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Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento - RC: ISSN:

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A (In) aplicabilidade do Artigo 139 do código de processo civil como alternativa a prisão civil decorrente de débito alimentar:

uma análise doutrinária e jurisprudencial

[1]

LEMOS, Jean Zucatti [2]

LEMOS, Jean Zucatti. A (In) aplicabilidade do Artigo 139 do código de processo civil como alternativa a prisão civil decorrente de débito alimentar: uma análise doutrinária e jurisprudencial.

Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento. Ano 03, Ed. 08, Vol. 08, pp. 65-114, Agosto de 2018. ISSN:2448-0959

RESUMO

A prisão civil é uma forma de coerção para o adimplemento do débito alimentar, contudo, diante da fragilidade e precariedade dos presídios, cumulado com o cerceamento da liberdade do alimentante, impossibilita o aferimento de renda para o cumprimento da obrigação, tornando ineficiente tal medida. A principal justificativa desta tese está ligada principalmente ao objeto principal que gerou a prisão, qual seja o débito alimentar. Sendo o pagamento de alimentos o interesse principal do alimentando, a decretação da prisão contribuirá ainda mais para o inadimplemento.

Diante disso, de acordo com o artigo 139 do Código de Processo Civil, o juiz ao perceber que os atos procedimentais regulares não serão eficazes, poderá adotar outras medidas para o cumprimento da obrigação. Dessa forma, seria mais aceitável a utilização do referido artigo como forma coercitiva para a satisfação da obrigação, tornando-se mais razoável a aplicabilidade de outras medidas de execução preliminares ou substitutas a prisão civil.

Palavras-Chaves: Débito de alimentos, prisão civil, artigo 139 do CPC, formas restritivas.

INTRODUÇÃO

A ação de alimentos tem como objetivo a satisfação das necessidades do alimentando a fim de garantir a sua sobrevivência, porém ao deixar de cumprir com a obrigação, é facultado ao judiciário adotar medidas céleres e eficazes para assegurar a imediata efetividade e satisfação do direito do credor.

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A Constituição Federal no artigo 5º, inciso LXXVIII dispõe que “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”.

Acompanhando estas diretrizes, o código de processo civil introduziu em seu diploma no artigo 4º, “as partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa”.

Diante destas premissas, a finalidade da presente monografia é expor as peculiaridades da ação de alimentos, bem como demonstrar se as formas de coerção para o cumprimento da obrigação alimentar são consideradas céleres e eficazes. A lei de alimentos 5478/68 e o Código de Processo Civil regulam as diferentes formas de prestações pecuniárias.

Sendo assim, em caso de descumprimento de medida judicial no que tange ao pagamento da verba alimentar, o juiz poderá ordenar a execução pelo rito da prisão, quando as formas assecuratórias previstas não denotarem efetividade.

Importante se faz ressaltar que, o princípio da patrimonialidade assevera que o devedor responda com todos seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, ou seja, em regra a execução não poderá consistir em métodos de constrição sobre a pessoa do devedor, mas sim o seu patrimônio.

Acontece que, em não dispondo de recursos para o adimplemento, à forma de coerção mais utilizada é a decretação da prisão civil. Contudo, importante frisar que, a decretação da sua prisão tornará ainda mais inviável o adimplemento das prestações, tornando sem efeito tal medida, além de não resolver o principal interesse do necessitado, que é a garantia dos alimentos.

Ainda neste cotejo, considerando a prisão civil uma forma coercitiva de prestação devida, uma vez preso por determinado débito alimentar, o devedor não poderá ser conduzido à prisão em virtude do mesmo débito, com isso a execução de pensão alimentícia vai tramitar mediante tentativa de penhora de bens do executado. Porém, se não houver bens para suprir a dívida alimentar que gerou a prisão, será mais uma execução inexitosa em tramitação, restando comprovado à ineficiência da prisão civil.

Portanto, objetivo deste trabalho é demonstrar através de três capítulos as modalidades de execução e a ineficiência da prisão civil como forma de coerção ao alimentante inadimplente, exarando outras formas restritivas de direito em conformidade com o artigo 139 do Código de Processo Civil.

No primeiro capítulo, será explorado o contexto histórico sobre o estudo dos alimentos, com referência ao objeto jurídico, legislação e doutrina.

No segundo capítulo, analisar-se-á as modalidades de execução de alimentos, a tentativa de penhora de bens para satisfazer as necessidades do alimentando e a prisão civil como última forma de cumprimento das obrigações alimentares.

Por fim, serão apresentadas outras formas restritivas de direito para que haja a satisfação do dever, tornando-se mais razoável a (in) aplicabilidade de outras medidas de execução preliminares à prisão civil.

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Frise-se que no presente trabalho, foi utilizada a pesquisa bibliográfica e jurisprudencial para embasar as justificativas ora apresentadas.

CONCEITOS GERAIS SOBRE ALIMENTOS NO ORDENAMENTO BRASILEIRO

Neste capítulo serão abordados alguns conceitos teóricos fundamentais para o desenvolvimento deste projeto de pesquisa, cuja finalidade é obter embasamento teórico.

ALIMENTOS

Para abordar sobre o instituto dos alimentos no ordenamento jurídico, faz-se necessário acostar os ensinamentos de grandes doutrinadores.

Dessa forma, conforme o entender de Diniz[3], “alimentos são prestações para satisfação das necessidades vitais de quem não pode provê-las por si”. Dessa maneira entende-se por necessidades vitais e aspectos indispensáveis à vida, a alimentação, vestuário, habitação, tratamento médico, transporte, diversão e se o alimentado for menor de idade, verbas para sua educação e instrução, além disso, também podem ser incluídos os custos com sepultamento.

Neste contexto ao versar sobre alimentos, Silvio Rodrigues[4] assevera que a prestação alimentar não se caracteriza apenas pela pecúnia, mas sim por tudo aquilo que for essencial à sobrevivência do necessitado.

Alimentos, em direito, denomina-se a prestação fornecida a uma pessoa, em dinheiro ou espécie, para que possa atender as necessidades da vida. (...) Aqui, trata-se não só do sustento, como também de vestuário, habitação, assistência médica em caso de doença, enfim, de todo o necessário para atender as necessidades da vida; em se tratando de criança, abrange o que for preciso para sua instrução.

Ainda sobre este entendimento Cahali[5] complementa que são devidos os alimentos quando o alimentado não dispuser de recursos financeiros a ponto de prejudicar seu desenvolvimento.

Alimentos significa tudo o que é necessário para satisfazer aos reclamos da vida, são as prestações com as quais podem ser satisfeitas as necessidades vitais de quem não pode provê-los por si, é a contribuição assegurada a alguém por título de direito, para exigi-la de outrem como necessário a sua manutenção.

A respeito do que trata a obrigação de alimentos os autores concordam entre si que é uma maneira de manter o sentido da sobrevivência:

A obrigação alimentar deriva da lei que prevê uma determinada situação de necessidade na qual se encontra uma pessoa que não pode prover à sua manutenção, repousando sobre relação de parentesco.

Aborda o autor Rodrigues[6]

No mesmo entender, alimentos não compreende somente a prestação pecuniária, mas sim tudo que é essencial para sua subsistência, conforme disposto a seguir:

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Alimentos são prestações para satisfação das necessidades vitais de quem não pode provê-las por si.

Compreende o que é imprescindível à vida da pessoa como alimentação, vestuário, habitação, tratamento médico, transporte, diversão, e, se a pessoa alimentada for menor de idade, ainda verbas para sua instrução e educação, incluindo parcelas despendidas com sepultamento, por parentes legalmente responsáveis pelos alimentos.[7]

Ademais, entende-se que a necessidade também abrange questões referentes aos custos com falecimento, conforme enunciado no Código Civil[8], em seu art. 872:

Nas despesas do enterro proporcionadas aos usos locais e à condição do falecido, feitas por terceiros, podem ser cobradas da pessoa que teria a obrigação de alimentar à que veio a falecer, ainda mesmo que esta não tenha deixado bens.

