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Palavras-chave: relações de gênero, ocupação, discriminação e mercado de trabalho.

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FERREIRA, Maria da Luz Alves1 MARTINS, Sheyla Borges2 MARCI,Caroline3 SEGUNDO, Gemilson4

RESUMO

O texto tem como objetivos analisar quais são os impactos que as mulheres sofrem por exercerem funções consideradas como masculinas. Através da análise dos resultados parciais da pesquisa “Ainda precisamos avançar? Os impactos de gênero sobre as mulheres que exercem funções masculinas: as frentistas e as policiais femininas de Montes Claros – MG” 5 o presente trabalho objetiva verificar se as mulheres sofrem algum tipo de discriminação por exercerem funções que são tradicionalmente ocupadas por pessoas do sexo masculino.

Objetiva ainda verificar qual é a percepção dos homens (policiais e frentistas) sobre a participação de mulheres neste tipo de atividade. Os resultados apontam que tanto as frentistas, quanto as policiais femininas ainda sofrem algum tipo preconceito por parte dos colegas homens devido às funções que exercem, ou seja, pelo fato de estarem inseridas em um espaço tradicionalmente reconhecido como “lugar de homens”. Entretanto, aponta também este tipo de inserção pode ser considerada uma alternativa para a superação da desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho.

Palavras-chave: relações de gênero, ocupação, discriminação e mercado de trabalho.

Introdução

Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres é um dos objetivos de desenvolvimento do milênio. Estudo realizado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2008), mostra que a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho é um dos determinantes da miséria no Brasil. De acordo com o estudo, se

1 Doutora em Ciências Humanas (Sociologia e Política) pela UFMG. Professora de Sociologia do Curso de Ciências Sociais e PPGDS da UNIMONTES e das Faculdades Santo Agostinho.

2 Mestre em Desenvolvimento Social pelo PPGDS/UNIMONTES e professora de Sociologia e Metodologia do Curso de Ciências Sociais da UNIMONTES.

3 Aluna do curso de Ciências Sociais da UNIMONTES.

4 Aluno do curso de Ciências Sociais da UNIMONTES.

5 Pesquisa financiada pela FAPEMIG.

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o acesso e a renda de homens e mulheres fossem similares em todo o mundo, a proporção de pobres poderia apresentar queda de até 34% . No Brasil a queda poderia chegar a 20%.

Os níveis de renda e o valor do trabalho são decisivos para o bem-estar, bem como para as capacidades para atingir os bens mínimos definidos pela sociedade. Além da sobrevivência, a renda é importante para determinar o acesso ou a exclusão das coisas que a sociedade define como sendo importantes para o bem-estar. Assim, pode-se dizer que diferentes papéis, direitos e recursos de homens e mulheres na sociedade são, por consequência, um importante determinante da pobreza e da sua dimensão.

As desigualdades de gênero são percebidas em diversas dimensões da vida social, sobretudo no que diz respeito a situações de pobreza. Do total de pessoas que vivem na pobreza absoluta no mundo, mais de 70% são mulheres. Durante as duas últimas décadas do século XX, o número de mulheres que viviam nessas condições aumentou 50%, em contraste com 30% para os homens. (PNUD, 2008). Essas diferenças são construídas historicamente, determinadas socialmente e refletidas principalmente no âmbito do trabalho. Existem discrepâncias históricas quanto ao acesso ao mercado de trabalho, às funções desempenhadas, e mais notadamente aos rendimentos recebidos. A isso se deve a centralidade que a questão de gênero vem tomando, tanto no meio acadêmico quanto na sociedade como um todo e são justamente as disparidades que fundamentam a afirmação de que a valorização do trabalho da mulher constitui-se como requisito importante para a minimização das situações de pobreza e desigualdade na sociedade.

Ainda que as mulheres componham um percentual maior da população em idade ativa, elas apenas representam 43,5% das pessoas ocupadas no Brasil. Se a análise de expande para a formalização do trabalho no setor privado a diferença aumenta. Dos trabalhadores com carteira assinada no país, 60% são homens e 40% são mulheres. (IPEA, 2008).

