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Conhecimento dos pais ou responsáveis sobre descarte das excretas de crianças em tratamento quimioterápico antineoplásico / Knowledge of parents or guardians about disposal of excreta from children undergoing antineoplastic chemotherapy

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 62441-62451 aug. 2020. ISSN 2525-8761

Conhecimento dos pais ou responsáveis sobre descarte das excretas de crianças

em tratamento quimioterápico antineoplásico

Knowledge of parents or guardians about disposal of excreta from children

undergoing antineoplastic chemotherapy

DOI:10.34117/bjdv6n8-613

Recebimento dos originais:08/07/2020 Aceitação para publicação:27/08/2020

Maria Vitoria dos Santos da Conceição

Enfermeira

Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas - UNCISAL Rua Jorge de Lima, 113- Trapiche da Barra, Campus Governador Lamenha Filho

E-mail: vitoriatlc2012@hotmail.com

Irena Penha Duprat

Mestre, Enfermeira docente da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas - UNCISAL

Rua Jorge de Lima, 113- Trapiche da Barra, Campus Governador Lamenha Filho E-mail: irena.duprat@uncisal.edu.br

Thyara Maia Brandão

Mestre, Enfermeira docente da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas - UNCISAL

Rua Jorge de Lima, 113- Trapiche da Barra, Campus Governador Lamenha Filho E-mail: thyara.maia@hotmail.com

Janine Melo de Oliveira, Mestre

Enfermeira docente da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas - UNCISAL Rua Jorge de Lima, 113- Trapiche da Barra, Campus Governador Lamenha Filho

E-mail.: nine.melo@hotmail.com

Vitória Rejane de Lira Ferreira Silva

Enfermeira, Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas – UNCISAL Rua Jorge de Lima, 113- Trapiche da Barra, Campus Governador Lamenha Filho

E-mail: vicklira7@gmail.com

RESUMO

Objetivo: descrever o conhecimento dos pais ou responsáveis sobre o descarte das excretas de crianças em tratamento quimioterápico antineoplásico. Métodos: estudo descritivo, transversal, de abordagem quantitativa, realizado na Oncopediatria de um hospital da rede privada de Maceió. A amostra, não probabilística por conveniência, foi composta por 26 participantes. Os dados foram coletados através de um instrumento construído pelas autoras, ordenados no Excel. Resultados: houve um predomínio do sexo feminino (96,2%) e o maior grau de parentesco foi o de mãe (69,2%). 21 (80,2%) participantes afirmaram ter recebido informações gerais sobre quimioterapia no início do tratamento, no entanto, apenas 16 (61,5%) disseram ter sido orientados sobre o descarte das excretas durante e/ou após os primeiros dias de infusão das drogas. Conclusão: os pais ou responsáveis de crianças em tratamento quimioterápico, demonstraram insuficiência de informação

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sobre os riscos no descarte das excretas e desconhecimento de medidas preventivas para evitar os danos tardios.

Palavra-chave: Enfermagem Oncológica, Quimioterapia, Eliminação de Excretas.

ABSTRACT

Objective: to describe the knowledge of parents or guardians about the disposal of excreta from children undergoing antineoplastic chemotherapy. Methods: a descriptive, cross-sectional study with a quantitative approach, carried out in the Oncopediatrics of a private hospital in Maceió. The sample, non-probabilistic for convenience, was composed of 26 participants. Data were collected using an instrument constructed by the authors, ordered in Excel. Results: there was a predominance of females (96.2%) and the highest degree of kinship was that of a mother (69.2%). 21 (80.2%) participants said they had received general information about chemotherapy at the beginning of treatment, however, only 16 (61.5%) said they had been instructed on the disposal of excreta during and / or after the first days of infusion of drugs. Conclusion: the parents or guardians of children undergoing chemotherapy treatment, showed insufficient information about the risks in the disposal of excreta and lack of preventive measures to avoid late damage.

Keyword: Oncology Nursing, Chemotherapy, Elimination of Excreta.

