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Variação e gramaticalização: um estudo sobre a redução fonética do item estar / Variation and grammaticalization: a study of item estar ‘be’ phonetic reduction

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Academic year: 2020

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eISSN: 2237-2083

DOI: 10.17851/2237-2083.28.3.1131-1159

Variação e gramaticalização:

um estudo sobre a redução fonética do item estar

1

Variation and grammaticalization:

a study of item estar ‘be’ phonetic reduction

Frederico Pitanga Pinheiro

Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Vitória, Espírito Santo / Brasil fredericopitanga@gmail.com

https://orcid.org/0000-0001-8838-6873

Resumo: na fala, percebe-se que o item estar manifesta-se tanto em suas formas

fonologicamente plenas (está, estou, estava etc.) quanto em suas formas fonologicamente reduzidas (tá, tô, tava etc.). Sob um viés Sociofuncionalista, que conjuga o aporte teórico-metodológico da Sociolinguística Variacionista aos princípios do Funcionalismo Linguístico, o presente artigo tem como objetivo analisar a redução fonética do referido item. Fazendo uma interface entre variação e gramaticalização, considerou-se cada um dos domínios funcionais que o estar recobre (verbo principal, verbo de ligação, verbo auxiliar, expressão cristalizada e marcador discursivo) como um fator de uma variável independente e foi verificado como o seu comportamento em cada função elencada influencia o fenômeno variável em tela. Os resultados apontam que a redução fonética do item estar aumenta gradativamente até chegar aos 100% de apagamento da sílaba inicial à medida que transita de um domínio mais concreto a um mais abstrato. Além disso, também é notável que a função fonte (verbo principal) e a menos gramaticalizada (verbo de ligação), em termos de pesos relativos, desfavorecem o processo de redução enquanto as formas mais gramaticalizadas (verbo auxiliar e expressão cristalizada) o favorecem. O percentual global de uso das formas reduzidas é da ordem de 96,8% – mudança quase completada nos dados analisados, que são da variedade do português

1 O presente artigo é um recorte da dissertação de Pinheiro (2019), intitulada Tá

mudando? – uma análise Sociofuncionalista da redução fonética do item estar na fala de Vitória/ES.

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brasileiro falada em Vitória, capital do Espírito Santo. Mesmo assim, ainda é possível traçar o percurso da gramaticalização por que passou este fenômeno, fato que fortalece a abordagem sociofuncionalista de fenômenos de variáveis.

Palavras-chave: sociolinguística variacionista; funcionalismo linguístico;

sociofuncionalismo; gramaticalização; redução fonética; item estar; mudança.

Abstract: in the speech, it can be seen that the item estar ‘be’ manifests itself both

in its phonologically full forms and in its phonologically reduced forms. Under a Sociofunctionalist paradigm, which combines the theoretical-methodological support of Variationist Sociolinguistics with the principles of Linguistic Functionalism, this article aims to analyze the phonetic reduction of this item. Making an interface between variation and grammaticalization, we considered each of the functional domains that the item estar ‘be’ covered (main verb, linking verb, auxiliary verb, crystallized expression and discursive marker) as a factor of an independent variable and was verified as its behavior in each listed function influences the variable phenomenon on screen. The results indicate that the phonetic reduction of the item being increases gradually until reaching 100% of erasure of the initial syllable as it moves from a more concrete domain to a more abstract one. In addition, it is also noteworthy that the source (main verb) and least grammatical (binding verb) function, in terms of relative weights, detracts from the reduction process while the more grammaticalised forms (auxiliary verb and crystallized expression) favor it. The overall percentage use of the reduced forms is 96.8% - almost complete change in the analyzed data, which are of the variety of Brazilian Portuguese spoken in Vitória, capital of Espírito Santo. Even so, it is still possible to trace the path of grammaticalization that this phenomenon went through, a fact that strengthens the socio-functionalist approach to variable phenomena.

Keywords: sociolinguistics variationist; functionalism; sociofunctionalism;

grammaticalization; phonetic reduction; item estar ‘be’; change.

Recebido em 19 de agosto de 2019 Aceito em 02 de dezembro de 2019

1 Introdução

Paira no imaginário popular a noção de que a língua é uma estrutura pronta, acabada e rígida. Essa concepção, fortemente pautada em manuais prescritivos e gramáticas normativas que pregam o “bom uso”

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linguístico, não condiz com a realidade da língua utilizada intuitivamente por milhares de seres humanos. Em verdade, um olhar mais apurado acerca dos usos que dela se faz, fornecido por vários estudos descritivos realizados com base em diversos campos da Linguística, nos mostra que o seu panorama é outro: a língua é naturalmente variável e mutável, tal qual a sociedade de que faz parte.

Essa visão pode suscitar (e suscita) um questionamento: se as línguas intrinsecamente variam e mudam, por que as pessoas se entendem em meio a esse “caos linguístico”? O que ocorre é que não há caos. A língua é um sistema dotado de heterogeneidade ordenada (WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006) em que há regras internas (linguísticas) e externas (sociais e estilísticas) que condicionam a sua estrutura. Assim sendo, através de um controle meticuloso desses fatores que regem a variação e a mudança linguística, é possível conjecturar os padrões de uso da língua falada e escrita.

São as pesquisas realizadas sob o arcabouço teórico e metodológico da Sociolinguística Variacionista2 (LABOV, 2008;

WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006), ramo que estuda a relação entre língua e sociedade em busca de explicar a razão de ser da estrutura linguística, que demonstram esse fato. Com base nos postulados labovianos, Mendes (1999), ao esquadrinhar o falar paulistano, constatou que aproximadamente 80% das perífrases estar + gerúndio apresentavam o apagamento da sílaba inicial do verbo auxiliar.

O resultado acima demonstra que há um descompasso entre o que prescrevem os manuais e gramáticas normativas e a realidade dos usos linguísticos, uma vez que neles o item estar é sempre representado em sua forma fonologicamente plena. Muito embora se saiba que os manuais prescritivos e gramáticas normativas digam respeito apenas à língua escrita e a pesquisa supracitada se refira à língua falada, é via de regra que eles também sejam tomados como parâmetro para a fala, algo que resulta em julgamentos errôneos e preconceito linguístico (BAGNO, 2007; SCHERRE, 2005). Mesmo Perini (2010), em seu compêndio de abordagem descritiva acerca do português falado brasileiro, faz a ressalva de que, na ortografia, ao contrário do que se verifica na fala, o estar nunca é grafado de forma reduzida.

