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Comportamentos de Saúde e Bem-Estar Psicológico em Adolescentes

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Academic year: 2021

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Ciências Sociais e Humanas

Comportamentos de Saúde e Bem-Estar

Psicológico em Adolescentes

Ana Raquel Sousa e Silva

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Psicologia Clínica e da Saúde

(2º ciclo de estudos)

Orientadora: Prof. Doutora Cláudia Mendes Silva

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Agradecimentos

Aos meus pais, por todo o apoio prestado ao longo dos anos, essencialmente durante a minha formação académica, pelo carinho que transmitiram, pela escuta, pelo empenho, pela confiança e pelo esforço que fizeram para que pudesse chegar a este tão aguardado momento. Ao meu irmão, pela ajuda, apoio e pela paciência.

Aos meus amigos, que me acompanharam e me apoiaram ao longo de todos os anos, por acreditarem em mim, pela amizade, pelas partilhas e pelas gargalhadas. Um obrigado especial aos que estiveram presentes durante este ano e que estiveram sempre dispostos a ajudar.

À Professora Doutora Cláudia Mendes Silva agradeço pela orientação e apoio prestados, pelo esforço, pela paciência, pelos conhecimentos transmitidos e, sobretudo, pela disponibilidade.

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Resumo

A presente investigação foca-se no bem-estar psicológico dos adolescentes e nos fatores que podem exercer influência neste, como os comportamentos de saúde adotados por esta população, incluindo a qualidade de sono. Deste modo, o principal objetivo deste estudo consiste na análise da relação existente entre os comportamentos de saúde e os níveis de Bem-Estar Psicológico dos adolescentes.

O protocolo de recolha de dados foi composto por três instrumentos de autorresposta: Questionário Sociodemográfico, Escala de Promoção de Saúde em Adolescentes (EPSA), Escala de Avaliação da Qualidade do Sono na Adolescência (AQSA) e Escala de Medida de Manifestação de Bem-Estar Psicológico (EMMBEP). A amostra é composta por 118 participantes (65 do género masculino e 53 do género feminino), a frequentar o 3º ciclo de estudos e o secundário, e foi recolhida presencialmente com os alunos de uma escola de Pinhel e em Mangualde. A média de idades dos participantes é de 15 anos, com cerca 63% a frequentar o 9º ano de escolaridade.

De acordo com os dados obtidos verificou-se que os níveis de Bem-Estar Psicológico são mais elevados no género masculino. Além disso, observam-se influências significativas ao nível da relação existente entre os comportamentos de saúde e o Bem-Estar Psicológico, nomeadamente no que concerne ao exercício físico e suporte social, indo ao encontro da literatura. Contrariamente à revisão da literatura, que sugere que a qualidade de sono influencia os níveis de Bem-Estar Psicológico dos adolescentes, os resultados obtidos não o demostram.

Palavras-chave

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Abstract

The present research focuses on the psychological well-being of adolescents and on factors that may influence it, such as health behaviors adopted by this population, including sleep quality. Thus, this research aims to analyze the relationship between health behaviors and adolescents' levels of psychological well-being.

The data collection protocol was composed of three self-answering instruments: Sociodemographic Questionnaire, Adolescence Health Promotion Scale (EPSA), Adolescence Sleep Quality Assessment Scale (AQSA) and Welfare Manifestation Measurement Scale Psychological (EMMBEP). The sample is comprised of 118 participants (65 boys and 53 girls), attending the 3rd cycle of studies and the secondary school, and was collected in person with students of an school of Pinhel and in Mangualde. The average age of the participants was 15 years old, with 63% attending the 9th grade.

According to the data obtained it was verified that the levels of psychological well-being are higher in male students. In addition, there are significant influences on the relationship between health behaviors and Psychological Well-Being, in particular regarding physical exercise and social support, which is in accordance to the literature. Contrarily to the literature review, which suggests that sleep quality influences adolescents' levels of Psychological Well-Being, the results obtained do not demonstrate this.

Keywords

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Índice

Introdução ... 1

Capítulo 1 – Enquadramento Teórico ... 3

1.1. Saúde ... 3

1.1.1. Promoção da saúde e prevenção da doença ... 4

1.2. Comportamentos de saúde na adolescência ... 6

1.2.1. Adolescência ... 6

1.2.2. Comportamentos de saúde ... 6

1.3. O sono ... 14

1.3.1. Qualidade e duração do sono ... 15

1.3.2. Fatores de privação do sono ... 17

1.3.3. Hábitos de sono em crianças e adolescentes ... 18

1.4. Bem-estar ... 21

1.4.1. Bem-estar geral ... 21

1.4.2. Bem-estar subjetivo (BES) ... 22

1.4.3. Bem-estar psicológico (BEP) ... 23

1.5. Teoria da autodeterminação (TAD) ... 29

1.5.1. Necessidades psicológicas básicas ... 31

Capítulo 2 – Estudo Empírico ... 33

2.1. Caracterização metodológica do estudo... 33

2.1.1. Objetivos ... 34

2.2. Método ... 35

2.2.1. Participantes ... 35

2.2.2. Instrumentos ... 38

2.2.3. Procedimentos de investigação ... 41

2.2.4. Procedimentos estatísticos e análise de dados ... 42

Capítulo 3 - Resultados ... 43

3.1. Análises estatísticas preliminares... 43

3.2. Estatísticas descritivas ... 45

3.3. Estatísticas inferenciais ... 47

3.3.1 Diferenças no BEP entre grupos em função do género e da faixa etária ... 47

3.3.2 Diferenças no BEP entre grupos em função das habilitações literárias dos encarregados de educação ... 50

3.3.3. Diferenças no BEP entre grupos em função da prática de atividades extracurriculares ... 50

3.3.4. Associação entre Qualidade de Sono e Bem-Estar Psicológico ... 51

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4.1. Limitações ... 62

4.2. Conclusões ... 63

Referências Bibliográficas ... 65

Anexos ... 73

Anexo 1 – Questionário Sociodemográfico ... 75

Anexo 2 - Pedido de Autorização para os Colégios ... 77

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Lista de Figuras

Figura 1. Dimensões fundamentais do bem-estar psicológico e fundamentos teóricos (Ryff & Singer, 2008).

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Lista de Tabelas

Tabela 1. Caracterização dos Dados Sociodemográficos dos Participantes

Tabela 2. Caracterização dos Participantes Segundo a Existência de Problemas de Saúde Crónicos, Acompanhamento Psicológico e Problemas de Obesidade

Tabela 3. Caracterização dos Encarregados de Educação Segundo a Idade, Género e Habilitações Literárias

Tabela 4. Normalidade da Distribuição dos Dados nas Dimensões da EPSA, AQSA e EMMBEP Tabela 5. Valores de Alfa de Cronbach do Instrumento EPSA, AQSA e EMMBEP

Tabela 6. Estatísticas Descritivas da EPSA, AQSA e EMMBEP Tabela 7. Diferenças de Género na EPSA e AQSA

Tabela 8. Diferenças de Género nos Níveis de Bem-Estar Psicológico (EMMBEP) Tabela 9. Diferenças da Faixa Etária na EPSA e na AQSA

Tabela 10. Diferenças nos Níveis de Bem-Estar Psicológico Consoante a Faixa Etária

Tabela 11. Diferenças nos Níveis de Bem-Estar Psicológico Consoante as Habilitações Literárias dos Encarregados De Educação

Tabela 12. Diferenças nos Níveis de Bem-Estar Psicológico Consoante a Prática de Atividades Extracurriculares

Tabela 13. Correlação Entre as Dimensões da Escala de Bem-Estar Psicológico e das dimensões da AQSA (Correlação de Pearson)

Tabela 14. Diferenças nos Níveis de Bem-Estar Psicológico Consoante a Qualidade de Sono dos Participantes

Tabela 15. Correlação Entre as Dimensões da Escala de Bem-Estar Psicológico e a EPSA (Correlação de Pearson)

Tabela 16. Correlação Entre a Dimensão Exercício Físico (EPSA) e a Escala de Bem-Estar Psicológico (Correlação de Pearson

Tabela 17. Correlação Entre a Dimensão Nutrição (EPSA) e a Escala de Bem-Estar Psicológico (Correlação de Pearson)