1 INTRODUÇÃO

Dentre as modalidades de tratamento do câncer, a quimioterapia antineoplásica (QTAN) é uma das abordagens mais utilizadas e a que tem maior taxa de cura entre os tumores malignos. Dispõe de fármacos capazes de lesionarem todos os tipos de tecidos, não distinguindo, no entanto, células tumorais das normais.1 Os principais efeitos colaterais ou toxicidades do tratamento quimioterápico incluem alterações hematológicas, gastrointestinais, cardiotoxidade, disfunção reprodutiva, toxicidade vesical e renal, alterações metabólicas, toxicidades dermatológicas, reações alérgicas e anafilaxia.2

A exposição à QTAN pode resultar em danos futuros para a saúde de quem a manuseia como infertilidade, malformações congênitas, câncer, irregularidades menstruais, perda do cabelo, vômitos, cefaléias, tonturas, além de outros sintomas.3 Dentre os grupos potencialmente expostos

a estes agentes encontram-se: os pacientes, os indivíduos que trabalham nas indústrias farmacêuticas, os trabalhadores que preparam, administram e descartam os fármacos, o pessoal relacionado à limpeza, os médicos, os profissionais de enfermagem e os familiares que cuidam diretamente dos pacientes.4

O risco de contaminação com os agentes antineoplásicos pode ocorrer em muitos pontos como, por exemplo, em sua fabricação, transporte, distribuição, recepção e armazenagem. Porém, geralmente, as atividades ocupacionais que apresentam o maior potencial são a preparação e administração de antineoplásicos, limpeza de derrames de quimioterapia e manuseio de excretas dos pacientes. 5-6

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No intuito de reduzir os riscos ocupacionais, medidas protetoras e normas são preconizadas em documentos regulamentados brasileiros e internacionais os quais recomendam o uso de equipamentos de proteção coletiva e individual além de orientações para se trabalhar com segurança durante atividades que envolvam a terapia antineoplásica.7 No entanto, há uma escassez de documentos e pesquisas que abordem o risco à saúde do familiar que manuseia excretas e fluidos corpóreos do paciente em tratamento quimioterápico.

É natural que as crianças, sobretudo da primeira infância, sejam mais dependentes dos adultos para cuidados em geral e de higiene. Aliado a essa dependência soma-se a fragilidade gerada pelo tratamento quimioterápico e seus efeitos colaterais.

Neste contexto, os pais ou responsáveis por essas crianças estão frequentemente expostos ao contato com parte da droga que é eliminada através das excretas e fluídos corpóreos, uma vez que uma parcela dessas substâncias permanece inalterada ou sob a forma de metabólitos inativos, podendo ser encontrados, por exemplo, em fezes, urina ou vômito.3

Frente à preocupação com essa exposição e os poucos manuais, cartilhas e orientações sobre os cuidados a fim de reduzir os riscos de contaminação, o presente estudo objetivou descrever o conhecimento dos pais ou responsáveis sobre o descarte das excretas de crianças em tratamento quimioterápico antineoplásico.

2 METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa de campo transversal e descritiva, com abordagem quantitativa dos dados, realizada na Unidade de Oncologia Pediatria de um hospital da rede privada de Maceió, referência no atendimento às crianças com câncer no Estado de Alagoas. Foram incluídos os pais ou responsáveis pelas crianças com idade inferior a 12 anos, internadas na unidade de oncologia pediátrica para tratamento quimioterápico antineoplásico e que estavam presentes no momento da entrevista.

Foram excluídos os pais ou responsáveis pelas crianças que se encontravam internadas pela primeira vez na unidade por entender que no primeiro internamento após o diagnóstico, pode não ter havido tempo de lhes terem sido repassadas informações sobre o tratamento quimioterápico, incluindo cuidados dispensados às crianças em diversos aspectos (alimentação, higiene, imunidade, etc). Participaram do estudo 26 cuidadores selecionados por amostragem não probabilística por conveniência.

A coleta de dados realizou-se de forma periódica, de acordo com o horário disponibilizado pela unidade hospitalar de saúde para as visitas, entre os meses de setembro a novembro de 2018.

