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Consumo alimentar de crianças e adolescentes assistidos por projeto social no interior paulista

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Academic year: 2021

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Consumo alimentar de crianças e adolescentes assistidos por projeto social no interior

paulista

Marina Paraluppi LOUREIRO 1 Luana Ribeiro da CUNHA 2 Agatha Louise VINCENSO 3 Larissa Baungartner ZEMINIAN 4

Resumo: Os hábitos alimentares são despertados logo na infância, dependendo, profundamente, das questões culturais, sociais e econômicas. A qualidade da dieta de indivíduos de classes socioeconômicas menos favorecidas é, de modo geral, inferior à alimentação das classes mais altas. Isso acaba refletindo, diretamente, no estado de saúde de ambas as populações. De modo geral, a alimentação das famílias de baixa renda é marcada pela presença de grandes quantidades de cereais, óleos e gorduras, açúcares, carnes gordas e alimentos processados e ultraprocessados, altamente calóricos. Quanto às frutas e hortaliças, seu consumo é monótono e restrito a poucos itens. O presente estudo teve como objetivo avaliar o consumo alimentar de crianças e adolescentes assistidos por um Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo (SCFV) situado na cidade de Rio Claro/SP. Para isso, foram aplicados questionários referentes ao consumo alimentar a 61 indivíduos regularmente matriculados no projeto. Os resultados mostraram que as crianças e adolescentes do SCFV estudado apresentaram uma boa ingestão diária de hortaliças (63,93%) e arroz e feijão (93,4%). Todavia, o consumo diário de frutas (32,8%), leite (67,21%) e carnes (39,3%) precisa, ainda, ser incentivado. Os entrevistados também demostraram gostar dos alimentos ofertados no projeto, que se esforça em proporcionar uma alimentação adequada e saudável a seus matriculados, favorecendo o acesso ao alimento e auxiliando na aquisição de melhores hábitos alimentares.

Palavras-chave: Hábitos Alimentares. Ingestão de Alimentos. Crianças e Adolescentes.

Nutrição Social.

1 Marina Paraluppi Loureiro. Bacharel em Ciências dos Alimentos pela Universidade de São Paulo (USP).

Bacharelanda em Nutrição pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <marina.p.loureiro@gmail.com>.

2 Luana Ribeiro da Cunha. Bacharel em Ciências dos Alimentos pela Universidade de São Paulo (USP).

Bacharelanda em Nutrição pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <luanacunha95@hotmail.com>.

3 Agatha Louise Vicenso. Bacharelanda em Nutrição pelo Claretiano – Centro Universitário.

E-mail: <tatanutri83@gmail.com>.

4 Larissa Baungartner Zeminian. Mestra em Gestão da Clínica pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Bacharel em Nutrição pela Universidade Metodista de Piracicaba (UNIMEP). Docente do curso de Nutrição do Claretiano – Centro Universitário.

E-mail: <larissazeminian@claretiano.edu.br>.

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Food consumption of children and adolescents assisted by social project in the interior of São Paulo

Marina Paraluppi LOUREIRO Luana Ribeiro da CUNHA Agatha Louise VINCENSO Larissa Baungartner ZEMINIAN

Abstract: Eating habits are awakened early in childhood, depending deeply of cultural, social, and economical issues. The diet quality of individuals from disadvantaged socioeconomical classes is generally lower than higher classes.

This reflects directly on the health status of both populations. In general, low- income families are marked by a large intake of cereals, oils and fats, sugars, fatty meats and processed and ultra-processed foods, both high-calorie foods.

As for fruits and vegetables, their consumption is monotonous and restricted to a few items. The present study aimed to evaluate the dietary intake of children and adolescents assisted by a Service of Coexistence and Linkage Strengthening (SCFV) located in the city of Rio Claro/SP. For this, food consumption questionnaires were applied to 61 individuals regularly enrolled in the project.

The results showed that the children and adolescents of the SCFV presented a good daily intake of vegetables (63.93%) and rice and beans (93.4%). However, daily consumption of fruit (32.8%), milk (67.21%) and meat (39.3%) needs to be encouraged. The interviewees also enjoyed the food offered in the project, and the project strives to provide adequate and healthy food to their students, favoring the food access and helping the children to get better eating habits.

Keywords: Eating Habits. Food Intake. Children and Adolescents. Social Nutrition.