Segundo a C.F[9], art. 1°, III e art. 3°, o fundamento de prestar obrigação de alimentos é o princípio da preservação da dignidade da pessoa humana e o da solidariedade social e familiar.

Sobre o fato de concessão do direito de alimentos a autora Diniz[10] afirma que é de responsabilidade do juiz julgar caso a caso de exigibilidade do benefício, visto que é imprescindível a prudência e o bom senso. Em conformidade:

A pensão alimentícia subordina-se à necessidade do alimentando e à capacidade econômica do alimentante, enquanto o dever de sustentar prescinde da necessidade do filho menor não emancipado, medindo-se na proporção dos deveres do pai e da mãe. Logo, essas duas obrigações não são idênticas na índole e na estrutura. [11]

Evidencia o conceito de alimentos e seu legado no Código Civil[12], art. 1.920. “o legado de alimentos abrange o sustento, a cura, o vestuário e a casa, enquanto o legatário viver, além da educação, se ele for menor.”

Venosa[13] salienta que os alimentos são definidos como naturais ou necessários e civis ou côngruos, ou seja, os naturais ou necessários são aqueles que possuem alcance limitado, abrangendo estritamente o indispensável para a subsistência, já os civis ou côngruos podem ser identificados por serem considerados suficientes à satisfação de outras necessidades básicas do alimentando, segundo as possibilidades do obrigado. Ainda sobre esse contexto, o autor salienta que no Código de 1916 não havia distinção entre as duas modalidades de alimentos. Contudo, pode-se observar no atual código civil em seu art. 1694[14], que existe diferenciação entres alimentos necessários e indispensáveis, cabendo ao juiz acolher o que melhor se enquadrar na situação, levando sempre em consideração o binômio necessidade x possibilidade.

Conforme elencado no § 2 do referido Código[15]°: “Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia”. ”Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada”.

Dispõe ainda o Código Civil[16] de 2002, art. 1.704, que:

“Se um dos cônjuges separados judicialmente vier a necessitar de alimentos, será o outro obrigado a

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prestá-los mediante pensão a ser fixada pelo juiz, caso não tenha sido declarado culpado na ação de separação judicial”.

Diante disso, o referido artigo assegura que aquele que necessitar de recursos financeiros, quando da dissolução da relação conjugal, poderá ser amparado reciprocamente.

Importante mencionar que o art. 1.694 e 1698 do Código Civil[17] declaram que a prestação alimentar se estende aos parentes que podem concorrer entre si, inclusive unindo esforços na medida de suas condições para a satisfação da pensão alimentícia.

Art. 1.694: Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.

Art. 1.698. Se o parente, que deve alimentos em primeiro lugar, não estiver em condições de suportar totalmente o encargo, serão chamados a concorrer os de grau imediato; sendo várias as pessoas obrigadas a prestar alimentos, todas devem concorrer na proporção dos respectivos recursos, e, intentada ação contra uma delas, poderão as demais ser chamadas a integrar a lide.

Sendo assim, em não havendo as pessoas elencadas no art. 1694, a obrigação alimentar se estende aos colaterais.

Sobre o entendimento de vínculo de parentesco que se refere os artigos anteriores, Dias[18] traduz de forma objetiva o vínculo de parentesco em linha reta e colateral.

Como o parentesco em linha reta é infinito, também é obrigação alimentar. O parentesco na linha colateral vai até o quarto grau, e a obrigação alimentar se estende além dos irmãos, alcançando tios, sobrinhos e primos. O parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, descendentes, irmãos do cônjuge e companheiro (art. 1.595 § 1°, CC).

Dissolvido o casamento ou a união estável, possível é tanto o ex-sogro pedir alimentos ao ex-genro, como este pedir alimentos àquele, não dispondo o ex-cônjuge ou o ex-companheiro de condições de alcançar alimentos a quem saiu do relacionamento sem condições de prover o próprio sustento, os primeiros convocados são os parentes consanguíneos e depois os parentes civis.

Nesse sentido, o objetivo da prestação alimentar é garantir a proteção familiar, por conseguinte, os parentes mencionados anteriormente estão sujeitos a conceder amparo àqueles que porventura necessitarem de assistência, garantindo assim ao desprovido, sua dignidade e o direito a vida.

Importante mencionar que, em razão da dignidade da pessoa humana, a prestação alimentar é imprescritível, contudo, quando versar sobre a verba alimentar já fixada em decisão judicial ou por força de acordo entre os litigantes, o prazo prescricional é de dois anos, não se aplicando aos menores de idade em que a prescrição só começa a fluir quando o menor completar dezoito anos.

TIPOS DE ALIMENTOS

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Os alimentos possuem inúmeras especificações, contudo, a maioria dos autores os define quanto a sua origem, sendo caracterizado por legítimos, voluntários e indenizatórios e no que se refere à finalidade se configura como provisionais, definitivos e provisórios, conforme se salientará.

De acordo com Silva e Xavier[19] os alimentos são classificados por legítimos, voluntários e indenizatórios. Os legítimos são oriundos de grau de parentescos ou casamento e união estável, os voluntários somente aqueles decorrentes de negócios jurídicos e os indenizatórios de atos ilícitos.

Em todos os três casos o propósito é o mesmo: proporcionar condições de sobrevivência a quem necessita. Dessa forma a tutela jurisdicional tem a obrigação de atingir de forma igualitária todas as modalidades de alimentos e ser rápida em todas elas.

Neste entendimento, Wambier e Talamini[20] descrevem de modo pertinente esta questão:

Quanto à sua origem, os alimentos podem ser legítimos, se decorrerem de vínculo de parentesco ou de vínculo conjugal, ou união estável extinta.

Serão voluntários se gerados por contrato, e indenizativos se decorrerem da prática de ato ilícito.

Nesse sentido, Silvio Rodrigues[21] ao exemplificar sobre o assunto assevera que no caso de prestação voluntária, esta pode resultar de livre manifestação de vontade entre as partes. Nestes casos, é ajustada a pensão alimentícia quando da separação amigável do casal.

Os legítimos são aqueles previstos em lei, em que fica determinado que a obrigação de pagar alimentos provenha do grau de parentesco, do casamento ou da união estável.

Em se tratando de indenizatórios, Cahali[22] assegura que decorre quando o responsável pelo dano fica compelido a pensionar a vítima ou seus sucessores.

Quando ocorrer ofensa física que tire a vida de quem proporcionava o sustento (filhos, esposa, irmão, etc.), ou o incapacite ou reduza a sua capacidade laborativa, o autor do delito, em ação própria, será condenado a pagar àqueles que eram alimentados uma certa soma mensal, a título de alimentos, por um determinado período.

Em relação à finalidade dos alimentos os autores Wambier e Talamini[23] descrevem que os alimentos podem ser concedidos liminarmente devido à urgência de quem os necessita e posteriormente se transformar em definitivo através de sentença judicial.

De acordo com o critério ligado a sua finalidade, podem os alimentos ser provisionais, definitivos ou provisórios. Os provisionais são aqueles cuja a função é a de manter a parte que deles necessita durante o processo, sendo obtidos através de medida específica; os provisórios são aqueles obtidos através de liminar, que pode ser confirmada ou infirmada pela sentença; e os definitivos são aqueles fixados por sentença.

A classificação dos alimentos por esses três conceitos tem com discernimento a constância ou não da

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decisão que outorgar os alimentos, em que pese à possibilidade de os mesmos serem revistos se resistir alteração no estado de fato ou de direito da causa.

Encontra-se respaldo através de Silva e Xavier[24] quando definem os conceitos:

São definitivos os alimentos concedidos por sentença em processo de conhecimento ou fixados em acordo homologado judicialmente. Em contrapartida, os alimentos provisionais são aqueles concedidos a partir da ação prevista nos art. 852 e seguintes do Código de Processo Civil, ou ainda, em liminar antecipatória, em qualquer ação onde são cabíveis. Por fim, alimentos provisórios são aqueles concedidos nos termos do art. 4° da Lei de Alimentos (Lei n° 5.748/68)[25].

