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PRINCÍPIOS DAS METODOLOGIAS ATIVAS

PRINCÍPIOS DAS METODOLOGIAS

ATIVAS

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Sumário

Introdução ... 3

HISTÓRICO ... 4

CLASSIFICAÇÃO ... 8

Aprendizagem Baseada em Problemas (Problem-Based Learning – PBL) ... 11

Problematização ... 12

Aprendizagem Baseada em Projetos (Project-Based Learning) ... 13

Aprendizagem Baseada em Times (Team-Based Learning – TBL) ... 15

Instrução por Pares (Peer-Instruction) ... 15

Sala de Aula Invertida (Flipped Classroom) ... 16

Jigsaw ... 17

Divisão dos Alunos em Equipes para o Sucesso (Student-Teams-Achievement Divisions – STAD) ... 17

Torneios de Jogos em Equipes (Teams-Games-Tournament – TGT) ... 18

Os princípios das metodologias ativas de ensino ... 19

AS METODOLOGIAS ATIVAS DE ENSINO E SEUS PRINCÍPIOS ... 23

ALUNO: CENTRO DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM ... 24

Autonomia ... 26

Problematização da realidade e reflexão ... 27

Trabalho em equipe ... 30

Inovação ... 30

Professor: mediador, facilitador, ativador ... 31

APROXIMAÇÕES ENTRE METODOLOGIAS ATIVAS E CORRENTES TEÓRICAS ... 33

Contribuições do interacionismo ... 33

Aprendizagem pela experiência Dewey ... 35

Metodologias ativas favorecendo a aprendizagem significativa ... 36

Metodologias ativas na perspectiva freiriana... 36

REFERÊNCIAS ... 39

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Introdução

Freiberger e Berbel (2010) apontam que o desenvolvimento de competências e habilidades nos estudantes, em uma sociedade cada vez mais complexa, é uma responsabilidade da escola. Porém, os professores têm sentido no passar das últimas décadas um aumento no desinteresse dos alunos pelos conteúdos apresentados e uma perda no reconhecimento de sua autoridade. A mera transmissão de informações não mais caracteriza um processo eficiente de ensino-aprendizagem (Santos &

Soares, 2011).

É a alfabetização científica da população de um país que possibilita o seu desenvolvimento sustentável e harmonioso e a inclusão no mundo globalizado. O Program for International Student Assesment (Programa Internacional de Avaliação de Alunos – PISA) é uma avaliação da UNESCO que aplica provas de Leitura, Matemática e Ciências. Ela não valoriza conteúdos memorizados, mas sim as capacidades de raciocínio e se os indivíduos são capazes de continuar aprendendo durante suas vidas. Contudo, o Brasil tem apresentado um desempenho muito abaixo da média dos países da OECD (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), o que aponta a necessidade de melhorias em seu ensino de ciências (Rocha & Soares, 2005).

Muitos professores imaginam que toda aprendizagem é inerentemente ativa.

Consideram que, enquanto o aluno participa assistindo uma aula expositiva, ele está ativamente envolvido. Contudo, pesquisas da ciência cognitiva apontam que os alunos devem fazer algo mais do que simplesmente ouvir para que a aprendizagem seja efetiva (Meyers & Jones, 1993).

Em relação às estratégias utilizadas, o contexto educacional que vivemos na atualidade pode ser caracterizado como um mosaico. Enquanto alguns professores ainda utilizam métodos tradicionais como as aulas expositivas, o quadro-negro, o giz e o livro-didático, outros utilizam práticas pedagógicas inovadoras e diversificadas (Antunes, 2014).

O contexto social em que nos encontramos, nunca antes presenciado na história humana, é o da era tecnológica: a informação está à disposição dos sujeitos

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em velocidades cada vez mais rápidas, vinculadas no momento dos fatos por meios cada vez mais avançados. Essa mudança exige das pessoas uma autonomia e um posicionamento que não eram exigidos há décadas atrás (Freiberger & Berbel, 2010).

A comunicação entre iguais (os alunos entre si) também adquire maior importância. Os alunos trocam informações, participam conjuntamente em atividades, resolvem desafios, realizam projetos e avaliam-se mutuamente. Isso já acontece fora da escola nos grupos das redes socais, onde compartilham-se interesses e vivências (Morán, 2015).

Devido a essas mudanças, algumas instituições de ensino têm procurado por novas abordagens para o processo de ensino-aprendizagem, por meio da reorganização de seu currículo e da integração da teoria com a prática, do ensino com o serviço, destacando-se o emprego das metodologias ativas de aprendizagem (Marin et al., 2010).

HISTÓRICO

Durante vários séculos, o foco dos métodos tradicionais de educação era o ensino, a partir da percepção do professor como uma figura de poder sobre o aluno (Nagai & Izeki, 2013; Ariès, 2006). O processo pedagógico visualizava o conhecimento válido como aquele emanado a partir do professor e que deveria ser memorizado pelo aluno (Ariès, 2006). O professor deveria ensinar, utilizando-se para isso de aspectos comportamentais como compreender, aplicar, criar, analisar e avaliar, tendo como principal característica o uso das aulas expositivas (Mizukami, 1986).

A partir do século XVIII, com a eclosão das revoluções liberais na Europa e a independência dos Estados Unidos, as escolas pedagógicas passaram a ver com olhos críticos as limitações dessa abordagem de ensino-aprendizagem. Dentro de um contexto histórico de reconhecimento social, o estudante passa a ser visto como um indivíduo que possui direitos (Ariès, 2006).

John Dewey (1859–1952), filósofo e pedagogo norte-americano, apresentou uma nova estrutura educacional, com novas técnicas pedagógicas que conduziram a

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modificações significativas no modelo educacional daquele período. A nova filosofia, conhecida como Escola Nova ou Escola Progressista, defendia um modelo educacional que valorizava as qualidades individuais e procurava humanizar e transformar socialmente o indivíduo (Dewey, 1952; 1958; 1959; 1979a).

O pensamento pedagógico de Dewey (1979b) concebe a educação como um processo de busca ativa de conhecimento por parte do aluno, exercendo sua liberdade. O objetivo da educação é visto como a formação de estudantes com competência e criatividade, capazes de gerenciar sua própria liberdade.

Dewey criticou a cultura de obediência e submissão, enfatizando o seu desgosto mediante a memorização de conteúdos pelos educandos presente nas escolas, a qual para ele era na verdade um obstáculo à verdadeira educação. Ele então postulou que para o progresso da ordem social, deveriam ser buscados os princípios da iniciativa, da originalidade e da cooperação. O movimento da Escola Nova, que se fortaleceu com seus seguidores, era focado no aluno, demandando metodologias ativas e criativas (Dewey, 1952; 1953; 1958; 1959).

Aprender é próprio do aluno: só ele aprende, e por si; portanto, a iniciativa lhe cabe. O professor é um guia, um diretor; pilota a embarcação, mas a energia propulsora deve partir dos que aprendem. (Dewey, 1979a, p.43)

O ato de pensar por parte do aluno, mobilizado diante de um problema, ocorreria em cinco etapas: a percepção de uma dificuldade, a análise dessa dificuldade, as alternativas para sua solução, a experimentação de várias tentativas até a aprovação mental de uma delas e a ação como a prova final para a ação proposta, sendo verificada de maneira científica (Gadotti, 2005).

O único caminho direto para o aperfeiçoamento duradouro dos métodos de ensinar e aprender consiste em centralizá-los nas condições que estimulam, promovem e põem em prova a reflexão e o pensamento. Pensar é o método de se aprender inteligentemente, de aprender aquilo que se utiliza e recompensa o espírito.

(Dewey, 1959, p.167)

No século XX, a educação é o resultado de um processo que passa por diversos pensadores, os quais discutem os modelos de ensino e destacam a necessidade de autonomia do estudante. Podemos destacar as ideias de

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aprendizagem pelo condicionamento de Montessori, a aprendizagem por experiência de Frenet, as teorias de aprendizagem de Piaget e Vygotsky, a aprendizagem significativa de David Ausubel, a crítica ao modelo de educação bancária de Paulo Freire e o construtivismo do francês Michael Foucault (Farias, Martin & Cristo, 2015).

