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INSTITUTO SUPERIOR DE ECONOMIA E GESTAO

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Academic year: 2019

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(1)

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UNIVERSIDADE TECNICA DE LISBOA

INSTITUTO SUPERIOR DE ECONOMIA E GESTAO

ESTRATEGIAS EMPRESARIAIS E PROCESSOS DE

MODERNIZAy\0

(0 CASO DO COMPLEXO PRODUTIVO DO CALY\1)0)

Maria

J

oao Santos

Disserta<;ao apresentada no Instituto Superior de Economia e Gestao para obten<;ao de Doutoramento em Sociologia Econ6mica e das Organiza<;oes

por Maria Joao Fe.rrei.ra Nicolau dos Santos

Orientador: Pro:f. Doutora Ilona Zsuzsanna Kovacs

JUri

Presidente: Prof. Doutor Jorge Manuel de Azevedo Henriques dos Santos

Vogais: Pro:f. Doutora Ilona Zsuzsantia Kovacs

Prof. Doutor Jose Maria Ca.rvalho Ferreira Prof. Doutor Rogerio Roque Amaro

Prof. Doutor Carlos Manuel da Silva Gon<;alves

Pro:f. Doutora Maria Clara Peres Sousa Cabrita dos Santos

Lis boa

(2)

EsTRATEGIIIS EMPRESIIIHIIJS E PROCESSOS DE MODERNIZA<;AO

Agradecimentos

A dimensao profundamente relacional que caracteriza o ser hurnano conduz ao estabelecimento de diferentes formas de interacc;ao com os outros.

E

no contexto da nossa rede de relac;oes que recolhemos os estimulos e as informac;oes necessarias para o desenvolvimento da nossa actividade. Alem disso, como o que produzimos resulta de urna multiplicidade de influencias que cada urn organiza de forma unica e personalizada, este trabalho nao pode deixar de ser senao 0 resultado das multiplas interacc;oes que estabeleci. Neste sentido, gostaria de deixar expresso aqui publicamente os meus agradecimentos a todas as pessoas que, directa ou indirectamente, contribuiram para este trabalho e sem as quais ele nao seria possivel.

Agradec;o em primeiro lugar ao Presidente do Conselho Cientifico do Instituto Superior de Economia e Gestao (ISEG) que me forneceu todas as condic;oes, em termos de tempo, espac;o e docurnentac;ao, imprescindiveis para a realizac;ao de urn trabalho desta natureza.

Agradec;o em particular

a

minha orientadora, a Prof. Doutora Ilona Kovacs, a capacidade de espera a que frequentemente a sujeitei, o seu apoio incondicional e, sobretudo, a confianc;a depositada e a liberdade que me concedeu na elaborac;ao deste trabalho. Agradec;o tambem ao Prof. Doutor Roque Amaro pela orientac;ao ( embora informaD da minha tese de Mestrado, a partir da qual retirei os ensinamentos que hoje me permitiram chegar ate aqui. Espero poder honrar ambos na tarefa que assumi.

(3)
(4)

EsTRATEGIAS EMPRI'.SARIAIS r; PRCJCI'.SSOS DE MODIJRNIZA<;AO

INDICE

I PARTE ...•.... 8

I- INTRODU<_;:AO ... 8

1.

NOTA INTRODUT6RIA ... 8

2.

PROBLEMA TICA E OBJECTIVOS DO ESTUDO ... II

3.

OP<;OES METODOL6GICAS ... I6

3.1. Correntes te6ricas utilizadas

...

16

3.2. Metoda utilizado ...

18

3.3.

Selecriio do sector e das empresas ...

18

4.

ESTRUTURA DO TRABALHO ... 2I II - CRISE DO FORDISMO E TENDENCIAS DE MUDAN<_;:A S6CIO-ECON6MICA ... 23

1. 0

FORDISMO E A SUA CRISE ... 23

1.1.

0

Modelo Fo.rdista ...

23

1.1.1. Uma referenda

a

Escola da Regula<;ao ...

24

1.1.2. 0 regime de acumula<;ao predominante: o fordismo ...

27

1.1.3. 0 fordismo como sistema de produ<;ao em serie ...

3I

1.1.4. L6gica espacial do fordismo ...

34

1.2. Crise do regime de acumulariio fordista ...

38

2.

ALTERA<;OES NA ENVOLVENTE DAS EMPRESAS ... 46

2.1. Introduriio ...

46

2.2. Transiriio para o p6s-industrialismo ...

48

2.2.1. Terciariza<;ao da economia ...

49

2.2.2. Produ<;ao de servi<;os com urn coeficiente elevado de

conhecimento ...

5I

2.2.3. Qualifica<;5es de alto valor acrescentado ...

52

2.2.4. Novo paradigma produtivo ...

54

2.3.1. A intensifica<;ao da internacionaliza<;ao e da globaliza<;ao

econ6mica ...

57

2.3.2. Movimentos de concentra<;ao ...

60

2.3.3. Globaliza<;ao e pressoes competitivas ...

65

III- ESTRATEGIAS EMPRESARIAIS NUM CONTEXTO DE MUDAN<;A ... 68

1.

INTRODU<;Ao ... 6&

2.

NOV AS FORMAS DE ORGANIZA<;AO PRODUTIV A ... 69

2.1. Especializariio flexivel au flexibilidade oligopolista ...

69

(5)

EsTRATEGIAS EMPRESARIAIS E PllOCflSSOS DE MODERNIZAt;AO

2.2.1. Formas de organiza<;ao produtiva ...

71

2.2.2. Implica<;5es ao nivel do espa<;o/territ6rio ...

74

2.2.3. Modelo de desenvolvimento subjacente: especializa<;ao flexivel

··· 75

2.3. Empresas estendidas ou virtuais e Jlexibilidade oligopolista ...

76

2.3.1. Formas de organiza<;ao produtiva ...

77

2.3.2. lmplica<;5es ao nivel do espa<;o/territ6rio ...

77

2.3.3. Modelo de desenvolvimento subjacente: neofordismo ...

80

2.4.

Restrutura{:iio produtiva: fragmentar;iio e integrar;iio ...

81

3.

Novas MODELOS DE PRODUc;Ao ... 86

3.1. Modelos produtivos e diferenciar;iio de estrategias ...

86

3.2. Neotaylorismo/fordismo ...

93

3.2.1. Passagem de economias de escala para economias de gama ou

de variedade ...

95

3.2.2. Renova<;ao dos suportes classicos de produtividade na

empresa ...

97

3.3.3. Recomposi<;ao das rela<;5es interempresas ...

101

3.3.4.- Flexibilidade na gestao dos recursos humanos ...

105

3.3. Modelo lean production ...

J08

3.3.1. Prindpios do

lean production ...

108

3.3.2. Tecnicas de gestao produtiva ...

112

3.3.3. Gestao diferenciada dos recursos humanos ...

1 15

3.3.4. Formas de relacionamento interempresarial ...

118

3.4. Sistemas antropocentricos de produr;iio ...

122

3.4.1. Desenvolvimento dos sistemas antropocentricos de produ<;ao

... 122

3.4.2. Prindpios antropocentricos de produ<;ao ...

125

4.

FORMAS DE ESTRUTURAc;Ao DO ESPAc;OjTERRITORIO ... 136

4.1. Mutar;oes espaciais ...

137

4.1.1. Novas dinamicas espaciais ...

137

4.1.2. Diferencia<;ao crescente dos espa<;os ...

138

4.1.3. Globaliza<;ao e territorializa<;ao ...

141

4.1.4. Reconceptualiza<;ao da no<;ao de espa<;o e territ6rio ...

145

4.2. Sistemas territoriais de produr;iio ...

147

4.2.1. Contribui<;oes te6ricas ...

147

4.2.2. Tipologia dos sistemas territoriais de produ<;ao ...

151

4.2.3. Sistemas produtivos locais ...

153

4.2.4. Distritos industriais ...

159

4.2.5. Consolida<;ao dos sistemas territoriais de produ<;ao ...

164

4.3. Actividades produtivas e espar;ojterrit6rio ...

166

4.3.1. Territorializa<;ao das actividades produtivas ...

166

4.3.2. Determinantes territoriais da moderniza<;ao ...

168

(6)

EsTRATEGII\S EMPRESARIIIIS E I'ROCESSOS DE MODERNIZII<;Ao

II PARTE ...•... 176

I- INTRODU<;A0 ...•...•...•. 176

II- METODOLOGIA DE TRABALH0 ...•... 178

1.

PRESSUPOSTOS DE ANALISE ... 178

2.

GRELHA DE ANALISE ... 178

2.1. Transjorma96es estruturais no sector industrial do cal9ado

...

