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JUSTIÇA ELEITORAL 057ª ZONA ELEITORAL DE ARCOVERDE PE

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JUSTIÇA ELEITORAL

057ª ZONA ELEITORAL DE ARCOVERDE PE

AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL (11527) Nº 0600494-55.2020.6.17.0057 / 057ª ZONA ELEITORAL DE ARCOVERDE PE

AUTOR: A COLIGAÇÃO MUDA ARCOVERDE

Advogados do(a) AUTOR: EDIMIR DE BARROS FILHO - PE22498-A, RIVALDO LEAL DE MELO - PE17309 REU: JOSE WELLINGTON CORDEIRO MACIEL, MARIA MADALENA SANTOS DE BRITTO

INVESTIGADO: ISRAEL LIMA BRAGA RUBIS

Advogados do(a) REU: PEDRO MACIEIRA RIBEIRO DE PAIVA - PE29583, CESAR RICARDO BEZERRA MACEDO - PE20666, ANSELMO PACHECO DE ALBUQUERQUE FILHO - PE41665, ANSELMO PACHECO DE

ALBUQUERQUE - PE09825

Advogados do(a) INVESTIGADO: PEDRO MACIEIRA RIBEIRO DE PAIVA - PE29583, CESAR RICARDO BEZERRA MACEDO - PE20666, ANSELMO PACHECO DE ALBUQUERQUE FILHO - PE41665, ANSELMO PACHECO DE ALBUQUERQUE - PE09825

Advogados do(a) REU: LUIS FELIPE MONTEIRO VELOSO DA SILVEIRA - PE41303, JULYANNE CRISTINE DE BULHOES DA SILVA NASCIMENTO - PE41237, ALINE MARQUES DE ALBUQUERQUE - PE31394, PEDRO JOSE DE ALBUQUERQUE PONTES - PE30835, RAFAELA VENTURA MEIRA LAPENDA - PE42367, RAFAEL BEZERRA DE SOUZA BARBOSA PE24989, GILMAR GILVAN DA SILVA PE32199, EDSON MARQUES DA SILVA PE31108, FERNANDO ANDRE LEAO CARVALHO PE26784, ROGERIO JOSE BEZERRA DE SOUZA BARBOSA -PE17902, ANDRE BAPTISTA COUTINHO - PE17907

SENTENÇA Vistos, etc. RELATÓRIO:

A COLIGAÇÃO MUDA ARCOVERDE, formada pelos partidos PTB, PODE, REPUBLICANOS, PL, PSDB, DEM, PSD e PT, em 02 de novembro do mês transato, ingressou neste Juízo Eleitoral com AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL POR ABUSO DO PODER ECONÔMICO E POLÍTICO, em face de JOSÉ WELLINGTON CORDEIRO MACIEL, candidato a Prefeito pela Coligação UNIÃO POR ARCOVERDE; ISRAEL LIMA BRAGA RUBIS, candidato a Vice-prefeito pela Coligação UNIÃO POR ARCOVERDE; e MARIA MADALENA SANTOS DE BRITTO, atual Prefeita do Município de Arcoverde-PE.

Aduz a Autora, que a ré MADALENA BRITTO, “na condição de prefeita municipal foi a grande incentivadora das condutas irregulares que beneficiaram os candidatos e a coligação que a mesma notoriamente apoia. ”

Afirma a Representante que WELLINGTON MACIEL, candidato a prefeito, e ISRAEL RUBIS, na condição de vice-prefeito foram “os beneficiários principais das condutas irregulares praticadas que desrespeitaram as decisões judiciais e realizaram evento que rompeu o princípio da isonomia entre os concorrentes ao pleito municipal de 2020, em manifesto benefício indevido. Todos os representados possuíam e efetivamente possuem conhecimento das práticas irregulares que foram e são aptas a desequilibrar o processo eleitoral. ”