Um marco de nosso momento histórico é a introdução das tecnologias móveis, capazes de flexibilizar os encontros presenciais. Essa hibridização tem sido utilizada para a execução de problemas e projetos, em metodologias como a Peer Instruction, a Project-Based Learning e a Team-Based Learning.

O que constituem as chamadas ‘metodologias ativas de aprendizagem’? Elas são metodologias nas quais o aluno é o protagonista central, enquanto os professores são mediadores ou facilitadores do processo. O professor e o livro didático não são mais os meios exclusivos do saber em sala de aula (Pereira, 2012). O aluno é instigado a participar da aula, por trabalhos em grupo ou discussão de problemas. Ele é assim retirado de uma posição cômoda, puramente receptora de informações, para um contexto em que poderá desenvolver novas competências, se tornando o centro do processo de ensinoaprendizagem (Borges & Alencar, 2014). Mitre et al. (2008) destacam algumas destas: a iniciativa, a criatividade, a criticidade reflexiva, a capacidade de autoavaliação, cooperação para se trabalhar em equipe, responsabilidade, ética e a sensibilidade na assistência.

O ensino através de projetos e da solução de problemas podem ser considerados exemplos de metodologias ativas (Barbosa & Moura, 2013). O aluno é desafiado a realizar tarefas mentais de alto nível, como análise, síntese e avaliação.

Assim, Bonwell e Eison (1991) definem essas estratégias de aprendizagem como aquelas em que ao mesmo tempo em que o aluno faz alguma coisa, ele pensa sobre as coisas que está fazendo.

Tornar os alunos responsáveis pela própria aprendizagem implica que eles deverão desempenhar uma série de tarefas. Woods (1994) elenca as seguintes:

a. explorar o problema, levantar hipóteses, identificar e elaborar as questões de investigação;

b. tentar solucionar o problema com o que se sabe;

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c. identificar o que não se sabe e o que é preciso saber para solucionar o problema;

d. priorizar as necessidades de aprendizagem, estabelecer metas e objetivos de aprendizagem e alocar recursos de modo, a saber, o que, quanto e quando é esperado e, para a equipe, determinar as tarefas individuais;

e. planejar, delegar responsabilidades para o estudo autônomo da equipe;

f. compartilhar o novo conhecimento para que todos os membros aprendam os conhecimentos pesquisados pela equipe;

g. aplicar o conhecimento para solucionar o problema; e

h. avaliar o novo conhecimento, a solução do problema e a eficácia do processo utilizado, refletindo sobre o processo.

Segundo Barbosa e Moura (2013), a aprendizagem ativa ocorre por meio da interação do aluno com o assunto estudado, ouvindo, falando, perguntando, discutindo, fazendo e ensinando, sendo estimulado a construir o conhecimento ao invés de recebê-lo passivamente. Aplicar os aprendizados em contextos diferentes daqueles em que foram obtidos exigirá mais do que simples decoração ou solução mecânica de exercícios. Exigirá o domínio de conceitos, flexibilidade de raciocínio e capacidades de análise e abstração (Micotti, 1999). Ao realizar tais reflexões, o aluno terá uma maior clareza sobre o conteúdo. Futuramente, esse conhecimento construído não precisará ser retomado, apenas relembrado (Zabala, 2001).

Além da educação básica, essas metodologias têm sido amplamente divulgadas em universidades do exterior e implantadas em instituições do Brasil (Pereira, 2012). A sua utilização induz a que os alunos se interessem mais pelas aulas, pois por meio dessa abordagem, sua curiosidade é despertada devido à utilização de situações de seu cotidiano, trazendo novas descobertas construídas a partir de informações já disponíveis ao aluno (Borges & Alencar, 2014).

Qual é então o papel do professor nesse processo? Ele é visto como um parceiro, sendo corresponsável com os alunos, planejando o curso juntos e utilizando técnicas que favoreçam a participação (Masetto, 2003). Contudo, é importante que os

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professores saibam quais competências e habilidades pretendem que sejam desenvolvidas no aluno.

Caso essas competências não sejam explícitas, a atividade perde parte de seu valor (Morán, 2015).

O professor atua como orientador, supervisor e facilitador do processo de aprendizagem, não apenas como a fonte única de informações e conhecimentos (Barbosa & Moura, 2013). Ele torna-se responsável por promover o intercâmbio coletivo entre os estudantes, promovendo o movimento do saber atual para o saber a ser alcançado (Ajello, 2005).

CLASSIFICAÇÃO

Nos Estados Unidos e Israel, buscaram-se metodologias que pudessem ajudar a superar preconceitos étnico-raciais no ambiente escolar, auxiliando na estrutura da sala de aula e nos processos de ensino. Essa compreensão brotou da visão de que grupos de estudos e de trabalhos colaborativos estimulam uma parceria entre os diferentes indivíduos participantes, indo além de uma simples soma de mãos para a execução. Os pares trabalham em sistema de interdependência na resolução de problemas ou na realização de uma tarefa proposta pelo professor. Em um grupo de trabalho, abre-se espaço para a convivência, o reconhecimento, o respeito e a felicidade (Torres & Irala, 2007).

As metodologias ativas também proporcionam ao aluno com deficiência e aos seus colegas sem deficiência a interação e integração, em turmas regulares no ambiente escolar, melhorando a aprendizagem de ambos os grupos (Torres & Irala, 2007). Camargo (2016) enfatiza em suas pesquisas na área de educação em ciências para alunos com deficiência visual que a interação e integração em sala de aula entre os alunos com e sem deficiência proporcionam aos estudantes a possibilidade de conhecer o outro, e faz com que os educandos percebam as capacidades, habilidades e limites de cada colega, construindo uma visão mais tolerante com respeito e com solidariedade ao próximo.

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Nesse contexto, surgiram muitas das propostas atuais sobre as aprendizagens colaborativa e cooperativa (Torres & Irala, 2007). Enquanto alguns autores tratam os termos como sinônimos ou como complementares (Torres & Irala, 2007), outros diferenciam as atividades colaborativas das cooperativas (Dillenbourg, 1999;

McInnerney & Roberts, 2004). Mas ambos tratam de práticas proativas de resolução de problemas em grupos (Kemczinski, Marek, Hounsell & Gasparini, 2007).

Costa (2005, apud Damiani, 2008), por exemplo, aponta que apesar de ambos os termos iniciarem pelo prefixo co-, indicando ação conjunta, a cooperação envolve ajuda mútua na execução de tarefas, podendo haver relações desiguais e hierárquicas entre os participantes do grupo. Já na colaboração os membros trabalham juntos, apoiando-se a fim de atingir objetivos comuns, com a liderança sendo compartilhada em um processo de confiança mútua.

A aprendizagem cooperativa é uma metodologia na qual os alunos, em grupos pequenos e heterogêneos, se entreajudam no processo de aprendizagem e avaliam a forma como trabalham, com vista a alcançarem objetivos comuns (Lopes & Silva, 2010). Já na aprendizagem colaborativa não existem relações hierárquicas. Os membros do grupo são capazes de ouvir, dividir ideias e trabalhar em conjunto, possibilitando uma interação entre eles (Kemczinski, Marek, Hounsell & Gasparini, 2007).

Pode-se dizer que no processo de cooperação o professor possui mais papeis a desempenhar, pois o trabalho é controlado e organizado por ele, enquanto no processo colaborativo o processo é mais aberto e o aluno se torna mais ativo (Torres

& Irala, 2007; Melim, 2014). Pode-se perceber também que há uma subordinação da colaboração à cooperação, uma vez que o trabalho colaborativo depende da cooperação entre os sujeitos do grupo (Torres, Alcântara & Irala, 2004), mas o contrário não se aplica (Kemczinski, Marek, Hounsell & Gasparini, 2007). Em ambas as categorias, o problema a ser estudado é apresentado pelo professor aos alunos, e estes devem resolvê-lo de forma ativa, interagindo com seus colegas, descobrindo a melhor maneira de abordar o tema proposto.