Este texto tem como objetivo analisar os impactos da inserção de mulheres em ocupações de frentistas e policiais femininas, ocupações que tradicionalmente são reconhecidas como atividades masculinas. Objetiva ainda compreender como os homens que trabalham junto com estas mulheres (nos postos de combustíveis e na Polícia Militar) concebem o exercício deste tipo de atividade pelas mulheres.

Contextualização teórica: as desigualdades de gênero no espaço de trabalho: o que há de novo e o que se repete?

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Estudos mais recentes sobre o trabalho de mulheres enfatizam o substancial crescimento do ingresso da força de trabalho feminina nos postos de trabalho e, mesmo que não caracterize mais uma alternância, devido à interrupção da carreira profissional da mulher, em função da maternidade e retorno após o crescimento dos filhos, não tem havido, entretanto, mudanças na maneira de as mulheres se inserirem no mercado, muito menos transformações no sentido de promover uma igualdade entre as profissões masculinas e femininas, ao contrário, existe é a presença massiva de mulheres em condições de trabalho precário, sem carteira assinada e com instabilidade no trabalho (Bruschini e Lombarde, 2003).

Com relação ao comportamento do mercado de trabalho brasileiro, para Bruschini (1999), as mulheres têm ingressado com mais intensidade a postos de trabalho. Os fatores explicativos desse aumento de ingresso são, segundo a autora, reflexos das mudanças ocorridas no país a partir da década de 70 fazendo com que a atividade feminina não se resultasse apenas de necessidades econômicas, mas devido às transformações de ordem demográfica, sociais e culturais que têm ocorrido no país, afetando não só as mulheres, mas o conjunto das famílias.

A autora analisa que o trabalho feminino é marcado por mudanças e persistências. No tocante às mudanças, o destaque é para o perfil das trabalhadoras predominantes antes dos anos oitenta, geralmente mulheres jovens, solteiras e sem filhos. Após esse período passou a ser de mulheres mais velhas, casadas e com filhos.

Quanto ao perfil das trabalhadoras, se um lado elas se tornaram mais velhas, casadas e mães – o que revela uma nova identidade feminina, voltada tanto para o trabalho, quanto para a família; de outro permanecem as responsáveis pelas atividades domésticas e pelos cuidados com os filhos e outros familiares – o que indica a continuidade de modelos familiares tradicionais, que provocam sobrecarga sobre as novas trabalhadoras, especialmente para as que são mães de filhos pequenos (BRUSCHINI & LOMBARDI, 2007:43).

Embora considere que o aumento da participação feminina, principalmente na ultima década do século XX e primeiros anos do século XXI, tenha sido registrado em todas as idades, os índices mais significativos se deram em primeiro lugar, para as mulheres entre as faixas etárias de 30 a 39 anos, seguida das de 40 a 49 anos.

Ainda em relação à mudança do perfil da mão-de-obra feminina, uma constatação importante foi o aumento da porcentagem das mulheres casadas, atingindo 50,3% no período

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compreendido entre 1992-2002 (Bruschini & Lombardi, 2007). Portanto a responsabilidade de cuidar dos filhos – historicamente reconhecida como tarefa eminentemente feminina – não tem se constituído em fator que impeça o ingresso das mulheres no mercado de trabalho. Ao contrário, houve maior participação movidas tanto pela necessidade de complementar a renda da família, quanto pela elevação dos níveis de escolaridade, qualificando-as para competirem no mesmo.

Além de transformações demográficas, mudanças nos padrões culturais e nos valores relativos ao papel social da mulher alteraram a identidade feminina, cada vez mais voltada para o trabalho remunerado. Ao mesmo tempo, a expansão da escolaridade e o ingresso nas universidades viabilizaram o acesso das mulheres a novas oportunidades de trabalho. Todos esses fatores explicam não apenas o crescimento da atividade feminina, mas também as transformações no perfil da força de trabalho desse sexo. As trabalhadoras, que, até o final dos anos 1970, em sua maioria, eram jovens, solteiras e sem filhos, passaram a ser mais velhas, casadas e mães. (BRUSCHINI & LOMBARDI, 2007:48).

