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O Poder Executivo no Estado Moderno

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Academic year: 2020

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O Poder Executivo

no Estado Moderno

Them istocles Cavalcanti

Professor o rlv e rs i.â .io e

Ao in ic ia r essa palestra (*) sobre o poder executivo no Estado M oderno desejo agradecer antes de tudo à V. Ex.a Sr. M inistro do in te rio r pela honra do convite para p a rtic ip a r dessa reunião. É uma honra e uma satisfação para mim poder assistir a esse sim pó­ sio e p ro fe rir a palestra inaugural. De­ sejo, ao, mesmo tem po, louvar a d ire ­ ção deste M inistério, principalm ente, ao seu em inente M inistro porum a in i­ cia tiva que pro po rcion a a quantos aqui trabalham , no setor ju ríd ico , um am plo debate sobre tem as que interessam aos diversos serviços deste M inistério. São extensivos esses louvores ao ilustre Consultor J u ríd ic o do M inistério Dr. Luís Rafael M ayer pela form a exem plar com que organizou esse encontro.

Na verdade, depois que se valoriza­ ram os estudos de outras profissões, com o, para exe m plificar, a de econo­

(*) Autorizada pelo autor, a nEV' f TA

P9

SERVIÇO PÚBLICO divulga, neste art go, i» tualmente, a conferência proferida p e l o Minis­

tro Themistocles Cavalcanti, na sessão Inia g ral do Encontro Jurídico do Min'* t* n0 ra D i.ai rior, realizado em agosto de 1972, n da República.

mistas e adm inistradores, os conselhos e a colaboração dos ju ristas têm sido quase postergados e, com grave injus­ tiça, porque isto ocorreu justamente quando o direito com eçou a progredir no sentido de procurar os seus supor­ tes nos fatos sociais e econôm icos e m elhor se relacionar principalm ente com a econom ia, as ciências das fi­ nanças, as ciências adm inistrativas, a ciência política, os fatores do progres­ so e desenvolvim ento.

Não há mais quem pense em aplicar o direito sem se apoiar na realidade e nas ciências sociais e mesmo nas c i­ ências exatas, criando novas d is c ip li­ nas ju ríd ica s com o o direito nuclear, o dire ito espacial, o direito aeronáutico e tantos outros.

As disciplinas se m ultiplicam nesse setor com o já se haviam m ultiplicado no cam po econôm ico e financeiro com o dire ito das sociedades, o direito fis ­ cal e o direito agrário.

Ê que o dire ito sempre se apresenta com o idéia de relação e tudo no mun­ do se traduz afinal em uma relação de

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pessoas, e de fatos. Mas sendo idéia de relação é também idéia de harm o­ nia e de eq u ilíb rio social, o que se obtém pelo princípio, ou pela norma, para atin gir uma form a de convivência e de progresso social.

Q ualquer que tenha sido o processo de elaboração, ele se con clu i por um preceito ou uma decisão, que terá sem pre uma expressão ju ríd ica , pelo seu conteúdo e pela sua fo rç a ob rig a­ tória.

Por isso é que, mesmo quando ela ­ borada por um leigo em direito , a mes­ ma será form alm ente uma norma ju ­ rídica, ainda que o seu conteúdo não reflita as condições substanciais do pre ceito Jurídico — mesmo quando não seja uma norm a substancialm ente ju sta ou substancialm ente ju ríd ic a — mas form alm ente terá sem pre uma ex­ pressão ju ríd ica .

É preciso reconhecer e tenho dado provas dessa m inha orientação, que o d ire ito terá de se ajustar a exigências da realidade, que o d ire ito há de evo­ lu ir com as novas condições de vida, mas tam bém que há no dire ito um con­ teúdo ético que é essencial à validade da norm a ju ríd ic a .

O núm ero de teses apresentadas e a sua variedade dão bem idéia da perplexidade dos que trabalham nesta casa, no setor ju ríd ic o , diante de inú­ m eros problem as em que diariam ente esbarram .

Esse interesse é um dado positivo e deve a lertar aq uilo que poderíam os cham ar, não de in dife rença o ficial, mas de esquecim ento de um setor im p o r­ tante de atividade fun cion al e direm os tam bém cultural.

Esse esquecim ento pode acarretar, a longo prazo, a m arginalização de ele­ m entos úteis, por falta de aproveita­ mento, sendo d ifíc il a recuperação de elem entos hum anos interessados e ne­ cessários para atender a setores im ­ portantes da vida pública.

Em tem pos passados tem isto o c o r­ rido, inclusive com a substituição da área ju ríd ica , praticam ente m arginali­ zada, por pessoas com form ação in te i­ ramente im p ró p ria para resolver pro­ blem as ju ríd ico s.

É com íntim a alegria que assisto a essa iniciativa, na convicção de que o enfoque ju ríd ic o dos problem as não deve ser esquecido, mesmo quando não se aceite a solução proposta.

Q uero neste momento, louvar a in i­ ciativa, o seu valor humano, o estím u­ lo que representa, aos que se encon­ tram na área ju ríd ic a deste M inistério. Mas, meus senhores, o meu tem a é outro, e bem outro.

O tem a que vamos abordar visa ape­ nas ofe re cer uma larga visão sobre o poder executivo no Estado M oderno.

Seria ilu s ó rio pensar em penetrar profundam ente no assunto. Desejo ape­ nas d e fin ir a posição do poder exe cuti­ vo no1 Estado M oderno e algum as par­ tic u la rid a d e s no exe rcício das a trib u i­ ções do P residente da República.