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As metodologias ativas têm o potencial de despertar a curiosidade, à medida que os alunos se inserem na teorização e trazem elementos novos, ainda não considerados nas aulas ou na própria perspectiva do professor. (Berbel, 2011, p.28)

Ao longo dos anos foram sendo elaboradas diversas formas de metodologias ativas, as quais muitas vezes são confundidas devido às suas similaridades. No decorrer desta pesquisa, deparamo-nos com a falta de uma classificação que conseguisse situar claramente estas metodologias ativas em relação à categorização de aprendizagens colaborativas e aprendizagens cooperativas. No Quadro 1, apresentamos nossa classificação em acordo com os estudos bibliográficos em relação a ambos os tipos de aprendizagem.

Quadro -Classificação das metodologias ativas de acordo com os processos de aprendizagens colaborativas e cooperativas

Classificação das metodologias ativas

Aprendizagem Baseada em Problemas (Problem-Based Learning – PBL)

Problematização

Aprendizagem Baseada em Projetos (Project-Based Learning) Aprendizagem Baseada em Times (Team-Based Learning – TBL)

Instrução por Pares (Peer-Instruction) Sala de Aula Invertida (Flipped Classroom) Jigsaw

Divisão dos Alunos em Equipes para o Sucesso (Student-Teams- Achievement Divisions – STAD)

Torneios de Jogos em Equipes (Teams-Games-Tournament – TGT)

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Realizada esta classificação inicial, apresentamos a seguir a explanação de cada metodologia ativa de aprendizagem citada, descrevendo como cada uma se apresenta e é realizada no ambiente escolar.

Aprendizagem Baseada em Problemas (Problem-Based Learning – PBL)

A metodologia conhecida como Aprendizagem Baseada em Problemas surgiu no final dos anos 60, na McMaster University Medical School, no Canadá, inspirado no método de estudos de caso da escola de Direito da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos (Schmidt, 1993). O PBL foi sendo reconhecido como uma abordagem que gera benefícios, e acabou ganhando ênfase em outras áreas, como Enfermagem, Engenharia, Serviço Social, Direito, Negócios e Economia (Stanley & Marsden, 2012).

O processo de Aprendizagem Baseada em Problemas pode ser resumido no seguinte conjunto de procedimentos:

a. os alunos são apresentados a algum problema e, em grupo, organizam suas ideias, tentam definir o problema e solucioná-lo com seus conhecimentos prévios;

b. após discutirem, levantam questionamentos de aprendizagem sobre os aspectos do problema que não compreendem;

c. planejam sobre os modos (quem, quando, como e onde) estas questões serão investigadas;

d. em um reencontro, exploram as questões anteriores, fazendo uso de seus novos conhecimentos obtidos para a resolução do problema; e e. ao final do trabalho com o problema, os alunos avaliam o processo, a si

mesmos e a seus colegas, uma competência necessária para uma aprendizagem autônoma (Barrows & Tamblyn, 1980).

No enfoque pedagógico, o PBL é percebido como uma metodologia fundamentada na Pedagogia Construtivista. Utilizando-se de problemas reais como ponto de partida, o diálogo entre os participantes do grupo é direcionado para a resolução de problemas propostos pelo professor (Tan, 2003). É autodirigido, pois os

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alunos assumem a responsabilidade individual e colaborativa para levantar e solucionar as questões e pelas avaliações. É autorreflexivo, pois os alunos monitoram sua compreensão e ajustam as estratégias para a aprendizagem (Hung, Jonassen &

Liu, 2008).

O professor é um facilitador, apoiando e modelando os processos de raciocínio, sondando o conhecimento dos alunos e nunca fornecendo respostas diretas às questões (Hung, Jonassen & Liu, 2008). Ele utiliza um problema para iniciar, direcionar, motivar e focar o aluno. A abordagem também lhe traz vantagens, pois diversas vezes o próprio professor aprende ao longo do curso (Silva, Kuri & Casale, 2012).

Problematização

A metodologia da problematização é comparável à Aprendizagem Baseada em Problemas, pois em algumas abordagens de ensino apresenta similaridades com o mesmo (Oliveira, 2015). As duas abordagens apresentam os problemas como um dos pontos comuns, mas há uma abordagem distinta dos problemas pelos integrantes do processo de ensino-aprendizagem (Berbel, 1998).

Na metodologia da Problematização, os alunos identificam os problemas por meio da observação da realidade, na qual as questões de estudo estão ocorrendo. A realidade é problematizada pelos alunos e não há restrições quanto aos aspectos incluídos na formulação dos problemas, já que são extraídos da realidade social, dinâmica e complexa. Na Aprendizagem Baseada em Problemas, os problemas de ensino são elaborados por uma comissão especial, a fim de cobrir conhecimentos essenciais do currículo, necessários para serem considerados aptos para exercer a profissão (Berbel, 1998).

Este método permite o desenvolvimento do raciocínio reflexivo e crítico do educando, através de uma problematização da realidade, e a busca pela resolução do problema detectado (Vasconcellos, 1999). Através desta problematização, o aluno inicia estudos e investigações, refletindo sobre fatos que podem dar uma maior

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compreensão do caso. Este método, baseado na pesquisa, busca formar profissionais críticos e criativos, sensibilizados para a sua atuação (Berbel, 2005).

A metodologia problematizadora com o “Arco de Maguerez” vem sendo utilizada desde 1992 na Universidade Estadual de Londrina (UEL), pela professora Neusi Berbel numa perspectiva de transformar a educação. A base para a aplicação deste método é o “Arco de Maguerez”, elaborado na década de 70 e publicado por Bordenave e Pereira em 1977 (Berbel, 1998).

Esta metodologia possui cinco etapas, que seguem uma sequência de processo: a) observação da realidade e definição de um problema, b) pontos-chave, c) teorização, d) hipóteses de solução e e) aplicação à realidade. Abaixo uma breve descrição do que cada etapa deve compreender na sua execução (Berbel, 1998):

Observação da realidade: os alunos são levados a conhecer a realidade deles, a identificar as características apoiados pelo professor, a selecionar umas das situações vistas e a problematizarem.

Pontos-chave: inicia-se uma reflexão sobre os possíveis fatores e determinantes do problema, para que haja uma maior compreensão da complexidade do mesmo, culminando na definição dos pontos-chave do estudo.

Teorização: construção de respostas mais elaboradas para o problema, dados obtidos, analisados e discutidos, servindo como base para a modificação da realidade.

Hipóteses de Soluções: pensar em alternativas criativas e originais para o problema.

Aplicação à realidade: apresentação da solução da problematização.

Problematizar é ser capaz de resolver o problema proposto, arquitetando os conteúdos, reorganizando-os, entendendo-os e buscando alternativas para assim construir a melhor solução.

Aprendizagem Baseada em Projetos (Project-Based Learning)

Em meados dos anos 1900, a metodologia de Aprendizagem Baseada em Projetos foi desenvolvida por John Dewey (1859-1952), que defendeu a capacidade de pensar dos alunos “mediante o aprender a fazer”. Dewey valorizou, questionou e

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contextualizou como estes alunos seriam capazes de adquirir conhecimentos através de situaçõesproblema apresentadas em forma de projetos que envolveriam o conteúdo curricular, e que os educandos se desenvolvessem no aspecto físico, emocional e intelectual, através desta metodologia experimental (Dewey, 1958, 1959;

Masson, Miranda, Munhoz Jr. & Castanheira, 2012).

A metodologia da Aprendizagem Baseada em Projetos envolve os alunos na obtenção de informações e competências através da busca da resolução de problemas complexos, autênticos, os quais são planejados em busca de uma aprendizagem eficiente e dinâmica, em que o aluno é ativo na construção do seu conhecimento (Dewey, 1958; 1959; Masson, Miranda, Munhoz Jr. & Castanheira, 2012).