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1. INTRODUÇÃO

Como já é sabido, a renda de uma população exerce exímia influência em seu comportamento alimentar (DEFANTE; NAS- CIMENTO; LIMA-FILHO, 2015). Logo, as escolhas alimentares podem ser caracterizadas como processos complexos, pois estão sujeitas à ação de múltiplos fatores. Dentre eles, podem-se citar os sociais, culturais e econômicos, nos quais se encontram variáveis como a renda familiar e o preço dos itens alimentares (BORGES et al., 2015).

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de- fine como famílias de baixa renda aquelas com poder de compra equivalente a dois salários mínimos (nível E ou classe baixa), en- tre dois e cinco salários mínimos (classe D) e entre quatro e oito salários mínimos (classe C2 ou renda média baixa). Essas classes socioeconômicas perfazem 45% da população brasileira, mostran- do um baixo poder de compra, o que implica apenas R$ 35,00 des- tinados, diariamente, para gastos com a alimentação (IBGE, 2006).

Dados disponibilizados pela última Pesquisa de Orçamen- tos Familiares (POF) realizada pelo IBGE em 2008-2009 permiti- ram avaliar uma significativa melhora na quantidade de alimentos consumida pelas famílias do Brasil em comparação aos resultados obtidos pela POF nos anos de 2002-2003. Na pesquisa mais re- cente, 64,5% das famílias relataram como suficiente a quantidade de alimentos consumida, em relação aos 35% que afirmaram ser eventualmente ou normalmente insuficiente. Entretanto, é válido ressaltar que a POF só contabiliza dados de famílias com domicí- lios permanentes ou temporários, ficando excluídos aqueles sem moradia (IBGE, 2010a; DEFANTE; NASCIMENTO; LIMA-FI- LHO, 2015).

O hábito alimentar de um indivíduo é despertado logo na infância e depende profundamente das questões culturais e socio- econômicas. No geral, o que é aprendido nos primeiros anos de vida acaba se reproduzindo na fase adulta; logo, é imprescindível que a família ofereça alimentos saudáveis para as crianças para que

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elas, um dia, se tornem adultos saudáveis (CANESQUI; GARCIA, 2005).

Entretanto, o que vem sendo observado por estudos anterio- res é que a qualidade da dieta dos indivíduos das classes economi- camente menos favorecidas é inferior ao nível de qualidade da ali- mentação das classes mais altas. Isso acaba refletindo, diretamente, no estado de saúde de ambas populações (BORGES et al., 2015).

De modo geral, a alimentação das famílias de baixa renda é marcada pela presença de grandes quantidades de cereais, óleos e gorduras, açúcares, carnes gordas e alimentos processados e ultra- processados, altamente calóricos. Quanto às frutas e hortaliças, seu consumo é monótono e restrito a poucos itens, como banana, laran- ja, tomate e alface. Além disso, pesquisas mostraram que as famí- lias das classes menos abastadas adquirem quantidades inferiores de itens alimentares saudáveis, como os grãos integrais, peixes, leite e derivados desnatados, frutas, hortaliças e carnes com baixo teor de lipídios em comparação às famílias com maiores rendimen- tos. Logo, fatores socioeconômicos exercem influência decisiva no consumo desses alimentos (BORGES et al., 2015).

Perante ao exposto, o trabalho teve como objetivo avaliar o consumo alimentar de crianças e adolescentes assistidos por um Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculo (SCFV).

2. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo transversal, a partir do levantamento de dados obtidos com informações fornecidas pelos próprios parti- cipantes com devida autorização, que teve como cenário o Centro Social Esportivo Claretiano Terra Nova, um SCFV situado na ci- dade de Rio Claro/SP, popularmente chamado de “Projeto Social”.

A população foi composta de crianças e adolescentes, de 6 a 15 anos de idade, que frequentavam o serviço. A coleta dos dados deu-se a partir de questionário sobre o consumo alimentar, aplicado no mês de julho de 2018. Este continha 13 perguntas relacionadas ao consumo de frutas, carnes, feijão, verduras, legumes, leite e ali-

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mentos industrializados, bem como à alimentação dos participantes em suas respectivas residências e no projeto (Quadro 1).

Os dados foram tabulados em planilha, utilizando-se o pro- grama Microsoft Excel, para a análise e discussão.

Quadro 1. Questionário de consumo alimentar aplicado.

