Nutrição Ortomolecular e Fitoterapia
Prof. José Aroldo Filho
Prof M. Sc. José Aroldo Filho Nutricionista Mestre em Ciências Médicas FCM/UERJ Especialista em Nutrição Clínica - ASBRAN Pós-Graduado em Medicina Ortomolecular UVA Pós-Graduado em Fitoterapia - FGF Membro da Associação Brasileira de Medicina Ortomolecular - ABMO
DERMATOLOGIA E ESTÉTICA
PELE ACNÉICA
FISIOPATOLOGIA DA ACNE
Esta doença deve-se à interação dos seguintes fatores:
• Aumento da produção de sebo, provocada pela estimulação androgênica das glândulas sebáceas, que se inicia na puberdade;
• Obstrução do ducto pilossebáceo resultante de uma hiperqueratose de retenção. Um processo anormal de queratinização, caracterizado por um aumento da adesividade e do turnover das células foliculares epiteliais, causado por alterações hormonais e pelo sebo modificado pela bactéria residente Propionibacterium acnes (P. acnes);
• A proliferação do P. acnes, um difteróide anaeróbio, residente normal do folículo pilossebáceo, produz ácidos graxos livres irritantes da parede folicular distendida;
• Inflamação, mediada quer pela ação irritante do sebo, que extravasa
para a derme quando há ruptura da parede folicular, quer pela presença de fatores quimiotácticos e de mediadores pró-inflamatórios produzidos pelo P. acnes.
O evento patológico primário da acne consiste na obstrução da unidade pilossebácea que dá origem ao microcomedão.
Quando este aumenta de tamanho, e o orifício folicular se dilata, surge o comedão aberto (ou ponto negro), que geralmente não inflama.
Quando o orifício não se dilata surge o comedão fechado (ou ponto branco), o precursor das lesões inflamatórias. As paredes do folículo distendidas e inflamadas (pápula) podem romper e espalhar o seu
conteúdo para a derme provocando uma reação inflamatória de corpo estranho (pústulas e nódulos).
CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA
A acne vulgar pode ser dividida em inflamatória e não-inflamatória, conforme as lesões predominantes, podendo ser graduada de I a V conforme a gravidade do quadro.
A acne grau I, não inflamatória ou comedoniana, apresenta predomínio de cômedos.
A acne inflamatória é responsável pelos graus II, III, IV e V. Na acne grau II há predomínio de lesões pápulo-pustulosas, além dos cômedos.
Na acne grau III nódulos e cistos podem ser observados.
A acne grau IV ou conglobata é uma forma severa da doença com múltiplos nódulos inflamatórios, formação de abscessos e fístulas.
Uma forma rara e grave, de instalação abrupta, acompanhada
de manifestações sistêmicas (febre, leucocitose e artralgia), é a
acne fulminante ou grau V.
DIETA E ACNE
A prevalência de acne é muito baixa em populações rurais que urbanas e, acredita-se que esteja relacionado ao
comportamento dietético destas populações.
Estudos observacionais tem relacionado o consumo de
alimentos de alto índice glicêmico e propensão à acne vulgar.
Evidências científicas visam consolidar o real efeito da
alimentação e nutrição na prevenção ou desencadeamento da acne. Os estudos têm observado a relação de consumo de
ácidos graxos W3, dieta hiperlipídica, alterações de
permeabilidade intestinal e dietas de alto índice glicêmico.
.Ômega 3
A associação entre o ômega-3 e a melhora da acne pode estar
relacionada com altos níveis de ácido eicosapentaenoico (EPA), que age como um inibidor de mediadores inflamatórios derivados do ômega-6 de ácidos graxos poli-insaturados.
Khayef e colaboradores (2012) administraram 3 gramas de óleo de peixe, diariamente, por 12 semanas a treze indivíduos, contendo 930 mg de EPA, em 13 homens saudáveis, com idade entre 18 a 40 anos, caracterizados com acne leve a grave, durante 12 semanas .