A natureza do problema a resolver determina o objetivo do pensamento e este objetivo orienta o processo do ato de pensar. (Dewey, 1979a, p.63)

Adquirir autonomia sobre seus interesses e habilidades permite que o aluno procure, pesquise sobre o tema a ser abordado pelo projeto e perceba que vale apena aprender (Helm & Katz, 2001; Moursund, 1998).

De acordo com Moura e Barbosa (2012), as seguintes diretrizes são algumas das que têm sido indicadas pelas experiências para o desenvolvimento de um projeto de aprendizagem:

a. grupos de trabalho com número reduzido de participantes (4 – 6 alunos);

b. definição de prazos (2 – 4 meses);

c. definição de temas por meio da negociação entre aluno e professor, levando em conta interesses e objetivos didáticos;

d. uso de múltiplos recursos, incluindo aqueles que os próprios alunos podem providenciar dentro ou fora do ambiente escolar;

e. socialização dos resultados dos projetos em diversos níveis, como a sala de aula, a escola e a comunidade.

Segundo esses mesmos autores, os projetos podem ser classificados em três categorias:

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Projeto construtivo: seu objetivo é construir algo novo, introduzindo alguma inovação, propondo uma solução nova para um problema ou situação.

Projeto investigativo: seu objetivo é o desenvolvimento de pesquisa sobre uma questão ou situação, empregando-se o método científico.

Projeto didático (ou explicativo): procura responder questões do tipo: “Como funciona? Para que serve? Como foi construído?” Busca explicar, ilustrar ou revelar os princípios científicos de funcionamento de objetos, mecanismos, sistemas etc.

Aprendizagem Baseada em Times (Team-Based Learning – TBL)

Neste método colaborativo, a turma é dividida em grupos de 5 a 8 estudantes, procurando manter-se a heterogeneidade entre os grupos. A composição das equipes deve ser mantida constante ao longo do desenvolvimento do curso. Pode-se realizar a leitura de um artigo de revisão sobre o tema a ser tratado. O tema a ser discutido pode já ter sido abordado em outras aulas e disciplinas ou um ser um tema inédito, valorizando-se o conhecimento prévio dos estudantes (Ravindranath, Gay & Riba, 2010).

A aprendizagem é favorecida por meio da interação do grupo. Após as questões levantadas serem discutidas dentro dos grupos, as respostas são apresentadas à classe, revisando assim os principais pontos do assunto (Ravindranath, Gay & Riba, 2010).

O método vai além de cobrir o conteúdo, pois possibilita o uso de conceitos do curso para a resolução de problemas. Assim, é capaz de fornecer aos participantes conhecimentos tanto conceituais quanto processuais (Michaelsen & Sweet, 2008).

Instrução por Pares (Peer-Instruction)

Essa metodologia colaborativa, desenvolvida pelo professor Eric Mazur da Universidade de Harvard, tem como objetivo o envolvimento de todos os alunos durante a aula, promovendo atividades em que eles são estimulados a aplicar os conceitos discutidos naquele momento, enquanto os explicam para os seus colegas.

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Os pares agem como mediadores do processo de aprendizagem, assumindo a responsabilidade pelo ensino do colega (Crouch & Mazur, 2001).

Os alunos são incentivados a encontrar alguém com respostas diferentes. O professor circula pela sala, incentivando discussões produtivas e conduzindo o pensamento dos estudantes. Ao final, o professor explica a resposta correta e pode apresentar outra questão ou passar para um tópico diferente (Watkins & Mazur, 2010).

Sala de Aula Invertida (Flipped Classroom)

Em 1993, Alison King publicou o artigo “From Sage on the Stage to Guide on the Side”, onde ela destacava a importância de se utilizar o tempo de aula para o processamento de informações, reconstruindo-as de maneiras novas e pessoalmente significativas, ao invés de para a sua mera transmissão. Apesar de não tratar diretamente do conceito de uma “inversão” da sala de aula, o seu trabalho é frequentemente citado como um ímpeto para o surgimento dessa metodologia (King, 1993).

A Sala de Aula Invertida foi desenvolvida em escolas do ensino médio americano, por professores que precisaram criar estratégias diferenciadas para atender a alunos que se ausentavam por longos períodos de tempo das aulas regulares para jogos, pois muitos eram atletas. Os professores passaram então a gravar as aulas e a postá-las no ambiente virtual, a fim de que os alunos pudessem acompanhar regularmente a turma. Quando regressavam das viagens, após assistirem os vídeos gravados, esses alunos traziam dúvidas e contribuições. Os professores resolveram então inverter a lógica das aulas para todos os alunos: os alunos assistiriam aos vídeos com o conteúdo teórico nos locais e horários mais adequados. Depois, se reuniriam com os professores não mais para assistir a aula expositiva, mas para a aplicação do conteúdo visto previamente (Schneider, Suhr, Rolon & Almeida, 2013).

A sala de aula invertida constitui-se então uma modalidade de e-learning (“aprendizagem eletrônica”), com o conteúdo e as instruções sendo estudados pelos alunos de forma online e a sala de aula sendo o local para trabalhar os conteúdos já

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estudados de forma colaborativa. Nos momentos de encontro, são realizadas atividades práticas como resolução de problemas e projetos, discussão em grupo, laboratórios etc. (Valente, 2014). A combinação de aprendizagem por desafios, problemas reais e jogos com a aula invertida permite que os alunos aprendam fazendo, juntos e a seu próprio ritmo (Morán, 2015).

Jigsaw

A metodologia Jigsaw foi a pioneira no ensino cooperativo, sendo desenvolvida pelo psicólogo Elliot Aronson em 1978, no Texas (Aronson, 1978). Esse método envolve grupos de alunos, os quais ensinam uns aos outros um assunto no qual eles se tornaram “especialistas”. Segundo Aronson (1978), nesta metodologia os alunos trabalham em pequenos grupos, de 5 a 6 membros. Cada aluno receberá informações que ninguém mais no seu grupo terá acesso, tornando-o assim um “perito” no assunto.

Os alunos da sala de aula se reorganizam em “especialistas” para estudarem o assunto. Depois da preparação, eles retornam aos seus grupos e compartilham uns com os outros o que aprenderam. A seguir, os alunos são testados sobre o assunto para receber recompensas. Cada integrante do grupo é essencial para o resultado final.

Os alunos são mais ativos na sua participação em sala de aula, assumindo mais responsabilidades para a sua própria aprendizagem e a de seus colegas (Colosi

& Zales, 1998). Slavin (1989) analisou vários estudos e concluiu juntamente com Newmann e Thompson (1987) que a metodologia Jigsaw é pouco eficaz academicamente em relação às técnicas cooperativas já conhecidas, mas eficiente quando comparada aos métodos convencionais de ensino.

Divisão dos Alunos em Equipes para o Sucesso (Student-Teams- Achievement Divisions – STAD)

O método STAD foi desenvolvido nos anos de 1970 por Robert Slavin e seus associados na Universidade Johns Hopkins, tendo sua esfera na metodologia cooperativa (Slavin, 1994). O sucesso do grupo depende das contribuições individuais

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de cada integrante, introduzindo um fator de responsabilidade individual. Assim, no sentido de melhorar as prestações de cada elemento e possibilitar o sucesso do grupo, são estabelecidas relações de entreajuda, de forma a garantir que todos tenham um bom desempenho em situações de avaliação individual. Todos os elementos podem contribuir para o sucesso do seu grupo, sendo cada participante importante e indispensável (Andrade, 2011).

Os alunos são organizados em grupos, nos quais se ajudam nas atividades sugeridas pelo professor. O objetivo central é a aprendizagem do conteúdo, centralizada nos conceitos básicos. Os grupos realizam atividades elaboradas pelo professor e posteriormente são avaliados pelo mesmo através de minitestes individuais, os quais permitem avaliar o rendimento do trabalho em grupo. Os grupos que apresentarem melhores resultados são premiados (Slavin, 1994).

Nesta técnica todos os alunos se beneficiam. Andrade (2011) afirma que o método STAD é utilizado com alunos portadores de necessidades educacionais especiais, onde se verificam resultados positivos no aproveitamento escolar, no comportamento e na relação com os colegas em classe.

