Inculturação da fé cristã:
5HÀH[}HVVREUHD(YDQJHOL]DomRGRV,QGtJHQDV
David Mesquiati de Oliveira
1RESUMO
O modelo da inculturação da fé propõe uma dinâmica interessante entre as culturas e religiões, quando da evangelização. Este artigo de-IHQGHDLQFXOWXUDomRFRPRSUiWLFDWDPEpPSDUDDVLJUHMDVHYDQJpOLFDV XPDYH]TXHHVWHPRGHORIRLJHVWDGRQDV¿OHLUDVFDWyOLFDVHDLQGDVRIUH UHMHLomRSRUSDUWHGRVHYDQJpOLFRV(PJUDQGHPHGLGDLVVRVHGHYHDXP tipo de sentimento anti-católico muito característico da América Lati-na. Superando essa barreira, a inculturação é uma proposta teológica PXLWRDWXDOHUHOHYDQWHSHVHWHUVLGRDSUHVHQWDGDKiPDLVGHDQRV Trabalhamos o conceito e os passos metodológicos, bem como introdu-zimos algumas críticas sobre o modelo. O artigo faz uma ponte com a evangelização dos povos indígenas, minorias que sofrem com modelos missionários centralizadores e de mão-única.
3$/$95$6&+$9(
Modelo missionário, Religiosidade indígena, Cultura.
ABSTRACT
The pattern inculturation of faith proposes an interesting dynamic EHWZHHQFXOWXUHVDQGUHOLJLRQVZKHQUHODWHGWRHYDQJHOL]DWLRQ6RWKLV
1 David Mesquiati de Oliveira é bacharel em Economia (UFES) e Teologia
(Faculda-des EST), mestre em Teologia (Faculda(Faculda-des EST) e doutorando em teologia (PUC-5LR 3URIHVVRU GD )DFXOGDGH 8QLGD GH 9LWyULD SDVWRU GD ,JUHMD$VVHPEOHLD GH 'HXVIRLPLVVLRQiULRHQWUHRV4XpFKXDVQD%ROtYLDHQWUHH
paper defends inculturatLRQ DV SUD[LV DOVR IRU (YDQJHOLFDO &KXUFKHV VLQFHWKLVPRGHOZDVJHQHUDWHGE\&DWKROLF&KXUFKDQGLWLVVWLOOUH-MHFWHGE\(YDQJHOLFDOV7KLVEHKDYLRULVUHODWHGWRFHUWDLQDQWLFDWKROLF sentiment that characterizes Latin America Evangelicals. In overcoming this barrier inculturation is a relevant theological proposal, nonetheless ZHQHHGWRWDNHLQDFFRXQWWKDWLWZDVSUHVHQWHGIRUW\\HDUVDJR7KH paper presents the concept and the methodological steps of the pattern inculturation of faith. It also criticizes this pattern and also establishes VRPHOLQNVZLWKWKH(YDQJHOL]DWLRQRILQGLJHQRXVSHRSOHZKLFKZHUH brought to Christian faith by centralized missionary patterns.
.(<:25'6
Missionary Pattern, Indigenous Religiosity, Culture.
Introdução
Este artigo apresenta o modelo da inculturação da fé como pro-posta para a prática missionária dos evangélicos, em especial para os numerosos grupos de pentecostais. Marcados por uma evangeli-zação que pressupõe que o mundo está dividido entre cristãos e não--cristãos, entre salvos e perdidos, entre luz e trevas, é muito fácil fe-char os olhos para as riquezas que as outras culturas e religiões tem a oferecer. A inculturação da fé aponta para um núcleo (revelação de Deus na história de Israel e na pessoa de Jesus Cristo), para abre-se SDUDGLIHUHQWHVWHPDWL]Do}HVGHVVDIp$LQGDQmRDWHQGHDVH[LJrQFLDV desse mundo pluralista que demanda a interculturalidade aberta, mas representa um grande passo na valorização do outro como diferente e como interlocutor, de quem podemos aprender, inclusive sobre Deus e Sua revelação.
O modelo da inculturação
$GH¿QLomRFOiVVLFa de inculturação apresentada por Pedro Arrupe apresentava a inculturação como
a encarnação da vida e da mensagem cristãs em uma área cultural FRQFUHWD GH PRGR TXH QmR VRPHQWH HVWD H[SHULrQFLD VH H[SULPD com os elementos próprios da cultura em questão (o que ainda não VHULD VHQmR XPD DGDSWDomR PDV TXH HVWD PHVPD H[SHULrQFLD VH transforme em um princípio de inspiração que anima, orienta e uni-¿FDDFXOWXUDWUDQVIRUPDQGRDHUHID]HQGRDGHPRGRDSURGX]LU uma “nova criação”2.
-$QGUHZ .LUN FLWDQGR7KRPDV 6WUDQVN\ UHJLVWURX R VHJXLQWH ³DLQFXOWXUDomRRSHUDGLDOHWLFDPHQWHQXPµLQWHUFkPELRPDUDYLOKRVR¶ D WUDQVIRUPDomR GH XPD FXOWXUD SHOR HYDQJHOKR H D UHH[SUHVVmR GR
evangelho em termos daquela cultura”. Esse intercâmbio é dinâmico
H GHVD¿DGRU SDUD D LJUHMD$FUHVFHQWD 'DYLG %RVFK ³D HQFXOWXUDomR VXJHUHXPPRYLPHQWRGXSORKiVLPXOWDQHDPHQWHDLQFXOWXUDomRGR
cristianismo e a cristianização da cultura”. O evangelho é a Boa Nova
que nasce em cada cultura, que trás algo novo, e ao mesmo tempo, WUDQVIRUPDRFRQWH[WR
As principais marcas positivas da inculturação sãoTXDQWRDRV
agentes (não tanto o missionário, mas o Espírito Santo e a comunidade ORFDOpUHOHYDQWHORFDOPHQWHFRQWH[WRVRFLDOHFRQ{PLFRSROLWLFR UHOLJLRVRHGXFDFLRQDOHWFWHPDOFDQFHUHJLRQDOHPDFURFXOWXUDO (autóctones, favorecendo teologias locais, como asiáticas, latino-ame-ULFDQDVDIULFDQDVHWFquenótica (segue o modelo da encarnação GH&ULVWRQDVFHQGRGHQRYRHPFDGDFXOWXUDSHUPLWHH[SUHVVDURUL-ginalmente a fé (além da distinção reducionista “conteúdo” e “forma”, permitindo algo novo); e, 6) inclusividade, representando uma realida-de englobante6.
