• Nenhum resultado encontrado

Alterações Fisiológicas Associadas ao Ciclo Menstrual: Uma revisão sobre o tecido cutâneo / Physiological Chamges Associated with the Menstrual Cycle: A review on skin tissue

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "Alterações Fisiológicas Associadas ao Ciclo Menstrual: Uma revisão sobre o tecido cutâneo / Physiological Chamges Associated with the Menstrual Cycle: A review on skin tissue"

Copied!
13
0
0

Texto

(1)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p.55648- 55660 aug. 2020. ISSN 2525-8761

Alterações Fisiológicas Associadas ao Ciclo Menstrual: Uma revisão sobre o

tecido cutâneo

Physiological Chamges Associated with the Menstrual Cycle: A review on skin

tissue

DOI:10.34117/bjdv6n8-116

Recebimento dos originais:08/07/2020 Aceitação para publicação:12/ 08/2020

Luisa Wolpe

Nutricionista

Coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento BIOTEC Endereço:Rua Euclides da Cunha, 610, Curitiba-PR, Brasil

Rodrigo Granzoti

Biólogo e Nutricionista

Coordenador de Pesquisa e Desenvolvimento BIOTEC Endereço:Rua Euclides da Cunha, 610, Curitiba-PR, Brasil

E-mail: granzoti@hotmail.com

RESUMO

As mudanças hormonais cíclicas que regulam o ciclo menstrual são uma importante influência sobre o corpo feminino. A menstruação é governada por mudanças fortemente orquestradas nos níveis de estrogênio e progesterona, que produzem respostas variadas em diversos tecidos e órgãos. A pele, o maior órgão em corpo, está repleto de receptores de estrogênio (tanto na derme quanto na epiderme). Níveis ciclicamente flutuantes de estrogênio e progesterona influenciar inúmeras características da epiderme, incluindo a secreção lipídica da superfície da pele e produção de sebo, espessura da pele, deposição de gordura, hidratação da pele e função de barreira. O conteúdo de colágeno, que contribui para a elasticidade da pele e resistência às rugas, também é influenciado. Curiosamente, os níveis de estrogênio também influenciam a pigmentação da pele e a suscetibilidade aos raios UV, assim como os níveis residentes de colágeno. Além disso, a mudança dos níveis hormonais ao longo do ciclo menstrual produz variações na função imunológica e na suscetibilidade a doenças. Uma compreensão da profunda influência que os níveis flutuantes de estrogênio e progesterona têm sobre as respostas biológicas da mulher adulta pré-menopausa é fundamental para otimizar a eficácia das terapias médicas nesta população.

Palavras-chave: ciclo menstrual, pele, estrogênio, menopausa. ABSTRACT

The cyclic hormonal changes that regulate the menstrual cycle are an important influence on the female body. Menstruation is governed by strongly orchestrated changes in estrogen and progesterone levels, which produce varied responses in various tissues and organs. The skin, the largest organ in the body, is filled with estrogen receptors (both in the dermis and epidermis). Cyclically fluctuating levels of estrogen and progesterone influence numerous characteristics of the epidermis, including lipid secretion from the skin surface and production of sebum, skin thickness,

(2)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p.55648- 55660 aug. 2020. ISSN 2525-8761

fat deposition, skin hydration and barrier function. Collagen content, which contributes to skin elasticity and resistance to wrinkles, is also influenced. Interestingly, estrogen levels also influence skin pigmentation and UV susceptibility, as well as resident levels of collagen. In addition, the change in hormone levels over the menstrual cycle produces variations in immune function and disease susceptibility. An understanding of the profound influence that fluctuating estrogen and progesterone levels have on the biological responses of premenopausal adult women is critical to optimize the effectiveness of medical therapies in this population.

Keywords: menstrual cycle, skin, estrogen, menopause.

1 INTRODUÇÃO

As alterações hormonais cíclicas que regulam o ciclo menstrual são uma influência biológica importante no corpo feminino, com numerosos efeitos fisiológicos (MUIZZUDDIN et al., 2005). A menstruação é governada por dois hormônios ovarianos (estrogênio e progesterona) que afetam diferentes tipos de tecidos diferentes níveis, mediando, assim, uma multiplicidade de funções biológicas (Tabela 1) (GOLUB, 1992).