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Foi feita uma abordagem inicial com as pessoas que se enquadravam nos critérios de inclusão, as quais foram informadas sobre o objeto de estudo, seus objetivos, procedimentos, riscos, benefícios, sigilo das informações prestadas, garantia do anonimato, privacidade e a forma de participação na pesquisa, e convidadas a colaborar esclarecendo-se, portanto, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

As pessoas que assinaram o TCLE foram entrevistadas por meio de um instrumento elaborado pelas autoras, numerado, preenchido pelos pesquisadores, com perguntas fechadas, abertas e combinadas, referentes a dados sócio-demográficos dos pais/responsáveis e dos pacientes em tratamento, além de perguntas direcionadas sobre a temática pesquisada que permitiram responder aos objetivos propostos.

Os participantes foram requisitados uma única vez e as informações obtidas foram transcritas e armazenadas em um banco de dados protegido por uma senha em diretório oculto para que apenas o pesquisador responsável e os colaboradores tivessem acesso. Os dados foram ordenados no programa Excel 2010 (Windows Professional), analisados através de equação que apresentava as porcentagens e as tabelas e gráficos montados de acordo com o questionário da pesquisa. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (CEP/UNCISAL), sob o Parecer nº 2.607.675, sendo conduzido de acordo com os padrões éticos exigidos.

3 RESULTADOS

A tabela 1 apresenta a distribuição dos dados sociodemográficos dos 26 participantes da pesquisa. Quase a totalidade era do sexo feminino (96,2%). Houve um predomínio de pessoas solteiras (42,3%) e procedentes da região do leste alagoano (57,7%). Apenas 15,4% chegaram ao ensino superior, porém um destes não o concluiu. A faixa etária mais prevalente foi a de 30 e 39 anos (50,0%) e o grau de parentesco foi o de mãe (69,2%).

Tabela 1. Distribuição dos dados sociodemográficos dos pais ou responsáveis pelas crianças em tratamento

quimioterápico antineoplásico. Maceió-AL, 2018.

Variáveis N % Sexo Feminino Masculino 25 01 96,2 3,8 Idade 18-29 30-39 40 ou mais 06 13 07 23,1 50,0 26,9

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 62441-62451 aug. 2020. ISSN 2525-8761 Estado civil Solteira(o) Casada (o) Viúva (o) União estável 11 09 02 04 42,3 34,6 7,7 15,4 Escolaridade Analfabeto

Ens. Fund. Incompleto Ens. médio Completo Ens. Médio incompleto Ens. Superior incompleto Ens. Superior completo

02 11 08 01 01 03 7,7 42,3 30,8 3,8 3,8 11,5 Profissão Dona de casa Agricultora Aposentada Outros 13 06 02 05 50,0 23,1 7,7 19,2 Grau de parentesco Mãe Tia Avó Pai Irmã Madrasta 18 01 04 01 01 01 69,2 3,8 15,4 3,8 3,8 3,8 Procedência Leste alagoano Agreste alagoano Sertão alagoano 15 08 03 57,7 30,8 11,5

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

A caracterização das crianças internadas na unidade de oncopediatria está representada na tabela 2. A faixa etária mais prevalente foi entre 7 e 12 anos (42,3%). O tipo de câncer mais encontrado foi leucemia (53,8%) e mais da metade das crianças (53,8%) encontrava-se em tratamento quimioterápico antineoplásico há menos de 6 meses.

Tabela 2. Distribuição das crianças internadas na unidade de oncopediatria de acordo com a faixa etária e dados clínicos.

Maceió-AL, 2018. Variáveis N % Idade da criança Até 3 4 à 6 7 ou 12 06 09 11 23,1 34,6 42,3 Tipo de câncer Leucemia Neuroblastoma Linfoma Tumor de ovário Histiocitose Não sei responder

14 04 02 01 01 04 53,8 15,4 7,7 3,8 3,8 15,4 Tempo QTAN < 6 meses 6 meses - 1 ano 1- 2 anos > 2 anos 14 07 01 04 53,8 26,9 3,8 15,4

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Um percentual expressivo de participantes (80,8%) afirmou ter recebido informações gerais sobre quimioterapia antineoplásica no início do tratamento. No entanto, um número menor (61,5%) disse ter sido orientado sobre o descarte das excretas durante e/ou após os primeiros dias de infusão das drogas, como se observa na tabela 3.

