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O Brasil tem sido considerado um país com baixa propensão associativa, fenômeno esse ligado aos modos verticais de organização da sociabilidade política, decorrentes de um processo de colonização que constituiu uma esfera pública fraca e uma ampla esfera privada, ambas fundadas na desigualdade social. Os dados da Tabela 1 são indicativos dessa realidade. Para Avritzer (2003), a literatura sobre a sociedade brasileira se concentrou mais em pensar fenômenos como o clientelismo e o mandonismo do que o associativismo. Essa mesma condição de subordinação é muito patente no Brasil colonial: “[...] de início foi a população nativa, levada à subordinação aos colonizadores portugueses; em seguida, a população negra e também grande parte dos imigrantes europeus” (SOUZA, 2000 p. 104). Essa situação ainda hoje é verificada na trajetória e nas demandas dos movimentos sociais no Brasil.

Tabela 1: Percentual de filiação a movimentos associativos segundo o IBGE.

Pertencimento a associações 1988 1996

Associações de bairro 2,3% 2,5% Associação religiosa 3,6% 5,0% Associação filantrópica --- 0.7% Associação esportiva e Cultural 7,0% 10,9% Não é filiado 85,7% 87,9%

Total 100 100

N 25.502 22474

Fonte: Ferreira, 1999.

Os dados acima indicam níveis muito baixos de associativismo civil e tendem a negar a hipótese do crescimento das formas não privadas de associativismo. As associações voluntárias que apresentam crescimento, de acordo com a tabela acima, pertencem ao subgrupo das associações religiosas e esportivo-culturais. As associações de bairro apresentam uma porcentagem muito baixa. A partir de meados dos anos de 1970, começa a ocorrer no Brasil, o que se convencionou chamar de surgimento de ‘sociedade civil autônoma e democrática’. E esse fato esteve relacionado a fenômenos diferentes, dentre os quais o crescimento exponencial das associações civis, em especial daquelas de natureza comunitária.

Estudos mais recentes demonstram a importância da organização espontânea e autônoma da sociedade civil em grupos, movimentos e organizações sem fins lucrativos trabalhando para construir a cooperação, a participação solidária para a efetivação da democracia, promoção do desenvolvimento e da cidadania.

Diz-se que as associações civis contribuem para a eficácia e a estabilidade do governo democrático, não só por causa de seus efeitos ‘internos’ sobre o indivíduo, mas também por causa de seus efeitos ‘externos’ sobre a sociedade. No âmbito interno, as associações incutem em seus membros hábitos de cooperação, solidariedade e espírito público. [...].No âmbito externo, a ‘articulação de interesses’ e a ‘agregação de interesses’, como chamam os cientistas políticos deste século, são intensificadas por uma densa rede de associações secundárias. [...]. De acordo com essa tese, uma densa rede de associações secundárias ao mesmo tempo incorpora e promove a colaboração social (PUTNAM, 2002, p. 103-104).

Tal perspectiva varia muito, conforme as diversas regiões do Brasil. Na região pré- amazônica, o movimento social tem muito espaço para crescer, embora tenha dado passos significativos, como se reportou sobre o trabalho da AMBV. Mas, carece de uma identidade própria e livre e que diste do atrelamento partidário ou do poder público.

Essa Associação, embora tenha convocado várias mobilizações praticamente, só uma foi realizada em 2001, na frente do primeiro posto de saúde, quando todos os moradores foram mobilizados para protestar contra a saída da enfermeira encarregada do Posto, dona Lelite. Este caso será abordado mais à frente no item impasses com o poder público. De todo modo, em 2004, durante o mês de maio, aconteceu uma manifestação não planejada na rua Arame, aonde populares residentes impediram o trânsito para pressionar a PMI a consertar os buracos desta artéria, que estava provocando diversos para moradores e transeuntes. Isto vinha ocorrendo, principalmente, quando a chuva e a lama se juntavam nesses locais. Depois de alguns dias, a PMI enviou uma equipe para solucionar o problema. Pelas conversas com moradores desta rua, essa manifestação foi feita espontaneamente e não contou com apoio de outros. “[...] antes de tudo, fomos pressionados pela situação da rua que preocupava a todos [...]”, como afirmou Ana Silva (2004, entrevistas), moradora da rua Arame.