Embora as autoras supracitadas considerem em vários trabalhos as mudanças em relação ao trabalho feminino, elas analisam que ainda persistem disparidades entre o trabalho masculino e o feminino. Apesar das diversas conquistas, as mulheres continuam recebendo salários inferiores aos homens, mesmo exercendo as mesmas funções, com o mesmo vínculo de trabalho, a mesma jornada, o mesmo nível de escolaridade.

Isto posto, na próxima seção serão analisados dados da pesquisa realizada no intuito de verificar se o universo empírico da pesquisa tendeu a reproduzir o que foi constatado na contextualização teórica.

Ainda precisamos avançar? O mercado de trabalho em Montes Claros-MG a partir da análise de ocupações “masculinas” preenchidas por mulheres.

As categorias utilizadas para analisar as dimensões de gênero dentro do mercado de trabalho e, sobretudo, as discrepâncias salariais e de condições de trabalho entre homens e mulheres foram operacionalizadas neste trabalho pela análise da situação de mulheres com ocupação consideradas masculinas.

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O universo empírico da pesquisa é constituído por policiais militares e frentistas de postos de combustíveis da cidade de Montes Claros-MG.6 No caso dos policiais, foram selecionadas casualmente pessoas do quadro efetivo da AISP 99 e no que respeita os frentistas, foi feito o levantamento de todos os postos e selecionados aqueles em que constam homens e mulheres trabalhando no atendimento ao público. Os dados ora apresentados e que recebem tratamento quantitativo quando se trata de traçar o perfil dos entrevistados foram coletados in loco, através de aplicação de questionário, em fase preliminar à realização da pesquisa qualitativa. Por não adotar, portanto, nenhuma espécie de amostragem probabilística, já que não se intenciona generalizações dos resultados obtidos, o critério de escolha dos sujeitos da pesquisa se deu de forma a proporcionar uma efetiva comparação em relação ao objetivo do estudo, qual seja averiguar as disparidades verificadas entre homens e mulheres no mercado de trabalho, especificamente com relação às mulheres que tem ocupações consideradas “masculinas”.

O conjunto de dados representa um total de 36 profissionais entrevistados, dos quais 52,8 % são homens e 46,2% são mulheres. Quanto ao estado civil, a maioria é de solteiros (as), sendo que 41,7% são casados e 2,8% vivem em regime de união consensual. Quase metade dos entrevistados não possui filhos, e, entre os que possuem, cerca de 20% tem um ou dois filhos e 13% tem três filhos, conforme quadro I.

QUADRO 1 – Perfil dos entrevistados

Perfil dos entrevistados (%)

Sexo Homem 52,8

Mulher 47,2

Estado civil

Solteiro(a) 55,6

Casado (a) 41,7

União estável 2,8

Quantidade de filhos Nenhum 47,2

1 19,4

6 Não foram considerados os policiais nem os frentistas de todo o município de Montes Claros, mas apenas o que trabalham no perímetro urbano do município.

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2 19,4

3 13,9

Religião Católica 55,6

Evangélica 44,4

Fonte: pesquisa de campo – abril de 2010.

A participação da mulher no mercado de trabalho sofreu alterações consideráveis nos últimos tempos, sobretudo na década de 1970. Uma questão que merece relevo é que essa inserção não faz com que a mulher deixe de desempenhar suas funções como mãe, donas de casa e principais responsáveis pela administração do lar. Isso pode explicar, ao menos em parte, a complexidade da participação da mulher no mercado do trabalho em comparação com os homens.