Torneios de Jogos em Equipes (Teams-Games-Tournament – TGT)

O método TGT foi desenvolvido por David Devries e Keith Edwards, em 1972, na Universidade Johns Hopkins. DeVries, Mescon e Shackman (1975) afirmam que a metodologia está compreendida na técnica cooperativa.

As equipes são formadas de forma heterogênea nas dimensões de habilidade, sexo e etnia, competindo com integrantes de outra equipe em mesas de torneios (DeVries, Mescon & Shackman, 1975). A equipe que obtiver maior desempenho é recompensada (Salam, Hossain & Rahman, 2015).

Com esta técnica, os colegas se ajudam mutuamente, proporcionando aos alunos de baixo rendimento oportunidades iguais de sucesso. Aos alunos adquirirem conceitos e competências dos temas abordados, com sucesso, eles ganham os jogos, mediante a maior pontuação (DeVries, Mescon & Shackman, 1975). O TGT é semelhante ao STAD, no entanto membros de diferentes times competem entre si em

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testes de desempenho acadêmico. Os pontos obtidos pelos indivíduos são contabilizados para o grupo (Slavin, 1994).

Os torneios de jogos são baseados em jogos de perguntas e respostas, sendo utilizadas questões de múltipla escolha, verdadeiro ou falso, ou outros tipos de questões objetivas. O professor não pode ajudar os alunos durante os torneios (DeVries, Mescon & Shackman, 1975).

Os princípios das metodologias ativas de ensino

As transformações sociais, econômicas, políticas, culturais e tecnológicas das últimas décadas têm impactado de forma significativa a vida das pessoas, as relações estabelecidas entre elas, o mundo do trabalho e, por conseguinte, a escola. Esta última talvez seja a que mais tem sido “sacudida”, dada a solidez histórica de sua estrutura.

Esse cenário de transformações pode ser melhor compreendido a partir das contribuições de Bauman (2009), quando contrasta o estágio atual da humanidade denominado de líquido, com o anterior, denominado de sólido. Para ele, o estágio sólido corresponde a um período em que a durabilidade era a lógica, e os conhecimentos adquiridos pelo sujeito davam suporte à resolução de problemas pelo resto da vida, haja vista os contextos previsíveis e duráveis em que vivia. Já o estágio líquido é, segundo Bauman (2009), a condição sócio-histórica da contemporaneidade, e é caracterizado pela fluidez e incerteza, em que a imprevisibilidade é a palavra de ordem. Nesse contexto de impermanência, situa-se a educação contemporânea e, mais precisamente, a escola, com seus processos, com os sujeitos que a constituem, com as relações docente-estudante-conhecimento e com as práticas docentes.

A partir dessa reflexão, é possível inferir que, em oposição às experiências pedagógicas “sólidas” e conteudista, as atuais demandas sociais exigem do docente uma nova postura e o estabelecimento de uma nova relação entre este e o conhecimento, uma vez que cabe a ele, primordialmente, a condução desse processo.

Com efeito, essas exigências implicam em novas aprendizagens, no desenvolvimento de novas competências, em alteração de concepções, ou seja, na construção de um

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novo sentido ao fazer docente, imbuído das dimensões ética e política (Bassalobre, 2013).

Assim, as contínuas e rápidas mudanças da sociedade contemporânea trazem em seu bojo a exigência de um novo perfil docente. Daí a urgente necessidade de repensar a formação de professores, tendo como ponto de partida a diversidade dos saberes essenciais à sua prática, transpondo, assim, a racionalidade técnica de um fazer instrumental para uma perspectiva que busque ressignificá-la, valorizando os saberes já construídos, com base numa postura reflexiva, investigativa e crítica.

Dessa perspectiva, é possível inferir que os saberes necessários ao ensinar não se restringem ao conhecimento dos conteúdos das disciplinas. Quem leciona sabe muito bem que, para ensinar, dominar o conteúdo é fundamental, mas reconhece também que este é apenas um dos aspectos desse processo.

Depreende-se, ainda, dessa ideia que a prática docente materializa um percurso muito singular de cada sujeito no movimento de tornar-se professor ou professora e é constituída de diferentes saberes imbricados de concepções históricas.

Com efeito, é ainda muito comum a influência do método tradicional de ensino, centrado no docente e na transmissão de conteúdo, em que os estudantes mantêm uma postura passiva, apenas recebendo e memorizando as informações numa atitude de reprodução.

Não obstante, percebe-se, por vezes, grandes diferenças entre as ações e os discursos dos professores e professoras ao explicitarem ou referirem-se à sua prática docente, o que sugere uma contradição resultante da ausência de um pensar sobre, ou ainda, num conflito entre o saber escolar e a reflexão na-ação do professor e do aluno (SCHÖN, 1995).

Um exemplo que evidencia essa dualidade reside nos discursos comumente verbalizados por docentes e estudantes em que estes últimos reclamam das aulas rotineiras, enfadonhas e pouco dinâmicas, ao passo que os primeiros destacam a frustração pela pouca participação, desinteresse e desvalorização por parte dos estudantes em relação às aulas e às estratégias criadas para chamar atenção destes.

Percebe-se que a utilização de novos recursos tecnológicos durante as aulas não

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altera esse cenário de insatisfação coletiva, posto que, sozinha, a tecnologia não garante aprendizagem, tampouco transpõe velhos paradigmas.

Com base nesse cenário, assegura-se que um dos caminhos viáveis para intervir nessa realidade resida em oportunizar aos professores e professoras refletirem na e sobre a sua prática pedagógica, a fim de que possam construir um diálogo entre suas ações e palavras, bem como outras formas de mediação pedagógica.

Ademais, acredita-se que toda e qualquer ação proposta com a intenção de ensinar deve ser pensada na perspectiva daqueles que dela participarão, que via de regra, deverão apreciá-la. Desse modo, o planejamento e a organização de situações de aprendizagem deverão ser focados nas atividades dos estudantes, posto que é a aprendizagem destes, o objetivo principal da ação educativa.

Com base no explicitado, há necessidade de os docentes buscarem novos caminhos e novas metodologias de ensino que foquem no protagonismo dos estudantes, favoreçam a motivação e promovam a autonomia destes. Assim, atitudes como oportunizar a escuta aos estudantes, valorizar suas opiniões, exercitar a empatia, responder aos questionamentos, encorajá-los, dentre outras, são favorecedoras da motivação (BERBEL, 2011) e da criação de um ambiente favorável à aprendizagem.

É nessa perspectiva que se situa o método ativo - tido aqui como sinônimo de metodologias ativas - como uma possibilidade de deslocamento da perspectiva do docente (ensino) para o estudante (aprendizagem), ideia corroborada por Freire (2015) ao referir-se à educação como um processo que não é realizado por outrem, ou pelo próprio sujeito, mas que se realiza na interação entre sujeitos históricos por meio de suas palavras, ações e reflexões. Com base nessa ideia, é possível inferir que, enquanto o método tradicional prioriza a transmissão de informações e tem sua centralidade na figura do docente, no método ativo, os estudantes ocupam o centro das ações educativas e o conhecimento é construído de forma colaborativa.

Assim, em contraposição ao método tradicional, em que os estudantes possuem postura passiva de recepção de teorias, o método ativo propõe o movimento inverso, ou seja, passam a ser compreendidos como sujeitos históricos e, portanto, a

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assumir um papel ativo na aprendizagem, posto que têm suas experiências, saberes e opiniões valorizadas como ponto de partida para construção do conhecimento.

Com base nesse entendimento, o método ativo é um processo que visa estimular a autoaprendizagem e a curiosidade do estudante para pesquisar, refletir e analisar possíveis situações para tomada de decisão, sendo o professor apenas o facilitador desse processo (Bastos, 2006, apud Berbel, 2011).

Com efeito, essa mudança não é simples de ser efetivada, posto que toda metodologia de ensino e de aprendizagem parte de uma concepção de como o sujeito aprende. Dessa forma, cada um, no seu percurso formativo, quer como estudante, quer como professor ou professora, age em consonância com as concepções de educação e de aprendizagem que possui. Portanto, faz-se necessário trazê-las à reflexão como possibilidade de ressignificação da prática docente.