Dessa forma, importante destacar que os alimentos provisórios ou provisionais são aqueles deferidos incidentalmente, através de concessão liminar durante a tramitação do processo, a fim de garantir de forma imediata à sobrevivência do alimentado.

E definitivos são os determinados em sentença quando findo o processo, ocasionando a materialização do direito.

Lei nº 5.478, de 25 de julho de 1968 Art. 4º: As despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios a serem pagos pelo devedor, salvo se o credor expressamente declarar que deles não necessita.

Parágrafo único. Se se tratar de alimentos provisórios pedidos pelo cônjuge, casado pelo regime da comunhão universal de bens, o juiz determinará igualmente que seja entregue ao credor, mensalmente, parte da renda líquida dos bens comuns, administrados pelo devedor.

Neste passo, o juiz ao perceber que se trata de pedido de alimentos provisórios, fixará desde logo a verba alimentar, em sede antecipatória para preservar a subsistência do necessitado, porém, se o credor manifestar expressamente que não necessita, o deferimento será revogado.

Assevera-se que os alimentos provisórios podem ser revisados a qualquer momento quando se comprovar a existência de mudança socioeconômica do credor ou devedor.

ALIMENTOS AOS FILHOS MENORES E À MULHER GESTANTE

Sobre a percepção dos autores Monteiro e Silva[26] os filhos menores possuem o direito de ser alimentados pelos pais. Para o custeio dos filhos, os cônjuges, separados judicialmente, colaborarão na proporção de seus recursos. Ainda sobre a visão dos autores Monteiro e Silva[27]: “Durante a minoridade, ou seja, até os dezoito anos de idade não é necessário fazer prova de inexistência de meios próprios de subsistência, o que se presume pela incapacidade civil”.

Em concordância, Venosa[28] afirma, embasado no art. 22 do Estatuto da Criança e do Adolescente[29], que os pais possuem o dever de oferecer manutenção aos filhos menores. Delineia que atualmente não há mais distinção entre filhos legítimos e ilegítimos. “O descumprimento contumaz do dever alimentar pode até mesmo autorizar a suspensão ou perda do pátrio poder”. Venosa[30].

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O autor ainda complementa que ao nascituro é possível a prestação alimentícia, a lei ampara essa concepção.

Monteiro e Silva[31] ratificam que a mulher gestante pode exigir pensão alimentícia para que as despesas com a gestação sejam suportadas pelo alimentante.

A mulher gestante possui legitimidade ativa na propositura de ação de alimentos que tenha em vista cobertura de despesas do período de gravidez, da concepção ao parto, inclusive as referentes à alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames complementares, internações, medicamentos e demais prescrições preventivas e terapêuticas indispensáveis.

Ainda sobre a visão dos autores esses alimentos, chamados gravídicos, têm em vista a tutela dos direitos do nascituro, já que a mulher tem direito a pensão mesmo que não sejam casados ou tenham união estável.

Debate-se sobre esse aspecto a legitimidade do nascituro para a propositura da ação de averiguação de paternidade acrescida com a ação de alimentos, visto que a sua personalidade está dependente ao nascimento com vida. Os autores fazem a seguinte menção:

A legitimidade na propositura da ação de alimentos é da mulher gestante, mas, como estabelece o seu art.

6°, paragrafo único, após o nascimento com vida, os chamados “alimentos gravídicos” serão convertidos em pensão alimentícia em favor do menor até que uma das partes solicite a sua revisão. Já que a lei fala em revisão, aí esta incluída a exoneração, na hipótese de ser comprovado, após o nascimento, que o réu não é o pai, inclusive pela realização do exame de DNA. Monteiro e silva[32]

Os autores ainda complementam, de acordo com a Lei n. 5.478/68 e Lei n. 11.804/2008, art. 6°[33]. “Cabe fixação de alimentos provisórios, estabelecidos liminarmente, no início da ação, caso em que a pensão será paga sem que haja prova efetiva da relação de filiação e existam somente índicos de paternidade”.[34]. Assim podemos constatar que um homem pode ser compelido a pagar a pensão por indícios de paternidade e depois vir a evidenciar que não é o pai.

Não obstante, o princípio da irreptibilidade dispõe que prevalece a responsabilidade subjetiva, ou seja, não há possibilidade de restituição da verba alimentar paga indevidamente, entretanto, se for configurado que a autora da ação agiu dolosamente, cabe reparação por danos morais e materiais.

Nesse entendimento Diniz[35] afirma que de acordo com o princípio da irrepetibilidade, a verba alimentar não pode ser ressarcida ao alimentante, contudo, os Tribunais tem firmado posicionamento que, em se tratando de equívoco no pagamento ou qualquer outro erro que configure o excesso, pode-se exigir a devolução dos valores pagos a maior para não configurar enriquecimento ilícito.

Os alimentos, uma vez pagos, não mais serão restituídos, qualquer que tenha sido o motivo da cessação do dever de presta-los. Quem satisfaz obrigação alimentar não desembolsa soma suscetível de reembolso, mesmo que tenha havido extinção da necessidade aos alimentos.

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Sobre o tema Monteiro e Silva[36] mencionam que de acordo com o princípio da irrepetibilidade, os alimentos ofertados, mesmo de maneira equivocada, não são passíveis de devolução.

(...) Essa regra geral da responsabilidade civil está acima do princípio da irrepitibilidade dos alimentos, daquele princípio pelo qual se a pensão for paga indevidamente não cabe exigir a sua devolução.

Portanto, não fica ao desabrigo aquele que é demandado numa ação de alimentos gravídicos, caso se apure não ser o pai, sendo a ele assegurado o direito a reparação de danos morais e matérias com fundamento na regra geral da responsabilidade civil.

Entretanto, recentes julgados admitem que, em sendo constatado irregularidade no pagamento da prestação alimentar, o alimentante poderá pleitear judicialmente reparação pelos prejuízos sofridos em razão da inexistência da responsabilidade da verba alimentar.

ALIMENTOS AOS FILHOS MAIORES, PAIS E IRMÃOS

É notório que a maioria dos casos de solicitação de alimentos é baseada em filhos menores que ficam carentes quando da separação dos pais, entretanto os parentes desprovidos de condições e meios econômicos também podem exigir alimentos, neste caso, o que determina não é o poder familiar e sim o grau de parentesco.

Venosa[37] aponta o Projeto n°6.960/2002[38] para embasamento em que se determina o pagamento de pensão alimentícia independentemente da maioridade civil do alimentado, desde que comprove a sua necessidade.

A obrigação de prestar alimentos entre parentes independe de ter cessado a menoridade, se comprovado que o alimentando não tem rendimentos ou meios próprios de subsistência, necessitando de recursos especialmente para sua educação.

No mesmo diapasão o autor ao referir sobre o Projeto do Estatuto das Famílias dispõe que se o alimentado após completar a maioridade, comprovar que está cursando alguma atividade de ensino, terá direito aos alimentos até os vinte e cinco anos de idade.

A maioridade civil faz cessar a presunção de necessidade alimentar; salvo se o alimentando comprovadamente se encontrar em formação educacional, até completar vinte e cinco anos. Art. 116, parágrafo único. Venosa[39].

Neste contexto os filhos adotivos possuem igualmente os mesmos direitos que os filhos biológicos.

Em relação aos irmãos unilaterais ou bilaterais, tens o seguinte entendimento, conforme o art. 1.697:

“podem eles acionar-se reciprocamente para pedir alimentos, mas somente na hipótese de não existirem ascendentes ou descendentes em condições de alimentá-los”.

