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Cad. Saúde Pública vol.32 suppl.1 csp 32 s1 eES04S116

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Academic year: 2018

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Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32 Sup 1:eES04S116, 2016 http://dx.doi.org/10.1590/0102-311XES04S116

Professor Frederico Simões Barbosa e sua

contribuição à epidemiologia brasileira

Professor Frederico Simões Barbosa and his

contribution to Brazilian epidemiology

Profesor Frederico Simões Barbosa y su

contribución a la epidemiología de Brasil

1 Faculdade de Medicina,

Universidade de São Paulo, São Paulo, Brasil.

Correspondência

M. Goldbaum

Departamento de Medicina Preventiva, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo.

Av. Dr. Arnaldo 455, São Paulo, SP 01246-903, Brasil. mgoldbau@usp.br

Moisés Goldbaum 1

Registrar uma homenagem à saudosa memória do professor Frederico Simões Barbosa, fundador e primeiro presidente de nossa associação, a As-sociação Brasileira de Saúde Coleitva (Abrasco), entidade cujas bandeiras de luta têm procurado honrar os ensinamentos do professor Frederico, como o conhecíamos, remete-nos a várias linhas tal sua fecunda contribuição ao desenvolvimen-to da pesquisa e educação em saúde no Brasil. Uma opção interessante e aqui assumida foi vi-sitar e relembrar o artigo de sua coautoria com Herman Voss 1, versando sobre as formas clínicas da esquistossomose, o que nos leva a analisar sua obra e sua contribuição para o desenvolvimento da ciência em saúde no Brasil, em particular na epidemiologia das doenças endêmicas. De ime-diato, pode-se recuperar sua recomendação na elaboração de estudos epidemiológicos, registra-da por Coutinho 2 (p. 428), que transcrevo: “

tro-car a complexidade pela simplicidade, a extensão pela profundidade, a rígida e cega padronização técnica pela criatividade, a alienação por uma visão comprometida com a comunidade”. Esta é a sua marca e trajetória na busca de soluções para indagações e desafios que o processo saúde-doença permanentemente nos traz.

A este artigo, agregam-se as centenas de ou-tros publicados e, no tema da esquistossomo-se, seleciono um, no qual ele registra, de forma impar e inédita, a competição entre caramujos transmissores de esquistossomose mansônica 3. A citação desses dois artigos permite sintetizar

e apreender o estilo que marcou uma época fe-cunda de emergência epidemiologia brasileira a partir de seus pesquisadores, cujo interesse de investigação estava voltado para as doenças de natureza infecciosas. Entre outras características dessa época, identificam-se os esforços para a descrição completa dos ciclos de doença, como, no começo do século passado, as notáveis análi-ses da tripanosomíase americana realizadas por Carlos Chagas, louvadas no fascículo 4 do volu-me 37, de 2008, do International Journal of Epi-demiology, dedicado especialmente à América Latina. Nessa perspectiva, pode-se afirmar que o professor Simões Barbosa ocupa, ao lado de Carlos Chagas e outros tantos pesquisadores bra-sileiros, especialmente Samuel Pessoa, que lhe serviu de inspiração, o espaço reservado àqueles que, vindos da área das doenças infecciosas e pa-rasitárias, estabeleceram e deram sequência ao desenvolvimento da epidemiologia no país.

Os dois artigos citados anteriormente, agre-gado de seu extenso trabalho sobre a morbidade da esquistossomose 4, compõem o exemplo de sua peculiar natureza investigativa. De um la-do, a exploração da doença na sua perspectiva malacológica, produzindo conhecimentos para a aplicação e revisão de políticas de controle da população de caramujos e, consequentemen-te, de controle da doença, mesmo entrando em situações divergentes com renomados pesqui-sadores nacionais e internacionais 5. De outro lado, os trabalhos de natureza

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Goldbaum M S2

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32 Sup 1:eES04S116, 2016

de saúde, produção de conhecimentos e atenção à saúde. Trata-se de uma ciência comprometi-da com a comunicomprometi-dade, como ele recomencomprometi-dava. Assim, é oportuno transcrever suas didáticas pa-lavras ao analisar o papel das universidades e da pesquisa: “As universidades brasileiras têm papel de relevância. Sua missão não mais se assenta so-bre o famoso tripé ensino/pesquisa/extensão. Criar e transmitir o saber são suas precípuas obrigações. Entretanto, essas atividades só serão válidas se es-tiverem comprometidas com o bem-estar social. A produção científica deve ser simultaneamente um bem cultural e um instrumento de trabalho socialmente comprometido. As atividades docente e científica são parte da sociedade e só poderão ser entendidas como instrumentos de realização de objetivos sociais bem determinados” 6.

Tais afirmações tão relevantes e atuais cons-tituem-se em diretrizes a serem seguidas e sua implementação e realização são as melhores homenagens que podemos prestar à memória deste magnífico e ilustre pesquisador/pensador brasileiro.

lógica, que lhe permitiram verificar, no âmbito da comunidade, os graus de acometimento e a morbidade gerada pela infecção esquistossomó-tica. Ou seja, como salientado anteriormente, procurou, em suas pesquisas, preocupado com as questões “médico-sociais” e dadas as condi-ções da época, responder de modo integrado e completo à história da doença. Essa dimensão holística da busca de compreensão das doenças, a partir desses pioneiros da epidemiologia bra-sileira, influenciou fortemente as futuras gera-ções que hoje compõem o grande e consolidado contingente de epidemiologistas nacionais, cuja produção científica vem se constituindo em sig-nificativos subsídios para a elaboração de políti-cas públipolíti-cas em saúde.

Pode-se afirmar, acompanhando a trajetória do professor Frederico, que ele representa, ao la-do la-dos pesquisala-dores originários da área de la- doen-ças infectoparasitárias, os inovadores e formado-res da moderna epidemiologia brasileira, cujas bases, no Brasil, contemplam, de modo original e produtivo, o indissociável tripé: necessidades

1. Barbosa FS, Voss H. Evolution of the clinical gradi-ent of Schistosoma mansoni infection in a small town in north-eastern Brazil. Bull World Health Organ 1969; 40:966-9.

2. Coutinho EM. Frederico Adolfo Simões Barbosa. Rev Soc Bras Med Trop 2004; 37:427-8.

3. Barbosa FS. Possible competitive displacement and evidence of hybridization between two Brazil-ian species of planorbid snails. Malacologia 1973; 14:401-8.

4. Barbosa FS. Morbidade da esquistossomose. Rev Bras Malariol Doenças Trop 1966; (número espe-cial):3-159.

5. Coimbra Jr. CEA. Uma conversa com Frederico Si-mões Barbosa. Cad Saúde Pública 1997; 13:145-55. 6. Barbosa FS. Pronunciamento do Prof. Frederico

Simões Barbosa, ao receber da Universidade de Brasília o título de Professor Honoris Causa, em 7/11/1995. http://www.unb.br/unb/titulos/frede rico_simoes.php (acessado em 25/Abr/2016).

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