Quando se trata da construção de parâmetros que retratem as nuances da desigualdade de gênero com relação ao mercado de trabalho, a variável educação é tida como parâmetro central para se estabelecer as possíveis relações. Na faixa de nível de escolaridade mais baixa não nenhuma mulher. Todas, portanto, tem escolaridade superior e essa faixa e entre os homens, 10,5% têm ensino fundamental. No nível médio é possível perceber que não grande discrepância entre homens e mulheres. Com ensino médio incompleto, homens e mulheres perfazem 10,5% e 11,8%, respectivamente. Com médio completo, há 47% das mulheres e 57.9% dos homens. Quando se trata de ensino superior, 35% das mulheres encontram-se cursando algum curso e apenas cerca de 5% dos homens estão matriculados nesse nível. Com o curso superior completo, no entanto, não há nenhuma mulher avançando para pós- graduação, há 10,5% e 5,9% dos homens e mulheres como consta no gráfico 1.

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GRÁFICO 1 – Nível de Escolaridade dos entrevistados

Os dados do estudo apresentam a mesma tendência dos dados referentes a todo o país:

a verificação de melhores condições das mulheres em relação aos homens em todos os indicadores educacionais. (IPEA, 2008). A questão a ser ressaltada nesse sentido é que a vantagem das mulheres na educação não se traduz em maior ocupação no mercado de trabalho, postos mais qualificados e maiores salários. As intensas disparidades, nesse sentido, evidenciam que o aumento do nível de escolaridade das mulheres não se reverteu em aumento de salários. Mesmo com 15 anos ou mais de escolaridade, os salários das mulheres representam apenas 61% dos salários dos homens (idem).

Outra variável considerada para o estudo de disparidade entre mulheres e mulheres é a ocupação de cargo de chefia. Nos casos analisados, nenhuma mulher, nem policial nem frentista está nessa condição, ao passo que 15% dos homens entrevistas exercem funções de chefia.

GRÁFICO 2 – Percentual de homens e mulheres entrevistados que ocupam cargos de chefia

Um contraponto que pode ser considerado em relação à ocupação de cargo de chefia é o trabalho doméstico remunerado. Essas ocupações geralmente possuem baixo valor social e são predominantemente de mulheres. Entre a população masculina ocupada, apenas 0,9% de homens exerciam trabalho domestico remunerado em 2006 no Brasil. Em contrapartida, 16,5% de mulheres exerciam esse tipo de trabalho. Desta forma, é possível afirmar que o trabalho doméstico remunerado ainda se constitui como um espaço de atuação predominantemente de mulheres no Brasil. (IPEA, 2008). As mulheres, portanto, ainda são

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mais relacionadas ao trabalho doméstico e na produção para próprio consumo e trabalho não remunerada, enquanto os homens ocupam mais postos com carteira de trabalho assinada e de empregador.

A mulher, ao longo da história tem ocupado setores no mercado de trabalho que são definidos com sendo majoritariamente femininos, como saúde, principalmente a enfermagem, e a educação, por exemplo. Essas ocupações estão relacionadas à dimensão do cotidiano doméstico das mulheres que cuidam dos filhos e administram a casa em geral. Nesses casos, ou seja, nas áreas em que as mulheres são mais presentes, elas chegam a ter uma renda média 25% superior a dos homens. Por outro lado, em se tratando de áreas em que são maioria, os homens chegam a ganhar até 70% a mais do que as mulheres. (IBGE, 2006). Isso indica que a desigualdade de renda apresenta duas faces: elas são verificadas entre as carreiras e dentro das carreiras. Em ambientes profissionais com maioria de homens, as mulheres, via de regra, ocupam posições mais baixas e subordinadas, e, consequentemente, recebem salários inferiores.

De acordo com o IPEA (2008), a chefia de família também é um indicador importante de transformações e persistências entre mulheres e homens. Em 1993 19,7% das famílias brasileiras eram chefiadas por mulheres, numero que em 2006 passou para 28,8%, o que representa uma curva ascendente da variável. Esses dados merecem atenção, sobretudo em se considerando as situações de trabalho das mulheres.

A renda é outro aspecto central da desigualdade e da pobreza, haja vista que representa a obtenção de bens necessários para sobreviver na sociedade através da venda do seu trabalho.

