aumento do
custo de vida;
• Refinanciamento da dívida externa, a qual - apesar de não ser particularmente grande - estava concentrada no curto e médio-prazos.
• Combinação de política de estabilização de curto prazo com reformas estruturais.
Retomar a agenda reformista
• Governança da política econômica: regime de metas de inflação; meta de crescimento
econômico; administração da taxa de câmbio • Alternativas de ajuste fiscal
• Reforma tributária: Imposto de Renda, dividendos, etc.
• Resolver a “jabuticaba” brasileira: circuito do “overnight” (compromissadas, LFTs)
• Política de rendas?
• Funcionalidade da constituição de um “Estado do bem-estar social” para o crescimento