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Sábado, 8 de outubro de 2016 I Série Número 10 XIII LEGISLATURA 2.ª SESSÃO LEGISLATIVA ( ) REUNIÃO PLENÁRIA DE 7 DE OUTUBRO DE 2016

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XIII LEGISLATURA 2.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2016-2017)

REUNIÃO PLENÁRIA DE 7 DE OUTUBRO DE 2016

Presidente: Ex.

mo

Sr.

Jorge Lacão Costa

Secretários: Ex.

mos

Srs. Emília de Fátima Moreira Santos

Diogo Feijóo Leão Campos Rodrigues

S U M Á R I O

O Presidente (Jorge Lacão) declarou aberta a sessão às 10 horas e 6 minutos.

A abrir o debate da interpelação n.º 7/XIII (2.ª) — Sobre políticas para a deficiência (BE), usou da palavra o Deputado Jorge Falcato Simões (BE), que utilizou, pela primeira vez, plataformas elevatórias para deficientes motores, facto que o Presidente saudou, realçando o simbolismo e o relevo que representam para o Parlamento, bem como para outras entidades públicas e privadas. Ainda na fase de abertura do debate, proferiu uma intervenção o Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (Vieira da Silva).

Usaram da palavra, durante o debate, a diverso título, além daqueles oradores e dos Secretários de Estado da Educação (João Costa) e da Inclusão das Pessoas com Deficiência (Ana Sofia Antunes) — que o Presidente cumprimentou pelo valor do seu exemplo enquanto deficiente visual —, os Deputados Diana Ferreira (PCP), António Carlos

Monteiro (CDS-PP), Rui Riso (PS), Joana Mortágua (BE), Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP), Júlia Rodrigues (PS), Heloísa Apolónia (Os Verdes), Sandra Pereira (PSD), José Moura Soeiro (BE), Feliciano Barreiras Duarte (PSD), Maria da Luz Rosinha (PS), Ilda Araújo Novo (CDS-PP), André Silva (PAN) e Maria Manuela Tender (PSD).

No encerramento do debate, intervieram o Deputado Pedro Filipe Soares (BE) e a Secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência, tendo aquele Deputado, no final, agradecido aos serviços da Assembleia o trabalho desenvolvido com vista às alterações de infraestruturas no sentido de um melhor acolhimento de pessoas com deficiência ou incapacidade, ao que se associou o Presidente.

Após leitura, a Câmara aprovou os votos n.os 137/XIII (2.ª)

— De pesar pelo falecimento do jogador e treinador de futebol Mário Wilson (PSD, PS, BE, CDS-PP, PCP, Os Verdes e PAN), após o que a Câmara guardou 1 minuto de silêncio, e

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135/XIII (2.ª) — De repúdio pela eventual aplicação de sanções a Portugal (PSD).

Foram aprovadas as propostas de resolução n.os3/XIII (1.ª) — Aprova a retirada da reserva formulada à alínea g) do artigo 10.º do Protocolo relativo aos Privilégios e Imunidades da Organização Europeia para a Exploração de Satélites Meteorológicos (EUMETSAT), adotado em Darmstadt, em 1 de dezembro de 1986, e 19/XIII (1.ª) — Aprova o Acordo que cria uma Associação entre a União Europeia e os seus Estados-Membros, por um lado, e a América Central, por outro, assinado em Tegucigalpa, em 29 de junho de 2012.

Na generalidade, foram aprovados os projetos de lei n.os 16/XIII (1.ª) — Estipula o número máximo de alunos por turma (Os Verdes), 148/XIII (1.ª) — Estabelece medidas de redução do número de alunos por turma, visando a melhoria do processo de ensino-aprendizagem (PCP) e 154/XIII (1.ª) —

Estabelece um número máximo de alunos por turma e por docente na educação pré-escolar e nos ensinos básico e secundário (BE).

Foram também aprovados os projetos de resolução n.os 213/XIII (1.ª) — Promoção do sucesso escolar através de um estratégico e adequado dimensionamento de turmas (CDS- PP), 216/XIII (1.ª) — Recomenda ao Governo a progressiva redução do número de alunos por turma (PS), 217/XIII (1.ª) — Medidas para a promoção do sucesso escolar (BE) e n.º 416/XIII (1.ª) — Recomenda ao Governo a regulamentação da Lei n.º 30/2010, de 2 de setembro, para a proteção contra exposições aos campos elétricos e magnéticos derivados de linhas, instalações e equipamentos elétricos (BE).

O Presidente (Jorge Lacão) encerrou a sessão eram 13 horas e 8 minutos.

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O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, está aberta a sessão.

Eram 10 horas e 6 minutos.

Peço aos Srs. Agentes da autoridade o favor de abrirem as galerias.

A nossa ordem do dia tem como único ponto a interpelação n.º 7/XIII (2.ª) — Sobre políticas para a deficiência (BE).

Lembro que, no final do debate, haverá votações regimentais.

Assim sendo, para intervir, na abertura da interpelação, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Falcato Simões.

Neste momento, o Deputado Jorge Falcato Simões (BE) dirigiu-se para a tribuna, deslocando-se em cadeira de rodas, e utilizou pela primeira vez plataformas elevatórias para deficientes motores, tendo-se registado um pequeno incidente.

Pausa.

Sr.

as

e Srs. Deputados, apesar do pequeno incidente que acabou de ter lugar com as plataformas elevatórias, quero sinalizar este momento simbólico, que é do maior relevo para o nosso Parlamento.

Acabámos de contribuir para superar mais uma barreira arquitetónica e, com isso, poder assegurar que, todos diferentes, todos iguais, todos possamos assumir, em plenitude, os direitos da nossa cidadania.

Que o exemplo de superação da barreira arquitetónica que acabou de ter lugar possa servir para as demais entidades públicas do nosso País e, igualmente, entidades privadas, como incentivo para que todos possamos concorrer de forma a garantir o pleno exercício de direitos, sem discriminações de qualquer espécie, a todos os cidadãos.

Bem-haja, Sr. Deputado Jorge Falcato. O seu exemplo, a sua determinação e a sua obstinação são um exemplo para todos os Deputados desta Casa.

Aplausos gerais.

Sr. Deputado, é com muito gosto que lhe dou a palavra para iniciar a interpelação do Bloco de Esquerda ao Governo.

O Sr. Jorge Falcato Simões (BE): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.

as

e Srs. Deputados:

Antes de mais, quero saudar todas as pessoas com deficiência e famílias que vieram assistir a este debate.

Como é bom estarmos cá e como é importante continuarmos cá. Como é fundamental que sejamos cada vez mais, mais visíveis, mais presentes, mais conscientes dos nossos direitos.

Obrigado.

Aplausos do BE, do PS, do PAN e de Deputados do PSD.

Falar de deficiência é falar de pessoas, é falar de pessoas que são segregadas, excluídas e discriminadas por serem diferentes da norma, que sobrevivem com pensões de miséria que mais parecem esmolas e que estão, na sua maior parte, dependentes do apoio familiar, que não se casam porque, se o fizerem, perdem o direito à pensão.

São raparigas esterilizadas sem o seu conhecimento e muito menos o seu consentimento. São crianças e

jovens a quem é negada uma verdadeira educação inclusiva. São pessoas que estão fechadas em casa, sem

direito à fruição das cidades ou que se esgotam na ultrapassagem de barreira após barreira. São pessoas que

não conseguem comunicar com o médico na urgência de um hospital, porque a sua primeira língua é a Língua

Gestual Portuguesa. São pessoas que esperam meses por uma cadeira de rodas a que têm direito por lei ou,

então, têm de recorrer à vergonha das tampinhas ou das festas caritativas de aldeia. São os cegos que desistem

da hipótese de ter um cão-guia porque não têm como o alimentar. São famílias em que alguém tem de deixar

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de trabalhar — quase sempre a mulher — para arcar com as responsabilidades que são do Estado e cuidar dos seus filhos com deficiência 24 horas por dia.