Venosa[40] completa que, “afora esses colaterais irmãos, nenhum outro parente ou afim tem direito de

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pedir alimentos, desconhecendo nossa legislação a possibilidade, presente no direito comparado, de serem acionados sogros, genros ou noras”.

Diante disso, em não havendo ascendentes ou descendentes, os irmãos exclusivos ou comuns podem solicitar alimentos entre si em razão da proibição discriminatória referente à filiação.

ALIMENTOS DECORRENTES DE CASAMENTO, UNIÃO ESTÁVEL E VÍNCULO CONJUGAL Em se tratando de vínculo matrimonial no que se refere ao pagamento de alimentos, o ex-cônjuge, mesmo não sendo parente legal, é considerado devedor perante o dever legal de amparo em virtude do vínculo matrimonial.

Isto posto, Diniz[41] salienta quem mesmo com o rompimento da relação matrimonial, o ex-companheiro poderá requerer alimentos. Dessa forma, este procedimento visa suportar o membro da família que se encontra em situação de risco a ponto de não conseguir manter sua própria subsistência em razão da dissolução conjugal.

Dissolvida à união estável, o ex-companheiro, enquanto tiver procedimento digno e não vier a constituir nova união, poderá pleitear alimentos ao outro, desde que com ele tenha vivido ou dele tenha prole, provando sua necessidade por não poder prover sua subsistência.

Em concordância Venosa[42] afirma que os cônjuges se devem de mútua assistência. De maneira geral em casos de separação judicial ou de fato, o marido prestará pensão alimentícia à mulher. Embasa a afirmação: “Têm emprestado à pensão, concedida na separação judicial ou no divórcio, nítida natureza alimentar, representativa do prolongamento do dever de assistência, nascido com o vínculo do casamento”.

Monteiro e Silva[43] complementam de acordo com o Código Civil de 2002 em seu art. 1.704,

‘Se um dos cônjuges separados judicialmente vier a necessitar de alimentos, será o outro obrigado a prestá-los mediante pensão a ser fixada pelo juiz, caso não tenha sido declarado culpado na ação de separação judicial.

Em se tratando de dissolução de vínculo conjugal, Goncalves[44] exemplifica que o código civil permite a concessão de alimentos ao cônjuge quando da dissolução da relação quando não houver parentes para supri-los, mesmo em favor daquele declarado culpado pela dissolução.

Significativa inovação trouxe o código civil de 2002 nesse assunto ao prever a fixação de alimentos na dissolução litigiosa da sociedade conjugal mesmo em favor do cônjuge declarado culpado, se deles vier a necessitar e não tiver parentes em condições de prestá-los, nem aptidão para o trabalho, limitando-se, todavia, a pensão ao indispensável à sobrevivência deste.

O cônjuge inocente é desprovido de recursos, todavia, terá direito a pensão, a ser paga pelo outro, fixada com obediência aos critérios estabelecidos no aludido art. 1694 e destinada, portanto, a proporcionar-lhe um modo de vida compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua

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educação, e não apenas para suprir o indispensável à sua subsistência.

Desta maneira, entende-se que mesmo com apuração de culpa pelo descumprimento do dever conjugal ou separação judicial, não poderá ocorrer a perda do direito de alimentos, nas outras formas de separação judicial, mesmo que seja divórcio direto, a simples iniciativa também não causa a perda.

Modos de Satisfação da Obrigação Alimentar

Conforme apresentado pela autora Diniz[45], o art. 1.701 do Código Civil permite que o alimentante cumpra sua obrigação de duas formas: através de pensão pecuniária ou efetuando depósitos periódicos em conta bancária ou judicial, ou concedendo-lhe em sua residência, hospedagem e sustento.

Art. 1.701. A pessoa obrigada a suprir alimentos poderá pensionar o alimentando, ou dar-lhe hospedagem e sustento, sem prejuízo do dever de prestar o necessário à sua educação, quando menor.

Parágrafo único. Compete ao juiz, se as circunstâncias o exigirem, fixar a forma do cumprimento da prestação.

Diante disso entende-se que o auxílio ao alimentado pode advir de acolhimento e assistência a sua sobrevivência. Pode-se encontrar respaldo no que cita Assis[46] acerca do assunto:

Sem maiores digressões, a obrigação alimentar assume natureza alternativa. De modo algum o dispositivo consagra a faculdade de substituição (faculdades alternativas), evidentemente há pluralidade de objetos, porquanto o credor poderá exigir a prestação da coisa, o que é incompatível com a simples faculdade in solutione.

Dessa maneira, observa-se que há possibilidade de satisfação da verba alimentar à medida que o devedor obedeça às disposições previstas no referido artigo. Importante frisar que, a opção por alguma das alternativas elencadas, pode ser modificada de acordo com as necessidades do alimentante.

Causa de Extinção

A extinção da prestação alimentar se dá com o falecimento do alimentante, bem como quando houver evidência de extrema mudança financeira a ponto que onere a subsistência do devedor, e também nos casos de casamento, união estável ou concubinato do credor.

Sobre este contexto, Diniz[47] explica que é cessada a obrigação de prestar alimentos, quando:

-Há a morte do alimentando, devido a sua natureza pessoal. Neste caso, quando o devedor de alimentos se da através de grau de parentesco, casamento ou união estável, é transmitido à obrigação de prestá-lo aos seus herdeiros.

-Ocorre o desaparecimento da necessidade do alimentário ou da capacidade econômico-financeira do alimentante.

-Casamento, união estável ou procedimento indigno do credor de alimentos. O devedor de alimentos (ex-

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cônjuge, ex-companheiro ou parente) deixará de ter tal obrigação com relação ao credor se este vier a convolar núpcias, passar a viver em união estável ou concubinato se tiver procedimento indigno, em relação ao devedor, por ofendê-lo em sua integridade corporal ou mental, por expô-lo a situações humilhantes ou vexatórias, por injuriá-lo, caluniá-lo ou difamá-lo, atingindo-o em sua honra e boa fama.

Em consonância com entendimento da autora no que tange a transmissão da obrigação alimentar decorrente do falecimento do devedor, Rodrigues[48] pondera que:

A transmissão da obrigação alimentar se dará sempre nos limites da força da herança. Vale dizer, o herdeiro somente responderá pela obrigação de seu antecessor se o acervo que lhe foi entregue tiver condições de suportar o encargo.

Para embasar tal afirmação, acerca da sucessão da obrigação de saldar a dívida de alimentos no que tange os bens e a herança do devedor encontra-se respaldo no art. 1.700[49] do Código Civil:

Art. 1.700. A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do art.

1.694.

Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.

§ 1o Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.

§ 2o Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia.

O Código Civil em seu art. 1.708[50] estabelece regra específica para exoneração dos alimentos:

Art. 1.708. Com o casamento, a união estável ou o concubinato do credor, cessa o dever de prestar alimentos.

Parágrafo único. Com relação ao credor cessa, também, o direito a alimentos, se tiver procedimento indigno em relação ao devedor.

Deste modo, pode-se observar que o dever de prestação alimentar se extingue quando restar comprovado relevante mudança socioeconômica do alimentante e alimentado, e também nos casos em que comprovado o casamento, união estável, concubinato ou procedimento indigno do credor.

Entretanto, nos casos em que haja o falecimento do devedor, mantém-se evidenciado que os herdeiros são os responsáveis pelo prosseguimento da obrigação alimentar.

EXECUÇÃO DE ALIMENTOS

Neste capítulo se observará as modalidades de execução de alimentos à luz do Código de Processo Civil

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vigente.

A execução de alimentos dar-se-á através de procedimento judicial em que o devedor será forçado a adimplir a obrigação para satisfazer os interesses do credor.

Dentre as formas de execução, pode-se elencar as seguintes: Desconto em folha de pagamento, cobrança em aluguéis, expropriação de bens do devedor e por fim a prisão civil.

Os autores Marinoni, Arenhardt e Mitidiero traduzem o significado de execução e sua finalidade:

O que é decisivo para a realização da tutela do direito aos alimentos é a necessidade do alimentando.

