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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS ESCOLA DE POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNO RAFAEL ANDRE ARENA

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Academic year: 2021

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FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS

ESCOLA DE POLÍTICAS PÚBLICAS E GOVERNO

RAFAEL ANDRE ARENA

PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA: UMA ANÁLISE DO AUXÍLIO EMERGENCIAL

BRASÍLIA

2021

(2)

RAFAEL ANDRE ARENA

PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA: UMA ANÁLISE DO AUXÍLIO EMERGENCIAL

Dissertação apresentada à Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getulio Vargas como requisito para obten- ção do título de mestre em Economia.

Área de concentração: Economia

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Borges da Silva

BRASÍLIA

2021

(3)

Arena, Rafael Andre.

Programas de transferência de renda : uma análise do auxílio emergencial / Rafael Andre Arena. – 2021

39 f.

Orientador: Eduardo Borges Silva.

Dissertação (mestrado MPEB) - Fundação Getulio Vargas, Escola de Políticas Públicas e Governo.

1. Programas de sustentação de renda. 2. Renda - Distribuição - Brasil. 3.

Políticas públicas - Brasil. 4. COVID-19 Pandemia, 2020-. I. Silva, Eduardo Bor- ges. II. Dissertação (mestrado profissional MPPG) – Escola de Políticas Públicas e Governo. III. Fundação Getulio Vargas. IV. Título.

CDU: 330.564(81)

Ficha Catalográfica elaborada por: Isabele Oliveira dos Santos Garcia CRB SP-010191/O

Biblioteca Karl A. Boedecker da Fundação Getulio Vargas - SP

(4)

RAFAEL ANDRE ARENA

PROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA: UMA ANÁLISE DO AUXÍLIO EMERGENCIAL

Dissertação apresentada à Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getulio Vargas como requisito para obten- ção do título de mestre em Economia.

Área de concentração: Economia Data de aprovação: 04/11/2021.

Prof. Dr. Eduardo Borges da Silva Orientador

FGV - EPPG

Prof. Dr. Benjamin Miranda Tabak FGV - EPPG

Prof.ª Dr.ª Erika Akemi Kimura Reis

Banco do Brasil

(5)

AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar aos meus pais, Janete e Renato, pelo exemplo e importância sempre dada à educação em nossa família. A busca pelo conhecimento a mim sempre foi incentivada!

À minha esposa Tania, que me apoiou deste o início desta jornada, me incen- tivando desde a inscrição, estando ao meu lado durante os meses de estudo. Ao longo do mestrado, passamos pela gravidez e nascimento da nossa filha Lia e, mesmo durante este momento atípico de pandemia, soube da importância desta conquista, demostrando paciência e companheirismo. Te amo!

À minha Vó Lia, que lá do céu está transbordando de orgulho.

Ao Professor Nelson pela inspiração em suas aulas e seu brilhantismo em traduzir em linguagem simples até mesmo os assuntos mais complexos.

Ao professor Eduardo pela parceria na orientação deste trabalho, em especial a

sua disponibilidade, dedicação e paciência.

(6)

"Para todo problema complexo, existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada."

(Henry Louis Mencken)

(7)

RESUMO

O estudo tem como objetivo analisar o impacto das variáveis do perfil dos beneficiários para destinação dos recursos recebidos via programas de transferência de renda.

Utilizando uma base de dados de 3 milhões de beneficiários do Auxílio Emergencial, programa de transferência de renda criado pelo governo brasileiro para atenuar os efei- tos econômicos das medidas sanitárias durante a epidemia da COVID 19 no período de abril de 2020 a janeiro de 2021, encontramos que idade e sexo são significativos para determinar a parcela destinada pelos beneficiários para gastos essenciais. Os resulta- dos encontrados podem auxiliar os agentes públicos a melhorar a alocação de recursos nos programas de transferência de renda através da adequação dos critérios de quali- ficação buscando assim maior eficiência do gasto das políticas públicas de cunho social.

Palavras-chave: Transferência de renda. Auxílio Emergencial. Políticas públicas.

(8)

ABSTRACT

The study aims to analyze the impact of the beneficiary profile variables for the destina- tion of resources received through cash transfer programs. Using a database of 3 million beneficiaries of Auxílio Emergencial (emergency aid), a cash transfer program created by the Brazilian government to mitigate the economic effects of sanitary measures du- ring the COVID 19 epidemic in the period from April 2020 to January 2021, we found that age and gender are significant in determining the share allocated by beneficiaries for es- sential expenditures. The results found can help public agents to improve the allocation of resources in income transfer programs through the adequacy of qualification crite- ria, thus seeking greater efficiency in the expenditure of public policies of a social nature.

Keywords: Income transfer. Emergency aid. Public policy.

(9)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Evolução dos recursos orçamentários no processo de unificação dos

Programas de Transferências de Renda Condicionadas . . . . 18

Figura 2 – Distribuição por faixa etária . . . . 28

Figura 3 – Distribuição por região . . . . 29

Figura 4 – Beneficiários por UF . . . . 29

Figura 5 – Beneficiários por UF . . . . 30

Figura 6 – Valor total recebido por faixa . . . . 31

Figura 7 – Tabela de Resultados da Regressão no Cluster Unidade da Federação 33

Figura 8 – Tabela de Resultados da Regressão no Cluster Regiões . . . . 34

(10)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Valores pagos e pessoas atendidas por tipo de benefício em progra-

mas atrelados as medidas de combate à COVID-19 (em R$) . . . . 25

(11)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BPC Benefício de Prestação Continuada

CEF Caixa Econômica Federal

OMS Organização Mundial da Saúde

PBF Programa Bolsa Família

PIB Produto Interno Bruto

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PTRC Programa de Transferência Condicional de Renda

URSS União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

(12)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO . . . . 12

1.1 Objetivo geral . . . . 14

2 REVISÃO DE LITERATURA . . . . 15

2.1 Histórico dos programas de transferência de renda no Brasil . . 15

2.2 Programas Emergenciais de Transferência de Renda . . . . 20

2.3 Programa Emergencial de Transferência de Renda no Brasil - Auxílio Emergencial . . . . 22

3 METODOLOGIA . . . . 26

3.1 Transformação das variáveis . . . . 26

3.2 Coeficientes de regressão . . . . 26

3.3 Dados . . . . 27

3.3.1 Variáveis de perfil de cliente . . . . 27

3.3.1.1 Idade . . . . 27

3.3.1.2 Gênero . . . . 28

3.3.1.3 Região . . . . 28

3.3.1.4 Localização . . . . 28

3.3.1.5 Abono Salarial . . . . 28

3.3.1.6 Geração . . . . 29

3.3.2 Variáveis do Auxílio Emergencial . . . . 30

3.3.2.1 Valor total recebido . . . . 30

3.3.2.2 Valor alocado em gastos essenciais . . . . 30

3.3.2.3 Valor alocado em gastos não essenciais . . . . 30

3.3.2.4 Valor Indeterminado . . . . 31

4 ANÁLISE E RESULTADOS . . . . 32

4.1 Volume Indeterminado . . . . 35

4.2 Gênero . . . . 35

4.3 Idade . . . . 35

4.4 Abono Salarial . . . . 36

4.5 Volume total recebido de Auxílio Emergencial . . . . 37

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . 38

REFERÊNCIAS . . . . 39

(13)

12

1 INTRODUÇÃO

O surgimento de políticas públicas conhecidas como Estado de Bem-estar Social, logo após a Segunda Guerra Mundial, definiu uma mudança na relação entre o Estado e a população, em especial aquela parcela mais vulnerável. Este novo posicionamento do Estado trouxe à tona a preocupação em garantir o direito a condições mínimas de sobrevivência. Um bom exemplo deste novo momento foi a aprovação, em 1942 de uma série de novos programas nas áreas da saúde e de educação pelo Reino Unido.