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No corpo da AIJE, a Coligação Autora, defende a perpetração de abusos de poder econômico e político por parte dos réus, a partir das seguintes perspectivas:

a) Que Ministério Público Eleitoral com assento nesse juízo, apresentou o Pedido de Providências com pleito de Tutela Inibitória, protocolado sob o n.º 0600293-63.2020.6.17.0057, por meio do qual pugnou pela adoção de providências para cessar atos políticos ensejadores de aglomeração, eis que tais eventos estavam colocando em risco as vidas dos arcoverdenses em razão dos nefastos efeitos decorrentes da pandemia do COVID-19;

b) A referida ação foi julgada procedente, ratificando os termos da tutela inibitória concedida initio litis determinando-se aos representados (partidos e candidatos) que se abstenham de realizar comícios, passeatas, caminhadas, carreatas, motocadas, bandeiraços, pedaladas, bicicletadas, "cavalgadas" e "carroçadas", sob pena de multa individual de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais) por evento que descumprir, para cada partido e candidatos participantes, sem prejuízo da responsabilização penal ou por ato de improbidade administrativa, se for o caso, ficando o Ministério Público autorizado a pleitear a execução das pertinentes astreintes em execuções propostas em conexão ao feito em evidência. De outra feita, considerando que tanto este decisum como a tutela inibitória id 12712586 se calcaram no princípio da impessoalidade, indefiro o pedido formulado pela Coligação União por Arcoverde no Id nº 14720131. Comícios poderão ocorrer no formato drive-in sem que os participantes deixem o interior dos seus veículos, e as reuniões políticas deverão observar as regras previstas nos Decretos Estaduais que estabelecem o limite máximo de cem pessoas, com a devida proteção de máscaras e utilização de meios de higienização das mãos e distanciamento mínimo de um metro e meio entre as pessoas;

c) A Coligação União por Arcoverde, capitaneada pelos réus Wellington e Israel, foi devidamente intimada da sentença, tendo inclusive se insurgido em face da mesma através de recurso ordinário, destarte, apenas recorreu do capítulo da sentença que abordou acerca da realização das carreatas, não se insurgindo contra os demais tópicos do édito sentencial, de modo que em relação a elas, operou-se a preclusão consumativa, com o trânsito em julgado;

d) O recurso foi parcialmente provido pelo Egrégio Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco, tendo o ilustre relator, Desembargador Edilson Nobre, assentado que a acolhida parcial do recurso assegurou o direito à realização de carreata – e não motocada, até porque não abrangida no pleito recursal -, a ser realizada em dia de domingo, dentro do período de propaganda eleitoral, com a observância do item 5 . 4 d o t ó p i c o D i s t a n c i a m e n t o S o c i a l . , b e m c o m o a s m e d i d a s d e Proteção/Prevenção (itens 1 a 8), ambos do Parecer Técnico 6/2020/SES-PE, sob pena de incidência das sanções previstas na sentença recorrida”;

e) No sábado, 31 de outubro de 2020, véspera do evento que restou garantindo pela Egrégia Corte Eleitoral Pernambucana, foram detectadas várias aglomerações de pessoas em pontos variados da cidade, inclusive com as presenças do candidato a vice-prefeito Delegado Israel e da representante da Coligação União por Arcoverde, Sra. Andréia Karla Santos de Britto, prenunciando o que aconteceria no dia seguinte;

f) Na manhã de domingo, como forma de resguardo em caso de futuros questionamentos em razão dos descumprimentos que adviriam, o réu Wellington da LW fez difundir em suas redes sociais, vídeo no qual pedia que as pessoas “evitassem” aglomeração;

g) Logo no início da tarde do dia 01 de novembro de 2020, já se constatavam aglomerações em diversos pontos da cidade;

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mas ostentaram um carro de som, bem como vídeos anexos demonstram pessoas aglomeradas em cima de caminhões, carros e minitrios;

i) O Desembargador Eleitoral Edilson Nobre foi igualmente categórico quanto a impossibilidade de realização de motocadas, destarte, os vídeos anexos, demonstram grande quantidade de motocicletas no evento;

j) No final da tarde a prefeita Madalena, e os seus apoiados, Wellington da LW e Israel Rubis, caminhando por entre a multidão e ao invés de acompanharem o evento no interior dos seus veículos, estiveram durante todo o trajeto em carro aberto, com número da coligação em forma de outdoor e com efeitos especiais de iluminação;

k) Ainda descumprindo o que foi determinado, houve grande aglomeração na Praça da Bandeira, Centro da Cidade de Arcoverde no final do evento, que inclusive mostram a chegada dos réus no local de encerramento da festividade, durante a noite;

Para justificar a perpetração de abuso de poder político, asseverou a Coligação Autora:

“As referidas condutas, notadamente de descumprirem deliberadamente as decisões de primeiro e segundo graus da Justiça Eleitoral, e insistir na realização de evento que promoveu aglomerações proscritas de pessoas e favorecem a proliferação do covid-19, além de ser gravíssima por atentar contra a saúde e a vida dos eleitores e consistir em benefício eleitoral para os investigados, quebrou a igualdade de oportunidade no pleito eleitoral, razão pela qual se constitui em ato capaz de atentar contra a normalidade do pleito.