Presente a necessidade, todas as técnicas processuais executivas podem ser empregadas para obtenção da efetiva tutela do direito aos alimentos. Não interessa a espécie, interessa o gênero. Havendo necessidade de alimentos, não há razão para distinguir técnicas processuais atinentes somente a essa ou àquela espécie: a necessidade dos alimentos é a mesma. Seu fundamento último também: dignidade da pessoa[51]. Em conformidade acerca do tema e em concordância, Montenegro Filho[52] assevera que a execução é a maneira pelo qual o credor tem a possibilidade de satisfazer o débito.

A execução é o instrumento processual posto à disposição do credor para exigir o adimplemento forçado da obrigação através da retirada de bens do patrimônio do devedor ou do responsável (no modelo da execução por quantia certa contra devedor solvente), suficientes para a plena satisfação do exequente, operando-se no benefício deste e independentemente da vontade do executado – e mesmo contra a sua vontade – conforme entendimento doutrinário unânime.

Desta forma Wambier e Talamini[53] complementam também que na execução o devedor é compelido a cumprir com a obrigação alimentar mediante a entrega de valores a quem necessitar independente da espécie de alimento.

O crédito de natureza alimentar não deixa de ser uma dívida pecuniária, ou seja, que se satisfaz, em regra, com a entrega de dinheiro. Perfeitamente aceitável, e não raro ocorre, a satisfação dessa espécie de credito in natura. Mas, basicamente, trata-se de obrigação que se cumpre mediante pecúnia. (...) Como regra geral, pode-se dizer que não há distinção para utilização da execução de prestação alimentícia, entre as espécies de alimentos. Sejam naturais, civis, definitivos, provisórios ou provisionais (ou mesmo em razão do parentesco, ou do casamento, ou da união estável) a execução das prestações pode se dar pelos meios especiais, ora em estudo.

A vista disso a execução de alimentos é a medida adotada para o cumprimento das prestações devidas.

Percebendo o inadimplemento do alimentante, o Código de Processo Civil garante que o crédito alimentar seja descontado em folha de salário, de aluguéis de prédios ou de qualquer outro rendimento, a expropriação de bens e em se tratando das três últimas parcelas vencidas, prevê a prisão civil.

MEIOS EXECUTÓRIOS E COERCITIVOS PARA ASSEGURAR O CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR

O sistema processual possibilitou ao credor de alimentos alguns mecanismos que possibilitam à exultação

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do crédito, com mais rapidez e agilidade que os créditos oriundos de outras naturezas, pois os alimentos não são comparáveis a dívidas comuns. A falta de pagamento de alimentos não afeta somente a diminuição do patrimônio, mas risco a sobrevivência do alimentando. Devido a isso é necessário que haja meios eficazes para a execução.

Conforme abordam Silva e Xavier[54] há três mecanismos que tutelam a obrigação familiar. São definidos como o desconto, a expropriação e a coerção pessoal.

O Código do Processo Civil não estabelece gradação entre os meios disponíveis para a tutela da obrigação alimentar. Aparentemente, tocaria ao credor a opção. Todavia, não apenas o código de processo civil trata da execução de alimentos, mas também a Lei de Alimentos.

Monteiro e Silva[55] delineiam que para que haja a satisfação do débito alimentar se faz necessário, métodos coercitivos para assegurar o cumprimento da obrigação:

O adimplemento da obrigação de alimentos tem em vista a preservação da vida do alimentando, direito fundamental, protegido pela Lei Maior, que garante a sua inviolabilidade. Assim para garantir-lhe o fiel cumprimento, estabelece a lei, dentre outras providências, a prisão do alimentante inadimplente, o que constitui a única exceção ao princípio segundo o qual não há prisão por dividas (Constituição Federal, art.

5°, n. LXVII).

Ademais, os autores salientam ainda que: “só se decreta a prisão se o alimentante, embora solvente, frustra, ou procura frustrar, a prestação”.

Em consonância, Diniz[56] enfatiza que o devedor de alimentos pode ter a prisão decretada quando incorrer no silêncio ou não justificar o inadimplemento.

Na execução da sentença que fixa a prestação alimentícia, o juiz mandará citar o devedor para, em 3 dias, efetuar o pagamento, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo; se o devedor não pagar, nem se escusar, o magistrado decretará sua prisão civil em até 60 dias, em regra, se os alimentos devidos estiverem fixados, em definitivo, por sentença ou acordo e, em se tratando de alimentos provisórios ou provisionais, pelo prazo de 1 a 3 meses, salvo se realmente impossibilitado de fornecê-la.

Nesse sentido, a obrigação de pagamento de alimentos interessa muito ao Estado, pois estabelece a preservação da vida do alimentando. Dessa maneira para garantir-lhe a providência da sobrevivência, o ordenamento jurídico estabelece modos de coerção para que o devedor satisfaça as necessidades do alimentando.

Desconto em folha

Uma das formas executórias para cobrança de alimentos é o desconto em folha que também pode ser vista como uma modalidade semelhante à penhora.

Os autores Wambier, Almeida e Talamini[57] definem o desconto em folha como uma espécie de penhora:

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Trata-se, em verdade, de uma espécie de penhora sobre o dinheiro, que excepciona a regra da impenhorabilidade de salários. É a penhora diferenciada, porque sucessiva, assemelhando-se, nesse ponto, ao usufruto executivo, e porque, embora por ordem do juiz, realizada por um estranho à

jurisdição, o empregador, que separa o montante e o entrega ao credor.

Como discorrem os autores Silva e Xavier[58], “O desconto em folha está previsto no art. 16 da Lei n°

5.478/68 e no art. 529 do NCPC. A efetividade da medida reside na circunstância em que o devedor praticamente não tem como inadimplir a obrigação”. Neste caso, mesmo que o desconto ocorra sobre a remuneração do devedor, quem efetiva é o terceiro, responsável pelo pagamento. Para descontos em folha é necessário que o devedor seja funcionário público, militar, diretor ou gerente de empresa ou empregado sujeito à legislação do trabalho. Os profissionais liberais não utilizam essa modalidade devido a impossibilidade de bloqueio de valores. Essa técnica executória pode ser aplicada para alimentos, provisionais, provisórios ou definitivos, oriundos de parentescos, legais ou indenizatórios.

Importante ressaltar que o terceiro responsável pelo desconto em folha do devedor, tem a obrigação de efetuar o desconto, sobre pena de punição na forma do art. 22 da Lei n° 5.478/68.

Lei nº 5.478, de 25 de julho de 1968 Art. 22[59]: Constitui crime conta a administração da Justiça, deixar o empregador ou funcionário público de prestar ao juízo competente as informações necessárias à instrução de processo ou execução de sentença ou acordo que fixe pensão alimentícia:

Pena - Detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, sem prejuízo da pena acessória de suspensão do emprego de 30 (trinta) a 90 (noventa) dias.

Parágrafo único. Nas mesmas penas incide quem, de qualquer modo, ajuda o devedor a eximir-se ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada, ou se recusa, ou procrastina a executar ordem de descontos em folhas de pagamento, expedida pelo juiz competente.

CPC – 2015 Art. 529[60]. Quando o executado for funcionário público, militar, diretor ou gerente de empresa ou empregado sujeito à legislação do trabalho, o exequente poderá requerer o desconto em folha de pagamento da importância da prestação alimentícia.

§ 1o Ao proferir a decisão, o juiz oficiará à autoridade, à empresa ou ao empregador, determinando, sob pena de crime de desobediência, o desconto a partir da primeira remuneração posterior do executado, a contar do protocolo do ofício.

§ 2o O ofício conterá o nome e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas do exequente e do executado, a importância a ser descontada mensalmente, o tempo de sua duração e a conta na qual deve ser feito o depósito.