Por outro lado, o desemprego, o subemprego e os trabalhos de baixa remuneração são executados em grande parte por mulheres. Segundo o PNUD (2008), as mulheres representam um conjunto de mão de obra barata: os dados referentes à renda mostram de forma mais incisiva as disparidades de gênero, já que os salários de homens tendem a ser mais altos do que o de mulheres. Em 2006, no Brasil, a média salarial de homens era R$ 885,6. Para as mulheres, a média era de R$ 577,0, o representa cerca de 2/3 da renda dos homens. (IPEA, 2008).

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561,9 577

962,2 885,6

0 200 400 600 800 1000 1200

1996 2006

Mulheres Homens

GRÁFICO 3 – Média de renda nacional de homens e mulheres Fonte: IPEA, 2008.

Entre os policiais e frentistas entrevistados verifica-se a mesma tendência. A média de renda dos homens é de R$ 1.463,15, enquanto que a das mulheres é R$ 1.078,76. É importante ressaltar que as rendas foram consideradas em conjunto, o que justifica um alto desvio padrão, já que as rendas de policiais é consideravelmente superior a dos frentistas.

Considerando a amplitude da renda, nos extremos também temos a mesma tendência: o maior salário de homens, por exemplo, é o dobro do maior salário das mulheres.

QUADRO 2 - Média de renda dos(as) policiais e frentistas por sexo

Homem Mulher

Renda familiar

Renda pessoal

Renda familiar

Renda pessoal

Média 1867,89 1463,15 2270,58 1078,76

Mediana 1500 800 1600 700

Desvio Padrão 1172,80 1335,93 1522,23 625,99

Mínimo 600 565 800 550

Máximo 5500 5500 6300 2100

Fonte: pesquisa de campo – abril de 2010.

Diante do exposto, cabe indagar: é possível falar de uma simetria de gênero no mercado de trabalho? Pelas argumentações apresentadas, é notável que ainda há muito a ser conquistado. Mesmo que as desigualdades entre homens e mulheres já estejam minimizadas em muitas dimensões, em outros a diferença ainda é manifesta. No que diz respeito ao mercado de trabalho, mesmo que as mulheres possuam maior nível de escolaridade e qualificação, seus rendimentos ainda são, via de regra, inferiores aos dos homens nas mesmas

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condições de ocupação. Os dados da RAIS – Relação anual de informações sociais do ministério do Trabalho e Emprego (2008) confirma o panorama de desigualdade discutida teoricamente: em 2007 no Brasil, a proporção dos salários médios das mulheres, se comparados aos dos homens, ficou em 82,8%. Se tratarmos de profissionais que possuem nível superior, a diferença é mais significativa: os salários das mulheres correspondem a 56%

dos salários dos homens.

Por fim, temos colocadas as seguintes questões: O mercado de trabalho brasileiro conta hoje com uma maior participação das mulheres, e mesmo que o aumento tenha sido considerável, ainda é inferior com relação aos homens. As mulheres, por sua vez, apresentam visivelmente níveis de escolaridade superiores aos dos homens e o paradoxo que se estabelece é que, ainda assim, persistem diferenças importantes de remuneração: os homens recebem salários mais altos do que as mulheres. Na mesma direção, a divisão de ocupações por gênero permanece e exerce notável influencia sobre a renda e outros indicadores de qualidade de emprego de homens e mulheres.

Assim sendo, qual deve ser a base de explicação para as desigualdades entre homens e mulheres no mercado de trabalho? O pressuposto sustentado é que a divisão de ocupações, a participação e, principalmente a diferença de rendimento podem ser explicados mais pelas construções sociais e culturais, que impõem valores e lugares distintos ao trabalho de mulheres e homens do que por características técnicas ou de escolarização.

Na próxima seção serão analisadas a partir das falas dos/as entrevistadas a percepção dos/as frentistas e policiais militares sobre as competências de homens e mulheres no mercado de trabalho de Montes Claros.

Ainda precisamos avançar? O mercado de trabalho em Montes Claros-MG a partir da percepção dos/as frentistas e policiais militares.