Falar de deficiência é falar de pessoas e de famílias, mas também falar das políticas que as afetam. E falar de políticas nesta área é constatarmos a necessidade de acabar com o assistencialismo e a institucionalização que tanto têm prejudicado a emancipação e a inclusão social das pessoas com deficiência. Estas políticas são, ainda hoje, herdeiras do contexto histórico e cultural de forte influência de uma moral judaico-cristã, com a consequente associação da caridade à deficiência, mais o monopólio, ao longo de séculos, das instituições religiosas no apoio aos indigentes, que se manteve nas várias reformas estatais ao nível da assistência pública.

É de recordar que o direito à assistência pública, reconhecido na Constituição de 1911, é retirado e substituído pela secundarização do papel do Estado na Constituição salazarista de 1933, em que o dever do Estado se reduzia à coordenação, estimulação e regulação das iniciativas sociais privadas. Assim, na ditadura, as políticas sociais estruturaram-se em redor de iniciativas privadas, nomeadamente de organizações de caridade dependentes da Igreja Católica.

O desenvolvimento do Estado-providência e o reconhecimento por parte do Estado da sua responsabilidade face às pessoas com deficiência far-se-á apenas após a queda do regime ditatorial em 1974. No entanto, esta responsabilidade tem sido delegada nas famílias e nas organizações não-governamentais prestadoras de serviços.

Embora tenha existido um claro avanço, quando comparamos com as décadas anteriores, não se conseguiu acabar com as barreiras que impedem a inclusão e a participação social das pessoas com deficiência e fomos incapazes de quebrar o ciclo vicioso existente entre deficiência, pobreza e exclusão social.

Chegamos a 2016 e sabemos que existem 173 000 pessoas com deficiência, titulares ou beneficiários de prestações sociais, que recebem, em média, menos de 180 € mensais, que, em 2001, a taxa de analfabetismo das pessoas com deficiência era de 37%, face aos 26,4% da população em geral, tendo a grande maioria unicamente o 1.º ciclo do ensino básico. A taxa de atividade das pessoas com 15 anos ou mais era, em 2011, de 22% face a 47,5% para a população portuguesa em geral.

No conjunto das empresas com 10 ou mais trabalhadores existe uma percentagem que não chega a 0,4 % de trabalhadores com 60% ou mais de incapacidades. No ano letivo de 2013/2014 havia 1318 estudantes com necessidades educativas especiais no ensino superior. Uma percentagem de 0,36% da população estudantil, neste nível de ensino.

Um estudo recente realizado em Portugal sobre os custos acrescidos para fazer face às barreiras de uma sociedade organizada de forma não inclusiva estimou que o custo de vida adicional para os agregados familiares com pessoas com deficiência se cifra entre os 5 100 € e os 26 300 € por ano. Esta é, em traços muito gerais, a situação das pessoas com deficiência. Esta é a realidade que temos de alterar.

Aplausos do BE, do PAN e de Deputados do PS.

Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.

as

e Srs. Deputados, para alterar esta situação há que fazer diferente do que tem sido feito até agora. Necessitamos de políticas que se baseiem numa visão diferente da deficiência. Políticas que reconheçam que o problema não está na diversidade humana, mas, sim, numa organização social profundamente «deficientizadora».

Não é a deficiência que nos impede de participar na vida em sociedade, mas, sim, a forma como a deficiência é socialmente construída. São as barreiras sociais, políticas, físicas e psicológicas criadas por esta sociedade que limitam e constrangem a nossa vida.

Se admitimos, e temos de admitir, que nós somos cidadãos e cidadãs de pleno direito, o que temos de fazer é acabar com todas as barreiras — ambientais, culturais e psicológicas — que nos impedem a realização pessoal, sejam estas barreiras, por exemplo, a institucionalização forçada, por falta de alternativas, ou mesmo a escola chamada inclusiva que frequentemente retira alunos da sala de aula e os segrega em unidades de apoio especializado.

A deficiência reside na sociedade e na forma como esta está organizada e não na pessoa.

Tem de ser este o ponto de partida de qualquer política que respeite os direitos das pessoas com deficiência

e é preciso que isto fique bem claro. Aliás, esta é a filosofia que suporta a Convenção dos Direitos das Pessoas

com Deficiência, que esta Assembleia aprovou e que está obrigada a cumprir.

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A saída da direita do Governo trouxe uma enorme esperança às pessoas com deficiência e às suas famílias.

O facto de haver uma Secretaria de Estado dedicada à inclusão das pessoas com deficiência, ainda por cima dirigida por uma pessoa cega, veio aumentar essa esperança, mas aumentou também a exigência.

Acreditamos que é possível, com esta configuração parlamentar, iniciar novas políticas que signifiquem uma mudança de paradigma. Para esta alteração é necessário assumir um compromisso sério com tudo o que está definido na Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência. É necessária uma estratégia que defina as ações, devidamente calendarizadas e orçamentadas, necessárias à implementação da referida Convenção.

Lembramos que o Comité dos Direitos das Pessoas com Deficiência, das Nações Unidas, nas observações finais sobre o relatório apresentado pelo Governo português, solicitou a apresentação, no prazo de 12 meses, de informação sobre as medidas que foram tomadas relativamente a uma nova estratégia nacional para a deficiência que esteja de acordo com os princípios estabelecidos na Convenção.

Isto foi a 16 de abril. Já passaram quase seis meses. Convinha que nos despachássemos.

Aplausos do BE, do PAN e de Deputados do PS.

O que não pode voltar a acontecer foi o que aconteceu no Governo anterior, que criou uma comissão que deveria ter apresentado até final de outubro de 2013 a estratégia nacional para a deficiência 2014/2020.

Passaram quatro anos e não temos estratégia nenhuma.

Desde já propomos que esta estratégia inclua a realização de planos para a inclusão em todos os ministérios que prevejam a revisão da legislação existente, assegurem a inclusão das pessoas com deficiência e satisfaçam as suas necessidades.

Mas, Srs. Membros do Governo, Sr.

as

e Srs. Deputados, enquanto esta estratégia não existe, há que avançar com medidas que são urgentes. As pessoas com deficiência e as suas famílias já esperaram demasiado tempo.

Quando discutimos aqui o Orçamento do Estado para este ano, o Sr. Ministro Vieira da Silva disse — e passo a citar: «Considero que os passos que foram dados nas políticas sociais no que toca às pessoas com deficiência são ainda insuficientes, é a área mais frágil do nosso sistema de proteção social.»

Continua a ser verdade. O Orçamento não lhes trouxe nenhuma melhoria de vida substancial, as pessoas com deficiência continuaram, em 2016, com prestações sociais que não chegam a atingir metade do limiar de risco de pobreza.

Mas o Sr. Ministro disse ainda mais: «Temos uma ambição simples: tornar possível que todas as pessoas com deficiência vivam acima da linha da pobreza.»

A pergunta que se impõe é esta: todas as pessoas com deficiência vão ter assegurado um rendimento digno a partir de janeiro de 2017? A prestação única vai mesmo assegurar que todas as pessoas com deficiência saiam da situação de pobreza extrema em que se encontram? Precisamos de respostas.

Outra questão fundamental para a emancipação das pessoas com deficiência e um contributo importante para se iniciar uma verdadeira política de desinstitucionalização é a implementação da vida independente.

O primeiro passo foi dado com a inscrição no Orçamento do Estado, por proposta do Bloco de Esquerda, do lançamento, ainda neste ano, de projetos-piloto de vida independente, que terão de corresponder a alguns princípios básicos: pagamentos diretos à pessoa com deficiência; direito de escolha da assistência pessoal pelo utilizador; e assegurar o número de horas de assistência pessoal necessárias a todas as atividades da vida diária.

O que queremos saber é se estes princípios serão assegurados e quando vão abrir as candidaturas para a implementação destes projetos. Queremos saber quando é que as pessoas com deficiência têm hipótese de mudar e de mandar nas suas próprias vidas.

Muito mais haveria a dizer, porque muito mais falta fazer.

O Sistema de Atribuição de Produtos de Apoio (SAPA) continua um calvário burocrático sem resposta em

tempo útil, onde ainda se continua a invocar a falta de verbas para recusar pedidos; a formação profissional

inclusiva é ainda uma miragem; a educação inclusiva, onde se deveriam estar a construir as bases de uma

verdadeira inclusão social, não está a cumprir essa função; a legislação sobre acessibilidade não está a ser

respeitada, por incúria e desleixo dos responsáveis, mas também por falta de recursos disponíveis para tal; o

acesso ao emprego é o que se sabe.

