• Nenhum resultado encontrado

Cad. Saúde Pública vol.32 suppl.2 csp 32 s2 eED01S216

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Cad. Saúde Pública vol.32 suppl.2 csp 32 s2 eED01S216"

Copied!
2
0
0

Texto

(1)

S1

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32 Sup 2:eED01S216, 2016 EDITORIAL EDITORIAL

Ao longo do último século, o papel da inovação foi reconhecido como fator propulsor do capitalismo. Como tal, políticas voltadas para o seu fomento e setores intensivos em

co-nhecimento adquiriram protagonismo na sociedade contemporânea. Schumpeter 1, com

declarada influência de Marx, Schmoller e Sombart, identificou o caráter crucial da ino-vação como fonte de competitividade, de desenvolvimento econômico e de transforma-ção da sociedade. Estudos sistemáticos então deflagrados focaram essencialmente em sua base científica e na infraestrutura tecnológica, sinalizando paradoxos da inovação que emanam de uma fragilidade sistemática na análise teórica e nos indicadores sobre a qual é construída 2. No fim da década de 1980, essas reflexões estimularam o desenvolvimento

da abordagem dos Sistemas Nacionais de Inovação (SNI), com trabalhos pioneiros de Free-man, Lundvall e Nelson.

A despeito de originalmente o SNI reconhecer o caráter central da aprendizagem e do conhecimento 3, Lundvall 2 ressalta que sua tradução em uma commodity potencial,

sub-jugada à lógica da competitividade internacional, deve ser tributada à vertente neoliberal dominante no capitalismo contemporâneo. Tal fato implica a crescente subordinação do conhecimento às demandas do mercado, o que se verifica, por exemplo, nas tentativas su-cessivas de estender os direitos de propriedade intelectual para além do que recomendaria a promoção do progresso socioeconômico.

A compreensão sobre a dinâmica de inovação na saúde ainda precisa avançar, seja em decorrência do entendimento restrito dos determinantes da interação produtor-usuário, das características históricas e geográficas e da inovação no setor de serviços, seja, particu-larmente, no que se refere à inobservância das questões relativas ao poder e a consequente subestimação dos conflitos. A incorporação de elementos políticos para compreender as contradições características deste campo é crítica.

Justamente em função de articular uma gama de tecnologias portadoras de futuro, a saúde exerce, ao mesmo tempo que recebe, influência do padrão de conhecimento gera-do e disseminagera-do. O desafio consiste exatamente em considerar e problematizar ambas as acepções invocadas pela expressão “saúde e inovação”: aquela que responde às deter-minações de uma inserção internacional competitiva (mercado) e aquela na qual os riscos de adoecimento da população são sociais (estruturante de um processo civilizatório e de-mocratizante). E, com base nisso, afirmar a saúde como um bem comum, um direito à vida nas sociedades modernas e um vetor de desenvolvimento sustentável.

A trama conformada pela interação e competição entre interesses públicos e privados aumenta a complexidade da formulação de políticas para a promoção de inovação nos sis-temas de saúde. A escolha, a adesão e a disseminação de determinadas trajetórias tecno-lógicas condicionam a estrutura de redes de atenção. Em um país grande e desigual como o Brasil, com um sistema de saúde universal, importa saber se as tecnologias incorporadas estão à disposição de todos ou apenas de grupos restritos; ou seja, se reproduzem e acen-tuam as desigualdades ou se contribuem para superá-las.

Segundo Feenberg 4, o conhecimento deveria incorporar uma gama de interesses muito

mais diversificada que a atual; consequentemente, poderia se constituir em instrumento

Saúde, desenvolvimento e inovação

(2)

S2

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 32 Sup 2:eED01S216, 2016 EDITORIAL EDITORIAL

de transformação de uma sociedade, reconciliando liberdades mais amplas com formas substantivas de bem-estar material a serviço do conjunto da população.

O tema é complexo e exige a compreensão das contradições das estruturas sociais mo-dernas, marcadas pela consolidação da ordem global neoliberal em detrimento da sobera-nia estatal nacional e pelas transformações decorrentes do enfraquecimento dos Estados de Bem-Estar Social.

Nesse contexto, pontua-se a relevância de uma teoria que problematize a inovação na saúde de forma que ela atue para a emancipação, a sustentabilidade e a atribuição de voz ao indivíduo. Note-se que, ainda na atualidade, os recursos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) são acessíveis majoritariamente a segmentos populacionais privilegiados, ficando a agenda da saúde monopolizada por interesses de grandes conglomerados multinacionais e do capital financeiro. Tais condicionantes apontam a pertinência de incorporar aos esfor-ços para o entendimento da inovação na saúde a análise de contingências e controvérsias políticas, que teria como ponto de partida os processos de diferenciação social 5.

Esses são os desafios subjacentes às relações estabelecidas entre saúde, desenvolvimento sustentável e inovação, e que conformam uma temática central para o campo da saúde co-letiva. Sua relevância tem atraído autores de distintas áreas disciplinares, oxigenando o de-bate e trazendo contribuições importantes para a saúde, visto seu caráter multidisciplinar.

A pertinência do debate motivou a elaboração deste Suplemento que reúne 17 artigos cuja proposta é problematizar a dinâmica de desenvolvimento contemporâneo, que tem afetado sobremaneira a reorganização dos sistemas de saúde nas últimas décadas. Uma abordagem sistêmica da inovação em saúde deve se aproximar do ponto de vista dos atores sociais, acepção que se desdobra na necessidade de revisão do contrato social entre o siste-ma de saúde e os cidadãos, para a definição de políticas de inovação na saúde 6.

Laís Silveira Costa

Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.

lais.costa@fiocruz.br

1. Schumpeter JA. The theory of economic develop-ment: an inquiry into profits, capital, credit, interests and the business cycle, London: Oxford University Press; 1938.

2. Lundvall B. Post script: innovation system research. Where it came from and where it might go. In: Lund-vall B, editor. National system of innovation: toward a theory of innovation and interactive learning. Lon-don: Anthem Press; 2010. p. 317-50.

3. Lundvall B. National innovation systems: towards a theory of innovation and interactive learning. Lon-don: Pinter Publishers; 1992.

4. Feenberg A. Critical theory of technology: an over-view. Tailoring Biotechnologies 2005; I:47-64. 5. Fischer-Lescano A. A teoria crítica dos sistemas da

escola de Frankfurt. Novos Estudos CEBRAP 2010; 86:163-77.

Referências

Documentos relacionados

Amil is now a company with foreign capital. Its former owner still heads the health business in Brazil. The family that organized Amil holds the majority share of seven

This study addresses Brazil’s current policy for development of the health industry and its effects on qualification of national public laboratories by contextualizing

The attempt was to understand how social inte- rests related to the population’s needs and vulne- rabilities could (or should) be integrated into the development of the

ticle analyzes institutions of Higher Education and health training as components of the HEIC and agents of national economic development, with emphasis on innovation, expansion

Furthermore, the accumula- tion of capabilities with levels of excellence in key scientific areas in health in Brazil – illustrated by the growth of such areas’ share in total

We conclude that network organizational formats centered on reflexiv- ity of interdisciplinary groups and planning approaches that encour- age innovation criteria in assessing

The development of HTA organizations and its process of institutionalization may be obser- ved in the creation of networks and the progres- sive increase in the number of agencies

The article examines the Brazilian industry’s innovative behavior vis-à-vis these op- portunities, showing that although the industry as a whole invests little in innovation, a