Para a parte qualitativa da pesquisa foram propostas questões sobre o exercício das atividades profissionais que foram feitas tantos para as mulheres quanto para os homens (frentistas e policiais militares). Optou-se para entrevistar além das mulheres homens que exercem as mesmas ocupações para verificar se o fato de ser homem ou mulher muda a percepção dos mesmos em relação ao exercícios de atividades tradicionalmente reconhecidas como femininas.

Quando foi questionado como o/a entrevistado se sente trabalhando com pessoas do sexo oposto realizando as mesmas atividades verificamos que embora as pessoas tendessem a

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afirmar que não existia diferença no exercício da atividade em relação ao sexo da pessoa, ou seja, que o fato de ser homem ou mulher não muda o trabalho e que predomina uma

“harmonia” no espaço do trabalho como pode ser observado pelas falas abaixo.

Naturalmente como se fosse colegas masculino mesmo (entrevistado 8 frentista – homem).

E bom só que no meu caso tem horas assim que eu vejo que tem áreas no posto que a mulher não consiga fazer (entrevistado 12 frentista – homem).

Bom a experiência de trabalhar com policiais femininas e a mesma coisa de estar com masculino não vejo diferença nisso ate mesmo porque o mesmo treinamento que eu recebo ela também recebe (entrevistado 18 – policial homem)

Embora os entrevistados, tanto homens quanto mulheres considerem que não existem diferenças de exercício das atividades de frentistas e policiais pelo fato de ser homem ou mulher, observa-se pela fala do entrevistado 19 que existe sim uma diferença entre as atividades já que para ele as mulheres tem uma limitação que é por causa da força física.

Assim a constituição física de homens e mulheres é um fator que limita a atividade feminina.

Na minha opinião antes existia um grande preconceito com a mulher na policia, hoje não existe este preconceito o que existe é limitações ao trabalho feminino aqui mas pelo fato da força física delas, é visto que as mulheres são imprescindíveis neste serviço (entrevistado 19 policial homem).

Um fator considerado pelos policiais masculinos ao analisar o trabalho com mulheres é o fato de que na polícia todos têm o mesmo treinamento, ou seja, todos (homens ou mulheres) têm que realizar as mesmas atividades físicas, como nadar, treinamento de tiros, corrida etc.

Além do tipo de treinamento físico ser o mesmo ainda considerou que o ambiente de trabalho é harmônico e, portanto, não existe uma diferença entre homens e mulheres no cotidiano do trabalho policial.

Sinto-me como se estivesse trabalhando com parceiro do sexo masculino, até mesmo porque o treinamento é o mesmo.

(entrevistado 20 - policial homem).

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Me sinto satisfeita uma vez que meu ambiente de trabalho é harmônico não havendo distinção entre homens e mulheres ( entrevistada 36 – policial mulher).

Me sinto bem apesar de terem momentos ainda machistas (entrevistada 34 –policial mulher).

Embora todos considerassem a “harmonia” entre homens e mulheres no espaço de trabalho, tanto nos postos de combustíveis, quanto no espaço de trabalho dos militares, quando questionamos sobre as capacidades de homens e mulheres, se homens e mulheres trabalham da mesma forma verifica-se que começa aparecer às diferenças por gênero no mercado de trabalho, como é corroborada pelas falas abaixo:

Capacidade intelectual entre homens e mulheres é igual, mas considero a força física diferenciada, por isso para trabalhar da mesma forma, vai depender do tipo de trabalho a ser realizado (entrevista 34 – policial mulher).

Um aspecto interessante a ser destacado nas falas abaixo é que, mesmo que eles considerem que homens e mulheres trabalhem igual, todas as falas demonstram que os entrevistados têm internalizado o fato de que mulheres além da competência, tem outros atributos para exercer suas atividades profissionais tais como: ser companheira e cuidadosa.

Vale ressaltar que isso tem a ver com o lugar social de homens e mulheres na sociedade, sendo que a principal função do homem é a função instrumental e a função da mulher é afetiva, de cuidar da família, ou do outro. Por isso os entrevistados além da competência destacam outros elementos para analisarem o trabalho de suas colegas.