2 Também denominada por alguns como Sociolinguística Quantitativa, Sociolinguística

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Perceptivamente, somos capazes de notar que o item estar se manifesta tanto em suas formas fonologicamente plenas (está,

estou, estava, estive, estivesse, estamos etc.) quanto em suas formas

fonologicamente reduzidas (tá, tô, tava, tive, tivesse, tamos etc.). Entretanto, não basta se valer da intuição para afirmar que o item estar passa por um processo de redução. Havendo carência de análise sobre o fenômeno e se existe uma ciência dedicada aos estudos da linguagem e, dentro dela, campos empenhados em compreender a variação e a mudança linguística, fazem-se necessários estudos que comprovem a natureza variável do referido fenômeno.

Assim sendo, o objetivo do presente artigo é fazer uma reflexão acerca da redução fonética do item estar3 na fala de Vitória, capital do

Espírito Santo, a partir de um viés Sociofuncionalista, coadunando os pressupostos teóricos-metodológicos da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 2008; WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006)aos princípios do Funcionalismo Linguístico (GIVÓN, 1995). Tal abordagem se faz necessária pois, como veremos mais à frente em nossas análises, a perda de conteúdo fônico do estar possui relação direta com o seu processo de gramaticalização.

Para tanto, consideramos o corpus formado por 46 falantes capixabas organizado pelo projeto O Português Falado na Cidade de

Vitória (PortVix) (YACOVENCO, 2002; YACOVENCO et al., 2012).

De orientação variacionista, o banco de dados é formado por entrevistas de aproximadamente 60 minutos cada, e os informantes são estratificados pelo seu sexo, faixa etária e grau de escolaridade. Com o intuito de superar o paradoxo do observador (LABOV, 2008) e fazer emergir o vernáculo, os contatos entre entrevistador e entrevistado abordaram assuntos que remetiam à infância, aos casos em que havia algum risco para a vida do informante, além de tentarem desviar o foco dos temas das perguntas feitas.

3 É importante deixar claro para o leitor o que estamos considerando como redução

fonética. Em um primeiro momento, poder-se-ia pensar que procederíamos com uma análise fonética do fenômeno em tela, mas o tratamos a partir de um viés que tem como ponto central a gramaticalização do estar. Na literatura sobre os processos de mudança gramatical, é muito comum a utilização do termo redução fonética para se referir a qualquer perda de massa fônica. Assim, tomamos como formas reduzidas realizações como stá, tá, ta:, tha etc., nas quais há erosão do material fônico na primeira sílaba, sem distingui-las umas das outras.

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2 Sociofuncionalismo: conjugando campos da Linguística

O aporte teórico adotado para este estudo é o Sociofuncionalismo (TAVARES, 2013; TAVARES; GÖRSKI, 2015), que coaduna os postulados da Sociolinguística Variacionista (LABOV, 2008; WEINREICH; LABOV; HERZOG, 2006) e do Funcionalismo Linguístico4 (GIVÓN,

1995). De acordo com Neves (1999), essa denominação surge no

Programa de Estudos sobre o Uso da Língua (PEUL), da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, com o intuito de se analisar a variação e a mudança como reflexos da organização do processo comunicativo.

Embora todo o aparato teórico-metodológico dessas duas áreas da Linguística que se conjugam para formar o Sociofuncionalismo seja fundamental para o desenvolvimento do presente estudo, vale destacar quais conceitos específicos de cada uma delas mais nos interessam. Da Sociolinguística Variacionista, adota-se a concepção de que o sistema linguístico é inerentemente variável e suscetível à mudança, havendo duas ou mais maneiras concorrentes para se expressar um mesmo valor de verdade em determinado contexto, em que uma delas, com o tempo, pode suplantar a(s) outra(s). Para mais, também será seguido o rigoroso instrumental metodológico (GUY; ZILLES, 2007; SANKOFF, 1998), fundamentado em análises estatísticas, que esse campo proporciona. Do lado da Linguística Funcional, retiram-se as compreensões de língua e de gramática. Tomando como base a Linguística Cognitiva Centrada no Uso (BYBEE, 2016), uma das vertentes do Funcionalismo, entende-se que a língua é um sistema adaptativo complexo, uma vez que os universais ou semelhanças entre as línguas são emergentes e dinâmicos, exibindo variação e gradiência, e não são estáticos ou dados. Dentro

4 Em Tavares (2013) e Tavares e Görski (2015), verificamos que as autoras apontam

que o Sociofuncionalismo é uma convergência entre Sociolinguística Variacionista e Funcionalismo Norte-americano. Entretanto, vale um contraponto considerando as palavras de Cezário, Marques e Abraçado (2016, p. 50), que dizem que há, “dentro do próprio funcionalismo, uma fase chamada funcionalismo clássico, mais voltada para o estudo de fatores que explicam a motivação da estrutura gramatical e as diferenças de efeitos comunicativos pelo uso de diferentes estruturas, e a nova fase, chamada Linguística Centrada no Uso ou Linguística Funcional Centrada no Uso”. Assim sendo, é possível que um pesquisador sociofuncionalista adote tanto da visão clássica quanto uma abordagem mais cognitiva.

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dessa perspectiva, a gramática emerge e se estrutura a partir de aspectos comunicativos e cognitivos da linguagem (HOPPER, 1987, 1998).

Ainda dentro do Funcionalismo Linguístico, merece especial destaque a Teoria da Gramaticalização (HEINE, 2003). Nos termos de Hopper e Traugott (1993), a gramaticalização é um processo de mudança em que itens e construções, em determinados contextos, passam a desempenhar função gramatical e,se já gramaticalizados, podem sofrer novos processos de gramaticalização e desenvolver funções ainda mais gramaticais. Conforme Heine e Kuteva (2007), é comum que, nessa mudança gramatical, o item ou construção sofra extensão pragmática e passe a ser utilizado em novos contextos, perca significação semântica, sofra decategorização (perda de propriedades morfossintáticas) e, por fim, tenha redução do seu material fônico – situações ou fatos que percebemos ao analisar o item estar.

O Sociofuncionalismo permite fazer a interface entre variação e gramaticalização (GÖRSKI; TAVARES, 2017; NARO; BRAGA, 2000), e é sob essa ótica que será analisado o fenômeno variável alvo deste artigo: a redução fonética do item estar. Primeiramente, falaremos da união desses dois campos da Linguística. Na seção seguinte, nos debruçaremos especificamente sobre a relação entre variação e mudança gramatical.

