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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLIMENTO SUSTENTÁVEL DO TRÓPICO ÚMIDO MESTRADO EM PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO

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NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLIMENTO

SUSTENTÁVEL DO TRÓPICO ÚMIDO

MESTRADO EM PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO

RAIMUNDO NONATO BARBOSA COSTA

ORGANIZAÇÃO DE LIDERANÇAS NO BAIRRO

DA VILINHA, IMPERATRIZ-MA, UMA

ÁREA DE OCUPAÇÃO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLIMENTO

SUSTENTÁVEL DO TRÓPICO ÚMIDO

MESTRADO EM PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO

RAIMUNDO NONATO BARBOSA COSTA

ORGANIZAÇÃO DE LIDERANÇAS NO BAIRRO DA VILINHA,

IMPERATRIZ-MA, UMA ÁREA DE OCUPAÇÃO

Dissertação de Mestrado apresentada para obtenção do grau de Mestre em Planejamento do Desenvolvimento sob a orientação da Profª. Drª. Ligia T. L. Simonian.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLIMENTO

SUSTENTÁVEL DO TRÓPICO ÚMIDO

MESTRADO EM PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO

RAIMUNDO NONATO BARBOSA COSTA

ORGANIZAÇÃO DE LIDERANÇAS NO BAIRRO DA VILINHA,

IMPERATRIZ-MA, UMA ÁREA DE OCUPAÇÃO

Dissertação de Mestrado apresentada para obtenção do grau de Mestre em Planejamento do Desenvolvimento.

Banca Examinadora

Profª. Drª. Ligia T. L. Simonian NAEA/UFPA, Orientadora

Profª. Drª. Edna Castro – Examinadora Interna NAEA/UFPA

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AGRADECIMENTOS

Aos parceiros e colaboradores os meus sinceros agradecimentos:

Ao PLADES/NAEA-UFPA e à FACIMP, pela possibilidade de ter cursado o mestrado e de estar agora apresentando a dissertação;

À Profª. Drª. Ligia T. L. Simonian, pela sua dedicação como orientadora e como grande incentivadora na elaboração desta dissertação;

Aos moradores da Vilinha, a toda a direção da Associação de Moradores e, em especial, à Srª. Maria Torquato e Washington, Tâmina, Júlio, Francisco e Srª. Laura, pela grande colaboração;

Ao Hildebrando, funcionário da INFRAERO pela sua dedicação na busca de documentos que foram muito importantes no processo da pesquisa.

Aos colegas de curso, muitos dos quais também colegas de trabalho, pela convivência e oportunidade para discussão;

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"A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás; mas só pode ser vivida olhando-se para frente".

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo apresentar uma análise sobre a problemática da organização e atuação de lideranças quanto a impasses, conquistas e melhorias da população, tendo como base uma análise do associativismo na Vilinha e o seu fortalecimento no Brasil depois 1980. O contexto da pesquisa e análise realizadas é urbano, precisamente uma área de ocupação, que veio a se constituir no bairro da Vilinha, município de Imperatriz, estado do Maranhão. Como fundamento teórico destacou-se os clássicos e também autores recentes que investigaram o fenômeno das cidades e respectivos processos de urbanização, como Marx, Weber, Castells, Rodrigues, Acevedo, Simonian e outros.

A partir da pesquisa, foram identificadas as mobilizações ocorridas no bairro por melhores condições de vida, como a política de saúde, educação e segurança, o que evidenciou os impasses entre os moradores e entre estes e o poder público, na conquista de melhorias para o bairro. Ainda, prioriza-se nesta análise as relações do movimento popular na Vilinha com o poder público municipal e até federal, destacando-se as negociações com a INFRAERO para a liberação da área para a formação territorial definitiva do bairro e, ao mesmo tempo, ressaltou-se a atuação das mulheres como lideranças na organização inicial de movimentos representativos do bairro.

Conclui-se, finalmente, que o movimento popular resultou em um trabalho importante, mas muitas vezes voltado para o assistencialismo, no que foi influenciado pela postura e atuação das igrejas. Estas se distanciaram de uma perspectiva que pudesse contribuir no sentido da formação da consciência cidadã, o que pode explicar o motivo de tantas dificuldades que o bairro continua a enfrentar, em especial quanto à infra-estrutura e ao saneamento básico.

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ABSTRACT

This work has as objective to present an analysis on the urban problem in an occupation area in the neighborhood of the Villa, municipal district of Empress, highlighting the organization forms and performance of leaderships with relationship to the conquests and improvements of the population, tends as base an analysis of the associative in the Vila and its invigoration in Brazil after the 1980. As theoretical foundation was approached the classic in the investigation of the phenomenon of the cities and urbanization process, like Weber, Castells, Rodrigues, Acevedo, Simonian and others. During the research, mobilizations were identified in the neighborhood towards better life conditions as the politics of health, education and safety, showing the impasses at the same time among the inhabitants and between these and the public power, in the conquest of improvements for the neighborhood. Another aspect that stands out in this analysis is the relationships of the popular movement in the Villa with the municipal public power and until Federal, standing out the negotiations with INFRAERO for the liberation of the area for the definitive territorial formation of the neighborhood and at the same time the presence of the woman's performance as pioneer leaderships in the organization of representative movements of the neighborhood. It is concluded finally that the popular movement developed an important work, but a lot of times gone back to the attendance, mainly developed by the performance of the Churches so that they didn't contribute to help in the conscience citizen's formation, what could be explained the reason of so much difficulties, that the neighborhood today mainly, as the infrastructure basic.

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LISTA DE SIGLAS

AIL – Academia Imperatrizense de Letras

CAEMA – Companhia de Água e Esgoto do Maranhão

CCMI – Clube Central de Mães de Imperatriz

CESI – Centro de Serviços da Indústria

CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito

CPT – Comissão Pastoral da Terra

DNER – Departamento Nacional de Estradas e Rodagens

EJA – Educação de Jovens e Adultos

FEST – Faculdade de Ensino Santa Terezinha

FUMBEAI – Federação das Uniões de Moradores de Bairros e Entidades Afins de Imperatriz

FUMBEART – Federação das Uniões de Moradores e Entidades Afins da Região Tocantina

FUNASA – Fundação Nacional de Saúde

GETAT – Grupo Executivo de Terras Araguaia Tocantins

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

INFRAERO – Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária

MIRAD – Ministério da Reforma Agrária e do Desenvolvimento

MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização

MST – Movimento Sem Terra

OP – Orçamento Participativo

PDT – Partido Democrático Trabalhista

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PFL – Partido da Frente Liberal

PL – Partido da Frente Liberal

PMI – Prefeitura Municipal de Imperatriz

PMN – Partido de Mobilização Nacional

PSMA – Posto de Saúde Maria Aragão

PT – Partido dos Trabalhadores

RCC – Renovação Carismática Católica

RCCP – Renovação Carismática Católica e Protestante

SDS – Social Democracia Sindical

SDSI – Secretária do Desenvolvimento Social de Imperatriz

STICCI – Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de Imperatriz

SUTRAN – Superintendência do Trânsito

TCI – Transportes Coletivos de Imperatriz

UEMA – Universidade Estadual do Maranhão

UFMA – Universidade Federal do Maranhão

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LISTA DE FOTOS

01 Vista área parcial de Imperatriz 35

02 Visão aérea do aeroporto e Vilinha 36

03 Vista parcial do muro que separa o Aeroporto de Imperatriz do bairro da Vilinha 39 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15-16 17 18 19 20 21 22

Rua Arame – Vilinha

Muro e portão de acesso do aeroporto para o Bairro Nova Vila Vista da fachada frontal da AMBNV

Fachada frontal da IAD, do bairro Vilinha

Entrega de certificado pela presidenta Maria Torquato, à direita

Policiais em frente ao Posto policial da Nova Vila, no dia da inauguração O PS antigo da Vilinha

A USMA atual da Vilinha

Escola Municipal S. Jorge I, na rua Arame Esgoto a céu aberto na Vilinha

Casebre de madeira e lixo jogado na Vilinha Dona Josefa

e Vitalina de tal

Frei Epifânio D’Abadia Entrada da rua do Arame

Rua do Arame em 1977 – Vilinha Primeira ICAR do bairro

ICAR definitiva do bairro

Alunos ao lado da sala de aula da escola nova

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...1

2 MOVIMENTOS SOCIAIS URBANOS – PERSPECTIVAS CONCEITUAIS ...8

2.1 A CIDADE E O MOVIMENTO URBANO DESDE A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO ... 8

2.1.1 A cidade e o processo de urbanização ...13

2.2 A EVOLUÇÃO MUNDIAL DAS GRANDES CIDADES DEPOIS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A MODERNIDADE ...15