Tabela 18. Correlação Entre a Dimensão Responsabilidade pela Saúde (EPSA) e a Escala de Bem-Estar Psicológico (Correlação de Pearson)

Tabela 19. Correlação Entre a Dimensão Suporte Social (EPSA) e a Escala de Bem-Estar Psicológico (Correlação de Pearson)

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Lista de Acrónimos

WHO World Health Organization

BES Bem-estar subjetivo BEP Bem-estar psicológico

EBEP Escala de Bem-Estar Psicológico PWBS Psychological Well-Being Scale

TAD Teoria da autodeterminação

EPSA Escala de Promoção de Saúde em Adolescentes

EAQSA Escala de Avaliação da Qualidade do Sono na Adolescência EMMBEP Escala de Medida de Manifestação de Bem-Estar Psicológico SPSS Statistical Package for the Social Sciences

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Introdução

A adolescência é um período de desenvolvimento, crescimento e de aprendizagem, um período onde surgem novos desafios para o adolescente e, ainda, um período de grande suscetibilidade à influência do meio, maioritariamente, dos pares, pelo tempo que passam no contexto escolar. Esta influência exerce um papel crucial na adoção, por parte dos adolescentes, de comportamentos de promoção ou de risco para a saúde, que por sua vez irão influenciar o seu bem-estar (Tomé, Camacho, Matos, & Simões, 2015).

O bem-estar psicológico está relacionado com a capacidade dos indivíduos de enfrentarem os acontecimentos que surgem ao longo da vida (Siqueira & Padovam, 2008). Nos adolescentes o bem-estar psicológico pode estar associado à satisfação que têm com a vida e é influenciado pelos diversos comportamentos que estes adotam (Heizomi, Allaverdopiur, Jafarabadi & Safaian, 2015). Desta forma, os comportamentos de saúde são comportamentos adotados pelos indivíduos com o objetivo de proteger e promover a sua saúde, como a prática regular de exercício físico, alimentação saudável, sem consumo de tabaco ou de álcool e comportamentos sexuais seguros (Carter, McGee, Taylor & Williams, 2007). Contudo, existem comportamentos de risco que terão consequências negativas no bem-estar psicológico dos adolescentes como o sedentarismo e o consumo de tabaco e de bebidas alcoólicas (Silva et al., 2007).

Um outro aspeto relevante na adolescência é o sono, neste caso, a qualidade do sono, que está relacionada com a sensação que o adolescente tem ao acordar, nomeadamente se se encontra satisfeito ou não com o seu sono noturno. Na adolescência a qualidade de sono pode variar bastante, tendo um impacto negativo na saúde física e mental do adolescente, e neste caso, no bem-estar do mesmo (Owens, 2014). Daí ser igualmente importante determinar se a qualidade do sono dos adolescentes se relaciona com o bem-estar psicológico.

Deste modo, a presente investigação teve como objetivo geral fornecer uma melhor compreensão acerca do Bem-Estar Psicológico dos adolescentes, avaliando se existe uma relação entre esta variável e os comportamentos de saúde e a qualidade do sono dos participantes. Para uma melhor compreensão da temática em estudo, os dados obtidos serão cruzados com variáveis sociodemográficas, como o género, faixa etária, a prática de atividades extracurriculares e as habilitações literárias dos encarregados de educação.

Para tal, no sentido de obter uma melhor compreensão e de cumprir o objetivo a que se propõe, este estudo está organizado em três capítulos distintos. No Capítulo 1, Enquadramento Teórico, serão abordados os construtos em questão, fazendo uma revisão da

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saúde e dos comportamentos promotores de saúde e de risco que surgem na adolescência. Seguidamente, será apresentado a definição de sono, da qualidade e duração de sono nos adolescentes, bem como um conjunto de fatores de privação do sono dos mesmos. Por fim, será apresentado o conceito de bem-estar, centrando-se no bem-estar psicológico, no seu modelo e nos fatores que podem influenciar o bem-estar psicológico dos adolescentes.

No Capítulo 2, Estudo Empírico, será feita a caracterização do estudo e dos seus objetivos, descritas as hipóteses, a amostra e os instrumentos de avaliação utilizados, bem como dos procedimentos de investigação e da análise de dados adotados.

No Capítulo 3, Resultados, serão descritos os resultados obtidos de acordo com a análise estatística dos dados recolhidos.

Por último, no Capítulo 4, Discussão, serão interpretados os resultados obtidos no tópico anterior e analisados de acordo com a literatura científica acerca do tema em questão, sendo também apresentadas as principais conclusões e limitações referentes ao estudo.

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Capítulo 1 – Enquadramento Teórico

Neste primeiro capítulo é apresentada uma pequena revisão da literatura acerca dos comportamentos de saúde dos adolescentes, focando-se, principalmente, nos comportamentos de risco adotados pelos adolescentes, nos hábitos de sono e no bem-estar psicológico dos mesmos. O capítulo irá iniciar com uma pequena definição de saúde, promoção da mesma e prevenção da doença, passando depois para a caracterização dos comportamentos de saúde adotados pelos adolescentes.

1.1. Saúde

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a saúde não é apenas a ausência de doença, mas sim um estado de bem-estar físico, mental e social. É entendida como o estado de pleno desenvolvimento das capacidades físicas, mentais e sociais do indivíduo, onde a carga genética e a busca de um equilíbrio permanente com o ambiente são considerados como os principais fatores (Segre & Ferraz, 1997). O entendimento acerca da saúde não passa simplesmente pelos níveis de prevenção primária, relacionada com o evitar riscos profissionais, doenças ou acidentes, a prevenção secundária, que se refere ao tratar a doença ou reparar a incapacidade e, por fim, a prevenção terciária, que tem como objetivo atenuar os efeitos da doença. Este conceito vai muito mais além, colocando questões acerca de como é que o indivíduo realiza as suas potencialidades de saúde e como é que responde às exigências físicas, biológicas, psicológicas e sociais, num ambiente que se encontra em constante mudança (Segre & Ferraz, 1997).

Quando ouvimos falar em saúde, ouvimos, igualmente, falar acerca do modelo biomédico, o primeiro modelo que apareceu relacionado com a saúde. O modelo biomédico ordena que a doença seja tratada como uma entidade separada e independente do comportamento social, tendo sido essencialmente desenvolvido por médicos cientistas para o estudo da doença. Este modelo reducionista centra-se muito na doença e na prática da medicina, dando pouca atenção e importância à dimensão mais social da saúde (Engel, 1977). Em 1977, Engel propôs um modelo alternativo ao biomédico, o modelo biopsicossocial. Este modelo defende que a saúde e a doença não podem apenas focar-se nas vertentes biológicas ou orgânicas – como proposto pelo modelo biomédico –, mas sim que os sujeitos devem passar a avaliar a sua saúde não só através de uma dimensão mais biológica, mas também através de uma dimensão psicológica e social (Cerqueria-Silva, Dessen, & Júnior, 2011). Ainda exige a avaliação do sujeito em diversos níveis, desde o aspeto da doença, o comportamento do próprio indivíduo (doente), o contexto social, familiar e cultural, até ao próprio sistema de saúde. Desta forma,

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é possível perceber que quando se estuda a doença é necessário incluir o indivíduo, o seu corpo e o seu ambiente envolvente, sendo estes os componentes essenciais de um sistema.

Atualmente ouve-se falar em prevenir e promover a saúde, sendo, assim, necessário esclarecer o que estes conceitos significam quando relacionados com a saúde.

1.1.1. Promoção da saúde e prevenção da doença

A saúde, no contexto de promoção da saúde, já não é considerada como um estado abstrato, mas sim como um meio para atingir um fim, que pode ser expresso em termos funcionais. Esta é vista como um recurso para a vida quotidiana, sendo um conceito positivo que enfatiza os recursos pessoais e sociais, bem como as capacidades físicas do indivíduo (Ribeiro, 2015; World Health Organization [WHO], 1998). Para além disso, esta é considerada a abordagem mais rentável para melhorar o bem-estar e a qualidade de vida dos indivíduos (Sousa, Gaspar, Fonseca, Hendricks, & Murdaugh, 2015). Como parte integrante do conceito de saúde está incluída a saúde metal, que se encontra completamente associada à saúde física e ao comportamento do sujeito, e que vai para além da ausência de doença mental (Ribeiro, 2015).