Tabela 1. Órgãos, tecidos e tipos de células com receptores de estrogénio confirmados Por Sistema Corporal Referência

Sistema Cardiovascular

Sistema cardiovascular em geral

Vasos sanguíneos Células endoteliais

Sistema nervoso central

Sistema nervoso central em geral Córtex cerebral Sistema digestivo Vesícula biliar Fígado Pâncreas Sistema endócrino Glândula Adrenal Hipotálamo Paratireoide Tecido do timo Tireoide

Sistema reprodutivo feminino

Cérvix Tubas uterinas Glândulas mamárias Ovários Placenta Útero Epitélio vaginal Sistema imunitário Células B Células CD4 T Células CD8 T Macrófagos Tímócitos Sistema Integumentar (MILLIKAN, 2006) (BRINCAT, 2000) (SEKIGAWA, 2004) (MILLIKAN, 2006) (HALL & PHILLIPS, 2005) (MILLIKAN, 2006) (MILLIKAN, 2006) (MILLIKAN, 2006) (MILLIKAN, 2006) (HALL & PHILLIPS, 2005) (MILLIKAN, 2006) (TAMER et al., 2005) (MILLIKAN, 2006) (BRINCAT, 2000) (BRINCAT, 2000) (MILLIKAN, 2006) (MILLIKAN, 2006) (MILLIKAN, 2006) (8, MILLIKAN, 2006) (HALL & PHILLIPS, 2005) (SEKIGAWA et al., 2004) (SEKIGAWA et al., 2004) (SEKIGAWA et al., 2004) (SEKIGAWA et al., 2004) (SEKIGAWA et al., 2004)

(3)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p.55648- 55660 aug. 2020. ISSN 2525-8761

Epitélio da córnea Fibroblastos Cabelo (papila dérmica dos folículos pilosos) Melanócitos Glândulas sebáceas Pele Derme Epiderme Sistema esquelético Osso (SUZUKI et al, 2001) (BRINCAT, 2000)

(MILLIKAN, 2006, THORNTON et al, 2003) (BRINCAT, 2000)

(HALL & PHILLIPS, 2005)

(HALL & PHILLIPS, 2005; MILLIKAN, 2006) (BRINCAT, 2000)

(BRINCAT, 2000) (MILLIKAN, 2006)

O ciclo menstrual começa, por definição, inicia-se no primeiro dia do fluxo menstrual. Durante esse período (geralmente com duração entre 4 e 6 dias), o endométrio espesso é expelido como hemorragia menstrual. Os dias 7 a 14 representam a fase folicular ou proliferativa, que culmina com a ovulação. A fase lútea, ou secretora, consiste nos dias 15 a 28 (Figura 1) (MUIZZUDDIN et al., 2005; DRAPER et al., 2018).

Figura 1. Níveis de hormônios de acordo com a fase do ciclo menstrual. Alteração das concentrações de hormônios sexuais femininos (progesterona, hormônio luteinizante, hormônio folicular estimulante, estradiol) que caracterizam as 5 fases (menstrual, folicular, periovulatória, luteal e pré-menstrual) do ciclo menstrual. Fonte: Draper et al. (2018).

Os estrógenos são esteroides sintetizados a partir do colesterol no ovário e várias formas são ativas dentro do corpo feminino, incluindo estradiol, estrona e estriol, sendo o estradiol o mais potente. O ovário é a principal fonte de estrogênio em mulheres férteis; após a menopausa, a maior parte desse hormônio é produzido em tecidos periféricos, particularmente, no tecido adiposo. Os níveis mais elevados de estrogénio ocorrem durante a gravidez, com estradiol e a estrona

(4)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p.55648- 55660 aug. 2020. ISSN 2525-8761

conseguindo um aumento de 50 vezes, enquanto o estriol mostra um aumento de 1000 vezes. Acirculação do estriol é específica da gravidez (HALL & PHILLIPS, 2005).

Os hormônios hipofisários, conhecidos como gonadotrofinas (hormônio folículo estimulante – FSH; hormônio luteinizante – LH), provocam alterações morfológicas nos ovários de uma mulher adulta fértil. O LH em sinergia com o FSH inicia o desenvolvimento dos folículos primários e induzem a ovulação (GOLUB, 1992). Os níveis de estrogênio na circulação começam a subir cerca de uma semana antes da ovulação, atingindo seus níveis máximos, geralmente, um dia antes do pico de LH (um dia antes da ovulação). Posteriormente, há um rápido declínio desse hormônio, caracterizando, assim, o início da fase lútea. O corpo lúteo produz progesterona em quantidades crescentes, atingindo seu nível máximo uma semana pós à ovulação. À medida que a fase lútea progride, o estradiol sobe novamente, atingindo seu segundo pico de cinco a sete dias após a ovulação (MUIZZUDDIN, 2005). Os níveis decrescentes de estradiol e progesterona resultam na descamação endometrial levando, novamente, a menstruação (Figura 1) (GOLUB, 1992).