A partir dessa reflexão e das considerações já feitas é que se justifica a constituição deste estudo, que tem como objetivo buscar pontos de convergência entre as metodologias ativas de ensino e outras abordagens já consagradas do âmbito da (re) significação da prática docente.

Para tanto, realizou-se um estudo bibliográfico das principais abordagens teóricas voltadas para os processos de ensino e de aprendizagem, pautados nas principais teorias de aprendizagem (Moreira, 2011a), na aprendizagem pela interação social, preconizada por Lev Vygotsky (1896-934), na aprendizagem pela experiência (Dewey, 1978), a aprendizagem significativa de David Ausubel (19182008) e levando em consideração a perspectiva freiriana da autonomia (Freire, 2015).

Cabe salientar, ainda, que este estudo integra o projeto de pesquisa “Mestrados para a Formação de Docentes: Um Locus de (re) Construção e de Aprendizagem”, que investiga as contribuições dos cursos de licenciatura e dos programas de Pós- Graduação de uma Instituição de Ensino Superior aos quais estão vinculados, no que ser refere à formação de profissionais da educação com perfis diferenciados.

Destaca-se ainda que a construção efetiva de profissionais diferenciados requer, na concepção da equipe do projeto, uma abordagem baseada na utilização de metodologias ativas de ensino na formação inicial desses sujeitos, além disso, acredita-se ainda que o exercício refletido dessa vivência poderá fortalecer uma

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prática docente mais consciente e efetiva, favorecendo assim a formação de sujeitos autônomos e, por conseguinte, a construção de uma educação com qualidade social para todos.

AS METODOLOGIAS ATIVAS DE ENSINO E SEUS PRINCÍPIOS

Hoje, o método ativo tem sido amplamente divulgado em universidades estrangeiras e vem construindo diferenciais em instituições brasileiras que inseriram este referencial em sua organização metodológica, sobretudo em cursos de Ensino Superior da área da saúde (Abreu, 2009).

Cabe destacar que sua essência não se constitui em algo novo, pois, ainda segundo Abreu (2009), o primeiro indício dos métodos ativos encontra-se na obra Emílio de Jean Jacques Rosseau (1712-1778), tido como o primeiro tratado sobre filosofia e educação do mundo ocidental e na qual a experiência assume destaque em detrimento da teoria.

Vale mencionar que, na construção metodológica da Escola Nova, a atividade e o interesse do aprendiz foram valorizados, e não os do professor. Assim, Dewey, por meio do seu ideário da Escola Nova, teve grande influência nessa ideia ao defender que a aprendizagem ocorre pela ação, colocando o estudante no centro dos processos de ensino e de aprendizagem.

No intuito de esclarecer o que se entende por uma abordagem pautada em metodologias ativas de ensino, apresenta-se a figura a seguir, que sintetiza seus principais princípios. Na sequência, cada um desses princípios é articulado com correntes teóricas consagradas.

Figura - Princípios que constituem as metodologias ativas de ensino

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ALUNO: CENTRO DO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

São incontestáveis as mudanças sociais registradas nas últimas décadas e, como tal, a escola e o modelo educacional vivem um momento de adaptação frente a essas mudanças. Assim, as pessoas e, em especial, os estudantes, não ficam mais restritos a um mesmo lugar. São agora globais, vivem conectados e imersos em uma quantidade significativa de informações que se transformam continuamente, onde grande parte delas, relaciona-se à forma de como eles estão no mundo. Esse movimento dinâmico traz à tona a discussão acerca do papel do estudante nos processos de ensino e de aprendizagem, com ênfase na sua posição mais central e menos secundária de mero expectador dos conteúdos que lhe são apresentados.

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Nessa perspectiva de entendimento é que se situa as metodologias ativas como uma possibilidade de ativar o aprendizado dos estudantes, colocando-os no centro do processo, em contraponto à posição de expectador, conforme descrito anteriormente. Ao contrário do método tradicional, que primeiro apresenta a teoria e dela parte, o método ativo busca a prática e dela parte para a teoria (Abreu, 2009).

Nesse percurso, há uma “migração do ‘ensinar’ para o ‘aprender’, o desvio do foco do docente para o aluno, que assume a corresponsabilidade pelo seu aprendizado”

(Souza; Iglesias; Pazin-Filho, 2014, p. 285).

A partir de uma maior interação do aluno no processo de construção do próprio conhecimento, que, conforme explicitado anteriormente, é a principal característica de uma abordagem por metodologias ativas de ensino, o aprendiz passa a ter mais controle e participação efetiva na sala de aula, já que exige dele ações e construções mentais variadas, tais como: leitura, pesquisa, comparação, observação, imaginação, obtenção e organização dos dados, elaboração e confirmação de hipóteses, classificação, interpretação, crítica, busca de suposições, construção de sínteses e aplicação de fatos e princípios a novas situações, planejamento de projetos e pesquisas, análise e tomadas de decisões (Souza; Iglesias; Pazin-Filho, 2014).

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Fica evidente, assim, que esse princípio está atrelado a uma postura ativa do estudante, na qual irá exercitar sua autonomia, como será explicitado a seguir.

Autonomia

Em um ensino tradicional, baseado na transmissão de conteúdo, o estudante tem uma postura passiva diante dos processos de ensino e de aprendizagem, tendo a função de receber e absorver uma quantidade enorme de informações apresentadas pelo docente. Muitas vezes, não há espaço para o estudante manifestar-se e posicionar-se de forma crítica. Em oposição a isso, ao desenvolver práticas pedagógicas norteadas pelo método ativo, o estudante passa a assumir uma postura ativa (Berbel, 2011; Souza; Iglesias; Pazin-Filho, 2014), exercitando uma atitude crítica e construtiva que fará dele um profissional melhor preparado.

Tomado desse ângulo, está-se estimulando a postura autônoma do estudante, que é um outro princípio teórico fundamental atrelado à essa abordagem.

Berbel (2011, p. 29) corrobora com esse entendimento, acrescentando que essa característica da autonomia é fundamental, no futuro, para o exercício da autonomia:

A perspectiva de Freire (2015) coincide com a abordagem envolvendo o método ativo. De acordo com o educador, um dos grandes problemas da educação

O engajamento do aluno em relação a novas aprendizagens, pela compreensão, pela escolha e pelo interesse, é condição essencial para ampliar suas possibilidades de exercitar a liberdade e a autonomia na tomada de decisões em diferentes momentos do processo que vivencia, preparando-se para o exercício profissional futuro.

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paira no fato de os alunos praticamente não serem estimulados a pensarem autonomamente. Para amenizar esse contexto, o professor deve [...] assegurar um ambiente dentro do qual os alunos possam reconhecer e refletir sobre suas próprias ideias; aceitar que outras pessoas expressem pontos de vista diferentes dos seus, mas igualmente válidos e possam avaliar a utilidade dessas ideias em comparação com as teorias apresentadas pelo professor (Jófili, 2002, p. 196).

Com base nessa citação de Jófili (2002), reportando-se aos pensamentos de Freire, é possível inferir que a postura do docente é significativa nesse processo de exercício da autonomia do estudante.

Segundo Reeve (2009 apud Berbel, 2011, p 28), o professor contribui para promover a autonomia do aluno em sala de aula, quando:

a) Nutre os recursos motivacionais internos (interesses pessoais);

b) Oferece explicações racionais para o estudo de determinado conteúdo ou para a realização de determinada atividade;

c) Usa de linguagem informacional, não controladora;

d) Seja paciente com o ritmo de aprendizagem dos alunos;

e) Reconhece e aceita as expressões de sentimentos negativos dos alunos.

Com base nessa citação, é possível afirmar que as metodologias ativas, quando tomadas como base para o planejamento de situações de aprendizagem, poderão contribuir de forma significativa para o desenvolvimento da autonomia e motivação do estudante à medida que favorece o sentimento de pertença e de coparticipação, tendo em vista que a teorização deixa de ser o ponto de partida e passa a ser o ponto de chegada, dado os inúmeros caminhos e possibilidades que a realidade histórica e cultural dos sujeitos emana.

