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Os reflexos da reforma protestante na Alemanha nos imigrantes e descendentes de imigrantes alemães da comunidade de Linha Ocearu, Panambi

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Academic year: 2021

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DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS HISTÓRIA - LICENCIATURA

JÉSSICA TÜNNERMANN

OS REFLEXOS DA REFORMA PROTESTANTE NA ALEMANHA NOS IMIGRANTES E DESCENDENTES DE IMIGRANTES ALEMÃES DA

COMUNIDADE DE LINHA OCEARU, PANAMBI

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JÉSSICA TÜNNERMANN

OS REFLEXOS DA REFORMA PROTESTANTE NA ALEMANHA NOS IMIGRANTES E DESCENDENTES DE IMIGRANTES ALEMÃES DA

COMUNIDADE DE LINHA OCEARU, PANAMBI

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Licenciatura em História da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – Unijuí, como requisito parcial à obtenção do título de licenciado em História.

Orientador: Professor Ivo Canabarro

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AGRADECIMENTOS

Ao meu avô Arlindo Janke, por ser meu maior exemplo e incentivador.

Aos meus pais que me proporcionaram esta conquista.

Aos professores e em especial ao professor e orientador Ivo, que me auxiliou durante a construção desse trabalho.

Aos meus amigos e família, pelo seu amor.

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Lutero no século XVI, que criticou várias ações da Igreja Católica, propôs novos caminhos para o cristianismo e resultou na criação da Igreja Luterana que rapidamente se popularizou entre os alemães. Esse estudo é o resultado da pesquisa sobre os reflexos da Reforma Protestante na Alemanha, na vida dos imigrantes alemães que vieram para o Brasil, reflexos esses que culminaram na construção do templo evangélico luterano de Linha Ocearu, no município de Panambi. Com a chegada dos imigrantes luteranos a partir de 1824 as primeiras comunidades foram surgindo e se fixando pelo Brasil, e em torno do ano de 1912 surgiu o povoado de Linha Hunsrück que mais tarde viria a se tornar Linha Ocearu. Nessa localidade se formou uma forte comunidade luterana, que permanece ativa até os dias de hoje.

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sixteenth century, who criticized various actions of the Catholic Church, he has proposed new ways to Christianity and resulted in the creation of the Lutheran Church which quickly became popular among Germans. This study is the result of research on the effects of the Protestant Reformation in Germany, in the lives of German immigrants who came to Brazil, these reflections that culminated in the construction of the Evangelical Lutheran temple in Ocearu, Panambi city. With the arrival of Lutheran immigrants from 1824 the first communities were rising and settling in Brazil, and around the year 1912 came the Hunsrück Line town that would later become Ocearu line. This locality has formed a strong Lutheran community, which remains active until today.

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Figura 1 - Capa da Primeira Edição do Catecismo Maior de Lutero - 1529 ... 17

Figura 2 - Martim Luder/Martim Lutero - Lucas Cranach d.Ä - Martin Luther, 1528 ... 19

Figura 3 - Brasão do Sínodo Rio Grandense - 1886 ... 23

Figura 4 - Mapa da Linha Hunsrück ... 26

Figura 5 - Prédio Sociedade Escolar da Linha Madalena ... 28

Figura 6 - Culto de Lançamento da Pedra Angular 1957 ... 32

Figura 7 - Culto de Lançamento da Pedra Angular 1957 ... 32

Figura 8 - Culto de Lançamento da Pedra Angular... 33

Figura 9 - Construção do Templo ... 34

Figura 10 - O "Kinderlieder Buch" ... 35

Figura 11 - Matéria Jornal "O Panambiense" Em Fase de Conclusão a Igreja de Ocearu - 04/12/1959 ... 36

Figura 12 - Culto de Despedida no prédio escolar - 14/02/1960 ... 37

Figura 13 - Cortejo partindo da escola em direção à igreja - 14/02/1960 ... 37

Figura 14 - Culto de Inauguração, chegada do cortejo - 14/02/1960 ... 38

Figura 15 - Culto de Inauguração - 14/02/1960 ... 38

Figura 16 - Convite para Inauguração dos Sinos, 1961 ... 39

Figura 17 - Matéria Jornal "O Panambiense" Exitosa a festa de inauguração dos sinos da Igreja Evangélica de Ocearú - 02/06/1961 ... 40

Figura 18 - Igreja Evangélica de Confissão Luterana, Ocearu ... 44

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1 INTRODUÇÃO ... 8

1 LUTERO E A REFORMA PROTESTANTE NA ALEMANHA ... 11

1.1 Martim Luder, da Faculdade de Direito para o Convento dos Agostinianos Eremitas Observantes: ... 11

1.2 O Professor e Reformador – Nasce “Lutero”: ... 12

1.3 A Reação da Igreja Católica – Lutero é Excomungado: ... 13

1.4 O Exílio: ... 15

1.5 A Confissão de Augsburgo – Surge uma nova Igreja: ... 17

2 LUTERANOS NO BRASIL – FUNDAÇÃO DAS PRIMEIRAS COMUNIDADES DE ALEMÃES ... 20

2.1 Imigrantes Luteranos: ... 20

2.2 Organização das Primeiras Comunidades e Formação da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil: ... 21

2.3 O Isolamento Luterano: ... 23

3 CONSTRUÇÃO DO TEMPLO LUTERANO NA COMUNIDADE DE LINHA OCEARU, PANAMBI ... 26

3.1 A Vida Religiosa Antes da Construção do Templo: ... 27

3.2 A Construção do Templo Luterano de Linha Ocearu ... 29

3.3 Após a Construção e Inauguração do Templo: ... 39

3.4 Igreja Evangélica de Confissão Luterana de Linha Ocearu e seu papel nos dias atuais: 42 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 45

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1 INTRODUÇÃO

Ao longo de três séculos o cristianismo se espalhou pelo Império Romano. Muito perseguido no seu início, recebeu um novo tratamento a partir do Imperador Constantino (272 a 337). Gradativamente foi se institucionalizando e se distanciando das bases bíblicas e acabou se tornando uma arma ou estratégia política para dominação dos povos e acúmulo de riquezas. Muitas pessoas tentaram chamar atenção para esta realidade e buscaram reformas no interior da Igreja. Contestadoras, foram, ou absorvidas pela instituição, ou perseguidas, subjugadas e mortas.

No primeiro capítulo trabalha-se a questão da Reforma Luterana, como a mesma decorreu e quais foram as consequências. Martim Lutero foi um dos protagonistas desse período de divergências e contestações. Seus desencontros com a Igreja Católica tiveram início após a reinterpretação da Bíblia. Seu objetivo inicial não era criar uma nova religião ou ramificação do cristianismo, porém, os seus esforços para chamar a atenção de alguns desvios e abusos de autoridade acabaram levando-o à excomunhão.

As reações da Igreja Católica não frearam o movimento reformatório, e pelo contrário, deram o impulso que faltava. Graças a grande aceitação o movimento se espalhou na Alemanha e em outros países da Europa. Por causa da postura de “liderança” de Lutero e também pelo fato de ele ser o centro das tensões e dos conflitos com a Igreja Católica, os seguidores do movimento começaram a ser chamados de “luteranos”.

O segundo capítulo apresenta a realidade da chegada dos primeiros imigrantes luteranos ao Brasil e a formação das primeiras comunidades. No Brasil, o luteranismo chegou com os imigrantes alemães, holandeses e luxemburgueses e se estabeleceu em torno de suas pequenas comunidades por volta de 1824. Durante um bom tempo não foi fácil ser um “luterano” no país, pois a religião oficial da nação era a católica e as restrições eram muitas. Os luteranos eram pessoas de segunda categoria, sendo apenas tolerados e estavam impedidos de participar da vida civil e política. E foi nesse cenário que as primeiras comunidades luteranas começaram a se desenvolver no interior do Brasil. A maior parte concentrada nos três estados da

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região Sul, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, mas também em menor quantidade nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e no Espírito Santo.

Os primeiros quarenta anos das comunidades evangélicas luteranas brasileiras foram marcados pelo abandono e elas se organizavam em comunidades sem muita formalidade, escolas que serviam de templo, leigos que exerciam a função de pastor. A partir de 1864 essa realidade começa a mudar com o início da chegada de pastores vindos da Alemanha. Até o final do século XIX, inúmeras comunidades luteranas estavam espalhadas pelo país. Como continuavam sendo uma minoria no cenário religioso brasileiro, essas comunidades começaram a se organizar na forma de sínodos (sýnodo em grego significa juntos no caminho) a partir do ano de 1886.