2.3 O MOVIMENTO URBANO E SUA ATUAÇÃO NA SOCIEDADE ...20

2.4 O MOVIMENTO URBANO E A LIDERANÇA SOCIAL... .24

2.5 O MOVIMENTO URBANO E SUA ATUAÇÃO NA SOCIEDADE AMAZÔNICA ...30

3 O BAIRRO DA VILINHA: ORÍGEM, DESENVOLVIMENTO E SITUAÇÃO ATUAL ...34

3.1 AS ORGANIZAÇÕES DO BAIRRO DA VILINHA E A ATUAÇÃO DAS LIDERANÇAS ...42

3.2 AS ASSOCIAÇOES E POLÍTICAS PÚBLICAS...49

3.3 PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS DO BAIRRO ...60

4 O MOVIMENTO SOCIAL E ASSOCIATIVISMO NA VILINHA E NA CONTEMPORANEIDADE DE IMPERATRIZ ...67

4.1 AS MOBILIZAÇÕES POR MELHORES CONDIÇÕES DE VIDA ... 69

4.2 A REGULARIZAÇÃO DAS TERRAS...73

4.3 IMPASSESENTRE MORADORES E ENTRE ESTES E O PODER PÚBLICO...75

4.4 AVANÇOS QUANTO ÀS PROPOSTAS INOVADORAS...78

5 O MOVIMENTO SOCIAL E ASSOCIATIVISMO E AS RELAÇÕES COM OUTRAS INSTITUIÇÕES ...82

5.1 AS IGREJAS ...82

5.1.1 As igrejas evangélicas e sua atuação no bairro ...90

5.2 A INSERÇÃO NO MOVIMENTO SOCIAL ...93

5.3 AS RELAÇÕES COM O PODER PÚBLICO MUNICIPAL, ESTADUAL E FEDERAL ...95

6 DISCUSSÕES E CONCLUSÕES ...98

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1 INTRODUÇÃO

No âmbito acadêmico, a questão dos processos organizativos que envolvem lideranças urbanas de áreas periféricas vem sendo discutida há algum tempo. Diferente da organização política das primeiras cidades que mantiveram em grande parte a estrutura igualitária da experiência anterior (ADAMS, 1966, apud HANNERZ, 1980), no entender de Castells (2002), na sua formação o movimento social urbano teve uma ligação íntima com a expansão do capital. Ao pensar-se no Brasil, alguns autores como Machado (1995) e Rodrigues (1996) vêm investigando e analisando tais processos, a exemplo dos estudos acerca das lideranças feministas na cidade de São Paulo (SP) e do movimento de bairros de Belém (PA). Quanto às experiências das lideranças populares na cidade de Imperatriz1 (MA), tudo ainda está por ser feito, sendo esta proposta de pesquisa uma primeira tentativa nesta direção.

Neste ponto, é de se destacar as questões que norteiam este trabalho a partir da pesquisa que o subsidiou. Em termos gerais, faz-se um estudo e uma análise em uma área de ocupação que é conhecida como bairro Vilinha, cuja localização em Imperatriz se vê no Mapa 1 adiante, e especialmente, no que diz respeito à organização de lideranças quanto aos aspectos ambientais, socioeconômicos e políticos. Essa proposta implica em se proceder a uma descrição sobre o perfil político/ideológico e à atuação dos atores sociais quanto ao desenvolvimento e organização dos moradores. Evidentemente, toma-se em conta as dificuldades encontradas em âmbito local, a exemplo das tensões, impasses, conflitos e mesmo da violência e ainda de outros problemas sociais que perpassam as estratégias de luta pela conquista da terra, da moradia e de melhores condições de vida.

Outras questões mais específicas são igualmente tratadas e analisadas: 1) as possíveis modalidades de organização existentes localmente, a exemplo de associações, principalmente as direcionadas ao processo de consolidação do bairro; 2) as estratégias quanto aos objetivos e metas e as eventuais conquistas relativas ao processo da organização popular; 3) a atuação, a participação e a qualidade da participação dos atores sociais e de outras lideranças da Vilinha e mesmo da cidade enquanto contexto mais

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amplo, como também a atuação política destes envolvendo transformações da realidade da local. Estas questões contribuíram, principalmente, no sentido de revelar a complexidade da problemática privilegiada no contexto da pesquisa anteriormente proposta.

Mapa 1: Localização do bairro Vilinha e do município de Imperatriz, nos Contextos do estado do Maranhão e do país. Fonte: Instituto, 1997.

Como fundamento histórico-cultural, analisa-se neste trabalho os processos que têm engendrado os movimentos urbanos, que surgiram inicialmente na Europa como decorrência do capitalismo e, ao mesmo tempo, discutiu-se a participação política de atores sociais locais. Ainda, considera-se o envolvimento dos atores sociais que estão integrados à formação urbana, o que inclui lideranças antigas, bem como a influência que as associações de bairro e outros movimentos na luta por dias melhores têm, a exemplo do enfrentamento da violência e da desigualdade social (EDELMAN, 2003). Tem-se, nesses contextos, a urbanização crescente, o que foi abordado por Castells (2002), dentre outros autores; o mesmo tem sido posto por autores que estudam esse fenômeno na Amazônia.

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construção da Rodovia Belém-Brasília – BR 010, embora existisse enquanto ocupação urbana desde o século XIX. De acordo com Sanchez (2002), Imperatriz teve seus momentos de apogeu durante o domínio da economia extrativista de fins do século XIX e início do século XX, mas tornou-se famosa pela sua localização estratégica na pré-Amazônia, especialmente desde a construção dessa rodovia.

Desde então, essa cidade se constituiu em foco de migrações oriundas de outras regiões do país, o que transformou a sua paisagem – de uma urbanidade cabocla em um pólo socioeconômico regional, isso para além dos problemas sociais que preocupam seus habitantes e eventualmente as autoridades locais. Estes problemas surgem exatamente com a expansão desordenada de bairros em toda a periferia da cidade, na maioria das vezes através da ocupação, como é o caso da Vilinha. Mas, como é de se ressaltar, tal modalidade de expansão constitui-se em fenômeno bastante disseminado na Amazônia pós-1970 e de outras regiões do país e do mundo (RODRIGUES, 1988; SIMONIAN, 2002). Conseqüentemente, esse processo organizativo e mesmo os bairros em questão, são muito marcados por tensões, conflitos e violência e por uma desigualdade social acentuada.

Também, tais desdobramentos dificultam uma sofisticação desse processo de organização em âmbito local, embora nas esferas mais amplas como nas cidades grandes e nas metrópoles, ou mesmo no contexto internacional, o surgimento de redes – sociais e/ou digitais – tende a fortalecê-lo2. Nesta perspectiva e no entendimento de Warren (1996), nos anos iniciados em 1990, os movimentos sociais passam a se consolidar a partir dessas mesmas redes. Por certo, o surgimento dos fóruns sociais regionais e mundiais, o que se constitui em um fenômeno intrinsecamente globalizado, é sintomático das transformações quanto aos movimentos urbanos, que cada vez mais passam a incorporar as redes como estratégia organizativa.

Do ponto de vista da metodologia, trabalhar-se-á com levantamentos bibliográficos, documentais e de imagens, com observação participante, o que inclusive implicará em realização de entrevistas semiestruturadas, em aplicação de questionários e em produção de imagens. Além de uma experiência pessoal na Vilinha, em Imperatriz (MA),3 autores como Edwards (1991), Malinowski (1967), Oliveira (1996) e Thompson (2000) estão dentre os

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A discussão em torno das experiências de redes sociais e/ou digitais perpassa muitos segmentos da academia, principalmente os que discutem questões que envolvem relações sociais (GRZYBOWSKI, 2001; WARREN, 1996).

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que serviram de base para a produção de evidências para que se chegasse a uma caracterização e análise acerca da organização dos atores sociais e das lideranças do bairro desse bairro. Nesse sentido, a perspectiva metodológica pautou-se pela interdisciplinaridade, mas também por orientações provenientes de áreas específicas do conhecimento.