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Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr.

as

e Srs. Deputados: Estamos disponíveis para trabalhar na resolução de todas estas questões, mas com a convicção de que a deficiência não é uma questão médica, nem de caridade ou assistencialismo; é uma questão de direitos humanos e os direitos humanos não são regalias.

Não se cortam nem se discutem; cumprem-se!

Aplausos do BE, do PS e do PAN.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Peço aos Srs. Deputados que desejem formular perguntas, seja ao Sr.

Deputado que acabou de usar da palavra, seja ao Governo, que irá usar da palavra de seguida, o favor de se inscreverem até ao final da próxima intervenção. Essas perguntas serão dirigidas, em primeiro lugar, ao Sr.

Deputado Jorge Falcato e, em segundo lugar, ao Governo.

Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.

O Sr. Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (Vieira da Silva): — Sr. Presidente, Sr.

as

e Srs. Deputados: A plena inclusão social das pessoas com deficiência é não apenas um dos mais relevantes desafios civilizacionais contemporâneos como pode e deve constituir uma área de elevado consenso nacional.

Estas razões justificam plenamente a interpelação ao Governo feita pelo Bloco de Esquerda.

Tendo por base a realidade empírica e os estudos científicos, está provado que as pessoas com deficiência ou incapacidade encontram-se entre os grupos sociais mais excluídos em qualquer sociedade, mesmo nos países mais desenvolvidos.

Consciente da emergência e do desafio de fazer avançar as políticas de promoção dos direitos das pessoas com deficiência, o Governo decidiu, desde logo, integrar na sua composição um membro do Governo, uma Secretária de Estado, com a responsabilidade da inclusão das pessoas com deficiência.

Deste modo, assumimos como visão uma sociedade para todas e para todos, estando o Governo atualmente a trabalhar num pacote alargado, coerente e intersetorial de políticas públicas que promovam a igualdade de oportunidades das pessoas com deficiência ou incapacidade face ao conjunto dos cidadãos, com vista à sua plena inclusão na sociedade.

Mais do que uma mudança de princípio e de estilo, mudámos também o modo de atuar neste setor. Assim, iniciámos o trabalho com uma extensa ronda de auscultações às entidades representativas e prestadoras de serviços na área da deficiência com o intuito de compreender melhor os problemas e as necessidades mais prementes deste grupo. Esta forma de desenhar as políticas públicas, em conjunto com os seus destinatários, encontra-se em linha com o já célebre slogan «Nada sobre nós sem nós».

Neste sentido, foi já possível concretizar um conjunto de medidas direcionadas para a melhoria dos rendimentos das pessoas com deficiência e suas famílias, entre as quais se destacam o aumento de prestações sociais, tais como: o aumento de 3% da bonificação por deficiência, abrangendo mais de 80 000 pessoas e representando cerca de 1,8 milhões de euros; o aumento de 14,5% no subsídio por assistência de terceira pessoa, abrangendo mais de 13 000 utentes; o aumento do abono de família às crianças e jovens, que se repercute nesta área através da sua majoração; a reposição da proteção social em instrumentos como o rendimento de inserção social, que protege igualmente, com particular incidência, as pessoas com deficiência;

o aumento da dedução fiscal para famílias com descendentes e/ou ascendentes com deficiência para 1187 €, apoio que representou mais 2,6 milhões de euros, beneficiando 22 000 agregados familiares; os descontos para pessoas com deficiência nos transportes ferroviários, através da redução de 75% para a pessoa com deficiência e 25% para o acompanhante, estimando-se que esta medida vá beneficiar mais de 10 000 utentes.

No que respeita ao apoio do Estado às organizações e instituições sociais neste setor, o Governo enviou um sinal inequívoco através do acréscimo de aproximadamente um milhão de euros no apoio a projetos e ao funcionamento destas organizações financiadas pelo Instituto Nacional para a Reabilitação.

Por outro lado, aumentou-se a capacidade dos centros de atividades ocupacionais em mais de 500 lugares no último ano.

Foi, ainda, possível proceder ao reforço das verbas para a intervenção precoce, centros de apoio e

reabilitação para pessoas com deficiência, residências e residências autónomas e serviço de apoio domiciliário

para as pessoas com deficiência.

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No que se refere ao acesso a serviços e informação, foi criada a rede integrada de atendimento especializado, o Balcão da Inclusão. Este serviço de atendimento dedicado às pessoas com deficiência ou incapacidade, já em funcionamento em sete centros distritais da segurança social e no Instituto Nacional para a Reabilitação, prevê a sua extensão aos 18 centros distritais até ao fim do ano. Desde a sua criação, em abril deste ano, foram já atendidas mais de 2100 pessoas.

Ainda no que respeita à melhoria do acesso das pessoas com deficiência ou incapacidade nos mais variados contextos da sociedade, potenciando a sua participação plena, estabelecemos por lei a obrigatoriedade de prestar atendimento prioritário a estas pessoas em todas as entidades públicas e privadas.

O Governo entendeu aperfeiçoar e ajustar o regime do subsídio por frequência de estabelecimento de educação especial, de modo a garantir uma maior eficácia na proteção das crianças com deficiência que necessitam de apoios específicos para o seu desenvolvimento.

Também ao nível dos produtos de apoio, de 2015 para 2016, aumentámos o montante de financiamento em meio milhão de euros, bem como o catálogo de produtos elegíveis no âmbito do Sistema de Atribuição de Produtos de Apoio, no qual foram introduzidos mais 21 novos produtos.

Por último, criámos o mecanismo nacional de monitorização da Convenção Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da Organização das Nações Unidos, tendo sido nomeados todos os seus membros. Este mecanismo visa dar voz a representantes das pessoas com deficiência, académicos e outros atores relevantes na sociedade portuguesa, instituindo deste modo, aliás, como prevê a ONU, uma avaliação independente da aplicação da Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, em Portugal.

Para além das medidas de política já concretizadas, o Governo encontra-se a trabalhar num vasto pacote integrado de novas iniciativas nesta área.

No que respeita à melhoria da proteção social, condições de vida e ativação das pessoas com deficiência, gostaria de destacar alguns pontos.

Em primeiro lugar, a renovação da proteção social para a deficiência.

Esta reforma, que tem também por objetivo agregar as principais prestações pecuniárias dirigidas a esta população, inclui uma componente de base, inspirada num princípio de cidadania, componentes de compensação de encargos específicos e, principalmente, uma componente de combate à pobreza, visando a erradicação da pobreza nas pessoas com deficiência mas também a valorização da sua inserção no mercado de trabalho.

Em segundo lugar, destaco os modelos de apoio à vida independente. O Governo irá, muito brevemente, ainda este ano, criar e regulamentar um modelo inovador e abrangente de apoio à vida independente das pessoas com deficiência. Este modelo, de base comunitária, com recurso à figura da assistência pessoal para auxílio na execução das atividades da vida diária e participação social, permitirá promover a desinstitucionalização das pessoas com deficiência, potenciando a sua inclusão na comunidade.

Ainda no que respeita à proteção social e ao aumento de rendimentos, estamos a trabalhar para que as pessoas com deficiência com rendimentos de trabalho tenham direito a um maior abatimento fiscal como forma de incentivar a sua participação laboral.

Com o intuito de valorizar e reconhecer o papel dos cuidados informais, foi constituído um grupo de trabalho para a definição do estatuto do cuidador informal que abrange, também, a figura do cuidador de pessoas com deficiência ou incapacidade.

No plano da promoção da cidadania, o Governo irá proceder à alteração do Código Civil com vista à capacitação legal das pessoas com deficiência ou incapacidade, de acordo com as recomendações do comité de peritos da Organização das Nações Unidas.

Por outro lado, estamos a preparar o acesso das pessoas surdas ao número de emergência 112, situação que importa resolver com urgência, em face da manifesta iniquidade na proteção desses cidadãos em caso de emergência.

Estamos, ainda, a rever a legislação em matéria de estacionamento na via pública, o que irá conferir o direito de estacionar em localizações mais adequadas à sua situação a um maior número de pessoas.

No sentido de potenciar a participação da sociedade civil na conceção e avaliação das políticas públicas

neste setor, o Governo está a ultimar a criação de um conselho consultivo para a deficiência.