Nesse cenário de comunidades luteranas de imigrantes alemães, situa-se a comunidade da Linha Ocearu, antiga Linha Hunsrück, no munícipio de Panambi, Rio Grande do Sul. Sua história é o assunto do terceiro e último capítulo. A vida comunitária na Linha Hunsrück teve início por volta de 1912, quando existia na comunidade uma casa comercial e na localidade próxima Linha Magdalena foi fundado o “Schulverein Magdalena” (Sociedade Escolar Magdalena). Em 1913 essa sociedade foi transferida para a Linha Hunsrück, onde um prédio escolar foi construído. A partir de 1929 a sociedade passou a ser chamada de “Sociedade Escolar da Linha Madalena”.

Nos primeiros quarenta anos de vida religiosa na comunidade, os cultos aconteciam na frequência de dois em dois meses no prédio da Sociedade Escolar, bem como os demais sacramentos da Igreja Luterana. Durante os anos da Segunda Guerra Mundial, porém, a “igreja” ficou um tanto quanto estagnada, pois os imigrantes, e os seus descendentes foram perseguidos. Com o fim da guerra e a vitória dos aliados, a perseguição aos alemães foi aos poucos diminuindo e tudo voltava ao normal. Vinha à tona agora a necessidade de construir um templo.

A construção da igreja teve seu início na primavera de 1957, e o templo foi todo construído com doações da comunidade. A igreja foi inaugurada em fevereiro de 1960, e a partir daí a comunidade voltou-se para novos objetivos como a aquisição de dois grandes sinos e a construção de um pavilhão de festas. A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil da Comunidade de Linha Ocearu em

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Panambi segue em atividade 60 anos após o início de sua construção e 498 anos após a “Reforma Protestante”, contando hoje com 99 famílias membras. Dentro da comunidade de Linha Ocearu, ela desempenha o papel, de centro e referência.

Justifica-se esse tema de estudo, pela rica e interessante história por trás da Reforma Luterana, da chegada dos primeiros luteranos ao Brasil e por fim da construção desse templo, tudo isso relacionado diretamente a presença dos alemães no Brasil. Todo o levantamento histórico foi realizado via fontes escritas e orais, sendo complementado por documentos, notícias, fotografias, ou outras fontes quando existiram. Os entrevistados foram escolhidos aleatoriamente, de acordo com a idade e sua participação na vida comunitária de Linha Ocearu. As entrevistas foram aplicadas a partir de um roteiro previamente elaborado, e registradas conforme autorização do entrevistado.

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1 LUTERO E A REFORMA PROTESTANTE NA ALEMANHA

A Reforma Protestante, ou então Reforma Luterana foi um movimento de caráter religioso, que surgiu na Alemanha no século XVI, liderado por Martim Lutero (Luder). Esse movimento criticou várias ações da Igreja Católica, propôs novos caminhos para o cristianismo e resultou na criação da Igreja Luterana, que rapidamente se popularizou entre os alemães.

1.1 Martim Luder, da Faculdade de Direito para o Convento dos Agostinianos Eremitas Observantes:

Martim Luder nasceu em 10 de novembro de 1483, em Eisleben na Alemanha. Poucos meses após o seu nascimento a família mudou-se para Mansfeld, o centro da região mineira próxima, e em poucos anos Hans o pai de Martim que trabalhava como mineiro, conseguiu obter sua independência econômica e já fazia parte do círculo das pessoas economicamente respeitadas na região. Foi, portanto, nesse ambiente de “burguesia ascendente” que Martim Luder cresceu.

Em 1497 seu pai o matriculou em uma escola de Magdeburg, onde um movimento de piedade que ficou conhecido como “Devoção Moderna” se destacava. Dedicados ao ascetismo (doutrina que considera a ascese, isto é, a disciplina e o autocontrole estritos do corpo e do espírito, um caminho imprescindível em direção a Deus, à verdade ou à virtude), seus integrantes fundaram escolas, nas quais estudaram pessoas que influenciaram a Idade Moderna. Entre elas estão: Erasmo de Rotterdam, Nicolau Copérnico, e o papa Adriano VI.

Em 1502 Martim formou-se Mestre de Artes pela faculdade dos artistas, e a partir de 1505 passou a estudar na Faculdade de Direito, e foi durante esse período que aconteceu um fato determinante em sua vida. Um mês após o início dos estudos, Martim viajara à Mansfeld, e durante o retorno da viagem foi surpreendido por uma forte tempestade. Com muito medo de morrer, fez a promessa de ingressar em um convento se sobrevivesse.1 Em 17 de julho de 1505, Martim Luder ingressava, sem o conhecimento do pai, no convento dos agostinianos eremitas

1

DREHER, Martin Norberto. A Crise e a Renovação da Igreja no período da Reforma. 2 ed. São Leopoldo, RS. Sinodal, 2005. P. 24 – 25.

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observantes, em Erfurt. O convento era dos mais rigorosos, porém, em contrapartida possibilitava ao noviço a continuação dos seus estudos.

Martim foi ordenado em 1507 e celebrou a sua primeira missa no mesmo ano. A ordem agostiniana determinou que Martim Luder deveria se tornar professor de teologia, e em 1508 começou a dar aulas de filosofia moral na Universidade de Wittenberg. Em 1509 se tornou Bacharel em Teologia e assumiu as aulas de interpretação bíblica. Entre 1510 e 1511 Lutero esteve em Roma, e ao contrário do que se pensa, ficou muito impressionado com a Cidade Santa e se mostrou um filho exemplar da Igreja Medieval. Em 1512 Martim Luder se tornou mestre em teologia, e desde outubro desse ano até o final de sua vida foi professor de Bíblia.

1.2 O Professor e Reformador – Nasce “Lutero”:

Agora como professor de Bíblia, passou a desenvolver intensa atividade em Wittenberg. De agosto de 1513 a outubro de 1515 interpretou e trabalhou em cima de vários livros bíblicos. Não há unanimidade na pesquisa, porém, foi nesse período que ocorreu dois importantes acontecimentos para a história da Reforma e da Igreja Luterana: as 95 teses de 1517 e a descoberta da “justificação pela fé”.

Em 31 de outubro de 1517, Martim Luder enviou aos bispos aos quais devia obediência, 95 teses a respeito do valor das indulgências. Não há provas concretas de que as tenha afixado na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, como anualmente lembra o mundo protestante. As teses que nada mais eram do que críticas aos abusos na prática das indulgências, também foram enviadas a colegas que as difundiram, dando uma divulgação maior do que Martim Luder esperava.

Com a publicação das 95 teses Luder não desejava uma “reforma”, mas sim o esclarecimento teológico de uma questão que englobava a “salvação das almas”, a autoridade do clero e os tesouros da Igreja. Dessa forma, suas críticas foram muito corajosas, pois tiveram que enfrentar um uso muito difundido e o interesse financeiro da Cúria Romana e foi por esse e outros fatores que causaram tanto furor.

As teses sobre o valor das indulgências difundiram-se rapidamente. Como consequência, Luder foi denunciado por ser suspeito de heresia e convocado a se apresentar em Roma em julho de 1518. Entretanto Luder teve a oportunidade de expor seu pensamento teológico central no que ficou conhecido como Debate de

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Heidelberg, marco em sua trajetória. Foi a partir dali que deixou de usar o sobrenome “Luder” e passou a usar “Lutero”, que significava “o liberto”2.

Para o Debate Lutero preparou 28 teses teológicas e 12 filosóficas, expondo as principais ideias de sua “teologia”. Algumas dessas ideias dizem respeito à salvação pela graça, a natureza pecadora do homem, e a impossibilidade de Deus ser encontrado no ser humano e sim na Cruz de Cristo. Essas ideias também ficaram conhecidas como a Teologia da Cruz, e desagradaram e muito a Igreja Católica, que sentiu que a autoridade do Papa e da própria instituição estava sendo desrespeitada. Em junho de 1518 a Igreja Católica convoca Lutero, na qualidade de herege para se retratar. Caso não o fizesse, seria preso e enviado a Roma. Tal fato demonstra de forma bem clara o poder que a Igreja ainda tinha na época, acima de qualquer instituição ou governo, a vida das pessoas estava “em suas mãos”.