A pesquisa teve como base alguns documentos históricos importantes: a) Algumas literaturas sobre a cidade de Imperatriz;

b) Os livros tombos de algumas paróquias e, principalmente, o da paróquia Sagrada Família do bairro da Vilinha, juntamente com um álbum de fotos antigas. Esses recursos tornaram-se instrumentos fundamentais para este trabalho.

c) Reportagens do Jornal O Progresso,4 de 1999 a 2005, que são chamadas de fontes documentais; aliás, assim Thiolent (1988, p. 64) se manifesta: “[...] no que diz respeito às informações já existentes, diversas técnicas documentais permitem resgatar e analisar o conteúdo de arquivos ou de jornais”. Especificamente, tais fontes contribuíram para a análise da realidade política econômica e social de Imperatriz e do bairro da Vilinha. d) O acesso ao Mapa Digital urbano de Imperatriz que foi cedido pela Prefeitura Municipal de Imperatriz – PMI, em 2004;

e) Pesquisas no IBGE local e nacional, através da Internet e também na Fundação Nacional de Saúde – FUNASA, de Imperatriz.

f) A aplicação de formulários abertos (em anexo), pois como foi abordado, quase não se encontrou literatura suficiente sobre o tema em estudo.

Por isso, foi necessário recorrer à metodologia da historia oral, método importante para conhecer comunidades e suas histórias. Segundo Thompson (2002, p. 47) “[...] o mundo é antigo, mas o futuro brota do passado”. Portanto, sua importância fundamental está em identificar as raízes antigas e repensar os valores históricos da comunidade.

Nestes termos, há de se investigar e mapear os atores sociais mais fundamentais quanto aos interesses da maioria, conhecer as raízes da história de um povo de uma comunidade. “Ela dá atenção especial aos ‘dominados’, e aos excluídos da história (mulheres, proletários, marginais etc.) [...]. [...] é inovadora por suas abordagens, que dão preferência a uma ‘história vista de baixo’” (FERREIRA, 1998, p. 4). Também, a aplicação de formulários abertos se constitui ao mesmo tempo em entrevistas, que não é somente uma simples conversa, mas um diálogo de amigos, “[...] tudo o que interessa é fazer o

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informante falar [...]” (THOMPSON, 2002, p. 271). Assim, a aproximação e o contato com os moradores dependem da empatia e da confiança, o que há de ser buscado de modo ético por parte do pesquisador.

No que diz respeito à organização dos capítulos, discute-se no Capítulo 2, o referencial teórico, que sustenta a análise dos dados produzidos em campo. Inicia-se essa discussão pela análise dos dados sobre a cidade, sua origem e como se formou no decorrer dos tempos. Então, trata-se dos processos de desenvolvimento urbano a partir da revolução industrial depois da crise do feudalismo e do desenvolvimento do capitalismo, quando as cidades se fortalecem. Trabalha-se, a seguir, a aceleração do processo de urbanização, bem como quanto aos problemas e conseqüências que ocorreram, principalmente na Europa.

Muitos autores são destacados nesse sentido, a começar pelos clássicos como Weber (1987), que em sua obra sobre a cidade fez um paralelo histórico definindo os grandes centros urbanos naquela época como “aglomeração”, tendo por base de sustentação a indústria e o comércio e não mais a agricultura. Ainda, Castells foi um dos pioneiros a estudar os movimentos sociais a partir da França, Espanha e Chile. Para ele, “[...] o movimento social urbano era um movimento que tinha origem em uma crise resultante da contradição entre o consumo e a produção; entre o capitalismo e a necessidade de reprodução da força de trabalho” (MACHADO, 2002, p. 33). Nesta linha de pensamento, importa que se considere Marx e Engels (1974), pois em sua obra ‘A Ideologia Alemã’ analisaram a cidade como um mercado, onde sua população constitui o “exército de reserva” que a burguesia necessita.

Também, se faz uma análise sobre a evolução das grandes cidades depois da revolução industrial e da modernidade com os seus problemas peculiares, como, por exemplo, o aumento da população mundial que hoje chega a um total de seis bilhões de habitantes em constante crescimento. Este fato é analisado a partir das conseqüências que trouxe a modernidade, como a desigualdade social que em vez de diminuir continua aumentando em todo o mundo, principalmente nos paises emergentes. Diante disso, surgem modalidades diversas de movimentos sociais que atuam hoje nas cidades como modos de superação dos diferentes limites oriundos da urbanização e atuando na luta por melhoria das condições de vida da população.

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Eliene Jaques Rodrigues que descreve a realidade do movimento urbano na cidade de Belém; Maria Luiza de Souza que pesquisou o movimento urbano, a partir das camadas mais populares; Elenaldo Teixeira, pesquisador baiano que em sua pesquisa aborda a questão do “Local e o Global” enquanto espaço para ação de lideranças e atores sociais. Por último, este capítulo analisa o movimento urbano e sua atuação na Amazônia, analisando a formação de cidades desde o período colonial ate hoje, observando os vários problemas e conseqüências decorrentes da urbanização e a consolidação das cidades na Amazônia.

No Capítulo 3, segue uma discussão acerca dos processos de crescimento das cidades e das tantas possibilidades de organização social, principalmente os ligados à emergência de lideranças e de outros atores sociais que se tem mobilizado nesses loci, em especial a partir dos bairros. Precisamente, discute-se o contexto histórico e cultural de Imperatriz que começa a se destacar no cenário nacional depois da construção da rodovia Belém-Brasília nos anos iniciados em 1960, e em particular da Vilinha. Pelo que se verá, este bairro surge em decorrência desta situação econômica e social que por sua vez se constitui em cenário para a intervenção de atores sociais diversos, de lideranças etc.

E, em seguida faz-se uma análise do contexto social, político e econômico em que surge o bairro da Vilinha a partir da década de 1970, com uma característica popular de todos os centros urbanos, que é a luta por um pedaço de terra para morar e trabalhar na cidade, através das varias opções que ela oferece. No caso de Imperatriz, observam-se os três primeiros ciclos que motivaram muita gente a vir trabalhar aqui na região. Foram os ciclos da agricultura, da pecuária e da madeira nos 1970-1980, que fizeram aumentar vertiginosamente a população de Imperatriz e a criação de vários bairros, como o da Vilinha e outros.

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No Capítulo 4, o movimento social e o associativismo na Vilinha e na contemporaneidade de Imperatriz, estão dentre as questões estudadas, a começar pela análise do associativismo no Brasil, como um processo que se fortaleceu a partir da redemocratização do país em 1980 e das ações populares no bairro. Em seguida, faz-se uma discussão sobre a atuação das Igrejas quanto ao trabalho do assistencialismo e, muitas vezes, da acomodação quanto ao enfrentamento da violência e orientação para o exercício da consciência cidadã. Também, muitos questionamentos foram feitos quanto às soluções ou saídas diante dos problemas da cidade e da urbanização e da consciência cidadã, conforme a orientação de Demo (2000) e depois de uma análise critica quanto às formas de atuação de lideranças no bairro e quanto aos novos paradigmas da liderança na modernidade.

No Capítulo 5, faz-se uma análise sobre a relação que se estabelece entre as associações locais, ou seja, da Vilinha, e as outras instituições, como o poder público municipal, estadual e federal e, principalmente, quanto à atuação dos sindicatos, federações de trabalhadores e das igrejas católica e protestante. Revela-se que estas, na sua ação assistencialista e muitas vezes contraditória, tiveram um papel preponderante na consolidação do bairro. De todo modo, as evidências apontam para um desdobramento contraditório, precisamente, o da fragilização da organização social local.

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2 MOVIMENTOS SOCIAIS URBANOS – PERSPECTIVAS

CONCEITUAIS

Ante a crise persistente do capitalismo mundial em sua versão neoliberal, a questão dos movimentos sociais emerge como das mais importantes na atualidade. Esta importância se sobressai nos contextos urbanos, pois é na cidade que vive cerca de 50% da população mundial (INOGUCHI, NEWMAN, PAOLETTO, 1999), embora nas regiões mais densamente povoadas, este percentual chegue a 60% e 80%. Também, essa realidade é encontrada na Amazônia brasileira, em especial a partir dos anos iniciados em 1970, ocasião em que a concentração populacional nas cidades dissemina-se inclusive envolvendo processos socioeconômicos violentos e destrutivos de natureza ambiental.