1. Nome.

2. Você gosta de frutas? Qual a sua predileta?

3. Você come frutas todos os dias?

4. Você gosta de carnes (peixe, bovina, porco e frango)? Consome todos os dias?

5. Você come arroz e feijão todos os dias?

6. Você gosta de verduras e legumes? Consome todos os dias? Quantas vezes ao dia?

7. Você gosta de leite? Toma todos os dias?

8. Você consome alimentos industrializados todos os dias (bolachas, refrigerantes, salgadinhos, suco de caixinha, chocolates e balas)?

9. Qual é a comida que você mais come na sua casa?

10. Você costuma jantar em casa?

11. Você gosta da comida do projeto?

12. Qual comida que você ingeriu no projeto você mais gostou? E qual você não gosta?

13. Tem alguma comida que você gostaria que tivesse no projeto?

Fonte: elaborado pelas autoras.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Participaram da pesquisa 61 crianças e adolescentes. Para melhor análise dos resultados, as perguntas do questionário foram agrupadas e classificadas em: consumo de frutas, verduras e legu-

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mes, consumo de carnes e leite, consumo de arroz e feijão, consumo de produtos industrializados, alimentação em casa e alimentação no projeto, conforme apresentado abaixo:

Consumo de frutas, verduras e legumes

Quanto ao consumo de frutas pelos participantes, todos re- feriram gostar, não havendo respostas negativas para essa pergun- ta. Entretanto, ao serem questionados se consumiam todos os dias, apenas 32,8% relataram que sim, sendo que, nos dias que ingeri- ram, a maioria (52,46%) o fez apenas duas vezes, revelando uma baixa ingestão desses itens alimentares. Em relação à fruta predile- ta, foram listadas 18, sendo as mais citadas a maçã (24,6%), banana (14,7%), uva (13,1%), melancia (11,5%), pera (6,6%), mexerica (5,0%), morango (4,9%) e manga (3,3%), frutas que são servidas frequentemente no projeto.

Já em relação às verduras e legumes, foi observado que 65,57% gostavam desses itens, 63,93% consumiam todos os dias e 63,93% ingeriam duas vezes ao dia, sendo que a maioria referiu consumir tanto no almoço quanto no jantar, evidenciando uma in- gestão adequada desses itens por uma parcela importante da popu- lação amostrada.

Sabe-se que o consumo de alimentos ricos em fibras e mi- nerais, como as frutas, verduras e legumes, é fundamental para a obtenção de uma alimentação saudável (FRANCO; CASTRO;

WOLKOFF, 2013). Contudo, o consumo de frutas pelas crianças e adolescentes assistidos pelo projeto está aquém do recomenda- do pela Organização Mundial da Saúde (OMS), já que a maioria (67,2%) relatou não ingerir esses alimentos diariamente.

Resultados semelhantes foram encontrados por Costa, Vas- concelos e Corso (2012) e Monticelli, Souza e Souza (2013). O estudo de 2012 evidenciou que o consumo de, no mínimo, cinco porções diárias de frutas e hortaliças foi encontrado para somente 2,7% dos escolares de seis a dez anos, participantes da pesquisa. O trabalho publicado em 2013 e realizado com adolescentes de baixa renda também mostrou um consumo inadequado desses itens ali-

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mentares. Esses resultados se repetem ao considerarmos pesquisas realizadas com adultos brasileiros, mostrando que menos de 10%

da população brasileira consome frutas e hortaliças na quantidade recomendada (IBGE, 2011; ASSUMPÇÃO et al., 2014).

Sabe-se que a renda é um fator determinante no consumo des- ses alimentos de origem vegetal. Melo et al. (2016) mostraram, em seus estudos, que existe uma correlação positiva entre o rendimen- to familiar e o consumo de frutas e hortaliças, ou seja, a ingestão desses alimentos aumenta na medida em que a renda também se eleva. Logo, é esperado encontrarmos um baixo consumo desses itens alimentares entre as crianças e adolescentes assistidos pelo projeto, devido ao fato de seu público-alvo ser constituído por uma população em estado de vulnerabilidade social, circunstância esta que pode ser melhorada através de ações de Educação Alimentar e Nutricional (EAN) aplicadas às crianças e, principalmente, a seus familiares.

Apesar disso, vê-se, ainda, a presença desses alimentos na dieta dos indivíduos abordados na pesquisa, em virtude de serem ofertadas, diariamente no projeto, frutas e mais de um tipo de hor- taliça, sob a forma refogada e crua (em salada).