Lutero, porém, não se retratou e insistiu em suas ideias, apelando até ao Papa. Tudo isso acontecia sob a proteção do príncipe Frederico, da Saxônia. A venda de indulgências foi mantida, e Lutero agora apelava para um concílio da Igreja.

Muito mais que assuntos teológicos ou religiosos, havia ainda por trás de tudo isso uma situação política a ser definida. A Cúria Romana buscava conquistar o voto de Frederico da Saxônia para a sucessão do Imperador Maximiliano de forma que o príncipe-eleitor votasse contra Carlos da Espanha e a favor de Francisco I da França. Enquanto isso, o príncipe Frederico tentava convencer o Papa de que o processo de Lutero fosse resolvido na Alemanha. Se fosse impossibilitada de votar em Francisco, a Cúria apoiaria a eleição do próprio Frederico e nomearia um de seus amigos como cardeal, esse amigo poderia ser Lutero. Em meio a tudo isso todas as ações da Cúria Romana contra Lutero ficaram em compasso de espera.

Não há provas do real interesse de Frederico em proteger Lutero, porém, de modo geral os príncipes alemães “abraçaram” a causa da Reforma, pois desejavam tornarem-se livres da interferência do papa e do imperador, conquistar certa “independência” e também tinham intuito de se apossar dos bens da igreja3

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1.3 A Reação da Igreja Católica – Lutero é Excomungado:

2 DREHER, Martin Norberto. A Crise e a Renovação da Igreja no período da Reforma. 2 ed. São Leopoldo, RS.

Sinodal, 2005. P. 29.

3

EDITORA CLEOFAS. A Reforma Luterana. Disponível em: < http://cleofas.com.br/a-reforma-luterana/>. Acesso em: 15 mar. 2016.

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Outros debates foram acontecendo na Alemanha, e com o passar do tempo às temáticas discutidas foram cada vez mais se afastando do tema “indulgências”, e começaram a incluir o direito divino papal, a autoridade dos concílios e a temática da graça. Muitos estudantes da Europa se dirigiram a Wittenberg, que era o centro de todas essas discussões. Lutero conseguiu que a faculdade dos artistas fosse reformada segundo o pensamento humanista, e passou a ser visto como um representante dos alemães.

Nesse contexto, a imprensa teve um papel fundamental na divulgação da Reforma. Um dos objetivos dos reformadores era colocar a Palavra de Deus na língua do povo para que todos tivessem acesso, e a imprensa não cansava de reimprimir os escritos de Lutero, que eram divulgados em vários países. Houve época em que três impressoras editavam simultaneamente os seus livros, tantos eram os títulos que produzia. Seja polemizando com seus adversários, publicando tratados teológicos ou textos de edificação. O ano de 1520 é um marco como ano de publicação. Nele foram editados “Do papado de Roma, contra o celebérrimo

romanista de Leipzig” – “À nobreza cristã de nação alemã, acerca do melhoramento do estamento cristão” – “Do cativeiro babilônico da Igreja. Um Prelúdio” – “Da liberdade cristã e sermão das boas obras”4. Como descrito adiante, Lutero traduziu a Bíblia para o alemão, concluindo o seu trabalho em outubro de 1534. A sua tradução é uma obra primorosa, sendo considerada o marco inicial da literatura alemã.5 Esta foi a primeira vez na história em que a imprensa demonstrou o seu poder.

O desejo da Cúria não se cumpriu e Carlos da Espanha foi eleito imperador alemão, dessa forma o processo contra Lutero foi reiniciado em 1520. Em junho do mesmo ano, foi publicada a bula “Exsurge Domine”, que caracterizava 41 afirmações de Lutero como sendo “heréticas, escandalosas, falsas, ofensivas a ouvidos piedosos, sedutoras para mentes simples e contrárias à doutrina católica”. Após a publicação da bula, Lutero possuía 60 dias para renunciar os seus ensinamentos e queimar os seus escritos.

4

DREHER, Martin Norberto. A Crise e a Renovação da Igreja no período da Reforma. 2 ed. São Leopoldo, RS. Sinodal, 2005. P. 31.

5 MACKENZIE. O Protestantismo e a Palavra Impressa: Ensaios Introdutórios. Disponível em: <

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A publicação da bula deixou a Alemanha em um estado sensível. No sul do país, os bispos não publicaram a bula, pois temiam revoltas populares, na região central a resistência foi aberta, houve distúrbios estudantis e os protestos contra a Cúria e a Igreja Católica foram constantes. Assim que o príncipe Frederico declarou que não entregaria Lutero, a reação em Wittenberg foi imediata. Em frente aos portões da cidade foram queimados diversos volumes do “direito canônico”, e o próprio Lutero jogou sua bula de ameaça de excomunhão no fogo. A reação em Roma também foi imediata, e em 3 de janeiro de 1521 Lutero foi excomungado. Segundo Dreher (2002, p. 32) Jeronimo Aleander, incumbido pela Cúria para publicar a bula escreveu o seguinte para Roma: “Toda a Alemanha se acha em grande revolta; nove décimos erguem o grito de guerra: „Lutero! ‟; para o outro décimo, caso Lutero lhe for indiferente, a senha é: „morte à Cúria romana!”.

Como a Igreja era o centro da sociedade, a excomunhão exigia a proscrição, ou seja, o exílio, porém o governo alemão não queria isso, e então resolveram dar mais uma chance para Lutero negar seus ensinamentos, dessa vez, em frente ao imperador na Dieta de Worms. Lutero, porém, negou se retratar a não ser se fosse convencido pelas Escrituras e argumentos racionais. O imperador então decretou que agiria contra ele. Quando deixava Worms, a carruagem de Lutero foi “assaltada” por ordem de Frederico da Saxônia, e o mesmo foi levado para Wartburgo onde permaneceu “exilado” por um longo tempo. Enquanto isso Carlos V assinou o edito de Worms que decretava a prisão de Lutero e seus adeptos, a proibição da divulgação de suas obras, e que todos os livros publicados em língua alemã fossem submetidos à censura dos bispos.

1.4 O Exílio:

O período de solidão em Wartburgo foi difícil, porém, produtivo. Houve uma intensa troca de correspondências com os colegas de Wittenberg e também uma intensa produção literária. A partir daí muitos aspectos da Igreja começaram a ser questionados, indicando que um “novo caminho” poderia estar surgindo. Destacaram-se questões relacionadas aos votos monásticos e ao matrimônio, uma reforma litúrgica e celebração da eucaristia. Com tudo isso e mais alguns acontecimentos os ânimos começaram a ficar exaltados, e em 1522 o povo invadiu a

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igreja de Wittenberg quebrando praticamente todas as imagens. Essa situação que parecia quase incontrolável foi enfrentada por Lutero que deixou Wartburgo em março de 1522, e em maio foi a Wittenberg proferir uma série de sermões nos quais atacou essa “teologia entusiasta”.

Antes disso, Lutero se dedicou ao estudo do grego e do hebraico, escreveu contra as confissões auriculares do Papa, e trabalhou na tradução de textos bíblicos para o alemão, já que na época os mesmos só podiam ser compreendidos pelo clero, explicando o monopólio da Igreja sobre a vida e os ensinamentos, pois assim a Bíblia funcionava como cera derretida, sendo manipulada da forma que bem quisessem. A tradução do Antigo (essa só concluída em 1534) e do Novo Testamento foi sem dúvida, sua obra mais importante.

Mesmo na ausência de Lutero e apesar da vigência do Edito de Worms, o movimento reformatório expandiu-se rapidamente pela Alemanha e também por outros países. Enquanto isso Lutero se ocupava com questões relativas ao direito de comunidades cristãs convocarem pastores e de demiti-los, elaborou uma nova ordem do culto, discutiu as relações de autoridade civil e eclesial, e escreveu seu primeiro hino (O Cântico dos Dois Mártires de Cristo em Bruxelas, Queimados pelos Sofistas de Louvain – 1523) ao tomar conhecimento do assassinato de dois agostinianos na fogueira em Bruxelas, isso por serem adeptos de seu pensamento.

Nos anos de 1522 e 1523 os movimentos sociais começaram a ver em Lutero um possível aliado, e o movimento Luterano passou a ser visto como um movimento revolucionário. Enquanto alguns estamentos da Alemanha, “os da velha fé” colocavam em prática o Edito de Worms, Lutero estava envolvido em debates teológicos com espiritualistas, anabatistas e camponeses. Mesmo que indiretamente, toda essa situação influenciou de alguma forma a Guerra dos Camponeses que foi a maior e mais generalizada revolta popular da Europa antes da Revolução Francesa, envolvendo aspectos políticos, econômicos e religiosos.