Segundo Pase e Melo (2017), ainda após o fim da Segunda Guerra Mundial, duas concepções distintas de Estado dividiram a estrutura das discussões em prati- camente todos os países. De um lado, o ideal comunista, formulado Stálin e Lênin, que foi a força para criação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), com uma defesa da distribuição da riqueza de forma igual entre todos os cidadãos, independendo de sua contribuição.

Por sua vez, o Welfare State, formulado por Keynes, defendia que o Estado é o responsável por garantir o mínimo necessário para a sobrevivência de todo e qualquer indivíduo, independentemente da sua contribuição no pagamento de impostos ou na construção da riqueza do país (PIB).

Em pese os avanços nesta política de inclusão, segundo relatório do Banco Mundial (2015), em 2008 apenas 28 países possuíam programas de transferência com foco em diminuir a pobreza e aplacar a fome: Burquina Fasso, Nigéria, Turquia, Paquistão, Iêmen, Quênia, Índia, Bangladesh, Camboja, Filipinas, Indonésia, sendo 17 somente na América Latina: México, Guatemala, El Salvador, Costa Rica, Panamá, Equador, Peru, Chile, República Dominicana, Jamaica, Honduras, Nicarágua, Colômbia, Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina.

Nestes países criaram-se ao longo dos anos estruturas de governo capazes de identificar os beneficiários, efetuar os cadastros necessários, construir uma rede de acompanhamento quando de transferências com condicionalidades, além de uma estru- tura para pagamento destes benefícios, seja via rede bancária com cartão magnético ou mesmo utilização de canais alternativos.

Neste sentido, possuir políticas públicas de transferência de renda foi fundamen-

tal para o Brasil atuar de forma proativa frente ao aumento da pobreza decorrente da

queda da atividade econômica com o avanço da COVID-19. Diante da crise sanitária

e econômica ocasionada pela pandemia, houve necessidade de prestação de auxílio

financeiro às pessoas impactadas, sendo a Caixa Econômica Federal a instituição esco-

lhida pelo Governo Federal como agente operador para pagamento desta transferência,

(14)

Capítulo 1. Introdução 13

chamada de Auxílio Emergencial 1 .

Dentre os contemplados, diversos eram “invisíveis” ao Sistema Financeiro Naci- onal, não possuindo relacionamento bancário em instituições financeiras tradicionais ou fintechs antes do início do pagamento do benefício social.

Pela primeira vez o pagamento de um benefício não foi precedido de um cadastro presencial. Até então, era necessário a apresentação de uma série de documentos, bem como recebimento de um cartão bancário para saque do benefício bem como a necessidade de cadastramento de senha em uma agência bancária.

Para pagamento do Auxílio Emergencial foram abertas 106 (cento e seis) milhões de contas poupança social digital, que são acessadas pelos beneficiários via ferramenta digital, o aplicativo CAIXA Tem. Este aplicativo foi criado para viabilizar a movimentação dos recursos em período de pandemia sem a necessidade de deslocamento à rede de agências bancárias até então utilizada.

Com a vigência da Lei 14.075/2020, a conta poupança social digital, criada para pagamento do auxílio emergencial, também pode ser utilizada para o pagamento de outros benefícios, ampliando assim a sua utilização, pois antes mesmo da pandemia, cerca de 35 milhões de brasileiros recebiam benefícios sociais pela CAIXA.

Esta nova modalidade de pagamento, além de ter acelerado o processo de pagamento, permitiu a bancarização de 35 milhões de brasileiros, garantindo maior inclusão digital e financeira da população mais vulnerável, incluindo a 38 milhões de pessoas que não estavam em nenhum cadastro do Governo (novos visíveis). Também, pode-se destacar a redução de papel moeda, custo com transporte de valores e com segurança, despesas com agências bancárias e emissão de cartão e outros custos administrativos, tornando esta política pública mais eficiente.

Outra inovação importante foi a disponibilização pela plataforma de pagamento (aplicativo CAIXA) da funcionalidade de compras via QR Code. Somente esta nova modalidade, segundo a Caixa, totalizou mais de R$ 9 bilhões transacionados em mais de 63 milhões de compras, incluindo as compras via cartão de débito virtual a soma dos valores transacionados supera a cifra de R$ 39 bilhões. Por ser uma conta digital, a plataforma também permitiu o pagamento de contas de consumo (água, luz, telefone, gás) e outros boletos sem a necessidade de saque de recursos, como era anteriormente.

Portanto, o presente estudo analisou o perfil dos beneficiários do Auxílio Emer- gencial, com dados do cadastro feito previamente ao recebimento do benefício via

1

O programa Auxílio Emergencial, instituído pela Lei nº 13.982, de 02 de abril de 2020, é uma política

pública de enfrentamento aos efeitos da pandemia pelo COVID19, que realiza o repasse de recursos

financeiros a profissionais autônomos e desempregados para alívio imediato da redução de sua

renda pessoal no período da pandemia.

(15)

Capítulo 1. Introdução 14

aplicativo Auxílio Emergencial.

1.1 Objetivo geral

O objetivo deste trabalho foi analisar os dados obtidos sob a ótica de destinação

dos recursos recebidos, a fim de verificar quais variáveis possuem maior impacto na

probabilidade do beneficiário alocar os valores recebidos em despesas consideradas

essenciais.

(16)

15

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Histórico dos programas de transferência de renda no Brasil

Os programas de transferência de renda foram concebidos com o objetivo princi- pal de reduzir as desigualdades sociais, combater a pobreza e ampliar os mecanismos que garantem a proteção social da população mais vulnerável. Estes mecanismos de atuação governamental têm auxiliado especialmente os países em desenvolvimento a atuar na melhoria da qualidade de vida dos mais pobres.

Enquanto as discussões sobre o assunto têm início na Europa na década de 1930, no Brasil datam de 1975 os primeiros estudos sobre a introdução de um programa de renda mínima vinculado a uma agenda de erradicação da pobreza no país. Neste ano, Silveira (1975) apresentou uma proposta de “Redistribuição de Renda”

para permitir o estabelecimento de uma relação entre crescimento econômico e bem- estar, tendo como proposta central uma gradativa extinção da pobreza. Isso exigiria uma intervenção governamental no sentido de garantir uma transferência monetária baseada no nível de subsistência da população de baixa renda.

Nos anos seguintes, Bacha e Unger (1978) defenderam a complementação monetária das famílias mais pobres como mecanismo de redistribuição de renda, com base na ideia de que a construção de uma sólida democracia requer necessariamente um “nível aceitável” de desigualdade e de miséria num país. Contudo, de acordo com Soares (2010), apenas com a promulgação da Constituição Federal de 1988 criaram-se as condições para a formação de um sistema de proteção social brasileiro.

Por outro lado, Programas de Transferência de Renda começaram a fazer parte da agenda de políticas públicas brasileiras somente em 1991, quando o senador Eduardo Suplicy apresentou o projeto do Programa de Garantia da Renda Mínima.

Segundo Ramos (1994), o projeto aprovado em dezembro do mesmo ano tinha como foco beneficiários todos os brasileiros residentes no país, maiores de 25 anos e com renda de até 45 mil cruzeiros (aproximadamente 45 dólares). Suplicy (2003) atribui a primeira proposta de renda mínima, instituída como imposto de renda negativo, a Antônio Maria da Silveira, publicada em 1975.