2.1 A CIDADE E O MOVIMENTO URBANO DESDE A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO

Historicamente, percebe-se que a cidade é um espaço construído depois da revolução agrícola do neolítico e que servia como político, religioso, comercial e de armazenagem. Para Oliveira (1966, p. 65), “A humanidade inicia o caminho da urbanização a partir do momento em que o homem paleolítico abandona a caverna e inicia, com suas próprias mãos, a construção de seus abrigos”. E, conforme Arruda e Pilletti (2002, p. 11), “[...] essa mudança estava relacionada ao desenvolvimento de novas formas de produção – agricultura, criação de gado, artesanato – e processou-se em duas direções: no sentido de ampliar a posse e a propriedade individual dos bens e no sentido da transformação das antigas relações familiares”. Então, as cidades surgem pelo avanço do trabalho na agricultura.

Precisamente, a produção vai aumentando, precisa-se de local adequado para o armazenamento e de melhores condições para uma melhor acomodação dos seres humanos e de sua família. É neste sentido que Childe menciona que isso foi uma revolução que:

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No Egito e na Mesopotâmia (atual Iraque), portanto, havia condições altamente favoráveis à agricultura, condições estas, entretanto, que precisavam ser aproveitadas através de um trabalho sistemático, organizado e de grande envergadura. Talvez, por isso é que a urbanização tenha se desenvolvido antes aí e não na Palestina, Síria ou Irã.

Precisamente, ao necessitar de matérias-primas que não eram encontradas em seu território, os governantes das primeiras cidades expandem os seus tentáculos. Através dos contatos propiciados pelo comércio, vemos vários povos, vizinhos aos sumérios e aos egípcios, transformando aldeias em cidades. Segundo Campos, “[...] a junção de várias famílias deu origem às aldeias, que chegaram a ter em média 25 casas” (CAMPOS, 1989, p. 17). Isso ocorre na Síria, na Assíria, no Irã, na Palestina, em Creta e, depois, cada vez mais longe. Também, nas Américas registraram-se grandes centros urbanos, como:

Os maias e os astecas que tiveram grandes comunidades urbanas. Tical, cidade maia na Guatemala teve 3 mil construções; Dzibulchaltun, cidade maia em lucatão, teve mais de 1500 construções e Teotihuacán (atualmente cidade do México) chegou a ter cem mil habitantes. Mesmo na América Andina, os incas viveram em habitat concentrado, que podemos considerar como urbano, dada a grande divisão do trabalho que havia aí (SPOSITO, 2002, p. 19)

Uma característica importante como afirma Sposito é que as cidades neste tempo antigo, era divida em propriedades individuais em contraposição ao campo, onde as terras eram administradas em comum. Vivia-se no campo um regime mais agrícola e comunitário sem a grande especulação dos aglomerados urbanos.

Outro aspecto importante a ressaltar-se é o avanço das cidades no mundo antigo que se dá a partir da expansão do Império Romano que:

[...] estendeu-se para a Europa Ocidental, permitindo o desenvolvimento urbano em regiões habitadas por “bárbaros”. No noroeste europeu, ao norte dos Alpes, as primeiras cidades fundadas tanto no vale do Reno (hoje Alemanha), como na Britânia (hoje, Inglaterra) e Gália (hoje, França e Bélgica) são romanas. (SPOSITO, 2002, p. 22).

Nota-se, ai, portanto toda a força que o poder romano exercia com seu exército forte e saga dos seus generais, conquistando os bárbaros que já começavam a organizar as cidades e que serviu de base para toda esta expansão. Naquele tempo, a própria cidade de Roma tornou-se um grande centro urbano atingindo um grande número de habitantes e atraindo muitos povos e nações:

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habitantes. Viviam em domus – casas individuais de dois andares, ou em insulae – construções coletivas de muitos andares; os térreos eram destinados a lojas ou habitações dos nobres, e os superiores para as classes médias e inferiores. O conjunto de ruas de Roma era deficiente, por serem elas estreitas e tortuosas. Não havia iluminação pública nem coleta de lixo apesar do contingente populacional ali concentrado. [...] A rede de esgotos começo a ser implantada no século IV a.C., mas só recolhia as descargas dos edifícios públicos e das de alguns domus; o restante dos refugos era descarregado em poços negros, ou diretamente das janelas dos andares superiores dos insulae (SPOSITO, 2002, p. 23).

Observa-se que muitos foram os avanços ocorridos na antiguidade quanto ao surgimento das primeiras cidades e, ao mesmo tempo, das várias modalidades de consolidação destas em relação à organização do poder político, econômico e religioso e, também, quanto aos modos de administrar.

Entretanto, com a derrota do Império romano, no século V, houve um grande retrocesso na organização destas cidades, exatamente pela desarticulação das redes urbanas que resultou na redução do tamanho e do desaparecimento de muitas cidades. A partir do século VI, esta crise se intensifica mais com a expansão islâmica no século VII, com o que se dá através do controle de toda a atividade econômica e da navegação:

O bloqueio da navegação mediterrânica determinou o fim da atividade comercial e, portanto, dos mercadores, provocando o declínio deste papel econômico das cidades européias, e imprimindo, de vez, o caráter agrícola à Europa Ocidental, permitindo a definição, de fato, do modo de produção feudal (SPOSITO, 2002, p. 27).

Durante o Feudalismo, as cidades tomam outras formas, pois eram pequenas e muradas. A principal característica do modo de produção econômica era a agricultura, onde a terra era a única fonte de subsistência e de condição de riqueza.

No século XV, quando a burguesia mercantil supera a aristocracia feudal ao diminuir-lhes os poderes e eliminando as barreiras regionais ao comércio e com o forte avanço do mercantilismo, começam surgir cidades na Europa. Paris, Viena, Madri, Berlim, dentre outras. Por sua vez, estas foram embelezadas, ampliadas e adaptadas para ser capitais administrativas e constituíram-se em centros do poder para reproduzir de maneira ampliada o avanço do mercantilismo. E, antes de aprofundar mais o fenômeno da urbanização, faz-se necessário discutir o que é a cidade afinal, e qual a sua relação com a revolução industrial e ao mesmo tempo analisar as conseqüências da urbanização como crescente aumento das cidades.

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antiguidade clássica, cidadania tem a ver com a condição de civitas, pela qual os seres humanos, vivendo em aglomerados urbanos, contraem relações fundadas em direitos e deveres mutuamente respeitados. Posteriormente, à condição de civitas somou-se a de

polis, ou seja, o direito de os moradores das cidades participarem nos negócios públicos. A cidade moderna surge a partir da crise do feudalismo onde a economia era baseada na agricultura e na valorização da terra; e da Revolução Industrial que aconteceu na Inglaterra na segunda metade do século XVIII e encerrou a transição entre feudalismo e capitalismo, a fase de acumulação primitiva de capitais e de preponderância do capital mercantil sobre a produção. E, no decorrer do século XIX, a condição de cidadania é expandida com a inclusão de direitos de proteção do morador da cidade, contra o arbítrio do Estado. No final desse mesmo século e no início do século XX, também, a condição de cidadão expressava os direitos relacionados à proteção social, que inicialmente se vinculou aos riscos do trabalho assalariado, a exemplo do desemprego, acidente de trabalho etc. E foi apenas à posteriori que tais direitos foram estendidos ao âmbito da cidadania.

No que se refere à industrialização, a identificação de três momentos pode ajudar a melhor compreender esse processo:

a) O período de 1760 a 1850 – A Revolução se restringe à Inglaterra, a "oficina do mundo". Prepondera a produção de bens de consumo, especialmente têxteis, e a energia a vapor.

b) Período de 1850 a 1900 – A Revolução espalha-se por Europa, América e Ásia: Bélgica, França, Alemanha, Estados Unidos, Itália, Japão, Rússia. Cresce a concorrência, a indústria de bens de produção se desenvolve, as ferrovias se expandem; surgem novas formas de energia, como a hidrelétrica e a derivada do petróleo. Também, revoluciona-se o transporte com a invenção da locomotiva e do barco a vapor. Tudo isto acontece conforme certas condições como a concentração dos trabalhadores em fábricas e a radical transformação no caráter do trabalho em dois momentos: de um lado, o capital e os meios de produção (instalações, máquinas, matéria-prima) e de outro, o trabalho. A partir de então, os operários passaram a assalariados dos capitalistas (donos do capital).

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Inglaterra, onde se começou por primeiro o desenvolvimento pleno do capitalismo industrial. Mudanças estas provocadas pelo aparecimento da máquina a vapor e o fortalecimento das indústrias, pela eletricidade, o telégrafo e depois o telefone etc.