Após a Guerra dos Camponeses, formou-se no norte da Alemanha a Liga de

Dessau com o objetivo de eliminar a seita luterana, e em contrapartida os príncipes

simpatizantes do luteranismo fundaram a Liga de Gotha-Torgau. As convicções religiosas promoveram a formação de dois blocos políticos, e em 1526 a Dieta de Espira confirmou que até a realização de um Concílio, cada território poderia agir de acordo com sua consciência e responsabilidade, perante Deus e o Imperador. Com

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isso Lutero pode continuar algumas reformas, dessa vez focando na reestruturação da Igreja. Realizando visitações, instalando pastores de boa formação como bispos e escrevendo o Catecismo Maior e o Catecismo Menor (livros que até hoje são bases da doutrina luterana).

Figura 1 - Capa da Primeira Edição do Catecismo Maior de Lutero - 1529

Fonte: Iglesia Pueblo Nuevo – Catecismos de Lutero6

As várias “ramificações” que surgiam da “Nova Fé” preocupavam os príncipes que, de toda forma buscavam uma aliança entre elas. Isso tudo por que, em 1529 Carlos V vencia Francisco I, e agora o Papa se achava na condição de resolver o conflito religioso. Por isso, já em 1529 durante a Dieta da Espira foi exigida a recatolização dos territórios alemães, contra a qual protestaram os territórios ditos evangélicos. Desse ato resultou a designação protestante.

1.5 A Confissão de Augsburgo – Surge uma nova Igreja:

Antes mesmo de ser coroado pelo Papa, Carlos V convocou a Dieta de Augsburgo em 1530. Assim que foi convocado, João da Saxônia ordenou aos teólogos de Wittenberg que preparassem um documento no qual ficassem evidentes os pontos de divergência entre a “Nova” e a “Velha Fé”. Lutero não pode participar da Dieta por causa de sua proscrição, então Melanchton foi para apresentar os artigos. Confrontado por João Eck com 404 afirmações heréticas dos luteranos,

6

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Melanchton viu-se forçado a reunir os artigos em um só documento, que seria a

Confissão de Augsburgo, documento básico para a teologia luterana.

A Confissão de Augsburgo foi revidada, e após muitas rodadas de negociações os “partidos religiosos” não conseguiram encontrar uma solução. A resolução final da Dieta seria de que os representantes da nova fé possuíam um prazo para se posicionar sobre os pontos em que haviam divergências, ficaram proibidos de introduzir novas doutrinas e não podiam impedir a recatolização dos territórios. Os da Velha Fé decidiram implantar as decisões do Edito de Worms e a possibilidade de uma guerra religiosa era iminente. Diante disso, os territórios comprometidos com a nova fé fundaram uma nova liga, uma liga de defesa conhecida como Liga

Esmalcada. Com o avanço das discussões e dos entendimentos políticos, Lutero

cada vez mais, passava para um segundo plano.

Com a eleição de novo Papa após a morte de Clemente VII, finalmente um Concílio foi convocado. O mesmo aconteceria na cidade de Mântua, em maio de 1537. Os representantes da Nova Fé reclamaram fato do Concílio ser realizado em uma cidade italiana, e não dizer respeito a liberdade de opinião e imparcialidade do Concílio, o Papa seria seu próprio juiz. Após discussões e negociações o Concílio acabou não se realizando, e quando finalmente o Concílio de Trento aconteceu em 1545, já havia se tornado impossível manter a unidade da Igreja ocidental. Após 1530 quando a discussão foi passada para o campo político, a reforma se tornou uma questão de responsabilidade dos príncipes e das cidades, e Lutero acabou perdendo o controle. Mesmo assim, não permaneceu inativo, concentrou seus esforços na conclusão da tradução da Bíblia para o alemão e pregou sobre assuntos de ética, atacando príncipes que se excediam.

Lutero na sua ideia de “melhorar” a Igreja Católica acabou abrindo caminho para o surgimento de muitas outras denominações religiosas, e dentre elas está a Igreja Luterana. Vale lembrar que criar uma nova igreja não era o objetivo inicial de Lutero, e muito menos colocar o seu nome nela. Ele mesmo, conforme descrito no Portal Luteranos7, pediu que seu nome fosse calado e que ninguém fosse chamado luterano, senão cristão.

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Figura 2 - Martim Luder/Martim Lutero - Lucas Cranach d.Ä - Martin Luther, 1528

Fonte: Wikipédia – Martinho Lutero8

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2 LUTERANOS NO BRASIL – FUNDAÇÃO DAS PRIMEIRAS COMUNIDADES DE ALEMÃES

2.1 Imigrantes Luteranos:

Mais de 250 anos após Lutero “iniciar” a Reforma na Alemanha, Dom João VI e, posteriormente Dom Pedro I enviaram agentes à Europa com a finalidade de aliciar imigrantes e trazê-los ao Brasil. Tais imigrantes eram vítimas do empobrecimento rural alemão, suíço e luxemburguês, da explosão demográfica, da crise econômica dos artesãos urbanos após o surgimento da indústria, das más colheitas, da divisão da terra e da lei de herança. Ao todo, o Brasil recebeu, entre 1824 e 1945, cerca de 300.000 imigrantes alemães, além de suíços, luxemburgueses e alguns holandeses. Estima-se que 60% eram protestantes.

O sistema brasileiro utilizou o imigrante europeu para diversas finalidades. Usou-o como fator para o “branqueamento” da sociedade brasileira, assentou-o em áreas estratégicas para a defesa das fronteiras nacionais, valeu-se dele para a formação do exército nacional, usou-o para a construção, conservação e proteção de estradas, valeu-se dele para o apoio a núcleos urbanos, para a valorização fundiária, para a obtenção de mão-de-obra barata, para criar uma classe média brasileira, e muitas vezes para substituir a mão-de-obra escrava.

Sobre o “mito do branqueamento”, Camila Baraldi, doutoranda de Relações Internacionais na USP, assessora de estudos do Centro de Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante – CDHIC aponta o seguinte:

No fim do século XIX, as discussões sobre a política migratória foram invadidas pelos discursos racialistas e o objetivo de branqueamento da população brasileira se tornou mais explícito. Em 1890 ficou bastante claro este objetivo, além dos ligados à economia. Assim, o art. 1º do Decreto 528 de 1890 dispunha que era inteiramente livre a entrada de trabalhadores, exceção feita aos indígenas da Ásia ou da África, que necessitavam autorização do Congresso Nacional. Com essa política, entre 1877 e 1930, o Brasil recebeu cerca de quatro milhões de imigrantes (LEVY, 1974). Tornava-se proeminente na época a crença na existência de "raças" distintas, quase espécies diversas, cuja mistura resultava em degeneração, uma vez que os mestiços herdavam todas as características negativas de cada "raça" (SCHWARCZ, 1993). Logo, "esse saber sobre as raças implicou (...) um ideal 'político', um diagnóstico sobre a submissão ou mesmo a possível eliminação das raças inferiores" (SCHWARCZ, 1993 p. 60). A política de branqueamento da população brasileira insere-se nesse contexto de expansão das ideias de autores darwinistas sociais, para quem o progresso das sociedades não era um estágio que seria atingido mais cedo

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ou mais tarde, mas era restrito às sociedades puras, sem miscigenação. No Brasil, reinterpretou-se essa teoria para não estabelecer a inviabilidade da nação mestiça, mas "apenas" hierarquias e diferenciações (SCHWARCZ, 1993), buscando um aumento do elemento branco que através da miscigenação acabaria por eliminar as características negativas das "raças inferiores" (SEYFERTH, 2000). (BARALDI, 2014, p. 81 p. 82.)

2.2 Organização das Primeiras Comunidades e Formação da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil:

Em meio a uma situação de saída da miséria extrema e de uso pelo sistema brasileiro, os primeiros imigrantes luteranos organizaram a sua vida religiosa. Para os primeiros, o governo providenciou pastores, outros foram providenciados por companhias colonizadoras. Porém, podemos dizer, ou melhor, devemos dizer que os imigrantes organizaram sua própria vida religiosa. Sua religiosidade esteve determinada por três obras: a Bíblia, o livro de cânticos e catecismo. Os primeiros cultos foram realizados nas casas dos colonos, ali lia-se a Bíblia, havia uma pregação e cantava-se. A falta de pastores fazia com que muitas vezes, tivessem que designar pessoas do seu próprio meio para assumirem as funções pastorais, estes ficaram conhecidos como pastores-colonos e mais tarde, de forma pejorativa foram chamados de pseudopastores.