Somente em 1995 inicia-se a transferência direta de renda à população mais

vulnerável. A primeira experiência bem-sucedida neste sentido foi implantada no Distrito

Federal pelo então governador Cristovam Buarque, com a criação do Bolsa-Escola. O

programa assegurava o pagamento de um salário-mínimo para as famílias carentes com

filhos de 7 a 14 anos matriculados em escolas públicas de Brasília. Tratava-se de um

(17)

Capítulo 2. Revisão de Literatura 16

programa de transferência condicionada de renda (CCTP), ou seja, as transferências do programa eram condicionadas ao cumprimento pelos beneficiários de uma agenda preestabelecida da área de educação. Cabe destacar também as experiencias dos municípios de Campinas (SP), Ribeirão Preto (SP), Santos (SP) e Salvador (BA), iniciativas locais de programas de renda mínima e de transferência de renda (PTR) criados em 1995 (SANTOS; PASQUIM; SANTOS, 2011).

Segundo Saboia e Rocha (1998), a mudança na forma das políticas públicas ini- ciada em 1995 com a introdução da transferência direta de renda teve como principais motivações: 1) a pouca eficácia reconhecida dos programas baseados na distribuição gratuita de alimentos (tais como o programa de distribuição de leite em pó e distribui- ção de cestas básica), que visavam até então atender a necessidades nutricionais, baseando-se na premissa de que estas são as mais essenciais no âmbito do consumo da população; e 2) a motivação de que, dado o valor do dispêndio do governo, o bem-estar do beneficiado será maximizado quando ele próprio decide onde alocar a renda adicional.

Em 1996 o governo federal lançou o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti), primeiro Programa de Transferência Condicional de Renda (PTCR) em âmbito federal. O Peti teve como objetivo retirar crianças e adolescentes de até 16 anos do trabalho infantil. No mesmo ano, teve início o pagamento do BPC: O Benefício de Prestação Continuada, em que pese já estar previsto na Constituição de 1988. O BPC é uma transferência de renda sem condicionalidades e independe de contribuição prévia para o regime de seguridade social de idosos com 65 anos ou mais e/ou pessoas com deficiência não aptas ao trabalho e a uma vida independente, que vivem em famílias com renda familiar per capita abaixo de 1/4 do salário-mínimo (R$ 275,00 em 2021). O valor do benefício é igual a um salário-mínimo 1

Outro ponto que merece destaque no BPC é que se trata de um dos poucos benefícios com administração conjunta da previdência e da assistência social no governo federal. Embora a coordenação do programa hoje seja feita pelo órgão gestor da assistência social, a solicitação do benefício é feita nas agências do INSS, inclusive a seleção dos beneficiários é feita em sua maioria por médicos peritos da Previdência.

A Lei 9.533/97 e o Decreto 3.117/99 regulamentaram um Programa de Garantia de Renda Mínima vinculado à educação de responsabilidade municipal, com apoio da esfera federal (BRASIL, 1997; BRASIL, 1999), cuja implementação, segundo Santos, Pasquim e Santos (2011), foi incipiente.

No âmbito federal, a primeira experiência efetiva teve início em 2001, com o lançamento do Programa Nacional Bolsa Escola (PNBE), gerido pelo Ministério da

1

O valor do salário-mínimo em 2021 é de R$ 1.100,00.

(18)

Capítulo 2. Revisão de Literatura 17

Educação e voltado para crianças de 7 a 15 anos e o Programa Bolsa Alimentação (PBA), do Ministério da Saúde, com foco em crianças de 6 meses a 6 anos, gestantes e nutrizes. Os dois programas possuíam como critério renda familiar per capita abaixo de R$ 90,00 e benefícios de R$ 15,00 (máximo de três por família, ou seja, R$ 45,00).

O critério de risco social para acesso ao benefício do Bolsa Escola (valor máximo de R$ 90,00 de renda familiar mensal per capita) foi incorporado ao programa com o Decreto 3.823/01, que estabeleceu competências da União para organização e manutenção de um cadastro nacional de beneficiários, então chamado de CadBes, além de definir os procedimentos para adesão, concessão e pagamento dos benefícios e seguimento da frequência escolar.

Já o PBA foi criado a partir da MP 2.206/01, com o objetivo de promover uma "complementação da renda familiar para melhoria da alimentação". Trouxe como inovação o benefício de ser recebido preferencialmente pela mulher e vinculou o financiamento ao Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza. Além disso, tinha a renovação do benefício de modo prioritário às crianças menores de dois anos que permanecessem com estado nutricional inadequado e previu o controle social sob responsabilidade dos Conselhos Municipais de Saúde, que deveriam aprovar inscrições, renovações e desligamentos.

Com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2012, teve início em 2013 a unificação dos benefícios sociais lançados no governo anterior de Fernando Henrique Cardoso. Para a unificação foi criado um cadastro único no âmbito federal (CADÚnico) no sentido de possibilitar o pagamento por meio de um único cartão magnético. A unificação dos programas estava proposta no Plano Plurianual 2004-2007, denominado Brasil de Todos (MINISTÉRIO DO PLANEJAMENTO, ORÇAMENTO E GESTÃO, 2003).

Tinha como principais desafios:

I. Combater a fome visando a sua erradicação e promover a segurança alimentar e nutricional, garantindo o caráter de inserção e cidadania;

II. Ampliar a transferência de renda para as famílias em situação de pobreza e aprimorar os seus mecanismos;

III. Promover o acesso universal, com qualidade e equidade à seguridade social (saúde, previdência e assistência);

IV. Promover o aumento da oferta e a redução dos preços de bens e serviços de consumo popular;

V. Reduzir a vulnerabilidade das crianças e de adolescentes em relação a todas as

formas de violência, aprimorando os mecanismos de efetivação dos seus direitos

sociais e culturais

(19)

Capítulo 2. Revisão de Literatura 18

VI. Reduzir a mortalidade infantil

VII. Erradicar o trabalho infantil degradante e proteger o trabalhador adolescente; e VIII. Assegurar os serviços de proteção à população mais vulnerável à exclusão social.

Assim, a Medida Provisória Nº. 132, de 20 de outubro de 2003, convertida na Lei Nº. 10.836 de 2004 criou o Programa Bolsa Família (PBF). Logo após a publicação da lei, cessaram as novas concessões dos antigos programas e teve início a expansão do novo programa. Na Figura 1 destaca-se a migração dos antigos programas para o novo e uma acentuada elevação do orçamento destinado. O aumento do orçamento do PBF foi justificado pelo Governo Federal com a ousada meta de universalizar o benefício, atendendo assim a totalidade das famílias em situação de pobreza (que, segundo dados da PNAD de 2001, eram aproximadamente 11,1 milhões de famílias).

Figura 1 – Evolução dos recursos orçamentários no processo de unificação dos Pro- gramas de Transferências de Renda Condicionadas

Fonte: Elaboração própria com dados da Câmara dos Deputados

O Governo Federal justificou a unificação dos programas com a busca da

melhoria da gestão e aumento da efetividade do gasto social; a atuação multisetorial

(introdução de uma visão ampla do Governo, e não mais segmentada por Ministério) e

o combate à pobreza e à exclusão considerando suas múltiplas dimensões, uma vez

que isolados, os programas de transferência de renda tendem a reduzir a capacidade

de transformação social. Cabe destacar ainda que o Bolsa Família introduziu algumas

inovações no âmbito dos programas de transferência de renda do governo federal

e passou a proteger a família inteira ao invés do indivíduo; aumentou o valor dos

benefícios pagos; e simplificou a gestão de todos os programas um único.