Ao final do estudo, não houve mudança significativa na classificação de acne por meio da contagem de pontos inflamatórios. No entanto, verificou- se uma ampla gama de resposta à intervenção numa base individual.
Jung e colaboradores (2014) conduziram estudo para avaliar o efeito do W3 na acne. Os indivíduos foram randomizados para três grupos, sendo subtidos por dez semanas a:
W3 - EPA + DHA : 1.000 mg de ácido eicosapentaenóico ( EPA ) e 1.000 mg de ácido docosa-hexaenóico ( DHA ) por dia .
W6-GLA: 2.000mg de óleo de borragem, contendo 400 mg de ácido gama-linolênico , diariamente.
Controle: Sem suplementos.
Ambos suplementos, W6-GLA e W3 reduziram a acne inflamatória em 40 a 50% e acne não- inflamatória em cerca de 20 % .
Dieta hiperlipídica
Parece que a composição dos ácidos graxos de dieta poderia influenciar no agravo da acne, entretanto, ainda não há
consenso sobre se a dieta hiperlipídica influencia na acne,
tampouco estudos clínicos e epidemiológicos que investiguem
essa relação.
Dietas de alto índice glicêmico
O mecanismo preciso pelo qual o índice glicêmico influencia a composição do sebo é desconhecido.
Sabe-se que, para sintetizar lípides, as glândulas sebáceas precisam de energia, que pode ser adquirida pela beta-oxidação dos ácidos graxos e/ou pelo catabolismo da glicose.
Para Downine e Kaealey (2006), o padrão de síntese de lipídios é mantido pelo glicogênio endógeno, um importante provedor de NADPH para a
síntese de triglicérides. Assim, é possível que a ingestão de alimentos com baixo índice glicêmico possa alterar os estoques de glicogênio nas
glândulas sebáceas, podendo ser fator limitante na lipogênese sebácea.
Supõe-se que alimentos com baixo índice glicêmico influenciem a composição sebácea por meio de efeitos metabólicos e/ou, secundariamente, dos níveis hormonais de testosterona livre e andrógenos.
Evidências demonstram que a dieta à base de baixo índice glicêmico pode diminuir os estoques de glicogênio nos tecidos corporais (músculo e fígado), sendo fator
limitante na lipogênese sebácea. Além disto, essa dieta pode reduzir a biodisponibilidade da testosterona e a concentração do sulfato de diidroepiandrosterona.
Como a produção de sebo é controla da pelos andrógenos, a redução dos mesmos pode alterar a composição sebácea.
Supõe-se, assim, que a alimentação com baixo índice glicêmico possa influenciar a produção sebácea via modulação sincronizada de andrógenos e dos estoques de glicogênio.
RELAÇÃO ENTRE MICRONUTRIENTES E ACNE
Zinco
O zinco tem sido utilizado extensivamente tanto topicamente como
sistemicamente para o controle da acne vulgar, desde o tempo seu efeito favorável sobre a acne foi reconhecido por Michaelsson em um paciente de acrodermatite enteropática e estudos posteriores demonstraram baixa de zinco no soro em pacientes com acne.
Embora o sulfato de zinco tópico não foi eficaz e causou irritação local
significativa, a eficácia de medicamentos antiacneicos tópicos contendo acetato de zinco ou o octoato com ou sem a eritromicina seja igual ou superior a
eritromicina, tetraciclina, clindamicina ou usado sozinho na redução da gravidade da acne.
Sulfato de zinco oral é declaradamente mais eficaz no tratamento da acne.
Da mesma forma, o gluconato de zinco via oral foi considerada útil na gestão de acne inflamatória.
O tratamento da acne com sais de zinco parece ser igual ou menos eficaz em comparação com as tetraciclinas sistêmicas (minociclina, oxitetraciclina).
Recentemente, um complexo de zinco-metionina ligado com antioxidantes foi julgado e considerado útil no gerenciamento de acne vulgar leve a moderada.
O mecanismo exato do zinco no tratamento da acne
permanece mal elucidado e é considerado atuar diretamente sobre o equilíbrio inflamatóriomicrobiano e facilitar a
absorção de antibióticos quando usados em combinação.