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As referidas medidas enquadram-se no âmbito de uma estratégia mais vasta, que denominámos agenda para a inclusão das pessoas com deficiência e que irá, brevemente, substituir a Estratégia Nacional para a Deficiência, que findou em 2013.

Com este impulso reformador, esperamos contribuir para a melhoria da qualidade de vida, para a promoção de uma vida autónoma e para a efetivação dos direitos e participação plena destas pessoas na sociedade e em particular nas suas comunidades de pertença.

É esta a nossa visão, é este o nosso objetivo: trabalhar com todos para uma sociedade que integre a diferença e que valorize a diferença para poder ser mais igual.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Srs. Deputados, passamos à fase de debate, começando pelas perguntas que serão dirigidas ao Sr. Deputado Jorge Falcato, para o que se inscreveram três Srs. Deputados.

Entretanto, o Sr. Deputado Jorge Falcato informou a Mesa de que deseja responder em conjunto.

Assim sendo, para fazer perguntas, tem a palavra a Sr.ª Deputada Diana Ferreira.

A Sr.ª Diana Ferreira (PCP): — Sr. Presidente, desde já, gostaria de começar por saudar o Bloco de Esquerda pelo tema que traz hoje aqui a debate, pela reflexão que nos convoca a fazer sobre esta matéria, saudando também todas as pessoas que estão presentes a assistir a este debate e saudando as organizações das pessoas com deficiência pelas ações e pelas lutas que têm desenvolvido na defesa dos direitos das pessoas com deficiência.

Aplausos do PCP.

O Sr. Deputado Jorge Falcato interveio sobre as questões da vida independente, sendo esta uma matéria que o Bloco de Esquerda tem trazido para a discussão.

Também o PCP tem intervindo sobre essa matéria. Aliás, apresentou uma iniciativa legislativa nesta Casa

— que, infelizmente, foi rejeitada pela maioria PSD/CDS na anterior Legislatura — em que propúnhamos exatamente a criação de um projeto-piloto para um regime de apoio à vida independente em articulação e com o envolvimento das organizações das pessoas com deficiência para que fossem definidos os objetivos, os critérios, os tipos de resposta, a quantidade de apoios, a natureza dos apoios e os procedimentos e até a possibilidade de existência de uma futura prestação social de apoio à vida independente para as pessoas com deficiência agravada e com reduzida autonomia.

Propúnhamos também nessa iniciativa a criação de um serviço-piloto de assistentes pessoais, com formação em várias áreas, designadamente assistência pessoal para cuidados de higiene e cuidados pessoais, de serviços domésticos, de serviços sociais, designadamente no que se refere ao apoio ao emprego, no acesso a equipamentos de desporto, de cultura, de lazer e no desenvolvimento da vida social, aliviando, assim, a pressão que existe sobre os membros da família, tal como o Sr. Deputado referiu da tribuna, e sobre outros prestadores de cuidados informais que, muitas vezes, tendo de prestar apoio aos familiares com deficiência, ficam impossibilitados de desenvolver uma atividade profissional.

Fizemo-lo porque, no nosso País, o direito a uma vida autónoma, a uma vida digna e independente é negado a milhares de pessoas com deficiência e porque entendemos que a construção de uma sociedade que garanta a inclusão social e a integração exige medidas concretas que permitam às pessoas com deficiência viver com dignidade nas suas próprias habitações e participarem na vida das suas comunidades, junto da sua família, junto dos seus amigos, promovendo a sua autonomia e independência e, desta forma, permitindo que muitas pessoas com deficiência possam trabalhar sem recorrer ao auxílio da família e que outras consigam aceder ao emprego, que consideramos um aspeto central para a dignidade do ser humano.

Sr. Deputado, falou-se sobre programas e projetos-piloto para a vida independente, mas importa também

saber a opinião do Bloco de Esquerda sobre quais os passos que têm de ser dados para que os projetos-piloto

passem a ser uma realidade na vida de todos os dias das pessoas com deficiência. É isso que se pretende de

um projeto piloto, isto é, que, partindo de uma experiência, se alargue e se torne uma realidade decente na vida

destas pessoas, aliás, um direito inalienável.

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Aplausos do PCP e do BE.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Também para um pedido de esclarecimento, tem a palavra o Sr.

Deputado António Carlos Monteiro.

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr. Deputado Jorge Falcato, começo por saudá-lo por ter trazido à Assembleia este debate, que é um debate importante e que fazemos sem preconceitos, em especial sem preconceitos ideológicos.

Fazemos também este debate com muito respeito. Como nós sabemos, há quem tenha nascido com deficiência, mas qualquer um de nós pode ver-se na situação de passar a ser portador de uma deficiência.

Sr. Deputado Jorge Falcato, fez bem em interpelar o seu Governo. Lembro bem: é o seu Governo, e já passou um ano.

Vozes do CDS-PP: — Bem lembrado!

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Vamos aos factos: Sr. Deputado, como é que se explica que se o Governo que o Sr. Deputado apoia, que disse que ia virar a página da austeridade, tenha feito até agora menos em ação social do que o Governo PSD/CDS fez em 2015? A execução dos números de agosto demonstram-no: em ação social, foi menos 1,7%. E já não estou a falar dos valores que este Governo se comprometeu a aumentar, estou simplesmente a comparar estes dois valores.

Quanto às medidas de apoio à vida independente, que estavam inseridas no Portugal 2020, no Programa Operacional Inclusão Social e Emprego, há verba disponível da União Europeia — o regulamento foi preparado pelo Governo PSD/CDS e foi aprovado pela União Europeia. Passou um ano. Como explica o Sr. Deputado que a abertura de candidaturas esteja a ser sucessivamente adiada? Como é que se explica que esteja parado?

Não é uma matéria prioritária?

Se queremos ter um debate sério, pergunto-lhe, com toda a franqueza, como é que, em conjunto com o PS e com o PCP, já neste mandato, o Bloco de Esquerda votou contra as propostas do CDS de criação de um plano de garantia para crianças e jovens com deficiência, no fundo, um seguro constituído com o aforro dos pais e familiares?!

Vozes do CDS-PP: — Bem lembrado!

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Foi preconceito? Explique por que é que também votou contra a proposta do CDS, que pretendia que os portadores com deficiência profunda continuassem a receber os cuidados que necessitam após a morte dos pais, através da instituição de legados de alimentos ou de pensão vitalícia.

E, já agora, por que é votou contra a iniciativa do CDS de aumentar a bonificação por deficiência no abono de família?

Foi apenas por terem sido propostas do CDS? Acha o Sr. Deputado que o tema da deficiência deve ser refém dos preconceitos ideológicos?

Sr. Deputado, percebo que esteja desiludido com o seu Governo — sublinho, com o seu Governo! Tem boas razões para isso, mas é o seu Governo.

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Ainda para um pedido de esclarecimento, tem a palavra o Sr. Deputado Rui Riso.

O Sr. Rui Riso (PS): — Sr. Presidente, Sr.

as

e Srs. Deputados, antes de colocar a minha questão ao Sr.

Deputado Jorge Falcato, gostaria de fazer apenas duas referências.

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A primeira refere-se à forma como este Governo encarou, sublinhou e entendeu dar relevo e apoiar os jogos paraolímpicos, à semelhança daquilo que se fazia com os jogos olímpicos,…

Aplausos do PS.

… manifestando e revelando que mesmo o que é diferente trata como igual.

Gostaria ainda de assinalar que hoje é o Dia Internacional do Trabalho Decente. Todas as organizações internacionais e nacionais têm um dia de efeméride sobre o trabalho decente e exatamente por causa disso tem todo o cabimento dar decência ao trabalho do deficiente, reconhecer o seu valor efetivo e não olhar apenas para o trabalho do deficiente como um trabalho subsidiado permanentemente muitas vezes para além do seu próprio valor e daquilo que gera como compensação ao empregador por ter um empregado deficiente.

Quer queiramos quer não, este excesso de subsidiação desvalorizará sempre o trabalho desse trabalhador, pelo que há que reconhecer perante toda a sociedade — e toda a sociedade o deve fazer — a decência do trabalho e aquilo que esse trabalho acrescenta à sociedade, ao empregador e à economia. Acho que também esse trabalho deve ser sublinhado, particularmente hoje, no Dia Internacional do Trabalho Decente.