§ 3o Sem prejuízo do pagamento dos alimentos vincendos, o débito objeto de execução pode ser descontado dos rendimentos ou rendas do executado, de forma parcelada, nos termos do caput deste artigo, contanto que, somado à parcela devida, não ultrapasse cinquenta por cento de seus ganhos líquidos.

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Wambier, Almeida e Talamini[61], explicam o procedimento para execução através de desconto em folha de pagamento:

O desconto em folha de pagamento é uma ordem do juiz àquele (funcionário publico, empregador ou qualquer outro) que tem acesso aos pagamentos do devedor. O desconto é feito através de ofício, que conterá os nomes do credor e do devedor, a importância a ser descontada e o tempo de sua duração, este último requisito na hipótese de ter sido fixado tempo certo, o que, ordinariamente, não ocorre, sendo mais comum a determinação do desconto por prazo indeterminado. Se, porventura, sobrevier alteração na obrigação alimentar (por exemplo, novo provimento em ação revisional), novo ofício será emitido, com as alterações havidas. Recebendo o ofício, o empregador imediatamente passará a deduzir, do montante a ser pago ao devedor, o valor correspondente à prestação alimentícia, para entrega o credor. A lei não exemplifica o modo como o valor deve ser entregue ao alimentando. Por isso, deve ocorrer da maneira que lhe seja mais cômoda, seja através de depósito bancário, seja por pagamento no escritório, ou repartição, ou similar, ou mesmo por outro meio que seja conveniente ao credor.

Ainda versando acerca do tema de desconto em folha de pagamento, Gonçalves[62] sustenta que:

Segundo Assis, o desconto da pensão em folha constitui meio executório de excelsas virtudes, uma vez que o efeito mandamental imediato realiza a obrigação pecuniária do título. Em atenção ao êxito e a simplicidade do mecanismo do desconto o art. 16 da lei 5478/68 conferiu-lhe total prioridade, sobrepondo- o, inclusive, à coação pessoal. Compete ao credor socorrer-se primeiro dessa modalidade executiva, para só então, frustra ou inútil por razões práticas – por exemplo: desemprego do alimentante -, cogitar de outros expedientes.

Deste modo, o desconto em folha de pagamento apresenta-se como evidente efetividade, uma vez que em havendo vínculo empregatício, pode o credor optar primeiramente pela indicação do desconto em folha para alcançar seu intento.

Importante frisar que o órgão pagador é inteiramente responsável pelo referido desconto, sob pena de incidir em prática de crime.

COBRANÇA EM ALUGUÉIS OU OUTROS RENDIMENTOS DO DEVEDOR

Este modo de execução, assim como o desconto em folha, também pode ser considerado uma forma de penhora sobre os recursos do devedor de alimentos. Na hipótese do alimentante não possuir salário ou outro tipo de recebimentos oriundos de trabalho, o credor pode valer-se de parte dos recebimentos provenientes de aluguéis.

Dispõe no art. 17 da Lei nº 5.478 de 25 de Julho de 1968[63]:

Quando não for possível a efetivação executiva da sentença ou do acordo mediante desconto em folha, poderão ser as prestações cobradas de alugueres de prédios ou de quaisquer outros rendimentos do devedor, que serão recebidos diretamente pelo alimentando ou por depositário nomeado pelo juiz.

Este artigo prevê a possibilidade de se alcançar a prestação alimentícia através do patrimônio do devedor que produzam rendimentos.

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Sobre os procedimentos para execução de alimentos através de cobrança de aluguéis ou outros rendimentos, Wambier e Talamini[64] explicam:

Nessa modalidade de execução, deve o ofício conter a assinatura do juiz, porque não esta afastada a hipótese da prática do delito previsto no art. 22 da Lei de Alimentos, uma vez que, além do empregador ou funcionário público, “nas mesmas penas incide quem, de qualquer modo, ajuda o devedor a eximir-se ao pagamento de pensão alimentícia judicialmente acordada, fixada ou majorada”. Assim, se, por exemplo, o locatário se recusar a entregar a parcela relativa aos alimentos, poderá estar incurso nas sanções desse dispositivo legal.

É visto que para proceder com o pagamento de alimentos através dos bens do devedor é necessário ofício expedido pelo Juiz. Ainda sobre o assunto os autores[65] discorrem:

O art. 17 estabelece que a prestação assim cobrada poderá ser recebida diretamente pelo credor ou por depositário nomeado pelo juiz. Valem, também aqui, as ponderações feitas acerca do recebimento no caso de desconto em folha de pagamento. Da mesma forma, deve ocorrer através do meio mais cômodo ao alimentando, e não se admite a retenção de valores.

Verifica-se que, recai sobre o locatário a obrigação do desconto da parte devida ao alimentado, sob penas judiciais.

Além disso, o alimentado pode escolher a melhor forma de recebimento do recurso.

Entende-se que além de aluguéis, é penhorável qualquer espécie de renda, incluindo, até mesmo, aplicações financeiras, carteira de ações, recebimentos de arrendamentos, participação em lucros de empresas e qualquer outra forma passível de rendimento.

Ademais, semelhante ao desconto em folha, é de responsabilidade do locatário ou àquele que possui a obrigação de pagar ao alimentante, deduzir o valor equivalente aos alimentos.

EXECUÇÃO DO CRÉDITO ALIMENTAR POR EXPROPRIAÇÃO

O credor possui a sua disposição ainda à modalidade de execução por expropriação, podendo o credor demandar a execução através da constrição de bens em nome do devedor para futura arrematação em leilão.

CPC – 2015 Art. 824[66]. A execução por quantia certa realiza-se pela expropriação de bens do executado, ressalvadas as execuções especiais.

CPC – 2015 Art. 825[67]. A expropriação consiste em:

I - adjudicação;

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II - alienação;

III - apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros bens.

CPC – 2015 Art. 826[68]. Antes de adjudicados ou alienados os bens, o executado pode, a todo tempo, remir a execução, pagando ou consignando a importância atualizada da dívida, acrescida de juros, custas e honorários advocatícios.

Importante referir que, no que se refere à expropriação de bens do devedor, o Código de Processo Civil prevê em seu art. 833[69] que a expropriação de rendimentos, vencimentos e valores recebidos por terceiros são passíveis de penhora quando versar sobre pensão alimentícia.

Art. 833. São impenhoráveis:

IV - os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, ressalvado o § 2o;

§ 2o O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de penhora para pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua origem, bem como às importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários-mínimos mensais, devendo a constrição observar o disposto no art. 528, § 8o, e no art. 529, § 3o.

A execução através de via expropriativa será aplicada por meio de requerimento simples, o devedor será intimado para efetuar o pagamento em até 15 dias. Não cumprida à obrigação alimentar, ao montante será acrescido multa de 10%.

Após os 15 dias decorridos para o cumprimento da sentença, sendo cabível o desconto em folha, o credor deverá apresentar o valor, periodicidade ao terceiro responsável pelo desconto. Passados 15 dias, o devedor poderá solicitar a impugnação, neste caso o alimentando poderá proceder com o levantamento dos valores depositados.

Caso não seja possível ou cabível o desconto em folha, a execução poderá ser feita através de penhora de bens.

De acordo com Wambier, Almeida e Talamini[70]:

A expropriação forçada não deve ocorrer sem antes a tentativa do desconto em folha de pagamentos e a cobrança em aluguéis ou outras rendas. Isso porque é mais interessante, sob a ótica do credor. No entanto, dado o princípio de que a execução deve se dar pelo meio menos gravoso ao devedor, não há óbice a que o alimentando opte, desde logo, pela expropriação.

O crédito alimentar por expropriação deve ser utilizado em terceira opção na ordem de execuções. Caso o desconto em folha de pagamento e a cobrança de alugueis ou outras rendas não seja efetiva, a solicitação

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do pagamento da expropriação será cabível.

Isso ocorre devido à liquidez das duas primeiras opções, o que não ocorre com tanta rapidez na expropriação.