2 ARRUPE. Pedro. (FULWVSRXUpYDQJHOL]HU. 3DULV''%SS
.,5.-$QGUHZ2TXHpPLVVmR"7HRORJLDEtEOLFDGHPLVVmR/RQGULQD'HVFR-berta, 2006, p. 126.
BOSCH, David J. 0LVVmRWUDQVIRUPDGRUDPXGDQoDVGHSDUDGLJPDGDWHRORJLD
da missãoHG6mR/HRSROGR6LQRGDOS
Ver mais sobre o tema no meu livro, 0LVVmRFXOWXUDHWUDQVIRUPDomRGHVD¿RV
SDUDDSUiWLFDPLVVLRQiULDFRPXQLFDWLYD6mR/HRSROGR6LQRGDO4XLWR&/$,
2011.
Sua dimensão críticaHVWDULDQRIDWRGHTXHDIpHVXDH[SUHV-VmRFXOWXUDOMDPDLVVmRFRLQFLGHQWHV,QFXOWXUDomRQmRpGHVWUXLURDWXDO para criar algo novo nem validar acriticamente o atual. Mas como se faz isso, e com que critérios apresenta-se como fragilidade do modelo. 2) O evangelho é estranho a qualquer cultura. Ele sempre constituirá um VLQDOGHFRQWUDGLomR$RPHVPRWHPSRRHYDQJHOKRHVWiHPFDVDHP qualquer cultura e toda cultura se encontra em casa com o evangelho. 2HYDQJHOKRSRGHVHUYLVWRFRPROLEHUWDGRUGDFXOWXUDPDVWDPEpP pode tornar-se prisioneiro da cultura.
Reconhecemos que a inculturação não resolve todos os problemas QDHYDQJHOL]DomRHQHPWHPHVVDSUHWHQVmR0DVRVGHVD¿RVQD$Pp-rica Latina são tão grandes e urgentes que é preciso buscar novas solu-o}HV'LHJR,UDUUi]DYDOSRQGHUD
2VFRPSOLFDGRVGHVD¿RVLQFXOWXUDLVHLQWHUFXOWXUDLVVREUHV-saem nas cidades, mas também aparecem em cada canto da Améri-FD/DWLQDGHYLGRDRVÀX[RVPLJUDWyULRVDRLPSDFWRGRVPHLRVGH comunicação, a linhas pós-modernas, e a outros fatores. São desa-¿RVTXHVyOHQWDPHQWHVmRWRPDGDVHPFRQWDSRULQVWDQFLDVR¿FLDLV GDVLJUHMDVSHODVWHRORJLDVHSHODVHVWUDWpJLDVGHPLVVmR7HULDP que estar em primeiro lugar nas agendas eclesiais; lamentavelmente carecemos de coragem e de sabedoria8.
Um dos pioneiros e propugnadores da inculturação no Brasil foi 0DUFHOOR$]HYHGRGH&DUYDOKR(OHDGH¿QHGDVHJXLQWHIRUPD³LQFXO-turação é o processo de evangelização pela qual a vida e a mensagem cristã são assimiladas por uma cultura de modo que não somente eles H[SULPDP DWUDYpV GRV HOHPHQWRV SUySULRV GD FXOWXUD PDV YHQKDP D
constituir-se também princípios de inspiração”9.
BOSCH, David J. Missão transformadoraS
8,5$55$=$9$/'LHJR(YDQJHOLRLQFXOWXUDGR\XQLYHUVDOCiberteologia: revista
de teologia e cultura Q2XW'H]SS'LVSRQtYHOHPKWWSFLEHUWHROR-JLDSDXOLQDVRUJEUFLEHUWHRORJLDZSFRQWHQWXSORDGV HYDQJHOKRBLQFXOWX-UDGR!$FHVVRHPMDQS
9$=(9('20DUFHORGH&DUYDOKR(YDQJHOL]DomRLQFXOWXUDomRHYLGDUHOLJLRVD,Q
Inculturar, no sentido teológico, vai além da adaptação antropoló-gica e do respeito ao outro. Permite que cada cultura exprima Deus e sua mensagem a partir dos modos de ser, de pensar e de se manifestar próprios. Nesse processo, a cultura é aperfeiçoada e o evangelho enri-TXHFLGRFRPQRYDVUHÀH[}HVHFRQWULEXLo}HVGHFDGDFXOWXUD
$LJUHMDHPPLVVmRGHIURQWDVHFRPPXLWDVFXOWXUDVHVXEFXOWXUDV (FRPRIHQ{PHQRGDFUHVFHQWHXUEDQL]DomRHH[SORVmRGHPRJUi¿-ca, as cidades também se tornaram centros multiculturais. A evange-lização inculturada vai atingir não só a cultura de todo um povo, mas WDPEpPDGHXPJUXSRKXPDQR7UDWDVHGHXPSURFHVVRÀH[tYHOGH uma proposta metodológica missionária que pode aplicar-se a grupos ético-linguísticos como os povos indígenas, mas ao mesmo tempo a JUXSRVKXPDQRVFRPRMRYHQVJUXSRVundeground, trabalhadores ur- EDQRVRXUXUDLV&DGDXPFRPXPDSDVWRUDOHVSHFt¿FD4XDQWRDRRE-MHWRQD LQFXOWXUDomRTXHPVH LQFXOWXUDpDIpR HYDQJHOKR'HXV H VXDPHQVDJHP1mRpSRUWDQWRRPLVVLRQiULR(OHH[HUFHRSDSHOGH mediador, interlocutor. A inculturação não é trabalho de especialistas, PDVpDSUySULDFRPXQLGDGHVREDLQÀXrQFLDGR(VStULWR7UDWDVHGH pessoas comuns, o povo em quanto comunidade, que a partir de dentro de suas culturas iniciarão o processo. Por isso a inculturação da fé é um SURFHVVROHQWRHFRPSOH[R
Estamos diante de uma situação complicada. Diego Irarrazaval D¿UPD
É complicadíssima a proposta de evangelizar desde nossas FXOWXUDVHVHPH[FOXV}HVYDOHGL]HUXQLYHUVDOPHQWH7DOSURSRV-ta rompe pauFXOWXUDVHVHPH[FOXV}HVYDOHGL]HUXQLYHUVDOPHQWH7DOSURSRV-tas discriminatórias implanFXOWXUDVHVHPH[FOXV}HVYDOHGL]HUXQLYHUVDOPHQWH7DOSURSRV-tadas durante séculos. Os atuais processos de globalização a fazem ainda mais complica-GD([LVWHPPXLWRVREVWiFXORV3RURXWUDSDUWHEURWDPHQHUJLDV criativas. Além disso, surgem profundos questionamentos sobre FRQWH~GRVHPHWRGRORJLDVQDHYDQJHOL]DomR$¿QDOGHFRQWDVWDO proposta nos fascina e nos convoca a uma maior sintonia com o Espírito10.