A promoção da saúde engloba ações para o fortalecimento das competências dos indivíduos e ações voltadas para as mudanças das condições sociais e ambientais (WHO, 1998). Para o indivíduo atingir um estado de pleno bem-estar físico, mental e social é necessário que este satisfaça as suas necessidades, modifique, favoravelmente, o meio que o rodeia e saiba identificar aspirações (WHO, 1986).

O conceito promoção da saúde atual, que tem como documento fundador a Carta de Ottawa (WHO, 1986), está associado a um conjunto de valores como a qualidade de vida, a saúde, a solidariedade e equidade, a democracia, a cidadania, o desenvolvimento do próprio indivíduo, a participação e a parceria. Este termo engloba estratégias e atividades para enfrentar os problemas de saúde que afetam o indivíduo (Buss, 2000). Segundo a Carta de Ottawa, a promoção da saúde é um processo que mostra a capacidade do indivíduo e da população humana para agir de modo a melhorar a sua qualidade de vida e a sua saúde, sendo essencial uma participação mais elevada para controlo deste processo (WHO, 1986).

A promoção da saúde é, adicionalmente, considerada um instrumento conceitual, político e metodológico em volta do processo saúde-doença, que tem como objetivo analisar e atuar sobre as condições sociais no sentido de melhorar as condições de saúde e de qualidade de vida dos indivíduos (Sucupira & Mendes, 2003)

Henry Singerist foi o primeiro a utilizar a expressão “promoção da saúde”, em 1945, mencionando que esta não restringe a saúde apenas à ausência de doença no indivíduo, mas sim que inclui vários componentes como as condições de vida favoráveis, condições de

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trabalho positivas, educação, atividade física e descanso (Sícoli & Nascimento, 2003). Ao longo dos anos foram sendo considerados os problemas socioambientais, favorecendo a saúde e o bem-estar do indivíduo, com o intuito de se verificarem mudanças sociais. Desta forma, a promoção da saúde foi-se desenvolvendo, ampliando o seu conceito ao ponto de se assumir a saúde como uma produção social, valorizando mais os determinantes socioeconómicos, aumentando o exercício do compromisso político e incrementando transformações sociais (Sícoli & Nascimento, 2003).

Um dos componentes principais da promoção da saúde é a educação para a saúde. Esta educação mostra-se fundamental pois inclui oportunidades de aprendizagem para os indivíduos, envolvendo formas de comunicação essenciais para a literacia em saúde, aumentando o desenvolvimento e o conhecimento de competências que favorecem a saúde individual e da comunidade (Buss, 2000; Ribeiro 2015; WHO, 1998). Esta é, assim, uma atividade planeada, destinada a aumentar os conhecimentos e competências do sujeito para a promoção de comportamentos saudáveis (Buss, 2000).

Por sua vez, a prevenção em saúde tem como objetivo impedir o aparecimento de doenças, requerendo uma ação antecipada, com base no conhecimento da história natural, com a finalidade de tornar improvável o aparecimento posterior de uma doença. Assim, ações dirigidas para a prevenção em saúde são intervenções para evitar o surgimento de doenças específicas, reduzindo a sua incidência e prevalência nos indivíduos (Czeresnia, 1999).

Normalmente, consideram-se quatro níveis de prevenção em saúde: A prevenção primordial e as prevenções já conhecidas – primária, secundária e terciária. Nos últimos anos tem emergido uma quarta prevenção, subsequente da primária, secundária e terciária, a prevenção quaternária (Almeida, 2005).

A prevenção primordial tem como objetivo impedir que certos estilos de vida sejam adotados, incluindo programas que os indivíduos devem desenvolver, como por exemplo, uma nutrição adequada e prática de atividade física regular. A prevenção primária inclui atividades que tentam evitar a exposição do sujeito a fatores de risco antes que o mecanismo patológico se desenvolva. Este nível de prevenção tem como objetivo diminuir a probabilidade de doença o quanto possível. Por outro lado, a deteção de um problema de saúde numa fase precoce para que o indivíduo possa evoluir favoravelmente é o objetivo da prevenção secundária. Para isso, é necessário conhecer a história da doença e existir um período de deteção precoce suficientemente longo. Quanto à prevenção terciária, esta visa diminuir os custos sociais e económicos que a doença acarreta, sendo que neste nível de prevenção já está presente o tratamento de doenças (e.g., doenças crónicas), correspondendo, assim, à gestão do estado da doença (Almeida, 2005). Por último, a prevenção que tem sido estudada e considerada nos últimos anos é a prevenção quaternária.

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médica que seja desnecessária e, ao mesmo tempo, pretende fornecer informações relevantes ao doente, para que este, autonomamente, possa tomar decisões, conhecendo quais as vantagens e desvantagens da sua condição de saúde. Esta prevenção consiste, também, na deteção de indivíduos que se encontram em sobretratamento, para evitar intervenções médicas inapropriadas, sugerindo-lhes outras alternativas mais eficazes (Almeida, 2005).

1.2. Comportamentos de saúde na adolescência

1.2.1. Adolescência

A infância e a adolescência são dois estádios de desenvolvimento essenciais na vida de um indivíduo. Atualmente, a adolescência é um período alongado, estendendo-se até à terceira década de vida, em que o adolescente ainda vive com os pais (Simões, 2010). A adolescência é marcada por um período de crescimento e desenvolvimento de uma progressiva maturidade a nível cognitivo, biológico, social e emocional. A transição da infância para a adolescência envolve um conjunto de mudanças da condição humana que preenchem toda a fase da adolescência, sendo necessária a adaptação do adolescente às novas circunstâncias da vida, que lhe darão uma outra visão acerca do mundo, da vida humana e de si próprio (Simões, 2010). É, também, um período onde surgem os maiores desafios e oportunidades relacionadas com a saúde, pois é um período em que os jovens se encontram mais suscetíveis à influência do meio ambiente, que exerce um papel essencial para a sua saúde (Tomé, Camacho, Matos, & Simões, 2015).

Adicionalmente, é uma fase de instabilidade e turbulência que pode trazer certas dificuldades ao adolescente e, com isto, um mal-estar. Um aspeto central quando se fala da adolescência é a forma como se ultrapassam estas dificuldades e mudanças, denominadas de crises ou desafios. Estes desafios devem ser encarados como fazendo parte do desenvolvimento normal do adolescente e, desta forma, os problemas que surgem não têm de ter propriamente consequências negativas a longo prazo. Estes problemas estão, muitas vezes, relacionados com a forma como o adolescente se adapta aos desafios que se lhe colocam (Simões, 2010). O período da adolescência não é vivido de igual modo por todos os adolescentes, pelo que os estudos sobre esta fase têm aumentado ao longo dos anos (Tomé et al., 2015).

1.2.2. Comportamentos de saúde

Os comportamentos de saúde têm sido, cada vez mais, alvo de investigação pela Psicologia da Saúde, podendo ser definidos como qualquer comportamento ou atividade que um indivíduo, que se crê saudável, adota com o objetivo de prevenir o aparecimento de doenças ou de um estado assintomático (Gonzalez & Ribeiro, 2004). Porém, esta definição foi considerada incompleta por se centrar na doença e não considerar o ponto de vista dos

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indivíduos. Mais tarde, surgiu outra definição, desenvolvida por Comerdy, em 1997, que realça que qualquer comportamento que afete, positiva ou negativamente, a saúde, pode ser considerado um comportamento relacionado com a saúde (Gonzalez & Ribeiro, 2004).

Segundo a Organização Mundial de Saúde (WHO, 1998), os comportamentos de saúde são qualquer atividade delineada pelo indivíduo com o objetivo de promover, proteger e manter a sua saúde, independentemente de essa atividade ser ou não eficaz para atingir o objetivo pretendido.

Sendo os comportamentos de cada indivíduo determinantes para o seu estado de saúde, será necessário fazer referência a alguns fatores que exercem influência nos seus comportamentos de saúde. Dentro desses fatores é possível encontrar os fatores sóciodemográficos (e.g., idade, sexo, ocupação, educação, estatuto socioeconómico), os fatores socioculturais (e.g., religião, as normas morais), os fatores macroeconómicos (e.g., impostos sobre o álcool e o tabaco, rendimentos), cuidados de saúde (e.g., campanhas de vacinação, de prática desportiva), os fatores sociais e familiares (e.g., hábitos familiares, influência dos pares, rede de suporte social) e, ainda, os fatores psicológicos (e.g., atitudes e crenças, valores associados à saúde, autoconceito, autoeficácia, consciência dos riscos, hábitos, rotinas; Alburquerque, 1999, cit. in Tavares & Nunes, 2007).