Um primeiro olhar pode nos levar a pensar que essa junção é questionável. Um dos principais expoentes dos estudos sociolinguísticos, William Labov (1994, p. 547-568), no livro Principles of linguistic change:

internal factors, na parte intitulada The Overestimation of Functionalism,

chega a dizer que interpretações de natureza funcional são superestimadas e, após a análise de alguns fenômenos variáveis, reconhece que diversos resultados favorecem uma concepção mecanicista da mudança. Naro (1998, p. 118), por outro lado, faz o contraponto de que há diversas pesquisas sobre o português brasileiro que demonstram a natureza funcional da variação. Segundo o linguista, é possível que haja “casos em que a variação é puramente mecânica, sem qualquer efeito funcional, bem como casos em que os dois tipos estão em concorrência”. Ele ainda afirma que “a variação funcionalmente motivada deve ser encontrada em algum trecho não-final do ciclo, enquanto a variação mecanicamente regida poderá ser encontrada no final do ciclo” (NARO, 1998, p. 118-119).

Para além desse fato, há pontos de convergência entre a Sociolinguística e o Funcionalismo que merecem ser mencionados. Primeiramente, gostaríamos de salientar a natureza heterogênea e

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ordenada que tanto os sociolinguistas quanto os funcionalistas atribuem à língua. Outra questão comum é o fato de as duas linhas compreenderem os fenômenos linguísticos como contínuos e graduais. Por isso, os pesquisadores dessas áreas estudam a língua em uso com o objetivo de captar como a mudança se espalha através do espectro social. Também é relevante apontar que ambas creem no princípio do uniformitarismo, que prevê que as forças linguísticas e sociais que atuam no presente são as mesmas que agiram no passado (cf. LABOV, 2008). Por tal razão, é possível projetar hipóteses de como as mudanças se processaram no passado por meio do estudo de fontes atuais.

A partir do princípio da estratificação (layering), proposto por Hopper (1991), somos capazes de fazer a ligação entre o objeto de estudos dos sociolinguistas e dos funcionalistas. Por conta da gramaticalização, um item ou construção pode se tornar uma camada de dado domínio funcional, e a análise sobre esse elemento só será completa se considerarmos todos os outros construtos que concorrem pela representação do domínio. Essa noção de que novas camadas surgem para demarcar uma função reverbera na teoria variacionista, quando acionamos o conceito de variável linguística, que são duas ou mais formas de se dizer uma mesma coisa em um determinado contexto (LABOV, 2008). Dessa maneira, chegamos ao entendimento de que o objeto de estudo dos sociofuncionalistas são essas diferentes camadas ou variantes e que seu objetivo é averiguar quais são os fatores linguísticos, sociais e estilísticos que condicionam as escolhas dos falantes.

No que concerne aos aspectos metodológicos, Tavares e Görski (2015, p. 264) listam algumas vantagens proporcionadas pelo Sociofuncionalismo. Entre elas, podemos destacar 1) o “controle mais refinado do grupo de fatores linguísticos, com a incorporação de restrições do âmbito discursivo/pragmático (planos discursivos, status informacional dos referentes, graus de integração etc.) com tratamento analítico escalar”; 2) a possibilidade de se tratar como variável independente ou grupo de fatores aspectos tipicamente funcionais; e 3) o melhor detalhamento que se pode dar à dimensão social da variação, ao se refinarem fatores com o objetivo de incorporar aspectos interacionais relativos à negociação entre falante e ouvinte na situação comunicacional.

Após essa breve explanação, nos resta dizer que a convergência entre Sociolinguística Variacionista e Funcionalismo Linguístico não se encerra aqui e que ela deve continuar a ser explorada para que consigamos

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compreender ainda mais seus encontros (e, por que não?, colisões). Na seção seguinte, focaremos em um ponto do Sociofuncionalismo que é primordial para que compreendamos a redução fonética do item estar: a interface entre variação e gramaticalização.

2.1 Cruzando variação e gramaticalização

Como ressaltamos anteriormente, os objetos de estudo dos sociolinguistas e funcionalistas convergem. Segundo Tavares (2013, p. 40),

Dependendo do fenômeno variável investigado, estudar variação acaba sendo, em uma abordagem sociofuncionalista, estudar gramaticalização, pois, quando analisamos um fenômeno de variação existente entre formas variantes – ou camadas – de um domínio funcional, analisamos uma etapa de mudança em que convergiram os percursos de gramaticalização seguidos por cada uma das formas que compõem esse domínio.

Para construir essa ponte, é necessário que lancemos um olhar mais atento à concepção de variação e mudança que cada um desses campos formula. Começando pela Sociolinguística Variacionista, vemos que a mudança é necessariamente precedida pela variação (LABOV, 1994) – a alternância de duas ou mais formas para se expressar um mesmo significado pode resultar em uma mudança, em que uma delas irá se sobrepor às outras. Por sua vez, do ponto de vista da gramaticalização, observa-se que a mudança é anterior à variação. Evocando mais uma vez o princípio da estratificação (laeyring), formulado por Hopper (1991), que propõe que novas camadas, dentro de um domínio funcional, estão sempre surgindo e coexistindo com camadas mais antigas, compreendemos que a mudança de um item ou construção e sua eventual inserção em um novo domínio é que ocasionará a variação.

Essas concepções diferentes podem nos levar a pensar que não é possível conjugar variação e gramaticalização, uma vez que a primeira corresponde à alternância de formas e segunda se refere ao continuum de mudança de um único item ou construção. Há, entretanto, duas maneiras de se fazer tal casamento. Um meio possível é recortar um ponto do

continuum de mudança e tomá-lo como uma variável dependente,

analisando o momento em que determinado item ou construção concorre com outros elementos linguísticos pela representação do domínio funcional, tal qual fez Tavares (1999) ao investigar a função sequenciadora

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retroativa-propulsora na fala de Florianópolis, desempenhada pelos itens

aí, daí, então e e (QUADRO 1).

QUADRO 1 – Recorte de um ponto da variação ao longo do continuum de mudança

Fonte: Tavares (1999, p. 61)

Havendo mais de uma camada (ou forma) para se representar um mesmo domínio funcional, o princípio da estratificação se relaciona ao conceito de variável linguística. Contudo, vale o alerta de que as camadas desse domínio funcional podem ter funções idênticas ou similares – algo que não pode ocorrer para variantes, que só admitem funções idênticas. Portanto, Görski e Tavares (2017) fazem a ressalva de que é necessário que o pesquisador inclua dentro de suas tarefas o controle rigoroso dos dados a serem analisados: é fundamental que se excluam os dados em que não há equivalência funcional, não havendo, em vista disso, a possibilidade de intercâmbio contextual entre as formas variantes.