2 METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão narrativa, onde foram selecionados artigos utilizando os seguintes descritores: menstrual cycle; skin; estrogen; menopause. A revisão foi realizada sem data especificada, através de uma busca nas bases de dados eletrônicas: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Literatura LatinoAmericana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Public Medical (PubMed). Os artigos foram selecionados ou excluídos conforme o conteúdo do título e/ou resumo, publicados em inglês ou português. Também foram considerados livros que travam sobre o tema.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Efeitos do ciclo menstrual sobre a pele

A pele é repleta de receptores para hormônios sexuais (DREXLER et al., 2006). O receptor de estrogênio beta é identificável em toda a epiderme, bem como nos fibroblastos dérmicos e nos vasos sanguíneos dérmicos (BRINCAT, 2000). No folículo piloso, o receptor beta é encontrado na bainha externa da raiz, da matriz epitelial, das células da papila dérmica, e das células do bulbo. O receptor de estrogénio alfa foi identificado principalmente na glândula sebácea. Os receptores de hormônios androgênicos são encontrados apenas nas células da papila dérmica do folículo piloso e nas células basais da glândula sebácea (THORNTON et al., 2003).

O que se sabe a respeito do papel do estrogênio na pele foi obtido por meio de observações sobre os efeitos do declínio hormonal na mulher pós-menopausa (HALL & PHILLIPS, 2005;

(5)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p.55648- 55660 aug. 2020. ISSN 2525-8761

BRINCAT, 2000). De fato, foi demonstrado que as alterações hormonais influenciam as propriedades fisiológicas da pele antes dos efeitos físicos se tornarem evidentes (OHTA, 2998). Alguns dos efeitos dos estrógenos sobre a pele são apresentados na Tabela 2. Os efeitos da progesterona são menos compreendidos. No entanto, foi observada alguma indução de imunossupressão com uma possível relação inibitória de monócitos (CORRIGAN et al., 1998). Acredita-se, também, que a progesterona seja a origem subjacente da exacerbação de manifestações cutâneas (dermatites) durante a fase lútea, uma vez que, atinge níveis plasmáticos máximos durante esse período (HART, 1977; STEPHENS , 1997).

Tabela 2. Efeito do estrogênio na pele.

Parâmetro de pele Efeito do Estrogênio Referência

Estrutura da pele Aumento da espessura da pele (HALL & PHILLIPS, 2005)

Diminuição da decomposição do colágeno (BRINCAT et al. 2005)

Aumento da produção de colágeno (SAVVAS et al., 1993)

Aumento da produção de fibras de colágeno (PUNNONEN et al., 1987)

Aumento da hiperpigmentação epidérmica (MANNING & CASWELL, 2004)

Diminuição do sebo (BOLOGNIA et al., 1989)

Função na pele Aumento da capacidade de ligação à água (ANTTINEN et al., 1973)

Aumento da retenção de líquidos (WILHELM et al., 1991)

Diminuição da resposta celular-imune (TAMER et al., 2003)

Aumento da vasodilatação (CHARKOUDIAN & JOHNSON, 2000)

Aumento da elasticidade (HENRY et al., 1997)

Melhoria da cicatrização de feridas (ASHCROFT et al., 1999)

3.2 EFEITO NO CONTEÚDO LIPÍDICO

O conteúdo lipídico da pele é um componente chave da integridade da barreira cutânea. Os corneócitos (queratinócitos) no estrato córneo são recobertos por lipídios que protegem a pele contra a perda de água. Assim, a quantidade de lipídios que recobrem os corneócitos são maiores em mulheres férteis, quando comparada com mulheres pós-menopausa. A TRH, entretanto, melhora significativamente a cobertura lipídica dos corneócitos, restaurando a função barreira cutânea (MISRA et al., 2005). Ainda, a análise da secreção de lipídios da superfície da pele sobre o ciclo menstrual demonstra significativamente maior entre o décimo sexto e vigésimo dia do que durante outros períodos do ciclo menstrual (MUIZZUDDIN et al., 2005).