1DDYDOLDomRTXHID]VREUHRHYDQJHOKRHDVFXOWXUDV-$.LUN¿-QDOL]DDVVLPVHXHVWXGR³DLQFXOWXUDomRGRHYDQJHOKRpXPLPSHUDWLYR HPTXDOTXHUDERUGDJHPPLVVLRQiULD$¿GHOLGDGHDRHYDQJHOKRpQRVVD única contribuição para o tesouro comum da sociedade. Unir esses dois numa tensão permanente e criativa, para que aprendam um com o outro, pRGHVD¿REiVLFRGDPLVVmR$VFRPXQLGDGHHFOHVLDLVHPIRUPDomR LQVSLUDGDVSHOR(YDQJHOKRSRGHUmRH[SULPLUSURJUHVVLYDPHQWHDSUy-SULDH[SHULrQFLDFULVWmHPPRGRVHIRUPDVRULJLQDLVHPFRQVRQkQFLD com as próprias tradições culturais”11.
(YDQJHOL]DomRLQFXOWXUDGD
Uma evangelização inculturada está baseada na prática de Jesus e no modo de proceder dos próprios evangelizadores. Assim, o método da evangelização não pode “contradizer nem seu conteúdo, nem sua
meta, nem seus meios ou sem processo”122GHVD¿RQRVpFXOR;;,
seria a “construção de um cristianismo deliberadamente multicultural,
ecumênico e macro-ecumênico”
+RMHDTXHVWmRHQWmRVHULDFRPRLQ-culturar a fé e não mais se se deveria adotar este modelo ou não? Temos PXLWRVGHVD¿RVHFOHVLROyJLFRVHPLVVLROyJLFRVHDTXHVWmRpSDUDGLJ-mática, para tentar responder a uma nova realidade pastoral.
0iULRGH)UDQoD0LUDQGDD¿UPDTXH³QmRVHWUDWDGHµLQFXOWXUDU¶ uma doutrina ou valores do evangelho, mas permitir que a vivência da
fé de uma comunidade eclesial se realize nessa cultura”. Ao abordar a
LQFXOWXUDomRFRQWHPSODWUrVPRPHQWRVQRSURFHVVRHSRGHVHUGH¿QLGR FRPRDUHDOL]DomRGDIpHGDH[SHULrQFLDFULVWmQXPDFXOWXUDGHWDO PRGRTXHQmRVyVHH[SUHVVHFRPHOHPHQWRVFXOWXUDLVSUySULRVWUDGX-ção) mas também se torne uma força que anima, orienta e renova esta
11.,5.-$QGUHZ2TXHpPLVVmR"S
12 BRIGHENTI, Agenor. 3RUXPDHYDQJHOL]DomRLQFXOWXUDGDSULQFtSLRVSHGDJy
JLFRVHSDVVRVPHWRGROyJLFRV6mR3DXOR3DXOLQDVS
BRIGHENTI, Agenor. 3RUXPDHYDQJHOL]DomRLQFXOWXUDGD, p. 11.
MIRANDA, Mario de França. ,QFXOWXUDomRGDIpXPDDERUGDJHPWHROyJLFD
cultura (discernimento), contribuindo para a formação de uma nova co-munidade, não só dentro de sua cultura, mas ainda como enriquecimen-WRGD,JUHMDXQLYHUVDOVtQWHVH.
No primeiro momento acontece a presença e o encontro cultural. No segundo, se estabelece o diálogo. Finalmente, se chega a uma sín-tese cultural mais rica para ambos que o estado anterior, onde ocorre a transformação. Devido á liberdade do Espírito e às contínuas transfor- PDo}HVTXHVRIUHPWRGDFXOWXUDHVVHSURFHVVRMDPDLVWHUPLQDULD/RQ-JHGHHQIUDTXHFHUDIpFULVWmRXR(YDQJHOKRHVVHSURFHVVRFRQ¿UPDR membro de um grupo social como um ator da cultura. Nessa condição,
a ação concretiza, manifesta e constitui cultura uma realidade viva16.
Dado que não lidamos com uma fé pura, desprendida de elemen-tos culturais, a fé sempre é inculturada. Mesmo o evangelho que che-gou a nós pela revelação, está impregnado de elementos culturais. Elevar uma concepção particular de cristianismo, fé ou evangelho, conferindo-lhe o status de “puro”, impediria um verdadeiro diálogo. Quando mais culturas e grupos humanos vivem a fé cristã incultura-GDHQULTXHFHPDSUySULDIpSRLVDFUHVFHQWDPH[SHULrQFLDVTXHDQWHV não viveríamos em um cristianismo do tipo monocultural. Centralizar uma visão particular (normalmente a minha visão) é um comporta-mento etnocêntrico/egoísta.