Verifica-se que os réus abusaram de seu poder político ao induzir na população menos esclarecida um sentimento de normalidade, inexistente, na medida em que como gestora responsável pela saúde da população e detentora de autoridade para promover o cumprimento de normas sanitárias no Município, a ré MADALENA BRITTO agiu de forma a banalizar ditas normas, criando sentimento de desnecessidade de cuidados, tudo com o intuito meramente eleitoral de promover a campanha política dos seus apoiados WELLINGTON DA LW e ISRAEL RUBIS, em detrimento da saúde da população, em que pese a clareza das decisões da Justiça Eleitoral.

No caso dos autos, ao dispender recursos em eventos eleitorais causadores de no dia 01 de Novembro de 2020, em total desrespeito às regras sanitárias e epidemiológicas, bem como as decisões judiciais, sem qualquer cuidado com a saúde e a vida da população, os réus incidiram no abuso do poder político entrelaçado com poder econômico, assim estão aptos ao devido sancionamento.” Encerra a Autora pleiteando a “PROCEDÊNCIA da presente ação pugnando sejam penalizados: JOSÉ WELLINGTON CORDEIRO MACIEL, ISRAEL LIMA BRAGA RUBIS, MARIA MADALENA SANTOS DE BRITTO, com sanção de inelegibilidade para as eleições a se realizarem nos oito anos subsequentes à eleição em que se verificaram os abusos acima narrados, bem como a pena de cassação de seu registro de candidatura ou, em caso de julgamento após o pleito e em caso de eleição destes, do diploma, e por consequência do mandato, nos termos do art. 22, inciso XIV, da Lei Complementar n.º 64/90;”

Acompanharam a inicial os documentos constantes nos ID’s 36008925 a 36023829, sem apresentação de rol de testemunhas.

Proferida a decisão admissória do feito, ordenou-se a citação dos réus para que, no prazo de 05 (cinco) dias, oferecessem as suas amplas defesas com a juntada de documentos e rol de testemunhas.

Tempestivamente, advieram aos autos manifestações defensivas.

A primeira delas, dos réus José Wellington Cordeiro Maciel e Israel Lima Braga Rubis, que se encontra no ID 38347314, acompanhada dos documentos que se inserem entre os ID’s 38347315

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a 38519593.

Na judiciosa contestação, foram devidamente impugnadas as teses defendidas pela Coligação Autora, tendo os ilustres advogados desempenhado com louvável zelo o seu mister de contestar em toda a sua plenitude, as imputações apontadas em desfavor dos seus constituintes.

Colhe-se da primorosa peça de resistência as seguintes passagens:

“Como se sabe, a estirpe da ação judicial eleitoral ora em riste submete-se ao disciplinamento delineado no artigo 22 da LC n. 64/90 e se presta a apurar eventual prática de abuso de poder que possa macular a normalidade e a legitimidade das eleições - sendo esse o objeto precípuo a ser tutelado pela espécie -, de modo que os fatos a serem objeto de investigação devem ser dotados de capacidade ou potencial para influenciar o eleitorado em relação à decisão a ser tomada através do voto.

Há de se ter, porquanto, irregularidade abusiva dotada de gravidade tal a interferir no desenvolvimento do certame eleitoral, nos termos do que dispõe o inciso XVI do artigo suprarreferido.

Na contramão do que apregoa e exige a diretriz legal, a demandante esboçou alegações e expôs fatos que não engendram qualquer irregularidade por parte dos defendentes e tampouco em gravame capaz de configurar abuso de poder político ou econômico que possa lastrear a ação ora combatida.

Ou seja, a tese suscitada pela demandante é de uma fragilidade tão evidente que sequer se sustenta enquanto argumento da intentada ação de investigação judicial eleitoral ora contestada, haja vista a falta de subsunção fática a qualquer ilícito eleitoral ou conduta vedada praticada pelos defendentes.