Desta forma, torna-se essencial avaliar e compreender os comportamentos promotores de saúde entre os adolescentes, com o intuito de promover o seu crescimento saudável (Sousa et al., 2015). Os comportamentos promotores de saúde são considerados como uma abordagem para aumentar o bem-estar e a autoatualização e para viver, envolvendo diversas atividades que contribuem para a saúde. Já os comportamentos preventivos são ações que evitam o desenvolvimento de doenças. Na adolescência, os comportamentos promotores de saúde têm sido atribuídos a fatores psicológicos como a autoestima, autoeficácia e esperança (Sousa et al., 2015).

a) Modelos e teorias de comportamentos de saúde

Uma das mais importantes áreas da Psicologia, que se preocupa com a promoção da saúde, prevenção e tratamento da doença, é a Psicologia da Saúde. Esta é o campo da Psicologia que estuda o comportamento humano no contexto da saúde e da doença, tendo como objetivo compreender como é possível contribuir para um melhor bem-estar dos indivíduos e da comunidade, através de intervenções psicológicas (Trindade & Teixeira, 2002). A Psicologia da Saúde procura promover e monitorizar a saúde física e emocional do paciente, tentando minimizar o seu sofrimento, sendo isto fundamental pois ajuda-o a desenvolver um conjunto de comportamentos e atitudes essenciais para os seus projetos de vida, que levam à promoção da saúde, prevenção da doença e enfrentamento das possíveis consequências que possam surgir aquando da existência de uma doença (Barros, 1999, cit. in

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Almeida & Malagris, 2011). Deste modo, a Psicologia da Saúde atua em todas as dimensões da vida do indivíduo: física, mental e social.

Na Psicologia da Saúde, podem destacar-se vários modelos e teorias de comportamentos de saúde, uns de carácter mais cognitivo e outros de carácter mais social. Entre os modelos e teorias de cariz mais cognitivo, é possível encontrar na literatura o modelo de crenças de saúde, a teoria da motivação protetora e a teoria do comportamento planeado. Entre os modelos e teorias de cariz mais social encontra-se o modelo transteórico e a teoria social cognitiva (Almeida, 2013). De seguida, serão caracterizados de uma forma breve cada um dos modelos referidos.

O modelo de crenças da saúde foi desenvolvido por Becker, na década de 70 do século XX, sendo um dos modelos mais utilizados para compreender os comportamentos de saúde. Este modelo postula que a decisão que o indivíduo toma acerca de um comportamento de saúde é influenciada por diversas dimensões, entre elas a suscetibilidade, a gravidade e os benefícios (Couto, 1998). Estas dimensões podem, ainda, ser influenciadas por fatores modificadores constituídos por três tipos de variáveis: demográficas (sexo e idade), psicossociais (personalidade e classe social) e estruturais (conhecimento acerca da doença; Couto, 1998).

Segundo este modelo, o comportamento do sujeito é guiado pela perceção que tem das consequências na adoção de novos comportamentos. Deste modo, o indivíduo atribui um valor a essas perceções, levando-o a adotar um determinado comportamento, sendo que o que determina essas perceções são as crenças, funcionando como mediadores cognitivos, que levarão o indivíduo a agir. A atribuição de significados e as perceções possibilitam diferentes comportamentos relacionados com a saúde, sendo que estes advêm de um conjunto de crenças centrais que têm vindo a ser redefinidas ao longo dos anos – crenças essas que são valores e princípios que orientam a atuação do indivíduo e nas quais este acredita veemente (Feio & Oliveira, 2010). A disposição do indivíduo para a ação está ligada ao valor da saúde e ao locus de controlo das crenças (i.e., a assunção de que a saúde é controlada por fatores internos, outras forças influentes às quais o indivíduo atribui importância ou à sorte). Assim, este pode, por um lado, perceber os benefícios, os custos, a suscetibilidade e a gravidade da doença, mas, por outro, o grau de adesão a uma ação pode ser muito reduzido caso o indivíduo atribua pouco valor à saúde (Feio & Oliveira, 2010).

A teoria da motivação protetora está intimamente relacionada com o modelo de crenças de saúde. Segundo esta teoria existem dois processos avaliativos, a avaliação da ameaça e a avaliação das estratégias de coping, e esta dita que as estratégias adaptativas e desadaptativas para lidar com uma ameaça de saúde irão resultar destes processos de avaliação (Carvalho & Batista, 2009). Tal como no modelo anterior, esta teoria está, também, associada à perceção de suscetibilidade à doença e à perceção de gravidade da ameaça à

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saúde, correspondendo isto ao primeiro processo avaliativo. Já a avaliação das estratégias de

coping diz respeito a alternativas e atividades que possam reduzir a ameaça à saúde. A

motivação para a proteção resulta, assim, destes processos, sendo uma variável que tem como função ativar, suspender e orientar comportamentos de saúde protetores para o sujeito conseguir adotar comportamentos adaptativos (Carvalho & Batista, 2009).

A teoria do comportamento planeado foi desenvolvida por Fishbein e Ajzen e pretende descrever a relação entre as atitudes e os comportamentos (Carvalho & Batista, 2009). Acrescenta, adicionalmente, a perceção de controlo, ou seja, o controlo comportamental percecionado – fundamental para as mudanças comportamentais –, para além das atitudes em relação ao comportamento e as normas subjetivas. Este modelo centra-se nas intenções do sujeito em realizar os comportamentos, isto é, nos planos que este desenvolve para desempenhar o comportamento. Esta intenção é influenciada pelas atitudes (positivas ou negativas) do indivíduo em relação ao comportamento, pelas normas subjetivas (i.e., perceção das normas e pressão social) e pelo controlo percebido (interno ou externo), denotando-se que estes três aspetos irão afetar de forma indireta o comportamento pela influência que têm nas intenções comportamentais (Carvalho & Batista, 2009).

O modelo transteórico de mudança comportamental foi desenvolvido por Prochaska e DiClement com base em intervenções relacionadas com comportamentos aditivos associados, nomeadamente, ao tabaco, álcool e substâncias psicoativas (Carvalho & Batista, 2009). Um conceito central neste modelo é a dimensão temporal, que nos informa acerca das mudanças que podem ocorrer nos comportamentos ao longo do tempo. Segundo este modelo, os indivíduos passam por cinco fases na mudança de comportamento: (1) pré-contemplação, em que o indivíduo ainda não considera a mudança; (2) contemplação, onde o sujeito começa a considerar a mudança, mas sem se comprometer; (3) preparação, em que o indivíduo começa a planear a mudança; (4) ação, na qual o indivíduo concretiza a mudança, o novo comportamento; e, por fim, (5) manutenção, quando a mudança é mantida por longos períodos de tempo. Caso o indivíduo não consiga manter a mudança, irá recuar para uma fase anterior, havendo, assim, uma recaída (Carvalho & Batista, 2009).

Por fim, a teoria social cognitiva – anteriormente designada por teoria da aprendizagem social, desenvolvida por Bandura –, apresenta como conceito central a autoeficácia, sendo esta definida como as crenças que os indivíduos têm acerca das suas capacidades para realizar qualquer comportamento (Freitas & Dias, 2010). A forma como as pessoas sentem, pensam e se comportam é designada de crenças de autoeficácia. A teria social cognitiva afirma que os comportamentos se manifestam quando três condições estão presentes: (a) o indivíduo sente que tem controlo sobre o resultado de um comportamento, (b) prevê poucas barreiras externas e (c) confia nas suas competências para concretizar a ação (Freitas & Dias, 2010).

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b) Comportamentos de saúde positivos e negativos na adolescência

Pela importância que os comportamentos de saúde exercem na própria saúde e na vida humana, torna-se necessário estudar estes comportamentos na adolescência, também pela influência que o ambiente envolvente e os outros podem exercer na adoção destes mesmos comportamentos.