Um segundo modo viável de se realizar essa interface é tratar a função fonte de um item ou construção e suas funções gramaticalizadas como os fatores de uma variável independente (NARO; BRAGA, 2000). Seguindo dessa maneira, a exigência semântica de equivalência referente às formas variantes de uma variável dependente é superada. Assim sendo, cada função desempenhada pelo item ou construção representaria um domínio funcional diferente, como é possível observar no Quadro 2. Para além disso, fazer o controle através de grupo de fatores é capaz de “revelar traços das fontes lexicais e/ou gramaticais prévias das formas variantes que ainda estejam sendo preservados em seus usos mais recentes” (GÖRSKI; TAVARES, 2017, p. 53).

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QUADRO 2 – Interface entre variação e gramaticalização considerando mais de um domínio funcional DF verbo principal ↓ → Gramati- calização DF verbo de ligação ↓ → Gramati-calização DF verbo auxiliar ↓ → Gramati-calização DF expressão cristalizada ↓ → Gramati-calização DF marcador discursivo ↓ Variação Estar/tá Variação Estar/tá Variação Estar/tá Variação Estar/tá Variação Estar/tá Legenda: DF = Domínio funcional.

Fonte: Pinheiro (2019, p. 43).

A escolha por uma ou outra interface depende do fenômeno variável a ser estudado e dos objetivos do linguista ao desenvolver sua pesquisa. Se sua meta é verificar as formas variantes que concorrem pela representação de um domínio funcional, o ideal é que a conjugação entre variação e gramaticalização seja feita por meio do recorte de um ponto do continuum de mudança gramatical, em que todas essas formas apareçam, e torná-lo uma variável dependente. Se, por outro lado, as formas variantes aparecem em diversos domínios funcionais, o propósito do pesquisador pode ser avaliar como as nuances de sentido entre esses domínios influenciam a variação – logo, a melhor opção é tratar todos eles como fatores de uma variável independente. No presente artigo, optaremos pela segunda opção, pois, como é possível observar no Quadro 2, a variação entre as formas fonologicamente plenas e reduzidas do item

estar ocorre em vários domínios funcionais.

Por fim, nos resta dizer que a juntura de variação e gramaticalização em uma única análise traz muitas vantagens. Nas palavras de Görski e Tavares (2017, p. 39), submeter os dados da mudança gramatical ao rigoroso procedimento estatístico variacionista nos permite identificar “até mesmo alterações sutis em padrões de distribuição linguística e extralinguística das formas variantes, diacronicamente ou entre gerações de falantes”.

Como acreditamos que a redução fonética do item estar possui relação direta com o seu processo mudança gramatical, a realização desse estudo não poderia prosseguir se antes não tivéssemos estabelecido essa ponte entre variação e gramaticalização. Na seção a seguir, daremos início à investigação do fenômeno. Iniciaremos nossa explanação pela

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descrição de cada um dos domínios funcionais elencados no Quadro 2; prosseguiremos investigando a gramaticalização do estar; e, ao final, iremos associá-la à análise multivariada.

3 As funções do item estar

Antes de partirmos às vias de fato e tratarmos da gramaticalização do item estar para associá-la à sua redução fonética, faz-se necessário elencar os domínios funcionais que o referido item recobre. São eles:

verbo principal, verbo de ligação, verbo auxiliar, expressão cristalizada

e marcador discursivo.

A primeira função listada é a de verbo principal.5 Rocha Lima

(2017) e Bechara (2009) não definem o que é a função principal de um verbo. Entretanto, o segundo gramático distingue os verbos que possuem um amplo conteúdo lexical daqueles que fazem referência vaga à realidade e, por isso, precisam de complementação. Cunha e Cintra (2001) classificam como verbo principal os itens que possuem significação plena (sem a necessidade de complementação) e papel nuclear na oração. Na mesma esteira, Castilho, 2014, p. 397) também ressalta que, para receber tal classificação, um verbo precisar funcionar como núcleo da sentença, “selecionando argumentos e uma sequência obrigatória de pontos num percurso”. Abaixo, nos exemplos (1) e (2), podemos verificar o uso prototípico dessa função, quando o item estar é um verbo principal e indica uma localidade:6

5 As gramáticas divergem quanto a nomenclatura daqueles verbos com valor semântico

preenchido. Algumas, como a de Cunha e Cintra (2001), preferem a alcunha principal, enquanto outras, a exemplo de Castilho (2014), utilizam a terminologia pleno. Para este artigo, reservamos para a classificação do verbo a nomenclatura principal enquanto o termo pleno destina-se à forma não reduzida do item estar.

6 Além de locativo, função que normalmente é atribuída ao estar que exerce a função de

verbo principal, há outros valores semânticos que esse item pode indicar dentro dessa categoria, como, por exemplo, designar 1) que um sujeito se encontra na companhia de alguém; 2) a maneira como uma pessoa acha-se vestida; 3) a situação ou modo como alguém se encontra em dado momento; 4) alguma alteração física ou sentimental de um sujeito; ou 5) especificar a idade de alguém. Para observar esses exemplos, conferir Pinheiro (2019).

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(1) (...) porque com quarenta e cinco minutos você está no Rio... quarenta e cinco minutos. Eu já fiz voo do Rio aqui... uma vez uma/um avião deu problema no Rio (...)

(PortVix, célula 45: mulher, 50 anos ou mais, nível universitário) (2) Não tá aqui, não. Emprestei. Aí a... é mesmo assim, sabe? uma

história de... de você/se vocês lerem algum dia alguma coisa psicografada... que seja história, não... explicando o que que é... cês vão ver... tudo que tem sentido... tudo tem... como é que fala? (PortVix, célula 30: mulher, 26 a 49 anos, nível médio)

Em seguida, a segunda função levantada é a de verbo de ligação. Diferentemente do verbo principal, o verbo de ligação não possui valor semântico e, nos termos de Rocha Lima (2017), é responsável por estabelecer relação entre o predicado e o sujeito, de forma que a função predicativa passa a ser exercida pelo nome e não mais pelo verbo. Cunha e Cintra (2001) também ressaltam a função de estabelecer ponte entre sujeito e predicativo. Para além disso, acrescentam que o verbo que desempenha a função de ligação não traz ideia nova a esse sujeito. Bechara (2009) distingue verbos nocionais, de significação semântica preenchida, dos verbos relacionais, de significação semântica esvaziada e responsável pela função de cópula. Segundo Castilho (2014), os verbos responsáveis por realizar a cópula entre elementos nominais (o sujeito e o predicativo) transferem o papel que deveria ser exercido por eles ao elemento que está localizado à sua direita. Nos exemplos (3) e (4) abaixo, podemos verificar o item estar desempenhando a função de verbo

de ligação, estabelecendo um laço entre o sujeito e o seu predicativo:

(3) (...) pra mim, foi meio que complicado. Assim... porque eu não... não... não sou... não estou muito acostumada a lidar com essas perdas, né? Todos os vestibulares que eu fiz, eu passei. Todas as... entendeu? E, de repente agora, eu fui fazer a prova do... do... pro inglês e eu não consegui.