(20)

Capítulo 2. Revisão de Literatura 19

Devemos observar que os programas de transferência de renda implantados ao longo dos anos pelo Governo Federal possuem características que os distinguem de outras políticas públicas. Primeiro, embora os programas tenham diferentes critérios de elegibilidade, todos focam no mesmo público-alvo: indivíduos ou famílias em situação de pobreza. Ou seja, a concessão dos benefícios não pressupõe pré-requisitos. Além disso, os benefícios concedidos são transferidos diretamente ao beneficiário via pagamento bancário e sacado por meio de cartão magnético. Outra característica importante é a ausência do caráter contributivo. Para receber o benefício não é necessário que o cidadão tenha contribuído anteriormente à Previdência Social, por exemplo. Assim, fica claro, o objetivo de combater a pobreza e às situações de vulnerabilidade social de pessoas de baixa renda, bem como o foco na distribuição de renda.

Os programas têm como ponto de convergência o conceito de transferências condicionadas de renda ou conditional cash transfers, ou seja, programas dirigidos às famílias mais pobres sob a condição de que os beneficiários cumpram certas exigências como, por exemplo, a frequência escolar dos filhos crianças e adolescentes. Para o então Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (2008), o cumprimento das condicionalidades é importante no sentido de criar condições para que as famílias construam suas próprias capacidades de emancipação social.

De acordo com Rocha (2005), as políticas de transferência de renda, imple- mentadas a partir de meados da década de 1990, são relevantes na explicação da queda recente da desigualdade. No final do mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso, o governo federal implantou uma série de políticas de combate à pobreza e, em 2003, já no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as políticas de transfe- rência direta foram ampliadas com a criação do PBF. Barros et al. (2009) constataram que programas de transferência de renda foram e são muito mais efetivos para redução da desigualdade do que as políticas de aumento de salário-mínimo.

Para Medeiros, Britto e Soares (2007), o Programa Bolsa Família e seus anteces- sores Bolsa Escola e Bolsa Alimentação conseguiram aliar dois importantes objetivos:

redução da pobreza no curto prazo, por meio das transferências de renda e o combate a transmissão intergeracional da pobreza ao incentivar as famílias a investir na educação de crianças e adolescentes.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ressaltou em nota técnica em 2006

que a criação de programas federais de transferência de renda foi uma das mais

importantes novidades ocorridas na política social brasileira na última década (IPEA,

2006). Para se ter a grandeza e a importância destes programas, Hoffman (2006)

estimou, utilizando dados das PNADs, que os programas de transferência contribuíram

com 28% da redução na desigualdade no país de 1998 a 2004. Se considerarmos

apenas a região Nordeste, segundo o autor, este percentual sobe para 66%.

(21)

Capítulo 2. Revisão de Literatura 20

2.2 Programas Emergenciais de Transferência de Renda

O ano de 2020 iniciou turbulento no cenário econômico mundial. Isso porque, em 31 de dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi alertada sobre vários casos de pneumonia na cidade de Wuhan, na China. Na verdade, tratava-se de uma nova variante de coronavírus até então nunca identificada em seres humanos.

Segundo a OMS, até aquele momento, o coronavírus era apenas a segunda principal causa de resfriado comum (após o rinovírus) e, até as últimas décadas, raramente causavam doenças mais graves em humanos.

Até meados de janeiro, os casos ainda estavam concentrados na China. Porém, no início de fevereiro a doença se alastrou rapidamente pela Europa, especialmente pela Itália. O avanço do coronavírus logo despertou o alerta dos impactos na economia, levando a uma queda das bolsas do mundo todo 2 . O medo do impacto do vírus na economia mundial também fez a cotação do petróleo cair drasticamente, enquanto a cotação do ouro, tradicional refúgio dos investidores em momentos de crise, em movimento contrário, teve forte valorização.

Somente em 11 de março de 2020 a COVID-19 foi caracterizada pela OMS como uma pandemia. Assim, no cenário internacional, fortaleceu-se a perspectiva de forte retração do crescimento em 2020. Neste sentido, com o objetivo de minimizar os impactos econômicos da pandemia, os governos das principais economias do mundo passaram a adotar políticas fiscais e monetárias expansionistas.

A França, por exemplo, flexibilizou as regras para acessar o seguro-desemprego ao mesmo tempo que permitiu o recebimento do benefício por um período maior. Além disso, o governo francês lançou, no dia 23 de março de 2020, um programa emer- gencial para sustentação de renda, tendo como alvo os trabalhadores independentes (trabalhadores por conta própria, profissionais liberais, artesãos e artistas-autores). O orçamento inicial de C 1,2 bilhão foi logo majorado para C 7 bilhões em abril de 2020.

Nos Estados Unidos da América, o então presidente Trump sancionou em 27 de março de 2020 o CARE Act (Lei de Auxílio, Alívio e Segurança Econômica de Coronavírus 3 ). Com base nesta aprovação, o governo norte-americano realizou pagamentos diretos, denominados Pagamentos de Impacto Econômico, para todos os residentes legais do país, desde que contasse com renda bruta anual inferior a US$ 99 mil. O montante alocado no pagamento deste benefício superou os US$ 301 bilhões.

O pagamento do benefício foi escalonado conforme renda bruta anual. Desta

2

No dia 9 de março de 2021, as principais Bolsas da Europa registraram fortes quedas (de quase 9%) e fecharam no menor nível em oito meses. No período de fevereiro a março de 2020, conforme dados da Reuters, as empresas europeias perderam quase US$ 3 trilhões em valor de mercado.

3

Mais detalhes sobre o programa podem ser encontrados em: <https://home.treasury.gov/policy-issues/

coronavirus/assistance-for-American-families-and-workers>

(22)

Capítulo 2. Revisão de Literatura 21

forma, os indivíduos com renda anual bruta inferior US$ 75 mil (ou US$ 150 mil quando um casal) receberam US$ 1.200 (ou US$ 2.400 para casais), com adicional de US$ 500 por criança com menos de 17 anos de. Para indivíduos com renda bruta superior US$

75 mil e inferior a US$ 99 mil (ou US$ 198 mil quando um casal), ocorreu um deflator de US$ 5 para cada US$ 100 acima dos limites de US$ 75 mil / US$ 150 mil. Utilizando informações do Internal Revenue Service (IRS), o governo norte americano evitou que a maioria dos beneficiários necessitasse solicitar o benefício. Os pagamentos sob a forma de depósitos diretos em conta ou cheques enviados pelo correio foram realizados automaticamente pelo governo norte-americano.

A chanceler alemã Ângela Merkel anunciou, em 23 de março de 2020, um pacote de estímulo no valor de C 750 bilhões que prontamente foi aprovado pelo Parlamento alemão, em dia 27 de março do mesmo ano. Segundo a imprensa alemã, o pacote focou em medidas de assistência financeira aos trabalhadores independentes e por conta própria.

As medidas permitiram que os trabalhadores autônomos, por exemplo, tivessem acesso mais fácil ao programa Grundsicherung 4 (um dos três programas de renda mínima do governo alemão). Além disso, os procedimentos para renovação de todos os diferentes programas de renda mínima, chamado teste de meios (verificação das condições de renda e patrimônio), foram suspensos por seis meses e os pagamentos passaram a ser feitos de forma mais tempestiva.

Outra importante medida foi o Programa de Assistência Imediata (Soforthilfe 5 ), com orçamento total previsto até C 50 bilhões. Esta ação concedeu um auxílio financeiro emergencial, de até C 9 mil para os trabalhadores independentes e de até C 15 mil para pequenas empresas com até 10 empregados. O auxílio pôde ser solicitado via site do governo alemão ou ainda via governos estaduais, que foram os responsáveis em efetivar os pagamentos aos beneficiários.