Aplausos do PS.

Sr. Deputado Jorge Falcato, se me permite, vou dividir em duas a questão que tenho para lhe colocar.

A primeira é a de saber de que forma enquadra o problema que temos, na sociedade portuguesa, da deficiência proveniente do desempenho das Forças Armadas durante os acontecimentos ocorridos na nossa história e que, obviamente, tem de ter também um cabimento especial dadas as circunstâncias em que a deficiência foi adquirida.

Em segundo lugar, gostaria de colocar uma pergunta mais objetiva relativamente a uma matéria da área da saúde. Sei que se trata de uma área da responsabilidade do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, mas teria sempre de haver, também, um cruzamento com o Ministério da Saúde. Refiro-me concretamente à necessidade, que me parece absoluta, de que a referenciação dos doentes urgentes ou mesmo a sua assistência normal seja determinada não por concelhos ou por qualquer outra divisão administrativa, mas pela rapidez com que se chega ao estabelecimento de saúde.

Gostaria de perguntar ao Sr. Deputado se veria com bons olhos que se fizesse um projeto-piloto a iniciar com este tipo de doentes, que têm necessidades mais prementes de acesso à saúde do que a generalidade da população, e que essa referenciação pudesse ser feita pelo critério do tempo mais curto entre a residência do doente e o estabelecimento de saúde e não em termos de divisão administrativa.

Se este fosse um projeto- piloto para este universo, para estes cidadãos, poderia estender-se, se calhar, a todos os cidadãos, aproveitando, sobretudo, critérios como os da distância/tempo, da maior rapidez, da maior ação na proteção da saúde, da maior facilidade, e até os critérios da redução dos custos no transporte do doente.

Gostaria de saber se veria isto com bons olhos, sendo certo que este projeto, em certa medida, cria uma distância maior entre o estabelecimento habitual onde o doente está referenciado para enveredar por uma outra divisão administrativa. Portanto, pergunto se a diferenciação para estes doentes num projeto piloto seria bem acolhida ou não.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para responder, tem a palavra o Sr. Deputado Jorge Falcato.

O Sr. Jorge Falcato Simões (BE): — Sr. Presidente, Srs. Deputados, irei responder pela ordem das perguntas que me foram feitas.

Sr.ª Deputada Diana Ferreira, tem toda a razão, há uma preocupação que é real, ou seja, a partir do momento

em que temos projetos-piloto, é necessário começar a pensar na legislação que vai generalizar a vida

independente a todos os cidadãos que dela precisam. A minha ideia, e penso que será razoável, é a de que, em

projetos-piloto que têm a duração de três anos, ao fim de dois anos se faça uma avaliação intercalar que já

permita fazer a redação da futura legislação, de maneira a que não haja um tempo sem que as pessoas com

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deficiência possam, no fundo, aceder à prestação de cuidados de assistência por assistentes pessoais, porque, se não, estamos a lançar projetos-piloto e a criar uma expectativa nas pessoas com deficiência que, ao fim de três anos, acaba e as pessoas ficam «penduradas», sem uma solução.

Sr. Deputado António Monteiro, devo dizer-lhe que a deficiência não implica uma «caridadezinha».

A Sr.ª Joana Barata Lopes (PSD): — É sempre a mesma conversa!

O Sr. Jorge Falcato Simões (BE): — Se a direita tem uma maneira de encarar a deficiência com caridade, devo dizer que eu tenho, sobre a deficiência, uma visão de direitos humanos, de cidadania, de participação dessas pessoas, e isto é ideologia.

Em relação àquilo que suscitou, de que, por exemplo, na vida independente, este Governo atrasou tudo, devo dizer que, por acaso,…

A Sr.ª Joana Barata Lopes (PSD): — Foi o Sr. Deputado que o disse, na tribuna!

O Sr. Jorge Falcato Simões (BE): — Posso falar, Sr.ª Deputada?

Como eu estava a dizer, por acaso, com o Movimento dos Deficientes Indignados, estive aqui, à porta desta Assembleia, a lutar pela vida independente. Mas também fomos recebidos pelo Secretário de Estado Agostinho Branquinho, que nos prometeu, em 2014, aliás ainda no final de 2013,…

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — Bem lembrado!

O Sr. Jorge Falcato Simões (BE): — … que no início de 2014 ia começar a redação de uma legislação de vida independente. Este acordo foi selado com um aperto de mão entre pessoas que, em princípio, deveriam cumprir as suas promessas, mas, depois desta promessa, em reuniões posteriores do Movimento dos Deficientes Indignados exatamente com a equipa do Sr. Secretário de Estado Agostinho Branquinho, desdisseram todas as promessas que tinham feito, tudo o que tinham acordado, e deixaram cair a questão da vida independente.

O Sr. Jorge Duarte Costa (BE): — Muito bem!

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Não é verdade!

O Sr. Jorge Falcato Simões (BE): — É só o que tenho a dizer! Há aqui, realmente, ideologias e também há uma coisa que importa: pessoas de bem, quando acordam coisas, não voltam atrás.

Aplausos do BE.

Aliás, a Sr.ª Deputada do PCP Diana Ferreira lembrou muito bem que o CDS e o PSD votaram aqui contra a vida independente, ao chumbarem as propostas do PCP e do Bloco de Esquerda exatamente para implementar a vida independente.

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — E por que é que votou contra as propostas do CDS-PP?!

A Sr.ª Joana Barata Lopes (PSD): — Estava à espera deste Governo!

O Sr. Jorge Falcato Simões (BE): — Aquilo que lamento é a demora na solução das questões relativas às pessoas com deficiência e os quatro anos perdidos durante o mandato do seu Governo.

Aplausos do BE.

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Quanto à pergunta do Sr. Deputado do PS Rui Riso, acho que tem toda a razoabilidade que a pessoa seja atendida no mais curto espaço de tempo e que, realmente, os cuidados de saúde sejam prestados no mais curto espaço de tempo. Neste momento, parece-me que até já é possível a pessoa recorrer a um hospital que não o da sua área de residência.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Srs. Deputados, vamos passar à fase das perguntas dirigidas ao Sr.

Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, para o que estão inscritos sete Srs. Deputados.

A Mesa foi entretanto informada que o Sr. Ministro responderá em dois blocos, pelo que se fará um primeiro bloco com perguntas de quatro Srs. Deputados e um segundo com perguntas dos restantes.

Volto a lembrar que os tempos utilizados tanto por quem pergunta como por quem responde descontam nos tempos disponíveis de cada bancada, que fará deles a gestão que melhor entender.

Assim, para formular perguntas, tem a palavra, em primeiro lugar, a Sr.ª Deputada Joana Mortágua, do Bloco de Esquerda.

A Sr.ª Joana Mortágua (BE): — Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Sr. Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, a questão da inclusão ou falta de inclusão começa na escola e, por isso, quanto mais precoce for a intervenção mais hipóteses temos de ter cidadãos com deficiência perfeitamente incluídos, que se sintam incluídos e tenham condições de inclusão ao longo da vida.

Ainda não temos uma escola completamente inclusiva e, nas barreiras para uma escola inclusiva, temos dois tipos de problemas, a que chamaria problemas de hardware e de software.

Temos problemas de hardware, quando temos turmas que têm regras, regras que promovem a inclusão dos alunos com necessidades educativas especiais, e bem, regras que nos dizem que as turmas devem ser reduzidas para que os alunos possam passar 60% do seu tempo em aula e em contexto de aula — isso é bom!

—, mas as escolas não têm recursos, não têm professores, não têm número de turmas suficiente para cumprir estas regras. Por isso temos hoje muitas escolas que não têm turmas reduzidas, ou seja, têm mais de 20 alunos, têm 22, 23 e 24 alunos, e mais do que os dois alunos com necessidades educativas especiais que estão previstos na lei. Isto é um problema! Isto significa que as regras que foram previstas para promover a inclusão não estão a ser cumpridas por falta de recursos.