3DVVRVPHWRGROyJLFRVGDLQFXOWXUDomR
Agenor Brighenti apresenta sete passos metodológicos para por em prática um processo de inculturação e quatro princípios pedagógicos. Os quatros princípios pedagógicos fundamentais de uma evangelização LQFXOWXUDGDVmR2PpWRGRQmRSRGHFRQWUDGL]HUQHPVHXFRQWH~GR QHPVXDPHWDDLQWHQFLRQDOLGDGHGDLQFXOWXUDomRpR5HLQRGH'HXVHDV
MIRANDA, Mario de França. ,QFXOWXUDomRGDIpXPDDERUGDJHPWHROyJLFD,
S
16 MIRANDA, Mario de França. ,QFXOWXUDomRGDIpXPDDERUGDJHPWHROyJLFD,
SRVWXUDVDWLWXGHVGHYHPVHUFRHUHQWHVFRPRVYDORUHVGR5HLQRMXVWLoD DPRUHSD],QFXOWXUDomRGDLJUHMDFRPRFRQGLomRSDUDXPDLQFXO-WXUDomRGRHYDQJHOKRQmRH[LVWHLJUHMDTXHQmRVHMDLJXDOPHQWHIDWRU FXOWXUDO2FULVWLDQLVPRpHQFDUQDFLRQDOHKLVWyULFR7RGDUHYHODomR pUHFHELGDHH[SUHVVDGDVHJXQGRRPRGRGHVHXVUHFHSWRUHVDEHUWXUD para uma reinterpretação da Revelação ou uma versão de Cristianismo DSDUWLUGDVPDWUL]HVGDSUySULDFXOWXUDHLQFXOWXUDUR(YDQJHOKRD SDUWLUGDVFXOWXUDVGHGHIHVDHSURPRomRGDYLGDHYDQJHOL]DUVXMHLWRV sociais e não indivíduos, resultando em uma transformação das estrutu-ras que geram as formas sociais e culturais, abarcando a totalidade do ser humano.
De acordo com o referido autor, esses princípios condicionam determinantemente uma metodologia de evangelização inculturada. 1RDImGHDX[LOLDUQDFRQVWUXomRGHXPDLJUHMDHQFDUQDGDQRVSRYRV e nas culturas do continente latino-americana ele propõe sete passos metodológicos de um processo de inculturação, reconhecendo que não é um método único e acabado e nem simples aplicação de uma WpFQLFD$RFRQWUiULRSUHVVXS}HXPDQRYDUHODomR,JUHMD(YDQJHOKR--Cultura18.
Primeiro Passo SUHVHQoD WHVWHPXQKDO RX GH HPSDWLD LQVHUomR
gratuita e respeitosa no convívio com o outro. Preocupa-se com a vi-vência da fé e o estilo de vida digno do testemunho evangélico, que propicia o diálogo intercultural e inter-religioso. Não é uma estratégia, uma preparação, mas condição sine qua non para evangelização. O tes-temunho cristão nada mais é que transparência da Mensagem evangé-lica na própria pessoa, coerência de vida com o que se crê e anuncia, H[SHULrQFLDGHDGHVmRHUHODomRSHVVRDOFRP&ULVWRDXWHQWLFLGDGHQD vivência da própria realidade limitada19.
6HJXQGR3DVVRUHODomRGLDOyJLFDRXGHVLPSDWLDHQWUHHYDQJH-lizadores e membros da outra cultura, tendo como referencial teoló-gico a trindade, onde “tudo é relação, comunhão, impulso amoroso,
BRIGHENTI, Agenor. 3RUXPDHYDQJHOL]DomRLQFXOWXUDGDSS 18 BRIGHENTI, Agenor. 3RUXPDHYDQJHOL]DomRLQFXOWXUDGDSSV 19 BRIGHENTI, Agenor. 3RUXPDHYDQJHOL]DomRLQFXOWXUDGDSS
dom recíproco, comunhão de Pessoas”20. O diálogo deve ir além de
um método pastoral, precisaria constituir-se em um elemento autênti-co da missão.
Terceiro Passo: LGHQWL¿FDomR H UHFRQKHFLPHQWR GRV YDORUHV GD
FXOWXUDFRPR³6HPHQWHVGR9HUER´$TXLFRPHoDRH[HUFtFLRSDUDDYD-OLDUHPRVVXMHLWRVRTXHpFRPSDWtYHORXQmRFRPDIpFULVWm³3RU respeito à sua presença nas culturas, um processo de Evangelização LQFXOWXUDGDOHYDSULPHLUDPHQWHDLGHQWL¿FDU6XDSUHVHQoDHREUDHD proclamá-la como Boa Notícia. O anúncio profético de suas
contradi-ções deve aparecer mais adiante”21.
Quarto Passo: anúncio amoroso e respeitoso da positividade cris-Wm&RPHoDRSURFHVVRGDHYDQJHOL]DomRH[SOtFLWD³7UDWDVHDTXLGH XPDQ~QFLRGHXPDSURSRVLomRHQmRGHXPDLPSRVLomR´(FRQWLQXD
“É sempre o Espírito Santo o primeiro e o principal evangelizador”22.
O agir amoroso e propositivo do Espírito é acentuado, e posto como modelo referencial.
Quinto Passo: P~WXDHYDQJHOL]DomRH[SOtFLWDRXUHÀH[mRFUtWLFD
1HVWHSDVVRRVHYDQJHOL]DGRUHVVHGHL[DPTXHVWLRQDURXFULWLFDUSHORV membros da cultura em relação à sua própria versão de cristianismo. ³7UDWDVHGRGHVHQFDGHDPHQWRGHXPDUHÀH[mRFUtWLFDFRPXPRXGH XPGLVFHUQLPHQWRFRPXQLWiULRFRQMXQWRGHDPEDVDVSDUWHVQRVHQWLGR GHFDGDXPDDMXGDUjRXWUDDQmRDEVROXWL]DUDSUySULDFXOWXUDGLDQWH da transcendência do Evangelho e nem seu modo de apropriação do
mesmo”.
6H[WR3DVVRapropriação ou assimilação sintética. O diálogo
críti-co produziu um acríti-cordo, uma simbiose, entre cultura e Evangelho, tanto para evangelizadores como para os atores culturais. “Num autêntico processo de inculturação, dá-se uma reação sintética, uma combinação
ou processo de fator cristão e do fator cultural para formar um todo”.