3.3 EFEITO NA PRODUÇÃO DE SEBO

Os hormônios androgênicos são bem conhecidos por serem o principal estimulador da produção de sebo nos seres humanos (THIBOUTOT et al., 2000). O estrogênio, contudo, suprime a produção de sebo em concentrações elevadas. O conteúdo sebáceo da pele está, portanto, relacionado com o ciclo menstrual, sendo o nível de produção sebácea mais baixa no pico da

(6)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p.55648- 55660 aug. 2020. ISSN 2525-8761

produção de estrógeno (BURTON et al., 1973). O papel da progesterona na produção sebácea é controverso e, portanto, inconclusivo (BONAMONTE et al., 2005).

3.4 EFEITO NA ESPESSURA DA PELE

A queda de estrogênio está intimamente associada ao declínio da qualidade da pele à medida que a mulher envelhece. Os efeitos diretos do estrogênio sobre à espessura do tecido cutâneo são observados em ensaios clínico, cuja reposição do estrogênio eleva o espessamento da pele em 15 a 30% (HALL & PHILLIPS, 2005). O estrogênio exógeno atua aumentando tanto a quantidade como a qualidade do colágeno, bem como a vascularização dérmica e a qualidade da matriz extracelular (BRINCAT, 2000). Esse espessamento foi evidenciado em mulheres na pós-menopausa após apenas 3 meses de terapia de reposição hormonal (HALL & PHILLIPS, 2005; RAURAMO & PUNNONEN, 1969). Brincat (2000) encontrou também um aumento da espessura da epiderme com HRT e do tecido adiposo subcutâneo (BRINCAT, 2000, PERIN et al, 2000).

As alterações na espessura da pele, também, se mostram expressivas ao longo do ciclo menstrual. Eisenbeiss et al mediram a espessura da pele por ultrassom em 22 mulheres férteis ao longo de um ciclo e descobriram que sua espessura era significativamente maior nos dias 12 a 14 do que nos dias 2 a 4 e, também, mais espessa nos dias 12 a 14 do que nos dias 20 a 22 (EISENBEISS et al., 1998). Ulger et al (2003) estudaram a espessura da pele nos seios em quatro locais anatômicos diferentes através da mamografia e, de forma semelhante, encontraram um aumento significativo na espessura da pele durante a fase periovulatória (aproximadamente dias 13-17) (ULGER et al., 2003). Perin et al (2000) analisaram, especificamente, a espessura da gordura subcutânea durante o ciclo menstrual, utilizando ultrassom, e definiram uma variação hormonal associada. A gordura subcutânea tanto na coxa como no abdómen atingiu espessuras máximas durante o fluxo menstrual, diminuindo durante a fase folicular para atingir sua menos espessura no 22º dia. As variações nas espessuras de gordura foram surpreendentemente substanciais, representando um aumento de 7,3% na região abdominal e um aumento de 4,1% na coxa.

3.5 EFEITO SOBRE A HIDRATAÇÃO

O declínio do estrogénio associado à idade é acompanhado por uma pele mais seca à medida que sua capacidade de retenção de água é reduzida (VERDIER-SEVRAIN et al., 2006). A produção de sebo e outros lipídios são influenciados pelo estrogênio e desempenham um papel na manutenção da hidratação da pele. Os estrógenos melhoram a capacidade de retenção hídrica no estrato córneo e da derme. A capacidade de retenção de água na derme resulta de um aumento das glicosaminoglicanas, em especial, o ácido hialurônico (SNEL & TURNER, 1966). Foi demonstrado

(7)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p.55648- 55660 aug. 2020. ISSN 2525-8761

que a terapia de reposição de estrogênios melhora a hidratação da pele (HALL & PHILLIPS, 2005), e diminui o risco de xerose pós-menopausa (VERDIER-SEVRAIN et al., 2006). Os níveis elevados de estrogénio endógeno durante a gravidez, também, melhoram as propriedades hidroscópicas da derme (HALL & PHILLIPS, 2005). Embora haja poucos estudos sobre os efeitos do ciclo menstrual na hidratação da pele, Muizzuddin et al (2005) mediram a hidratação da pele, utilizando a capacidade eléctrica da superfície, e descobriram que a maioria dos sujeitos apresentava a pele mais seca durante o fluxo menstrual, quando os níveis de estrogénio em circulação se encontravam no seu nível mais baixo.

3.6 EFEITO SOBRE A PRODUÇÃO DE COLÁGENO

A perda de estrogênio na menopausa é acompanhada de uma perda significativa do colágeno da pele, refletindo a importância do efeito hormonal sobre a qualidade da pele (BRINCAT,2000). Muitos estudos demonstram um aumento, com terapia de reposição hormonal, da espessura da pele associada a um maior teor de colágeno cutâneo. Foram demonstrados aumentos de colágeno com estrogénio exógeno de até 6,5% (VERDIER-SEVRAIN et al., 2006).