Carter, McGee, Taylor e Williams (2007) referem a adoção de comportamentos promotores da saúde como aspeto positivo do desenvolvimento do adolescente, ou seja, comportamentos que podem promover a saúde dos mesmos, salientando-se que tanto as crianças e os adolescentes como os adultos adotam comportamentos que exercem uma grande influência na sua saúde.

Desde muito cedo, as crianças vão adquirindo atitudes relacionadas com a saúde, através do processo de socialização e pelo próprio desenvolvimento (Viana, Guimarães, Teixeira, & Barbosa, 2003). Estas atitudes vão sendo aprendidas no contexto familiar e escolar – no caso das crianças e adolescentes –, sendo, igualmente, influenciadas pelas experiências de vida e pela informação obtida através dos meios de informação social. As avaliações positivas e negativas, as emoções, os sentimentos e as tendências a favor ou contra um determinado aspeto relacionado com a saúde são, o que podemos entender, como atitudes face à saúde. Contudo, a saúde irá, também, interferir no desenvolvimento das próprias atitudes, dos comportamentos e conhecimentos relacionados com a saúde e com a doença. A propósito da saúde, o conhecimento que as crianças e adolescentes têm desta, engloba a compreensão de alguns conceitos e causas relativas à saúde e à doença (Viana et al., 2003).

Neste sentido, existem dois pontos fundamentais a considerar na evolução de atitudes e comportamentos relativos à saúde: Um primeiro ponto relaciona-se com o desenvolvimento cognitivo da criança e o outro diz respeito às diferenças individuais, considerando as influências familiares, dos colegas, da escola e dos meios de comunicação como fatores que explicam essas diferenças (Viana et al., 2003). Através de diversas investigações, verificou-se que a conexão com a família e a escola era a principal protetora contra comportamentos comprometedores da saúde (Carter et al., 2007).

Nos estudos realizados por Carter e colaboradores (2007) e Seedhom (2017) verificou-se que a ligação dos adolescentes com a escola mostrou as associações mais fortes relativamente aos comportamentos promotores da saúde. Os adolescentes que se encontravam satisfeitos com o ambiente escolar relataram mais comportamentos promotores de saúde (e.g., atividade física) e menos comportamentos prejudiciais à saúde (e.g., tabagismo). Relativamente à ligação com a família, constatou-se que os adolescentes com níveis mais elevados desta variável relataram, também, mais comportamentos promotores de saúde. Adolescentes que pertenciam a famílias incompletas mostraram-se mais propensos em envolver-se em comportamentos de risco (e. g., relações sexuais precoces). Por fim, a ligação

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com os colegas e grupo de pares foi onde se verificou níveis mais baixos de comportamentos promotores de saúde. Desta forma, os adolescentes que relataram uma forte ligação com o grupo de pares eram mais propensos a comportamentos que comprometessem a saúde (e.g., consumo de tabaco e relações sexuais desprotegidas) (Carter et al., 2007; Seedhom, 2017).

Os comportamentos que os adolescentes adotam devem-se a um balanço de forças entre fatores de risco e fatores protetores (Tomé et al., 2015). Os fatores de risco que estão associados à família (e.g., dificuldade de comunicação, família disfuncional, negligência, abuso de substância por parte dos pais ou uma família com laços emocionais fracos), à escola (e.g., mudar muitas vezes de escola, não gostar de nadar na escola, ter resultados baixos), ao grupo de pares (e.g., comportamentos, atitudes, pressão e rejeição social) e à própria comunidade (e.g., nível socioeconómico, bairros sociais) não promovem os comportamentos saudáveis nem levam a fatores de proteção, sendo que os adolescentes optam por um comportamento de risco (Arteaga, Chen, & Reynolds, 2010). Os sintomas psicológicos surgem, também, como mediadores da relação dos adolescentes com os pais, os amigos e o envolvimento em comportamentos de risco (Tomé et al., 2015).

Os comportamentos de saúde podem ser classificados como positivos ou negativos (Simões, 2010). Os comportamentos de saúde positivos são comportamentos que contribuem para a promoção da saúde, prevenção do risco e deteção precoce da doença. Estes podem incluir a adoção de uma alimentação saudável, cuidados com a higiene, prática regular de exercício físico e comportamentos sexuais seguros. Quanto à alimentação saudável, os adolescentes definem esta alimentação como a ingestão de verduras, legumes e cereais associada à prática regular de exercício físico, redução no consumo de doces, de comida rápida e redução no consumo de refrigerantes, contudo, nem todos os adolescentes seguem uma alimentação saudável, ou seja, consomem alimentos ricos em gordura, com açúcar, refrigerantes e comida rápida (Silva, Teixeira & Ferreira, 2014). Relativamente à atividade física, esta influencia positivamente tanto a saúde física como a saúde psicológica, em todas as fases do ciclo da vida humana. A prática de exercício físico a longo prazo está associada à diminuição de depressões, redução nos níveis de ansiedade e stress, aumento da autoestima e como gerador de efeitos emocionais positivos (Cid, Silva & Alves, 2007).

Por outro lado, existem comportamentos, dentro do estilo de vida dos adolescentes, não protetores da sua saúde e que podem afetar o seu bem-estar e saúde, aumentando assim o risco de doença e, por vezes, colocando a sua própria vida em risco, sendo denominados de comportamentos de saúde negativos ou comportamentos de risco (Simões, 2010). Dentro desses comportamentos podemos encontrar o consumo de tabaco, álcool e outras drogas ilícitas, alimentação desequilibrada, inatividade física, ideação suicida, violência e atividades sexuais desprotegidas que levam a uma gravidez não planeada e a doenças sexualmente transmissíveis (Moura, Torres, Cadete, & Cunha, 2018).

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Araújo e Blank (2008) encontraram uma associação positiva entre os comportamentos de risco (álcool, tabaco, drogas e comportamento sexual de risco) e diversos fatores, ou seja, adolescentes que moravam apenas com um dos pais, que trabalhavam, que não praticavam exercício físico regularmente, que tinham uma alimentação pouco saudável, que apresentavam sintomas psicossomáticos, que tinham problemas de sono e que se sentiam insatisfeito com a vida, eram os adolescentes que apresentavam maiores comportamentos de risco.

Para Simões (2010), os comportamentos de saúde negativos ou de risco podem, igualmente, ser conhecidos como comportamentos de adição ou de alta ação e são estes comportamentos que constituem a maior ameaça à saúde e bem-estar do adolescente. Os jovens que apresentam sintomas físicos e psicológicos experienciam mais dificuldades no contexto familiar e escolar e, também, com o grupo de pares; apresentam, ainda, um maior envolvimento no consumo de substâncias e na violência, comparativamente com os jovens que não apresentam sintomas de mal-estar. Devido ao aumento dos sintomas de mal-estar, as perceções de saúde dos jovens vão diminuir, sendo os adolescentes mais velhos os que costumam sentir-se menos saudáveis. Assim, os jovens que se sentem mais saudáveis têm um comportamento de evitamento dos comportamentos de risco, como beber álcool, fumar ou consumir drogas (Matos, Simões, Carvalhosa, Reis, & Canha, 2000). Assim, os comportamentos de alto risco podem ser definidos como os comportamentos que têm efeitos adversos no desenvolvimento e bem-estar dos adolescentes, podendo, em certos casos, impedi-los de um desenvolvimento futuro, e que podem afetar de forma significativa a vida dos próprios e daqueles que os rodeiam (Seedhom, 2017).

Um termo utilizado para ligar um conjunto de comportamentos prejudiciais à saúde é o

risk-taking (i.e., correr riscos), como o consumo de substâncias, prática de comportamentos

sexuais de risco, condução imprudente, comportamento suicida ou homicida, desordem alimentar e delinquência. Este termo é considerado como um comportamento controlado, consciente ou não, que trará consequências ao bem-estar físico do próprio adolescente e para os outros, apesar de muitas vezes essas consequências não serem percebidas (Simões, 2010).