179

2.2.

Estrategias de moderniza9iio empresarial ...

180

2.3.

Formas de articula9iio territorial ...

181

3. PROCESSO E TECNICAS DE RECOLHA DE INFORMA<:;A0 ... 182

III- TRANSFORMA<;OES NO SECI'OR INDUSTRIAL DO CAL<;ADO A NiVEL MUNDIAL ... 185

1.

INTRODU<:;AO ... 185

2.

TENDENCIAS DE MUDAN<:;A ... 186

2.1. Altera9oes na envolvente das empresas ...

186

2.1.1. Globalizac.;:ao e aumento das press5es competitivas ... 186

2.1.2. Alterac.;:oes ao nfvel da procura ... 191

2.2.

Reestrutura9oes produtivas ...

197

2.2.1. Novas formas de organizac.;:ao produtiva e alterac.;:ao dos espac.;:os de produc.;:ao ... 197

2.2.2. Novas estrategias produtivas ... 2oo IV - PROCESSOS DE MODERNIZA<;AO EMPRESARIAL ... 206

1. INTRoouc;:Ao ... 2o6

2.

ELEMENTOS DE CARACTERIZA<:;AO DAS EMPRESAS ... 207

2

.1.

Breve caracteriza9iio e posicionamento estrategico da empresa

Z. ... 207

2.2.

Breve caracteriza9iio e posicionamento estrategico da empresa

X. ... 209

2.3.

Breve caracteriza9iio e posicionamento estrategico da empresa

Y. ... 212

3.PROCESSOS DE INOV A<:;AO ... 216

3.1. Abordagem dos mercado e estrategias de comercializa9iio ...

216

3.1.1. Inovafiio ao nivel produtivo ...

216

3.1.2. Inova9oes ao nivel comercial ...

217

3.2.

Capacidade de concep9iio

...

220

3 3.

. .

I

nova9ao ecnzco-organzzacwna

-

t/

.

. .

1

...

223

3.3.1. Inova9iio tecnol6gica ...

223

3.3.2.

Inova9iio organizacional

...

226

4.

FONTES DE INFORMA<:;AO E CONDICIONANTES DA INOV A<:;AO ... 233

4.1. Condicionantes macro-econ6micas

...

234

4.2.

Condicionantes ao nivel do espa9ojterrit6rio ...

236

V- 0 COMPLEXO PRODUTIVO DO CAL<;ADO E FORMAS DE ARTICULA<;AO TERRITORIAL ... 239

(7)

EsTRATEGIAS EMPRilSARIAIS E PROCilSSOS DE MODERNIZAt;:AO

2. ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO COMPLEXO PRODUTIVO DO CAL<;ADO

... 242

2.1. Estrutura do sector industrial do cal9ado ...

242

2.2.

Rela9oes interempresas ...

256

2.2.1. Rela9oes entre empresas produtoras de cal9ado e outras empresas

(clientes e fornecedores) ...

256

2.2.2.

Rela9oes entre empresas produtoras ...

259

3.

CONDI<;OES S6CIO-CULTURAIS LOCAlS E DINAMICAS DE INOVA<;AO. 264

3.1. Infra-estrutura locale inova9ao ...

265

3.1.1 Localiza(:ao geogrtifica e perfil da estrutura urbana ...

265

3.1.2. Tradi9ao produtiva ...

270

3.1.3. Estrutura socio-cultural ...

271

3.2. Dinamicas locais e inova(:ao ...

272

3.2.1. Fluxo de informa(:oes entre empresas produtoras ...

273

3.2.2. Fluxo de informa(:oes entre empresas produtoras e fornecedores ...

274

VI - CONCLUSOES ... 275

(8)

EsTRATEGIAS EMPRESARIAIS E PROCESSOS DE MODERNIZA<;AO

I

PARTE

I-

INTRODU<;AO

1. Nota introdut6ria

0 facto de haver wn nfunero tao grande de pequenas e medias empresas no nosso pais torna evidente a existencia de wn elevado espirito empreendedor, no entanto, ele nem sempre e sin6nimo de capacidade empresarial. Entendemos aqui capacidade empresarial como wna atitude activa, orientada, de "inova~ao

intencional".

Na verdade, nao basta criar o seu proprio neg6cio ou saber aproveitar urn nicho de mercado, e fundamental que existam praticas de inova~ao sistematicas que permitam refor~ar a capacidade competitiva das empresas em causa. Neste sentido, a competitividade depende nao s6 da possibilidade de se atingirem maiores niveis de produtividade, mas tambem da capacidade de moderniza~ao, isto e, da possibilidade de se continuar a melhorar a eficiencia com que se concebem, produzem e vendem determinados hens.

A moderniza~ao empresarial deve ser entendida de urna forma abrangente,

ultrapassando wna v1sao simplista, centrada exclusivamente na inova~ao

tecnol6gica e organizacional. Pelo contrario, deve integrar urna infinidade de dimensoes: novos desenhos de produto, novos processos de produ~ao, novos metodos · de forma~ao, a cria~ao de novos recursos para com petit em segmentos diferenciados, wna nova abordagem dos mercados ou, por exemplo, novas estrategias de marketing ou de comercializac;ao. Pressupoe urn "nova maneira de fazer as coisas" que frequentemente resulta mais da introduc;ao de simples mudanc;as, triviais e incrementais, da introduc;ao de pequenas inovac;oes, do que propriamente de descobertas revolucionarias de natureza tecnol6gica ou organizacional.

(9)

EsTRATEGIAS EMPRESARIAIS fli'IIOCESSOS Dfl MODEIINIZA<;Ao

continuas de inova<_;:ao e de melhoria, alicer<;adas numa postura estrategica e definidas a partir de uma analise das for<;as da concorrencia, das expectativas dos consumidores e das altera<;6es da envolvente s6cio-econ6mica.

Requer a tomada em considera<_;:ao, por parte das empresas, dos factores dinamicos de competitividade. Isto e, requer que estas estejam atentas as muta<;6es produzidas no exterior e introduzam altera<;oes na sua cadeia de valor, exprimindo uma dinamica inovadora que lhes permita obter melhores niveis de produtividade, competitividade e rendibilidade.

Acresce ainda que o processo de moderniza<;ao empresarial nao pode ser analisado tendo apenas em conta as competencias internas.

E

necessaria tambem tomar em considera<;ao as dinamicas que existem ao nivel do local/ regiao, alguns dos incentivos definidos a nivel nacional e, simultaneamente, as pressoes do ambiente concorrencial. De facto, as empresas inserem-se num espa<;o de mUltiplas confluencias, onde as diversas for<;as existentes tanto podem limitar como estimular todo o processo de moderniza<;ao empresarial.

Logo, e atraves da identifica<_;:ao da multiplicidade de for<;as existentes ao nivel global, nacional e local, e das respectivas interpenetra<;oes, que se constr6i a matriz a partir da qual podemos analisar o comportamento inovador das empresas e, consequentemente, os processos de moderniza<_;:ao empresarial.

A questao da moderniza<;ao assume uma acuidade particular no caso portugues, dado o actual padrao de especializa<;ao da nossa economia e as caracteristicas da estrutura empresarial existente. Em Portugal, a estrutura produtiva e constituida maioritariamente por empresas de pequena ou media dimensao. Muitas destas empresas ainda se defrontam com profundos problemas estruturais. Frequentemente existe uma insuficiente tomada de ac<_;:ao estrategica e e evidente a ausencia de praticas de moderniza<;ao sistematicas. Alem disso, a tendencia para a concentra<;ao espacial e elevada, o que se por urn lado, pode constituir uma vantagem competitiva importante, enquanto elemento que potencializa sinergias conjuntas, por outro, pode colocar muitas regioes/locais numa situa<;ao de grande dependencia face a viabilidade econ6mica das empresas em causa.

(10)

EsTRATEGIAS EMPRESARIAIS E l'ROCESSOS DE MODERNIZA<;AO

recursos limitados e com estrategias de gestao frequentemente de tipo defensivo face as pressoes do ambiente concorrencial.

(11)

EsTRATEGIAS EMPR!!SAIUAIS E PIIOCI~~SOS DE MODEIINIZA<;Ao

2. Problematica e objectivos do estudo

Tendo em conta que as empresas se inscrevem em espa<;os caracterizados pela "confluencia de diversas for<_;:as que limitam ou estimulam a sua aftrma<;ao competitiva"' e que estas exercem uma influencia cada vez mais signiftcativa nas estrategias das empresas, a analise das questoes relativas

a

moderniza<;ao empresariaF tera de ser feita

a

luz destes condicionalismos. Isto signiftca que os processos de moderniza<;ao nao podem ser exclusivamente analisados a partir das estrategias de gestao interna das empresas. Pelo contrario, e necessario ter em considera<;ao o sistema relacional em que as empresas se situam e, em particular, a sua inser<;ao num "enquadramento locacional espedftcom.