Podemos, entretanto, desde logo ad­ v e rtir que só cuidarem os do poder executivo nos regim es dem ocráticos, nos quais, apesar de todas as trans­ form ações sofrid as pelas estruturas políticas, dom ina, com m aior ou menor am plitude, o p rin c íp io da d istrib u içã o de atrib uições entre os poderes.

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Vale dizer que esse. pressuposto obedece a condições de ordem té cn i­ ca, já que a c rític a dem onstrou que o p rin cíp io da cham ada separação de poderes não tinh a o sentido que erro­ neamente se lhes atribuía e que pra­ ticam ente desarticulava qualquer siste­ ma de Governo.

Pretendeu apenas M ontesquieu esta­ belecer um regim e de con tro le recí­ proco entre poderes para evita r um poder único e assim assegurar a liber­ dade. As críticas de Eisenmann, Carré de M alberg, de Ia Bigne de Villeneuve e tantos outros, deram uma in te rpre­ tação ao sistem a de M ontesquieu que nem um pouco lhe tirou o brilho da sua construção, mas afastou uma in­ terpretação negativa do funcionam ento dos poderes.

A verdade é que, com o veremos, as relações entre poderes ainda constitui, na prática, a grande d ificu ld a d e ao crescim ento desm edido de qualquer dos poderes.

Outra discrim in açã o im portante a ser feita seria a dos regim es presidenciais e parlam entares.

Mas, estudo com parado seria d ifíc il se tivéssem os de analisar o crescim en­ to do executivo em term os de poder e do exercício do poder em cada um dos regimes.

O parlam entarism o alemão e o fran­ cês são, entretanto, exem plos daquilo que o executivo pode exercer como poder no regim e parlam entar. A ins­ titu cio n a liza çã o do regim e favorece esse fortalecim ento.

Mas o que nos interessa precipua- mente é a evolução sofrid a pelo exe­ cu tivo nos tem pos m odernos, pelos

seus novos métodos de ação, a m ulti­ plicação dos seus recursos, seguindo a própria transform ação da sociedade de que ele participa.

Finalmente, seria de exam inar um novo sistema de relações entre o exe­ cutivo e o legislativo, com o veremos.

Dentro desse esquema é que se de­ senvolveu o executivo.

O fortalecim ento, ou para m elhor dizer, a expansão dos poderes do exe­ cutivo não foi sempre, com o parece a muitos, determ inada pela necessidade de aumentar o seu poder e eventual­ mente absorver outros poderes como nos regimes totalitários.

Essa expansão se realiza, norm al­ mente, como contingência de uma transform ação social e de um cresci­ mento da área necessária de ação do executivo, assoberbado por novas res­ ponsabilidades.

O crescim ento populacional, o au­ mento do com ércio internacional, a agravação dos problem as urbanos, o progresso tecnológico, o surgim ento de uma sociedade de massas e tantas e tantas outras causas são determ i­ nantes necessárias do aumento do po­ derio do executivo, pela am pliação de sua equipe de trabalho e da organiza­ ção dos seus serviços adm inistrativos. A renovação com eçou nos Estados Unidos, mais intensam ente na Presidên­ cia Roosevelt, na base do relatório fei­ to para a Presidência, no qual são tra­ tados desde os mais graves problemas adm inistrativos, até a m ecânica do "d e- cision making process” e do exercício do poder norm ativo pelo executivo, dois instrum entos do seu fo rta le ci­ mento.

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Participaram desses e s t u d o s as maiores sum idades naquela época, no­ mes até hoje conhecidos com o Luther G ulick, Louis Brownslow, Cushman, Em m erick, James Hart e tantos outros.

Cuidaram esses estudos p rin c ip a l­ mente:

1_o — do problem a do pessoal;

2.0 — do sistem a de controle fina n­ ceiro;

3.0 — das “ com m issions” destina­ das ao controle das “ public Utilities” ;

4.° — dos problem as departam en­ tais e das áreas de serviço federal;

5.° — das corporações g o v e r n a ­ m entais;

6.0 — do poder norm ativo (r u I e m aking);

7.0 — do preparo das m edidas a serem propostas ao P arla­ m ento pelos departam entos adm inistrativos.

Basta este quadro para m ostrar com o se desenvolveram os trabalhos destinados a dar novo estim ulo ao po­

der executivo para alarg ar a sua área de ação e dar expansão às necessida­ des crescentes do poder executivo.

M ais tarde, em 1949, depois da guer­ ra, o fam oso e volum oso relatório Hoover, procurou dar ainda m elhor es­ tru tu ra ao poder executivo.

Já em 1939 o “ Reorganization A c t” havia dotado o poder executivo de nova estrutura que, com o co rre r dos anos, foi m elhorando, e que se cons­ titu irá hoje, salvo erro, dos seguintes órgãos:

1 — do pessoal da Casa Branca; 2 — da secretaria do Gabinete;

3 — do Bureau do orçam ento;

4 — do Conselho de consultores econôm icos (council of econo- mic advisers) cria do em 1946 pelo National Security Act. 5 — do Conselho de Segurança Na­

cional (National Security Coun­ cil) cria do em 1947;

6 — da Agência Central de Inteli­ gência;

7 — da Agência de M obilização da Defesa Civil;

8 — da Civil Service Com m ission. Estes dados, certam ente in com p le­ tos, ju stificam a afirm ação da transfo r­ mação com pleta do executivo.