Tem as mesmas capacidades, só que e um pouco diferente devido ser mulher, para mim o trabalho e mais serio, a mulher é muito companheira (entrevistado 4 – frentista homem).

Acho que não. Às vezes tem algum serviço bruto que não serve para mulher. (entrevistado 12 – frentista homem).

Tem mulheres que desempenha trabalho melhor que homem, um exemplo disso é pelo fato da mulher quando esta na rua e precisamos de informação de um certo individuo ela me passa todas as informações as características necessárias que facilita o nosso trabalho. (entrevistado 17 – policial homem).

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Ainda em relação se o fato de ser homem ou mulher ajuda ou atrapalha o desempenho das funções de frentistas ou policiais, as respostas apontam que apesar dos avanços, pelo fato de mulheres terem ingressado neste tipo de atividades que sempre foram reconhecidas como atividades masculinas, ainda persiste um certo preconceito ou desconfiança em relação ao trabalho exercido pelas mulheres.

Elas levam vantagens em horário de trabalho, promoção, tempo de serviços e outros. (entrevistado 13 – policial homem)

O fato de ser mulher dificulta às vezes na forma de como o problema é resolvido. Em primeira instância somos vistas como preconceito. (entrevista 34 – policial mulher).

Por fim, quando foi questionado aos entrevistados sobre a forma de tratamento, se existe diferenciação no espaço do trabalho por causa do sexo, os depoimentos apontam que ainda existe certa tensão pelo fato das mulheres estarem exercendo este tipo de atividades. Às vezes o fato de ser mulher ajuda em relação ao lugar de sentar, a preferência por ser a primeira a ter determinado beneficio, mas o contrário também observa que é o preconceito que elas sofrem por estar num lugar social que ainda é preferencialmente e majoritariamente masculino.

Depende da ocasião. Em relação à preferências ex: cadeiras, passagem, etc. sempre me concedem à preferência, mas como profissional sou vista como um soldado e pela minha capacidade de produção. (entrevistada 34 – policial mulher).

A fala da entrevista 35 é bastante profícua para mostrar que entre os colegas do sexo masculino isso não é bem resolvido, pois apesar de reconhecerem a importância do trabalho das mulheres dentro da Policia Militar, de considerarem as mulheres mais aptas do que os homens para exercerem certas atividades que demandam tato, delicadeza, companheirismo, ainda existem aqueles que têm internalizado que aquele espaço ainda é um espaço de homens e vêem com certa estranheza o fato da presença de mulheres trabalhando na corporação.

Existem policiais que ainda pensam que não existe lugar para a mulher na instituição da Polícia Militar. Eu, particularmente, não me deparei com nenhum deles, diferente de algumas colegas. Mas este já é um comportamento em extinção. Os colegas mais novos e/ou mais “abertos”, esclarecidos reconhecem a importância do trabalho militar dentro da

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corporação. As empresas devem tratar seus empregados como pessoas diferentes que tem qualidades, capacidades diferentes e isso deve ser explorado para o bem de todos. (entrevistada 35 – policial mulher).

Uma possível explicação para este tipo de percepção por parte dos homens em relação as suas colegas do sexo feminino é dada por Aguiar (1996). Ela afirma que, as funções de homens e mulheres sempre foram diferenciadas: enquanto à mulher se associaram funções afetivas, como o cuidado com filhos, aos homens foi associado à função instrumental - prover a família (alimentação, moradia, etc.). Os valores dominantes determinaram as expectativas sociais, e homens e mulheres se adequaram a essas expectativas sociais.

Considerações finais

Para (não) concluir consideremos alguns pontos. A diferenciação de gênero reproduz o sistema de relações sociais incorporado na maneira como as instituições, especificamente o mercado de trabalho, são organizadas, diferenciando os sexos. Neste contexto, a construção do gênero no mercado de trabalho é produto das formas pelas quais são designadas as funções baseadas no sexo, ou seja, determinadas funções reconhecidas como mais apropriadas para as mulheres e outras para os homens. Assim sendo, normalmente o trabalho executado por homens é mais valorizado do que o executado pelas mulheres. Há construções de gênero no emprego, por parte de patrões e empregados. Porém, de acordo com Butler (2003), o desempenho de gênero pode recriar papéis, atribuindo-lhes novos significados ao trabalho.