Outro caso de mobilização que já foi abordado é a questão e a luta contra a violência no bairro que resultou em várias reuniões e contatos com representantes da Secretaria de Segurança Pública de Imperatriz – SSPI, que culminou com a construção do posto policial local. Desse modo, pretendia-se contar com presença mais permanente de policiais no bairro a fim de garantir a segurança da população. Porém, depois de um ano em pleno funcionamento, o posto foi desativado devido à política de segurança estabelecida pelo novo comandante da Policia Militar local, o tenente Pedro de Jesus Ribeiro dos Reis, que substituiu o coronel Francisco Melo, mais conhecido popularmente, como Major Melo.

No entender dos moradores, esse coronel prestou bom serviço à população imperatrizense quanto à melhoria da segurança, principalmente nos bairros onde ele desenvolveu uma política de segurança em conjunto com a população o que baixou bastante o índice de criminalidade na região e a diminuição de casos de furtos de carros. Então, ele tornou-se uma liderança popular em toda a região. Por isso, resolveu entrar na carreira política se candidatando a cargo eletivo para prefeito de Imperatriz nas últimas eleições municipais, pelo PDT. Por isso, teve que se afastar de suas funções, mas foi o último mais votado no ranking de cinco candidatos. Atualmente, continua na corporação policial militar de São Luís.

Depois do Major Melo, o tenente Pedro Ribeiro começou a ser procurado pelas associações de moradores do bairro da Vilinha, onde todos procuravam explicação do fechamento dos postos policiais nos bairros. Entre uma dessas, estava a AMBV, que em

sua audiência com o tenente procurou explicações sobre o fechamento do posto policial local e, ao mesmo tempo, buscou soluções para que o posto voltasse a funcionar. Um dos representantes da direção dessa associação manifestou-se sobre a conversa que tiveram:

Ele chegou a dizer para nós que ia fechar todos os postos, pois todos tinham fins eleitoreiros, ele, já inclusive, querendo falar mal do coronel Major Melotambém alegando que não havia contingente e que a PM não tinha recursos pra isso e também ele não ia aceitar que a comunidade ficasse dando alimentação para os policiais. Então, cheguei a colocar pra ele, dizendo que o posto funcionou muito bem e que sempre forneceu alimentação para os policiais que na época nem viatura não tinha. Eu como eu tinha uma moto, chegava a disponibilizar minha moto todas às noites para os policiais fazerem a ronda onde eles faziam muito bem, e foi quando diminui a criminalidade dentro do nosso bairro, exatamente, quando o posto policial chegou a funcionar. Neste chegou a ter a permanência até de quatro policiais diuturnamente (WASHINGTON LUIS OLIVEIRA DE SOUSA, 2005, entrevista).

O tenente Ribeiro, quando se referiu à alimentação dos policiais, segundo a presidenta da AMBV, chegou a ferir algumas pessoas da Vilinha que prestavam esse serviço; apesar disto, segundo o entendimento desta liderança, eles eram bem tratados e tinham todo conforto dentro do posto policial.

De fato, os moradores esperavam que, com tal tratamento, a polícia pudesse trabalhar em favor da segurança local. Segundo os dados levantados por ocasião da pesquisa, ante o fechamento do posto policial voltou-se praticamente à situação anterior, ou seja, ao tempo do coronel Linhares, quando a violência era exacerbada. Hoje, esse índice aumentou ainda mais, tendo recomeçado os arrombamentos, os furtos de bicicletas e assaltos, inclusive, a ocorrência de casos de furto de cabos da linha telefônica, dentre outros. Porém, uma contribuição importante deu-se com a participação da PMI em programa de natureza social.

Este foi denominado Programa do Leite, que foi realizado a partir de parceria entre a AMBV e a PMI. O mesmo visava atingir as famílias mais carentes do bairro. Cadastrou- se 350 pessoas pela Associação. A distribuição era feita na associação duas vezes por semana. Mas, o programa não foi à frente, pois a distribuição desse alimento essencial ocorreu por uma semana apenas. Isso tudo, devido o desentendimento político entre o prefeito e os vereadores. Na época, alegou-se que o prefeito passava a quota do leite às lideranças de associações, o que pode ter ocorrido de modo isolado. Por isso, foi suspensa a distribuição desse alimento, sendo que a Associação até o momento não se mobilizou para reivindicar a continuidade desse Programa, apesar de ser essencial para os carentes.