Ainda mais:

Os Conselhos, as Comissões, as As- sessorias, aquilo que W heare chamou de G overno por Comissões é apenas uma parte desta vasta m áquina que é o executivo, desdobrada por um sis­ tem a de adm inistração in d ire ta que in c lu i corporações, agências e sp e cia li­ zadas, em presas públicas, vinculações as mais intim as com a grande em presa privada, com os centros de pesquisas e universidades que pa rticip am das atividades pú blicas com os seus conhe­ cim entos tecnológicos.

Poucos im aginam o que representam na vida econôm ica e p o lític a de um país, por exem plo, com o os Estados Unidos, as Com issões de Energia Nu­ cle ar e de Vôos Espaciais.

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Den P rice em seu excelente livro sobre o Governo e a Ciênca mostra com abundância de detalhes o poder das Comissões e Assessorias ao pene­ trarem nos setores mais im portantes da po lítica interna e externa.

É por isso que os críticos do siste­ ma con stitucio na l am ericano têm foca­ lizado os poderes do Presidente, dando ênfase às transform ações sofridas no decurso da evolução da vida ame­ ricana.

Vejamos, ao acaso, o que diz Ber- nard Schwartz, um dos mais con cei­ tuados:

“ A estrutura do G overno cria da pelo texto da C onstituição adotada nos fins do século XVIII, está, todavia, inteiramente» diferente daquela que existe na m aioria das do século vin­ te. O e q u ilib ro entre os Estados e a Nação sobre o qual se baseou o sistem a federal e dele depende, foi substancialm ente alterado. A au tori­ dade do G overno Central aumentou constantem ente, às custas dos po­ deres dos Governos dos Estados. A Intervenção de W ashington em ma­ té ria que era considerada de com ­ petência puram ente local tem se to r­ nado tão freqüente que é lic ito in­ dagar se os Estados não se torna­ rão meros vestígios de um sobrevi­ vente, de um velho e florescente sis­ tem a federal.

Também no Governo Nacional o eq u ilíb rio entre os poderes foi per­ turbado. O poder do executivo ame­ ricano foi crescendo às expensas do legislativo e ju d ic iá rio . Essa m udan­ ça no centro de gravidade constitu­ cional nos Estados Unidos alterou

drasticam ente a separação de po­ deres, sobre o qual nasceu a Cons­ tituiçã o Americana. Fez do Gabinete do Presidente o mais poderoso pos­ to eletivo do mundo. O Presidente dos Estados Unidos possui hoje mais autoridade que poderia ter sido possível adm itir para a m aioria dos Anglo-Am ericanos contem porâneos de George III” .

(Am erican Const. Law — pág. 5). E isso não é novidade para ninguém. Vamos, entretanto, prosseguir com mais uma amostra de poder executivo modernizado.

Na França, a Quinta República pro­ curou restaurar a força do executivo, ou em outras palavras, restaurar o poder governamental, na palavra dos críticos do regime.

Esse objetivo foi, antes de tudo, po­ lítico, e procurou ser atingido pela par­ ticipação m aior do Governo no proces­ so legislativo, a com eçar pela iniciativa legislativa.

Hoje é o Governo afinal quem aqui conduz o processo legislativo em uma Câmara livre p ir a votar, às vezes den­ tro de certos prazos.

Não poderia ser de outra maneira quando a C onstituição diz que é o Go­ verno quem determ ina e conduz a polí­ tica da Nação.

Por isso foi preciso, na opinião dos críticos mais autorizados da Quinta Re­ pública, restabelecer a posição do Go­ verno na área legislativa, reduzir o conceito de lei, am pliar o de “ ordon- nances” .

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T écnica e politicam ente o Governo fortaleceu-se.

A dm inistrativam ente a sua solidez sem pre foi grande. A adm inistração francesa está estruturada de tal fo r­ ma, possui quadros tão perfeitos, que nenhuma crise p o litic a conseguiu até hoje abalar os seus alicerces, nem mesmo as piores crises parlam entares da Terceira e Quarta Repúblicas.

Foi uma estrutura, entretanto, que progrediu sabiam ente. A ssim ilou todos os m odernos processos da adm inistra­ ção científica, nacionalizou numerosos serviços públicos, essenciais, bastando c ita r os trens e a eletricidade, criou num erosas em presas públicas, de o ri­ gem tradicio nalm en te francesas e cres­ ceu de form a a atender a todas as ne­ cessidades de um bom serviço público. O Presidente, po r outro lado, dispõe de instrum entos que perm item realizar os ob jetivos de uma p o lític a e adm i­ nistrativa modernas.

O nosso poder executivo seguiu, dentro de outra técn ica constitucional, o m odelo am ericano.

Executivo forte, poder pessoal do Presidente, com ando das Forças Arm a­ das e da P olítica E xterior, Com ando do C om ércio E xterior e da Segurança Nacional.

Já o havia visto H aroldo Laski: "O cam po das funções é vastíssim o. O Presidente é o chefe do Cerim o­ nial do Estado. Ê uma fonte vital de propostas legislativas. É a fonte úl­

tim a de qualquer decisão do Exe­ cutivo. É o m áxim o expoente da po­ lític a externa da Nação. Somar todas essas funções à contínua necessida­ de de ser, ao mesmo tem po, o ho­ mem representativo da Nação, e o chefe do seu Partido P olítico s ig n i­

fica, à evidência, apelar para as energias de um só homem de ma­ neira não superada por nenhum outro cargo po lítico no m undo” . Guardadas as devidas proporções é o Presidente em qualquer Presidencia­ lism o. Já o está querendo ver. em al­ guns p a rla m e n ta ris m o s ...

Graças ao sistem a dem ocrático, po­ rém, foi possível evita r a m aioria dos excessos e c o n s tru ir um executivo fo r­ te mas lim itado em seus poderes pela pró pria lei. O Presidente é forte apenas pelos seus poderes constitucionais.