Nessa esteira, enfrentando-se as alegações da demandante, além de esta não conseguir comprovar qualquer liame entre a conduta que aponta ilícita e os defendentes, é possível depreender que fez uso do meio processual incorreto para veicular o que fragilmente sustenta em sua exordial.

E, diante da inconsistente teia argumentativa da demandante, não há outra certeza senão a de que se tem uma demanda de caráter exclusivamente político, sem qualquer lastro jurídico, para criação de mais um factoide perante a população do Município de Arcoverde/PE. Afirmativas levianas, sem provas do cometimento de ilícito eleitoral, que impendem a reversão dos pedidos, para a condenação em litigância de má-fé por parte da demandante.

Reitere-se: não se vê, nas circunstâncias fáticas suscitadas na inicial, ora rebatidas pelos defendentes, qualquer traço de abuso de poder político ou econômico ou de prática de conduta vedada, já que não houve sequer indício de ato irregular ou de ato que pudesse vir a constituir gravidade de natureza eleitoral a desequilibrar as oportunidades de disputa ao pleito municipal deste ano.

Isto é, do frágil – e inexistente – arcabouço probatório do feito, não se extrai qualquer demonstração de que houve ilícito eleitoral cometido pelos defendentes, tampouco aqueles a ensejarem o manejo de uma ação da presente natureza.

Assim, por já feito o rebate das questões aventadas pela demandante, consagre-se que o abuso de poder político somente ocorre nas situações em que o detentor do poder vale-se de sua posição para agir de modo a influenciar o eleitor, em detrimento da liberdade de voto.

Caracteriza-se como ato de autoridade exercido em detrimento do sufrágio. Logo, desarrazoada e descabida seria a alegação da demandante de que houve abuso de poder político por parte dos ora defendentes, à vista da falta do cometimento de qualquer ato que pudesse estar eivado dos caracteres que lhe

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são inerentes. Por outro lado, para suscitar o abuso de poder econômico, a demandante não encontrou melhor sorte em sua exposição.

Anote-se que o abuso do poder econômico em matéria eleitoral é a utilização excessiva, antes ou durante a campanha eleitoral, de recursos financeiros ou patrimoniais buscando beneficiar candidato, partido ou coligação, afetando, assim, a normalidade e a legitimidade das eleições. Por uso do poder econômico, entende-se o emprego de dinheiro mediante as mais diversas técnicas, que vão desde a ajuda financeira, pura e simples, a partidos e candidatos, até a manipulação da opinião pública, da vontade dos eleitores, por meio da propaganda política subliminar, com a aparência de propaganda meramente comercial.

Pois bem. Nos atos que permearam todos os fatos trazidos à baila pela demandante, não houve qualquer deles que tenha se traduzido em ato abusivo de poder econômico pelos ora defendentes, conforme se já se reforçou no embate contestatório feito alhures.

Assim, sobre todas as alegações aqui já elencadas e rebatidas, a demandante deixou de acostar prova de que teria havido abuso de poder político ou econômico por parte dos investigados, ou mesmo de qualquer conduta vedada por eles praticada.

Ao revés, a demandante expôs fatos sem conseguir alcançar qualquer correlação com atos oriundos ou autorizados pelos defendentes, o que torna a presente ação judicial desprovida de elementos capazes de sustentá-la rumo a uma eventual procedência.”

Finalizando pugnando pela improcedência do feito, sem apresentação de rol testemunhal.

Por seu turno, a ré MARIA MADALENA SANTOS DE BRITTO, de igual forma apresentou contestação que se encontra no ID 38521794, sem documentos a lhe acompanhar, na devida guarda do prazo legal.

Na peça, aventou prefacialmente a sua ilegitimidade passiva ad causam, sob a perspectiva de que a mesma “não é a candidata, como se sabe, tendo apenas acompanhado os atos de campanha dos candidatos a prefeito e vice-prefeito do Município de Arcoverde, sem possuir qualquer ingerência sobre os atos, sendo totalmente desconexas as alegações prestadas pela Requerente. ”

Defende também a ré a necessidade de reconhecimento da existência de caso de lide temerária e litigância de má-fé, pois no seu entender houve a “utilização do Poder Judiciário, pela Requerente, através de lide temerária, desprovida de provas robustas capazes de fundamentar a propositura da presente Ação de Investigação Judicial Eleitoral, pelo que requer, de logo, a aplicação de multa, na forma prevista nos artigos 17, V e VI e 18, do CPC.”