Nota-se que se diz “compõe” e não “substitui”.
20 BRIGHENTI, Agenor. 3RUXPDHYDQJHOL]DomRLQFXOWXUDGDS 21 BRIGHENTI, Agenor. 3RUXPDHYDQJHOL]DomRLQFXOWXUDGDSS 22 BRIGHENTI, Agenor. 3RUXPDHYDQJHOL]DomRLQFXOWXUDGDSSH BRIGHENTI, Agenor. 3RUXPDHYDQJHOL]DomRLQFXOWXUDGD, p. 89. BRIGHENTI, Agenor. 3RUXPDHYDQJHOL]DomRLQFXOWXUDGD, p. 92.
Sétimo Passo:
VXUJLPHQWRRXFUHVFLPHQWRGHLJUHMDVFXOWXUDOPHQ-te novas. “Há uma relação entre evangelização, iniciação cristã e
comu-nidade”. Não é implantação GHLJUHMDVPDVRVXUJLPHQWRGHXPDLJUHMD
autóctone sustentada por uma eclesialidade pluriforme e uma realidade pluricultural. Desde seu nascedouro é chamada ao discipulado e à mis-VmR'LVFLSXODGRSHORFRPSURPLVVRFRPRFRQWH[WRVRFLRFXOWXUDOHP vista da instauração do Reino e missão, como envio a todos os povos, mantendo comunhão com o Corpo de Cristo e a abertura ecumênica
IUHQWHjVLJUHMDVHPDFURHFXPrQLFRHPUHODomRjVUHOLJL}HV.
Esse é um modelo proposto, onde a fé cristã seria repensada, re-formulada e revivida em cada cultura humana. Apresenta um grande potencial positivo, sobretudo porque é um processo tentativo e conti-nuado, repleto de surpresas e compatível com a liberdade criadora do Espírito.
&RQWH[WRV,QGtJHQDV
A religiosidade indígena tem sua forma própria de interpretar o sobrenatural. Não está apoiada em uma sistematização teológica ou em
uma estrutura eclesial. Sua relação com o divino ou Grande Espírito26
é aberta, inclusiva. Sua forma de adoração é aberta, “não é direcionada por nomes, estruturas ou proselitismo, mas pela aceitação do culto do
outro, que procura sempre somar, nunca dividir”. O índio terena Lucio
Flores sugere que essa é a chave para se entender os povos indígenas. Adorar é desfrutar plenamente a Criação. E isso acontece andando na mata, deitado na rede, assistindo um culto católico ou protestante. eDIRUPDFRPRYLYHP³IRUPDDEHUWDGHDGRUDomRpDGRUDUQDSOHQL-tude, independente do local ou de quem está ao lado”. Os povos indí-JHQDV VmR KHWHURJrQHRV VmR FHQWHQDV GH SRYRV H OtQJXDV GLIHUHQWHV
BRIGHENTI, Agenor. 3RUXPDHYDQJHOL]DomRLQFXOWXUDGDSSH
26
*UDQGH(VStULWRpXPDH[SUHVVmRDFHLWDHQWUHYiULRVSRYRVLQGtJHQDVSDUDGHVLJQD-rem Deus.
FLORES, Lucio Paiva. $GRUDGRUHVGR6ROUHÀH[}HVVREUHDUHOLJLRVLGDGHLQGt
+iXPDJUDQGHGLYHUVLGDGHQRFDPSRUHOLJLRVRPXLWRVULWXDLVFDOHQGiULRV sagrados, locais e formas de culto, além de muitos nomes para Deus. É de fato, uma religiosidade includente e ecumênica. Deus é um só, DVPHQVDJHQVHPHLRVpTXHVmRGLIHUHQWHVDOpPGDVXEMHWLYLGDGHGH quem recebe. Ouvem o outro, cultuam com o outro, aceitam o outro, VHMDRXWURtQGLRSDGUHSDVWRURXPtVWLFR(PVXPDDYLGDGRtQGLRHVWi
impregnada de religiosidade28.
Essa religiosidade favorece a interculturalidade. Da parte deles, o TXHVHVXJHUHpRTXHGHDOJXPDIRUPDMiSUDWLFDP2FULVWLDQLVPRDR que parece, não tem dado mostras de que esse caminho é uma possi-bilidade. Sobretudo pelas consequências teológicas que acarreta, sem contar o enfraquecimento da instituição eclesiástica – talvez, não como organismo, mas enfraquecimento da organização e das lutas pelo poder.
/XFLR )ORUHV FRPHQWD ³D UHOLJLRVLGDGH LQGtJHQD VHPSUH HVWHYH aberta ao diálogo com outras religiões; em alguns momentos se retraiu HDWpVHFDORXPDVVHPSUHH[LVWLXUHVLVWLXHVHIRUWDOHFHXHPSOHQD FODQGHVWLQLGDGH´(DFUHVFHQWD
a mídia vive mesmo é de dramas, catástrofes, epidemias, bug do milênio, entre outros; a ideia que se tem normalmente das aldeias pGHXPSRYRDPHGURQWDGRLQVHJXURHHPH[WLQomR1mRVHEXVFD DTXLQHJDUWXGRLVVRTXHGHIDWRH[LVWHPDVQmRpVy6HHP pUDPRVFHUFDGHPLOK}HVGHtQGLRVQR%UDVLOQDGpFDGDGH pUDPRVPLOHKRMHPLOKRXYHXPGHFOtQLRHKiXPDUHDomR VHKiDOJXQVDQRVDWUiVRVSDLVHYLWDYDPWHU¿OKRVWHPHQGRFRQ-IURQWRVH[SXOV}HVSHUVHJXLo}HVHJUDQGHVFDPLQKDGDVSDUDIXJLU GRVFRORQL]DGRUHVDUHDOLGDGHKRMHpRXWUD8PDQRYDFRQVFLrQFLD WHPVLGRIRUPDGDSULPHLURDUHDomRTXHYHPGDSUySULDFRPXQLGD-de, que resistiu por tanto tempo, está viva e que é preciso assegurar o bem-estar às futuras gerações. Segundo, é preciso reconhecer que ao longo do tempo foram realizadas ações importantes, em nível R¿FLDOTXHSRVVLELOLWDUDPFHUWDWUDQTXLOLGDGHHPPXLWRVWHUULWyULRV tradicionais dos povos indígenas29.