Ao mesmo tempo, temos uma escolaridade obrigatória que avançou para o 12.º ano, mas temos escolas secundárias que não estão preparadas para acompanhar estes alunos depois do ensino básico. As escolas do ensino básico fizeram um percurso, as escolas do ensino secundário ainda não estão preparadas: ainda não têm centros de recursos, ainda não têm uma cultura de inclusão perfeitamente instalada nem recursos para promover essa inclusão. São, pois, duas preocupações que gostaria de colocar: as turmas e o número de alunos por turma e as escolas secundárias e os seus recursos.

O Bloco de Esquerda, a este nível, vai ainda propor — e gostaria de saber a opinião do Governo sobre isto

— que se crie um grupo de recrutamento para os professores de língua gestual portuguesa, que, neste momento, estão a ser contratados como formadores. Se nós queremos inclusão a sério, também temos de ter inclusão dos profissionais nas escolas que promovem a inclusão dos alunos.

Mas, como referi há pouco, temos ainda um problema de software. E o problema de software que gira à volta, digamos assim, do Decreto-Lei n.º 3/2008, o qual está a ser revisto pelo Governo, tem a ver com percursos alternativos que são criados e que acabam por se transformar em guetos. Os alunos com necessidades educativas especiais são empurrados para percursos alternativos que, depois, não lhes dão qualquer tipo de saída, seja ela académica, seja profissional.

O Prof. David Rodrigues, que é um especialista muito conhecido nesta área, tem-nos dito que há cada vez

mais alunos que são diferentes do padrão para o qual os programas, os currículos e as metas curriculares são

feitos. O que é que isto quer dizer? Isto quer dizer que o sistema educativo tem vindo a modelar-se de forma

cada vez menos inclusiva não só para os alunos com necessidades educativas especiais, mas para qualquer

aluno que seja diferente do padrão. Os exames, as metas, os currículos criaram um sistema educativo cada vez

mais seletivo para qualquer aluno que tenha uma diferença e não necessariamente uma necessidade educativa

especial, com os seus exames e os seus rankings.

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Portanto, também queríamos saber como é que está a revisão do Decreto-Lei n.º 3/2008 e como é que os currículos se vão tornar mais inclusivos para estes alunos, e não só, para todos os alunos, numa escola mais inclusiva.

Aplausos do BE.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para formular perguntas, tem a palavra o Sr. Deputado Filipe Anacoreta Correia, do CDS-PP.

O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — Sr. Presidente, Sr.

as

e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr. Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, na verdade, esta é uma matéria da maior importância que afeta muitos cidadãos, muitas famílias e, naturalmente, também nos mobiliza, não com uma preocupação ideológica, como aqui vimos, pois até questões como estas, que dizem respeito, fundamentalmente, à dignidade das pessoas, conseguem ser transformadas em arma de arremesso ideológico.

Não é essa a nossa posição de maneira nenhuma, e esperamos que também não seja a posição do Governo.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — Mas sobre esta matéria, Sr. Ministro, a verdade é que vimos o Governo anunciar, em fevereiro deste ano — e parece já um tempo tão longínquo —, que definiria uma estratégia, envolvendo os diferentes atores, no cumprimento das quotas para pessoas com deficiência no setor público e privado — era a chamada «nova estratégia nacional para a deficiência ou incapacidade» — e também ouvimos a Sr.ª Secretária de Estado da Inclusão das Pessoas com Deficiência afirmar, em março de 2016,

«estamos empenhadamente a trabalhar para a criação, ainda durante o primeiro semestre de 2016, de uma prestação social única na área da deficiência, que possa combater a pobreza e combater a exclusão social».

Pois bem, longe vai março, já passou o primeiro semestre, já passou o terceiro trimestre, e nada! E ouvimos aqui o Sr. Ministro remeter para brevemente a concretização destas promessas. Parece até que, então, já nem se compromete com o Orçamento para 2017.

O Sr. Nuno Magalhães (CDS-PP): — Bem lembrado!

O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — Cá estaremos para conhecer essas propostas, com grande expectativa, mas percebemos, sobretudo, uma coisa essencial: o Governo é rápido nas promessas, é rápido na propaganda, mas é muito lento a executar essa mesma propaganda e essas mesmas promessas. Por outro lado, foi muito rápido a tomar medidas, mesmo em época balnear — tal era o afinco! —, para acabar com a discriminação positiva de cidadãos com deficiência no âmbito do imposto único de circulação.

O Sr. António Carlos Monteiro (CDS-PP): — Bem lembrado!

O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — As alterações introduzidas nessa matéria vieram tornar as isenções para cidadãos com deficiência dependentes do montante de 200 € e do nível de emissão de CO

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. Ou seja, o que é que acontece a um cidadão com deficiência que não esteja em condições de comprar um carro novo? Passa a pagar o IUC (imposto único de circulação). Onde está a sensibilidade social desta medida, Sr.

Ministro? Por que razão foi implementada mesmo em época de férias? Que próximas medidas fiscais para onerar os cidadãos com deficiência?

Finalmente, Sr. Ministro, duas perguntas: quando é que teremos a nova estratégia nacional para a deficiência ou incapacidade? E quando é que será apresentada ou implementada a prestação social única, já avançada?

Aplausos do CDS-PP.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Também para formular perguntas, tem a palavra a Sr.ª Deputada Júlia

Rodrigues, do PS.

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A Sr.ª Júlia Rodrigues (PS): — Sr. Presidente, Sr.

as

e Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Sr.

Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, antes de mais, saúdo o Bloco de Esquerda por trazer aqui este tema, sobre políticas para a deficiência, um tema que nos toca a todos de forma especial.

Permitam-me que fale da rede nacional de balcões da inclusão. Desde o passado mês de abril, estes balcões prestam um serviço de atendimento especializado a pessoas com deficiência ou incapacidade e seus familiares.

O projeto-piloto iniciou-se com sete balcões, um pouco por todo o País, nos centros distritais de segurança social de Lisboa, Faro, Setúbal, Porto, Viseu e Vila Real. O objetivo é ter, pelo menos, um balcão da inclusão em cada distrito.

Foi garantida, pelo Instituto Nacional para a Reabilitação, a formação específica neste atendimento especializado, de forma a informar sobre questões prioritárias, como prestações sociais, respostas sociais, emprego, apoio às entidades empregadoras, formação profissional, benefícios fiscais, acessibilidades, transportes, intervenção precoce, educação, entre outras.

O modelo está a ser implementado e inclui a possibilidade de estabelecer protocolos com serviços de atendimento municipais, promovendo, por isso, a proximidade das respostas de atendimento com as necessidades locais existentes.

Sr. Presidente, Sr. Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, no interior do País, em particular no distrito de Bragança, a realidade da inclusão de pessoas com deficiência tem constrangimentos distintos dos do litoral e dos grandes centros urbanos. Também no interior do País, a iniciativa dos balcões da inclusão foi fortemente reconhecida pela capacidade de informar, apoiar e resolver os problemas das pessoas com deficiência.

Contudo, a dispersão territorial, aliada a uma rede de transportes deficitária e onerosa para as instituições que acolhem pessoas com deficiência, deixa poucas alternativas às famílias.

As respostas sociais concentram-se na sede do distrito, em freguesias mais distantes de concelhos mais afastados. A solução passará, inevitavelmente, por lares residenciais distantes de família e amigos, uma vez que os centros de atividades ocupacionais existentes não conseguem suportar os custos das deslocações diárias.

É por isso oportuno questionar o Governo. Qual é o ponto de situação da implementação da rede nacional de balcões de inclusão? Quantos balcões e qual o calendário de abertura? Como tem sido a procura de pessoas com deficiência e seus familiares em balcões da inclusão já abertos? Por último, e recorrendo à prioridade política deste Governo na valorização do interior do País, como está a ser desenvolvida aí a estratégia de inclusão de pessoas com deficiência?

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para formular perguntas, tem a palavra a Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, de Os Verdes.

A Sr.ª Heloísa Apolónia (Os Verdes): — Sr. Presidente, Sr. Ministro, Sr.ª e Srs. Secretários de Estado, Sr.

as

e Srs. Deputados, queria, em nome do Grupo Parlamentar de Os Verdes, começar por cumprimentar o Bloco de Esquerda pelo facto de ter trazido este tema a esta interpelação, bem como todas as pessoas que tiveram interesse em vir assistir a esta discussão e que são verdadeiras interessadas na matéria.