A fundação da cidade expressa a subversão da ordem feudal, na qual o camponês estava atrelado ao proprietário da terra por laços de subordinação pessoal. Por esse motivo, essa sociedade era caracterizada pela segregação dos seres humanos em estratos sociais hierarquizados. Para Weber (1987), a cidade é a pré-condição da existência do capitalismo e pressuposto de seu desenvolvimento. E este autor chega a afirmar que uma das razões de o capitalismo não ter se desenvolvido no Oriente, foi justo a ausência das cidades definidas de acordo com seu modelo. O conceito weberiano quanto à existência da cidade implica a existência de uma comunidade com alto grau de autonomia, tanto nas esferas objetiva (mercado, exército, tribunal etc.) como na subjetiva, e quanto a um "conjunto de lealdades". Ainda para o mesmo, é na cidade que os seres humanos se emancipam material e moralmente.

No entendimento de Marx e de Engels (1984, p. 62), a cidade é antes de tudo um mercado, pois nela contém “[...] a população exigida pelo aparelho produtivo e o 'exército de reserva' que a burguesia requer a fim de comprimir os salários e dispor de um ‘volante’ de mão de obra. Mercado de bens e de dinheiro (capitais), a cidade também se torna o mercado de trabalho (mão-de-obra)". E, se a cidade industrial capitalista representa o encontro de indivíduos que compartilham uma situação de libertação do sistema feudal, para Marx e Engels ela expressa as condições mais essenciais de alienação dos seres humanos. E, o mesmo afirmou que a economia urbana requer um processo prévio de divisão social do trabalho.

No caso das cidades européias da Idade Moderna, isto significou o desenvolvimento de novo padrão de exploração, que substituiu o sistema estamental pelo de classes sociais. E, se a cidade industrial capitalista representa o encontro de indivíduos que compartilham uma situação de libertação do sistema feudal, para Marx e Engels (1984) ela expressa as condições mais fundamentais de alienação da humanidade. Apesar das muitas divergências nas abordagens de Marx, Engels (1984) e Weber (1987, 1982), importa assinalar que esses autores analisaram a cidade e mostraram que, na tradição ocidental, a cidade constitui-se em ponto de convergência de processos os mais diversos.

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ocidental, como conceitos e realidades inter-relacionadas. De resto, etimologicamente as ligações são claras: civitas e polis são as raízes em distintos idiomas para expressar, ao mesmo tempo, um modo de habitar e uma forma de participar: civismo e política". Nestes termos, desde o surgimento do mundo urbano, o mesmo esteve intimamente associado ao fazer político dos seres humanos.

2.1.1 A cidade e o processo de urbanização

O termo urbanismo vem do latim "urbes", cidade. E urbanização, portanto, identifica o processo pelo qual a população urbana cresce em proporção superior à população rural; assim, não se trata de mero crescimento das cidades, mas de um fenômeno de concentração urbana. A urbanização da humanidade é um fenômeno moderno da sociedade industrializada, fruto mesmo da revolução industrial. Ao nos referirmos às cidades logo visualizamos os grandes centros em que se aglomeram fábricas e serviços, atividades necessariamente desvinculadas do produto natural da terra, este, ao contrário, objetivo principal das atividades do campo.

A discutir-se mais, Silva (1997, p. 21) trata a questão do urbanismo como fato social:

Como fato social o urbanismo expressa o fenômeno do crescimento da "urbis" ou da cidade. A atração que as cidades promovem sobre as populações originariamente rurais e o conseqüente aumento contínuo da população nos centros urbanos está na base da urbanização, conforme conceituamos anteriormente.

O urbanismo é, em suma, elemento de importante transformação das cidades, promovido através de atividades próprias, destinadas a aplicar seus princípios e realizar seus fins. A Organização das Nações Unidas – ONU define população urbana como a que reside em localidades com pelo menos 2.000 habitantes. A conceituar-se melhor o que significa a urbanização, pode-se afirmar que:

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rural (URBANIZAÇÃO, 2003, p. 12).

Ainda, observa-se o crescente aumento das cidades com a expansão da urbanização que gerou vários conflitos sociais. As cidades se desenvolvem nos dias de hoje levando em consideração não só a questão do território como principalmente face ao trinômio moradia/trabalho/ consumo dentro de uma economia capitalista existente nos países em grande parte do globo.

Uma das conseqüências da Revolução Industrial foi exatamente o desenvolvimento urbano, tendo como base o desenvolvimento do capitalismo industrial que veio revolucionar toda a realidade urbana e a organização das cidades.

Castells sugere que ao invés de se falar de urbanização, que se fale de produção social das formas espaciais, na perspectiva de apreender “as relações entre o espaço construído e as transformações estruturais de uma sociedade”. Assim não devemos apenas enxergar na urbanização que se dá via industrialização, uma acentuação da proporção de pessoas vivendo em cidades. Devemos analisá-la no contexto da passagem da predominância da produção artesanal para a predominância da produção industrial [...] ou seja, da passagem do capitalismo comercial e bancário para o capitalismo industrial ou concorrencial (CASTELLS, apud SPOSITO 2002, p. 50).

Nesse novo contexto, as cidades mudam efetivamente, recebendo novas orientações e reflexos e ao mesmo tempo se adaptam a partir destas novas possibilidades de produção, como afirma Lefèbvre (apud SPOSITO 2002 p. 51): “[...] rapidamente, as indústrias aproximaram destas cidades, transformaram o seu caráter, adaptando-o às novas necessidades”. A industrialização produziu impactos diversos sobre a realidade urbana, como se observou na Idade Média, sendo que presentemente este fenômeno se torna cada vez mais complexo.

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Também, Singer propôs que a cidade surgiu em volta do mercado e que realmente, a sua origem não se explica fundamentalmente só pelo lado econômico, mas também pelo social e pelo político:

A constituição da cidade é, ao mesmo tempo, uma inovação na técnica de dominação e na organização da produção. Ambos os aspectos do fato urbano são analiticamente separáveis, mas, na realidade, soem ser intrinsecamente interligados. A cidade, antes de mais nada, concentra gente num ponto de espaço. Parte desta gente é constituída por soldados, que representam ponderável potência militar face à população rural esparsamente distribuída pelo território. Além de poder reunir maior número de combatentes, a cidade aumenta sua eficiência profissionalizando-os. Deste modo, a cidade proporciona à classe dominante a possibilidade de ampliar territorialmente seu domínio, até encontrar pela frente um poder armado equivalente, isto é, a esfera de dominação de outra cidade. Assim, a cidade é o modo de organização espacial que permite à classe dominante maximizar a transformação do excedente alimentar, não diretamente consumido por ele, em poder militar e este em dominação política (SINGER, apud SPOSITO, 2002, p. 17-18).

Além destes aspectos citados por Weber e Singer, um aspecto importante na constituição das cidades é a atuação do poder religioso que estava ligado com o poder dominante. Isso é muito patente quando a história nos mostra que a invasão islâmica na Europa a partir do século VII trouxe muitas conseqüências na expansão das cidades, conforme já reportado.

2.2 A EVOLUÇÃO MUNDIAL DAS GRANDES CIDADES DEPOIS DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A MODERNIDADE

A época moderna inicia-se com o término da Idade Média, fixada de 1453, com a queda de Constantinopla, até o advento da Revolução Francesa em 1789, dando início à época contemporânea. A Época Moderna tem como característica principal o rompimento com as tradições seculares. Se antes havia uma resistência às mudanças, a partir deste período o novo é relevado. Tem-se a irrupção de novidades radicais e a desobrigação da transmissão dos valores tradicionais.

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tecnologias, cujas técnicas modernas são paulatinamente acolhidas com facilidade e estão num contínuo processo de mudança (SAKAMOTO, 2002). Entre as rupturas deste período, salienta-se o desapego à religião de modo a criar conceitos novos para explicar a natureza através de idéias racionais e/ou experimentos e, assim, a emancipação de várias áreas do saber (SAKAMOTO, 2002). E, desse modo, a ciência, a política, as artes e os indivíduos não serão os mesmos.

A pensar-se na época contemporânea, a partir de 1789 e, salvo alguns retrocessos provocados por correntes conservadoras, chega-se ao final do século XIX impregnados pela noção do moderno e do progresso, conceitos esses defendidos por várias instâncias do conhecimento. Os seres humanos, neste período, saem do campo para as grandes cidades, atraídos pela concentração de riquezas, pela indústria emergente com a Revolução Industrial e pelos serviços essenciais. E, neste contexto tiveram que se submeter à varias situações como um número alto de horas trabalhadas por dia, baixos salários, as paradas na produção que gerava o desemprego de muitos (SAKAMOTO, 2002). Por isso, segundo os relatos históricos muitos trabalhadores se revoltavam: uns se entregavam ao alcoolismo e outros se revoltavam contra as próprias empresas e máquinas destruindo-as.