Contudo, sem pretender menosprezar a 16gica das empresas enquanto objecto aut6nomo de analise, procuraremos neste trabalho detectar o impacte das pressoes externas, decorrentes dos processos de competitividade estabelecidos a nivel mundial e tambem a influencia que as estruturas espaciais/territoriais exercem sobre estes processos.

A empresa, enquanto espa<;o de funcionamento interno e de relacionamento com o exterior4

, situa-se numa confluencia de influencias, ao nivel global, sectorial e local,

que condiciona as suas estrategias de moderniza<;ao. Assim sendo, importa ter em considera<;ao a multiplicidade de pressoes e de influencias que sobre ela se exercem e o ambiente relacional em que se insere.

Nesta investiga<;ao parte-se do prindpio que o meio constitui uma base de infra-estruturas diversas, susceptiveis de potencializar a actividade produtiva e de gerar

1

SIMOES, Vitor: Inova~ao e Gestao em PME, Lisboa, Gabinete de Estudos e Prospectiva Econ6mica,

1997, p.39.

2 Cf: LINHART, Daniele: La Modernisation des Entreprises, Paris, La Decouverte, 1994; FISCHER,

Manfred; SUAREZ-VIlLA, Luis; STEINER, Machael (Eds.): Innovation, Networks and Localities, Berlin, Springer, 1999.

3

Cf.:BARQUERO; Antonio Vazquez: Desarrollo, Redes e Innovaci6n. Lecciones sobre Desarrollo End6geno, Madrid, Ediciones Piramide, 1999; CASTELl.S, Manuel: The Rise of Network Society, Massachusetts, Blackwell Publishers, Inc., 1996; HARRISON, Benett: Lean and Mean. The Changing Landscape of Corporate Power in the Age of Flexibility, New York, Basic Books, 1994; AMIN, Ash; ROBINS, Kevin: "Regresso das economias regionais", in As Regioes Ganhadoras. Distritos e Redes. Os Novos Paradigmas da Geografia Econ6mica, Oeiras, Celta Editora, p.p. 77-101, 1994; SIMOES, Vitor: lnova~ao e Gestao em PME, Lisboa, Gabinete de Estudos e Prospectiva Econ6rnica, 1997, p. 39.

4 Nesta perspectiva, a empresa e considerada como objecto de analise aut6nomo. E analisada como urn

sistema organizacional que pressupoe urn espa<;:o interno onde se art:iculam e coordenam as diferentes fun<;:oes/ act:ividades e estrategias, mas tam bern como urn sistema relacional, onde se deflne a forma como se

(12)

EsTRATllGIAS EMPIIESAIIIAIS 1J PltOCESSOS Dll MODIJRNIZAC;Ao

processos de inovac;ao, essenciais para o reforc;o da capacidade competltlva das empresas. Isto e, considera-se

a

partida que o meio e susceptive! de possuir urn conjunto de mais valias capazes de favorecer a actividade empresarial e, em particular, de estimular o processo de modernizac;ao das empresas. Neste contexto, importa detectar quais as condic;oes existentes no espac;o/territ6rio que eventualmente possam estimular a adopc;ao de estrategias de modernizac;ao e de inovac;ao.

A alterac;ao da natureza das vantagens competitivas e o desenvolvimento de uma economia mais complexa, dinamica e baseada na informac;ao e no conhecimento, fizeram deslocar muitos dos factores de competitividade para o exterior da empresa. A existencia de urn ambiente de neg6cios dinamico, de parceixos estrategicos ou a disponibilidade de recursos humanos qualificados, por exemplo, (condic;oes espacialmente inscritas) mostram-se sem duvida fundamentais para o reforc;o da vantagem competitiva das empresas. Neste processo, as questoes territoriais ganham relevo, e a inserc;ao ou nao das empresas em meios dinamicos constitui urn elemento fundamental a ter em conta no processo de modernizac;ao.

Uma analise fundamentada destas questoes nao podera ser desligada de urn conjunto de transformac;oes mais vastas e que sem duvida se relacionam com a aftrmac;ao de urna nova est:nitura s6cio-economica saida da crise fordista. Nao podera, em particular, ser desenquadrado das alterac;oes que se verificam ao nivel das 16gicas de organizac;ao da actividade produtiva a nivel mundial e das suas implicac;oes territoriais.

Num contexto de profundas reestruturac;oes e de crescente globalizac;ao, importa ver como se estruturam as actividades a nivel mundiaP e quais as formas de articulac;ao entre os espac;os, nomeadamente entre o global eo local6

• De facto, urn

dos aspectos mais interessantes do actual processo de mudanc;a decorre da dialectica estabelecida entre o local e o globaF. Se por urn lado, se assiste a urn

5

Cf.: BENKO, Georges; LIPIETZ, Alain (Org.): As Regioes Ganhadoras. Distritos e Redes. Os Novos Paradigmas da Geografia Econ6mica, Lisboa, Celta Editores, p. 275, 1992; CASTELLS, Manuel;

HENDERSON, Jeffrey: "Techno-economic restructuring, socio-political processes and spatial

transformation: a global perspective", in Global Restructuring and Territorial Development, London,

Sage Publications, 1987, pp. 1-17.

6

Cf.: BOYER, Robert; DRACHE, Daniel; Estados Contra Mercados. Os Limites da Globalizas:lio, Lisboa, Instituto Piaget, 1996; AMIN, Ash (ed.): Post-fordism, Oxford, Blackwell, pp. 427, 1996; HARRISON, Benett: Lean and Mean. The Changing Landscape of Corporate Power in the Age of Flexibility, New York, Basic Books, 1994; BHALLA, A S.; BAHALA, P.: Regional Blocs: Building blocks or Stumbling Blocks?, London, Macmillan Press Ltd., 1997.

7

(13)

EsTRATi'lGJAS EMPRESARIAIS !-' I'IIOCI-'SSOS DE MODEI!NIZA<;Ao

crescente grau de integras:ao funcional8 entre as diversas actividades economicas a

nivel mundial, por outro, tambem se verifica urn aumento da importancia dos factores territoriais, sendo o territorio considerado como urn importante catalisador de multiplas sinergias que influenciam a propria actividade economica.

E

urn facto que estamos inseridos numa economia global. Tal como Castells refere, as dinfunicas e as decisoes ultrapassam os limites e as fronteiras de cada localidade e obedecem a urna nova logica em que o "espa<;o de fluxos"9 se sobrepoe ao "espa<;o

de lugares"10 •

No entanto, apesar de tender a predominar urn "espa<;o de fluxo"11

, com urn

caracter essencialmente abstracto, verifica-se tambem que existe urna tendencia para a concentras:ao espacial das unidades de decisao, em espas:os essencialmente urbanos12

• Este processo evidencia urna outra face deste mesmo movimento: a

tendencia para a territorializas:ao das actividades produtivas.

Esta situas:ao decorre tambem da capacidade que os proprios espas:os/territorios evidenciam no sentido de desenvolverem/ criarem urn con junto de mais-valias importantes que lhes permite intervir na propria estrutura<;ao das actividades economicas a nivel mundial. A capacidade das cidades/ regioes para gerar projectos de desenvolvimento com objectivos concretos, para negociar com empresas multinacionais, para fomentar o crescimento de empresas endogenas ou para criar condis:oes que atraem as novas fontes de riqueza, de poder e de prestigio, permite-lhes intervir neste processo de redefinis:ao das logicas de localizas:ao e de estrutura<;ao das actividades economicas a nivel mundial13

Neste processo, muitas cidades e regioes converteram-se em importantes polos de inovas:ao e de eficacia14

• A obten<;ao de economias de aglomeras:ao constituiu uma

condis:ao base para o desenvolvimento de sinergias, permitindo-lhes desenvolver

8

Cf.: CASTELLS, Manuel: The Rise of Network Society, Massachusetts, , Blackwell Publishers, Inc., 1996;

GRUPO DE LISBOA: Limites

a

Competi~ao, Publicac;oes Europa-America, Lisboa, p.210, 1994;

PORTER, l.\tfichael, Competi~ao, Rio de Janeiro, Editora Campus, 1999.

9

Esta l6gica e reforc;ada pelos actuais movimentos de concentrac;ao que favorecem a criac;ao de grandes organizac;oes multinacionais, com enorme poder de decisao e inflw!ncia a nivel mundial.