Não vou fazer o histó rico desse sis ­ tem a entre nós, apenas dizer que ado­ tam os o executivo am ericano e, com o ele, crescem os por con ting ên cia do progresso na vida do Estado.

O Presidente da R epública exerce atribuições, antes de tudo, po líticas, porque o poder po lítico sobreleva todos os demais.

O Chefe do E xecutivo é o Chefe do Estado, o Chefe Suprem o das Forças Arm adas, o con du to r da p o lític a exte­ rior, o defensor m aior do interesse pú­ blico, o Presidente do Conselho de Se­ gurança Nacional.

Ele atua assim em uma larga área onde age livrem ente, d irig in d o a p o

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li-tic a interna, orientando a po líli-tica in­ ternacional e escolhendo os seus meios de ação.

Deve o Presidente exercer, assim, uma lidera nça porque, com os seus po­ deres e a soma dos interesses que representa, ele não se pode alhear das direções partidárias e das suas rela­ ções com os líderes políticos

Neste ponto, deve se; aproxim ar ne­ cessariam ente do Congresso. W oodrow W ilson cham aria o regim e de "C on- gressional G overnm ent” , porque na verdade, o P residente não se pode de­ sinteressai; da vida pa rtidá ria que tem a sua expressão no Congreso.

A observação de W ilson denuncia uma falha do Presidencialism o que me­ recia correção pelo perigo de trans­ ferên cia do poder ao Congresso com a m ultiplicaçã o dos Partidos.

Sob a C onstituição de 1946, com num erosos partidos, já se verificara m uitas vezes que os negócios do Go­ verno, com tantos partidos, eram fe i­ tos a custos elevados.

Não é este, porém, o espírito do regim e presidencialista.

Desde 1967, entretanto, a posição do P residente veio se alterar profun­ dam ente com as seguintes m edidas:

a) am pliação do dire ito de in iciativa das leis;

b) andam ento especial de certos projetos de lei de inicia tiva do executivo;

c) delegação legislativa;

d) faculdade concedida ao Presiden­ te da República para expedir de- cretos-leis em certas matérias; e) com petência do Presidente da

República para decretar o estado de sítio ou a intervenção nos Estados — ad referendum do Congresso.

Mas seria insensato separa o Presi­ dente do Congresso ou o Executivo do Legislativo, porque o Governo Cons­ titucional não vive sem o Congresso. Daí dizer P ritchelt — que algumas das funções mais im portantes do Presiden­ te são as legislativas.

Em m atéria adm inistrativa o cresci­ mento foi imenso e tom aria tem po para avaliar as proporções da expansão dos serviços a cargo do executivo nesses últim os anos.

O Decreto-lei n.° 200 dá bem uma idéia do que representa hoje o quadro da adm inistração federal através da adm inistração direta e indireta.

Mas não desejo sair da generalida­ de dos problem as centrais da política do Governo, para não me perder em uma análise da qual não poderia sair no tem po lim itado de que disponho.

O sistema presidencial foi instituído em momento grave da história am eri­ cana e o mesmo ocorreu entre nós. Mas não previram os seus fundadores, nem de longe, as dificuld ad es que te­ riam de enfrentar.

Não obstante, o regime foi instituído para ter um Presidente forte, o que quer dizer, um executivo forte.

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Já dizia Ham ilton no Federalista (n.° LXX):

“ Um Executivo fraco supõe go­ verno fraco. Ora, execução fraca não é outra cousa senão má execução e um governo que executa mal, só pode ser um mau governo” .

Mais adiante:

"O que dá fo rç a a um governo é, antes de tudo, a sua unidade, em se­ gundo lugar, a sua duração, ter- • ceiro a sua possibilidade de prover as próprias necessidades e quarto estar investido de poderes suficien­ tes para governar.

O que dá segurança ao governo é não só uma dependência razoável do povo, mas tam bém uma respon­ sabilidade ponderável” .

E ju s tific a Ham ilton as suas palavras à luz dos precedentes e dos ensina­ mentos da história.

Este Presidente, entretanto, deveria para se le gitim a r ser c o n s titu c io n a l­ mente forte, isto é, investido de pode­ res co n stitucio na is que lhe atribuem força e poder, dentro do m ecanism o de um sistem a legal.

Pressupõe o exe rcício do poder den­ tro de suas atrib uições constitucionais. Há, entretanto, sutilezas a v e rifica r na verdadeira função do Presidente com o chefe po lítico e con stitucio na l, cujo poder pressupõe tam bém apoio po pu lar e um certo lastro po lítico ob­ tid o através do Congresso.

Por isso que é do m aior relevo apurar, em qualquer regim e con stitu­

cional, com o se processam as rela­ ções entre Governo e Congresso.

Já se disse que a Q uinta República Francesa tem, com o pedra de toque, estabelecer relações mais íntimas entre o Parlam ento e um Governo forte, o que se efetuou realm ente por meio de uma nova concepção do processo le­ gislativo, um novo con ceito de lei e o aum ento da in ic ia tiv a do executivo no processo de elaboração da lei.

Na prática po lítica a solução não deixa de ser racional porque, dessa in ­ tim idade, podem nascer bons resulta­ dos, entre os quais o menor não será, cer-tamente, o enriquecim ento da in ­ form ação legislativa.

Lá com o aqui, onde o processo tam ­ bém foi utilizado, não deixou de c ria r suscetibilidades.

O le gislativo sentiu-se arranhado, d i­ m inuído, quase que espoliado, mas esta é uma reação superficial, ep id ér­ mica, porque, na realidade, pelo me> quando a pa rticip ação do executivo na elaboração le gislativa é sistem a antigo.