Ainda no que se refere a expropriação e sobre a forma de utilização dos bens para pagamento dos débitos alimentares existe o princípio da patrimonialidade.

Este princípio assegura que para satisfazer a obrigação com o credor, a execução se dará através do patrimônio do executado. Dessa forma, inexiste qualquer forma coercitiva na pessoa do devedor, devendo unicamente incidir nos seus bens para o cumprimento do dever.

Segundo entendimento de Silva e Xavier[71]:

Este princípio é consagrado expressamente pelo Diploma Processual Civil em seu artigo 591, que traz o clássico postulado no sentido de que o devedor responde, para o cumprimento de suas obrigações, com todos os seus bens presentes e futuros, salvo as restrições estabelecidas em lei.

Desta forma, a regra geral é a busca exclusiva do patrimônio do executado. Entretanto, o nosso sistema ainda admite, em algumas situações, a realização de medidas constritivas da liberdade do devedor, que atuarão como forma de pressionar o cumprimento de determinadas obrigações.

CPC – 2015 Art. 789[72]. O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei.

Acerca disso, entende-se que o princípio da patrimonialidade tem por finalidade assegurar que o devedor responda com todos seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, ou seja, em regra a execução não poderá consistir em métodos de constrição sobre a pessoa do devedor, mas sim perante o seu patrimônio.

PENHORA ON-LINE

A lei n° 11.382/2006[73] introduziu no Código de Processo Civil a penhora online com objetivo de dar mais celeridade ao processo de execução.

Esta modalidade permite ao juiz, através de um acesso específico, verificar dados sobre valores disponíveis na conta do executado, em qualquer instituição financeira do país.

De acordo com o entender de Bueno[74]:

A preferência pelo meio eletrônico é mais do que justificável em função do tempo necessário para levantar as informações requeridas e do tempo necessário para realizar o bloqueio das quantias eventualmente encontradas, que tende a ser maior que o tempo necessário.

Conforme disposto no artigo 854 do CPC[75], é por meio do sistema Bacen-Jud que os juízes determinam

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que se tornem indisponíveis os ativos financeiros do executado até o limite da execução, quando solicitado pelo exequente.

Art. 854. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou em aplicação financeira, o juiz, a requerimento do exequente, sem dar ciência prévia do ato ao executado, determinará às instituições financeiras, por meio de sistema eletrônico gerido pela autoridade supervisora do sistema financeiro nacional, que torne indisponíveis ativos financeiros existentes em nome do executado, limitando-se a indisponibilidade ao valor indicado na execução.

O Bacen-Jud é uma ferramenta que interliga o Poder Judiciário ao Banco Central do Brasil e aos Bancos, permitindo acesso às informações financeiras do titular da conta.

Importante mencionar que, realizada a indisponibilidade, o executado será intimado para comprovar que as quantias bloqueadas são impenhoráveis, ou que o valor excede os limites da execução. Sendo deferidas estas alegações, o juiz terá o prazo de 24 horas para liberar os excessos.

Sendo assim, só ocorrerá a efetiva penhora dos valores após a manifestação do executado, dentro do prazo legal, no que tange ao bloqueio dos seus ativos financeiros.

PRISÃO CIVIL

A prisão civil se define como um cerceamento da liberdade do executado que está em débito alimentar.

Não se confunde com condenação penal, mas sim como uma forma coercitiva que o Estado promove para forçar o adimplemento da obrigação.

Interessante aludir que a prisão civil do devedor de alimentos só será determinada mediante requisição do credor quando houver a escusa do pagamento, pois só o credor pode definir se a prisão contribuirá para o cumprimento da obrigação.

Assim, não é facultado ao juiz decretar de oficio a prisão civil do devedor.

Nesse sentido, ao tratar sobre o assunto, Azevedo[76] aduz que:

A prisão por dívida de alimentos não é pena, mas meio coercitivo de execução, para compelir o devedor ao pagamento da prestação de alimentos. Essa prisão não existe, portanto, para punir esse devedor, tanto que, pagando-se o débito, a prisão será levantada.

De acordo com o art. 528 caput do Código de Processo Civil[77] o devedor será intimado pessoalmente para satisfazer a obrigação, provar que o fez ou justificar a inviabilidade de efetuar o pagamento.

Importante frisar que o referido diploma estabelece no art. 528 § 7º c/c com o art. 911 caput que a execução de alimentos se dará através de título executivo judicial ou extrajudicial.

Neste passo, a possibilidade de decretação da prisão civil corresponde até três prestações antecedentes ao

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ajuizamento da ação, bem com as que se vencerem no curso do processo, já as prestações anteriores vencidas poderão ser requeridas através da penhora de bens e valores.

Insta referir ainda que, a prisão não pode ser determinada mais de uma vez quando versar sobre o mesmo débito, pois estaria em desacordo com princípios constitucionais, além de tornar um constrangimento ilegal ao executado.

CPC - Art. 528. No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de prestação alimentícia ou de decisão interlocutória que fixe alimentos, o juiz, a requerimento do exequente, mandará intimar o executado pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo.

CPC – Art. 911. Na execução fundada em título executivo extrajudicial que contenha obrigação alimentar, o juiz mandará citar o executado para, em 3 (três) dias, efetuar o pagamento das parcelas anteriores ao início da execução e das que se vencerem no seu curso, provar que o fez ou justificar a impossibilidade de fazê-lo.

Conforme os conhecimentos de Wambier, Almeida e Talamini[78] acerca da prisão civil como execução de alimentos, trata-se de uma forma de coerção pessoal para que imponha a responsabilidade no tocante a prestação alimentar.

A prisão civil não tem caráter punitivo. Não é pena, apesar de no 2º do art. 733 constar essa expressão.

Trata-se de forma de pressão psicológica sobre o ânimo do devedor, para obrigá-lo ao cumprimento da prestação.

A modalidade de prisão civil é expressamente autorizada pela Constituição Federal. Nos termos do art.

5°, inc. LXVII/CF, “não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e do depositário infiel”. Trata-se de um meio agressivo, violento à liberdade individual, mas importantíssimo à execução dos alimentos. Silva e Xavier[79].

A prisão civil é considerada como uma forma de coação e pressão psicológica e não uma punição em si.

Em continuidade os autores[80] complementam:

O texto constitucional e as regras infraconstitucionais não restringem o uso da prisão civil aos alimentos legítimos. Portanto, afigura-se injustificável a orientação jurisprudencial no sentido de limitar o cabimento da prisão civil apenas aos alimentos legítimos, excluindo o seu uso diante dos indenizatórios.

A relevância de ambos é a mesma. Por outro lado, a jurisprudência também se inclina por limitar o uso da prisão civil aos alimentos pretéritos, entendendo que só possa ser utilizada para a cobrança das três ultimas parcelas vencidas antes da propositura da ação e das parcelas vincendas no seu curso. O fundamento para essa conclusão é de que se o credor de alimentos deixa de cobrar o que lhe é devido por mais de três meses, a verba alimentar perde a característica necessariedade, tornando despropositada a aplicação da prisão civil.

Suponha-se que a aplicação dessa técnica é coagir o devedor e instigá-lo a realizar o pagamento, após o

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acerto e pagamento do alimento ao alimentado, o devedor deverá ser posto em liberdade imediatamente mesmo que a pena não tenha findado. Da mesma forma, após o cumprimento da pena prevista sem o pagamento do débito, o executado será posto em liberdade, tendo em vista que, conforme já observado, a prisão é uma forma de coação para o cumprimento imediato da obrigação, sendo assim, passado o período da pena, entende-se que se perde o caráter da necessidade, devendo ocorrer a soltura do executado.