No Japão o primeiro-ministro Shinzo Abe, por sua vez, anunciou um conjunto de ações que incluía a concessão de auxílio financeiro de ¥ 300 mil (cerca de US$ 2,8 mil) para cada família que teve queda ou perda da renda em razão da pandemia. Este programa de transferência de renda contemplou indivíduos com renda mensal inferior ou igual a ¥ 100 mil e famílias com um dependente, cuja renda mensal dos principais assalariados tenha caído para ¥ 150 mil ou abaixo deste valor. Para famílias com mais dependentes o limite de renda foi acrescido em ¥ 50 mil para cada dependente adicional.

4

Mais detalhes sobre o programa podem ser encontrados em: <https://www.

deutsche-rentenversicherung.de/DRV/DE/Rente/In-der-Rente/Grundsicherung/grundsicherung_

node.html>

5

Mais detalhes sobre o programa podem ser encontrados em: <https://wm.baden-wuerttemberg.de/

de/service/foerderprogramme-und-aufrufe/liste-foerderprogramme/soforthilfe-corona/>

(23)

Capítulo 2. Revisão de Literatura 22

Posteriormente, no dia 16 de abril de 2020, o governo japonês decidiu ampliar o alcance do programa de transferência de renda e o auxiliou de ¥ 100 mil (cerca de US$

930) passou a ser feito para todos os residentes do país, tanto japoneses como estran- geiros, desde que residissem no Japão há mais de três meses, independentemente da renda. Para ter acesso ao auxílio, os japoneses tiveram que efetuar uma solicitação on- line ou enviar o formulário pelo correio, bem como um documento oficial de identidade e informações bancárias até o final do mês de abril. Os pagamentos foram iniciados no mês de maio. Além das transferências para famílias, houve destinação de recursos para o pagamento de um auxílio financeiro, sob a forma de doação, no valor máximo de ¥ 1 milhão (US$ 9,3 mil) para microempreendedores e trabalhadores freelancers que apresentam queda de 50% ou mais na receita mensal em razão das interrupções de atividade.

2.3 Programa Emergencial de Transferência de Renda no Brasil - Auxílio Emer- gencial

No Brasil, a aceleração dos casos na segunda quinzena de março aliada ao pessimismo do cenário econômico mundial levaram a economia doméstica a um forte nível de desaceleração. Desde que se anunciaram as primeiras medidas de isolamento e de distanciamento social, iniciaram as construções e sugestões de medidas para a garantia do emprego e da renda.

Isso ocorreu pois as medidas sanitárias eram fundamentais para conter ou mesmo desacelerar o contágio, evitando desta forma o colapso do sistema de saúde em um momento que ainda se desconhecia o tratamento adequado a COVID-19. Tais medidas, em pese necessárias, provocaram fortes impactos no mercado de trabalho.

Em virtude das restrições sanitárias e da incerteza que influenciou as decisões no mercado financeiro, com consequências na economia real, milhões de brasileiros ficaram em condições econômicas precárias – em especial os setores de comércio e serviços que possuem muitos trabalhadores informais e tiveram suas atividades temporariamente encerradas e/ou tiveram expressiva queda nas vendas. Os pequenos prestadores de serviços, comerciantes e toda a mão de obra informal envolvida nestes segmentos ficaram, inicialmente, à margem da proteção estatal, uma vez que não se enquadravam nos programas já existentes, como seguro-desemprego ou mesmo no Bolsa Família.

Assim, com forte apelo popular e com foco na redução dos impactos da pan-

demia da COVID-19, o governo brasileiro lançou um programa de renda básica emer-

gencial, chamado de Auxílio Emergencial (AE). Trata-se de um benefício financeiro

concedido pelo Governo Federal com objetivo de fornecer proteção emergencial du-

(24)

Capítulo 2. Revisão de Literatura 23

rante o período de combate ao COVID 19, sendo instituído pela Lei 13.982 em abril de 2020 (BRASIL, 2020a).

Ao contrário da grande maioria dos benefícios de transferências anteriormente aplicados, o AE não exige nenhuma contrapartida do beneficiário, ou seja, trata-se de um programa de transferência de renda incondicional. Incialmente o benefício de R$600,00 (e R$ 1.200,00 para mulheres, chefes de família) foi pago durante três meses para os beneficiários que atendessem às características de:

I. Beneficiários do Bolsa Família;

II. Cadastrados no CAD Único, que não contemplados pelo Bolsa Família; e

III. Solicitações por Aplicativo das pessoas que não tenham vínculo empregatício ou se enquadrem em pré-requisitos que apontem a situação de vulnerabilidade 6

A análise feita pela Rede de Pesquisa Solidária 7 , em maio de 2020, com da- dos da Pnad Contínua de 2019, demostrou que os elegíveis ao Auxílio Emergencial somavam 29,1% da população (aproximadamente 60 milhões de brasileiros). Boa parte destes indivíduos já se encontrava no Programa Bolsa Família (29,7%) ou se enquadraram no perfil CadÚnico mesmo não sendo beneficiário de algum programa social (52,4%). O total de pessoas elegíveis sem perfil CadÚnico era de 10,9 milhões, o equivalente a 5,2% da população e 17,9% dos elegíveis.

Após o lançamento, o AE sofreu três extensões de prazo. A primeira manteve o valor original da parcela (R$ 600,00) e tratou-se de uma extensão para os meses de julho e agosto de 2020, através do Decreto 10.412 em junho de 2020 (BRASIL, 2020b).

Posteriormente, a Medida Provisória 1000/20 (BRASIL, 2020c) prorrogou o pagamento do auxílio emergencial até dezembro do mesmo ano, porém esta extensão contou com a redução de 50% no valor das parcelas (R$ 300, metade dos R$ 600 que foram pagos entre abril e agosto). Segundo informações divulgadas pela Caixa Econômica Federal (CEF) em seu Relatório da Administração, foram pagos até o dia 09 de fevereiro de 2021 um total de 536 milhões de benefícios, totalizando R$ 293,1 bilhões pagos a mais de 67,9 milhões de brasileiros (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, 2020).

A terceira extensão ocorreu após três meses sem o pagamento do benefício (entre janeiro e março de 2021). Este novo pagamento foi instituído pela Medida

6

Segundo estudo feito por Costa e Freire (2020) o número de beneficiários que têm cadastro único (CadÚnico) e Bolsa Família (PBF) é superior nas regiões Norte-Nordeste. Com exceção de Rondônia (26%), as Regiões Norte-Nordeste possuem, em média, 51% dos beneficiários oriundos do Bolsa Família. Enquanto isso, nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste, o maior canal de acesso ao Auxílio Emergencial foi por aplicativo digital (App), com uma participação média de 52% dos beneficiários. O Distrito Federal (67,3%) e o estado de Santa Catarina (67%) despontaram nesse aspecto.

7

Rede de pesquisa com 40 pesquisadores, com foco em aperfeiçoar a qualidade das políticas públicas

do governo federal, dos governos estaduais e municipais em meio à crise da COVID-19.

(25)

Capítulo 2. Revisão de Literatura 24

Provisória nº 1.039, de 18 de março de 2021, e nesta nova etapa serão pagas até quatro parcelas mensais (abril a julho de 2021) (BRASIL, 2021). Houve nova redução de 50% no valor a ser pago e criação de novas faixas: R$ 150 (para famílias de uma só pessoa), R$ 250 (para famílias de duas ou mais pessoas) e R$ 375 (para mães chefes de família monoparental).

Cabe ressaltar que assim como nas extensões anteriores, nesta nova rodada de pagamento não seria necessário que os beneficiários realizassem um novo cadastro, e conforme a CEF, 40,4 milhões de beneficiários estavam aptos para recebimento da primeira parcela, paga no mês de maio de 2021.