No mérito, defendeu a improcedência da ação, com as seguintes considerações:

“No entanto, a Coligação Requerente, deliberadamente, escondeu desse juízo que interpôs as mencionadas medidas judiciais, através dos mesmos advogados, com o único objetivo de enganar esse Juízo, tentando passar a ideia de que os requeridos estavam realizando e participando de um evento ilegal, com o descumprimento de determinação do TRE.

Sendo assim, a Coligação Requerente alterou a verdade dos fatos para tentar levar esse juízo a erro, escondendo informações que eram necessárias de serem apresentadas na presente Ação de Investigação Judicial Eleitoral.

Há de ressaltado, outrossim, que as fotografias e vídeos que lastreiam os presentes autos não são representativos de todo o evento, tendo sido pinçados momentos pontuais, a critério e conveniência da Requerente, sendo certo que são inservíveis para macular toda a manifestação ocorrida, sobretudo por restarem dúvidas até mesmo se foram retiradas na data da realização do evento,

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tendo em vista a deslealdade processual perpetuada nessas ações.

Por outro lado, conforme demonstram as fotografias anexadas à presente contestação, na maior parte do evento, foram adotadas todas as cautelas devidas para minimizar qualquer risco de contágio do COVID-19, em atenção às normas e diretrizes sanitárias, sendo forçoso concluir que à Requerida não se pode atribuir quaisquer dos apontamentos.

Não há dúvidas, portanto, que se trata de lide temerária proposta pela Coligação Requerente, sendo medida que se impõe tal declaração, a fim de que seja efetivamente condenada por litigância de má-fé.

Imperioso destacar, portanto, que não há qualquer prática abusiva por parte da Representada e, por conseguinte, deve a presente Ação de Investigação Judicial Eleitoral ser julgada integralmente improcedente. ”

A ré arrolou ainda testemunhas nas pessoas de DANIEL PETRÔNIO OLIVEIRA QUINTO, TULLYO NAPOLEON SIQUEIRA CAVALCANTI e CLEDEMÁRIO RAPHAEL CURSINO DE BRITO JORGE.

Em 11 de novembro de 2020, foi proferido despacho por meio do qual foi designada audiência de instrução para o dia 13 imediato, às 09h.

Expedidos os mandados de intimação da audiência, os mesmos foram cumpridos e acostados aos autos.

Na véspera do acontecimento da audiência, a ré MADALENA BRITTO pleiteou a redesignação da audiência, alegando o tempo exíguo para localização das testemunhas.

Esse juízo deferiu o pedido, renovando a data para a realização da assentada instrutória para o doa 25 de novembro de 2020, no mesmo horário.

Novos mandados de intimação da audiência foram expedidos e devidamente cumpridos.

Instalada a audiência de instrução, foi realizada a oitiva da testemunha Tullyo Napoleon Siqueira Cavalcanti, e ao final determinou-se a abertura de prazo para oferta da alegações finais.

Seguiram-se as manifestações derradeiras da Coligação Muda Arcoverde (ID 47992356), dos réus José Wellington Cordeiro Maciel e Israel Lima Braga Rubis (ID 48169767) e da ré Maria Madalena Santos de Britto (ID 48156625), por meio das quais, os mesmos ratificaram as teses defendidas nas suas manifestações anteriores.

Por fim, o nobre Promotor DIÓGENES LUCIANO NOGUEIRA MOREIRA, apresentado a sua manifestação final, pugnou pela IMPROCEDÊNCIA da ação, com o seguinte opinativo:

“Vieram os autos ao Ministério Público Eleitoral para parecer final. PASSANDO A SE MANIFESTAR NOS TERMOS QUE SEGUE.

Segundo definição de Antônio Carlos Medes, o abuso do poder econômico “consiste, em princípio, no financiamento, direto ou indireto, dos partidos políticos e candidatos, antes ou durante a campanha eleitoral, com ofensa à lei e às instruções da Justiça Eleitoral, objetivando anular a igualdade jurídica (igualdade de chances) dos partidos, tisnando, assim, a normalidade e a legitimidade das eleições.”1 De partida, se pode assentar que o abuso do poder econômico incide sempre que houver uso indevido do poder financeiro, configurando-se o intuito de desequilibrar a disputa eleitoral.