(PortVix, célula 41: mulher, 26 a 49 anos, nível médio) (4) Nossa! Entrei numa depressão, menina... hoje eu tô ótima! Mas

entrei numa depressão... só Deus! Essa televisão ficava lá no quarto, eu ficava deitada direto (...)

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O verbo auxiliar, assim como o verbo de ligação, não possui valor semântico preenchido. Segundo Rocha Lima (2017) e Cunha e Cintra (2001), ele se liga às formas nominais de infinitivo, particípio e gerúndio para formar locuções verbais. Um auxiliar, de acordo com Castilho (2010), perde a sua característica de organizador da sentença e do sintagma verbal (algo típico dos verbos) e, assim como Bechara (2009), ressalta que ele é responsável pelas flexões de pessoa, número, tempo e modo nas locuções que irá constituir. Abaixo, nos exemplos (5) e (6), podemos observar o item estar desempenhando a função de verbo

auxiliar nas locuções verbais que forma com outros verbos.

(5) (...) Ninguém está vendo isso, então, comecei achar isso tudo esquematizado e parei de assisti Big Brother. Não achei mais graça, não.

(PortVix, célula 10: homem, 15 a 25 anos, nível fundamental) (6) Mas o The Sims também tá atrapalhando a memória, porque...

ele... ocupa muita memória, aí vai ter que tirar... e vai/meu pai vai comprar The Sims de PlayStation talvez.

(PortVix, célula 02: homem, 07 a 14 anos, nível fundamental)

Outra função que elencamos é a expressão cristalizada. Nela um item se liga a outros elementos linguísticos para formar um único bloco monolítico. Essa conjugação é um processo de domínio geral denominado por Bybee (2016, p. 63-97) como chunking. Segundo a linguista, essa atividade cognitiva de agrupamento é responsável por associar unidades para formar outras unidades mais complexas e dá origem a expressões formulaicas e pré-fabricadas, como take a break (dar um tempo), break

a habit (perder a mania) e pick and choose (escolher a dedo). O item estar é abundantemente utilizado para formar expressões cristalizadas

no português brasileiro7 e, abaixo, em (7) e (8), podemos observar dois

exemplos:

7 O Apêndice B da dissertação de Pinheiro (2019) apresenta uma lista de todas as

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(7) (...) tem isso. Tem o carro, né? (ininteligível) Se for depender de ambulância, de taxi, de ônibus, eu tô ferrado!

(PortVix, célula 27: homem, 26 a 49 anos, nível médio) (8) Pô! Vou ficar pagando cadeira de praia aqui? Cê tá doido! Mas

os caras têm uma estrutura pra atender o turista, você vê isso, com certeza você vê e aqui no Brasil você não vê.

(PortVix, célula 39: homem, 26 a 49 anos, nível universitário)

A última função que elencamos é o marcador discursivo. Para Maschler e Schiffrin (2001), o marcador discursivo é multifuncional e abrange vários domínios: o cognitivo, o expressivo, o social e o textual. Além disso, as autoras também ressaltam que a origem de um marcador é diversa, sendo resultado da mudança de um elemento linguístico que, em princípio, era uma conjunção, interjeição, advérbio ou frase lexicalizada. Conforme Martelotta (1997), quando uma unidade muda e passa a exercer o papel de marcador discursivo, ela deixa de realizar propósitos referenciais externos ao discurso e passa a cumprir função pragmático-discursiva, viabilizando, na fala, a relação de produção/recepção de iniciação, alimentação e fechamento de enunciados. Nos exemplos (9) e (10), verificamos, respectivamente, o item estar desempenhando o papel de confirmar a atenção que o interlocutor presta ao falante e preenchendo pausas, casos que classificamos como marcador discursivo.

(9) Então... é que você tem que ter jogo de cintura (inint) e gostar do que faz... e saber! Você tem que saber quando o aluno perguntar! E quando você não souber uma coisa fala assim “oh... realmente eu já ouvi falar alguma coisa... não sei... mas eu vou verificar,

tá, meu filho? Porque agora eu tenho que... mas eu vou verificar

direitinho... procurar... e depois eu te dou a resposta, tá?” (PortVix, célula 45: mulher, 50 anos ou mais, nível médio) (10) Aí... tá... Nossa, meu braço doía tanto que eu fui e mostrei pra

ela assim (...)

(PortVix, célula 42: mulher, 26 a 49 anos, nível universitário)

Há um cenário especial que merece nossa atenção: em alguns casos, uma única ocorrência do estar pode apresentar sobreposição de

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funções. Isso não é uma surpresa. Tratando-se de um item que passa por um processo de mudança gramatical, não é incomum que haja contiguidade de funções em um determinado período, como ocorre com o verbo de movimento ir. Utilizando o exemplo retirado de Gonçalves, Lima-Hernandes e Casseb-Galvão (2007, p. 48), temos a sentença

João vai comprar um carro, na qual é possível fazer tanto a leitura de

movimento (aonde João vai?) quanto a de futuridade (o que João vai

fazer?). Para refinar a análise estatística que virá a seguir, tratamos essas

ocorrências de sobreposição de funções desempenhadas pelo item estar como um caso à parte e as nomeamos como múltiplas funções. Nos exemplos (11), (12) e (13) que seguem abaixo, podemos apreciar o item

estar conjugando as funções de verbo principal + verbo auxiliar, verbo principal + verbo de ligação e verbo principal + verbo de ligação + verbo auxiliar, respectivamente.