Tabela 3. Orientações sobre o tratamento quimioterápico antineoplásico. Maceió-AL, 2018.

Variáveis n %

Orientações gerais sobre QTAN Sim Não 21 05 80,8 19,2 Orientações sobre descarte excretas

Sim Não 16 10 61,5 38,5

Fonte: Dados da pesquisa, 2018.

Das 26 crianças internadas na unidade de oncopediatria, 17 (65,4%) usavam fralda em domicílio e/ou durante a realização dos ciclos de quimioterapia. Dessas, apenas sete (41,2%) entrevistados referiram usar luvas como medida de proteção para descarte do produto e somente quatro, além do uso do EPI, também as colocavam em sacos plásticos. Outros 10 (58,8%) mencionaram não adotar medidas preventivas: 7 (70,0%) por não terem tido informação, 2 (20,0%) por não acharem necessário e um (10,0%) não souber responder.

Já com relação às crianças que não utilizavam fralda, apenas um acompanhante referiu o uso de luvas ao descartar excretas. Os que negaram o uso de medidas preventivas, justificaram não achar necessário ou não souberam responder.

Grande parte dos sujeitos da pesquisa (19/76,9%) referiram já ter entrado em contato direto com urina, fezes e vômito das crianças, através de respingos, troca de roupa contaminada e/ou auxílio na coleta de exames, durante internamento para infusão de QTAN ou em domicílio nos primeiros dias após o término do ciclo. Destes, apenas nove (47,4%) achavam que o contato oferecia risco à sua saúde, no entanto, somente dois mencionaram riscos potencialmente reais.

Quanto ao descarte das excretas (urina, fezes e/ou vômito da criança) realizado em casa nos primeiros dias após o término do protocolo de QTAN, apenas oito (30,8%) entrevistados mencionaram algum tipo de cuidado específico, sendo o descarte em lixo contaminado a resposta mais citada (50,0%). Três deles (37,5%) relataram dar descarga com a tampa do vaso sanitário fechada, no entanto um deles referiu repetir o procedimento quatro vezes, e outro disse que a criança usava um banheiro exclusivo em sua residência.

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4 DISCUSSÃO

Os resultados dessa pesquisa apontaram para um perfil de entrevistados similar ao revelado em outros estudos sobre os familiares que acompanham as crianças em tratamento com quimioterapia antineoplásica, em que as principais responsáveis pelo cuidado e que assumem a rotina durante internamento, ambulatório, remédios e intercorrências são mães e donas de casa, que trabalham exclusivamente para a própria família. 8-9

O tipo de câncer mais prevalente entre as crianças internadas na unidade de oncopediatria foi a Leucemia que, segundo o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (INCA)10,

é o tipo de câncer mais frequente na infância e na adolescência, no mundo, e a segunda causa de morte entre na faixa etária de 1 a 19 anos no Brasil.

Logo após a definição do tratamento com QTAN, pacientes e familiares necessitam de informações quanto aos efeitos colaterais provocados pelas drogas (náuseas, vômitos, fadiga entre outros), cuidados durante as intercorrências (neutropenia, plaquetopenia e infecções), aspectos nutricionais e mudanças intestinais, autoimagem, bem como o descarte correto das excretas durante, e nos primeiros dias após, a infusão das drogas11-14,o que foi parcialmente observado entre os sujeitos da pesquisa, com valores um pouco mais expressivos no tocante às informações sobre o tratamento e em menor proporção no que se refere ao descarte das excretas.