28 FLORES, Lucio Paiva. Adoradores do SolS 29 FLORES, Lucio Paiva. Adoradores do SolSSH
6REUHDSUHVHQoDGRVFULVWmRVQDVWULERV)ORUHVD¿UPD³VmRLQH- JiYHLVRVYDVWRVEHQHItFLRVTXHHVVDVLJUHMDVOHYDPDRVtQGLRVSULQFL-palmente nas áreas de saúde e educação. Basta lembrar que os maiores OtGHUHVLQGtJHQDVGHVVHVpFXORVmR¿OKRVGDPLVVmR2TXHVHSURFX-UD UHÀHWLU DTXL VmR DV LQFRHUrQFLDV GHVVH PRGHOR GH HYDQJHOL]DomR´ (DFUHVFHQWDVREUHRVHYDQJpOLFRV³VmRJUXSRVHYDQJHOLFDLVSURWHVWDQ- WHVTXHUHFHEHPPXLWREHPRVLQGtJHQDVQDVLJUHMDVPDVQmRRVDFRP-panham nas retomadas das suas terras tradicionais ou nas manifesta-o}HVHP%UDVtOLD>@TXDQGRQmRWtQKDPRVLJUHMDVpUDPRVXPVySRYR atualmente estamos divididos em vários grupos de cristãos”. Sobre as GLYLV}HV GHQWUH DV ¿OHLUDV FULVWmV FRP WDQWD DERUGDJHP FRQFRUUHQWH VHQWHQFLD³D,JUHMDFRPVHXROKDUVXSHULRUMDPDLVFRQVHJXLUiDVVLPLODU esses danos levados às aldeias”.
(GXDUGR &DVWUR D¿UPD TXH QR FRPHoR GD HYDQJHOL]DomR GRV indígenas se pensou que eram povos sem religião, pois não tinham as mesmas estruturas de hierarquia, nem de ídolos nem de poder tal como a religião europeia. Acreditava-se tratar de povos como papel em branco, em que se podia imprimir a nova fé sem restrições –
pri-meiras cartas de Manoel da Nóbrega. Com o passar dos anos, esse
preconceito e ignorância deu lugar ao estereótipo do selvagem incons-tante, que rapidamente volta aos seus hábitos pagãos, pois não atendia XPGRVSUHVVXSRVWRVEiVLFRVGDFDWHTXHVHGRVpFXOR;9,DHVVrQFLD GDFUHQoDHUDDREHGLrQFLD(FRQWLQXD³TXDQGRWLYHUDPVXFHVVRHP converter os índios, a estratégia foi mudar seus costumes, hábitos. Com isso, mudava-se também a cultura deles. Para aceitar o cris-tianismo era preciso transculturá-los, transformá-los em não-índios.
Para pregar foi preciso desidentizar”.
Ainda de acordo com Castro as principais características das reli-JL}HVLQGtJHQDVVmR
FLORES, Lucio Paiva. Adoradores do Sol, p. 21.
CASTRO, Eduardo Viveiros de. 2SDSHOGDUHOLJLmRQRVLVWHPDVRFLDOGRVSRYRV
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CASTRO, Eduardo Viveiros de. 2SDSHOGDUHOLJLmRQRVLVWHPDVRFLDOGRVSRYRV
a) VmR DQWLPRQRSROLVWDV DQWLRUWRGR[LVWDV FDUDFWHUL]DGDV SRU XPD enorme margem de liberdade aos seus praticantes;
b) YHPGHVRFLHGDGHViJUDIDVQmRVmRUHOLJL}HVHVFULWDVGHVRFLHGDGHV que possuem tradição escrita. Essa é uma das razões porque ali não há possibilidade do dogma. Não tem uma referencia única (ortodo- [LDQHPKHUHVLDQHPSURVHOLWLVPRQHPHVSHFLDOLVWDVH[LVWHPDO-JXQVJUXSRVTXHWHPWHyORJRVH¿OyVRIRVPDVHVWmRGLULJLGRVSDUDR JUXSRTXHQmRVHGLVWLQJXHSRUTXHPVHJXHPRXVHMDGL¿FLOPHQWH há disputas doutrinárias);
c) a falta do livro (norma) escritas, imutáveis, códigos de leis (não há instrumentos de normatização do comportamento religioso ou qual-quer outro), não é apenas uma carência, mas “uma característica es-trutural essencial das religiões indígenas”;
d) GL¿FXOGDGHGDOtQJXDLGLRPDSDUDH[SULPLUTXHVW}HVFRPSOH[DVJH-rou equívocos de tradução. Não é possível dialogar sem conhecer o LGLRPDGRRXWUR³PXLWRGRTXHIRLHVFULWRVREUHDVUHOLJL}HVLQGtJH-nas não vale rigorosamente nada, porque essas pessoas simplesmente não falavam a língua dos índios ou os índios falavam um português PXLWRUXLPLQFDSD]HVHPPXLWRVFDVRVGHH[SULPLUHPQDOtQJXDSRU-WXJXHVDWRGDDFRPSOH[LGDGHGDVXDYLGDUHOLJLRVDTXHVyVmRFDSD]HV GHH[SULPLUQDVXDOtQJXDQDWLYD´;
e) DDSUR[LPDomRjUHOLJLmRLQGtJHQDpHVVHQFLDOPHQWHLQGLUHWD
f) HVWUHLWDUHODomRFRPDQDWXUH]DRKRPHPpSDUWHGDQDWXUH]DHD natureza é parte do homem. “Nós nos opomos à natureza, enquanto DV FRQFHSo}HV FRVPROyJLFDV H ¿ORVy¿FDV LQGtJHQDV WHQGHP D YHU natureza e sociedade como parte de um sistema social única”. Nós pensamos na natureza como relação “natural” (leis da física). Eles SHQVDPFRPRUHODomRVRFLDOeXPDKHUDQoDGRMXGDtVPRTXHHQVL-nou a dominar sobre a natureza. Na sociedade industrial o homem pWUDWDGRFRPRREMHWR1DVLQGtJHQDVRVREMHWRVFRPRVHIRVVHP humanos;
CASTRO, Eduardo Viveiros de. 2SDSHOGDUHOLJLmRQRVLVWHPDVRFLDOGRVSRYRV
LQGtJHQDV, p. 18.