(11) (...) é... conjugar os verbos tudo certinho, sabe? As coisa impecáveis... assim, as conjugações todas perfeitas... assim, concordância perfeita, assim, ela sempre foi... e eu acho que isso é uma coisa desse método dessa creche, dessa escolinha da... da escola, entendeu? De... de... tipo assim, mostrar à criança... é... a coisa que, tipo assim, tratar a criança como uma pessoa inteligente, não apenas como uma criança, entendeu? Tratar como uma pessoa que tá ali aprendendo é... é... mostrar se a pessoa ali... “pra mim fazer” não! “Pra eu fazer”, “eu faço”, entendeu? (PortVix, célula 27: mulher, 15 a 25 anos, nível universitário) (12) Todos os tipo de assunto. E criança, criança? Criançada toda

vinha aqui pra casa, vizinhança toda (risos). Depois, quando mudava da/a maioria já mudou, né? Aí vinha com a mãe, queria me visitar, queria me visitar, de 6 ano de idade assim (risos). Era gozada. Eu tava mal lá na cama, aí me chamava ali: “V...” (PortVix, célula 42: mulher, 26 a 49 anos, nível universitário) (13) (...) e a criança tava lá brincando quietinha... realmente, eu não

avisei pra... pra... secretária da escola lá na frente dizer “olha, se as mães do fulano, quando elas chegarem...” e as salas são uma ao lado da outra, né?!

(16)

No Quadro 3, sintetizamos as funções que o item estar desempenha.

QUADRO 3 – Funções desempenhadas pelo item estar

Função Características

Verbo principal O estar é núcleo do predicado verbal e possui valor semântico preenchido.

Verbo de ligação O estar é responsável pela cópula entre o sujeito e seu predicativo e não possui valor semântico, apenas indica que dada característica de um referente é passageira.

Verbo auxiliar O estar é um auxiliador responsável pelas flexões de pessoa, número, tempo e modo das locuções que forma com o verbo principal. Também não possui valor semântico.

Expressão cristalizada O estar se agrupa a outros itens para formar uma única unidade linguística e o conjunto, como um todo, adquire um novo significado lexical.

Marcador discursivo O estar apresenta menos traços semânticos que as demais funções e exerce, principalmente, o papel de ser um organizador das informações produzidas.

Fonte: Pinheiro (2019, p. 81)

4 A gramaticalização do item estar

Definidos os domínios funcionais que o item estar recobre, daremos início à explanação sobre o curso da sua mudança gramatical. Como dito anteriormente, a gramaticalização é um processo de mudança em que itens ou construções passam a desempenhar funções gramaticais e, caso já sejam gramaticais, podem desenvolver novas funções ainda mais gramaticais (HOPPER; TRAUGOTT, 1993). Segundo Heine e Kuteva (2007, p. 34), há um conjunto específico de mecanismos que atuam de forma inter-relacionada durante o processo de gramaticalização. São eles:

a. extensão, ou seja, o surgimento de novos significados gramaticais quando expressões linguísticas são expandidas para novos contextos (reinterpretação induzida pelo contexto)

(17)

b. dessemantização (ou desbotamento semântico), ou seja, perda (ou generalização) de significado

c. decategorização, ou seja, perda de propriedades morfossintáticas características de formas lexicais ou outras menos gramaticalizadas

d. erosão (redução fonética), ou seja, perda de substância fonética.8

Sequencialmente, é comum que a mudança gramatical de um item ou construção se inicie pela sua extensão a novos contextos de uso, transitando de um domínio mais concreto a um mais abstrato. Em decorrência da sua frequente utilização no novo contexto, uma unidade linguística se torna dependente dele. Assim, o item ou construção perde seus privilégios de categoria autônoma (a exemplo das marcas morfológicas) e se apropria de atributos de categorias secundárias, como os advérbios, pronomes, clíticos e afixos. A perda de conteúdo semântico e o aumento da frequência de uso podem fazer com que uma unidade linguística sofra redução fonética (BYBEE; PERKINS; PAGLIUCA, 1994; BYBEE, 2003).

Levando em consideração o aclive de gramaticalização proposto por Hopper e Traugott (1993, p. 7), notamos que o processo de mudança gramatical possui como ponto inicial um item ou construção de valor semântico preenchido. Em seguida, esse elemento perde sua significação e adquire funções gramaticais. Dando sequência, torna-se um clítico e, por fim, transforma-se em um afixo flexional (item de conteúdo > palavra gramatical > clítico > afixo flexional). O percurso de mudança do item

estar se inicia com a transformação de um item de conteúdo lexical (verbo principal) em uma palavra gramatical (verbo de ligação) que, por sua vez,

sofre novos e sucessivos processos de gramaticalização que dão origem a novas palavras ou construções gramaticais (verbo auxiliar > expressão

cristalizada > marcador discursivo).

8 Tradução nossa. Original: “a. extension, i.e. the rise of new grammatical meanings when

linguistic expressions are extended to new contexts (context-induced reinterpretation) b. desemanticization (or ‘‘semantic bleaching’’), i.e. loss (or generalization) in meaning content c. decategorialization, i.e. loss in morphosyntactic properties characteristic of lexical or other less grammaticalized forms d. erosion (‘‘phonetic reduction’’), i.e. loss in phonetic substance.” (HEINE; KUTEVA, 2007, p. 34.)

(18)

Enquanto verbo principal, o estar é a forma fonte dessa mudança e é aquela que possui mais significação semântica entre as funções elencadas, assim sendo, também possui maior liberdade de ocorrência. Quando se gramaticaliza e começa a ser utilizado em novos contextos de uso, o item em questão passa a desempenhar o papel de verbo de ligação e verbo auxiliar. Consequentemente, o estar perde o valor nocional que possuía e passa a funcionar como um elemento de cópula entre o sujeito e porções nominais do texto e um marcador de pessoa, número, tempo e modo das formas nominais de infinitivo, particípio e gerúndio as quais se liga.

O verbo de ligação é menos gramaticalizado que o verbo auxiliar, pois o primeiro, além da função de cópula, também recebe as flexões de pessoa, número, tempo e modo – o segundo é unicamente responsável por essas marcações. Como nos lembram Heine e Kuteva, é importante ressaltar que “expressões linguísticas lexicais ou menos gramaticalizadas são pressionadas para a expressão de funções mais gramaticais”9 (HEINE,

KUTEVA, 2007, p. 33).

Dando sequência ao processo de mudança gramatical, temos as

expressões cristalizadas. Para formar uma construção, é necessário que o

item estar perca seu valor semântico original (mais concreto). Os novos significados que surgem (mais abstratos) são dependentes do contexto em que são utilizados e dos elementos linguísticos que se acoplam ao

estar – em outras palavras, a utilização do item se torna mais restrita.

