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Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação do Porto Processo nº

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Tribunal da Relação do Porto Processo nº 0411714

Relator: SOUSA PEIXOTO Sessão: 24 Maio 2004

Número: RP200405240411714 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: APELAÇÃO.

Decisão: ANULADO O JULGAMENTO.

RECIBO DE QUITAÇÃO

Sumário

I - O "recibo de vencimento" apesar de ser um documento da autoria da entidade empregadora, faz prova do pagamento das retribuições nele

indicadas, se dele constar e tiver sido subscrita pelo trabalhador a seguinte declaração: "Declaro que recebi a quantia constante deste recibo".

II - Tal declaração vale como quitação.

Texto Integral

Acordam na secção social do Tribunal da Relação do Porto:

1. B... propôs no tribunal do trabalho da Maia a presente acção contra C..., pedindo que o réu fosse condenado a pagar-lhe:

a) 150.750$00 (751,94 euros), sendo 67.000$00 de retribuição das férias vencidas em 1.1.2001, 67.000$00 de subsídio dessas mesmas férias e 16.750

$00 de subsídio de Natal referente a 2001;

b) 52,64 euros de juros já vencidos relativos a quantia referida em a);

c) 58.066$00 (289,63 euros) de retribuição pelos 21 dias de trabalho prestado em Março de 2001;

d) 20,27 euros de juros de mora já vencidos relativos a quantia referida em c);

e) 103.700$00 (517,25 euros) de subsídio de falhas, referentes aos meses de Julho de 1999 a Março de 2001 inclusive;

f) 36,21 euros de juros de mora já vencidos relativos à quantia referida em e);

g) 3.469.400$00 (17.305,29 euros) de trabalho suplementar;

(2)

i) 70.670$00 (352,50 euros) de férias relativas ao ano de admissão;

j) 49,35 euros de juros de mora referentes à importância referida em i);

k) 191.400$00 (954,70 euros) de indemnização pela não concessão das férias vencidas em 2000;

l) 105,81 euros de juros de mora já vencidos relativos à quantia referida em k).

O autor pediu, ainda, que o réu fosse condenado a pagar ao Centro Regional de Segurança Social as contribuições referentes às retribuições que vier a ser condenado a pagar-lhe na presente acção e que o mesmo fosse condenado a pagar-lhe os juros de mora vincendos.

Fundamentando o pedido, o autor alegou, em resumo, que foi admitido ao serviço do réu mediante contrato de trabalho sem termo, em 29 de Março de 1999, como aprendiz de cafetaria e mediante a retribuição mensal de 334,19 euros; que rescindiu o contrato em 26 de Março de 2001; que foi impedido pelo réu de gozar as férias a que tinha direito em 1999 e em 2000 e que trabalhou 2.090 horas para além do período normal de trabalho sem ter recebido a respectiva retribuição.

O réu contestou, alegando que nada deve ao autor e pedindo que o mesmo fosse condenado em multa e indemnização, como litigante de má fé.

O autor respondeu, reafirmando o alegado na petição inicial e pedindo que o réu fosse condenado em multa e indemnização, como litigante de má fé.

Saneado o processo e elaborada a base instrutória que foi objecto de

reclamação por parte do autor e do réu, tendo aquele interposto recurso do despacho que indeferiu a sua reclamação, recuso esse que não foi admitido pelo M.mo Juiz (vide fls. 91, 105 e 118).

Realizado o julgamento e dadas as respostas aos quesitos, foi proferida sentença julgando a acção parcialmente procedente, tendo o réu sido

condenado a pagar ao autor a quantia de 623,58 euros, acrescida de juros de mora a partir de 26 de Março de 2001.

Inconformado com a decisão, o autor interpôs recurso, suscitando as questões que adiante serão referidas.

O réu contra-alegou pugnando pela confirmação do julgado e ilustre

magistrado do M.º P.º junto deste tribunal emitiu parecer no mesmo sentido.

Cumpre apreciar e decidir.