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LQGtJHQDV, p. 18.
CASTRO, Eduardo Viveiros de. 2SDSHOGDUHOLJLmRQRVLVWHPDVRFLDOGRVSRYRV
g) a religião de cada grupo tende a ser hegemônica, pois geralmente são pouco numerosos em relação a nossas sociedades e vivem isolados entre si. Para se criar teologias tão diferentes como o cristianismo e o hinduismo são necessários milênios de distancia e historia própria; h) a divindade é politeísta (várias divindades), enoteístas (acreditam
nas suas próprias divindades), pluralistas (reconhecem as divinda-des de outros grupos) e raras são as que tem a noção de uma en-WLGDGHVXSHULRULQGLYLGXDOQmRFULDGRUDVVmRWUDQVIRUPDGRUDV³D mitologia em geral começa com o universo informe e a divindade conforma o universo, distingue montes de planícies, humanos de animais, etc.”;
i) Acreditam em um mundo invisível composto de varias entidades espirituais, sem uma entidade hierarquicamente suprema ou respon-sável pela criação das demais. Maiormente as entidades são antro-SRPRUIDV0HVPRRVHVStULWRVGRVDQLPDLVVmR¿VLFDPHQWHKXPDQDV (“é como se a noção de espiritualização e a noção de humanização fossem sinônimas”);
M 6REUHRFXOWRSRXFDUHL¿FDomRGRVDJUDGRHPREMHWRVRXFXOWRVSRX-FDREMHWLYDomRGRVDJUDGR³$LPDJHPFOiVVLFDGDUHOLJLmRSULPLWLYD FRPR XPD UHOLJLmR IHWLFKLVWD GH REMHWRV SHGUDV DQLPDLV p PXLWR PDLVWtSLFDGDÈIULFDHGDÈVLDGRTXHGD$PpULFDGR6XOLQGtJH-QD´(FRQWLQXD³2VDJUDGRHPJHUDOpPXLWRPDLVFRQFHELGRQXPD UHODomRGHRUGHPPtVWLFDGHH[SHULrQFLDYLVXDOH[SHULrQFLDRQtULFD H[SHULrQFLDGRWUDQVHHVREUHWXGRSHODSDODYUD´.
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8P GRV SULPHLURV DVSHFWRV D VH FRQVLGHUDU QD PLVVmR MXQWR aos povos indígenas é a maneira como vivem em sociedades rurais.'DYLG+HVVHOJUDYHFKDPDDDWHQomRSDUDRIDWRGHH[LVWLUHPGLIHUHQ- C CASTRO, Eduardo Viveiros de. 2SDSHOGDUHOLJLmRQRVLVWHPDVRFLDOGRVSR
YRVLQGtJHQDV, p. 21, 22.
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CASTRO, Eduardo Viveiros de. 2SDSHOGDUHOLJLmRQRVLVWHPDVRFLDOGRVSRYRV
tes sociedades rurais. Elas podem ser do tipo campesina (de aldeia, tradicional ou folk) ou tribal (primitivas). A principal diferença é TXHDVGRWLSRFDPSHVLQDVHVWmRXPWDQWRSUy[LPDVGDFLGDGHHFRP ela se relacionam de alguma maneira. As tribais vivem mais afas-tadas e autônomas. Engana-se quem pensa que o mundo foi com-pletamente urbanizado. Apesar de alguns autores defenderem que FDPLQKDPRVSDUDWDOH[LVWHPPLOK}HVGHSHVVRDVTXHYLYHPTXDVH isoladas em pequenos agrupamentos humanos e isso não vai mudar nessa geração.
Nesse tipo de sociedade os indivíduos hesitam em tomar decisões importantes por conta própria. As decisões são antes decisões do grupo, quer tenham sido tomadas por meio de processos formais, quer infor-mais. É preciso tempo para que inicie mudanças. E no campo religioso essas mudanças culminarão em um sincretismo, que Manuel Marzal
D¿UPDVHUDRXWUDFDUDGDLQFXOWXUDomR.
No encontro entre evangelho e cultura a teologia indígena não deve VHUFULDGDIRUDGRFRQWH[WRLQGtJHQDHDSyV³WUDQVIHULGD´SDUDHOHV 7UDWDVHGHGHVFREULODQRFRQWH[WRGDVFXOWXUDVGRVGLIHUHQWHVSRYRV e valoriza-la. Para isso é preciso livrar-se dos preconceitos. Por parte dos povos indígenas vai requerer um coração perdoador e disposto a dialogar abertamente. Não pode nascer do rancor ou da condenação e repúdio da evangelização forçada. Vão precisar ser incentivados a recuperar sua auto-estima, seu valor cultural e seus símbolos religio-VRV3RUSDUWHGDVLJUHMDVWDPEpPVHUHTXHUFDSDFLGDGHSDUDGLDORJDU abertamente, com disposição a aprender e ser tocada pelo outro. Será preciso indicar concretamente que deveras mudamos, que somos mais humildes, que respeitamos os diferentes povos e culturas. Não pode haver discriminação e fragmentação. Com uma nova atitude é possível superar a intolerância da primeira evangelização, que limitava o acesso à Deus baseado em alguns enunciados previamente concebidos e
enges- HESSELGRAVE, David J. $FRPXQLFDomRWUDQVFXOWXUDOGRHYDQJHOKRFRPX
nicação, estruturas sociais, mídia e comunicação.9RO6mR3DXOR9LGD1RYD SV
0$5=$/0DQXHO06LQFUHWLVPRLEHURDPHULFDQRHLQFXOWXUDFLyQMedellín, vol.
sados. Como possibilitar que cada povo possa relacionar-se com Ele na sua própria maneira.