Na Alemanha, ou então na sua terra de origem, os imigrantes estavam acostumados a ter um acompanhamento eclesiástico ao longo de toda vida, então buscaram reproduzir aqui a vida religiosa conhecida lá. O pastor geralmente era também o professor. Assim surgiram nas aldeias de imigrantes as construções típicas que eram o centro das mesmas: templo, escola, sociedade de cantores ou de tiro-ao-alvo. Essas construções eram dos colonos que, ainda hoje dizem: nossa igreja, nossa escola, nosso cemitério, nossa casa pastoral e nosso pastor.

De 1824 até 1850 as instâncias eclesiásticas alemãs ainda não haviam demonstrado preocupação com os imigrantes luteranos no Brasil. No entanto após algumas publicações de relatos de viagens, alguns estados alemães (com destaque a Prússia) tomaram conhecimento dos “alemães no Brasil” e demonstraram interesse neles, um interesse com um viés mais econômico do que religioso, já que esses imigrantes poderiam se tornar um mercado em potencial. Em virtude disso, vários pastores e professores foram enviados para o Brasil.

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Com os pastores imigrados a partir de 1860, procurou-se criar no Brasil uma estrutura eclesiástica. Na Europa, eles apenas conheciam a forma e a estrutura da Igreja estatal, então em 1863 tentaram, sem sucesso, criar junto ao governo um Consistório Evangélico. Como essa proposta não foi aceita, os pastores criaram em 1868 o Sínodo Evangélico Alemão da Província do Rio Grande do Sul (sínodo = juntos no caminho), porém esse também não vingou.

Aliás, uma parcela do povo luterano se revoltou contra esse novo tipo de igreja clerical que surgia. Essa reação ficou conhecida como “Revolta dos Mucker”, que na realidade era um movimento messiânico luterano com algumas características peculiares, como o fato de ser liderado por uma mulher, Jacobina Mentz Maurer. No cenário de abandono em que os primeiros imigrantes viviam, Jacobina reunia em torno de si os pacientes de seu marido, um curandeiro, lia a bíblia com eles e comentava. Após denuncias de aproveitamento político os Mucker foram perseguidos e reagiram de forma violenta. Tal situação de conflito só acabou com o massacre dos Mucker pelo exército.

No período de transição entre a fase pioneira e a quadra de prosperidade, algumas populações gringas mais isoladas entraram também em processo de anomia de caráter messiânico, mas diferente dos movimentos similares ocorridos no país por sua inspiração bíblico-protestante e por seus conteúdos culturais oriundos de tradições populares alemãs. Tal foi o que sucedeu em 1872 com a erupção messiânica dos Mucker (santarrões) do rio dos Sinos, a 35 quilômetros de Porto Alegre, a capital provincial do Rio Grande do Sul, liderada principalmente por uma mulher-profeta que também organizou uma comunidade igualitária e fanática. Em seu período crítico, esse movimento revivalista ocasionou uma sucessão de crimes e assassinatos e só foi erradicado através da chacina da maioria dos crentes. (RIBEIRO, 1995, p. 439)

A questão da Revolta dos Mucker ainda necessita ser mais estudada. Não há uma definição clara de quais foram as consequências da mesma, se sabe que ela eliminou praticamente todos os pastores-colonos que ainda restavam, e deixou marcas profundas na comunidade luterana. Após a Revolta dos Mucker, qualquer movimento de “reavivamento” religioso foi colocado sob a suspeita de Muckerismo9

. Em 1886, agora com participação do povo luterano foi criado o Sínodo Riograndense.

9

DREHER, Martin Norberto. Peregrinação: Estudos em homenagem a Joachim Herbert Fischer pela passagem

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Figura 3 - Brasão do Sínodo Rio Grandense - 1886

Fonte: Arquivo Histórico da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil 10

Esse exemplo foi seguido, em 1905 pela criação do Sínodo Evangélico Luterano de Santa Catarina, Paraná e outros estados. Em 1911 e 1912, respectivamente, foram criados ainda a Associação de Comunidades Evangélicas de Santa Catarina e Paraná e o Sínodo Evangélico do Brasil Central. Parte dos imigrantes se reuniu ainda em 1900 no distrito brasileiro do Sínodo Luterano de Missouri. Dessas cinco pequenas igrejas luteranas resultaram as duas igrejas luteranas hoje existentes no Brasil: a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e a Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB).

2.3 O Isolamento Luterano:

De fato, a luta travada pelos luteranos para se integrar à vida brasileira foi dolorosa. Eram imigrantes protestantes e dessa forma, estrangeiros não católicos. O parágrafo quinto da Constituição do Império dizia:

A religião católica apostólica romana continuará a ser a religião do Estado. Todas as demais religiões serão toleradas, em casas para tanto destinadas, sem qualquer forma exterior de templo. (BRASIL. Lei n° 234 de 23 de novembro de 1841).

Não tinham o direito de votar, e nem eram elegíveis (assim como cerca de 95% da população, voto era censitário e indireto). Até 1860, seus matrimônios não eram válidos, mas considerados concubinato. Após essa data, passaram a valer

10

Disponível em: http://www.luteranos.com.br/conteudo_organizacao/arquivo-historico-da-ieclb/documentos-do-arquivo-historico-federacao-sinodal

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aqueles celebrados na presença de pastores luteranos, os quais, no entanto, estavam impedidos de celebrar matrimônios mistos. Seus mortos não podiam ser sepultados em cemitérios públicos, tendo que, por isso, criar e manter seus próprios cemitérios. Como consta no trecho citado da Constituição do Império seus templos não podiam ter forma exterior que denunciasse sua finalidade. A união de todos esses fatores levou ao isolamento, que se aliava ao isolamento geográfico, étnico e linguístico.

Alguns historiadores afirmam que essa situação vivida pelos imigrantes luteranos aliada aos ideais iluministas e humanistas vindos da Europa, contribuiu para que ocorresse a formação de um Estado Laico no Brasil, ou seja, a separação entre Estado e Igreja. Essa separação foi promulgada na constituição da República Brasileira de 1891.

Estado e Igreja passaram a ser instituições separadas. Deixou assim de existir uma religião oficial no Brasil. Importantes funções até então monopolizadas pela Igreja Católica foram atribuídas ao Estado. A República só reconheceria o casamento civil e os cemitérios passaram às mãos da administração municipal. Neles seria livre o culto de todas as crenças religiosas. Uma lei veio completar em 1893 esses preceitos constitucionais, criando o registro civil para o nascimento e a morte das pessoas. As medidas refletiam a convicção laica dos dirigentes republicanos, a necessidade de aplainar os conflitos entre o Estado e a Igreja e o objetivo de facilitar a integração dos imigrantes alemães, que eram em sua maioria luteranos. (FAUSTO, 2004, p. 251)

Porém, mesmo com a separação entre Estado e Igreja a política da República Velha, assim como foi durante o período Imperial, não favoreceu o rompimento desse isolamento. Nessa situação, a política pangermanista do Reino Alemão encontrou solo fértil. Durante o governo de Getúlio Vargas (1930-1945) bem como nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial, as medidas nacionalizadoras do governo brasileiro foram duramente sentidas pelos luteranos. Muitos estavam envolvidos no integralismo e na ideologia nazista. Muitas localidades e cidades precisaram mudar de nome, escolas foram fechadas, livros foram queimados ou escondidos e pessoas foram presas simplesmente por falar no idioma alemão.

O ingresso do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos “aliados”, ou seja, contra a Alemanha, deu aos luteranos a sacudida final, eles precisavam se voltar conscientemente ao Brasil e sua realidade. O desenvolvimento e as transformações pelas quais passou o povo luterano a partir de 1945 levaram ao progressivo abandono da língua alemã, à nacionalização do clero e a um crescente envolvimento com os problemas nacionais. Esse abandono das “raízes germânicas”,

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porém, aconteceu de forma diferente em várias partes de nosso país conforme descrito no capítulo a seguir. Por muito tempo, pequenas comunidades do interior ainda resistiam a política de nacionalização e eram como “pequenos pedaços” da Alemanha em solo brasileiro.