Importante destacar que as ações lançadas pelo Governo Federal para atenuar as consequências econômicas da pandemia não se limitaram ao pagamento do Auxílio Emergencial. Além da prorrogação dos prazos de pagamento ou mesmo parcelamento de impostos e contribuições federais (GOVERNO FEDERAL, 2020), programas es- peciais de crédito, tais como PEAC 8 , PRONAMPE 9 e FGI 10 , o governo lançou duas medidas de antecipação de créditos relativos a direitos do trabalhador, e um programa para manutenção do empregado, conforme detalhamento a seguir:

I. Saque Emergencial do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS):

Conforme informações da Caixa Econômica Federal (CEF), o saque emergencial do FGTS, liberado pela Medida Provisória 946/2020 de 7 de abril de 2020 con- templou valor limite de R$ 1.045 de todo o saldo disponível de cada trabalhador.

O público total do Saque Emergencial do FGTS foi de 60 milhões de pessoas, totalizando o valor de R$ 37,7 bilhões em pagamentos. Ao final do quarto trimestre de 2020, haviam sido pagos R$ 36,5 bilhões, cerca de 96,6% do valor previsto, para mais de 51,1 milhões de trabalhadores.

II. Antecipação do Abono Salarial - Programa de Integração Social (PIS): Con- forme Resolução CODEFAT Nº 857, de 1º de abril de 2020, foram antecipados os pagamentos do Abono Salarial do calendário 2020/2021, no valor total de R$ 4,6 bilhões para 6 milhões de pessoas.

III. Benefício Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm):

Conforme informações do Ministério da Economia o benefício foi destinado a trabalhadores que formalizaram acordo com os seus empregadores, durante o período da pandemia da COVID-19, para suspensão do contrato de trabalho ou redução proporcional de jornada de trabalho e de salário nos termos Lei nº

8

Mais detalhes em: <https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/financiamento/garantias/peac>

9

Mais detalhes em: <https://receita.economia.gov.br/acesso-rapido/legislacao/legislacao-por-assunto/

pronampe>

10

Mais detalhes em: <https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/financiamento/garantias/

bndes-fgi>

(26)

Capítulo 2. Revisão de Literatura 25

14.020, de 6 de julho de 2020 e Decreto nº 10.517, de 13 de outubro de 2020. O programa permitiu ao empregador, através de acordos individuais ou coletivos com seus empregados, reduzir jornada de trabalho e o salário, por até 90 dias;

ou suspender contrato de trabalho, por até 60 dias. O pagamento foi feito pela CEF, que informa no seu Relatório de Administração ter distribuído o benefício a 4,7 milhões de trabalhadores totalizando R$ 16,4 bilhões até dezembro de 2020.

Tabela 1 – Valores pagos e pessoas atendidas por tipo de benefício em programas atrelados as medidas de combate à COVID-19 (em R$)

Benefícios Pessoas Pagamentos Auxílio Emergencial 67,8 milhões 298,0 bilhões Saque Emergencial FGTS 60,0 milhões 37,7 bilhões

BEm 4,3 milhões 12,8 bilhões

Antecipação Abono PIS 6,0 milhões 4,6 bilhões Total 138,0 milhões 353,1 bilhões

Fonte: Elaboração própria com dados da Caixa Econômica Federal

(27)

26

3 METODOLOGIA

O estudo teve como objetivo analisar as variáveis que possuem impacto na alocação dos recursos recebidos pelos beneficiários do Auxílio Emergencial em gastos definidos como essenciais. Para tanto, foi utilizado o modelo de Regressão tradicional com a Padronização das Variáveis. Este capítulo detalha o modelo utilizado.

3.1 Transformação das variáveis

A transformação é realizada em duas etapas:

I. Padronização: cada observação de cada variável, incluindo a variável resposta, é subtraída da média amostral e dividida pelo desvio padrão amostral:

Y : y i = (y i − y) ¯

s Y , s Y = s

P (y i − y) ¯ 2

n − 1 (3.1)

X k : x ik = (x ik − x ¯ k )

s X

k

, s X

k

= s

P (x ik − x ¯ k ) 2

n − 1 (3.2)

Onde k = 1, 2, ..., p.

II. Controle do Tamanho de Amostra: as variáveis padronizadas são multiplicadas por 1

√ n − 1 .

Z : z i = 1

√ n − 1

(y i − y) ¯

s Y = y i − y ¯

pP (y i − y) ¯ 2 (3.3)

W k : w ik = 1

√ n − 1

(x ik − x ¯ k )

s X

k

= x ik − x ¯ k

pP (x ik − x ¯ k ) 2 (3.4) A transformação, ao subtrair a média e dividir pela raiz quadrada da soma de quadrados, implica, portanto, em tornar todas as variáveis com média zero e variância igual a 1

n − 1 .

3.2 Coeficientes de regressão

O modelo linear múltiplo tradicional é ajustado na forma transformada:

z i = α 1 w i1 + α 2 w i2 + · · · + α p w ip + η i (3.5)

(28)

Capítulo 3. Metodologia 27

Como as variáveis transformadas têm média nula (zero) e o modelo de regressão ajustado sempre passa pelo ponto das médias, a regressão padronizada sempre passa pela origem e, portanto, não possui intercepto.

3.3 Dados

Os dados utilizados no estudo foram extraídos da base do Ministério da Cidada- nia, DATAPREV e informações da instituição financeira que efetuou os pagamentos do benefício. O universo utilizado foram os beneficiários da primeira etapa e da primeira prorrogação do pagamento do auxílio emergencial que teve início em abril de 2020 e término em janeiro de 2021.

Foi utilizado uma amostra aleatória, inicialmente com mais de 3 milhões de amostras. Foram excluídos da base os benefícios pagos que apresentavam algum tipo de inconsistência de informação em relação às variáveis analisadas, como ausência de informação de gênero, valor do benefício recebido e especialmente, que não apre- sentavam informações quanto a alocação dos recursos recebidos. Além disso, foram agrupadas todas as parcelas recebidas em uma única observação, uma vez que neste momento iremos avaliar o impacto da quantidade de parceladas recebidas, bem como, durante o programa ocorram inclusões e exclusões de beneficiários, o que poderia prejudicar a presente análise.

O objetivo principal do estudo foi analisar o impacto das variáveis de perfil do beneficiário na alocação dos recursos recebidos, em especial sexo e idade. Existe na literatura a defesa que programas de transferência de renda devam direcionar os pagamentos as mulheres, porém, há carência de trabalhos com dados estatísticos sobre o assunto, sendo na maioria dos casos defesa com base em estudos sociológicos.

Para verificar essa hipótese, foram levantadas as características dos clientes e valores recebidos, a fim de efetuar uma análise da alocação dos recursos recebidos em consumo essencial e não essencial.

3.3.1 Variáveis de perfil de cliente

Como características de perfil de clientes foram analisadas a idade, o gênero, a geração, a região, o estado e se recebeu o abono salarial.

3.3.1.1 Idade

A variável idade identifica a idade do beneficiário na data do primeiro recebi-

mento do auxílio emergencial. A média de idade entre os beneficiários estudados foi

(29)

Capítulo 3. Metodologia 28

de 39,1 anos e está distribuída conforme a Figura 2.

Figura 2 – Distribuição por faixa etária

Fonte: Elaboração própria

3.3.1.2 Gênero

A base analisada apresentou 50,5% de gênero masculino e 49,5%, feminino.

3.3.1.3 Região

A Figura 3 mostra que a Região Sudeste concentra 45,13% dos beneficiários.

3.3.1.4 Localização

A unidade federativa (UF) indicada no cadastro do beneficiário foi utilizada para identificar a localização. A distribuição da quantidade de contratos analisados por UF está demonstrada na Figura 4.

3.3.1.5 Abono Salarial

No universo avaliado, 33.237 dos beneficiários receberam abono salarial 1 , ou seja, estavam empregados no momento anterior ao recebimento do auxílio emergencial.