Pego justamente nesta expressão, «verdadeiras interessadas na matéria» que aqui se está a discutir, para dizer o seguinte: este não é certamente ou, pelo menos, não é assim que Os Verdes o veem, um debate para pessoas com deficiência. Este é um debate para toda a sociedade e toda a sociedade tem de ser definitivamente convocada a discutir e a encontrar soluções para esta matéria, porque enquanto nos detivermos no «nós e eles»

vamos pelo caminho errado, porque todos devemos ser convocados a pensar, a sentir e a encontrar soluções.

Este é o primeiro ponto.

Isto para dizer o quê? Para dizer que, enquanto um jovem altamente qualificado, que anda à procura de

emprego, percorrer todos os passos do processo, sendo o melhor, e quando é visualizado pela entidade que,

eventualmente, o vai selecionar para o lugar é preterido porque se deteta que tem uma deficiência visual, isto

está tudo mal! Enquanto nos nossos museus não houver informação em braille ou acompanhamento em língua

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gestual, isto está tudo mal! Enquanto estas soluções encontradas forem um caso pontual e não estiverem generalizadas, está tudo mal! Continuamos no «nós e eles»! E não! Somos todos «nós»!

A nossa segunda ideia é a seguinte: o direito à vida independente está consagrado na Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, como aqui já foi referido, mas até podia nem estar, porque não deixa de ser um direito evidente para todas as pessoas. Quando falamos do direito a uma vida independente, evidentemente, temos de falar também dos rendimentos das pessoas com deficiência que, como sabemos — e isso é também fator de discriminação —, têm índices de pobreza que são absolutamente consideráveis.

É evidente que a matéria dos rendimentos e dos apoios sociais tem de ser considerada numa perspetiva muito realista e com o objetivo de garantir justamente uma vida independente.

Mas, quando falamos da garantia de uma vida independente, falamos também, ainda na base do «nós e eles», daquilo que todos encontramos na nossa sociedade e nas nossas ruas.

Queria deter-me numa matéria relativamente à qual gostaria de fazer uma pergunta ao Sr. Ministro, ue se prende com as barreiras arquitetónicas.

Sr.

as

e Srs. Deputados, quantas vezes discutimos a matéria das barreiras arquitetónicas neste Plenário, nas comissões e noutras sedes? Quantas? Gostava de saber se, desde o Decreto-Lei n.º 163/2006, foram dados passos assim tão significativos para a eliminação das barreiras arquitetónicas, designadamente nos nossos edifícios públicos?

Como é que é possível que tenhamos ainda tribunais e centros de saúde onde determinadas pessoas com dificuldade de mobilidade têm impedimento de acessibilidade? Não pode ser!

Quando não olhamos para estas coisas mais básicas que não têm soluções e que, por acaso, até tinham um tempo definido na lei que não foi cumprido, não estamos a dar respostas. E temos de, com celeridade, dar respostas.

Depois, vamos sempre à mesma questão: custa dinheiro? Custa! Mas, caramba, o que é que queremos garantir? O dinheiro serve para isso mesmo, para servir as pessoas, e ou entendemos que as coisas são prioritárias ou não!

Enquanto há pessoas de cadeira de rodas que ainda são levadas ao colo por outras pessoas para chegar a um tribunal, isto está tudo mal!

Quando houver pessoas que não conseguem subir a escadaria altamente estreita de um centro de saúde, cujo elevador, quando existe, está permanentemente avariado, isto está tudo mal!

Portanto, Sr. Ministro, aquilo que gostava de perguntar é o seguinte: há, pelo menos, algum levantamento dos edifícios públicos que ainda têm aquelas barreiras arquitetónicas inqualificáveis para que se possa projetar um plano de intervenção para a sua eliminação? É que, se nem o levantamento está feito…

Os Verdes já apresentaram aqui propostas, noutras Legislaturas, para que esse levantamento fosse feito! E fá-lo-emos outra vez, mas gostava de saber se esse levantamento está feito ou não.

Aplausos de Os Verdes e do PCP.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para responder, tem a palavra o Sr. Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.

O Sr. Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social: — Sr. Presidente, Sr.

as

e Srs. Deputados, começo por dizer à Sr.ª Deputada Joana Mortágua que, como compreenderá, no final das minhas respostas, darei a palavra ao Sr. Secretário de Estado da Educação para responder às questões que ocupam principalmente essa área.

Sr. Deputado Anacoreta Correia, procurei que a minha intervenção fosse essencialmente positiva. Eu disse que procurava identificar os eixos, os pontos, os objetivos que, julgo, podem contribuir para um consenso nacional em torno desta área de política.

Não fiz, nos 10 minutos a que tive direito para a minha intervenção, uma apreciação — que poderia ter feito

— àquela que foi a governação dos partidos que V. Ex.ª apoiou nos últimos quatro anos. Não o fiz. Identifiquei

12 áreas onde este Governo, nestes meses de atuação — sublinho, 12 áreas —, produziu alterações com

reflexos concretos na vida das pessoas, em termos de respostas sociais, de situações de natureza fiscal, de

atendimento. Foram 12 áreas com respostas concretas.

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Creio que é muito mais do que o que os senhores poderiam listar nos quatro anos da vossa governação, e sobre isso digo tudo.

Aplausos do PS e de Os Verdes.

Sr. Deputado, também gostaria de dizer que quanto às isenções relativas ao imposto automóvel, o Governo já disse que o seu objetivo é apenas o da justiça e o da equidade.

Se existir alguma alteração que seja necessário fazer à legislação em vigor para garantir que todas as pessoas com deficiência tenham acesso privilegiado a este tipo de isenção, o Governo e os partidos que o apoiam não deixarão de a concretizar.

Também gostaria de dizer, Sr. Deputado, relativamente à prestação única ou à renovação da proteção social de que o Sr. Secretário de Estado falará daqui a pouco, que o compromisso do Governo é o de apresentar, até ao final deste ano, as propostas e as iniciativas legislativas que irão renovar, reformar a proteção social para as pessoas com deficiência.

Já agora, porque foi referido — e o Sr. Secretário de Estado irá falar sobre isso —, gostava de dizer que o Governo anterior inscreveu nos fundos comunitários o MAVI (Modelos de Apoio à Vida Independente), é verdade, mas não fez mais do que isso. Inscreveu, mas o que escreveu sobre o assunto aproxima-se do zero.

Há 10 ou 12 perguntas sobre esse tema, que podia listar, e que não estavam respondidas, mas estão a ser construídas as respostas para que, ainda neste ano, se possa aprovar a legislação que venha permitir os projetos-piloto nesta área.

Aplausos do PS.

O Sr. Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP): — Já passou um ano, Sr. Ministro!

O Sr. Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social: — Sr.ª Deputada Heloísa Apolónia, estou de acordo consigo.

Como sabe, há um papel fundamental das autarquias locais que têm o essencial da responsabilidade nas respostas relativamente às barreiras arquitetónicas. Em muitas dessas autarquias existe a identificação dessas barreiras, mas também reconheço que a fiscalização, que, aliás, é da responsabilidade do INR (Instituto Nacional para a Reabilitação), é, talvez, insuficiente.

Como disse, e muito bem, talvez a dedicação de fundos estruturais especificamente direcionados para essa preocupação possa ser uma resposta que não foi encontrada até agora.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Tal como o Sr. Ministro referiu, o Sr. Secretário de Estado da Educação, João Costa, a quem dou a palavra, responderá a uma parte das questões colocadas.

O Sr. Secretário de Estado da Educação (João Costa): — Sr. Presidente, Sr.

as

e Srs. Deputados, dirigindo- me, em particular, à Sr.ª Deputada Joana Mortágua e retomando algumas das palavras do Sr. Deputado Jorge Falcato, ditas na intervenção inicial, de facto, compete à escola que se quer inclusiva garantir cidadania de pleno direito a todos os alunos que lá estão, independentemente de qualquer tipo de condição. Temos dados que mostram que a escola ainda não está a cumprir essa missão.

Aquilo que nos interessa é, como disse, saber o que estamos a fazer para construir uma escola mais inclusiva ou uma escola verdadeiramente inclusiva, depois de vários anos em que se trabalhou para uma escola assente em caminhos de segregação e de elitização, que seriam a negação de toda a perspetiva inclusiva.