O colágeno de tipo I é, principalmente, responsável pela espessura da pele e o colágeno de tipo III pela sua elasticidade. Uma deficiência de estrogênio leva a uma diminuição em ambos os tipos, com uma diminuição correspondente da qualidade da pele (SHAH & MAIBACH, 2001). As fibras de colágeno são também menos fragmentadas na derme das mulheres tratadas com estrogénios (BRINCAT,2000).

3.7 EFEITO SOBRE A ELASTICIDADE

A função mecânica e viscoelástica da pele depende da idade, fatores genéticos, espessura relativa da pele, sexo e condições ambientais (BERARDESCA et al., 1989). Na menopausa, observa-se uma rápida diminuição da elasticidade da pele (HALL & PHILLIPS, 2005; MISRA et al., 2005) e que pode ser revertida com a terapia de reposição de estrogênio (HALL & PHILLIPS, 2005). O estrogênio na derme aumenta o teor de ácido hialurônico e, consequentemente, o seu teor de água (BERARDESCA et al., 1989), o que aumenta a elasticidade e diminui o tempo de extensibilidade. O aumento do teor de água contribui, também, para um aumento da espessura e tensão da pele com um achatamento associado de pequenas rugas. As rugas são alterações histológicas dos componentes dérmicos como atrofia de colágeno dérmico e fibras elásticas e uma diminuição de glicosaminoglicanas (VERDIER-SEVRAIN et al., 2006). Assim, as consequências do défice de estrogénio após a menopausa incluem o aumento das rugas.

(8)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p.55648- 55660 aug. 2020. ISSN 2525-8761

As propriedades mecânicas da pele estão sob influência dos hormônios sexuais. Os estudos de extensometria da pele demonstram que essa propriedade varia ao longo do ciclo menstrual. Assim, parece que elasticidade é, significativamente inferior durante o pré-menstrual, medida no dia 25, do que na fase folicular, medida no dia 10. Estes dados demonstram que variações nos níveis de estrogênio são compatíveis com o aumento do conteúdo em água da pele das mulheres jovens durante ciclo menstrual, influenciando na elasticidade da pele (BERARDESCA et al., 1989). 3.8 EFEITO SOBRE A PIGMENTAÇÃO

O estrogénio estimula a melanogênese epidérmica com vários efeitos ao longo do ciclo menstrual, gravidez e após a menopausa. Os efeitos do estrogênio sobre a pigmentação foram inicialmente observados por alterações na pigmentação característica da gravidez (cloasma). A hiperpigmentação também é observada em algumas mulheres com uso de contraceptivos orais (VERDIER-SEVRAIN et al., 2006), com aumento da pigmentação em 35,6% (ALVAREZ et al. 2003) e em mulheres em TRH (JOHNSTON et al., 1998; O’BRIEN et al., 1997).

Durante o ciclo menstrual os relatos sobre aumento da pigmentação da pele parecem ser mais acentuado na fase lútea, quando comparados com os dias imediatamente após a menstruação. O aumento da pigmentação foi relatado como sendo mais perceptível na bochecha e abaixo dos olhos (SNEL & TURNER, 1966)

3.9 EFEITO NA UNÇÃO DE BARREIRA

A função de barreira é uma propriedade importante da pele e crucial para a proteção do tecido cutâneo. Numerosas doenças dérmicas demonstram sofrer influência do ciclo menstrual, que pode ser relacionado com a integridade da pele. Assim, a pele parece ser mais propensa a dermatites de contacto durante a fase pré-menstrual, na qual, há uma menor eficácia da barreira cutânea (BONAMONTE et al., 2005).

Alguns estudos demonstram variação na perda de água transepidérmica (TEWL) ao longo do ciclo menstrual. Harvell et al (1992) avaliaram o dorso e o antebraço de mulheres ao longo do ciclo menstrual e descobriram que a TEWL foi mais elevada no dia, cuja, proporção entre estrogênio/progesterona foi menor, ou seja, pouco antes da menstruação. Em contrapartida, a TEWL foi menor com o dia da secreção máxima de estrogénio (pouco antes da ovulação) (40). Eisenbeiss et al (1998) também encontrou diferença na espessura da pele, sendo ela mais fina durante os dias 22 a 26, o mesmo período em que TEWL foi o mais alto de acordo com Harwell et al. (1992). Assim, parece existir uma correlação entre a integridade da barreira cutânea e as alterações cíclicas do

(9)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p.55648- 55660 aug. 2020. ISSN 2525-8761

estrogênio ao longo do ciclo menstrual, o que implica um importante papel desse hormônio na função de barreira da pele (MISRA et al., 2005).