Portanto, as desigualdades de gênero são percebidas em todas as dimensões da vida social, e especialmente no mercado de trabalho que tende a reproduzir a situação de pobreza, já que as mulheres são a grande maioria entre os pobres do mundo cerca de 70% como foi discutido na introdução deste trabalho.

Na pesquisa empírica, constatou-se que o mercado de trabalho de Montes Claros tende a reproduzir o cenário do mercado nacional na medida em que as mulheres ainda percebem um rendimento médio inferior aos homens, embora tenham escolaridade superior aos mesmos.

A partir das falas dos sujeitos da pesquisa podemos perceber que embora homens e mulheres, tanto da Polícia Militar quanto dos postos de combustíveis, num primeiro momento consideraram que não existem desigualdades entre homens em mulheres nos respectivos

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espaços de trabalho, num segundo momento das falas deixaram transparecer que também nos postos e na Polícia Militar existem um preconceito por parte dos colegas do sexo masculino para com as colegas do sexo feminino.

Em relação a questão desta pesquisa se a inserção de mulheres em ocupações tradicionalmente reconhecidas como ocupações masculinas se constituiria em uma alternativa para enfrentamento da desigualdade de gênero, acreditamos que ainda existe um longo caminho a ser percorrido, mas que pode ser sim uma alternativa para se não acabar, pelo menos reduzir as desigualdades de gênero no mercado de trabalho.

REFERÊNCIAS

AGUIAR, Neuma (1996). Grupo Doméstico, Gênero e Idade: análise longitudinal de uma plantação canavieira. Belo Horizonte: FAFICH/UFMG. Tese de concurso para professora titular apresentada ao Departamento de Sociologia e Antropologia.

BRUSCHINI, Cristina (1999). Mudanças e Persistências no trabalho feminino Brasil, 1985 a 1995. In: Simpósio Internacional Cidadania, Trabalho Feminino e Globalização.

CEDHAL/USP, Consulado Americano, Folha de São Paulo. São Paulo

BRUSCHINI, Cristina.; LOMBARDI, Rosa M. Mulheres e homens no mercado de trabalho brasileiro: um retrato da década de 1990. In As novas fronteiras das desigualdades: homens e mulheres no mercado de trabalho. Margaret Maruani & Helena Hirata (Orgs). São Paulo: Editora SENAC, 2003.

BRUSCHINI, Cristina.; LOMBARDI, Rosa M. Trabalho, educação e rendimentos das mulheres no Brasil em anos recentes. In Organização, trabalho e gênero. Helena Hirata e Liliana Segnini (orgs). São Paulo: Editora SENAC, 2007.

BUTLER, Judith (2003). Problemas de Gênero: feminismos e subversão da identidade.

Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

FERREIRA, Maria da Luz A. Trabalho informal e cidadania: heterogeneidade social e relações de gênero. Tese de doutorado apresentada ao doutorado em Ciências Humanas (Sociologia e Política) UFMG, 2007.

HIRATA, Helena.; SEGNINI, Liliana.( Orgs). Organização, trabalho e gênero. São Paulo:

Editora SENAC, 2007.

HIRATA, Helena. ; MARUANI, Margareth. As novas fronteiras das desigualdade:

mulheres e homens no mercado de trabalho. São Paulo: Editora SENAC, 2003.

IPEA. Retrato das desigualdades de gênero e raça. Brasília, 2008.

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PNUD. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 2008 RAIS. Relação Anual de Informações Sociais, 2009.

SIMÕES, Solange.:MATOS, Marlise. Idéias modernas e comportamentos tradicionais: a persistência das desigualdades de gênero no Brasil. In Desigualdades de gênero no Brasil:

novas idéias e práticas antigas. Márcio Ferreira de Souza (Org.). Belo Horizonte:

Argvmentuvm, 2010.

Referências

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