Outro mecanismo proposto para o benefício de zinco no
tratamento da acne é a supressão da produção de sebo pela
sua atividade antiandrogênica.
Selênio
Em estudos-piloto, o selênio apresentou ser efetivo no
tratamento de pústulas em virtude de uma de suas funções, a de combater processos infecciosos.
Em indivíduos com acne papulopustulosa, tem-se observado
menores níveis de glutationa peroxidase sérica.
Após suplementação com selênio, pacientes tratados
apresentaram melhora do aspecto da acne. Michaelsson e colaboradores avaliaram a atividade da glutationa
peroxidase (GSH-Px) em eritrócitos de pacientes com acne severa.
Os pacientes com acne do sexo masculino apresentaram níveis significativamente mais baixos GSH-Px do que os controles. As mulheres com acne não diferiram significativamente dos
controles, a este respeito, quando os pacientes e controles usando contraceptivos orais foram excluídos.
Ambos os controles do sexo feminino e as mulheres com acne usando
contraceptivos orais apresentaram valores de GSH-Px significativamente maiores do que os grupos correspondentes que não utilizam a pílula.
As meninas púberes acne tinham a mesma atividade de alta GHSH-Px como mulheres em contraceptivos orais. Em um ensaio aberto 29 pacientes receberam 0,2 mg de selênio + 10 mg de succinato de tocoferol para a sua acne duas vezes ao dia por 6-12 semanas.
Um bom resultado foi obtido, principalmente em pacientes com acne pustulosa e baixa atividade GSH-Px, eo efeito benéfico foi geralmente acompanhado por um aumento lento da atividade de GSH-Px. Alguns 6-8 semanas após a retirada do tratamento os valores de GSH-Px tinha
voltado aos níveis de pré-tratamento.
Vitamina A
Conclusivamente é um dos principais elementos utilizados no tratamento da acne grave. Entretanto pode ser tornar perigosa frente aos efeitos de
toxicidade elevada.
O uso de Ácido Retinóico (vitamina A) está disponível sob a forma de gel ou creme de tretinoína (0,01-0,025%) e do seu isómero, gel de
isotretinoína (0,05%).
A terceira geração de drogas de tipo retinóide, adapaleno (gel ou creme; 0,1%) também é licenciado para a acne leve a moderada, tem uma ação anti-inflamatória significativa e é melhor tolerada do que seus antecessores.
A vitamina A e outros retinóides reduzem o crescimento e
desenvolvimento anormal de queratinócitos dentro da unidade
pilossebácea.
Reversão do hipercornificação dentro do canal folicular, bem como a indução da proliferação acelerada do epitélio folicular ajuda no
"desligue" do folículo.
Este, por sua vez inibe o desenvolvimento das lesões não inflamatórias e microcomedo, resultando em menos condições anaeróbias, uma redução no crescimento de P. acnes e um microambiente menos favorável para o
desenvolvimento da inflamação. Além disso, os retinóides mais recentes reduzem a ruptura de comedões na pele envolvente, resultando também em menor inflamação.
A eficácia da isotretinoína em 0,5 a 1,0 mg / kg por dia no tratamento da acne está bem estabelecida e considerada segura, embora por vezes não é facilmente tolerada por causa dos seus efeitos colaterais cutâneas. A prescrição de isotretinoína é exclusiva médica.
Piridoxina
A utilização de suplementos de piridoxina estaria associada a redução dos sintomas de tensão pré-menstrual, incluindo pele acnéica, em mulheres que tomaram 50mg ao dia de piridoxina. A deficiência de piridoxina poderia estar associada a piora de dermatite em cabelo e face.
Shalita et al (2012) observaram que os pacientes com acne inflamatória mostraram uma melhoria significativa em termos de gravidade da acne e aparência geral quando suplementos contendo piridoxina (e associações) foram administrados ao regime de tratamento tópico existente.
Obs.: A administração de vitamina B12 em doses suplementares pode produzir reações acneiformes papulopustulares.