1

Instituído pela Lei n° 7.998/90, o Abono Salarial equivale ao valor de, no máximo, um salário-mínimo

a ser pago conforme calendário anual estabelecido pelo CODEFAT aos trabalhadores que satisfaçam

os requisitos previstos em lei. Para ter direito, o trabalhador precisa: estar cadastrado no PIS há

pelo menos cinco anos; ter recebido remuneração mensal média de até dois salários-mínimos

durante o ano-base; ter exercido atividade remunerada para Pessoa Jurídica, durante pelo menos 30

dias, consecutivos ou não, no ano-base considerado para apuração; ter seus dados informados pelo

(30)

Capítulo 3. Metodologia 29

Figura 3 – Distribuição por região

Fonte: Elaboração própria

Figura 4 – Beneficiários por UF

Fonte: Elaboração própria

3.3.1.6 Geração

A Figura 5 mostra que a geração Y concentra 40,9% dos beneficiários.

empregador (Pessoa Jurídica) corretamente na Relação Anual de Informações Sociais (RAIS)/eSocial.

A origem dos recursos para pagamento é do FAT - Fundo de Amparo ao Trabalhador.

(31)

Capítulo 3. Metodologia 30

Figura 5 – Beneficiários por UF

Fonte: Elaboração própria

3.3.2 Variáveis do Auxílio Emergencial

Como características dos benefícios pagos foram analisados a quantidade de parcelas recebidas, o valor total recebido, valor alocado para gastos essenciais, valor alocado para gastos não essenciais e valor em gastos indeterminados.

3.3.2.1 Valor total recebido

Utilizou-se a soma de todos os valores recebidos pelos beneficiários, com distribuídos conforme Figura 6.

3.3.2.2 Valor alocado em gastos essenciais

Valor do total recebido pelo beneficiário que foi alocado para pagamento de contas de energia elétrica, água, luz, telefone, gás e compras via cartão digital ou QR CODE em estabelecimentos classificados como consumo básico: supermercados, padarias e mercearias e farmácias e drogarias.

3.3.2.3 Valor alocado em gastos não essenciais

Valor do total recebido pelo beneficiário que foi alocado para pagamento de

boletos diversos e compras via cartão digital ou QR CODE em estabelecimentos

(32)

Capítulo 3. Metodologia 31

Figura 6 – Valor total recebido por faixa

Fonte: Elaboração própria

classificados como consumo não básico: todos os demais.

3.3.2.4 Valor Indeterminado

Valor do total recebido pelo beneficiário que foi alocado para saques, PIX,

transferências e pagamentos de boletos para deposito.

(33)

32

4 ANÁLISE E RESULTADOS

As regressões aqui apresentadas foram realizadas com o software R. Foram padronizadas as variáveis quantitativas contínuas para controlar a variabilidade delas.

O primeiro passo foi a criação de variável dependente para entendermos o comportamento do beneficiário ao receber o auxílio emergencial, neste sentido:

ESS <− ( dados$VOLUME. ESSENCIAL+1) / ( dados $VOLUME.NAO. ESSENCIAL+1)

z _ESS <− s c a l e (ESS)

Assim, a nova variável criada é uma proporção entre o volume alocado em gastos essenciais e gastos não essenciais.

Posteriormente, foram criadas as variáveis independentes para entendermos se elas interferem na proporção alocada pelo beneficiário em gastos essenciais, neste sentido:

EM _ASST <− dados$VOLUME. A . E . z _ EM_ASST<− s c a l e (EM _ASST)

ALLW <− dados$VOLUME.ABONO. SALARIAL

z _ALLW <− s c a l e (ALLW)

AGE <− dados$Idade

z _AGE <− s c a l e (AGE) GENDER <− dados$cGenero GENERATION <− dados$ Geracao

INDET <− dados$VOLUME. INDETERMINADO z _INDET <− s c a l e ( INDET )

As variáveis criadas foram: volume recebido de auxílio emergencial, volume recebido de abono salarial, idade, sexo e o volume indeterminado. Além disso, foram criados dois clusters, um considerando as Unidades da Federação e outro as cinco regiões do Brasil (Sul, Sudeste, Norte, Nordeste e Centro-Oeste).

Na Figura 7, apresenta-se uma tabela com 5 modelos de regressão com a variável dependente essencial e todos os modelos tiveram uma amostra de 1 (um) milhão de observações.

O primeiro modelo foi gerado apenas com a variável independente COVID-19

Emergency Assistance (volume total recebido de Auxílio Emergencial) sendo esta

(34)

Capítulo 4. Análise e Resultados 33

Figura 7 – Tabela de Resultados da Regressão no Cluster Unidade da Federação

Fonte: Elaboração própria

estatisticamente significante em 1% e com sinal positivo, ou seja, sua variação aumenta o valor esperado da variável dependente, no caso, em 0,009 unidades. O R 2 do modelo foi 0,001, ou seja, apenas 0,01% da variação de COVID-19 Emergency Assistance explica a variação de Essencial.

No segundo modelo, foi adicionada a variável Allowance (volume recebido de abono salarial) , neste caso, a significância do coeficiente da variável COVID-19 Emergency Assistance e o seu respectivo resultado não se alteraram. Já o coeficiente da variável variável Allowance foi não significativo no modelo, tendo efeito nulo. O R 2 do modelo teve o mesmo resultado do modelo anterior.

No terceiro modelo foi acrescentada a variável AGE (idade) e neste o coefiente das três variáveis foi estatisticamente significante a 1%. A variável COVID-19 Emer- gency Assistance apreentou efeito positivo sobre Essencial com uma estimativa de 0,01, Allowance também apresentou efeito positivo sobre a variável dependente com uma estimativa de 0,002. Por fim, AGE também apresentou um efeito positivo sobre o valor esperado de ESS com uma estimativa de 0,022. O R 2 obtido foi o mesmo resultado dos modelos anteriores.

Por sua vez o quarto modelo adicionou a variável GENDER (sexo). Neste modelo

o gênero masculino está sendo controlado. Todos os coeficientes encontrados também

foram estatisticamente significativos em 1% e positivos. COVID-19 Emergency Assis-

tance apresentou efeito positivo de 0,013 unidades sobre a esperança de Essencial, já

(35)

Capítulo 4. Análise e Resultados 34

Allowance teve um efeito de 0,002 unidades sobre a variável resposta, AGE teve um efeito de 0,023 unidades, ou seja, a medida em que a idade varia positivamente o valor esperado da variável depentedente varia em 0,023 unidades. Já o fato do beneficiário ser do gênero masculino teve um feito positivo de 0,024 unidades sobre a esperança de Essencial. O R 2 do modelo apresentou o mesmo resultado dos modelos anteriores.

O último modelo acrescentou a variável INDET (volume indeterminado) e a variável apresentou um coeficiente estatisticamente significante a 1% com uma esti- mativa negativa de -0,077, ou seja, a variação de uma unidade desta variável reduz o valor esperado da variável dependente em 0,077 unidades. Os demais coeficientes foram estatisticamente significativos em 1%, mas com sinal positivo e próximos aos do modelo anterior. A variação de uma unidade da variável COVID-19 Emergency Assistance aumenta o valor esperado de ESS em 0,05 unidades. Já a variação de uma unidade de Allowance aumenta a esperanca da variável resposta em 0,004 unidades, a varicação AGE aumenta o valor esperado da variável predita em 0,027 unidades. Por fim, GENDER teve um efeito de 0,029 unidades, isto é, o fato do beneficiário ser do gênero masculino tem um efeito positivo sobre o valor esperado da variável dependente do modelo.