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Quadro 1: Evolução das cidades e do n. de habitantes desde 1800 Ano

1.1 CIDADES E HABITANTES

1850 Já existiam quatro cidades com 1 milhão com 1 de habitantes. 1900 Existiam 19 cidades com + de 1 milhão de habitantes.

Existiam 141 cidades com + de um milhão de habitantes, sendo três delas com + de 3 milhões.

Existiam dez cidades com + de 10 milhões de habitantes: Tóquio (27,2 milhões), cidade do México (16,9), São Paulo (16,7), Nova Iorque (16,3), Mumbai (15,7), Xangai (13,6), Buenos Aires (11,9), Seul (11,7) Jacarta (11,5) Lagos (10,8) (3 na América Ibérica, 1 na América no Norte, 5 na Ásia e 1 na África).

Fonte: Ferrari, apud Monteiro, 2004, p. 24.

A população mundial, que já atingiu a cifra de seis bilhões de habitantes, continua crescendo, embora de modo cada vez mais desacelerado. Esse crescimento, no entanto, não é homogêneo. Em primeiro lugar, os países de economias menos desenvolvidas são os que mais contribuem para o acréscimo de pessoas, uma vez que neles o crescimento vegetativo da população é maior. Por outro lado, percebe-se que a urbanização é um fenômeno cada vez mais generalizado no mundo. Como posto por Zuquim (2002, p. 2), “Em 1960, a população urbana representava 34% da população mundial; em 1992, esse percentual saltou para 44% e estima-se que em 2025, 61,01% de toda a população mundial viva nas cidades”. E, com o crescimento e o fortalecimento das cidades e o crescimento da urbanização há a concentração dos fatores de produção.

Nelas, se produz e reproduz o capital, como também as relações sociais, e conseqüentemente são centros permanentes de conflitos sociais. As cidades medievais, por exemplo, eram os espaços de mais alta insalubridade, devido o avanço da indústria e o processo de concentração acelerada da população, o que gerou uma situação insuportável. Surgiram muitas doenças e epidemias como a peste negra. “As taxas de mortalidade na Europa Ocidental eram da ordem de 30% no começo do século XIX, e ainda de 18% em 1900” (SPOSITO 2002, p. 49). Londres, por exemplo, chegou a um milhão de habitantes em 1800, o progresso deslocou-se para o norte; centros como Manchester abrigava massas de trabalhadores em condições miseráveis.

Os artesãos, acostumados a controlar o ritmo de seu trabalho, agora tinham de submeter-se à disciplina da fábrica. Eles passaram a sofrer a concorrência das mulheres e

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1880000 Existia 20 cidades no mundo com + de 100 mil pessoas.

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das crianças. Na indústria têxtil de algodão, as mulheres formavam mais da metade da massa trabalhadora e as crianças começavam a trabalhar aos seis anos de idade. E não havia garantia contra acidente nem indenização ou pagamento de dias parados neste caso. Outro problema sério provocado pelo aumento das cidades e o avanço da urbanização foi a problemática da insalubridade.

Diante desta situação, Engels nos seus escritos sobre o problema da habitação, descreve um pouco da situação crítica que ainda hoje observamos em nossas cidades e bairros superpopulosos:

As ciências naturais modernas demonstram que os chamados “bairros insalubres”, onde se amontoam operários, constituem focos de origem das epidemias que periodicamente invadem nossas cidades. O Cólera, o tifo, a febre tifóide, a varíola e outras moléstias devastadoras esparzem os seus germes no ar pestilento e nas águas contaminadas desses bairros operários. Quase nunca desaparecem aí, se desenvolvem em forma de epidemias, cada vez que as circunstâncias lhes são propícias. Essas epidemias se estendem então aos bairros mais arejados e mais salubres em que residem os senhores capitalistas. A classe capitalista dominante não pode permitir-se impunemente o prazer de favorecer as enfermidades epidêmicas no seio da classe operária, pois sofreria ela mesma as conseqüências, já que o anjo exterminador é tão implacável com os capitalistas como com os operários [...] (ENGELS, apud MONTEIRO 2004, p. 20-21).

Por isso, buscando um ambiente menos insalubre é que a família real aqui no Brasil refugiava-se em Petrópolis, fugindo dos mosquitos e doenças da capital do Império. Mas, diante desse quadro de insalubridade e doenças, as cidades na Europa, durante o período da idade média, passaram por uma grande transformação, através do planejamento urbano, com novos formatos e com o desenvolvimento de uma melhor infra-estrutura.

No Brasil, o crescimento do número de pessoas que vive nas cidades pode ser explicado, principalmente, pelo êxodo rural. No mais das vezes, este resulta do processo de mecanização agrícola, por problemas como a concentração fundiária, pela falta da reforma agrária e pela perspectiva de melhoria das condições de vida nas cidades. Nas economias mais desenvolvidas, esse processo vinha acontecendo desde o século XIX e já está estabilizado.

Ainda, é possível pensar que o crescimento urbano, nos dias atuais, seja um fenômeno característico de países mais pobres.

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desencadeou-se um quadro de modernização de toda a economia, que elevou as cidades à posição central na vida brasileira” (ZUQUIM, 2002, p. 2).

Por outro lado, a modernização também atingiu as atividades agrárias, gerando desemprego e miséria nas zonas rurais, o que levou um grande contingente populacional do campo em direção às cidades. Esse período foi marcado por intensas migrações, tanto no sentido do campo para as cidades, como, num quadro mais amplo, dos estados e regiões de economia agrária para o Sudeste industrializado.

Este processo de modernização não levou, até os dias de hoje, à superação da pobreza e das desigualdades sociais. A grande cidade com seu crescimento desordenado, e na maioria dos casos sem planejamento, carrega consigo a contradição de construir destruindo. O descaso, a corrupção e a falta de cultura em planejar de parte dos governantes acarretam o caos urbano, que é uma das características da cidade moderna, ornamentado pela técnica e uma espécie de vaidade compulsiva de especialistas, muitas vezes, sem visão que defendem o progresso a qualquer preço. Surgem dessa maneira, problemas comuns a todos os grandes centros que já fazem parte da historia recente. As cidades mais atingidas por este caos são as grandes metrópoles dos países em vias de desenvolvimento.

A modernização aprofundou as desigualdades já existentes, geradas num passado distante, pois esteve apoiada numa maior concentração de rendas. Apesar da expansão das camadas médias, que apresentam um bom poder aquisitivo e contribuíram para a expansão do mercado consumidor, a diferença de rendimentos entre ricos e pobres é hoje muito maior. Isto, é bem verdade, vem ocorrendo desde o início do processo de modernização.

O Brasil chegou ao século XXI tendo 2,3 milhões de domicílios em mais de 16 mil favelas (70% desses domicílios estão localizados nos 32 maiores municípios do País – aqueles com mais de 500 mil habitantes), conforme dados do Perfil dos Municípios Brasileiros indicado pelo IBGE em 2003. A cidade de São Paulo concentra 378 mil domicílios em favelas (16% do total do País), sendo que a Região Sudeste como um todo reúne 59% das submoradias brasileiras (FIORILLO, 2004, p. 3).

A Fundação Getúlio Vargas – FGV divulgou, em setembro de 2003, um “ranking” de miserabilidade das cidades brasileiras com base no Censo 2000, onde detectou dez cidades do país que se destacam devido ao número maior de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza:

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Guilherme, Jordão, Belágua, Pauni, Santo Amaro do Maranhão, Guaribas, Novo Santo Antonio, Matões do Norte, Manari e Milton Brandão). Segundo a FGV, no Brasil havia em 2000 o número impressionante de 50 milhões de miseráveis (miserável entendido como aquele que não ganha o suficiente para consumir as 2.280 calorias diárias recomendadas pela Organização Mundial de Saúde, estando abaixo da linha de miséria aqueles que têm renda de menos de R$ 80,00 no Brasil) (FIORILLO, 2004, p. 5).