Certas mudanças que possam ocorrer durante a adolescência irão permitir ao adolescente explorar novos horizontes e experienciar novos comportamentos; dentro desses comportamentos estão incluídos os comportamentos de risco. Alguns desses comportamentos que envolvem perigo são, de facto, experiências construtivas para o adolescente e que fazem parte do seu crescimento normal, mas muitos deles comprometem o seu desenvolvimento normativo (Simões, 2010). Alguns podem ser considerados comportamentos normativos e saudáveis para o adolescente devido a um conjunto de considerações, nomeadamente o facto de os adolescentes poderem ganhar aceitação pelos pares, ganhar autonomia dos pais, lidar com a ansiedade, frustração e antecipação do fracasso, confirmar a si próprio alguns atributos, moldar a sua identidade, provar a sua maturidade e, por último, transitar para a

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fase adulta. Contudo, os comportamentos de risco, como o próprio nome indica, podem constituir uma ameaça ao adolescente, pelo facto de serem extremamente perigosos quando o conduzem a ações inadequadas, como afastar-se da sua comunidade, não partilhar interesses com os que lhe são próximos e quando este se sente rejeitado e incompreendido pela sociedade. A título de exemplo, comportamentos como o consumo de álcool ou comportamentos sexuais em idades precoces são considerados de risco pelo facto de ocorrerem em momentos nos quais não era suposto ocorrerem e o consumo de substâncias ilícitas e atos delinquentes graves são comportamentos de risco pelo grau da sua gravidade (Simões, 2010). É de salientar que uma avaliação adequada dos comportamentos de risco deve ter em conta as características do próprio adolescente, da sociedade onde está inserido, da sua família e dos seus grupos de referência (e.g., amigos, escola, nível socioeconómico; Feijó & Oliveira, 2001).

Ao longo da adolescência, os comportamentos de risco podem ser prevenidos através das consequências que os mesmos têm ao longo da vida. Tal como os adolescentes apresentam características que os tornam únicos e diferentes uns dos outros, as causas que os levam a envolver-se em comportamentos de risco são, também, diversas (Tomé et al., 2015). Assim, o envolvimento dos adolescentes em comportamentos de risco depende da atitude e da escolha que o próprio faz, por exemplo, o adolescente escolhe praticar exercício físico pelo prazer que o próprio exercício proporciona, e não como opção individual de estilo de vida para ter cuidado especial com a saúde, ou seja, esta atitude dificilmente é consciente e planeada para evitar um dano na saúde. Pelo contrário, o consumo de álcool, tabaco e drogas já é consciente, pois o adolescente pode usá-las com ou sem consciência das consequências que estes comportamentos poderão trazer à saúde sua saúde (Araújo & Blank, 2008).

No estudo de Tomé e colaboradores (2015) concluiu-se que o fator com maior impacto no envolvimento em comportamentos de risco foram os sintomas psicológicos, havendo um maior envolvimento dos adolescentes em comportamentos de risco quando os sintomas psicológicos aumentavam. Verificou-se, igualmente, que os pais mostram ter um papel relevante na fase da adolescência, sendo a comunicação e a monitorização parental duas vertentes, na relação com os pais, que são consideradas como potenciados de bem-estar e protetoras do envolvimento em comportamentos de risco para a saúde (Tomé et al., 2015).

Relativamente à saúde, como já mencionado, os adolescentes mostraram-se menos suscetíveis à doença ou a outras condições negativas relacionadas com a saúde, contudo, há casos onde acontece o contrário. Segundo os resultados do estudo Health Behaviours in

Scholl-Aged Children (HBSC), existe uma percentagem significativa de adolescentes que

apresentam sintomas de mal-estar psicológico: Cerca de 62% refere sentir-se nervoso, 44% relata irritabilidade e 38% refere sentir-se deprimido, existindo uma percentagem semelhante com dificuldades em adormecer, uma ou mais vezes por semana (Matos et al., 2000). Sendo

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que os problemas de saúde tendem a aumentar ao longo da adolescência, tanto a nível físico como psicológico, é necessário que a intervenção seja precoce.

O mesmo estudo (HBSC), realizado em Portugal, mostra uma evolução negativa ao nível do mal-estar nos adolescentes. No que toca a diferenças de sexo em termos de estatuto de saúde, comportamentos de saúde e de risco e fatores de proteção, as investigações têm concluído que são as raparigas adolescentes e pré-adolescentes que apresentam perceções mais baixas de bem-estar e mais sintomas de mal-estar físico como dores de cabeça, costas e estômago, e mal-estar psicológico como irritabilidade, nervosismo, sintomatologia depressiva e dificuldades em adormecer. Por sua vez, os rapazes mostram sentir-se mais felizes, mais saudáveis e menos sós; contudo, também apresentam problemas relacionados com a saúde. Para além disso, são os rapazes que costumam experimentar e consumir regularmente substâncias, como tabaco, álcool e drogas (Matos et al., 2000).

Um dos passos fundamentais para melhorar a saúde do adolescente e determinar os comportamentos de risco que requerem intervenção é a compreensão dos comportamentos de risco para a saúde dos mesmos e dos seus fatores determinantes. Assim, as intervenções na promoção da saúde de adolescentes têm-se focado na redução de comportamentos de risco para a saúde e aumentar os comportamentos promotores de saúde (Seedhom, 2017).

1.3. O sono

O sono pode ser definido como um estado fisiológico e periódico, caracterizado pela supressão da atividade percetiva e da motricidade voluntária. Sendo um processo fisiológico, dinâmico e ativo, é influenciado por propriedades biológicas intrínsecas, temperamento, expectativas, normas culturais e condições ambientais (Mendes, Fernandes, & Garcia, 2004). Este representa uma atividade diária que é essencial ao indivíduo, principalmente às crianças e adolescentes, para o seu crescimento e desenvolvimento, tornando-se fundamental estudar o impacto que este tem nestas duas populações (Lopes, Almeida, Jacob, Figueiredo, Vieira, & Carvalho, 2016). Os hábitos de sono adotados pelos sujeitos são influenciados por vários fatores, como os estados de desenvolvimento, fatores biológicos e psicológicos e aspetos ambientais, familiares e socioculturais (Carter, Hathaway & Lettieri, 2014).

Dormir é uma necessidade homeostática, essencial para a saúde e para o bom funcionamento orgânico, cognitivo e emocional (Pinto, Pinto, Pinto & Paiva, 2016). Na fase da adolescência, por vezes, o sono é influenciado pela sociedade, o que pode perturbar o ritmo saudável de sono e vigília. Nesta fase do desenvolvimento, o sono não é valorizado como deveria ser, daí surgirem os problemas com uma certa gravidade neste aspeto, pela influência que têm na qualidade de vida dos adolescentes e pelas consequências que trazem para o seu desenvolvimento e saúde. É de referir que consequências como a agressividade, ansiedade,

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violência, acidentes, abuso de substâncias e comportamentos de risco mais acentuados estão relacionados com a privação de sono na adolescência. Esta privação de sono pode causar um aumento no risco de acidentes, aumento da probabilidade do aparecimento de doenças como a diabetes, hipertensão, obesidade, depressão, insónia, flutuações do humor e o aumento da sonolência diurna. Surgem, ainda, consequências no contexto escolar, particularmente, o baixo rendimento e dificuldades cognitivas (Pinto et al., 2016), questões que serão abordadas posteriormente de forma mais complexa.

1.3.1. Qualidade e duração do sono

Quando se estuda o sono dos indivíduos, estuda-se a qualidade e a duração do mesmo. O primeiro domínio, a qualidade do sono, refere-se aos índices subjetivos de como o sono é experienciado, o que inclui o sentimento de descanso ao acordar e a satisfação com o sono (Dewald, Meijer, Oort, Kerkhof, & Bogels, 2010).

Sabe-se que a adolescência é um período de desenvolvimento rico em mudanças biopsicossociais, apresentando-se como uma fase em que podem existir problemas relacionados com a qualidade do sono, pois este também sofre mudanças estruturais, podendo ter um impacto negativo nas várias áreas da vida do adolescente, principalmente na sua saúde mental (Owens, 2014). Nas crianças e adolescentes, problemas como iniciar e manter o sono são comuns e podem ser vistos como indicadores de uma má qualidade de sono. Estes necessitam, em média, de nove horas de sono por dia, mas os estudos demonstram que estes dormem menos que oito horas diárias (Gibson et al., 2006). O sono insuficiente pode ser consequência de fatores extrínsecos, como os horários de início das aulas, a pressão social e a carga de trabalho académico, ou de fatores intrínsecos, como a puberdade e alterações circadianas. Tudo isto pode levar a que as crianças e adolescentes se deitem mais tarde apesar das horas de acordar não serem alteradas, verificando-se, por exemplo, que cerca de 20 a 50% das crianças relatam ter sonolência durante o dia (Roehrs, Carskadon, Dement, & Roth 2005, cit. in Dewald et al., 2010).