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3 CONSTRUÇÃO DO TEMPLO LUTERANO NA COMUNIDADE DE LINHA OCEARU, PANAMBI

A localidade de Linha Ocearu situa-se na zona rural, na região sul do munícipio de Panambi, próxima a zona urbana. Sua área é de aproximadamente 1500 hectares de terra, nos quais se desenvolvem a agricultura e pecuária leiteira. O início da formação dessa comunidade está ligado com o estabelecimento da colônia de Neu Württemberg (atual Panambi), em 1898. A Linha Ocearu compreende a junção de duas localidades: A Linha Magdalena (43 lotes coloniais) e a Linha Hunsrück (16 lotes coloniais), comportando 59 lotes coloniais. Tais lotes foram adquiridos pela empresa de Colonização Hermann Meyer que fundou a colônia particular de Neu Württemberg visando estabelecer imigrantes alemães em áreas de mata nativa11.

Figura 4 - Mapa da Linha Hunsrück

Fonte: MAHP – Museu e Arquivo Histórico Panambi

11

NEUMANN, Rosane Marcia. A Colonização alemã na Linha Ocearu no final do século XX. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em História) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, Ijuí, 2000, p. 28 – 36.

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A Linha Hunsrück funcionava como centro da comunidade onde se localizavam a escola, igreja, casas comerciais e pequenas indústrias artesanais. O nome Hunsrück corresponde a uma cidade alemã, e mesmo que posteriormente boa parte dos colonos que ali se instalaram fossem descendentes de imigrantes oriundos dessa cidade, o agrimensor que realizou a demarcação do terreno teria denominado o mesmo arbitrariamente.

3.1 A Vida Religiosa Antes da Construção do Templo:

A atividade de vida comunitária na Linha Hunsrück/Ocearu teve seu início a partir de 1912 aproximadamente. Na época existia na então Linha Hunsrück uma Casa Comercial e na Linha Magdalena foi fundado o “Schulverein Magdalena” que no idioma alemão significa Sociedade Escolar Magdalena. Em 1913 essa sociedade foi transferida para a Linha Hunsrück, onde um prédio escolar foi construído. A partir de 1929 a sociedade passou a ser chamada de “Sociedade Escolar da Linha Madalena”.

A mudança de nomes de Linha Hunsrück para Linha Ocearu, ocorreu durante a “Campanha de Nacionalização” do governo brasileiro. Entre 1937 e 1945, uma parcela significativa da população brasileira sofreu interferência na sua vida privada produzida por essa "campanha". Esta população era composta por imigrantes e seus

descendentes. Tal política fez com que várias comunidades e cidades fundadas por

imigrantes europeus mudassem de nome, além de muitas outras exigências.

Sobre a atividade religiosa durante esse período inicial da comunidade de Linha Hunsrück não há nada escrito ou registrado. Os cultos eram realizados no prédio da escola, bem como o culto infantil, os batismos e confirmações (sacramentos da Igreja Luterana, semelhantes a “crisma”). Os casamentos eram celebrados na Igreja Matriz em Neu Württemberg (Panambi). No ano de 1918 foi fundada a Sociedade Cemitério que ocupou uma área para sepulturas, doada pela Sociedade Escolar.

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Figura 5 - Prédio Sociedade Escolar da Linha Madalena

Fonte: MAHP – Museu e Arquivo Histórico Panambi

Nesses primeiros quarenta anos, havia cultos na frequência de dois em dois meses, devido ao fato do pastor atender toda a área das atuais cidades de Panambi e Condor, e o mesmo o fazia a cavalo. Os cultos eram sempre nos domingos à tarde. Durante os anos da Segunda Guerra Mundial, porém, a “igreja” ficou um tanto quanto estagnada, pois os imigrantes, e os seus descendentes foram duramente perseguidos. A maioria dos pastores que cá estavam nesse primeiro período era de origem alemã, e muitos não sabiam falar o português. Tal situação fez com que muitos cultos fossem cancelados, e até algumas apreensões fossem feitas, como o que aconteceu na Linha Ocearu no ano de 1940.

O Ensino Confirmatório (curso oferecido na Igreja Luterana para adolescentes na faixa de 12 a 14 anos de idade) era “lecionado” no prédio escolar, assim como as outras atividades religiosas. As turmas que estavam na faixa etária dos 12 aos 14 anos, tinham ensino confirmatório durante a aula, pelo período de uma hora. No entanto, durante a Segunda Guerra Mundial a escola esteve correndo o risco de ser fechada, e dessa forma, o Ensino Confirmatório passou a ser realizado em um

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galpão de propriedade de Albino Dietrich. Apesar disso, no ano de 1940, durante um Ensino Confirmatório a polícia apareceu no local e levou o Pastor Strohtmann e também os livros de Ensino Confirmatório apreendidos, já que esses estavam escritos na língua alemã.

A minha irmã Irene estava lá no galpão quando isso aconteceu, a polícia chegou no meio do Ensino Confirmatório, levou o Pastor Strohtmann para a subdelegacia de Panambi, e apreendeu os livros dela. (Ervino Schrammel)

12

Ocorreu ainda outra apreensão na Linha Ocearu no ano de 1944, quando o então professor Jürgen Guilherme Junge, indignado com o acirramento da perseguição aos alemães, escreveu um manifesto e grudou na casa comercial do Dietrich e do Zimmermann. Somente ele e sua esposa Helga sabiam da autoria do manifesto. Porém, em investigação a polícia reconheceu a letra de máquina e ele foi preso em fevereiro de 1944. Como professor da escola, o fato teve muita repercussão e a escola novamente passou muito perto de ser fechada, porém, isso não aconteceu.

Tais fatos e acontecimentos não desanimaram a comunidade de Ocearu, quem sabe por um tempo sim, mas não definitivamente. Com o fim da guerra e a vitória dos aliados, a perseguição aos alemães foi aos poucos diminuindo e tudo voltava ao normal. Vinha à tona agora a necessidade de construir um templo. Tal não se motivou pelo fato do prédio escolar não ser mais suficiente, mas sim devido à presença de templos em muitas localidades ao redor da Linha Ocearu. Assim, a comunidade de Linha Ocearu começou a alimentar também esse desejo de construir o seu templo evangélico, a sua igreja.

3.2 A Construção do Templo Luterano de Linha Ocearu

Em 13 de agosto de 1955 ocorre a realização da 1ª Assembleia Geral Ordinária do Distrito de Ocearu. Essa Assembleia foi realizada no prédio escolar com o objetivo de discutir o orçamento da Paróquia Central e também debater os compromissos da Comunidade Evangélica de Ocearu. A pedido de vários membros, o então presidente na época, Sr. Willy Dietrich pôs em discussão a construção de um templo religioso em Ocearu. Após várias manifestações, os membros da

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Assembleia decidiram que seria interessante divulgar a ideia na comunidade e debatê-la em uma próxima Assembleia.

Somente após a realização dessa 1ª Assembleia Geral Ordinária do Distrito de Ocearu, é que foi adotado um “Livro de Atas”. Através dessas Atas é que conseguimos descrever de que forma aconteceu o desenvolvimento da Comunidade Evangélica Luterana de Ocearu.

No dia 12 de novembro de 1955 foi realizada uma Assembleia Extraordinária que teve como foco a construção de uma igreja. Nesta Assembleia foram levantados muitos aspectos referentes à construção do templo. O local ideal já estava definido, seria entre a escola e o cemitério, já que na época em que o terreno foi doado pela Colonizadora Hermann Meyer a mesma designou que os 24 hectares seriam em beneficio de uma escola, uma igreja e um cemitério. Ficou resolvido também, que os recursos para a construção do templo seriam conseguidos através de doações não obrigatórias, sob o lema: “Queremos construir uma Casa de Deus com corações”. Já nessa primeira oportunidade, 41 membros (membro entende-se como família) presentes assinaram o Livro de Doações, chegando ao valor de Cr$ 60.000,00 (60 mil cruzeiros).