10

CASTELLS, Manuel: "Technological change, economic restructuring and the spatial division oflabour", in International Economic Restructuring and the Regional Community, Aldershot, Avebury, 1987, pp. 45-63.

11

CASTELLS, Manuel: The rise of Network Society, Massachusetts,, Blackwell Publishers, Inc., 1996.

12

Cf.: PORTER, l.\tfichael: "The competitive advantage of the inner city", in Harvard Business Review, May-June, p.55-71, 1995; CASTELLS, Manuel; HALL, Peter: Las Tecn6polis del Mundo. La Formation de los Complejos Industriales del Siglo XXI, Madrid, Aliansa Editorial, 1994.

13

CASTELLS, Manuel: The Rise of Network Society, Massachusetts,, Blackwell Publishers, Inc., 1996

14

(14)

EsTilATEGIAS EMPRilSI\RIAIS E PROCilSSOS DE MODE\1\NIZM;Ao

-··-...

r:· '-internamente urn esfor<;o colectivo para a promo<_;:ao de neg6cios e dinamicas v'

1

i.i~.

·-.

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que se traduziram em vantagens econ6micas acrescidas. \ \

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Assim, para alem da constata<;ao de que existem dinamismos de natureza end6gena, o facto de este processo de reestrutura<;ao ter efeitos diferentes em cada territ6rio, refor<;a a no<_;:ao de que estamos perante urn duplo movimento:

• urna tendencia no sentido de imposi<_;:ao de decisoes estrategicas mundialmente definidas nurn espa<;o abstracto e, simultaneamente,

• a existencia de diversas dinamicas resultantes da reac<;ao dos diversos espa<;os/territ6rios

a

16gica globaP5

Deste modo, as estrutura<_;:oes espaciais resultam da articula<;ao estabelecida entre, por urn lado, as politicas e as formas de organiza<_;:ao produtiva globalmente definidas e, por outro, os atributos de cada sociedade, incluindo a sua base territoriaP6

Tendo em conta que a estrutura<;ao das actividades econ6micas resulta cada vez mais de movimentos que se gerem simultaneamente ao nivel do global e do local, importa analisar as questoes da moderniza<_;:ao empresarial

a

luz desta articula<_;:ao.

E

atraves da analise do sistema de rela<;oes estabelecido privilegiadamente entre estes dois niveis, que importa verificar a posi<_;:ao das empresas em estudo, e sobretudo, o modo como estas rela<;oes influenciam as suas estrategias em termos de moderniza<_;:ao e de inova<;ao.

Tal como foi referido anteriormente, para se analisar o comportamento inovador das empresas importa ter em considera<;ao a sua inser<;ao nurn enquadramento especifico, o qual integra nao apenas a posi<;ao da empresa face ao sistema global em que esta inserida, mas tambem o seu espa<;o relacional mais restrito. Repensar a organiza<_;:ao industrial e compreender os pre-requisites sociais da ac<_;:ao econ6mica pressupoe a apreensao do contexto / espa<;o em que os processes produtivos se inserem, as condi<_;:oes da sua genese e do seu funcionamento.

A analise das mudan<_;:as produtivas exige, assim, que se tenha em conta nao apenas a 16gica interna de funcionamento dos processes produtivos mas tambem o seu contexto, isto e, os factores sociais, culturais e institucionais que constituem as condi<;oes territorialmente situadas destes processes produtivos17

• Explicar os

15

Esta reac<;:ao efectua-se em fun<;:ao das experiencias, das actividades econ6micas, culturais e po!iticas localmente baseadas, dando ao espa<;:o wn sentido historicamente condicionado.

16

Cf.: BARQUERO; Antonio Vazquez: Desarrollo, Redes e Innovaci6n. Lecciones sobre Desarrollo End6geno, Madrid, Ediciones Piramide, 1999; CAS1ELLS, Manuel: "Technological change, economic restructuring and the spatial division of labour", in International Economic Restructuring and the Regional Community, Aldershot, Ave bury, 1987, pp. 45-63.

17

(15)

EsTRATEGIAS EMPRESARIAIS 1.! I'ROCESSOS DE MODERNIZA<",:Ao

dinarnismos econ6rnicos e analisar os processos de moderniza<;ao empresarial pressupoe tambem a apreensao da dimensao territorial/ espacial em que os processos produtivos se inserem, as condi<;oes da sua genesee funcionamento18

Estas sao algumas das questoes que dao corpo a este trabalho de investiga<;ao e que podem ser sintetizadas em torno de um objectivo central:

Analisar o processo de moderniza<;ao empresarial, tendo particularmente em conta as condicionantes e o seu enquadramento especifico, isto

e,

a envolvente global e as interac<;oes locais.

Sendo a moderniza<;ao empresarial uma questao complexa, condicionada por multiplos factores, a sua operacionaliza<;ao requer uma segmenta<;ao de diferentes niveis de amilise. Estes constituem os objectivos especificos deste trabalho, a saber:

a) uma analise macro que tenha em conta as transforma<;oes que actualmente se verificam no sector industrial do cal<;ado a nivel mundial e as suas implica<;oes nas estrategias empresariais,

b) uma analise meso de modo a avaliar de que forma o espa<;o / territ6rio de inser<;ao das empresas estimula ou condiciona os processos de moderniza<;ao empresarial,

c) uma analise micro que permita identificar as inova<;oes promovidas no interior das empresas e as principais fontes de informa<;ao e condicionantes deste processo.

18

(16)

EsTRATEGIAS EMPRESARIAIS E I'ROCESSOS D£'. MODERNIZAt;Ao

3.

Op~oes

metodol6gicas

3.1. Correntes te6ricas utilizadas

A analise das questoes da modernizac;ao empresarial, necessitam se ser enquadradas numa perspectiva mais ampla, decorrente das actuais transformac;oes que se verificam no contexte s6cio-econ6mico safdo da crise fordista. De facto, para uma melhor percepc;ao deste processo torna-se necessaria realizar uma abordagem que simultaneamente integre:

a) uma analise retrospectiva sobre o fordismo e sobre as condic;oes que ditaram o seu declinio,

b) uma visao prospectiva, no sentido de se identificar as estrategias de mudanc;a desenvolvidas pelas empresas, ja no contexte do p6s-fordismo.

No desenvolvimento destas tematicas vartas correntes te6ricas foram utilizadas. Para a caracterizac;ao do fordismo e da sua crise recorremos nao so a analise desenvolvida por Sabel e Fiore, como utilizamos as teorias produzidas pela Escola da Regulac;ao.

A abordagem desenvolvida pela Escola da Regulac;ao tern sido objecto de multiplas criticas, dirigidas em particular a forma redutora como interpreta as transformac;oes do capitalismo ap6s a Segunda Grande Guerra. No entanto, consideramos que pode trazer urn contribute importante para este trabalho, na medida em que sintetiza alguns dos pressupostos relevantes e que nos propomos destacar, nomeadamente em torno da caracterizac;ao do modelo de produc;ao subjacente ( orientac;ao para economias de esc ala, concentrac;ao da produc;ao e centralizac;ao do capital) e do seu enquadramento (contexte de relativa estabilidade e de generalizac;ao do consume de massa).

Relativamente as estrategias de saida da crise, e porque estas foram estruturadas em torno de tres vectores essenc1a1s, foram multiplas as correntes teoncas consideradas. Todavia, face a cada uma das estrategias de saida da crise consideradas, identificamos varias tendencias e diferentes perspectivas te6ricas19

, a

saber:

19

(17)

---~---·~-·-·

ESTllATi'lGJAS EMPHI!SARJAIS £'. I'ROCI!SSOS DC'. MODI!IIN IZA<;Ao

1 - Quanto as formas de organizas:ao produtiva, referimos sinteticamente duas posi<;6es teoricas, que se podem traduzir em dois cemirios distintos:

a) as teses da especializas:ao flexivel, desenvolvidas por Sabel e Fiore, que apontam para o desenvolvimento de urn sistema assente na cria<;ao de pequenas empresas ligadas em rede, integradas e concentradas em espa<;os geograficos definidos;

b) as posi<;6es teoricas de Castells e Lipietz, que referem a existenda de redes transnacionais, assentes na forma<;ao de grandes grupos economicos integrados num espa<;o global de fluxo.

2 - Quanto

a

introdus:ao de novos modelos de produ<;ao, valorizamos diferentes abordagens que correspondem a tres estrategias diferentes:

a) o modelo neotaylorista/ fordista,

b) o do modelo lean production,

c) os sistemas antropocentricos de produ<;ao.

Nesta analise, a obra de Kovacs e Castilho (Novas Modelos de Produ<;ao) constituiram uma referenda teo rica fundamental, assim como os trabalhos de Boyer, Freysenet, Coriat, Brodner, Durand, Jurens e Wobbe, por exemplo.