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2. Os factos

Na 1.ª instância foram dados como provados os seguintes factos:

Admitidos por acordo e provados por documentos:

a) O autor foi admitido em 29 de Março de 1999, nos termos do contrato de trabalho a termo certo junto a fls. 39/40 aqui dado como reproduzido.

b) Para, com início na mesma data, desempenhar, sob as ordens, direcção e fiscalização do réu funções de aprendiz de cafetaria.

c) Com a última remuneração mensal de 67.000$00.

d) Em 29 de Agosto de 1999, o autor e réu celebraram o contrato de trabalho sem prazo junto a fls. 41/42, aqui dado como reproduzido.

d) Em 26 de Março de 2001, o autor rescindiu o contrato sem invocação de justa causa, nos termos da carta datada de 21 de Março de 2001 e enviada em 23 de Março, junta a fls. 43 e aqui dada como reproduzida.

e) Em 31 de Março de 2001, o réu pagou ao autor a quantia ilíquida total de 170.040$00, a título de vencimento, subsídio de alimentação, mês de férias, proporcionais de férias e subsídio de férias, subsídio de férias e subsídio de natal, tendo deduzido à mesma o montante de 67.000$00 a título de

indemnização pelo incumprimento do aviso prévio.

Das respostas aos quesitos:

f) O autor recebeu pagamentos de cafés que vendia e entregou aos clientes os trocos.

g) A partir de Setembro d 1999, o horário de trabalho do autor foi alterado.

h) O autor jamais prestou ao réu qualquer serviço após Março de 2001.

i) Em Agosto de 1999, o réu foi abordado pelo autor no sentido de manifestar a intenção de voltar a estudar.

j) Para tal e para que continuasse ao serviço do réu, for acordada a celebração de um contrato sem termo, com alteração do horário de trabalho.

l) O horário de trabalho ajustado passou a ser de 2.ª a 6.ª feira das 19 às 23 horas, ao sábado das 9,30 às 13,30 horas e ao domingo das 13 às 20 horas.

m) Toda esta situação decorreu de uma solicitação expressa do autor.

*

O autor não impugnou especificamente a decisão proferida sobre a matéria de facto, mas percebe-se que não está de acordo com o facto dado como assente na alínea e). Trata-se de um facto alegado pelo réu que inicialmente tinha sido levado à base instrutória sob o n.º 8.º (vide fls. 76), mas, na sequência da reclamação apresentada pelo réu no início da audiência de julgamento (fls.

91/92), tal facto foi retirado da base instrutória, por despacho proferido a fls.

93, com o fundamento de que a matéria nele contida estava plenamente

(4)

O autor interpôs recurso daquele despacho e do despacho que havia

indeferido a reclamação por si apresentada contra a base instrutória, mas o recurso não foi admitido, com o fundamento de que os despachos proferido sobre as reclamações contra a base instrutória só podiam ser impugnados no recurso interposto da decisão final, nos termos do n.º 3 do art. 511.º do CPC (vide fls. 118).

Ao suscitar, agora, novamente a questão da inclusão nos factos assentes do facto referido na al. e), é obvio que o recorrente pretende impugnar, nessa parte, o despacho de fls. 93 que apreciou a reclamação que tinha sido

apresentada pelo réu, embora não o diga expressamente. Importa, por isso, averiguar se o facto em questão está ou não provado pelo documento de fls.

71 e, desde já, adianta-se que sim. Vejamos porquê.

O documento de fls. 71 mais não é do que a fotocópia do “recibo de

vencimento” que se encontrava junto ao processo administrativo n.º 80/01, a correr termos nos serviços do M.º P.º no tribunal do trabalho da Maia. Aquela fotocópia encontra-se devidamente certificada por aqueles serviços, tendo, por isso, a força probatória do original (art. 383.º e 387.º do CC). Importa, por isso, averiguar qual é a força probatória do recibo original.

O documento em questão, vulgarmente designado por “recibo de vencimento”, mais não é do que o documento referido no art. 94.º da LCT, ou seja, o

documento que a entidade empregadora está obrigada a entregar ao trabalhador no acto de pagamento de qualquer retribuição e do qual deve constar a identificação daquela e o nome completo deste, o número de inscrição na instituição de segurança social respectiva, a categoria profissional, o período a que respeita a retribuição, discriminando a retribuição base e as demais remunerações, os descontos e deduções efectuados e o montante líquido a receber.

No documento em causa constam todas aquelas indicações e são devidamente discriminadas as retribuições, num total ilíquido de 170.949$00, que o réu terá pago ao autor, bem como os descontos e deduções efectuadas. Se nada mais constasse do documento, ele não teria força probatória plena para provar o real pagamento das importâncias nele referidas, por se tratar de um

documento da autoria do réu e não do autor (scriptura pro scribente nihil probat).

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Acontece, porém, que o documento em questão não se limita a conter as menções referidas no art. 94.º da LCT. Também contém uma declaração impressa, cujo teor é o seguinte: “Declaro que recebi a quantia constante neste recibo.” Tal declaração encontra-se subscrita pelo autor e a assinatura não foi por ele impugnada, pois nada disse quando foi notificado da junção do documento feita pelo réu.