É válido ressaltar ainda que, apesar de o consumo de frutas ser reduzido entre a população analisada, de modo geral, a alimen- tação dos participantes abordados neste estudo (levando em consi- deração apenas o quesito “consumo de frutas, legumes e verduras”) foi melhor que a encontrada na maioria dos trabalhos já publicados.

Isso ocorre em virtude da grande presença desses alimentos na ins- tituição, auxiliando as crianças a obterem uma alimentação sau- dável e terem contato com alimentos que, muitas vezes, não estão presentes em seus respectivos domicílios.

Consumo de carnes e leite

A maior parte dos alunos (60,7%) alegou não comer carnes todos os dias. Quando questionados sobre o tipo de carne que eles consomem, a grande maioria (47,54%) afirmou consumir todas, se-

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guido por aqueles que só não consumiam peixes (21,31%), confor- me o Gráfico I.

Gráfico I. Tipos de carnes consumidas por crianças e adolescentes assistidos por projeto social, Rio Claro, 2018.

Fonte: elaborado pelas autoras.

Sabe-se que a nutrição adequada é fundamental às crianças, pois permite o crescimento e o desenvolvimento saudáveis, evi- tando o comprometimento do estado nutricional e o surgimento de distúrbios provocados pelo excesso ou carências de nutrientes (CARVALHO et al., 2015).

É importante ressaltar que, no Brasil, a deficiência de ferro (anemia ferropriva) consiste em uma das principais disfunções nu- tricionais que atingem as crianças em idade escolar, configurando um problema de saúde pública que pode ser combatido através de ações de educação nutricional, como o estímulo ao consumo de alimentos fontes de ferro, como as carnes e as leguminosas.

Como pode ser notado, apesar de ser ofertado ao menos um tipo de carne, diariamente, no projeto, uma parcela significativa dos assistidos não ingere o alimento todos os dias, o que pode trazer distúrbios nutricionais a essas crianças caso elas não consumam ou-

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tros alimentos ricos em proteínas e em ferro (como as leguminosas) em porções adequadas.

Em relação ao leite, grande parcela das crianças e adoles- centes (85,2%) relatou gostar da bebida, porém, 67,21% a ingerem diariamente. Este, além de ser um alimento rico em proteínas, lipí- dios e algumas vitaminas, é considerado a melhor fonte de cálcio na dieta, sendo que, para suprir as necessidades diárias desse nu- triente, é fundamental que crianças com idade escolar e pré-escolar consumam três copos ou 600mL por dia (BASTOS et al., 2016).

Entretanto, apesar da extrema importância do alimento para a saúde óssea das crianças e de ser ofertado diariamente no projeto, apenas cerca de 2/3 dos participantes deste estudo referiram consu- mi-lo diariamente, fato que pode ocasionar prejuízos nutricionais a esses indivíduos.

Logo, ações de EAN são imprescindíveis à população amos- trada, de forma a ensinar as crianças, bem como a seus familiares, sobre a importância do consumo diário desses alimentos, incenti- vando a ingestão ao menos nas refeições servidas pelo projeto.

Consumo de arroz e feijão

Quase a totalidade das crianças e adolescentes matriculados no projeto (93,4%) relataram consumir arroz e feijão todos os dias, revelando a presença de um hábito alimentar saudável e tradicional entre essa população.

Claro et al. (2016), em seus estudos, relataram que alimentos pertencentes à classe dos grãos secos, como o arroz e o feijão, ten- dem a custar menos que frutas, hortaliças, carnes, leites e alimentos ultraprocessados, perfazendo uma boa escolha para que as famílias de baixa renda adotem uma alimentação saudável.

Souza et al. (2013) identificaram, ao analisar o Inquérito Na- cional de Alimentação (módulo da Pesquisa de Orçamentos Fami- liares), que o arroz e o feijão figuraram no grupo dos alimentos mais consumidos pelos brasileiros, com consumo de 84% e 72,8%, respectivamente.

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A pesquisa de Jaime et al. (2015), tendo como base a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS 2013), mostrou que o consumo regular de feijão foi mencionado por 71,9% da população. As autoras citaram, ainda, que o consumo dos alimentos é profundamente influenciado por questões sociais e econômicas. O feijão, por exemplo, por ser um alimento mais barato e típico da dieta brasileira, acaba sendo mais frequentemente ingerido por indivíduos com menor nível de instrução e habitantes da zona rural.