Os povos não têm que renunciar às próprias raízes culturais se TXLVHUHPVHUFULVWmRV6HUiTXHH[LVWHFRQWUDGLomRLQVXSHUiYHOHQWUH as propostas fundamentais de Cristo e os pressupostos teológicos dos SRYRVLQGtJHQDV"eEHPSURYiYHOTXHDVGLIHUHQoDVVHMDPVRPHQWH de forma e não de conteúdo. Aliás, boa parte dessas propostas é mais EHPH[SUHVVDQDFXOWXUDGRVQRVVRVSRYRVRULJLQiULRVGHPRGRTXH VHUiHQULTXHFHGRUSDUDDVLJUHMDVTXHSRUPHLRGRVLQGtJHQDVVHUH-encontrarão com o mais puro da mensagem evangélica e da tradição cristã.
A religiosidade indígena cria uma teologia mais prática, fruto da H[SHULrQFLDYLYLGDTXHVHHQFRQWUDUHÀHWLGDQRVPLWRVHULWRVQRWUD-balho e na vida social do povo. Está fundamentada, muito mais que a cultura ocidental, na reciprocidade e no compartilhar, na gratuidade do relacionamento com Deus (Ele dá, Ele tira) e com os outros, e no verda-GHLURVHQWLGRGDGLDFRQLDDPRUIUDWHUQR0DLVGDVFXOWXUDVLQGtJHQDVVH DSUR[LPDGRHYDQJHOKRTXHQRVVDFXOWXUDRFLGHQWDODWXDO7HPRVPXLWR que aprender com as culturas desses povos. Eles encarnam naturalmen-te valores defendidos pelo evangelho.
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Como lidar com a pluralidade cultural e religiosa? Mais que falar de multiculturalidade seria preciso falar de interculturalidade. Esta é PDLVTXHXPDIRUPDPHUDPHQWHGHVFULWLYDGDSUHVHQoDREMHWLYDGHGXDV RXPDLVFXOWXUDVQRPHVPRHVSDoRJHRJUi¿FR,QGLFDUHODo}HVHVWDEH-OHFLGDVHQWUHDVFXOWXUDVSUHVHQWHVHPFHUWRHVSDoRJHRJUi¿FRHLQVLVWH QRVFRPSRUWDPHQWRVQRVREMHWLYRVDDOFDQoDUHQRVLWLQHUiULRVHGXFD-tivos que conduzem a esse encontro de culturas. Apresenta-se desde QRYRVSDUDGLJPDVDQDOtWLFRVRQGHRLQGtJHQDPXGRXGH³REMHWR´D³VX-MHLWR´GHRSULPLGRHH[SORUDGRDSURWDJRQLVWDGHVXDSUySULDOLEHUWDomR O indigenismo deu passagem à indianidade e, assim, novas propostas são estabelecidas, onde os povos não aceitem resignar-se e integrar--se simplesmente à cultura hegemônica, senão apresentar e viver sua
cultura como alternativa autónoma e mais apropriada à suas demandas particulares. 2XWURGHVD¿RpDFRRSHUDomRSDUDXPDQRYDWHRORJLDLQGtJHQD TXHHQVDLHSDVVRVSDUDHQFRQWUDUXPDIRUPXODomRTXHVHMD³FULVWm´H TXHUHFROKDHSXUL¿TXHWRGDVDVFRQWULEXLo}HVGDH[SHULrQFLDUHOLJLRVD GRVSRYRVLQGtJHQDVHIDoDVXDUHÀH[mRGHIpVREUHHVVDVH[SHULrQFLDV Está na hora de reconhecer a sua legitimidade e identidade cultural, VXDH[SHULrQFLDGH'HXVSDUDUHVJDWDURVJUDQGHVYDORUHVUHOLJLRVRV FRQWLGRVQHVVDVFXOWXUDV([LJHVHXPDSHUPDQHQWHUHLQWHUSUHWDomRGR HYDQJHOKRQRPHLRGRVSURMHWRVGHYLGDGHFDGDSRYRHJUXSRVRFLDO 7XGRLVVRSRGHUiHQULTXHFHUDWRGRVRXVHMDDVWHRORJLDVDVUHOLJL}HV e as culturas.
James Scherer pergunta até onde podemos ir nessa mútua apro-priação e propõe que ainda falta muito para estudarmos essa questão GHFRPRRHYDQJHOKRpFRPSUHHQGLGRHPFRQWH[WRVFXOWXUDLVGLYHUVRV “No caso de linguagem, conceitos ou rituais religiosos arraigados na FXOWXUDORFDOH[LVWHPOLPLWHVSDUDRTXHVHSRGHµHPSUHVWDU¶GDVUHOLJL}HV nativas? A teologia da missão precisa dar continuidade à tarefa de de-senvolver critérios e orientações para a inculturação do evangelho em
YiULRVFRQWH[WRVFXOWXUDLV´. Ao abrir os olhos para a realidade
históri-FDGRVLQGtJHQDVHVWDPRVMXVWDPHQWHFDPLQKDQGRQHVVHVHQWLGR
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ARRUPE. Pedro. (FULWVSRXUpYDQJHOL]HU3DULV''%S
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BOSCH, David J. 0LVVmRWUDQVIRUPDGRUDPXGDQoDVGHSDUDGLJPD
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SCHERER, James A. (YDQJHOKRLJUHMDHUHLQRHVWXGRVFRPSDUDWLYRVGHWHROR
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lho: comunicação, estruturas sociais, mídia e comunicação. Vol.
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,5$55$=$9$/'LHJR(YDQJHOLRLQFXOWXUDGR\XQLYHUVDOCiberte-ologia: revista de teologia e culturaQ2XW'H]SS
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.,5.-$QGUHZ2TXHpPLVVmR" Teologia bíblica de missão. Londri-QD'HVFREHUWD
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MESQUIATI de Oliveira, David. Missão, cultura e transformação:
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MIRANDA, Mario de França. ,QFXOWXUDomRGDIpXPDDERUGDJHP
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SCHERER, James A. (YDQJHOKRLJUHMDHUHLQRHVWXGRVFRPSDUDWL