Vários estudos encontraram uma maior susceptibilidade à dermatite de contacto no período pré-menstrual do ciclo menstrual em comparação com a fase folicular. A susceptibilidade durante esta fase, que se correlaciona com o período pré-menstrual, pode estar a uma maior penetração de alergênicos como resultado da perda da função de barreira (BONAMONTE et al., 2005).

3.10 SUSCEPTIBILIDADE ULTRAVIOLETA

Muizzuddin et al (2005), examinaram em 20 mulheres férteis a susceptibilidade à radiação ultravioleta B (UVB) ao longo do ciclo menstrual. Os autores verificaram que uma maior sensibilidade aumentada de 25% ao UVB entre os dias 20 a 28. A susceptibilidade UVB foi medida no dorso através da dose mínima de eritema, definida como a menor quantidade de energia necessária para o desencadeamento de eritema.

3.11 EFEITO NAS DOENÇAS SISTÉMICAS E DERMATOLÓGICAS

A influência da variação hormonal ao longo do ciclo menstrual sobre a gravidade de doenças de pele é bem documentada na literatura. O período antes da menstruação tem sido associado à exacerbação da acne vulgar, rosácea, lúpus eritematoso, psoríase, eczema atópico, dermatite e urticária (STEPHENS, 1997; BONAMONTE et al., 2005). A dermatite de contacto é exacerbada na fase pré-menstrual. A psoríase, em contraste, pode ser melhorada por níveis elevados de estrogénio (MURASE et al., 2005). Entre 27% e 70% das mulheres com acne vulgar relatam uma exacerbação no período pré-menstrual e esse efeito parece afetar mais as mulheres a partir dos 30 anos (BERSON, 2004; STOLL et al., 2001). Uma redução do tamanho do orifício do ducto pilossebáceo pouco tempo após a ovulação pode contribuir para o subsequente aumento dos surtos de acne (WILLIAMS & CUNLIFFE, 1973). A dermatite cutânea atópica, em certas pacientes, reflete a fase do ciclo menstrual. Kiryiama et al (2003), avaliaram 286 pacientes e constataram que 47% apresentavam uma piora na crise no período pré-menstrual com uma consequente melhora após a menstruação.

4 CONCLUSÕES

As variações hormonais apresentadas pelas mulheres ao longo da vida, ou seja, durante o ciclo menstrual, gestação ou menopausa, influenciam diretamente a organização das estruturas que compõem o tecido cutâneo. Fica evidente que o estrogênio é o principal hormônio na mulher que participa na síntese de colágeno, na hidratação da pele, eleva a função barreira e reduz a incidência

(10)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p.55648- 55660 aug. 2020. ISSN 2525-8761

de doenças cutâneas. Entender essa flutuação hormonal é de fundamental importância para entender e manejar o comportamento dos diferentes elementos citados acima. Assim, o ciclo menstrual afeta diretamente a fisiologia da pele.

REFERÊNCIAS

ALVAREZ, F. et al. Local side effects observed among long-term users of norplant contraceptive implants. Contraception., v. 68, p. 111–115, 2003.

ANTTINEN H. et al. Assay of protocollagen lysyl hydroxylase activity in the skin of human subjects and changes in the activity with age. Clin Chim Acta, v. 47, p. 289– 294, 1973.

ASHCROFT, G. S. et al. Topical estrogen accelerates cutaneous wound healing in aged humans associated with an altered inflammatory response. Am J Pathol. v. 155, p. 1137–1146, 1999. BERARDESCA E. et al. Skin extensibility time in women. Changes in relation to sex hormones.

Acta Derm Venereol., v. 69, p. 431–433, 1989.

BERSON, D. S. Acne in women. Cosmet Dermatol., v. 16, p. 480, 2004.

BOLOGNIA, J. L. et al. Skin changes in menopause. Maturitas, v. 11, p. 295–304, 1989.

BONAMONTE D. et al. Skin reactivity in relation to the menstrual cycle. G Ital Dermatol

Venereol., v. 140, p. 229– 236, 2005.

BONAMONTE, D. et al. Nickel contact allergy and menstrual cycle. Contact Dermatitis, v. 52, p. 309–313, 2005.