3 - Por Ultimo, quanto a questao espadal podem-se identificar vartas abordagens, as quais preconizam diferentes formas de estrutura<;ao do espa<;o / territorio:

a) uma refere a tendenda para a constitui<;ao de urn espa<;o de fluxo (de caracter essendalmente abstracto) que se sobrepoe

a

logica dos proprios territorios.

b) outra perspectiva de analise ref ere, em contrapartida, que existe uma tendencia para o desenvolvimento de espa<;os/territorios activos.

A analise efectuada sobre as questoes espadais, orientou-se segundo esta ultima perspectiva, a qual parte do pressuposto que as regi6es possuem uma identidade propria e uma capaddade de autonomia que lhes permite lan<;ar inidativas e ptomover o seu proprio desenvolvimento. Alguns autores de referenda orientaram a pesquisa. Refira-se por exemplo, Barquero, Beneyto, Jose Reis, R. Amaro, Mario Rui Silva, Claude Courlet, Pecqueur, Garofoli, Beneyto ou Fisher.

(18)

Saliente-EsTRATEGJAS EMPRESARIAIS F. I'ROCESSOS DE MODF.RNIZAc;Ao

se, em particular, as seguintes obras: lnovac;ao e Gestao em PME (de Victor Corado Simoes), Politicas de Restruturac;ao e Desenvolvimento Regional (trabalho de investigac;ao coordenado por Maria Joao Rodrigues e Oliveira das Neves), 0 Complexo Calc;adista em Perspectiva: Tecnologia e Competitividade (organizado por Fensterseifer) e Pequenas Empresas Y Distritos Industriales (obra de Beneyto).

3.2. Metodo utilizado

Para a analise dos processes de modernizac;ao empresarial utilizou-se o metodo de estudos de caso, porque permite realizar uma analise intensiva centrada num nillnero reduzido de empresas. Esta foi uma opc;ao deliberada, pois nao se pretendia fazer uma analise extensiva sobre os factores de modernizac;ao a nivel nacional, mas estudar as condicionantes que favorecem ou dificultam estes processes, tendo particularmente em conta o seu enquadramento espedfico.

Uma analise desta natureza requer urn estudo aprofundado sobre as multiplas forc;as que ao nivel da envolvente macro e meso limitam ou estimulam as dinamicas inovadoras das empresas. Isto s6 e possivel atraves de uma analise de natureza qualitativa, de cariz intensive que permita o cruzamento de multiplas variaveis e o recurso a diversas tecnicas de investigac;ao.

Alem disso, como as estrategias desenvolvidas pelas empresas sao frequentemente condicionadas por factores nao directamente explicitos e, deste modo, somente detectaveis a partir de analises de tipo. intensive, 0 metodo de estudos de caso

evidencia-se mais adequado.

3.3. Selec<;ao do sector e das empresas

(19)

EsTRATEGIAS EMPRESAHIAIS E I'ROCESSOS DE MODERNIZA<;Ao

este tipo de empresas ter uma irnportancia relevante na estrutura industrial nacional, mas tam bern do facto de serem bastante escassos os estudos existen tes, nomeadamente sobre os factores que condicionam as suas estrategias de moderniza<;ao.

Relativamente ao sector de actividade, privilegiou-se o sector industrial de cal<;ado. Esta op<;ao deveu-se a varios factores:

• irnportancia que este sector de actividade assume a nivel nacional e europeu.

0 sector industrial do cal<;ado tern evidenciado nos ultimos 15 anos urn grande dinamismo a nivel nacional, visivel atraves do crescirnento das exporta<;oes que, no periodo de 1976 a 96, foi de 32% ao ano. Portugal em 1996 possuia urn volume de produ<;ao de 97 milhoes de pares, representando 1% da produ<;ao mundial e 7% da produ<;ao europeia.

• grande vulnerabilidade a que esta sujeito face aos factores de mudan<;a contextuais.

Apesar do crescirnento verificado nestes ultimos anos e do relevo que actualmente possui a nivel nacional e mesmo mundial, esta industria mostra-se particularmente vulneravel face as altera<;oes do contexto macro-economico.

E

uma industria orientada maioritariamente para os mercados externos, embora ainda a sua posi<;ao concorrencial ainda nao esteja suficientemente consolidada (dependencia face ao exterior a varios niveis: pre<;o, concep<;ao, distribui<;ao e comercializa<;ao ), o que to rna mais premente este tipo de estudos.

• tipo de rela<;ao que man tern com o contexto local/ regional.

Acresce que o sector industrial do cal<;ado tern uma especificidade propria, decorrente da sua forte inser<;ao regional. As empresas deste sector estabelecem multiplas articula<;oes com o meio em que estao inseridas e muitos dos seus recursos (recursos humanos, rela<;oes de subcontrata<;ao, aprovisionamento) tern urn caracter eminentemente regional. Este facto permitiu urn melhor isolamento das vanaveis seleccionadas e consequentemente identificar com maior rigor o impacte que a natureza da envolvente tern na determina<;ao dos processos de moderniza<;ao empresarial.

(20)

EsTRATEGJAS EMPRESARIAIS E PROCESSOS DE MODERNlt.AC,:AO

• existencia de processes inovadores,

• diversidade de estrategias adoptadas e

• a sua inserc;ao geografica.

Com base nestes criterios, foram seleccionadas tres empresas bastante diferenciadas entre si e situadas em tres regioes tambem distintas: Sao J oao da Madeira (zona de grande tradic;ao empresarial ligada ao sector do calc;ado), Felgueiras (embora tambem possua uma grande concentrac;ao de empresas a sua ligac;ao ao sector do calc;ado e relativamente recente) e Zona Metropolitana do Porto (neste caso escolheu-se uma empresa situada numa zona onde nao existe uma forte actividade produtiva ligada a este sector de actividade. A empresa encontra-se assim relativamente isolada face a outras empresas do sector). A heterogeneidade de situac;oes foi procurada de modo a permitir a realizac;ao de estudos comparatives.

Por ultimo, importa referir que esta pesquisa se inseriu num projecto de investigac;ao, sobre os Novos Modelos de Produc;ao, financiado pela anterior JNICT 20

• Embora este trabalho tenha urn enfoque diferente e nao se restrinja a

uma analise centrada na caracterizac;ao dos novos modelos de produc;ao, a sua inclusao deste projecto foi fundamental. Permitiu a recolha de uma ampla informac;ao empirica, particularmente importante para a concretizac;ao deste trabalho. A possibilidade de se estabelecer, no ambito do projecto, comparac;oes com outros sectores de actividade, permitiu uma melhor identificac;ao da especificidade intrinseca ao sector industrial do calc;ado e a analise das mudanc;as tecnico-organizacionais que tern vindo a ser introduzidas, assim como as atitudes face

a

mudanc;a.

20

(21)

EsTRATEGIAS EMPRESARIAIS E I'ROCESSOS DE MODERNIZII<;AO

4. Estrutura do trabalho

Com o intuito de alcanc;:armos os objectivos propostos entendeu-se conveniente segmentar o trabalho em duas partes. Na primeira, procurou-se analisar algumas das transformac;:oes do actual contexto s6cio-econ6mico, em particular, as estrategias de saida da crise fordista desenvolvidas pelas empresas. Na segunda parte deste trabalho, procedeu-se

a

an:ilise empirica do sector industrial do calc;:ado.

Para uma melhor compreensao do actual contexto e das profundas transformac;:oes que ocorreram desde a crise dos anos 70, considerou-se conveniente realizar uma breve amilise sobre o fordismo, enquanto modelo de desenvolvimento s6cio-econ6mico, e sobre as condic;:oes que contribuiram para a sua crise. Seguidamente procedeu-se a uma caracterizac;:ao dos elementos mais significativos que compoem o actual contexto, e particularmente, as alterac;:oes que entao se tern vindo a verificar no ambiente em que as empresas se inserem.

Depois deste enquadramento, procedeu-se

a

analise das estrategtas desenvolvidas pelas empresas. Neste ambito procurou-se analisar tres grandes tendencias de mudanc;:a:

a) o estabelecimento de novas formas de organizac;:ao produtiva, em particular o estabelecimento de sistemas em rede de empresas,

b) o desenvolvimento de novos modelos de produc;:ao. Neste capitulo salientou-se tres 16gicas diferentes de gestao das actividades empresanats: o neotaylorimo

I

fordismo, o lean production e o sistema antropocentrico de produc;:ao,

c) o surgimento de novas formas de estruturac;:ao dos espac;:oslterrit6rios. A este nivel considerou-se importante referir as formas de estruturac;:ao do espac;:o

I

territ6rio, em particular, a articulac;:ao entre o processo de reestruturac;:ao das actividades produtivas e as suas implicac;:oes ao nivel do espac;:o

I

territ6rio.