Já Carré de M alberg mostrava com o ela existia com o exe rcício do veto.

Já observava Oswaldo T rigu eiro re­ ferindo-se à C onstituição de 1946:

"E m m atéria propriam ente le gisla­ tiva a in ic ia tiv a do P residente pre­ valece sem pre sobre a vontade do Congresso, quando esta é m anifesta­

da por m aioria sim ples. Verifica-se, portanto, acrescenta que a p a rtic i­ pação do Presidente no processo le gislativo é substancial. Ele não só

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tem atribuições de natureza le gislati­ va — com o é de um certo modo, um dos órgãos do Poder Legislativo. Há quem o com pare a uma terceira Câ­ mara. Os Poderes do Presidente são nesse pa rticu la r mais am plos dos que os conferidos pela Constituição e pelos costum es ao Presidente dos Estados Unidos.

Em prim eiro lugar, porque o nosso goza de um poder de iniciativa, par­ cialm ente exclusivo, que o direito

am ericano c o n h e c e . .. "

O que se fez em 1967 e 1969 em relação à função le gislativa foi ape­ nas rever velhas fórm ulas, m odernizá- las, torná-las mais eficazes.

Croskey faz sobre este assunto in ­ teressantes ponderações, relem brando conceitos de Blakstone sobre as lim ita ­ ções do legislativo. Relem brava então que o antigo Congresso do tem po dos A rtigo s de Confederação teria os seus poderes dividido s entre os executivo e ju d ic iá rio .

Daí a enum eração dos poderes do Congresso.

Não me refiro, é evidente, a outras restrições sobre as pessoas dos par­ lam entares, quando as reações se ju s­ tificam , pelo menos quando não se examinam as causas transitó ria s des­ sas restrições, mas sobre o processo legislativo.

O que se procurou foi apenas mo­ dernizar, voltando-se às origens do re­ gim e dos parlam entares, notadamente o B ritânico, a mais velha das in s titu i­ ções parlam entares, onde se encon­

tram preceitos perfeitam ente atuais como os que se seguem, como exem­ plo.

Inscritos no Act of Parliament: a) O parlamento não pode votar

em matéria financeira sob qual­ quer pretexto, a não ser a pedido dos M inistros da Coroa;

b) o parlam ento só pode cria r im­ postos por in iciativa da Coroa, o mesmo acontecendo para o au­ mento de qualquer tributo. De lá para cá os Parlamentos do mundo inteiro passaram por numero­ sas reformas, para m elhor ou para pior, mas agora procuram se ajustar ao m ecanismo do Governo.

É que o problem a de prestígio da existência das Câmaras está ligado ao da eficácia dos seus trabalhos.

Mas esta eficácia depende da exis­ tência de instrum entos de trabalho. E o executivo está em condição de fo r­ necê-los.

Sob o ponto de vista teórico nada im pede essa participação do executi­ vo. Há muito que a crítica reduziu o princípio da separação dos poderes às suas justas proporções.

Como Já disse M ontesquieu, numa pretendeu separar os poderes mas ape­ nas garantir a liberdade, evitando a sua confusão em um só e procurando um sistema de eq uilíbrio entre os po­ deres.

O que Easton, Bergeron e outros pretendem é fundar uma doutrina ba­

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seada não na separação de poderes, mas na discrim in açã o de função.

Observa com razão o professor André Hauriou que no quadro do Estado m oderno é principalm ente o G overno que deve inform ar o Parla­ mento. Antigam ente, quando os pro­ blem as po líticos eram relativam ente sim ples e que o Estado, só penetrava no terreno econôm ico com grande d is­ crição, os notáveis de cada circ u n s c ri- ção podiam te r bons conhecim entos dos negócios e problem as po líticos do Estado. Hoje a técn ica se m istura com a p o lític a de m odo com p lica do e o poder po lítico é divorcia do dos té c n i­ cos, o que d ificu lta , de muito, a fo r­ m ação de um juízo exato desses pro­ blem as pelos políticos.

E conclui com ironia. É por isso que faz alguns anos, q parlam entar, priva­ do das m elhores inform ações, se vê um pouco, em face do governo, na si­ tuação de um am ador, diante d a uma equipe de profissionais.

Há evidente exagero na observação do em inente mestre de Paris, mas o certo é que o po lítico tem hoje aqui, com o em toda a parte, pois o de po i­ m ento citad o não foi nosso, uma visão insuficiente dos problem as pela escas­ sez de dados e inform ações que po­ dem m anipular. (D roit Const., pág. 726).

Como estudioso do d ire ito c o n stitu ­ cional não estaria longe de ad m itir a revisão dos textos con stitucio na is so­ bre “ Com issões Parlam entares de in ­ q u é rito ” e sobre “ pedidos de in fo rm a­ çã o ” , no sentido de favo re cer a inves­ tiga ção legítim a sobre m atéria que in­

teressa a atividade legislativa, mas sem pre discip lin a d a em preceito cons­ titucio na l, que evite os excessos.

A colaboração — governo-legisla- tivo — deve ser feita através de Câma­ ras tanto quanto possível, bem in fo r­ madas.

O que falta ria talvez às Câmaras é a existência de órgãos com petentes para colher, reunir e divulgar inform a­ ções obtidas sistem aticam ente dos órgãos executivos.

Esta é a perspectiva que tem os das relações Governo-Congresso.

São essas as princip ais considera­ ções gerais que o tem a merece.