Neste sentido o TSE já decidiu: “Abuso de poder econômico em matéria eleitoral se refere à utilização excessiva, antes ou durante a campanha eleitoral, de recursos materiais ou humanos que representem valor econômico, buscando beneficiar candidato partido ou coligação, afetando assim a normalidade e a legitimidade das eleições. (AgRgRESP nº 25.906, de 09.08.2007 e AgRg RESPE nº 25.652, de 31.10.2006)”

No que concerne ao abuso do poder político, ensina o mestre Francisco Dirceu Barros: “Diferentemente do abuso de poder econômico, o abuso de poder

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político ou abuso de poder de autoridade só pode ser cometido por quem detém cargo, função ou emprego na administração direta indireta e fundacional da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, portanto, sempre que um cargo, emprego ou função pública for usada com escopo de obter votos haverá improbidade por desvio de finalidade e, destarte, abuso de poder de autoridade.”2

Estabelecidas tais balizas, passamos a análise do caso concreto. Excelência, com relação ao suposto abuso do poder econômico, com a devida vênia, o Ministério Público Eleitoral não consegue enxergar na conduta dos promovidos a possibilidade de enquadramento aos conceitos delineados no introito desta manifestação.

É que os promovidos obtiveram autorização do Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco para a realização do ato de propaganda ora impugnado, qual seja, a carreata do dia 01º de novembro de 2020, após interporem recurso à r. sentença deste Juízo que julgou o pedido de providência nº 0600293- 63.2020.6.17.0057. Convém ressaltar, inclusive, que, dentre outros argumentos, os representados invocaram justamente a preservação da igualdade de oportunidades na disputa do pleito.

Como cediço, o TRE/PE deu provimento ao recurso manejado, autorizando a realização do ato do dia 1º de novembro de 2020.

Portanto, ao julgar procedente o recurso, o TRE reconheceu que aos representados assistia o direito de realizar o ato político.

Tendo, ainda, esclarecido que eventual descumprimento das medidas sanitárias deveriam ter como consequência a “incidência das sanções previstas na sentença recorrida”.

Por fim, ainda em atenção aos parâmetros estabelecidos nos conceitos acima, embora a coligação representante tenha demonstrado inúmeras inobservâncias das medidas preventivas da pandemia, não logrou demonstrar qual teria sido a utilização excessiva de recursos financeiros que representou o abuso do poder econômico.

No que concerne o alegado abuso do poder político, imputado à representada MARIA MADALENA SANTOS DE BRITTO, e que beneficiaria os demais representados, também não deve prosperar pelas mesmas razões acima.

É que nos termos do art. 1º, §3º, inciso VI, da EC nº 107, de 2 de julho de 2020: “VI - os atos de propaganda eleitoral não poderão ser limitados pela legislação municipal ou pela Justiça Eleitoral, salvo se a decisão estiver fundamentada em prévio parecer técnico emitido por autoridade sanitária estadual ou nacional; ” Do dispositivo, infere-se que o poder de polícia municipal até poderia, em tese, interferir nos atos de propaganda, desde que esteados “em prévio parecer técnico emitido por autoridade estadual”.

Não obstante, não se pode perder de vista que a possibilidade de realização do ato em questão já havia sido judicializada! Desse modo, cabia ao Poder Judiciários (Eleitoral) autorizá-lo (o que veio a acontecer) e não mais ao Poder Público Municipal interferir na sua realização.

Destarte, não se vislumbra nenhuma omissão dolosa da Chefe do Executivo Municipal caracterizadora de abuso de poder político, como quer a representante, haja vista que o ato impugnado estava, repita-se, autorizado pelo Tribunal Regional Eleitoral.

Ante todo o exposto, OPINA O MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL PELA TOTAL IMPROCEDÊNCIA da presente ação de investigação judicial eleitoral.”

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FUNDAMENTAÇÃO: Das prefaciais meritórias:

De saída, rejeita-se a preliminar de ilegitimidade passiva ad causam levantada pela ré Maria Madalena Santos de Britto, uma vez que conforme se observa dos autos, a mesma esteve presente no evento realizado no dia 01 de novembro de 2020, no qual foram demonstradas as condutas discutidas na ação, assim, a mesma encontra-se apta a permanecer no polo passivo da demanda.