BRINCAT, M. P. et al. Estrogens and the skin. Climacteric., v. 8, p. 110–123, 2005.

BRINCAT, M. P. Hormone replacement therapy and the skin. Maturitas, v. 35, p. 107–117, 2000. BURTON, J. L. et al. Variations in sebum excretion during the menstrual cycle. Acta Derm

Venereol., v. 53, p. 81–84, 1973.

CHARKOUDIAN, N.; JOHNSON, J. M. Female reproductive hormones and thermoregulatory control of skin blood flow. Exerc Sport Sci Ver. v. 28, p. 108–112, 2000.

CORRIGAN, E. M. et al. Cellular immunity in recurrent vulvovaginal candidiasis. Clin Exp

Immunol. v. 111, p. 574–578, 1998.

DRAPER, C. F. et al. Menstrual cycle rhythmicity: metabolic patterns in healthy women. Scientific Reports, v. 8, p. 14568, 2018.

(11)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p.55648- 55660 aug. 2020. ISSN 2525-8761

DREXLER, B. et al. The menstrual cycle and the skin. In: Farage MA Maibach H, ed. The Vulva: Anatomy, Physiology, and Pathology. New York: Informa Healthcare; 2006.

EISENBEISS, C. et al. The influence of female sex hormones on skin thickness: evaluation using 20 MHz sonography. Br J Dermatol., v. 139:462–467, 1998.

GOLUB, S. Periods: From Menarche to Menopause. Newbury Park, CA: Sage Publications; 1992.

HALL, G.; PHILLIPS, T. J. Estrogen and skin: the effects of estrogen, menopause, and hormone replacement therapy on the skin. J Am Acad Dermatol, v. 53, p. 555–568, 2005.

HART R. Autoimmune progesterone dermatitis. Arch Dermatol., v. 113, p. 426–430, 1977. HARVELL J. et al. Changes in transepidermal water loss and cutaneous blood flow during the menstrual cycle. Contact Dermatitis, v. 27, p. 294–301, 1992.

HENRY, F. et al. Agerelated changes in facial skin contours and rheology. J Am Geriatr Soc. v. 45, p. 220–222, 1997.

JOHNSTON, G. A. et al. Melasma of the arms associated with hormone replacement therapy. Br J

Dermatol., v. 139, p. 932, 1998.

KIRIYAMA K. et al. Premenstrual deterioration of skin symptoms in female patients with atopic dermatitis. Dermatology, v. 206, p. 110–112, 2003.

MANNING, J. T. ; CASWELL, N. “Constitutive” skin pigmentation: a marker of breast cancer risk? Med Hypotheses, v. 63, p. 787– 789, 2004.

MILLIKAN, L. Hirsutism, postpartum telogen effluvium, and male pattern alopecia. J Cosmet

Dermatol, v.5, p. 81–86, 2006.

MISRA, M. et al. Effect of hormone replacement therapy on epidermal barrier lipids. Int J Cosmet

Sci, v. 56, p. 335–342, 2005.

MISRA, M. et al. Effect of hormone replacement therapy on epidermal barrier lipids. Int J Cosmet

Sci., v. 56, p. 335–342, 2005.

MUIZZUDDIN, N. et al. Effect of systemic hormonal cyclicity on skin. J Cosmet Sci., v. 56, p. 311–321, 2005.

MURASE, J. E. et al. Hormonal effect on psoriasis in pregnancy and post partum. Arch Dermatol., v. 141, p. 601–606, 2005.

O’BRIEN, T. J. et al. Melasma of the forearms. Australas J Dermatol., v. 38, p. 35–37, 1997. OHTA H. et al. Relationship between dermato-physiological changes and hormonal status in pre-peri-, and postmenopausal women. Maturitas, v. 30, p. 55–62, 1998.

(12)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p.55648- 55660 aug. 2020. ISSN 2525-8761

PERIN, F. et al. Ultrasonic assessment of variations in thickness of subcutaneous fat during the normal menstrual cycle. Eur J Ultrasound., v. 11, p. 7–14, 2000.

PUNNONEN, R. , et al. Local oestriol treatment improves the structure of elastic fibers in the skin of postmenopausal women. Ann Chir Gynaecol Suppl. v. 202, p. 39–41, 1987.

RAURAMO L, PUNNONEN R. Effect of oral estrogen treatment with estriol succinate on the skin of castrated women. Z Haut Geschlechtskr., v. 44, p. 463–470, 1969.