Na segunda parte deste trabalho, procedeu-se

a

an:ilise empirica do sector industrial do calc;:ado. Esta foi realizada a partir de tres perspectivas distintas:

a) uma analise macro - centrada na caracterizac;:ao do sector industrial do calc;:ado a nivel mundial,

b) uma abordagem meso - orientada para a analise do funcionamento e das dinamicas do complexo produtivo do calc;:ado, e por ultimo,

(22)

EsTRATEGIAS EMPRESARIAIS E I'ROC:IlSSOS DE MODilRNIZAC;Ao

A discussao por seu turno, constituiu o suporte para a validac;ao ou nao validac;ao das hip6teses inicialmente formuladas, e consequentemente, dos pressupostos que estiveram presentes neste estudo.

(23)

ESTRAT(!GIAS EMPHESAIUAIS 1J I'HOCilSSOS Dll MODIJIINIZA<;Ao

II -

CRISE DO FORDISMO E TENDENCIAS DE MUDAN<;A

SOCIO-ECONOMICA

1. 0 Fordismo e a sua crise

Perceber as actuais transformas:oes s6cio-econ6micas e, em particular, as alteras:oes verificadas nos processos de industrializas:ao, pressupoe uma previa contextualizas:ao te6rica do fordismo.

Neste sentido, e imperioso revisitar, embora muito sinteticamente, o conceito de fordismo e caracterizar o seu modo de funcionamento, bern como as origens da sua crise para, com base nesta caracterizas:ao, se identificar as alternativas de saida da crise e, consequentemente, as estrategias de mudans:a desenvolvidas.

Muitos investigadores analisam o actual processo de mudans:a por comparas:ao com o modelo fordista. Procuram estabelecer as diferens:as ou semelhans:as e, em ultima instancia, detectar se se esta na senda de urn novo modelo de desenvolvimento significativamente diferente do anterior ou se, pelo contrario, estamos perante pequenos ajustamentos de urn modelo que perdura e que mantem a sua estrutura base21

A questao central e a de saber se estas mudan<;as particularmente complexas encerram ou nao os pressupostos de urn novo modelo de desenvolvimento.

1.1. 0 Modelo Fordista

Para urna melhor abordagem destas questoes, importa fazer uma breve referencia

a

Escola da Regulas:ao, que teoricamente desenvolveu e aprofundou a nos:ao de fordismo. 0 objectivo e fazermos urn breve apontamento sabre as teorias da regulas:ao para depois incidirmos a analise sabre o fordismo, as condis:oes que geraram o seu declinio e as estrategias de saida da crise.

21

O:tvfiN.\:tvfi, 1-fiCHALET, MADEUF: "D'une crise internationale a une crise mondiale" in Critiques de

(24)

Esl'RATEGIAS EMPHESAIUAIS E l'HOCESSOS DE MODEHNIZAc;Ao

Quanto ao significado do fordismo, existem interpretas:oes bastante diferenciadas. Duas abordagens principais poderao ser referidas:

a) urna associada as teorias francesas da regulas:ao, onde o fordismo designa urn regime de acurnulas:ao (intensivo ), com urn modelo espedfico de industrializas:ao e urn modo de regulas:ao particular (monopolista), e

b) outra associada aos trabalhos de Pi ore e Sabel, sen do o fordismo considerado como urn modelo industrial de produs:ao em serie de hens estandardizados.

1.1.1. Uma referenda

a

Escola da Regula<;ao

Depois da Segunda Guerra Mundial verificaram-se profundas alteras:oes na economia mundial. Estas vieram por em causa as teorias econ6micas tradicionais que se revelaram insuficientes para apreender as mutas:oes entao verificadas.

E

neste contexto que vao surgir varias correntes te6ricas, entre as quais importa salientar a Escola da Regulas:ao. Esta desenvolveu-se a partir do estudo dos processos de desenvolvimento s6cio-econ6mico, existentes nos periodos p6s Primeira e Segunda Guerra Mundial, assim como da alternancia das fases de crescimento e crise que caracterizou este periodo.

Esta corrente teve por base os pressupostos te6ricos da Escola da Regulas:ao22 ,

desenvolvida por urn conjunto de investigadores franceses, entre os quais podemos salientar Boyer , Alan Lipietz23

, Jacques Mistral e Omiani24, entre outros autores e,

particularmente, Aglieta com as suas obras de 197625 e 198426 •

As teorias da regulas:ao estruturaram-se, segundo Boyer, a partir de tres grandes questoes27

, a saber:

1 - Porque a passagem de periodos de crescimento regular para a instabilidade econ6mica e estagnas:ao?

22

BOYER, Robert; SAILLARD, Yves (dir.): Theorie de Ia Regulation. L'etat des Savoirs, Paris, Editions

La Decouverte, 1995.

23

Cf: LIPIETZ, Alain: Le Monde Enchante de le Valeur a Lenvol Inflationiste, Paris. Editions la

Decouverte, 1983 e LIPIETZ; Alain: "Fordisme, fordisme peripherique et metropolisation" in

CEMPREMAP, Cahiers n°8514, Paris, 1985.

24

Cf.: :MISTRAL, Jaccques; BOYER, Robert: Accumulation, Inflation, Crises, Paris, PUF, p. 197, 1978; O:MINAMI, Carlos: Le Tiers-Monde dans Ia Crise, Paris, Li decouverte, 1985.

25 AGLIET.A, Michel: Regulation et Crises du Capitalisme: L'experience des E.U., Paris, Calmann

Levy, 1976.

26

AGLIETA, Michel: Les Metamorfoses de Ia Societe Salarial, Paris, Calmann Levy, 1984

27

BOYER, Robert: "Les approches en terme de regulation: presentation et problemes de methome" in

(25)

EsTRATEGIAS EMPRESARIAIS EI'ROCESSOS DE MODERNIZA(,:t\0

2- Porque e que as fases de crescimento e crise assurnem uma intensidade e caracteristicas diferentes em varios lugares?

3 - Porque reagem as diversas economias de forma diferenciada a urn mesmo sistema internacional?

0 estudo da crise e das diferentes formas assumidas no tempo e no espa<;o conduziu os teoricos para a analise de urna problematica mais vasta: as dinamicas economicas e sociais, assim como a sua variabilidade no tempo e no espa<;o28

A constata<;ao de que certos elementos, tradicionalmente considerados como sendo caracteristicos de urn regime de acurnula<;ao, continuavam imutaveis apesar das altera<;oes verificadas, conduziu os investigadores a seleccionar outras vertentes, essas sim, determinantes do funcionamento do sistema socio-economico.

Neste sentido, os investigadores verificaram que ao Iongo do tempo os diferentes regimes de acurnula<;ao sao regulados por urn conjunto de formas institucionais. Estas, ao assegurarem determinadas rela<;oes soclats fundamentais, a compatibiliza<;ao de decisoes descentralizadas e a coerencia do regime, garantem a sua propria reprodu<;ao, impedindo a sua dissolu<;ao29

• Constataram tambem que a

reprodu<;ao e contigente, pois estas formas institucionais estao dependentes das condi<;oes historicas em que se inserem.

Para Boyer urn regime de acurnula<;ao designa urna regularidade macro-economica constatada, sendo definido como "o conjunto de regularidades que asseguram urna progressao geral e relativamente coerente da acurnula<;ao do capital, o que quer dizer que permite reabsorver ou detaler no tempo as distor<;oes e os desequilibrios que nascem permanentemente do proprio processo de acurnula<;aom0

Segundo esta teoria, o sistema economico reproduz-se gra<;as

a

existencia de urn conjunto de regula<;oes, ou seja, de "formas institucionais de procedimentos e habitos que agem como for<;as coercivas ou inovadoras, conduzindo os agentes privados a conformarem-se com tais esquemas"31

• Deste modo, a regula<;ao do

regime de acurnula<;ao passa a depender nao de urn conjunto de estrategias de livre escolha 32

, mas de formas institucionais que condicionam e dirigem as decisoes

descentralizadas dos agentes sociais.

Estas formas de regula<_;:ao incidem em particular sobre a forma<;:ao dos salarios, as modalidades de concorrencia, as formas de restri<;:ao monetaria, as formas de

28

cf. RODRIGUES, Maria Joao: 0 Sistema de Emprego em Portugal: Crise e Mutas:oes, Lisboa, D.

Quixote, 1988.