Não quero, entretanto, c o n c lu ir esta exposição sem ab ordar dois pro b le ­ mas co n stitucio na is surgidos no texto da Emenda n.° 1, mas, segundo me parece, de im portância.

O prim eiro se refere à com petência do Presidente da R epública para estru­ tu ra r as repartições, regular o seu fu n ­ cionam ento e fix a r atribuições, através de ato executivo.

O segundo será sobre a delegação de poderes, preceito que vem de 1967 e foi reform ulado em 1969.

Vam os apreciá-los rapidam ente. O problem a da organização do po­ der executivo oferece ob je to s extrem a­ mente im portantes.

Um deles é a organização de uma estrutura ad m in istra tiva própria, com

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elem entos humanos e m ateriais neces­ sários à realização dos objetivos go­ vernam entais.

Foi o que se cham ou nos Estados Unidos de “ institu cio naliza ção do exe­ c u tiv o ” , e que nada mais é senão a cria ção em torno do Presidente dos órgãos que possam au xiliá-lo a desin- cum bir-se dos pesados encargos.

Essas forças precisam ser con ju ga­ das sob um com ando único, mas obe­ decendo também a uma unidade de c on ceito que perm itam a boa com pre­ ensão entre o chefe e os seus asses­ sores em todos os graus.

Tudo isso exige uma orientação adm inistrativa que obedeça a um pla­ nejam ento tecnicam ente certo e p o liti­ cam ente orientado pelo chefe.

O que ocorre nos Estados Unidos tam bém está acontecendo na Alem a­ nha, na França e outros países não totalitário s.

Esse esforço de racion alização e esta preferência pelas soluções té cn i­ cas, sofre, entretanto, as inevitáveis restrições dos setores po líticos que pretendem m uitas vezes fazer preva­ lecer as soluções preconizadas pelas lideranças políticas.

Cabe ao P residente da República, afinal, ser o árb itro na opção da me­ lh or solução em cada caso.

É preciso, entretanto, reconhecer que o velho con ceito de que a solução té c­ nica deveria estar em baixo da po lítica (on the tap but not on the top) já está sendo revista pela conveniência

de atrib uir a necessária im portância às soluções técnicas, pelo aproveitam en­ to do progresso tecnológico que já nos produziu a revolução industrial. Apesar de tudo a influência política na deci­ são é inevitável — Política, já se vê, no grande sentido.

Tecnicam ente o mecanismo legislati­ vo já se adaptou a essas contingên­ cias, por meio do processo de delega­ ção legislativa que con cilia o preparo e elaboração das resoluções, para sub­ metê-las, afinal, ao beneplácito político do poder político.

Entre as atribuições do Presidente da República há uma que constitui novida­ de em nosso direito e que exigiria uma atenção especial pelo que representa no exercício do poder normativo pelo Presidente da República.

Queremos nos referir especialmente ao que dispõe o inciso V do artigo 81 da Constituição, quando atribui ao Presidente da República com petência para:

“ dispo r sobre a estruturação, atri­ buições e funcionam ento dos órgãos da adm inistração fed eral” .

Vejamos o sentido desse dispositivo novo e de grande im portância na de fi­ nição da com petência do Presidente da República.

A idéia de in c lu ir esse preceito na Constituição veio da Comissão de Alto Nível nomeada pelo saudoso Presiden­ te Costa e Silva para redigir a atual Emenda n.° 1.

A idéia foi bem aceita porque não re­ presentava nenhuma invasão da área

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legislativa, mas liberava o poder exe­ cutivo de dificuldades existentes para a reestruturação dos órgãos da adm i­ nistração, redistribuição de funções e m edidas destinadas a fa c ilita r o seu funcionam ento.

Nos Estados Unidos há m uito que essa área é aberta ao executivo e na França a Q uinta República d e finin­ do m elhor os lim ites da lei, deixou lar­ ga margem às funções do poder exe­ cutivo no terreno adm inistrativo.

Analisando bem o texto verificam os que ele se refere, em relação aos ó r g ã o s da adm inistração, a três cousas:

a) estruturação; b) atribuição; c) funcionam ento.

V erificando a com petência do poder legislativo nada se encontra relativa­ mente à organização da adm inistração p ú blica federal, a não ser criação de cargos e fixaçã o de vencim entos — além de toda a m atéria de com petên­ cia da União.

Deve-se aqui rem eter ao art. 8.° onde se encontram na realidade alguns serviços que exigem lei federal (Tele­ com unicações, energia elétrica, nave­ gação aérea, certas vias de transpor­ tes), bem com o m atéria legislativa ge­ ral sobre orçam ento, gestão patrim o­ nial e financeira, etc.

Não me parece, entretanto, que o preceito con stitucio na l seja tão am bi­ c io so que atin ja situações ju ríd ic a s só alteráveis por lei. Nem sequer por de­ creto-lei esses problem as adm inistra­

tivos podem ser resolvidos (art. 55 da C onstituição) — (segurança nacional, finanças públicas, criação de cargos e fixação de vencim entos).

O que se visou com o preceito fo i: fazer m odificações por decreto executi­ vo, dando nova estrutura ao órgão, no­ vas atribuições a seus funcionários e dispo r sobre o seu funcionam ento, sem alterar o status ju ríd ic o dos seus fu n ­ cionários.

É evidente que outorgadas, pela Constituição, essas alterações podem ser feitas com uma m obilidade m aior na organização adm inistrativa, na pos­ sibilidade de mudanças na ad m inistra­ ção dos serviços e seus departam en­ tos, etc.