De acordo com Junior[81] a prisão civil se aplica quando não for possível o desconto em folha. Assim, em três dias o devedor deverá efetuar o pagamento, provando que efetuou ou então justificar o motivo de não ter feito. Caso não tenha feito e nem justificado o juiz decretará a prisão pelo prazo de um a três meses. O autor ainda explica:

Essa prisão não é o meio de execução, mas apenas de coação, de maneira que não impede a penhora de bens do devedor e ao prosseguimento dos atos executivos propriamente ditos. Por isso mesmo, o cumprimento de pena privativa de liberdade “não exime o devedor do pagamento das prestações vencidas e vincendas”.

Sobre o decreto de prisão civil, o autor complementa que a prisão civil só poderá ser decretada mediante requerimento do credor, que estará em melhor situação de julgar se o método será eficiente para o cumprimento da obrigação.

A prisão civil, é importante lembrar, não deve ser decretada ex officio. É o credor que “sempre estará em melhores condições que o juiz para avaliar sua eficácia e oportunidade”. Deixa-se, pois, ao exequente “a liberdade de pedir, ou não, a aplicação desse meio executivo de coação, quando, no caso concreto, veja que lhe vai ser de utilidade, pois pode bem acontecer que o exequente, maior interessado na questão, por qualquer motivo, não julgue oportuna e até considere inconveniente a prisão do executado”. Por se tratar de medida de exclusiva iniciativa do credor, tampouco tem o Ministério Público legitimidade para requerê-la.

Sobre a interferência do mistério público acerca da prisão civil quando do devedor de alimentos, encontra- se explicação, segundo o autor Gonçalves[82]:

O Ministério Público, como geralmente atua nestas ações apenas como fiscal do processo em defesa do menor, não pode pedir a prisão do obrigado; poderá fazê-lo, entretanto, quando se tratar de Promotor da Infância e Juventude, nas hipóteses regidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (arts. 98, II e 201, III0, e quando se tratar de pedido de investigação de paternidade, formulado com base na Lei n° 8.560/92.

Desta maneira, entende-se que a prisão civil somente é aplicada depois de esgotadas todas as alternativas previstas, e além do mais é considerada apenas como método de coação e pressão psicológica punitiva não eximindo o devedor a honrar com as prestações em aberto.

MÉTODOS ALTERNATIVOS PARA A EFICÁCIA DO ADIMPLEMENTO DA VERBA ALIMENTAR Acerca deste assunto e percebendo durante a realização deste projeto que os meios atuais de execução de alimentos não satisfazem a adimplência da verba alimentar, faz-se necessário estabelecer meios

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alternativos para uma apropriada e eficaz execução alimentar.

Conforme apresentado por Ingo Sarlet[83] a prisão civil do devedor de alimentos continua como uma das principais alternativas previstas no sistema internacional de proteção dos direitos humanos para a execução.

Foi estabelecida, juntamente com a prisão do depositário infiel (esta afastada por força de Súmula Vinculante do STF), na Constituição Federal de 1988, no artigo 5º, inciso LXVII, dispondo sobre a legitimidade da prisão nos casos de inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentar.

A justificativa de tal previsão é mais do que sabida e em si reconhecida, visto que a restrição do direito de liberdade do devedor é tida como indispensável à garantia da própria sobrevivência ou, ao menos e em geral, da satisfação de necessidades essenciais do credor. Por tal razão, a própria possibilidade da prisão civil constitucionalmente prevista, a despeito de constituir fundamento da restrição de direito (da liberdade do devedor), é ela própria uma garantia fundamental.

Todavia, como em geral todo direito e garantia fundamental, o seu alcance — aliás, como previsto no próprio dispositivo constitucional citado — será objeto de regulamentação legal, e, via de consequência, interpretação pelos juízes e tribunais, de tal sorte que a própria legislação regulamentadora poderá vir a ser, a depender do caso, declarada inconstitucional ou ser objeto de uma interpretação conforme a constituição ou mesmo não recebida pela nova ordem constitucional.

De todo modo, se no sistema processual anterior, do Código de Processo Civil de 1973, já existiam algumas importantes controvérsias, em especial quanto ao regime prisional, dada a omissão legislativa a esse respeito, o problema volta a ter papel de destaque mediante a entrada em vigor do novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015), que introduziu alguns importantes ajustes no âmbito do procedimento especial que regula a execução da obrigação alimentar.

Dessa forma, tendo em vista que o desígnio do estabelecimento da prisão civil não é em si um modo penal, mas sim uma forma de coação, estabelece um meio processual para forçar o devedor a pagar sua dívida alimentar o Código de Processo Civil de 1973, no seu artigo 733[84], parágrafo 1º, previa que o juiz decretaria a prisão pelo prazo de 1 a 3 meses em regime fechado no caso de o devedor não pagar nem se escusar, ou nos casos em que a escusa apresentada for afastada por improcedente pelo Poder Judiciário.

Contudo, os tribunais ao se deparar com o caso concreto, contrariamente ao entendimento do STF no sentido de que o devedor devesse cumprir a pena e regime fechado, decretavam o recolhimento ao sistema carcerário apenas no período noturno e finais de semana.

Os julgadores defensores deste posicionamento alegavam que a medida adotada era ao mesmo tempo no sentido de evitar o contato dos devedores de alimentos com presos comuns do regime fechado e que possibilitaria o aferimento de recursos para sua própria subsistência e para cumprir com a obrigação alimentar.

Além disso, importante frisar que o STJ também vem afastando a prisão civil dos avós quando o pai possui condições de se responsabilizar pela dívida alimentar.

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Dessa forma, observando os critérios da proporcionalidade, a prisão civil do devedor de alimentos somente poderá ser determinada quando outras formas de coerção não se demonstrem suficientes para o adimplemento da obrigação, ou em casos de reiterada inadimplência.

Conforme próprio entendimento do STF, a decretação da prisão quando aplicada, merece uma análise com enfoque na Constituição Federal, visto que o cerceamento de liberdade do devedor de alimentos demonstra um quadro preocupante no cenário atual, posto que o Estado não detém de mínimas condições de isolar um devedor de alimentos dos presos comuns, situação que merece acuidade ao determinar tal atitude, para que não haja quaisquer situação desumana ou indigna, bem como que não transforme um devedor de alimentos num criminoso.

Isto posto, interessante que se proporcionem medidas eficazes para que, em não sendo viável suprimir, ao menos atenuar as consequências da prisão civil por débito alimentar sem abster-se das necessidades do alimentado.

Sendo assim, nos casos de desemprego do alimentante cumulado com a ineficiência do Estado em garantir condições minimamente aceitáveis com a dignidade do devedor de alimentos, necessário que haja políticas públicas para que garanta uma forma mais harmonizável para a satisfação do débito.

Artigo 139 do código de processo civil

Com o advento do Código de Processo Civil, pode-se observar que através do referido artigo, pode o juiz aplicar medidas que assegurem o cumprimento da ordem judicial.

Neste contexto, o legislador estabeleceu que se utilizassem formas de coerção indireta antecedentes à prisão civil, que se demonstra como a forma mais extrema para o cumprimento da obrigação.

Contudo, o mesmo diploma constituiu a possibilidade de prisão civil do alimentante, mesmo que o crédito alimentar se assente sobre um título executivo extrajudicial. Portanto, ao mesmo tempo em que assegurou medidas coercitivas, favoreceu o decreto da prisão civil, o que será necessária extrema prudência dos julgadores na utilização destes recursos.

Com análise do artigo 139, inciso IV, entende-se que o juiz possui autonomia para obrigar o devedor a cumprir com a sua obrigação. A interpretação do referido artigo permite ao juiz definir qual o melhor método que utilizará para assegurar o cumprimento das obrigações.

Dessa forma surgem possibilidades alternativas, quais sejam, bloqueio de emissão de documentos de fé pública, inclusive passaportes, inclusão do cpf em órgãos de proteção ao crédito, suspensão da CNH e bloqueio de linhas de crédito.

Estes mecanismos auxiliariam na busca dos chamados devedores profissionais, que conseguem proteger seu patrimônio com a finalidade de não serem forçados a pagar os débitos. Art. 139[85]. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:

IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação

Referências

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