29

BOYER, Robert: La Flexibilite du Travail en Europe, Paris, La decouverte, 1986

30

BOYER, Robert: Capitalismes fin de siecle, Paris, PUF, 1986,

31 LIPIETZ, Alain: Mirages et Miracles. Problemes de L'industrialization dans le Tiers Monde, Paris,

editions la Decouverte, p.S, 1985.

32

(26)

EsTRATEGIAS EMPRESARIAIS EI'ROCESSOS DE MODEIINIZAC;Ao

Estado e as modalidades de adesao ao regime internacional. Este modelo preconiza, assim, a existencia de urn conjunto de formas institucionais, que de certo modo regulam as acs:oes tomadas individualmente e, ao mesmo tempo, as condicionam no sentido da reprodus:ao do proprio sistema.

Do conjunto das formas de regulas:ao, a regulas:ao da relas:ao salarial assume uma importancia significativa, e designa todo urn conjunto de principios33 que definem a

organizas:ao do processo de trabalho, a hierarquia das qualificas:oes, a mobilidade dos trabalhadores, a formas:ao dos salarios directos e indirectos e a utilizas:ao do rendimento salarial34

Neste enquadramento te6rico geral, os conceitos de regime de acumulas:ao, modo de regulas:ao e formas institucionais tern urn papel explicativo central.

Conceitos chave da teoria da regulas:ao

traject6rias

industriais

modos de

regulas:ao

regimes de

acumulas:ao

estruturas

hegem6nicas

Fonte: BENKO; Georges; DUNFORD, Mick p. 835

Segundo a Escola da Regulas:ao, o modo de acumulas:ao capitalista

e

visto como uma sucessao de fases de desenvolvimento macro-econ6mico regular (regimes de acumulas:ao) pautados por crises. A emergencia e a consolidas:ao de urn novo regime de acumulas:ao e das suas dinamicas espaciais sao analisados como uma

33

RODRIGUES, Maria Joao: 0 Sistema de Emprego em Portugal: Crise e Muta~oes, Lisboa, D.

Quixote, p. 35, 1988.

34 cf. analise posteriormente desenvolvida

35

BENKO; Georges; DUNFORD, 1-fick: "Structural change and spatial organisation of the productive

system: na introduction", in Industrial Change & Regional Development, London, Belhaven Press, p.8,

(27)

EsTRATEGIAS EMPIIESARIAIS E I'ROCESSOS DE MODERNIZA<;AO

mudan<;a qualitativa da organiza<;ao das for<;as produtivas no seio das relas:oes de produs:ao do capitalismo. Isto e, urn novo regime pressupoe urn modelo de industrializas:ao particular, com principios de organizas:ao do trabalho e de utilizas:ao das tecnicas, e urna correspondencia entre as mudans:as na organizas:ao das fors:as de produs:ao, novas traject6rias tecnol6gicas e a evolus:ao das rela<;:oes sociais. Esta mudan<;a e urna resposta concreta

a

formas:ao das crises no seio de urn determinado regime de acurnula<;:ao.

0 regime de acurnula<;ao surge como o resultado macro-econ6mico do funcionamento de urn modelo de regulas:ao, com base nurn determinado modelo de industrializas:ao36

E

com base neste quadro de referenda te6rico, aqui apenas esbo<;ado, que a Escola da Regulaflio interpreta o funcionamento da economia contemporanea dos paises desenvolvidos e, particularmente, o regime de acurnulas:ao existente no periodo p6s Segunda Guerra Mundial, designado de fordismo.

1.1.2. 0 regime de acumula<;ao predominante: o fordismo

Desta forma, o fordismo surge como urna categoria descritiva que sistematiza todo urn conjunto de tendencias hist6ricas de desenvolvimento do capitalismo, verificado nas ultimas decadas, nomeadamente no periodo p6s Segunda Guerra Mundial.

Segundo a Escola da Regulas:ao, o fordismo e definido como sendo o modelo de desenvolvimento dominante do p6s-guerra, o qual emergiu nos EUA, tendo sido posteriormente alargado a outros paises. Desenvolveu-se enquanto modelo de produ<;:ao bastante inovador, tendo progressivamente posto em causa as formas tradicionais de produzir (crqft prodution) e muitas industrias que a elas estavam ligadas. Assistiu-se

a

emergencia de empresas de grande dimensao, que ao substituirem as maquinas universais por equipamentos especializados (automas:ao), ao introduzirem novos processos de gestao da for<;a de trabalho, ao optarem pela estandardiza<;:ao produs:ao, conseguiram colocar no mercado produtos a pres:os tao reduzidos que os produtores locais nao podiam de alguma forma acompanhar.

Entrava-se entao na fase da produ<;ao de massa. As empresas redimensionaram-se de modo a beneficiar de fortes economias de escala e o seu principal objectivo consistia na redu<;ao substancial dos custos por unidade produzida. Tal era conseguido atraves da conjuga<;ao de varios factores:

36

LEBORGNE, Daniele; LIPIETZ, Alain: "Lapres fordisme et son espace" in CEMPREMAP n°8807,

(28)

- - - -- - - · · · · - · · - ·

EsTRATEGIAS EMPRESARIAIS E I'ROCESSOS DE MODEHNIZA<;AO

• prodw;ao de urn maior nillnero possivel de produtos estandardizados,

• aurnento da dimensao dos lotes e das series,

• utiliza<;ao de equipamentos espedalizados num numero reduzido de produtos e opera<;oes, e

• utiliza<;ao de urna mao-de-obra nao qualificada, orientada sobretudo para a realiza<;ao de tarefas muito simples e rotineiras.

Paralelamente a este processo, e sempre na senda de maiores economias de escala, caminhava-se para urna concentra<;ao da produ<;ao, atraves da integra<;ao vertical e, simultaneamente, para urna centraliza<;ao do capital. Formaram-se os grandes grupos econ6micos e integrou-se todo urn conjunto de actividades distintas entre si

que frequentemente se refor<;avam mutuamente. Esta estrategia visava fundamentalmente o fortalecimento e o alargamento do dominio de interven<;ao das empresas.

No entanto, o desenvolvimento do fordismo enquanto regime de acurnula<;ao, s6

foi possivel segundo os te6ricos da Escola da Regula<;ao, pela articula<;ao de dois

factores37

: a existencia de urn regime de acumula<;ao intensivo e a generaliza<;ao do

consurno de massa.

F oram as transforma<_;:oes verificadas ao nivel da organiza<;ao do trabalho, atraves da aplica<;ao e do aprofundamento dos prindpios tayloristas, que estiveram na base do desenvolvimento do regime de acurnula<;ao intensivo. Taylor, ao conceber urna nova forma de organizar o trabalho, baseada fundamentalmente na subdivisao de tarefas e na separa<;ao entre concep<;ao e execu<;ao, nao apenas simplificou o processo de trabalho, permitindo ganhos de produtividade acrescidos, como tambem proporcionou o desenvolvimento e a aplicabilidade do sistema automatico de maquinas, . cujo expoente maximo sao as cadeias de produ<_;:ao em serie implementadas por Henry Ford38

• Neste caso as normas e os ritmos de produ<;ao

passaram a ser incorporados no movimento das maquinas.

A aplicac;:ao dos principios tayloristas ao novo sistema tecnol6gico e industrial permitiu urn aurnento absoluto por trabalhador do capital fixo instalado e do valor criado pela for<;a do trabalho. Por outro lado, o custo unitario das mercadorias produzidas baixou, dado que o valor individual era inferior ao valor social que se formou com base no conjunto do processo de trabalho.

Ao aumento da composi<;ao tecnica do capital juntou-se esta baixa do valor unitario, permitindo ganhos de produtividade acrescidos, originando mesmo nos anos trinta urna crise de sobre-produ<;ao, dada a incapacidade do sistema em

37

AGLIETA, l\1ichel: Regulation et Crises du Capitalisme: Lexperience des E.U.; Paris, Calmann Levy,

1976.

38

AGLIETA, l\1ichel: Regulation et Crises du Capitalisme: Lexperience des E.U.; Paris, Calmann Levy,

(29)

EsTRATEGIAS EMPRESARIAIS E I'IIOCESSOS DE MODEIINIZA<;Ao

absorver os excedentes produzidos. A conjugas;ao destes dois elementos estiveram na base do regime de acumulas;ao intensivo, na medida em que permitiram incentivar o "aprofundamento da reorganizas;ao capitalista do trabalho"39

A segunda determinante (que marcou decisivamente o periodo p6s Segunda Guerra Mundial) esteve associada

a

transformas;ao das condis;oes de existenda da classe operaria 40

• Paralelamente ao aumento da produs;ao, deu-se uma extensao dos

mercados de consumo, de modo a absorver os acrescimos de produtividade. Os trabalhadores assalariados que ate aqui partidpavam na esfera capitalista apenas ao nivel da produs;ao, passaram tambem a ser integrados ao nivel da reprodus;ao.