Destaca-se aqui que a metade dos entrevistados desta pesquisa não concluiu o ensino fundamental, incluindo, dois analfabetos. O baixo nível de escolaridade dos cuidadores das crianças merece atenção especial por parte da equipe que presta assistência, para adequar a didática durante orientações sobre a terapia quimioterápica antineoplásica.9

Importante ressaltar que algumas substâncias da quimioterapia, consideradas mutagênicas, são eliminadas nos fluidos corpóreos até 72 horas após a infusão dos antineoplásicos, por isso a importância das orientações sobre como descartar as excretas, além dos possíveis danos à saúde de quem cuida da higiene dos pacientes15,16, uma vez que além dos efeitos colaterais advindos das

drogas, crianças e adolescentes tornam-se mais fragilizadas nos aspectos físicos, sociais e emocionais, os deixando mais dependentes dos familiares, incluindo as necessidades de cuidado.8

Alguns resultados encontrados são preocupantes se equipararmos o cuidador ao profissional de saúde, e ainda considerarmos que os primeiros sequer dispõem, na maioria das vezes, de equipamentos de proteção individual quando manuseiam e/ou descartam excretas que podem conter resíduos das drogas.

Apesar de muitos entrevistados admitirem já ter entrado em contato com as excretas das crianças, através de respingos, troca de roupa contaminada e/ou auxílio na coleta de exames, durante internamento para infusão de QTAN ou em domicílio nos primeiros dias após o término do ciclo,

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menos da metade percebia isto como um risco à sua saúde e, destes, apenas dois mencionaram riscos potencialmente reais como a “ocorrência de uma doença” e “queda de cabelo”, respectivamente, decorrentes da contaminação indireta por meio de fluidos corporais e excretas de pacientes que receberam a medicação nas últimas 72 horas. Esta noção de risco também foi descrita na literatura por Maia e Brito17 como “aumento do risco de desenvolver câncer” e “alopecia parcial”. Vale destacar, ainda, as justificativas dadas por outros dois sujeitos que não acreditavam na possibilidade de tais riscos ao responderem “...se houvesse risco haveria informação” e “se houvesse risco, os médicos já teriam informado”, apontando para uma importante deficiência de conhecimento por parte dos cuidadores e/ou repasse de informações pelos profissionais do serviço referido. Diante do que não percebem como risco, também é reduzida a prática de medidas para evitar possíveis contaminações.

Bin18 elucida que os cuidados na manipulação de quimioterápicos abarcam, além do descarte do lixo contaminado e o manuseio de excretas dos pacientes que realizaram quimioterapia, suas roupas de cama, camisolas e pijamas e menciona que durante esses procedimentos deve-se utilizar equipamento de proteção individual: máscara e luva no caso do lixo contaminado e luva e capote no caso das excretas, roupas de cama, camisolas e pijamas. Ferreira19 reforça que, ao encaminhar para a higienização, as roupas devem ser acondicionadas em saco plástico identificado e lavadas separadamente das outras peças roupas. E Silva e Reis16 ainda acrescentam que na manipulação de roupa de cama contaminada, devem ser utilizados dois sacos plásticos e serem submetidas a pré-lavagem separada.

A presente pesquisa também revelou que menos da metade dos acompanhantes das crianças que faziam uso de fraldas, usavam luvas como medida de proteção para o descarte das mesma e um número ainda menor as colocavam em sacos plásticos comuns. Segundo Ferreira19, os materiais

descartáveis, dentre esses a fralda, contaminada com fezes ou urina, ainda tem resquícios de compostos químicos, devendo ser descartados em recipiente rígido e identificados como lixo de quimioterapia ou desprezados nos resíduos nos serviços de saúde de acordo com o protocolo da instituição quanto for o caso, o que demostra a falta de informação e necessidade de ações educativas sobre o assunto. Hemorio20 ainda salienta que, no caso de crianças e bebês, as mães devem evitar tocar diretamente nas fraldas sujas, durante e até três dias após a quimioterapia.

Outro ponto de destaque nos resultados encontrados foi o fato de apenas oito entrevistados terem mencionado algum tipo de cuidado específico quanto ao descarte das excretas das crianças nos primeiros dias após o ciclo de QTAN. Soma-se a isto o agravante de que, os poucos que mencionaram alguma medida, as fizeram em desacordo com as recomendações, não os eximindo de possíveis riscos.