Figura 8 – Tabela de Resultados da Regressão no Cluster Regiões

Fonte: Elaboração própria

Na Figura 8 estão os resultados de regressão com clusters para Regiões do

Brasil. Também foram gerados cinco modelos de regressão com a variável dependente

essencial e todos os modelos tiveram uma amostra de 1 milhão de observações.

(36)

Capítulo 4. Análise e Resultados 35

Os resultados apresentados não apresentaram mudança em relação ao primeiro modelo.

4.1 Volume Indeterminado

Os resultados apresentados mostram uma correlação negativa entre o volume alocado em gastos essenciais e o volume indeterminado, ou seja, quanto maior o volume alocado pelo beneficiário para saques, PIX, transferências e pagamentos de boletos para deposito, menor será o valor alocado em gastos essenciais. Porém, como o gasto após o saque não é rastreável, por exemplo, não é possível afirmar que estes beneficiários de fato não alocaram os valores em gastos essenciais, uma vez alguns beneficiários por questões culturais ou mesmo devido à baixa escolaridade preferiram efetuar o resgate do valor sem utilizar a facilidade do aplicativo disponibilizado pelo Governo Federal para pagamento do Auxílio Emergencial.

4.2 Gênero

Os resultados apresentados mostram uma correlação positiva quando o benefi- ciário é do gênero masculino, ou seja, o beneficiário do sexo masculino, na amostra analisada, alocou maior percentual do valor recebido do auxílio emergencial em gastos essenciais. Este resultado é importante pois contraria o senso comum das políticas públicas, uma vez que é consenso o pagamento de benefícios sociais, como por exem- plo o Bolsa Família, para mulheres chefes de família. Considerando que os critérios de seleção do Auxílio Emergencial apresentaram falhas 1 e também neste programa os beneficiários apresentaram caracteristicas difusas e diferentes dos programas an- teriores, por hora é prematuro concluirmos como benéfica uma alteração da premisa anteriormente aplicada, mas, não deixa de ser relevante o resultado hora apresentado.

4.3 Idade

Os resultados apresentados mostram uma correlação positiva em relação a idade do beneficiário, ou seja, quanto maior a idade, maior o volume alocado do auxílio emergencial em gastos essenciais. Considerando que a idade média da amostra é de 39,1 anos, é possível avaliar que os mais jovens alocaram maior parte dos recursos

1

Inúmeras reportagens ao longo do período de pagamento do Auxílio Emergencial evidenciaram problemas de seleção dos beneficiários do programa, com destaque para: CGU identifica 680 mil servidores recebendo auxílio emergencial; prejuízo é de quase R$ 1 bilhão, disponível em <https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/08/13/

cgu-identifica-680-mil-servidores-recebendo-auxilio-emergencial-prejuizo-e-de-quase-r-1-bilhao.

ghtml>.

(37)

Capítulo 4. Análise e Resultados 36

em gastos não essenciais mas também, é importante salientar que estes podem ter transferido os recursos para fintechs 2 , dada a familiaridade deste público com a novas tecnologias. Este ponto merece destaque porque as regras de pagamento do beneficío bloqueavam o recurso para saque por um período, com o intuito de evitar filas nas agencias bancárias e também, dado o volume financeiro envolvido, evitar a falta de cédulas nos ATM. Este fator pode ter incentivado os mais jovens a transferir os valores (o PIX estava permitido, por exemplo) para outras contas.

Por outro lado, também há de se avaliar que os chefes de família encontram-se mais próximos da média da amostra. Este público necessita de renda para arcar com os gastos básico da unidade familiar, justamente os aqui enquadrados como gastos essenciais. A correlação pode indicar que seria mais assertivo nos próximos programas focar nas idades justamente deste público, ou mesmo utilizar os filhos como critério de priorização da seleção.

4.4 Abono Salarial

Em que pese a base ser menor que as demais caracteristicas do perfil do beneficiário, o fato de ter recebido abono salarial apresentou correlação positiva. Ou seja, quanto maior o valor recebido de abono salarial pelo beneficiário, maior o volume alocado do auxílio emergencial em gastos essenciais. Este é um fator importante, uma vez que o público que recebeu abono salarial é justamente aquele que estava empregado no momento anterior a pandemia e, justamente pela deterioração da economia, teve perda de renda. Além disso, como o valor do abono é relacionado a quantidade de meses trabalhados no período anterior ao recebimento do mesmo, pode- se concluir que aqueles que estavam com carteira assinada nos 12 meses anteriores foram aqueles que alocaram maior parte do recurso em gastos essenciais, ou seja, o Auxílio Emergencial passou a ser a principal fonte de renda destes beneficiários.

Considerando o público que o programa Auxílio Emergencial tinha como objetivo atingir, este é um importante critério a ser observado nas próximas edições do programa ou mesmo em outros progrmas de transferencia de renda. Porém, é importante salientar que este critério excluiu todos os trabalhadores informais, também fortemente atingidos pelos impactos economicos da epidemia de COVID-19.

2

Durante o pagamento do programa outras instituições financeiras, especial- mente fintechs, permitiam o saque antecipado: <https://www.istoedinheiro.com.br/

auxilio-emergencial-saiba-como-antecipar-o-saque/>

(38)

Capítulo 4. Análise e Resultados 37

4.5 Volume total recebido de Auxílio Emergencial

Os resultados obtidos demostram correlação positiva entre o valor total recebido de Auxílio Emergencial e o valor alocado em gastos essenciais pelo benefiário. Trata-se de um dado importante, uma vez que demostra que valores muito baixos de benefícios em programas de transferencia de renda podem ter efeito contrário ao esperado.

Mais uma vez cade destacar que este programa, ao incluir em sua base público

até então não contemplado nos programas sociais tradicionais, apresenta resultados

que podem não ser apresentados no Bolsa Família, por exemplo.

(39)

38

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em um país desigual como o Brasil, é necessário avançar cada vez mais em políticas públicas que combatam as desigualdades sociais. Se no século passado era normal que os primeiros programas sociais garantissem a subsistência da popula- ção vulnerável fornecendo alimentos de forma direta, hoje, sendo possível garantir a transferência direta de renda, este modelo é considerado antiquado. As novas tecno- logias revolucionaram as políticas públicas, transformando assim a vida das pessoas garantindo e respeitando suas escolhas individuais.

No momento atual o desafio é garantir que os critérios de seleção garantam que seja agraciada justamente a população mais vulnerável. Este trabalho, ao avaliar as características com maior correlação na alocação por parte dos beneficiários em gastos classificados como essenciais, contribui na compreensão dos critérios de seleção envolvidos na criação do programa de transferência de renda Auxílio Emergencial.

O estudo encontrou que as variáveis relacionadas as características do benefi- ciário gênero e idade possuem impacto positivo no valor que será alocado em gastos essenciais. Neste sentido, a correlação em relação ao gênero foi positiva para o sexo masculino, enquanto em relação à idade foi possível identificar que quanto maior a idade do beneficiário, maior o percentual recebido alocado em gastos essenciais.

Outro ponto importante é que foi possível verificar que ter renda formal no momento anterior, demonstrado pelo recebimento do abono salarial, também foi fator importante para determinar o volume a ser alocado neste tipo de gasto assim como o volume total recebido de auxílio, que também apresentou correlação positiva. Por outro lado, o valor indeterminado (aquele que não foi passível de ser classificado) apresentou correlação negativa.

Neste sentido, os resultados encontrados neste estudo podem auxiliar o Governo

Federal no que tange a elaboração de programas destinados à distribuição de renda,

em especial na identificação do perfil do cidadão que irá alocar parte significativa dos

recursos recebidos em gastos essenciais, garantindo a eficiência da política pública de

diminuição da pobreza.

(40)

39

REFERÊNCIAS

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