Não é mais necessária uma lei para o ordenam ento do regime das rep arti­ ções. A m odificação por meio de de­ creto dá m aior m obilidade às estrutu­ ras adm inistrativas e perm ite a sua dinam ização. Não deve, entretanto, o executivo exceder-se no exercício des­ sas atribuições que sofrem lim itações gerais pela com petência legislativa das Câmaras.

Mas isto só pode oco rrer quando fe ­ rir situações ju ríd ic a s definitivas.

Essa prerrogativa do Presidente da R epública, envolvendo uma boa faixa do poder norm ativo, é da m aior im p o r­ tân cia para a eficiê n cia da ad m inistra­ ção pú blica mas, poucas vezes, tem sido a sua im portância posta em re­ levo.

Na realidade, o poder norm ativo e xercido por meio de decretos exe cuti­ vos concorrem , até um certo ponto,

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com a função legislativa, salvo naquilo que diz com as conseqüências ju ríd i­ cas que decorrem das alterações na estrutura e nas atribuições dos órgãos da adm inistração pública, direta ou in­ direta.

Somente a aplicação do preceito, en­ tretanto, pe rm itiria um julgam ento de­ fin itiv o sobre o exercício dessa com pe­ tên cia em cada caso.

Outra questão im portante é aquela que se refere à com petência dada ao Presidente da R epública para autorizar a delegação aos M inistros de Estado (Art. 33), nos seguintes casos:

1 — no provim ento dos cargos pú­ blicos federais na form a da C onstituição e das leis;

2 — na autorização a bra sile iro para ace itar função, em prego ou co­ m issão de G overno estrangeiro; 3 — no conceder indultos, com utar penas com audiência se neces­ sário, dos órgãos in stituídos em lei;

4 — no dispo r sobre a estruturação, a trib uição e funcionam ento dos órgãos de adm inistração fe ­ deral.

Basta fo rm u la r a questão para veri­ fic a r da sua im portância e da sua gravidade, pela natureza da m atéria com preendida nessa faculdade de de­ legar.

Mas em que consiste a delegação? Embora ad m itida com o prática anti­ ga, entre nós, ela não tem passado de

mera autorização para a prática de atos de rotina adm inisrativa.

A Lei n.° 200 foi mais precisa e pro­ curou conceituar e am pliar a delega­ ção no seguinte preceito do seu arti­ go 1 1:

"É facultado ao Presidente da Re­ pública — aos M inistros de Estado e em geral às autoridades da Adm i­ nistração Federal — , delegar com pe­ tência para a prática de atos admi- trativos, conform e se dispuser em re­ gulamento.

Parágrafo Único — O ato da dele­

gação indicará com precisão a auto- toridade delegante, a autoridade de­ legada e as atribuições objeto da delegação” .

O que me parece é que a delega­ ção da Lei n.° 200 se refere à dele­ gação de atribuições.

Em todo o caso, o texto é tím ido com o o era o do art. 83, parágrafo único da Constituição de 1967.

Vale a pena recordar o que existe na doutrina. Laubadère, por exemplo, distingue a delegação de sim ples assi­ natura da delegação de funções.

Pela prim eira o que se autoriza é apenas a assinatura do expediente. A autoridade delegante conserva-se no seu cargo e continua a orientar o tra­ balho, apenas o expediente, o trabalho m aterial do expediente é desempe­ nhado por outrem. Nas delegações de funções, as razões de de cidir perten­ cem a quem pratica o ato, é ela quem conhece os fundam entos do seu ato.

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Deve, entretanto, satisfazer algum as exigências:

a) quanto ao ato da delegação e sua form a;

b) ao ato que autoriza a delegação; c) a m aneira pela qual é executada

a função delegada.

A inobservância de qualquer exigên­ cia pode in validar o ato.

■ A Emenda n.° 1 — fa c ilito u a ou tor­ ga de delegação porque suprim iu a exigência de lei para autorizar a dele­ gação — Hoje o Presidente da Re­ pú blica pode outorgar a delegação sem autorização legislativa.

O que existe em nosso dire ito e tem a abonar a tese, decisão unânime do Supremo Tribunal Federal (M.S. 18.558, de 14 de junho de 1968 — R.T.J. 46 — pág. 748) que considera c o n s titu c io ­ nal a delegação do Presidente da Re­ pú blica ao M inistro de Estado, que passa a assum ir responsabilidade inte­ gral pelo ato que praticou por dele­ gação.

Como, porém, considerar o preceito do Decreto-lei n.° 200 em face da Emenda n.° 1?

Em prim eiro lugar, quando ele se re­ fere ao Presidente da República há de se e x c lu ir os casos em que a com ­ petência do Presidente é co n stitu cio ­ nal e, por isso mesmo, não pode ser delegada a não ser nos casos dos itens V — VIII — XVIII — XXII.

Em segundo lugar, a autorização para delegar não depende mais de

regulam ento, isto é, de ato do Presi­ dente da República de natureza nor­ mativa, onde se devem estabelecer as bases e condições para a delegação, porque a Emenda n.° 1 deixou a de­ legação ao seu exclusivo juízo.

A delegação m encionada no Decre­ to-lei n.° 200 é de com petência, o que, a meu ver, não im pede a delegação para despachar o. expediente, sem transferência de com petência.

M era providência adm inistrativa, essas m edidas só servem para a li­ viar a sobrecarga material de trabalho de chefes e certos funcionários.

Mas a delegação com transferência de com petência é de conseqüências ju ríd ica s mais graves, com o já vimos.

Vamos c o n c lu ir relem brando que o nosso m aior ob jetivo foi destacar alguns aspectos mais im portantes rela­ cionados com o poder executivo no Estado m oderno, ou m elhor, do poder executivo em face da C onstituição de 1967 e da Emenda n.° 1, de 1969.