A partir dessa data, muitas outras reuniões foram realizadas até que se consumasse a construção do templo. No dia 23 de janeiro de 1956 foi realizada uma reunião da diretoria, que era composta pelos senhores Willy Dietrich, Wendolin Pohl e Jürgen Guilherme Junge. Nessa reunião foi realizado o levantamento das doações recebidas, que já alcançavam o valor de Cr$ 133.100,00. Além disso, foram analisadas várias plantas de templos fornecidas pelo Engenheiro Siegfried Costa, da cidade de Ijuí. Na assembleia do dia 23 de janeiro de 1956 foi formada a Comissão dos Quinze, que seria responsável por organizar e comandar a construção do templo. A Comissão era composta pelos seguintes nomes: Carlos Augusto Schrammel, Theobaldo Norberto Kieling, Roberto Fries, Nilo Stiehl, Ervino Benno Schrammel, Wendolin Pohl, Jürgen Guilherme Junge, Willy Dietrich, Otherno Wallauer, Willibaldo Pohl, Karl Friedrich Richard Schmidt, Arnoldo Schmidt, Edmundo Schütz, Adolf Hörz e Júlio Christmann.

A primeira reunião da Comissão dos Quinze foi realizada em março de 1956, com o objetivo de debater e decidir a data de início da construção, a requisição de

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um projeto, a contratação de profissionais para a construção e a compra de materiais.

O material de construção foi fornecido, a preço de custo, pela Casa Comercial Willy Dietrich, e os tijolos foram comprados nas olarias Post e Wächter.

O mês de setembro foi escolhido para o início da obra, e um grupo formado pelos senhores Richard Schmidt, Ervino Schrammel e Jürgen G. Junge, foi encarregado de ir até Palmitos, no estado de Santa Catarina, propor ao Sr Cristiano Schwarz o cargo de direção da obra. Frente à resposta negativa do Sr Schwarz a comissão realizou orçamentos com as firmas: Construtora Rehn e Ruprecht Hentges. Esse último, Ruprecht Hentges foi então contratado para executar a obra.

O Sr. Carlos Schrammel foi nomeado “Capataz de Serviço” e receberia o valor de Cr$ 18,00 por hora trabalhada. Já o Sr. Richard Schmidt se prontificou a medir e marcar a madeira doada para o telhado.

A Sociedade Escolar Madalena comunicou em julho de 1956 que iria doar uma área, nas dimensões de 40 x 60 metros para a construção da igreja. A obra estava orçada em Cr$ 670.000,00, enquanto as doações haviam atingido a meta de Cr$ 140.000,00. Tendo em vista os altos custos e a falta de recursos, a Comissão dos Quinze adiou a construção do templo para 1957, quando uma segunda coleta de doações foi realizada.

A nova data para o início da construção seria a primavera de 1957. Em um culto festivo no dia 22 de setembro de 1957 houve o lançamento da pedra angular13, doada pelo Sr. Alfredo Happke e finalmente, a construção do tão desejado templo seria iniciada.

13

O ritual de lançamento da pedra angular é culturalmente relacionado a maçonaria. Porém, não há comprovação de uma ligação entre luteranos e maçons. A Igreja Luterana usa o princípio bíblico de pedra angular. Para os cristãos, Jesus Cristo é a pedra angular escolhida por Deus para edificar a sua Igreja.

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Figura 6 - Culto de Lançamento da Pedra Angular 1957

Fonte: Arquivo Pessoal Ervino Schrammel

Figura 7 - Culto de Lançamento da Pedra Angular 1957

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Figura 8 - Culto de Lançamento da Pedra Angular

Fonte: Arquivo Pessoal Ervino Schrammel

O templo foi todo construído com doações da comunidade, alguns doaram valores em dinheiro, outros mão-de-obra, outros como no caso do Professor Junge e do Sr Willy Dietrich acolheram os “construtores” em suas casas fornecendo refeições, a prefeitura da cidade de Panambi doou a pedra britada, e até mesmo a madeira que foi usada na construção veio através de doações. Além disso, em outubro de 1957 a comunidade foi visitada pelo Bispo Alemão Ver. Adolf Wishmann que veio conhecer a obra do templo.

A animação, porém, não durou muito tempo. Em 23 de novembro de 1957, a Comissão dos Quinze se reuniu pela décima vez, e constatou que as despesas da construção já haviam atingido um valor muito alto, e que havia um déficit em caixa de Cr$ 86.000,00. A obra foi interrompida até maio de 1958, até lá foram lançadas a terceira e a quarta campanha de arrecadação de doações. Ficou determinado que todos os membros deveriam ser visitados.

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Figura 9 - Construção do Templo

Fonte: Arquivo Pessoal Ervino Schrammel

Durante as campanhas de arrecadação, membros da Comissão dos Quinze passavam de casa em casa solicitando a colaboração da comunidade com doações.

No ano de 1958 foi a primeira vez que vieram até a nossa casa pedir doação. Eu era um menino, tinha 8 ou 9 anos, e o pastor Friedrich Lessmann me deu um livro de cantigas infantis, o “Kinderlieder Buch” em troca de três coelhos. (Elmo Hörz) 14

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Figura 10 - O "Kinderlieder Buch"

Fonte: Arquivo Pessoal Elmo Hörz

Em 21 de maio de 1959 a Comissão dos Quinze se reuniu pela décima segunda vez. O prédio já estava coberto e o forro deveria ser iniciado. A execução desse trabalho ficou a cargo dos Srs. Richard Schmidt e Adolf Hörz. O Sr. Benno Deckert doou um angico do qual foi serrada uma viga com nove metros de comprimento, utilizada na construção do mezanino onde os corais se apresentam. Na décima terceira reunião, foi escolhida a empresa que forneceria as aberturas. As firmas: Reinke Irmãos, Erich Korndörfer e Alberto Dhein estavam participando, sendo que essa última venceu a concorrência.

No dia 4 de setembro de 1959, a Comissão dos Quinze se reuniu pela décima quarta e última vez. Foram solicitadas propostas as firmas: Tünnermann, Dhein e Geckeler para a execução dos bancos, sendo que a firma Dhein ofereceu a melhor proposta.

Para cobrir as despesas finais seriam feitos empréstimos entre os membros, a um juro de 9% ao ano. Nessa última sessão também foi fixada a data para a

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inauguração do templo, 14 de fevereiro de 1960, e para esse evento seria planejada uma grande festa.

Figura 11 - Matéria Jornal "O Panambiense" Em Fase de Conclusão a Igreja de Ocearu - 04/12/1959

Fonte: MAHP – Museu e Arquivo Histórico Panambi

Na data prevista 14 de fevereiro de 1960, realizou-se a festa de inauguração da Igreja de Ocearu. Antes da festa de inauguração, os pastores presentes e a comunidade local despediram-se do local que até o momento, era utilizado para a celebração dos cultos, ou seja, a escola, e dirigiram-se em espécie de cortejo até o novo templo para a celebração do culto festivo de inauguração.

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Figura 12 - Culto de Despedida no prédio escolar - 14/02/1960

Fonte: Arquivo Pessoal Ervino Schrammel

Figura 13 - Cortejo partindo da escola em direção à igreja - 14/02/1960

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Figura 14 - Culto de Inauguração, chegada do cortejo - 14/02/1960

Fonte: Arquivo Pessoal Ervino Schrammel

Figura 15 - Culto de Inauguração - 14/02/1960

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3.3 Após a Construção e Inauguração do Templo:

O próximo objetivo da comunidade após a inauguração do templo era a aquisição de dois grandes sinos, que até hoje são tocados diariamente. Os sinos pesavam em torno de 1300 kg, e custaram a comunidade a quantia de Cr$ 365.660,00. Após a chegada dos sinos, foi fixada uma data para mais uma festa de inauguração.

Figura 16 - Convite para Inauguração dos Sinos, 1961

Fonte: MAHP – Museu e Arquivo Histórico Panambi

A festa aconteceu no dia 28 de maio de 1961 e atraiu muitos visitantes, inclusive caravanas de comunidades vizinhas. Através dos maiores lances sagraram-se padrinhos: do sino grande o Sr. Richard Schmidt, do sino pequeno o Sr. Ricardo Schneider; madrinhas: do sino grande a Sra. Regina Dietrich, do sino pequeno a Sra. Guilhermina Epple. As primeiras badaladas, no entanto, foram dadas pelos anciãos Christian Danzer e Adam Hörz, os quais em sua juventude haviam exercido a profissão de sineiros na sua terra natal, a Alemanha. Em Assembleia Ordinária realizada no dia 03 de setembro de 1961 foi aprovado o “Regulamento do Toque dos Sinos”, ficando o tocar a cargo do professor Werno Alberto Lohmann, que receberia a importância de Cr$ 10.000,00 como renumeração anual.