É válido considerar, ainda, que optar por consumir arroz e feijão nas refeições principais tem efeitos positivos sobre a saúde humana, uma vez que esses alimentos, quando ingeridos em quan- tidades adequadas, podem oferecer efeitos benéficos à saúde hu- mana, como, por exemplo, proteção contra a obesidade, devido ao fato de ser uma combinação com baixos teores energético, lipídico e índice glicêmico, aliada a um bom teor de fibra. Além disso, a combinação desses dois itens promove a ingestão de uma proteí- na completa, pois, enquanto um é rico em lisina, o outro é fonte de metionina, ambos aminoácidos essenciais (RODRIGUEZ et al., 2013).

Consumo de produtos industrializados

Para avaliar o consumo de alimentos industrializados (bola- chas, refrigerantes, salgadinhos, suco de caixinha, chocolates e ba- las), perguntou-se às crianças do presente estudo se elas consumiam esses alimentos/bebidas frequentemente. Como resultado, obteve- -se que 72,1% não ingeriam esses produtos diariamente, enquanto 27,9% afirmaram consumir todos os dias (principalmente: refrige- rantes, balas e salgadinhos). Porém, as crianças que apresentaram

“não” como resposta disseram que seus pais adquiriam esses itens geralmente em épocas de pagamento.

Em diversos países do mundo, principalmente naqueles de- nominados “emergentes”, notou-se uma mudança repentina nos padrões alimentares das populações. Essa mudança envolve, prin- cipalmente, a substituição de alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias básicas e tradicionais por pro-

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dutos industrializados ultraprocessados e com excesso de açúcar, gordura, sódio e prontos para o consumo. Esse processo se tornou intenso no Brasil, sendo extremamente preocupante, pois pode oca- sionar deficiências de micronutrientes específicos, além de favore- cer o consumo excessivo de calorias e a obesidade, podendo gerar consequências mais graves à saúde humana (BRASIL, 2014).

Alimentação em casa

Com o intuito de avaliar a alimentação das crianças e ado- lescentes dentro de seu respectivo domicílio, foram realizadas as seguintes perguntas: “Você costuma jantar em casa?” e “Qual é a comida que você mais come na sua casa?”. O questionamento em- basou-se, essencialmente, no jantar, devido ao fato dessa refeição ser realizada na residência, uma vez que esses indivíduos permane- cem meio período em aula e meio período no projeto, só chegando em seus lares à noite para a janta.

Como resultados, 93,4% das crianças confirmaram jantar em casa frequentemente, e 6,6% disseram não jantar, devido à falta de apetite ou à falta de apreço pelo alimento servido no domicílio.

Nenhuma criança alegou não ter comida em casa, e todos afirma- ram que a mãe (ou responsável) preparava o jantar diariamente.

Os resultados mostraram, ainda, a grande presença do arroz e feijão (93,8%) na alimentação diária residencial dos participan- tes, sendo que apenas 6,2% não citaram esses alimentos, ou por esquecimento ou por realmente não os consumir frequentemente no domicílio.

Observou-se, também, a presença frequente de uma fonte proteica (carne ou ovo). Já dentre as fontes de carboidratos mais citadas, notou-se o consumo de macarrão, arroz, lasanha, pão e sopa. É válido ressaltar que os padrões alimentares se devem, prin- cipalmente, ao estilo de vida e à situação financeira (IBGE, 2010b).

De forma mais complexa, os fatores que influenciam na formação dos hábitos alimentares na infância são: os fisiológicos, como as ocorrências intrauterinas, o paladar quando acaba de nascer, a ama- mentação, a neofobia e a regulação dos alimentos ingeridos; e os

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ambientais: alimentação dos pais da criança, o comportamento do cuidador, as condições socioeconômicas, as influências da mídia (internet e televisão) e a alimentação em grupo (GARCIA, 2003;

RAMOS, STEIN, 2000).

Um fator preocupante observado foi a ingestão frequente de nuggets, macarrão instantâneo e refrigerante por alguns participan- tes. Como intervenção, nas entrevistas, houve orientação a essas crianças e adolescentes, visando à redução do consumo desses itens através de explicações a respeito desses alimentos ultraprocessados e os possíveis danos à saúde gerados por sua ingestão em demasia.