Além disso, é interessante notar que algumas expressões cristalizadas perdem seus privilégios morfossintáticos. Nos exemplos (7) e (8), temos, respectivamente, as construções tô ferrado e cê tá doido: a primeira admite flexão de pessoa, número, tempo e modo (tá ferrado, tão ferrados,

tava ferrado, tariam ferrados) para indicar quem estava em uma situação

complicada e quando isso ocorreu; a segunda, por outro lado, admite apenas a flexão de número – se flexionado em pessoa, tempo e modo, cê

tá doido perde o seu novo significado de expressar que uma situação é

absurda e funcionaria apenas como uma cópula entre sujeito e predicativo. O marcador discursivo é o fim da cadeia de gramaticalização do estar. Essa função apresenta maior perda de valor semântico e de privilégios morfossintáticos do que as demais, funcionando principalmente

9 Original: “lexical or less grammaticalized linguistic expressions are pressed into

(19)

como um mecanismo organizador do discurso no momento em que este se processa. No corpus do PortVix, as suas ocorrências merecem especial destaque: dos 145 dados, apenas um se manifesta sob a forma tão, sendo todos os demais casos da forma reduzida tá. Isso demonstra a perda de flexão do item ao exercer a função de marcador e, além disso, há a restrição de que o item estar se manifeste sempre ao final da sentença (com exceção daqueles que preenchem pausas).

Dessa forma, considerando a expansão para outros contextos de uso, a perda de valor semântico e traços morfossintáticos, traçamos no Quadro 4 um continuum de mudança gramatical para o item estar.

QUADRO 4 – Continuum de gramaticalização do item estar a partir dos parâmetros de Heine e Kuteva (2007)

Verbo principal > Verbo de Ligação > Verbo Auxiliar > Expressão cristalizada > Marcador discursivo

Fonte: Pinheiro (2019, p. 89)

Formulamos a hipótese de que, à medida que se expande para outros contextos de uso e, consequentemente, perde em conteúdo semântico e privilégios morfossintáticos, o item estar sofre redução fonética. Com base em 3700 dados analisados no corpus do PortVix nesta etapa da pesquisa, percebemos isso. Como podemos conferir na Tabela 1, das 928 ocorrências de verbo principal, 95,5% dos dados são casos de forma reduzida; das 827 ocorrências de verbo de ligação, 96,4% dos dados são casos de forma reduzida; das 1.677 ocorrências de

verbo auxiliar, 97,6% dos dados são casos de forma reduzida; das 239

ocorrências de expressões cristalizadas, 98,3% dos dados são casos de forma reduzida; e das 145 ocorrências de marcadores discursivos, 100,0% dos dados são casos de redução.10 A utilização das formas reduzidas

aumenta gradualmente do verbo principal ao marcador discursivo (conforme o continuum estabelecido no Quadro 4), transitando de um contexto mais concreto a outro mais abstrato, até chegar aos 100% de apagamento da primeira sílaba do item estar.

(20)

TABELA 1 – Distribuição das formas plenas e reduzidas do item estar de acordo com a sua função no corpus do PortVix

Função Forma Plena Forma reduzida Total

n [%] N [%] N [%] Verbo principal 42 4,5% 886 95,5% 928 24,3% Verbo de ligação 30 3,6% 797 96,4% 827 21,7% Verbo auxiliar 40 2,4% 1.637 97,6% 1.677 43,9% Expressão cristalizada 4 1,7% 235 98,3% 239 6,3% Marcador discursivo 0 – 145 100,0% 145 3,8% Total 116 3.0% 3.700 97.0% 3.816 100% Fonte: Pinheiro (2019, p. 90)

O fenômeno da redução fonética do estar, na fala capixaba, é uma mudança semicategórica, uma vez que, independentemente da função, seus casos erodidos superam 95% das ocorrências (LABOV, 2003, p. 242). Damos espacial destaque aos marcadores discursivos, que se apresentam unicamente na forma reduzida. Vale ressaltar que o material analisado para gerar esses dados são entrevistas sociolinguísticas. Mesmo havendo técnicas para relaxar o constrangimento entre entrevistador e entrevistado, há sempre um grau de monitoramento nesse tipo de interação (cf. LABOV, 2008, p. 91-138). Assim sendo, projetamos que, em um futuro próximo, seja possível que essa mudança se consolide efetivamente no vernáculo.

A seguir, faremos a interface entre variação e gramaticalização do item estar para compreender melhor o que conduz para frente o seu processo de mudança. Considerando todas as suas funções (verbo

principal, verbo de ligação, verbo auxiliar, expressão cristalizada

e marcador discursivo) e a sobreposição delas (múltiplas funções), utilizamos a metodologia variacionista para verificar se a forma fonte, as menos e mais gramaticalizadas, que compõem o grupo de fator Função

do item, são estatisticamente significativas em relação à redução fonética

(21)

5 A interface entre variação e gramaticalização para compreender a redução fonética do item estar

Para a análise estatística da redução fonética em tela, captamos um volume de 4077 ocorrências do item estar no banco de dados do PortVix. Desse montante, apenas 125 dados são de formas plenas, correspondendo a 3,1% da amostra; os demais 3.952 casos são de formas reduzidas, equivalentes a 96.9% do total. Assim como observado no momento em que avaliávamos exclusivamente a gramaticalização do referido item, aqui também verificamos que a redução fonética do estar se trata de um fenômeno semicategórico, no final do seu processo de mudança.

TABELA 2 – distribuição geral das ocorrências do item estar de acordo com a forma no banco de dados do PortVix

Variantes Ocorrências do item estar

n/N [%]

Forma plena 125/4.077 3,1%

Forma reduzida 3.952/4.077 96,9%

Fonte: Pinheiro (2019, p. 95)

Já explicamos que a interface entre variação e gramaticalização pode ser feita de dois modos: no primeiro, a forma fonte e item(s) gramaticalizado(s) são as variantes de uma variável dependente – assim, podemos verificar qual delas tende a dominar a representação de um dado domínio funcional; no segundo, utilizam-se vários domínios funcionais que um item em gramaticalização recobre como fatores de uma variável independente e verifica-se como as nuances de sentido e a particularidade de cada um influenciam a variação e/ou mudança desse item.

Para analisar a redução fonética do estar, escolhemos o segundo método. Isto posto, cada uma das funções elencadas (verbo principal,

verbo de ligação, verbo auxiliar e expressão cristalizada) passa a ser

tratada como um fator de uma variável independente. O marcador

discursivo não será considerado para a rodada, pois ele é invariável,

manifestando-se apenas a partir de formas reduzidas. Múltiplas funções é tratado como um fator à parte, para que possamos verificar se há algum efeito em relação àqueles itens que acumulam mais de uma função.