SAVVAS, M. et al. Type III collagen content in the skin of postmenopausal women receiving oestradiol and testosterone implants. Br J Obstet Gynaecol. v. 100, p. 154–156, 1993.

SEKIGAWA, I. et al. Possible mechanisms of gender bias in SLE: a new hypothesis involving a comparison of SLE with atopy. Lupus, v.13, p. 217–222, 2004.

SHAH, M. G.; MAIBACH, H. I. Estrogen and skin: an overview. Am J Clin Dermatol., v. 2, p. 143–150, 2001.

SNEL, R. S.; TURNER, R. Skin pigmentation in relation to the menstrual cycle. J Invest

Dermatol., v. 47, p. 147–155, 1966.

STEPHENS, C. J. Perimenstrual eruptions. Clin Dermatol., v. 15, p. 31–34, 1997. STEPHENS, C. J. Perimenstrual eruptions. Clin Dermatol.; 15:31–34, 1997.

STOLL S. et al. The effect of the menstrual cycle on acne. J Am Acad Dermatol., v. 45, p. 957– 960, 2001.

SUZUKI T. et al. Expression of sex steroid hormone receptors in human cornea. Curr Eye Res., v 22, p. 28–33, 2001.

TAMER, E. et al. Comparison of nickel patch test reactivity in phases of the menstrual cycle. Int J

Dermatol, v. 42, p. 455–458, 2003.

TAMER, E. et al. Comparison of nickel patch test reactivity in phases of the menstrual cycle. Int J

Dermatol., v. 42, p. 455–458, 2003.

THIBOUTOT, D. et al. The melanocortin 5 receptor is expressed in human sebaceous glands and rat preputial cells. J Invest Dermatol., v. 115, p. 614–619, 2000.

THORNTON, M. J. et al. The distribution of estrogen receptor beta is distinct to that of estrogen receptor alpha and the androgen receptor in human skin and the pilosebaceous unit. J Investig

Dermatol Symp Proc. v. 8, p. 100– 103, 2003.

ULGER, H, et al. Effect of age, breast size, menopausal and hormonal status on mammographic skin thickness. Skin Res Technol., v. 9, p. 284–289, 2003.

VERDIER-SEVRAIN, S et al. Biology of estrogens in skin: implications for skin aging. Exp

(13)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p.55648- 55660 aug. 2020. ISSN 2525-8761

WILHELM, K. P. et al. Skin aging. Effect on transepidermal water loss, stratum corneum hydration, skin surface pH, and casual sebum content. Arch Dermatol, v. 127, p. 1806–1809, 1991.

WILLIAMS, M.; CUNLIFFE, W. J. Explanation for premenstrual acne. Lancet, v. 2, p. 1055–1057, 1973.

Imagem

Tabela 1. Órgãos, tecidos e tipos de células com receptores de estrogénio confirmados  Por Sistema Corporal                                                           Referência
Figura 1. Níveis de hormônios de acordo com a fase do ciclo menstrual. Alteração das concentrações de hormônios  sexuais femininos (progesterona, hormônio luteinizante, hormônio folicular estimulante, estradiol) que caracterizam as  5 fases (menstrual, fol
Tabela 2. Efeito do estrogênio na pele.

Referências

Documentos relacionados

o velho se tornara salao, isto é, um azarento da pior espécie, puseram o filho para trabalhar em outro barco, que trouxera três bons peixes em apenas

a) no início do parto, as concentrações de HCG, progesterona e estrógeno são altas. e) no final da gestação, ocorre diminuição nas concentrações de progesterona e estrógeno. c)

A face positiva que os homens gostariam de ver preservada, nessa situação comunicativa, refere-se à confirmação da superioridade de sua imagem social, porém o que ficou

O autor classifica estas soluções da seguinte maneira: (a) soluções exatas: restritas a problemas de Stefan simples com algumas condições como transferência

- momento da motivação: a motivação deve ser contemporânea ou imediatamente posterior à prática do ato. A doutrina proíbe a motivação muito depois da prática do ato

Em vista desses fatores, observa-se que a organização universitária como um todo e a biblioteca como parte desse todo, deve voltar-se para um sistema de gerência que permita um

PUBMED e Biblioteca Virtual em Saúde (BVS). Foram aplicados os descritores Ansiedade e Ciclo menstrual, em idioma português e a sua correspondência em inglês, Anxiety and

“Regime Jurídico da Urbanização e Edificação”, 2.ª ed., cit.. parecer emitido no P.º R. 82/2004 DSJ-CT, onde, a propósito daqueles “bens”, se considerou não adiantar que