V erificam os que inovações foram tra ­ zidas ao texto de 1946, que repre­ senta um tip o de C onstituição do Ime­ diato pós-guerra.

Essas inovações foram determ inadas não som ente pela necessidade de uma m odernização de conceitos, com o para assegurar ao poder executivo, por meio de algum as poucas providências, uma eficá cia de ação, m uitas vezes to ­ lh ida por obstáculos con stitucionais que, na realidade, não constituíram e x i­ gências necessárias para assegurar a autenticidade de qualquer regim e po­ lítico.

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A elim inação desses obstáculos não atingiu a essência das instituições.

Elas se ajustaram a form as novas, mais modernas, sugeridas pela expe­ riência.

Quando me refiro a form as novas não me lem bro de exigências tra n s i­ tória s im postas po r uma conjuntura intim am ente ligada à segurança inter­ na, à estabilidade das instituições, o que vale dizer, ao desenvolvim ento.

A experiência universal m ostra que a consolidação das infra-estruturas traz consigo m aior segurança e esta­ bilidade.

Para term in ar desejo fazer uma re­ flexão sobre a perm anência das Cons­ tituições, para afastar uma m ística que não tenho e que não se co n c ilia com uma concepção dinâm ica do direito.

A existência de uma ordem in stitu ­ cional é necessária para a vida de qualquer Nação. O Brasil é um exem ­ plo. Institucionalizou todas as suas re­ voluções. C onstitucionalizou todos os seus regimes.

M arcou com um novo texto cada nova etapa da sua vida política. Obe­ deceu a um processo de sucessiva m odernização constitucional.

A C onstituição de 1934 integrou em nosso sistem a p o lític o a mensagem de 1930 — ju s tiç a eleitoral — ordem econôm ica — ordem social — ju s tiç a do trabalho.

A de 1967 e 1969 reform ulou o es­ quem a da Federação, o Sistem a T ri­ butário, definiu m elhor a posição dos

Estados na Federação, incluiu nume­ rosos dispositivos motivados pelo pro­ cesso de desenvolvim ento econôm ico, disciplinou as relações executivo — legislativo — deu ao executivo melho­ res condições para exercer a sua mis­ são, m odernizou o judiciário.

Seguiu o exem plo da França — exem plo da m utabilidade constitucio­ nal, acom panhando as transformações dos regimes políticos, desde a Revolu­ ção Francesa, com todas as suas Constituições <1793; ano IV, ano VIII, ano XII, seguindo-se a Carta de 1814, a Carta de 1830, a Constituição de 1840, a Constituição de 1875, a Cons­ tituiçã o de 1946 e a de 1958).

Cada Constituição é a imagem de um momento de sua vida política cons­ titucional.

A m ística da im utabilidade das Cons­ tituiçõ es só. deve prevalecer nos paí­ ses em que o tipo de Constituição per­ mite reform as políticas, sociais e eco­ nômicas, que não atingem o seu texto porque disciplinam apenas as linhas gerais da estrutura política.

O mesmo não pode ocorrer em re­ lação àquelas mais analíticas.

É inquestionável que as reformas e as m udanças que se estão verificando na sociedade contemporânea, o pro­ gresso tecnológico, os métodos de Go­ verno, as exigências de enfrentar no­ vos e graves problemas, estão a exi­ g ir pelo menos uma revisão na técni­ ca constitucional,, nas instituições fun­ dam entais do Estado, com o objetivo de revê-las e modernizá-las, dentro de

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novos conceitos inspirados na expe­ riência, com o abandono de práticas superadas.

A m ística da C onstituição consiste apenas em cu m p rir com rig or aquela C onstituição que estiver vigente.

É este o com prom isso que deve ser sagrado, para que haja ordem e auto­ ridade, fundada em um governo legí­ tim o.

" A C onstituição não constitui, po r si só, condição para a fe lic id a d e ou pros­ peridade de um povo. O essencial é o com portam ento ju sto dos responsá­ veis pela vid a do país, Governo e o p o­ sição.

De nada adiantam boas leis se os costum es são corru ptos ou se falta com petência ao Governo.

P or outro lado, não há G overno pos­ sível sem instrum entos ju ríd ic o s ade­ quados e que correspondam às neces­ sidades de cada povo em um m om en­ to dado.

Os anglo-saxões afeitos a um siste­ ma ju ríd ic o costum eiro podem pres­

c in d ir de um regim e legislativo ou con stitucio na l mais rígido, não porém, os povos educados sob a in flu ê n cia do d ire ito escrito e de norm as co n stitu ­ cionais que detalham a estrutura do Estado e do Poder, as suas relações, o funcionam ento de suas in stitu içõ es e o seu sistem a de garantias.

Eis porque com preendo que cada Revolução queira im p or o seu ordena­ m ento Jurídico con stitucio na l e que todo Estado deve p ro cura r m odernizar as suas in stitu içõ es políticas, atu ali­ zando-as, de aco rdo com o progresso econôm ico, social e tecn oló gico . É c o ­ nhecida a frase do abade Syées — A revolução é o poder constituinte.

O im portante, segundo nos parece, para a renovação da estrutura dos po­ deres, deve p a rtir de uma reform ula­ ção do tip o de relações entre eles. Para isso é necessária a revisão das condições em que cada poder é exer­ cido, e d is c ip lin a r as relações entre eles, de form a a assegurar a autono­ mia de cada um, o perfeito relacio na­ m ento entre eles e a in te ira efic á c ia de suas funções.

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