Alguns citaram, ainda, a presença de salada como acompa- nhamento na refeição, porém, muitos revelaram que os legumes, verduras e frutas são comprados, geralmente, apenas quando os pais recebem o salário. Segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (2008-2009), o consumo de alimentos se eleva quan- do ocorre o aumento do rendimento familiar per capita. Isso se aplica, principalmente, para o consumo de frutas, verduras, peixes, grãos integrais, carnes magras e laticínios (CLARO et al., 2007;

FREWER; VAN, 2007).

Alimentação no projeto

As questões a respeito da alimentação das crianças e adoles- centes dentro do projeto Centro Social Esportivo Claretiano Terra Nova foram realizadas com o intuito de melhorar as preparações ofertadas no refeitório, auxiliar na hora da compra de ingredientes e avaliar as escolhas alimentares das crianças.

Dentre os alimentos servidos no projeto, os que as crianças relataram mais gostar foram: lasanha (13,1%), arroz, feijão e carne (11,5%) e macarrão (9,8%). No cardápio do local, o arroz, junta- mente com o feijão e um tipo de carne, eram ofertados todos os dias. Às sextas-feiras, era comumente oferecido, também, um tipo de massa (lasanha, macarrão, entre outros). Notou-se uma elevada diversidade de respostas quanto aos alimentos de maior preferência disponibilizados pelo projeto, o que revelou um grande apreço de seus matriculados pela comida (96,7% dos participantes afirmaram

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gostar das refeições fornecidas), enquanto apenas 1,7% disseram não gostar do tempero e 1,6% relataram gostar “mais ou menos”.

Em relação aos alimentos disponibilizados pelo projeto e que menos gostavam, cerca de 24,6% das crianças alegaram não haver

“nenhuma” comida de que desgostassem, enquanto que a beterraba (6,6%), o tomate (6,6%), o peixe (4,9%) e os legumes (4,9%) foram os alimentos com menores preferência pela população estudada.

Durante a entrevista, de modo a conscientizar as crianças a respeito de tais alimentos, foi explicada a importância do consumo de le- gumes e verduras para a saúde, tendo sido notada uma melhora na alimentação de algumas crianças que quase não consumiam esses itens no decorrer das atividades realizadas no projeto.

É importante lembrar que, na infância, ocorre a formação das papilas gustativas, portanto, deve-se insistir no consumo de ali- mentos saudáveis e numa alimentação variada, preferencialmente, através de ações de EAN (RAMOS; STEIN, 2000). Uma alimenta- ção saudável gera prazer, energia e os nutrientes necessários para o desenvolvimento e manutenção do corpo, sendo que esta deve ser bem variada para que o organismo obtenha todos os tipos de nu- trientes (EUCLYDES, 2000). Assim, os estímulos proporcionados durante a infância e a adolescência poderão auxiliar no compor- tamento alimentar quando os indivíduos alcançarem a vida adulta (BISSOLI; LANZILLOTTI, 1997).

Por fim, foi realizada uma pergunta a respeito da comida que as crianças e adolescentes achavam que faltava no projeto, sendo que 41% da população estudada alegaram não haver “nenhuma”.

Logo, foi possível inferir que, de modo geral, uma boa parte dos participantes gostava muito da comida disponibilizada. Os prin- cipais itens faltantes referidos pelos alunos, por sua vez, foram a lasanha, a pizza, os nuggets e o pastel, alimentos mais gordurosos e calóricos, os quais realmente o projeto evita oferecer. Algumas crianças pediram, ainda, frutas como morango e maracujá, revelan- do a presença de escolhas alimentares mais saudáveis.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através dos resultados obtidos, pôde-se concluir que, de modo geral, as crianças e adolescentes do SCFV estudado apresen- tam um bom consumo diário de hortaliças, arroz e feijão. Todavia, o consumo de frutas, leite e carnes todos os dias precisa ser incen- tivado através de ações de EAN, feitas com os participantes e/ou seus familiares. Essas ações devem abordar, também, a importância de se evitar o consumo de alimentos ultraprocessados, ingeridos por uma parcela dos entrevistados.

Percebeu-se que as crianças e adolescentes gostam dos ali- mentos oferecidos no projeto, que se esforça em ofertar uma ali- mentação adequada e saudável, um resultado que pode colaborar positivamente para a mudança dos hábitos alimentares, auxiliando na aceitação de novos alimentos e favorecendo a qualidade da alimentação de seus atendidos.

REFERÊNCIAS

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