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Torna-se evidente o distanciamento entre a regulamentação e a prática relacionada ao manuseio dos antineoplásicos principalmente quando está direcionada ao profissional. Em 2015, o INCA lançou um manual de boas práticas no intuito de apontar os riscos existentes durante o manuseio de quimioterapia antineoplásica, as medidas protetoras utilizadas e as normas preconizadas; Embora os familiares sejam citados como grupo exposto aos efeitos dessas drogas, trata-se de um documento voltado aos profissionais e neste caso, as excretas são classificadas como agentes contaminantes que podem prejudicar a saúde do trabalhador3.

De acordo com Silva e Reis16, ao descartar as excretas deve-se ter cuidado para não ocorrer

respingos, ofertando papagaio, orientando tampar o vaso sanitário e dar no mínimo duas descargas. Pacientes capazes de utilizar o vaso sanitário e, principalmente, aqueles que farão uso da quimioterapia antineoplásica no ambiente doméstico devem ser orientados a dar descarga duas vezes com a tampa fechada para diminuir o risco de contaminação de outras pessoas19 além de adicionar detergente líquido e aguardar cerca de três minutos antes de efetuar o procedimento14, o que contraditoriamente foi identificado nos achados deste estudo em que apenas três sujeitos disseram dar descarga, após a utilização do vaso sanitário pela criança, com a tampa do vaso sanitário fechada e destes, apenas um repetia o procedimento duas vezes ou mais. Considerando a idade das crianças, é de extrema importância que os cuidadores supervisionem e, em muitos casos, até mesmo executem esta ação.

O Anexo V da RDC/ANVISA nº 220, de 21 de setembro de 2004, que aprova o regulamento técnico de funcionamento dos serviços de terapia antineoplásica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária também traz considerações gerais sobre biossegurança; dentre elas, cuidados com excretas e fluidos corpóreos do paciente e estabelece que, quando do manuseio de excretas dos pacientes que receberam terapia antineoplásica nas últimas 48 horas, os funcionários devem vestir aventais e luvas de procedimento7, porém assim como outro documento supracitado, é mais um destinado a

segurança do trabalhador.

Por fim, ressalta-se que na ausência de recomendações específicas aos familiares, dever-se-ia considerar as precauções com as excretas dos pacientes de acordo com as recomendações dos órgãos nacionais e internacionais, pois entende-se que uma vez que existe risco ao profissional existe a possibilidade de risco aos cuidadores também.

5 CONCLUSÃO

Os pais ou responsáveis pelas crianças em tratamento quimioterápico antineoplásico desta pesquisa demonstraram várias fragilidades no tocante ao descarte das excretas, insuficiência de

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informação sobre os riscos a sua saúde e desconhecimentos de medidas preventivas para evitar os danos tardios.

Mesmo os que demonstraram certa preocupação diante da possível exposição das substâncias perigosas presentes nas excretas utilizavam, em sua maioria, medidas em desacordo com as recomendadas.

Uma das limitações deste estudo pode ser atribuída ao fato de se tratar de um estudo transversal em uma unidade de internamento de pequeno porte e à escassez de literatura referente aos atores envolvidos, o que gerou dificuldade para a comparação e avaliação do conhecimento desse sujeito no estudo, não havendo pesquisas com o mesmo desenho que diferissem ou corroborassem com esta.

O baixo nível de evidência sobre o conhecimento referido ao descarte das excretas de pacientes em tratamento quimioterápico antineoplásico elucida a necessidade de novas pesquisas para fundamentação dessa temática tão relevante, bem como a produção de material didático voltado à segurança dos pacientes e seus familiares, em especial seus cuidadores mais próximos.

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Tabela  1.  Distribuição  dos  dados  sociodemográficos  dos  pais  ou  responsáveis  pelas  crianças  em  tratamento  quimioterápico antineoplásico
Tabela 2. Distribuição das crianças internadas na unidade de oncopediatria de acordo com a faixa etária e dados clínicos
Tabela 3.  Orientações sobre o tratamento quimioterápico antineoplásico. Maceió-AL, 2018

Referências

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