Por não impugnada, a assinatura tem-se por reconhecida, nos termos do n.º 1 do art. 374.º do CC e, consequentemente, tem-se igualmente por reconhecido o contexto da declaração, apesar de não ter sido manuscrita pelo autor, com base na velha presunção de que quem subscreve o documento quer significar que aprova o seu conteúdo e assume a paternidade do mesmo (qui sbscripsit videtur scripsisse) (A. Varela, Manual de Processo Civil, 2.ª edição, Coimbra Editora, pág. 516).

Por sua vez, reconhecida assim a autoria do documento (no que diz respeito à declaração nele inserida e subscrita pelo autor) e consequentemente a sua força probatória formal, o documento passou ter força probatória material plena relativamente à emissão da declaração atribuída ao autor, uma vez que a falsidade do mesmo não foi arguida (art. 376.º, n.º 1, do CC), e relativamente aos factos compreendidos na declaração que sejam contrários aos interesses do autor da declaração (art. 376.º, n.º 2, do CC). E sendo assim, o documento em questão, mercê da declaração nele inserida e que foi subscrita pelo aqui autor, faz prova plena de que o réu pagou ao autor as retribuições referidas no documento, por se tratar de um facto compreendido na declaração emitida pelo autor e por ser um facto contrário aos seus interesses. Nessa parte, o documento corresponde a uma verdadeira quitação (art. 787.º do CC).

Tentando afastar a força probatória do documento em questão, o autor alega que o documento lhe tinha sido enviado pelo réu para que ele o analisasse, assinasse e entregasse quando recebesse a importância nele mencionada e que o mesmo nunca chegou a sair da sua mão, tendo por ele sido entregue ao M.º P.º. A ser verdade o alegado pelo autor, o documento deixaria de ter

qualquer valor probatório, uma vez que não tinha chegado ao poder do seu eventual destinatário (o réu), mas tal questão não foi suscitada na 1.ª

instância, onde os factos referidos nem sequer foram alegados, o que obsta a que dela se conheça, uma vez que o objectivo dos recursos é reexaminar questões já apreciadas no tribunal recorrido e não apreciar questões novas, salvo se forem d conhecimento oficioso, o que não é o caso.

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De qualquer modo, trata-se de questão que sempre teria de improceder, uma vez que os factos ora alegados pelo autor não constam da factualidade dada como provada. Mantém-se, por isso, a decisão proferida sobre a matéria de facto.

Constata-se, todavia que a matéria de facto dada como provada não é

suficiente para conhecer do objecto do recurso, no que diz respeito à questão nele suscitada que se prende com alegada violação do direito a férias no ano de 2000.

Com efeito, o autor reclamou 352,50 euros de indemnização e 49,50 euros de juros de mora pela violação do direito às férias que alegadamente devia ter gozado em 1999 e reclamou 954,70 euros de indemnização e 105,81 euros de juros de mora pela violação do direito às férias que alegadamente devia ter gozado em 2000.

Nesse sentido, alegou (artigos 41.º e 43.º da petição) que não gozou essas férias por ter sido impedido de o fazer pelo réu. Acontece, porém, que à base instrutória (n.º 6) só foi levado o alegado no art. 41.º que se referia ao não gozo das férias devidas em 1999 (“O réu não concedeu tais férias ao A.

impedindo o seu gozo...”). O alegado no art. 43.º (“No ano de 2000, o ª não gozou qualquer período de férias porque foi impedido pelo Réu”) não foi levado à base instrutória, ficando o autor impedido de fazer prova desse facto que é verdadeiramente indispensável para apurar do seu direito à reclamada indemnização.

Importa, por isso, nos termos do n.º 4 do art. 712.º do CPC, ampliar a matéria de facto, o que se alcançará pela repetição do julgamento, restrita, embora, ao facto em questão.

3. Decisão

Nos termos expostos, decide-se anular e ordenar a repetição do julgamento, mas apenas para apuramento do facto acima referido que o Mmo Juiz deve previamente aditar à base instrutória, mantendo-se quanto ao mais a decisão já proferida sobre a matéria de facto.

Custas pela parte vencida a final.

PORTO, 24 de Maio 2004

Manuel Joaquim Sousa Peixoto

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João Cipriano Silva

José Carlos Dinis Machado da Silva

Referências

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