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Figura 17 - Matéria Jornal "O Panambiense" Exitosa a festa de inauguração dos sinos da Igreja Evangélica de Ocearú - 02/06/1961

Fonte: MAHP – Museu e Arquivo Histórico Panambi

Os sinos são repicados três vezes ao dia: ao amanhecer, ao meio dia e ao anoitecer, e servem de orientação para os moradores da comunidade e arredores. Anunciam a comunidade que está chegando a hora do culto, tocando uma hora e trinta minutos antes de o mesmo começar. E anunciam também com as suas badaladas fúnebres que algum membro veio a falecer. Martin Manfredo Pilstein assumiu o sino depois do professor Werno A. Lohmann e a partir do ano de 1984, o casal Herbert e Brunilda Braun assumiu essa função – e o fazem até hoje. Na época eles recebiam como pagamento anual, cento e vinte quilos de carne de porco vermelho.

Com a inauguração da igreja, os membros passaram a contribuir com mensalidades. Na época nem todos os membros da comunidade contribuíam com dinheiro, o pagamento muitas vezes era feito com “produtos”. Hoje em dia nas comunidades do interior, a “moeda” utilizada é a Soja, naquela época, porém, era a carne de porco.

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Quando foi da época da minha confirmação, em 1961, meu pai pagou a mensalidade da igreja com quinze quilos de carne de porco. A carne de porco era a moeda daquele tempo. (Elmo Hörz) 15

A partir dessa data, durante certo período a vida comunitária tornou-se calma, pois os objetivos maiores haviam sido alcançados graças aos esforços e a dedicação dos membros. O período calmo, sem grandes objetivos, caracteriza-se pelas Assembleias, que geralmente versavam sobre os mesmos temas.

Após a construção e inauguração do templo as seguintes atividades passaram a ser realizadas no mesmo: Grupo de Jovens, Grupo de Coral Misto e Culto Infantil. Esse último no ano de 1968 possuía 87 crianças matriculadas. No início de 1975 foi instituído o curso intensivo para confirmandos, objetivando facilitar o trabalho dos pastores. Além disso, havia a celebração de cultos. Em média havia um culto por mês e até o ano de 1977 todos eram realizados na língua alemã. O pastor vinha da cidade a cavalo, e os membros valiam-se do mesmo e também da carroça para chegar até o templo.

Em Assembleia realizada em 20 de fevereiro de 1977, foi sugerido que os cultos fossem realizados na língua portuguesa na frequência de dois em dois meses. Diferente dos grandes centros as comunidades das pequenas cidades do interior como é o caso desta, levaram mais tempo para abandonar seus antigos costumes e se adaptar a realidade como brasileiros. Até o ano de 1977, um pequeno pedaço da Alemanha se localizava no interior de Panambi, seguro e intacto. Acredita-se que a decisão de realizar alguns cultos em língua portuguesa foi tomada visando o futuro da comunidade como Igreja de Confissão Luterana no Brasil. Decisão importante para a história e trajetória da comunidade. A partir da década de 1990, todas as festividades religiosas locais passaram a ser realizadas na língua portuguesa.

Outro objetivo a ser alcançado era a construção de um pavilhão de festas. Tal motivou-se em parte pelo fato de ter sido vendido e demolido o Salão Farroupilha, de propriedade da Família Wahlbrink, que durante muitos anos foi o centro social da comunidade de Ocearu. No ano de 1978 a construção do pavilhão de festas estava concluída. Para o mesmo, foi comprado material de um pavilhão da Cooperativa Tritícola Panambi Ltda. (Cotripal), que havia sido desmontado na cidade de Condor. Por fim, no ano de 1984 foi fundada a OASE (Ordem Auxiliadora das Senhoras Evangélicas) da Linha Ocearu.

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A comunidade de Ocearu funcionava – e ainda funciona- como a maioria das comunidades fundadas por imigrantes alemães. A escola e a igreja, ou melhor, a “comunidade religiosa” surgiram praticamente juntas, pois, quando o templo não existia os cultos e cerimônias eram celebrados no prédio escolar. O professor era geralmente o pastor ou então responsável pelo toque dos sinos, isso porque havia a “casa do professor” que fica exatamente localizada entre a escola e o templo, facilitando o trabalho nas duas instituições. O pavilhão de festas era compartilhado entre todas as sociedades da comunidade: A Sociedade Escolar, a Comunidade Evangélica, a Sociedade de Damas e a Sociedade de Atiradores. Segundo o professor Werno Alberto Lohmann autor da “Crônica da Comunidade Evangélica de Ocearu” isso era uma amostra da unidade que deveria reinar numa comunidade.

3.4 Igreja Evangélica de Confissão Luterana de Linha Ocearu e seu papel nos dias atuais:

A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil da Comunidade de Linha Ocearu em Panambi segue em atividade 60 anos após o início de sua construção e 498 anos após a “Reforma Protestante”. Hoje a Comunidade Evangélica de Ocearu faz parte da Paróquia Panambi Sul, da qual participam outras cinco comunidades. Diferente de quando tudo começou, há um pastor que se dedica em tempo integral a essas seis igrejas. As atividades de celebração de cultos, Culto Infantil e OASE continuam a ser realizadas na mesma, porém o grupo de juventude já é extinto há alguns anos, reflexo da atual realidade da zona rural, onde os jovens não se sentem motivados a permanecer, por isso migram para as cidades, e comunidades inteiras acabam se tornando desertas.

Os cultos ocorrem conforme cronograma da paróquia, em média dois cultos por mês. Eles possuem uma frequência média de 89 pessoas. Os cultos que mais atraem membros são os de “kerb” (festa popular de origem alemã que comemora a inauguração do templo), Culto de Festa da Colheita e as datas festivas como Páscoa e Natal. A OASE se reúne dois sábados por mês, sendo que um deles é destinado para ensaio do coral e possui uma frequência média de 25 senhoras. O Culto Infantil também ocorre em dois sábados por mês, sempre no segundo e no quarto, e hoje possui uma frequência média de 15 crianças.

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A IECLB de Linha Ocearu conta hoje com 99 membros. Representando um total de 27% na Paróquia. Desses, nem todos residem na zona rural. Muitos vivem na zona urbana de Panambi, porém seguem participando ativamente da comunidade devido ao fato de terem crescido lá ou até mesmo devido à participação de seus antepassados na fundação e construção da mesma. Ao observar a lista de nomes da primeira diretoria ou então da Comissão dos Quinze e relacioná-la com os membros da diretoria atual, percebe-se que muitos sobrenomes se repetem, demonstrando que a ligação familiar entre os membros e a comunidade é muito forte.

O pastor Neomar Wilson Matte responsável pela Paróquia Evangélica Panambi Sul na atual gestão, definiu a Comunidade Evangélica de Linha Ocearu com as seguintes palavras:

Quando olho de forma especial para a Comunidade Evangélica de Ocearu vejo que esta ao longo da sua história, desde seus fundadores, tem prezado em muito pela pregação reta e pura da Palavra de Deus. Não é em vão que a vejo como sendo a Comunidade mais organizada e participativa de todas as seis comunidades que fazem parte da Paróquia. Tem, por exemplo, o melhor e mais estruturado trabalho de Culto Infantil de nossa Paróquia. Quando olho para a nossa Juventude (JENAI – Juventude Evangélica Arco Íris), percebo que grande parte destes jovens que formam o nosso Grupo de Jovens da Paróquia são oriundos da Comunidade Evangélica de Ocearu. Uma outra coisa que chama atenção é a boa frequência dos membros nos cultos, no Grupo de OASE (Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas) e nos dois Grupos de Estudo Bíblico que a mesma possui. Por fim, ainda friso a boa organização do Presbitério, pois pelo que sei os vices da diretoria já são preparados ao longo dos quatro anos de mandato, para na sequência assumirem a titularidade dos cargos de Presidente, Tesoureiro e Secretário. Creio ser uma ótima estratégia de preparação e comprometimento para inserir os membros no Presbitério e na liderança da Comunidade. (Neomar Wilson Matte) 16

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Informação fornecida pelo Pastor Neomar Wilson Matte – IECLB – Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Paróquia Panambi Sul, em entrevista concedida à autora.

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Fonte: Ervino Schrammel/Ervino Schrammel/Arquivo Pessoal

Figura 19: Pedra Angular IECLB Linha Ocearu

Referências

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