A Revista Veja confirmou essa realidade, ao publicar que atualmente o estado do Maranhão tem o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH e a renda per capta mais baixa do Brasil. Precisamente, “[...] metade da população não tem água encanada ou esgoto e vive abaixo da linha da pobreza” (JUNIOR, 2005, p. 40). Aliás, essa é uma realidade em muito representativa de grande parte da situação urbana no Brasil, onde o campo está esvaziando e a população se concentrando cada vez mais nas cidades.

Nesta perspectiva, há uma carência quanto ao planejamento e aos recursos disponibilizados, sendo que estes muitas vezes são desviados para favorecer grupos específicos, em detrimento dos interesses da sociedade mais ampla. Portanto, é nesse contexto permeado por contradições diversas que as classes ou os segmentos sociais investem em mobilizações e/ou organizações em busca de soluções para questões que os limitam no cotidiano e em termos de perspectiva de vida futura. Nestes termos, impõe-se uma discussão sobre os movimentos sociais urbanos.

2.3 O MOVIMENTO URBANO E SUA ATUAÇÃO NA SOCIEDADE

A problemática dos movimentos sociais em contextos urbanos é da maior complexidade, mas quanto à Imperatriz pouco se encontra em termos de literatura especializada. E, o mesmo pode ser dito quanto à organização urbana do bairro Vilinha. Mas, como fundamento teórico convém analisar a situação histórica dos movimentos urbanos que surgiram na Europa, a partir do desenvolvimento do capitalismo e, ao mesmo tempo, da origem das cidades depois da Idade média com o crescente fenômeno da urbanização.

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capitalismo e a necessidade de reprodução da força de trabalho” (MACHADO, 2002, p. 33). Neste sentido, Castells critica a atuação dos movimentos sociais quanto à transformação da sociedade em termos qualitativos, pois, muitas vezes são considerados como movimentos de protestos e não como movimentos sociais plenos.

Esta teoria foi criticada por muitos, pois hoje, devido o amadurecimento da democracia e da participação popular, os movimentos urbanos e sociais têm conseguido conquistar elementos essenciais para a mudança da qualidade de vida. Pickvance (apud MACHADO, 1995) criticou a orientação européia de como Castells classificou os movimentos sociais, esquecendo a contextualização de cada país ou região. Assim, de acordo com Machado (1995, p. 49), ele definiu os movimentos a partir de cinco categorias contextuais: “[...] condições de urbanização; ação estatal; contexto político; desenvolvimento da classe média; e condições econômicas e sociais gerais”. A partir desse processo, uma classificação nova de movimentos urbanos pode ser construída, tais como: movimentos sobre problemas urbanos, como os que tratam da infra-estrutura, da organização política etc.

Só depois com a crise urbana resultante das transformações do capitalismo é que essas associações vêm se fortalecendo em grupos maiores, como Federações etc. De agora em diante, “[...] as necessidades sociais não são unidades biológicas, mas se definem historicamente, aumentando e transformando-se à medida que se desenvolvem as forças produtivas e a partir da correlação de forças entre as classes sociais” (CASTELLS, 1980, p. 22). Compreende-se, portanto, que a associação há de surgir a partir de uma decisão livre da comunidade para que possa responder as suas necessidades e a crise social política e econômica na qual está inserida.

Ultimamente, alguns autores estão a definir os movimentos sociais urbanos a partir do terceiro mundo e também de suas crises, salientando que eles podem transformar ou reformar a sociedade, o que seria uma saída ou emancipação para as populações de baixa renda. Nestes termos, Schurman e Naerssen (MACHADO, 1995, p. 56) entendem que:

Os movimentos urbanos, então, têm como objetivo básico a melhoria da qualidade do consumo individual e coletivo, dentro de espaços locais e marginalizados. Assim sendo, achamos que uma definição adequada de movimentos sociais urbanos é a seguinte: uma organização social com uma identidade territorial, que luta pela emancipação por meio da ação coletiva.

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que defendem os atores sociais e quais aqueles que se opõem. A participação não é uma questão do pobre, do miserável, ou do marginal; é questão a ser refletida e enfrentada por todos os grupos sociais que não chegam a contribuir para com as decisões de desrespeito às suas condições básicas de existência.

Ainda a respeito, a ONU definiu em 1956, a relação comunidade e desenvolvimento, como o processo pelo qual o povo participa do planejamento e da realização de programas destinados a elevar o padrão de vida. Por certo, os fóruns sociais globais ou mundiais que vêm ultimamente sendo realizados inserem-se nessa perspectiva, mesmo que de modo tardio. E, numa conexão com a problemática da cidadania, Grzybowski (2001) assinala a formação de redes globais acerca dessa questão. Neste ponto é de se lembras que as mobilizações têm sido freqüentes e em níveis locais, regionais, nacionais e internacionais, embora como posto a pouco por Simonian (2005b), tais esforços dificilmente se traduzem em políticas e ações que beneficiem as maiorias sociais.

Como resultado do crescente êxodo rural e, conseqüentemente, com a crise urbana, tem-se o fortalecimento das associações de moradores e outros movimentos que têm sido importantes no desenvolvimento dos bairros. Segundo a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional – FASE (1984, p. 217), a associação de moradores é: “[...] uma entidade criada e dirigida pelos moradores de uma mesma localidade que, de maneira livre e consciente, decidem enfrentar os problemas ali existentes conjunta e organizadamente”. Também, observa-se as fragilidades do processo de organização que impede o avanço da organização comunitária.

E, na tentativa de contribuir com esta questão, essa mesma Federação apresenta algumas sugestões quanto à criação de uma associação de moradores:

a) a iniciativa de criação de uma associação de moradores deve estar vinculada a uma determinada luta que atraia o interesse da maioria da população; b) é necessário conversar muito sobre o que é uma associação de moradores; a cada reunião, esse assunto deve ser debatido para esclarecer e motivar a população; c) deve-se promover uma reunião ampla com o fim específico de discutir o que é uma associação, sua finalidade [...] deve-se escolher uma comissão provisória [...]; d) A comissão provisória escreve os estatutos [...] falando da finalidade da associação [...]; e) a comissão provisória também providenciará o livro de Atas [...]; f) a comissão provisória convoca a assembléia geral de fundação a partir da distribuição de edital de convocação (SOUZA, 2000, p. 218).

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Note-se, ainda, que muitas dessas fragilidades e limites dos movimentos sociais hoje se expressam em várias tendências:

a) ao corporativismo ou a manifestações de determinados grupos sociais que passam a constituir suas lutas isoladas em si mesmo, tentando retirar dos Estados e das verbas públicas o máximo proveito, sem levar em consideração a situação do povo e bem de comum de todos;

b) a tendência populista, que coloca todas as camadas sociais no mesmo barco, desconhecendo os problemas mais fundamentais da classe, como as suas contradições; c) a tendência de algumas lideranças populares ligadas a movimentos sociais e políticos, ante o costume de “obedecer a ordens” em detrimento do bem comum da própria classe. Isto é, lideranças que vivem de um modo dependente de certos políticos e que não estão preocupadas com os interesses dos outros ou da comunidade, mas somente delas mesmas e de seus patrões.

Aliás, tal realidade é muito característica da região que tem por centro Imperatriz, pois a atuação de parte significativa das lideranças políticas e de suas práticas é feita em consonância com os interesses exclusivos de partidos, do poder e/ou de interesses pessoais. Neste ponto, outros autores importantes que aqui se destaca são Schurman e Naerssen (1995). Eles tentam definir os movimentos sociais urbanos a partir do terceiro mundo e também de suas crises internas. Pickvance, um contemporâneo de Castells, contribuiu à sua teoria, principalmente, quanto à contextualização desses movimentos (MACHADO 1995). Outra contribuição importante é a de Machado (1995), que define o movimento social urbano a partir da busca de melhoria da qualidade de consumo individual e coletivo nas cidades. Rodrigues (1998) acrescenta outros aspectos dessa problemática, ao analisar o movimento urbano na área metropolitana de Belém. Ainda, essa autora descreve as mobilizações urbanas constantes, a insustentabilidade das condições de vida dos moradores que vivem na insalubridade e em tensão social continuada, além de sua situação econômica precária ou da baixa renda.

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Por sua vez, Teixeira (2002) contribui muito neste trabalho, quando em sua pesquisa aborda o Local e o Global, que ele caracteriza não como uma dualidade, mas como dois planos que têm que ser pensados de modo articulado. O poder local é entendido pelo autor como uma relação social com todos os seus componentes: organizações, grupos e movimentos. O global se refere às ações supranacionais e os efeitos da globalização na sociedade. Esse autor pesquisou em diversos paises, no sentido de explicar a participação cidadã em diversos paises e também, observa o modo como os atores sociais interagem entre si e em relação ao Estado e à sociedade política.