Problematização da realidade e reflexão

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Embora a problematização da realidade e a reflexão tenham sido considerados dois princípios distintos, percebe-se que são indissociáveis. Assim, são apresentados juntos nesta seção.

No contexto da sala de aula, problematizar implica em fazer uma análise sobre a realidade como forma de tomar consciência dela. Em outra instância, há necessidade de o docente instigar o desejo de aprender do estudante, problematizando os conteúdos. Reportando-se a essa questão, Hengemühle (2014) adverte que, para isso, é fundamental que o docente conheça as situações e os problemas aos quais o conteúdo está ligado. O autor ainda destaca que, muitas vezes, reside aí uma dificuldade, pois nem sempre o docente consegue atender a esse requisito.

Desse ponto de vista, a fragmentação dos conteúdos e sua desarticulação com o contexto social, fato que evidencia a histórica dicotomia entre teoria e prática, pode ser uma das causas de desmotivação, desinteresse e apatia dos estudantes. Daí porque defende-se a ideia de que a educação desenvolvida na escola precisa ser útil para a vida, de modo que os estudantes possam articular o conhecimento construído com possibilidades reais de aplicação prática, ou seja, aprender com sentido, com significado contextualizado.

De acordo com o explicitado, o método ativo constitui-se numa concepção educativa que estimula processos de ensino e de aprendizagem numa perspectiva crítica e reflexiva, em que o estudante possui papel ativo e é corresponsável pelo seu próprio aprendizado.

O método envolve a construção de situações de ensino que promovam uma aproximação crítica do aluno com a realidade; a opção por problemas que geram curiosidade e desafio; a disponibilização de recursos para pesquisar problemas e soluções; bem como a identificação de soluções hipotéticas mais adequadas à situação e a aplicação dessas soluções. Além disso, o aluno deve realizar tarefas que requeiram processos mentais complexos, como análise, síntese, dedução, generalização (Medeiros, 2014, p. 43).

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Essa passagem é suficientemente sugestiva para evidenciar o papel ativo do estudante a partir do uso do método ativo. Ou seja, à medida que são oportunizadas situações de aprendizagem envolvendo a problematização da realidade em que esteja inserido, nas quais o estudante tenha papel ativo como protagonista do seu processo de aprendizagem, interagindo com o conteúdo ouvindo, falando, perguntando e discutindo, estará exercitando diferentes habilidades como refletir, observar, comparar, inferir, dentre outras, e não apenas ouvindo aulas expositivas, muitas vezes mais monologadas que dialogadas.

Visando fortalecer essa discussão, menciona-se, também, a definição de Pereira (2012, p.6): Por Metodologia Ativa entendemos todo o processo de organização da aprendizagem (estratégias didáticas) cuja centralidade do processo esteja, efetivamente, no estudante. Contrariando assim a exclusividade da ação intelectual do professor e a representação do livro didático como fontes exclusivas do saber na sala de aula.

Essa citação incita a pensar sobre os inúmeros caminhos existentes para além do livro didático, partindo dele ou mesmo até chegar a ele. Quantas possibilidades existem de se pensar sobre o que nele está posto, de compará-lo à realidade concreta dos que dele fazem uso(estudantes), de se gerarem hipóteses a fim de se pensar sobre a importância de conhecer a realidade que gerou a teoria contida nele.

Para avançar nesse entendimento, articula-se, ainda, as contribuições de Paulo Freire (1921-1997) acerca da Pedagogia Problematizadora, que parte da premissa de que educador e educando aprendem juntos numa relação dinâmica, na qual a prática, orientada pela teoria, possibilita a reflexão crítica do estudante e o desenvolvimento de sua autonomia como forma de intervir sobre a realidade (Berbel, 2011).

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Trabalho em equipe

O trabalho com metodologias ativas de ensino favorece a interação constante entre os estudantes. A aula expositiva, na qual os alunos sentam-se em carteiras individuais e em que são “proibidos” de trocar ideias com os colegas, dá lugar a momentos de discussão e trocas. Nessa abordagem, “o ponto de partida é a prática social do aluno que, uma vez considerada, torna-se elemento de mobilização para a construção do conhecimento” (Anastasiou; Alves, 2004, p. 6).

Esse movimento de interação constante com os colegas e com o professor, leva o estudante a, constantemente, refletir sobre sobre uma determinada situação, a emitir uma opinião acerca da situação, a argumentar a favor ou contra, e a expressar- se. Koch (2002) complementa essa ideia ao mencionar que o aluno deve saber entender sua realidade. Ao professor cabe a tarefa de despertar no educando uma atitude crítica diante da realidade em que se encontra inserido, preparando-o para “ler o mundo”: a princípio, o seu mundo, mas daí em diante, e paulatinamente, todos os mundos possíveis (KOCH, 2002, p. 159, grifos do autor).

Inovação

O dicionário conceitua o termo “inovar” como “1. Introduzir novidades em. 2.

Renovar; inventar; criar.” (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2016). O termo tem um valor significativo nesse percurso de transcender a abordagem tradicional de ensino, que privilegia unicamente metodologias de transmissão mecânica de conteúdo, em que a função do estudante é de receptor passivo. Para superar esse modelo, é preciso valorizar a inovação em sala de aula, renovando metodologias, inventando metodologias ou criando metodologias. Assim, a metodologia ativa de ensino exige, tanto do professor quanto do estudante, a ousadia para inovar no âmbito educacional

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Professor: mediador, facilitador, ativador

A prática educativa possui papel fundamental na formação humana, posto que sua essência é formadora, e como tal, de natureza ética, por ser uma prática especificamente humana (Freire, 2015). Nesse sentido, o saber docente, de natureza eminentemente ética, constitui-se numa prática cujo eixo constitutivo é a humanidade dos atores num dinâmico e complexo processo de interação.

Tal perspectiva corrobora a ideia da inter-relação existente entre os saberes da docência e a formação humana magistralmente descrita por Freire (2015, p.29):

Percebe-se, assim, a importância do papel do educador, o mérito da paz com que viva a certeza de que faz parte de sua tarefa docente não apenas ensinar os conteúdos, mas também ensinar a pensar certo. Daí a impossibilidade de vir a tornar-se um professor crítico se, mecanicamente memorizador, é muito mais um repetidor de frases e de ideias inertes do que um desafiador.

Em outras palavras, ensinar a pensar significa não transferir ou transmitir a um outro que recebe de forma passiva, mas o contrário, provocar, desafiar ou ainda promover as condições de construir, refletir, compreender, transformar, sem perder de vista o respeito a autonomia e dignidade deste outro. Esse olhar reflete a postura do professor que se vale de uma abordagem pautada no método ativo.

Para potencializar a discussão acerca do papel do professor nessa perspectiva, convém mencionar os ideais de Moran (2015), segundo o qual o professor que se utiliza do método ativo tem o papel de curador e de orientador: Curador, que escolhe o que é relevante entre tanta informação disponível e ajuda a que os alunos encontrem sentido no mosaico de materiais e atividades disponíveis. Curador, no sentido também de cuidador: ele cuida de cada um, dá apoio, acolhe, estimula, valoriza, orienta e inspira. Orienta a classe, os grupos e a cada aluno. Ele tem que ser competente intelectualmente, afetivamente e gerencialmente (gestor de aprendizagens múltiplas e complexas). Isso exige profissionais melhor preparados, remunerados, valorizados.

Infelizmente não é o que acontece na maioria das instituições educacionais (Moran, 2015, p. 24).

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Num contexto com o uso de metodologias ativas, o professor, antes de qualquer outra característica, deve assumir uma postura investigativa de sua própria prática, refletindo sobre ela a fim de reconhecer problemas e propor soluções: Ele não conhece de antemão a solução dos problemas que surgirão em sua prática; deve construí-la constantemente ao vivo, às vezes, com grande estresse, sem dispor de todos os dados de uma decisão mais clara. Isso não pode acontecer sem saberes abrangentes, saberes acadêmicos, saberes especializados e saberes oriundos da experiência (Perrenoud, 2002, p. 11).