Temos, como referiu, como olhar sobre este assunto, o olhar central, que é o do software. Neste, temos de

pensar e perceber que não é possível, não é viável, por muito que façamos, por muitos recursos que tenhamos

na escola, ter uma escola inclusiva, se temos um currículo que não o é. Ou seja, enquanto o currículo não

permitir que todos os alunos tenham pleno lugar na sala de aula, enquanto o currículo for reservado para uma

elite — e aqui retomo também as palavras do Prof. David Rodrigues sobre esta matéria —, enquanto não

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trabalharmos o currículo, não estamos a garantir que esta escola forma cidadãos que não olham para o seu colega com deficiência como um corpo estranho na sala de aula, mas como alguém que está lá porque tem de estar como ele está e que não é deficiente, é diferente, como dizia o Sr. Deputado Jorge Falcato, na intervenção inicial.

Por isso, estamos a operacionalizar uma gestão do currículo que tem esta vertente como uma das principais, ou seja, ser um currículo que pode ser gerido de forma flexível e que permite verdadeiramente diferenciação pedagógica. Estamos, ao longo deste ano, e também a propósito do trabalho que está a ser feito em relação à alteração do Decreto-Lei n.º 3/2008, a prever acabar com estes percursos que não conferem certificação nenhuma e que, muitas vezes, as famílias só no final do percurso é que descobrem isso mesmo. Queremos acabar com este enganar de várias famílias em que tropeçamos todos os dias. Estamos a preparar, ao longo deste ano, formação para os assistentes operacionais na área das necessidades educativas especiais.

Relativamente às turmas, aumentámos em cerca de 400 as turmas reduzidas neste ano. Temos ainda, como referiu, turmas que não estão reduzidas, mas não temos nenhuma turma ilegal, no sentido em que todas as turmas que não cumprem o que está previsto careceram de acompanhamento e aprovação pelos respetivos conselhos pedagógicos.

Estamos a acompanhar todos os casos de alunos em situações irregulares que nos vão sendo reportados.

E isto importa vincar: há, de facto, um problema de software e há escolas que ainda não estão de braços abertos para receber estes alunos. Tem sido feito um acompanhamento destes casos, destas escolas, para garantir que isto deixa de acontecer.

Isso passará também por uma revisão dos procedimentos de avaliação externa das escolas, porque não podemos querer que as escolas incluam e paralelamente excluir a inclusão das regras de avaliação externa das escolas. Portanto, este terá de ser um fator de ponderação neste tipo de avaliação das escolas.

Finalmente, acatámos a recomendação da Comissão de Acompanhamento dos CRI (centros de recurso para a inclusão) para que a avaliação do acompanhamento com terapias seja feita de forma articulada entre os CRI e as equipas que estão nas escolas e temos algum investimento significativo neste ano. Aumentámos em 152 os professores de educação especial colocados nas escolas, o que corresponde a um investimento de cerca de 5700 milhões de euros e, finalmente, estamos a aumentar o número de psicólogos com o acesso aos fundos estruturais.

Aplausos do PS.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Passamos à segunda ronda de perguntas.

Tem a palavra a Sr.ª Deputada Sandra Pereira, do PSD.

A Sr.ª Sandra Pereira (PSD): — Sr. Presidente, Sr.

as

e Srs. Deputados, em primeiro lugar, em nome da bancada parlamentar do PSD, quero congratular-me pela oportunidade e pela pertinência deste debate.

Sr. Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, estivemos a ouvi-lo e, por momentos, pensei que tínhamos recuado um ano, à apresentação do Programa do Governo. Não sei se o Sr. Ministro terá reparado, mas, entretanto, passou um ano e a expectativa da bancada do PSD era a de que já estivéssemos a falar no que fizemos e no que estamos a fazer no terreno. Principalmente quando ouvimos o Deputado Jorge Falcato, parceiro da coligação, ficamos claramente com a ideia de que não há políticas no terreno, há intenções, e que não há políticas no terreno para a deficiência.

Vozes do PSD: — Muito bem!

A Sr.ª Sandra Pereira (PSD): — Devo dizer-lhe, Sr. Ministro, que para o PSD esta questão é tratada como uma questão suprapartidária, de modo a que possamos desenvolver os necessários consensos para produzirmos as melhores soluções para estas pessoas, que são mais vulneráveis.

Vozes do CDS-PP: — Muito bem!

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A Sr.ª Sandra Pereira (PSD): — Recusamos a política e a «partidarite» e procuraremos um consenso alargado, por forma a promovermos uma sociedade mais justa, mais inclusiva. Pode contar com isso da parte do PSD.

O desafio que lançamos ao Governo — ao Sr. Ministro e à Sr.ª Secretária de Estado da Inclusão e das Pessoas com Deficiência — é que desenhe políticas integradas, transversais, com a participação da sociedade civil e das instituições de solidariedade social, de modo a promover uma verdadeira inclusão dos cidadãos com deficiência, mas desde já, Sr. Ministro. E sublinhamos que as instituições são de primordial importância, porque constituem muitas vezes, a maioria das vezes, as verdadeiras famílias e os verdadeiros agentes de inclusão de pessoas com deficiência e como tal devem ser encaradas, como autênticas parceiras no desenho dessas políticas.

Sr. Ministro, preocupa-nos uma retórica constante vinda da esquerda, que desacredita as instituições. Por isso, reafirmamos o desafio de convergência nestas matérias, uma convergência alargada, com as instituições, com a sociedade civil, com os partidos políticos, com todos nós.

Passo, agora, concretamente, às questões que lhe quero colocar.

O que está a fazer o Governo para pôr a funcionar definitivamente o programa operacional de inclusão social e emprego, de modo a que as instituições sociais de solidariedade, que tratam destas questões e que dão formação a estas pessoas, possam dar continuidade a esse grandioso trabalho de inclusão, de formação e de promoção das capacidades da pessoa com deficiência?

O que está a fazer o Governo para evitar o colapso financeiro destas instituições, que o Sr. Ministro e a Sr.ª Secretária de Estado sabem que esteve iminente, uma vez que a solução que os senhores trabalharam esgotar- se-á a curto prazo? De que estão à espera para porem a funcionar definitivamente o Portugal 2020 e abrir as candidaturas nesta área?

O Sr. Ministro disse que esta área era frágil, uma área que precisava de mais atenção e que estava a fazer auscultação às entidades. Queria perguntar-lhe se falou com as entidades que fazem formação para este setor,…

A Sr.ª Maria das Mercês Soares (PSD): — Bem lembrado!

A Sr.ª Sandra Pereira (PSD): — … se sabe do estrangulamento financeiro que estas instituições estão a viver, se sabe que quase encerraram instituições por falta de financiamento e por falta de verba e se sabe que houve, inclusivamente, algumas escolas para a deficiência que tiveram de encerrar por falta de financiamento.

Sr. Ministro, Sr.ª Secretária de Estado, gostava apenas de pedir para não desvalorizarmos o trabalho das inúmeras instituições sociais, cujos representantes de algumas delas estão aqui presentes, que vivem nos últimos tempos grande ansiedade. O Governo tem de lhes dar confiança, estabilidade e previsibilidade, porque isso significa sempre tratar com dignidade o seu trabalho e promover a sociabilização dos cidadãos portadores de deficiência, que é isso que nos interessa a todos.

Aplausos do PSD.

O Sr. Presidente (Jorge Lacão): — Para formular perguntas, tem a palavra o Sr. Deputado José Soeiro, do Bloco de Esquerda.

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — Sr. Presidente, Sr.

as

e Srs. Deputados, Sr. Ministro, é verdade que na sociedade portuguesa existe uma preocupação com a deficiência, mas durante demasiados anos o suposto consenso dessa preocupação sobre as pessoas com deficiência foi tratá-las como objeto da caridade, eventualmente até de uma comiseração sincera, mas objetos de caridade e não como titulares de direitos. E, sim, isto é também ideológico.

Vozes do BE: — Muito bem!

O Sr. José Moura Soeiro (BE): — O debate que precisamos fazer é sobre se queremos ter uma sociedade

que tem pena das pessoas com deficiência e entrega os seus cuidados aos privados, à Igreja e às famílias, ou

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