No contexto da pesquisa realizada em Imperatriz, observa-se que os movimentos sociais existentes no bairro da Vilinha surgem a partir de uma realidade urbana bem localizada, marcada pela luta pela posse da terra, ou seja, do espaço urbano. Por sua vez, este “[...] significa a institucionalização do espaço dos excluídos e a constante ameaça pela especulação imobiliária” (REGINENSI, 2002, p. 7). Ao analisar-se a história do país, constata-se que a origem desses movimentos situa-se nos modos de resistência à exploração a que índios e escravos eram submetidos. Mais tarde, quando da colônia e do desenvolvimento do capitalismo, a exploração da classe dominante sobre as mais pobres, a organização passou a ser um mecanismo imprescindível. Por sua vez, essa realidade se fortaleceu com a estruturação de movimentos sociais que questionam a estrutura desigual da sociedade capitalista.

No entender de Gohn, “[...] o movimento social é um conjunto de práticas sociais nas quais os conflitos, as contradições e antagonismos existentes na sociedade constituem o móvel básico das ações desenvolvidas” (GOHN, apud ALCÂNTARA, 1989 p. 12). Segundo alguns analistas, tais movimentos conforme a sua natureza e ação concreta podem assegurar lutas de caráter reformista, reacionária ou revolucionária. Isto se manifesta de acordo com a realidade social e política, na qual está inserido o movimento social. Neste sentido, é que se configura o movimento urbano que no Brasil se fortalece a partir do fenômeno da urbanização fruto do crescente êxodo rural.

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criação e a organização dos movimentos urbanos como uma possibilidade de enfretamento a esta realidade.

Dentre as principais necessidades e reivindicações das classes populares no setor urbano, merece destaque a questão da habitação, enquanto uma das necessidades básicas da existência humana, que se configura como uma problemática à medida que a lógica da acumulação capitalista impede a viabilização de sua satisfação (ALCÂNTARA, 1989, p. 13).

A questão da moradia, portanto, ainda hoje se torna uma preocupação para muita gente, principalmente, quando se trata de ocupar o solo urbano.

Nessa direção, a luta desses movimentos não se reduz somente ao acesso à terra, a um lote na zona urbana, mas também pela legalidade do mesmo e pela conquista da infra-estrutura e dos serviços essenciais. Esses, por sua vez, são elementos constitutivos importantes para a sustentabilidade dos moradores, como foi o caso da negociação entre a INFRAERO e a Associação dos Moradores do Bairro da Vilinha – AMBV. A luta dos moradores deste bairro contra a violência e para que consigam se profissionalizar são ainda importantes nesse sentido.

2.4 O MOVIMENTO URBANO E A LIDERANÇA SOCIAL

Autores diversos vêm abordando a questão dos movimentos urbanos a partir da Europa, da América Latina e do Brasil. Dentre estes, tem-se Castells (1980), Pickvance (1976), Machado (1995), Schurman, Naerssen (1995) e Cardoso (1975). Tais movimentos, no chamado ‘terceiro mundo’, como na América Latina, se realizam a partir de três orientações: “[...] a primeira constitui-se de movimentos de ocupação de terras de um tipo muito antigo, a segunda foi de movimento de consumo coletivo [...] e a terceira foram os movimentos de classe média, como o Movimento Feminista do Brasil” (CASTELLS, apud MACHADO 1995, p. 53). E, conforme Alcântara (1989), em Belém da década de 1970, se registrava casos de ocupação de terra em áreas de baixadas e periféricas, quando se fortalecia a organização de classes populares no enfretamento dos problemas urbanos. Nesta direção, Slater (1985) contribui ao criar uma nomenclatura definindo-os como “novos”movimentos sociais.

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[...]” (MACHADO, 1995, p. 57). Esses movimentos surgem no Brasil como conseqüência das transformações políticas e econômicas, especificamente a partir dos anos iniciados em 1950, mas começam a se organizar melhor a partir dos anos de 1970, porém, permanecem independentes em relação aos sindicatos e partidos políticos (MACHADO, 1995). As organizações de orientação política, que consideram as políticas públicas, começam a aparecer em pequenos grupos, como os clubes de mães ligados à ICAR através das CEB e mais as associações de classe.

Somente depois dessa mesma década, forjados pela situação econômica provocada pela ditadura, é que surge uma explosão de movimentos sociais urbanos em todo Brasil, como é o caso do movimento popular que surgiu na Vilinha, por ocasião do início do enfretamento dos problemas sociais pela organização do bairro. Souza (2000, p. 102), uma pesquisadora dessa realidade social, considera esta organização popular como: “[...] movimento popular urbano é o esforço coletivo e organizado da população pobre na tentativa de solucionar, em seu favor, as contradições engendradas pelo desenvolvimento capitalista”. A partir desta definição, pode-se compreender as características do movimento social urbano a partir das lutas pelos problemas cotidianos da cidade, como a questão da moradia, os problemas relacionados ao transporte, água, energia, educação, saúde e saneamento básico.

Foi a partir dessa organização do movimento urbano que surge os vários tipos de atores sociais e de lideranças, como foi abordado neste trabalho quando se fala da atuação de lideranças no bairro da Vilinha. Por isso, há de se abordar esta questão de modo mais aprofundado para que se tenha uma melhor análise desta realidade. Desde o começo da humanidade existe a preocupação com a questão da liderança. Alguns historiadores, como Alvritzer (2003), enunciaram que o transcurso da história humana está sujeito à ação de lideres privilegiados e que a historia dos povos é a soma das biografias dessas pessoas.

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Desde Átila, rei dos Hunos, a Hitler, senhor supremo do III Reich Nazista, a história da humanidade inscreve em suas páginas as biografias de líderes firmados no conceito do egocentrismo. Note-se que este conceito é ainda uma constante no âmbito do mundo contemporâneo, onde se observa no dia a dia o "endeusamento" ao invés da "humanização" da chamada liderança democrática. Robbins (2002 p. 304), neste sentido, define “[...] a liderança como a capacidade de influenciar um grupo em direção ao alcance de objetivos. A origem dessa influência pode ser formal, como a conferida por um alto cargo na organização. Essa posição subtende certo grau de autoridade”. Cabe, portanto, à liderança uma responsabilidade quanto à concretização da organização da comunidade.

De fato, é a partir da organização que se pode alcançar de todos os planos e projetos concernentes às melhorias do bairro. Isto esclarece como teria de ser o papel do líder ou da liderança na comunidade:

[...] é capaz de definir e estruturar o seu próprio papel e o dos seus subordinados na busca dos objetivos. Isso inclui o comportamento que tenta organizar o trabalho, as relações de trabalhos e as metas. O líder com alto grau de estrutura de iniciação pode ser descrito como alguém que “delega tarefas específicas aos membros do grupo”, “espera que os trabalhadores mantenham padrões definidos de desempenho”, e “enfatiza o cumprimento dos prazos” (ROBBINS, 2002, p. 306).

Lideranças com essas qualidades nem sempre se encontra no dia-a-dia. O que se observa na organização popular da região, principalmente quanto às associações de bairros, são lideranças em sua maioria comprometidas não com seus companheiros de luta e/ou moradores, mas com políticos cujos objetivos são escusos e não têm projetos voltados ao futuro para a comunidade.

Por isso e em tese, as lideranças teriam que estar mais abertas e mesmo se preparar para as realidades hodiernas. “A premissa básica é que, em um mundo em mudanças, os líderes eficazes devem exibir um comportamento orientado pelo desenvolvimento. Esses seriam líderes que valorizam a experimentação, buscam novas idéias e geram e implementam mudanças” (ROBBINS, 2002, p. 308). Por certo, o desenvolvimento da sociedade demanda que os seres humanos sejam agentes ativos na busca de soluções para seus problemas mais urgentes. Ainda, é importante que a liderança comunitária se preocupe com a relação existente entre desenvolvimento e sustentabilidade, o que tem sido ultimamente muito discutido.

Imagem

Foto 1: Vista aérea parcial de Imperatriz.
Foto 6: Vista da fachada frontal da AMBNV.
Foto 7: Fachada frontal da IAD, do bairro da Vilinha.
Foto 8: Entrega de certificado pela presidente Maria  Torquato, à direita. Fonte: Acervo da AMBV, 2001
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Referências

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