Urn crescimento estavel, de certa forma previsivel e antedpado, generalizou-se a todos os sectores da populas;ao e particularmente aos assalariados. 0 poder de compra dos trabalhadores passou a acompanhar de muito perto os aumentos de produtividade, evitando-se a sobreprodus;ao da anterior crise. Dai que o grande elemento de diferendas;ao dos dois regimes de acurnulas;ao (p6s primeira e segunda Guerra Mundial), residiu essendalmente no facto de se ter passado de urn regime de acurnulas;ao intensiva sem consurno de massa, para urn outro com consumo de massa41

Alem disso, este processo de generalizas;ao do consumo de massa proporcionou urna antedpas;ao dos ganhos de produtividade, dado que uma parcela dos salarios era posteriormente reavida. Isto

e,

passou-se de urn regime de regula<;ao concorrendal, onde os montantes das quantidades produzidas eram ajustados

a

posteriori (ex-post), para urn sistema de regula<;ao monopolista onde a possibilidade da sua regulas;ao passou a ser integrada (ex-ante) no comportamento dos agentes42

,

permitindo desta forma uma adequa<;ao antedpada entre o crescimento da produ<;ao e a possibilidade da sua realizas;ao e, consequentemente, urn relativo equilibrio entre produs;ao e consumo.

Foi este novo modo de regulas;ao que, "ao incorporar apriori na determinas;ao dos salarios e dos rendimentos nominais urn crescimento do consumo popular

a

medida dos ganhos de produtividade"43

, tornou possivel a generaliza<;ao do regime

de acurnula<;ao intensiva com consumo de massa, ou seja o fordismo.

Deste modo, com base neste modelo de desenvolvimento alguns paises capitalistas conheceram urn novo crescimento econ6mico que durante cerca de vinte anos aumentou consideravelmente.

39 LIPIETZ, Alain: "Fordisme, fordisme peripherique et metropolisation"

in CEMPREMAP, Cahiers

n°8514, Paris, 1985.

40

AGLIETA, :Michel: Regulation et Crises du Capitalisme: Lexperience des E.U.; Paris, Calmann Levy, 1976.

41

RODRIGUES, Maria Joao: 0 Sistema de Emprego em Portugal: Crise e Muta~oes, Lisboa, D.

Quixote, p. 35, 1988.

42

SALA VISA, Isabel: "Portugal a passagem problema rica a uma regula<;:ao monopolista" in Economia e

Socialismo, no 72/73, 1987.

43

LIPIETZ, Alain: "Fordisme, fordisme peripherique et metropolisation" in CEMPREMAP, Cahiers

(30)

EsTRATEGIAS EMI'Iti!SARIAIS E I'HOCESSOS DE MODIJitNIZAC;Ao

No entanto, a sua concretiza~ao pressupunha

a

partida a conjuga~ao de duas ocorrencias:

a) o equilibria entre a taxa de crescimento da composi~ao tecnica global e o aumento de produtividade na sec~ao de hens de produ~ao, de forma a que os aumentos de produtividade justificassem os novos investimentos;

b) a sincronia entre a taxa de crescimento do con sumo de mass a e a produtividade na sec~ao de hens de consumo, para permitir uma estabilidade entre salarios e lucros44

Estas duas condi~oes, imprescindiveis para o funcionamento do modelo fordista, estabeleceram-se de modo bastante diferenciado. A primeira verificou-se segundo Lipietz miraculosamente, ou seja aleatoriamente, nao havendo nenhum tipo de ajustamento predeterminado, dai que tenda para a instabilidade,

a

medida que vai sendo mais dificil prosseguir o aprofundamento da reorganiza~ao do trabalho. A segunda condi~ao, ja foi assegurada de modo mais ou menos formal, por uma politica de regula~ao salarial45

A manuten~ao de formas estaveis de regula~ao salarial assume no modelo de

acumula~ao fordista, urn papel fundamental na medida em que asseguram a partilha

dos ganhos de produtividade entre o capital e o trabalho e a regularidade dos rendimentos46

• Do conjunto das formas estruturais mais relevantes a este nivel

pode-se referir a importancia dos contratos colectivos de trabalho, do Estado-Providencia e da legisla~ao social.

E

de salientar que estes ajustamentos nao dependem exclusivamente do estabelecimento de regula~oes ao nivel da regula~ao salarial. A propria Escola da

Regula~ao colocou em evidencia urn conjunto de outros principios de organiza~ao

que tornaram possivel o desenvolvimento deste regime de acumula~ao.

Para alem das formas de regula~ao da rela~ao salarial, o fordismo pressup6s uma maior interven~ao do papel do Estado, cuja influencia nao se reduziu aos aspectos econ6micos e politicos gerais, mas interveio tambem ao nivel produtivo, ao nivel da

protec~ao social e da regula~ao da rela~ao salarial, exercendo neste dominio urn

papel bastante acentuado, fomentando a procura global47

• Pressup6s tambem uma

forma especifica de cria~ao de moeda (a moeda de credito) e formas especificas de

44

LIPIETZ; Alain: "De la nouvelle division intemationale du travail ala crise du fordisme peripherique" in Intervention au colloque: Problemi della Rifresa Europeia e del Novo Ordine Economica lntemazionale, M6dene, 25-27 Novembro, p.25, 1982; LIPIETZ, Alain: "Fordisme, fordisme peripherique et metropolisation" in CEMPREMAP, Cahiers n°8514, Paris, 1985.

45

LIPIETZ, Alain: "Fordisme, fordisme peripherique et metropolisation" in CEMPREMAP, Cahiers n°8514, Paris, 1985.

46

LEBORGNE, Daniele; LIPIETZ, Alain: "Flexibilidade ofensiva, flexibilidade defensiva" in As Regioes Ganhadoras, Oeiras, Celta, 1994.

47

(31)

EsTRATEGIAS EMPRESARIAIS F. PllOCESSOS DE MODEilNIZA<;:t\0

rela<;oes entre empresas e bancos que permitiram as empresas incorporar melhorias continuas no seu sistema tecnico.

Por conseguinte, o fordismo enquanto modelo de desenvolvimento/regime de acumula<;ao foi caracterizado essencialmente:

• pelo desenvolvimento da produ<;ao de massa, possivel pela fabrica<;ao de hens estandardizados a partir da existencia de prindpios tayloristas de organiza<_;:ao do trabalho e de uma forte incorpora<;ao tecnol6gica,

• pelo apoio da generaliza<_;:ao do consume de massa, o qual foi possivel com o auxilio de uma forte interven<;ao do Estado e de varios outros mecanismos institucionais que procuraram regular a procura efectiva em fun<_;:ao do crescimento da produ<;ao.

1.1.3. 0 fordismo como sistema de prodU<;ao em serie

Se para a Escola da Regula<_;:ao o fordismo e considerado como urn regime de acumula<_;:ao intensive com urn modo de regula<;ao monopolista, para Fiore e Sabel48

, o fordismo designa essencialmente urn sistema econ6mico caracterizado

pelo desenvolvimento da produ<;ao em serie de hens estandardizados. Enquanto sistema econ6mico requer tambem a existencia de determinados mecanismos de regula<_;:ao que mantem o equilibria entre produ<_;:ao e consume.

0 fordismo pressup6s, segundo Fiore e Sabel, urn modelo de mudans:a tecnol6gica consubstanciado nas tecnicas de produs:ao em serie e, simultaneamente, urn modelo de estabilizas:ao do mercado. Foi com base na conjugas:ao destas duas vertentes que, segundo os autores, se desenvolveu o modelo econ6mico fordista.

Tal como para os te6ricos da Escola da Regulas:ao o fordismo s6 foi possivel pelo aparecimento de novas tecnicas produtivas. Para Fiore e Sabel a enfase e colocada no aparecimento e supremacia de urn novo paradigma tecnol6gico - a produs:ao em serie . - por contraposis:ao

a

era da produs:ao artesanal. Este tornou possivel o aumento, ate entao inimaginavel, de uma grande quantidade de hens estandardizados a pres:os que os produtores locais nao podiam competir.

Enquanto paradigma tecnol6gico pressup6s o desenvolvimento de tecnologias especializadas, as quais embora pouco flexiveis eram particularmente eficientes na produs:ao de grandes quantidades de produtos estandardizados e permitiam, porque especializadas, a substituis:ao das qualificas:oes humanas por maquinaria.

48

PIORE, l'vlichael; SABEL, Charles: La Segunda Ruptura Industrial, Madrid, Alianza Editorial, p.34,

Referências

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