Nesse mesmo viés, Schön (1995) considera que um professor reflexivo deve ter um olhar atento para o seu aluno. Mais do que isso, precisa deixar seu aluno expressar-se e planejar sua aula com base no conhecimento tácito expresso pelo aprendiz. O referido autor considera que a prática pedagógica norteada pela reflexão- na-ação do professor que dá razão ao aluno é dividida em momentos: inicialmente, esse professor permite surpreender-se pelo aluno; na sequência, reflete sobre esse fato e procura compreender as implicações em envolvem o aspecto levantado pelo aluno; a partir daí, terá condições de reformular o problema; e, por fim, coloca em prática uma nova proposta.

A fim de enriquecer essa discussão, são pertinentes as contribuições de Berbel (2011, p.25) ao afirmar que, “Na escola, o professor é o grande intermediador desse trabalho, e ele tanto pode contribuir para a promoção de autonomia dos alunos como para a manutenção de comportamentos de controle sobre os mesmos”.

Levando em conta a necessidade da constante expressão verbal do aluno diante dos colegas, cabe ao professor reconhecer de que forma e o momento certo de intervir, de estimular uma reflexão do aluno, ou de provocar um olhar sobre uma outra perspectiva. Essa intervenção será “determinante do clima de acolhimento essencial em processos coletivos de construção de conhecimentos” (Souza; Iglesias;

PazinFilho, 2014, p. 289).

Contudo, cabe mencionar, ainda, que a mudança na prática docente não deve acontecer de forma impositiva para o professor, nem para o estudante. Borges e Alencar (2014) fazem esse importante ressalva, por considerar que a alegria de ensinar não pode ser tirada do professor. Conceber o ato de ensinar como ato de

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facilitar o aprendizado dos estudantes faz com que o professor os veja como seres ativos e responsáveis pela construção de seus conhecimentos, enquanto ele passa a ser visto pelos alunos como facilitador dessa construção, como mediador do processo de aprendizagem, e não como aquele que detém os conhecimentos a serem distribuídos (Oliveira, 2010, p. 29).

APROXIMAÇÕES ENTRE METODOLOGIAS ATIVAS E CORRENTES TEÓRICAS

Contribuições do interacionismo

Em oposição ao inatismo, que considerava que o humano nasce de um jeito e nunca mudará, e ao behaviorismo, segundo o qual o humano aprende através de mecanismos de estímulos, respostas, reforço positivo (recompensas) e reforço negativo (punição), surge o interacionismo, que deixa de ver o aluno como um ser passivo. Essa concepção considera o aluno “[...] como um sujeito ativo que, para construir seus conhecimentos, se apropria dos elementos fornecidos pelos professores, pelos livros didáticos, pelas atividades realizadas em sala e por seus colegas” (Oliveira, 2010, p. 28).

De acordo com a visão interacionista, ao professor cabe a tarefa de propiciar aos alunos o ambiente e os meios necessários para que eles construam seus conhecimentos, facilitando sua aprendizagem. Para tanto, segundo Oliveira (2010), precisa ter ciência uma série de atos complexos, como oferecer um ambiente afetivo na sala de aula que seja favorável ao aprendizado, e dar espaço para que a voz do estudante seja ouvida; sugerir estratégias de aprendizagem; recomendar leituras: [...]

o professor que adota essa concepção de aprendizagem passa a ser corresponsável pelo aprendizado do aluno, que é o principal responsável por esse processo. A adoção da visão interacionista implica que o professor entende a aula como um espaço no qual a voz do aluno deve ser ouvida para que ele possa constituir-se como sujeito da sua aprendizagem. Isso conduz o aluno à formação de uma consciência crítica, que o professor precisa fomentar (Oliveira, 2010, p. 29).

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As principais personalidades dessa corrente teórica são Jean Piaget, que desenvolveu um olhar sobre as etapas do desenvolvimento cognitivo, e Lev Vygotsky, que concebeu uma perspectiva mais social ao interativismo. Interessa, aqui, analisar um pouco mais a fundo esta última perspectiva, que não leva em conta indivíduo isoladamente, nem o contexto isoladamente, mas na interação desses elementos.

Para Moreira (2011b, p.107), mencionando os fundamentos de Vygotsky, “os processos mentais superiores do indivíduo têm origem em processos sociais”. O autor também retrata que é por meio da interação social, isto é, no contato com os pais, os avós, com outras crianças, com professores, por exemplo, que o sujeito irá apropriar- se e internalizar os instrumentos e os signos e, consequentemente, desenvolve-se cognitivamente.

Na concepção de Vygotsky, a interação social é fundamental para o desenvolvimento cognitivo do indivíduo, por provocar constantemente novas aprendizagens a partir da solução de problemas sob a orientação ou colaboração de crianças ou adultos mais experientes. Vygotsky considera que a aprendizagem ocorre dentro da zona de desenvolvimento proximal, que é a distância entre o nível de desenvolvimento cognitivo real do indivíduo (capacidade de resolver problemas independentemente) e o nível de desenvolvimento potencial (capacidade de resolução de problemas sob orientação de um adulto) (Moreira, 2011b). Assim, o professor deve levar em conta o conhecimento real da criança e, a partir disso, provocar novas aprendizagens, as quais, quando tornarem-se conhecimento real, novamente propulsionarão outras aprendizagens.

Para melhor esclarecer esse pensamento de Vygotsky, convém analisar a citação de Nogueira e Leal (2015, p. 161): [...] o professor deverá tomar como ponto de partida o que o aluno já conhece e domina para, então, atuar ou interferir na Zona de desenvolvimento potencial, levando a criança a alcançar novas aprendizagens, que, por sua vez, impulsionam o desenvolvimento e concretizam outras novas aprendizagens.

Como se pode ver, a aprendizagem por interação social é o ponto-chave da abordagem de Vygotsky, aspecto esse fundamental em práticas pedagógicas desenvolvidas à luz do método ativo.

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Aprendizagem pela experiência Dewey

A pedagogia de John Dewey também vai ao encontro das metodologias ativas de ensino. O principal ponto de encontro dessas abordagens diz respeito a não haver separação entre vida e educação, o que representa que, de acordo com Dewey (1978), os alunos não estão sendo preparados para a vida quando estão na escola, e que estão de fato “vivendo” quando não estão em ambiente escolar. O autor defende que, na escola, já se está experienciando situações que fazem parte da vida do aluno.

Para ele, “A educação torna-se, desse modo, uma ‘contínua reconstrução de experiência’” (Dewey, 1989, p. 7).

Suas ideias já apontavam para que a escola proporcione momentos de aprendizagem que façam sentido para o aluno, proporcionando experiências que sejam idênticas às condições da vida do aluno. Para tanto, os conteúdos devem abarcar o contexto do estudante, para que este possa refletir sobre ele. Eis outro ponto importante de convergência com as metodologias ativas de ensino: Está, porém, ainda por se provar que o ato de aprender se realiza mais adequadamente quando é transformado em uma ocupação especial e distinta. A aquisição isolada do saber intelectual, tentando muitas vezes a impedir o sentido social que só a participação em uma atividade de interesse comum pode dar, - deixa de ser educativa, contradizendo o seu próprio fim. O que é aprendido, sendo aprendido fora do lugar real que tem na vida, perde com isso o seu sentido e o seu valor (Dewey, 1978, p. 27).

Com isso, de acordo com o pensamento de Dewey (1978), é permitido ao estudante compreender os objetos, os acontecimentos e os atos do seu contexto social, habilitando-os para uma participação ativa nas atividades.

O autor define cinco condições para uma aprendizagem que integra diretamente a vida. Não se pretende minuciar cada uma delas, contudo, é pertinente mencioná-las a fim de reconhecer uma aproximação com o método ativo: só se aprende o que se pratica; mas não basta praticar, é preciso haver reconstrução consciente da experiência; aprende-se por associação; não se aprende nunca uma coisa só; toda aprendizagem deve ser integrada à vida.

Referências

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