(22)

Além disso, também foram removidos os casos que não poderiam ser classificados em decorrência da interrupção do falante ou da reformulação da sua fala, mas que foram inicialmente contabilizados para que se tivesse um panorama geral da redução fonética do estar. Dessa forma, temos um novo montante geral (apresentado na Tabela 3), mas que pouco altera a distribuição captada na Tabela 2.

TABELA 3 – Distribuição geral das ocorrências do item estar de acordo com a forma no banco de dados do PortVix após revisão das funções e categorias

Variantes Ocorrências do item estar

n/N [%]

Forma Plena 119/3.665 3,2%

Forma Reduzida 3.549/3.665 96,8%

Fonte: Pinheiro (2019, p. 99)

Para realizar a rodada, utilizamos a ferramenta estatística GoldVarb X (SANKOFF; TAGLIAMONTE; SMITH, 2005). Inseridos os dados no programa, constatamos que, apesar de uma distribuição desequilibrada entre formas plenas e reduzidas, o programa selecionou fatores como estatisticamente significantes, dentre eles, a Função do

item.11 Obtemos a Tabela 4.

TABELA 4 – Efeito da variável independente Função do item na redução fonética do item estar no banco de dados do PortVix Fatores Redução fonética do item estar Peso relativo

n/N [%]

11 Em sua dissertação de mestrado, Pinheiro (2019) considerou os fatores linguísticos

Função do item, Contexto precedente, Tempo verbal e Pessoa do discurso e os fatores extralinguísticos Sexo/gênero, Grau de escolaridade e Faixa etária, dos quais apenas o Contexto precedente e a Faixa etária não foram selecionados como estatisticamente significantes pelo GoldVarb X. Como o foco deste artigo é analisar a redução fonética do item estar sob o pilar da interface entre variação e gramaticalização, o resultado exposto nessa subseção se refere apenas ao grupo de fatores Função do item. Ao final, encontra-se o Anexo 1 com a ordem de seleção das variáveis independentes e o nível de significância de cada uma.

(23)

Verbo principal 861/903 95,3% 0,397 Verbo de ligação 785/815 96,3% 0,423 Múltiplas funções 89/92 96,7% 0,509 Verbo auxiliar 1.580/1.620 97,5% 0,576 Expressão cristalizada 231/235 98,3% 0,634 TOTAL 3.546/3.665 96,8% SIGNIFICÂNCIA: 0,020 RANGE: 237 Fonte: Pinheiro (2019, p. 108)

Verificamos por meio da análise estatística laboviana que a função fonte (verbo principal) e a menos gramaticalizada (verbo de

ligação) desfavorecem a redução fonética do item estar, com pesos

relativos de, respectivamente, 0,397 e 0,423. O verbo auxiliar e a

expressão cristalizada (funções mais gramaticalizadas) favorecem a

redução fonética com pesos relativos de 0,576 e 0,634, nesta ordem. Damos fortes evidências, mais uma vez, do quanto a gramaticalização do item estar e a sua redução fonética estão fortemente envolvidas. O resultado apresentado na Tabela 4, assim como o da Tabela 1, condiz com o continuum de gramaticalização estabelecido no Quadro 4, na seção anterior a esta, mesmo em um caso com um baixo percentual de variação, uma regra de natureza semicategórica, nos termos de Labov (2003).

Em relação às múltiplas funções, há uma neutralização de forças. O peso relativo de 0.509 se justifica pela condição dos casos: a maioria das sobreposições são ocorrências de um item que acumula as funções de verbo principal (forma fonte e desfavorecedora da redução fonética) e de verbo auxiliar (forma mais gramaticalizada e favorecedora da redução fonética).

A presente interface é mais uma ferramenta que nos possibilita analisar fenômenos de variação e mudança linguística. Ao conjugar os pressupostos teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista aos princípios de Gramaticalização, pudemos constatar quais são as funções que impulsionam para frente a redução fonética do item estar, que, ao menos na fala capixaba, já é uma mudança quase consolidada.

(24)

Considerações finais

O duplo olhar proporcionado pelo Sociofuncionalismo nos permite fazer o casamento entre variação e mudança gramatical. Embora pareça, em um primeiro momento, que a junção dos postulados teóricos-metodológicos da Sociolinguística Variacionista aos princípios do Funcionalismo Linguístico não seja possível, constatamos que é viável alinhar esses dois campos de estudos da linguagem e como isso é vantajoso ao se realizar a análise de fenômenos variáveis.

Primeiramente, observamos que a redução fonética do item

estar aumenta gradativamente de acordo com a função que desempenha.

Partindo de sua função fonte (verbo principal) com 95.5% de apagamento da sílaba inicial, o estar chega aos 100% de redução em sua função mais gramaticalizada, o marcador discursivo.

Para além disso, detectamos que o fenômeno em tela é semicategórico, uma vez que, independentemente da função que o item desempenha, as formas reduzidas são sempre dominantes em relação às formas plenas, correspondendo a mais de 95% das ocorrências do domínio.

Utilizando cada um desses domínios funcionais que o item estar recobre como os fatores de uma variável dependente, verificamos a influência do seu processo de gramaticalização na sua redução fonética. Dessa maneira, apuramos, de acordo com os princípios propostos por Heine e Kuteva (2007), que a expansão do referido item para outros contextos, sua consequente perda de conteúdo semântico e privilégios morfossintáticos resultam no apagamento fônico da primeira sílaba.

Como alertam Görski e Tavares (2017), ainda há muito o que se explorar nesse casamento sociofuncionalista. Portanto, esperamos que o presente estudo incentive outros pesquisadores a relacionar variação linguística e gramaticalização, a fim de lapidar essa união de esforços, seja nos moldes de Tavares (1999), ao esquadrinhar formas que concorrem pela representação de um domínio funcional, ou da maneira proposta por Naro e Braga (2000), como fizemos no presente artigo.

(25)

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(29)

ANEXO 1 – Variáveis independentes analisads pelo Programa GOLDVARB X

Variáveis selecionadas: Nível de significância:

Pessoa do Discurso 0.000

Tempo Verbal 0.000

Escolaridade 0.000

Sexo/Gênero 0.000

Função do verbo 0.020

Variáveis não selecionadas: Faixa etária

Contexto precedente Fonte: Pinheiro (2019, p. 101)

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