Como subcategoria da qualidade do sono encontra-se o bem-estar, muito mencionado pelos adolescentes, referindo-se à perceção subjetiva de tranquilidade e conforto que associam ao ato de dormir. Esta ideia de tranquilidade e conforto associado ao sono parece ser determinante para a avaliação que o adolescente faz da sua qualidade de sono (Pinto et al., 2016).

Vários fatores, como os maus hábitos de sonos e comportamentos de saúde (uso das novas tecnologias e consumo de substâncias psicoativas), podem levar a uma redução do tempo e qualidade do sono, o que, por sua vez, leva a consequências negativas como a sonolência diurna excessiva (Pucci & Pereira, 2016). Os adolescentes referem-se a esta sonolência e à insónia como uma das dificuldades e problemas da privação do sono (Pinto et

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que leva a uma diminuição do rendimento na escola, no caso das crianças e adolescentes, ou em qualquer tarefa a realizar e afeta, negativamente, a interação social, a aprendizagem e a qualidade de vida. Esta sonolência é observada principalmente na adolescência, que é uma fase da vida marcada por inúmeras mudanças, havendo um atraso no ciclo vigília-sono marcado por horários de adormecer mais tardios, o que dificulta a adaptação a horários normais (Wolfson, Spaulding, Dandrow, & Baroni, 2007).

O segundo domínio é a duração do sono, sendo o domínio mais objetivo do sono, ou seja, é o tempo real que o indivíduo passa a dormir (Dewald et al., 2010). As horas de sono adquiridas por uma criança vão depender do ciclo vital em que esta se encontra e das suas características, sendo que a necessidade de sono muda de indivíduo para indivíduo, ou seja, é idiossincrática (Nuutinen, Ray, & Roos, 2013). Uma das mudanças comportamentais mais proeminentes que se verifica durante o desenvolvimento do adolescente é o tempo de sono e a vigília, verificando-se na maioria os adolescentes (Caeskadon, Acebo, & Jenni, 2004).

A duração do sono noturno nos adolescentes desempenha um papel essencial na saúde dos mesmos, pois estes encontram-se numa fase de aprendizagem e diferenciação, tendo um impacto significativo no bem-estar físico e psicológico e, ainda, estando associada a problemas comportamentais e neurocognitivos (e.g., distúrbios de aprendizagem e défice de atenção; Ciampo, 2012). Ao existir uma redução da duração do sono de um indivíduo, irão surgir consequências negativas no funcionamento das suas atividades diárias. Assim, o impacto da redução do tempo de sono nas crianças está associado com a presença de dificuldades emocionais e comportamentais e com uma redução do rendimento em várias atividades, principalmente académicas, que colocam em jogo os aspetos neuropsicológicos, como a atenção e a memória. O adiantamento da hora de dormir pode trazer problemas relacionados com a saúde, o desempenho escolar, a qualidade de vida e as relações familiares (Munoz-Quintero & Bianchi, 2017).

Segundo Shochat, Cohen-Zion e Tzischinsky (2013) os problemas de sono e a perda deste parecem aumentar o envolvimento do adolescente em comportamento de risco relacionados com a saúde, nomeadamente, o uso de substâncias psicoativas (e.g., ingestão de nicotina, canábis e álcool). Para além destes comportamentos, os comportamentos de risco à saúde associados a um sono inadequado incluem, ainda, relações sexuais desprotegidas, violência, lesões físicas e ideação suicida (Shochat et al., 2013).

Um dos grandes problemas que se tem verificado durante a infância são as perturbações de sono, sendo considerados como um problema de saúde pública, estimando-se que cerca de 30% das crianças sofrem de problemas relacionados com as alterações de sono (Masalan, Sequeida, & Ortiz, 2013). Segundo Mendes e colaboradores (2004), a interação complexa entre fatores fisiológicos da criança e do seu relacionamento com os pais pode originar os problemas de sono, sendo uma das alterações mais frequentes na população pediátrica. No

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caso das crianças e adolescentes é necessário prestar atenção à qualidade e higiene do sono e perceber que é fundamental uma boa qualidade de sono para um bem-estar futuro, na medida em que se vão adquirindo os hábitos fundamentais de autocuidado na saúde (Masalan et al., 2013). Conciliar e manter o sono durante um determinado número de horas durante a noite é um grande benefício para ter uma boa qualidade de sono, o que, rapidamente, irá facilitar a manifestação de comportamentos satisfatórios durante o dia e um bom rendimento em todas as tarefas que se realizam (Masalan et al., 2013).

1.3.2. Fatores de privação do sono

Os fatores de natureza fisiológica e os de natureza psicossocial estão na explicação para a crescente privação do sono entre os adolescentes. Deste modo, alterações na produção de melatonina, que ocorrem durante a puberdade, contribuem para compreender o aparecimento do sono em horas mais tardias. Também os fatores ambientais estão incluídos nesta explicação, como o facto de os adolescentes terem um maior acesso às novas tecnologias ou devido ao excesso de atividades diárias, o que implica prescindir de algumas horas de sono (Pinto et al., 2016). Segundo Caeskadon e colaboradores (2004), a alteração dos padrões de sono deve-se a um aumento das obrigações escolares, das atividades sociais e do tempo que os adolescentes gastam em atividades como ver televisão e navegar na internet, fazendo com que se deitem mais tarde e andem mais sonolentos durante o dia.

O sono é essencial para uma boa manutenção e funcionamento da vida do adolescente; apesar disso, tem-se verificado que os mesmos tendem a dormir menos do que é esperado (Owens, 2014). Dos diversos fatores que levam à redução do tempo e qualidade do sono, o principal é a utilização das novas tecnologias – um dos grandes motivos de distração que concorrem com o sono –, pois exercem um grande impacto negativo na qualidade do sono da criança e do adolescente (Pucci & Pereira, 2016). Owens (2014) destaca como principais fatores que contribuem para que os adolescentes tenham um sono insuficiente: o uso das novas tecnologias, as horas de início da escola e a cafeína.

Relativamente ao uso das novas tecnologias, estas vão interromper o sono durante a noite e a utilização das diversas tecnologias, como o computador e o telemóvel, irá fazer com que o adolescente tenha menos sono durante a noite, aumentando, portanto, a sonolência durante o dia. Esta sonolência diurna excessiva também se verifica quando o adolescente se envolve em muitas e diversas atividades antes do sono. O uso destas tecnologias vai fazer com o que adolescente direcione a atenção para o que está a fazer, afastando assim o sono (Owens, 2014). Quanto às horas de início das aulas, esta é uma das mudanças na adolescência que afeta a qualidade e quantidade do sono, visto que as horas de começo da escola tendem a ser sempre cedo. Por último, o consumo da cafeína afeta, também, o sono do adolescente, levando a consequências como: (a) aumento da latência do início do sono, (b) menor duração do tempo de sono, (c) aumento do tempo de vigilância após o início do sono e (d) aumento da

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sonolência diurna, em indivíduos que começam a consumir cafeína a partir dos 12 anos de idade (Owens, 2014). Assim, adolescentes que têm uma ingestão moderada ou alta de cafeína mostram mais dificuldade em dormir. Os três fatores referidos irão, então, piorar a qualidade do sono e aumentar a sonolência diurna (Calamaro, Mason, & Ratcliffe, 2009).

Por último, importa referir que os adolescentes mencionam, também, certas situações do dia-a-dia que fazem com que se desenvolvam conteúdos emocionais negativos como o stress, a ansiedade, a irritabilidade e o medo, tais como preocupações em relação ao sono, ficando com dificuldades em adormecer ou manter um sono consolidado (Pinto et al., 2016). Estudos têm verificado uma redução no tempo do sono noturno em adolescentes que trabalham ou estudam da parte da manhã, o que ocorre pelos horários alterados de dormir e acordar, levando a uma maior sonolência diurna, a uma redução da qualidade de vida e do desempenho académico e à prevalência de doenças crónicas não transmissíveis (Rombaldi & Soares, 2016).

