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Braz. J. Cardiovasc. Surg. vol.21 número1

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Academic year: 2018

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Memorial

Braz J Cardiovasc Surg 2006; 21(1): 106-107

RBCCV 44205-805

NORMAN SHUMWAY

Noedir Stolf*

Na manhã do dia 10 de fevereiro deste ano morria, em sua casa em Palo Alto, Califórnia, de complicações na evolução de uma neoplasia maligna, o Dr. Norman E. Shumway, um dia após completar 83 anos. Me levam a escrever esse texto simples, tanto a justa homenagem que qualquer membro da nossa Sociedade considera que ele merece, como a atenção e carinho com que repetidamente me distinguiu.

O Dr. Shumway, professor emérito da Universidade de Stanford, nasceu em Kalamazoo, Michigan, iniciou sua formação na Universidade de Michigan. em 1941, com intenção de estudar Direito, neste período foi recrutado pelo Exército durante a segunda guerra mundial. No Exército, um teste vocacional apontou sua aptidão, para Medicina ou Odontologia. Optou pela Medicina e recebeu seu MD pela Universidade de Vanderbilt em 1949. Seu internato e residência foram feitos na Universidade de Minnesota, onde obteve PhD em Cirurgia Cardiovascular em 1956.

Em 1958, foi admitido como instrutor de cirurgia na Universidade de Stanford, então em São Francisco, Califórnia. A transferência para o campus de Palo Alto permitiu a expansão do Serviço de Cirurgia Cardiovascular. Shuwmay iniciou em 1959, com a colaboração do então residente Richard Lower, os estudos de transplante em cães, que constituiriam a contribuição maior do seu grupo à cirurgia cardiovascular. Utilizando imunossupressão, padronizaram e aperfeiçoaram a técnica, conseguindo as primeiras sobrevidas longas nesse tipo de transplante experimental. Em seu modo direto de falar, ele me disse; “We started out doing this as a technical exercise and the animals began to survive”.

Embora ele tivesse afirmado que estava confiante na viabilidade do transplante humano, a comunidade internacional foi surpreendida pelo primeiro transplante entre humanos realizado pelo Dr. C. Barnard, na África do Sul, em 3 de dezembro de 1967. Após o primeiro transplante nos Estados Unidos, feito pelo Dr. Kantrowitz, em uma criança o Dr. Shumway realizou o segundo transplante do país, com sobrevida de pouco mais de duas semanas. Muitos Serviços realizaram transplantes nesse período histórico, inclusive no Brasil, com a liderança do Prof. E.J.Zerbini. Seguiu-se contudo a partir de 1970 a época do desencanto com o procedimento. Mantiveram o entusiasmo e as pesquisas,

somente os grupos de Stanford, da África do Sul, de Richmond (chefiado pelo Dr. Lower, egresso de Stanford) e o do Hospital Pitié Salpêtrière, na França. Sem dúvida, sem as contribuições do Serviço do Dr. Shuwmay a História do Transplante Cardíaco não seria a mesma ou, pelo menos, a retomada do procedimento teria sido muito retardada.

Ao manter um programa contínuo de transplante, acumularam preciosa experiência no manejo dos doadores e receptores; tornaram segura a biópsia endomiocárdica, aperfeiçoando a técnica de Sakakibara (técnica de Schultz– Caves); padronizaram os métodos de monitorização imunológica importantes na era pré ciclosporina, implantaram o processo de busca de órgãos à distância e finalmente introduziram a ciclosporina na prática do Transplante de Coração (que no rim havia se iniciado em 1978). Essas contribuições permitiram a melhora do resultados desse tipo de terapêutica, ensejando na década de 80 a retomada rotineira dos Transplantes de Coração.

O Departamento de Cirurgia Cardiovascular da Stanford, manteve continuamente projetos de transplante em cães, sempre realizados pelo residente chefe do Serviço. Mas não parou por aí, pois iniciou em seguida o projeto de transplante de coração–pulmão em macacos, com o então residente chefe Bruce Reitz.

Em 1981, Shumway e Reitz realizaram pela primeira vez em humanos esse transplante duplo. O paciente que viveu cinco anos.

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107 (hipotermia tópica), 2 - substitutos valvares e 3 - dissecções

e aneurismas da aorta. O Dr. Shumway recebeu as mais importantes láureas das Sociedades Médicas Americanas não só da Especialidade, como também de tantas outras.

Independentemente do papel que o Dr. Shumway desempenhou no desenvolvimento do seu Serviço na Universidade de Stanford e na Cirurgia Cardiovascular, ele era considerado uma figura ímpar. Sempre se conduzia socialmente com simplicidade, sendo receptivo e amigável. Com ironia fina, demonstrava sempre um humor sagaz, que não agredia. No campo profissional e científico, se manifestava também com raciocínio direto e simplificado.

O Dr. Norman E. Shumway foi professor e chefe do Departamento de Cirurgia Torácica e Cardiovascular da Universidade de Stanford até a sua aposentadoria em 1993. Deixa esposa (primeira e única), quatro filhos, uma delas (Sara) cirurgiã cardiovascular e dois netos, porém mais que tudo, deixa saudade nos que o conheceram.

*Professor Associado da Disciplina de Cirurgia Torácica e Cardiovascular da Faculdade de Medicina da USP, Chefe do Serviço da UDT-Stolf e Membro Titular da SBCCV

Braz J Cardiovasc Surg 2006; 21(1): 106-107

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