1.3.3. Hábitos de sono em crianças e adolescentes

Vários estudos realizados com crianças entre ao 4 e os 12 anos de idade, verificam que, relativamente ao tempo de sono, a hora de deitar das crianças era às 21h, durante a semana, e às 22h aos fins de semana, sendo o tempo de horas de sono verificado aos fins de semana considerado o tempo de horas necessário para as crianças nesta faixa etária. Assim, aos fins de semana, as crianças iam para a cama, em média, uma hora mais tarde e acordavam duas horas e 20 minutos mais tarde, quando comparadas com as horas durante a semana (Lopes, et al., 2016; Munoz-Quintero & Bianch, 2017).

Observou-se, igualmente, que as crianças com idades entre os 7 e 8 anos apresentavam mais resistência em ir dormir, não adormeciam sozinhas – precisando frequentemente da mãe ou do pai no seu quarto para conseguirem adormecer – e iam mais frequentemente para o quarto dos pais ou dos irmãos, do que as crianças com idade entre os 11 e 12 anos, mostrando terem mais medos noturnos e distúrbios de sono, como a parassonia (Lopes, et al., 2016; Munoz-Quintero & Bianch, 2017). Relativamente ao sono e ao desempenho académico, verificou-se uma relação significativa, mas negativa, ou seja, as crianças que apresentavam maiores dificuldades de sono demonstravam um desempenho académico mais baixo. Por sua vez, verificou-se a existência de uma relação significativa também de ordem negativa entre o desempenho e o comportamento, o que indica que maiores dificuldades comportamentais, menor é o desempenho académico da criança. Observou-se, também, que, à medida que vão crescendo, as crianças diminuem o seu tempo de sono (Lopes, et al., 2016; Munoz-Quintero & Bianch, 2017) e que os problemas relacionados com o início do sono e com os despertares noturnos foram mais verificados nas crianças do pré-escolar, visto que estas acordavam mais vezes durante a noite. Através destes resultados, os autores puderam concluir que as crianças na idade do pré-escolar apresentavam mais problemas relacionados com a resistência na hora

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de ir para a cama e com o início do sono, traduzindo o desenvolvimento normal da criança, que vai adquirindo uma maior independência e autonomia relativamente ao sono (Lopes, et al., 2016).

Já Sadeh e colaboradores (2003), através da utilização do instrumento de avaliação Child

Behavior Checklist (CBCL) de Achenbach, observaram, também, que as crianças que

apresentavam mais dificuldades de sono eram descritas pelos pais como tendo mais problemas comportamentais.

Por outro lado, Mendes e colaboradores (2004) averiguaram que, em média, uma criança entre os 5 e os 10 anos dorme entre nove horas e 50 minutos por noite e que apenas 10% das crianças fazem um período de sono diurno, sendo maioritariamente crianças entre os 5 e os 6 anos, e que existe uma queda da percentagem de crianças que dormem durante o dia entre os 3 e os 10 anos. Verificaram, ainda, que cerca de 17% das crianças dormiam na cama dos pais, acontecendo o mesmo com os adolescentes. Estes precisam de nove horas a nove horas e cinco minutos de sono por noite e, quando isto não acontece, apresentam maior sonolência diurna, dificuldades de atenção e concentração, desempenho escolar reduzido, problemas comportamentais, predisposição a acidentes, atraso no desenvolvimento da puberdade, maior ganho de peso e uso e álcool e de substâncias psicoestimulantes (Liu, Hay, Joshi, Faught, Wade, & Cairney, 2011).

Pelo facto de os hábitos de sono terem um impacto negativo no bem-estar das crianças, adolescentes e seus cuidadores, torna-se necessário conhecer esses hábitos e eventuais consequências que podem acarretar nesta população. Se os hábitos de sono são inadequados, isso trará consequências a vários níveis, nomeadamente ao nível da perturbação na regulação emocional e comportamental, da diminuição do rendimento da criança na escola, ao nível cognitivo, o aumento do risco de acidentes, as alterações no crescimento, a obesidade, entre outros. Os maus hábitos e problemas de sono nas crianças e adolescentes podem, também, ter impacto a nível da qualidade de vida dos pais, pois irá afetar o seu bem-estar e o seu desempenho pessoal e profissional (Lopes et al., 2016).

Pinto e colaboradores (2016) estudaram cerca de 400 adolescentes com o objetivo de caracterizar o sono dos adolescentes em termos de hábitos, autoperceção e conhecimentos acerca do sono. Desta amostra, cerca de 219 eram raparigas e 181 rapazes, com uma média de idades de 15 anos, entre os 9º e 11º ano de escolaridade. Quanto aos hábitos de sono, os resultados mostraram que os adolescentes se levantavam, durante a semana, em média pelas 7h24min e deitavam-se pelas 23h27min. Já aos fins de semana os valores variavam um pouco, levantavam-se e se mais tarde, ou seja, levantavam-se pelas 11h27min e deitavam-se à 01h06 min da manhã. Assim, o tempo total de sono dos adolescentes durante a deitavam-semana era de sete horas e 41 minutos e aos fins de semana este tempo aumentava um pouco, dando

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quando comparados os dados de durante a semana com os do fim de semana (Pinto et al, 2016).

No que diz respeito à avaliação das autoperceções dos adolescentes acerca do seu sono, verificou-se que cerca de 61% mencionaram não dormir o tempo suficiente, 39% consideraram adequada a duração do seu sono, 33% consideraram dormir razoavelmente, 47% consideraram dormir bem e cerca de 14% consideraram dormir muito bem. Contudo, houve uma pequena percentagem de adolescentes, 7%, que mencionaram dormir mal e/ou muito mal. Dentro dos vários fatores que poderiam estar a pôr em causa a duração do sono dos adolescentes durante a semana, os mais mencionados foram os fatores ambientais como “barulhos no quarto” (43%), ficar a “ver televisão até horas tardias” (42%), sendo que aos fins de semana a percentagem de “ficar a ver televisão até horas tardias” aumentou (59%) e acrescenta-se, ainda, o “ficar na internet até tarde” (53%). Os fatores emocionais apresentaram percentagens ainda mais elevadas, sendo que os adolescentes mencionaram “pensar em problemas” (61%) e “preocupação com os testes” (61%). Quanto à parte das atividades, as percentagens mostraram-se baixas durante a semana, aumentando consideravelmente aos fins de semana. Durante a semana salienta-se a prática de desporto à noite com 18% e, durante os fins de semana, as “festas com os amigos” com 47% e “saída com os amigos” com 40% (Pinto et al, 2016).

Por último, no que toca ao terceiro objetivo, conhecimento acerca do sono, cerca de 46% dos adolescentes consideraram ter conhecimentos “médios”, 23% conhecimentos “bons” e 5% “muito bons”. Apenas uma pequena percentagem, 20%, considera ter conhecimentos “fracos” e 6% “muito fracos” (Pinto et al, 2016).

Gregory e Sadeh (2012) estudaram a morbilidade psicológica, considerada como o desconforto, consequência da falta de bem-estar físico e psicológico, nomeadamente a depressão e a ansiedade, com aparecimento individual ou combinadas, e os problemas de sono. Os autores verificaram uma associação entre estes dois aspetos nos adolescentes, visto que adolescentes com sonhos perturbadores têm níveis mais altos de ansiedade e que as queixas de sono são mais comuns em adolescentes com depressão (Gregory & Sadeh, 2012).

Pucci e Pereira (2016), na sua investigação, tinham como objetivo analisar se a morbilidade psicológica era mediadora na relação entre o excesso de sonolência diurna e a qualidade do sono em adolescentes. Ao contrário do que a literatura menciona, verificaram que a morbilidade psicológica não era mediadora do excesso de sonolência diurna sobre a qualidade do sono (Pucci & Pereira, 2016).

Investigações onde foram estudadas as repercussões da restrição do sono em crianças constataram que, se o tempo de sono for maior, as crianças têm menos fadiga durante o dia e há melhoria nas suas capacidades de reação e na memória. No entanto, se o contrário

Imagem

Figura 1. Dimensões fundamentais do bem-estar psicológico e fundamentos teóricos (adaptado de Ryff &
Figura 2. Continuum de autodeterminação (adaptado de Deci & Ryan, 2000).

Referências

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