Igualmente não se vislumbra na presente ação a existência de lide temerária ou utilização da Justiça Eleitoral em litigância de má-fé, eis que a hipótese em comento reclama o pronunciamento dessa justiça especializada acerca do evento político ocorrido nessa cidade no dia 01 de novembro de 2020, de modo que o interesse-utilidade do processo se faz presente. Assim, rejeitam-se as preliminares de ilegitimidade passiva ad causam, de arguição de lide temerária e via de consequência, de litigância de má-fé.

Do meritum causae:

De antemão, em consonância com o douto opinativo ministerial, após a detida análise, entende esse juízo pela inexistência de perpetração de conduta que venha a constituir abuso de poder econômico.

Como é cediço, o abuso de poder econômico configura-se pela utilização indevida de parte do poder financeiro, para obter-se vantagem, direta ou indireta, na disputa eleitoral.

A expressão “econômico” liga-se ao conceito de patrimônio, de modo que o ilícito é conceituado como o emprego indevido de bens ou valores pelo agente, de modo anormal e exagerado, ocasionando quebra da igualdade eleitoral.

Tal modalidade de abuso de diversas formas, tais quais despesas de recursos de campanha acima dos limites legais, oferecimento de vantagens a eleitores, uso de recursos financeiros ilicitamente arrecadados, dentre outros.

Algumas destas condutas encontram-se tipificadas na legislação eleitoral, como a violação de normas de arrecadação e aplicação de recursos de campanha (art. 30-A da Lei nº 9.504/97) e a captação ilícita de sufrágio (art. 41-A da Lei nº 9.504/97).

Portanto, o abuso de poder econômico consiste na aplicação indevida de recursos financeiros ou outras formas de manifestação do poder econômico, de modo a ocasionar desequilíbrio no pleito democrático.

Assim, nos termos do caput do art. 22 da Lei Complementar n. 64/90 busca-se impedir que o poder econômico seja utilizado por candidato em detrimento da liberdade do voto, preservando os princípios da moralidade e da igualdade a que têm direito os postulantes ao cargo eletivo na corrida eleitoral.

Por essas razões, firma-se convicção no sentido de que o evento realizado no dia 01 de novembro de 2020, capitaneado pelos réus, não teve o condão de constituir abuso de poder econômico, eis que os pressupostos para configuração não se fizeram presentes, como bem destacou o nobre promotor no seu respeitável opinativo.

Destarte, o mesmo não se pode dizer em relação ao abuso de poder político.

Com efeito, esse juízo, já nas primeiras reuniões realizadas com os representantes das Coligações, estabeleceu todas as diretrizes que deveriam ser observadas pelos candidatos referentes as medidas de distanciamento social para fins de evitar a propagação da COVID-19 na cidade de Arcoverde.

Os juízes eleitorais pernambucanos de igual modo dentro do poder de polícia a eles vinculados, agiram de igual maneira, tudo com vistas ao resguardo da saúde pública.

Por fim, diante da constatação de eventos com aglomerações, o Plenário do Egrégio Tribunal Regional Federal de Pernambuco, editou Resolução de observância obrigatória em todo o território estadual, proibindo a realização de eventos presenciais, entendimento esse mantido pelo Tribunal Superior Eleitoral.

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Ressalta-se que a Justiça Eleitoral pautou os seus atos de acordo com o Decreto n.º 49.055/2020 do Governo do Estado de Pernambuco, que estabeleceu as diretrizes atinentes ao regramento de distanciamento social e medidas de segurança sanitária para fins de conter a propagação da COVID-19.

Conforme se constata dos autos, a Coligação União por Arcoverde se insurgindo em face de sentença proferida por esse juízo no processo n.º 0600293-63.2020.6.17.0057, que acolhendo pedido de providências pleiteado pelo Douto Ministério Público Eleitoral, decidiu pela suspensão de eventos políticos que ocasionassem aglomerações, manejou recurso eleitoral que findou por lograr parcial acolhida junto ao Egrégio Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco.

O Eminente Desembargador Edilson Nobre, proferiu o voto que restou acompanhado pelos demais integrantes no colegiado, no seguinte diapasão:

“A leitura das razões recursais evidencia que dois são os argumentos que apoiam o pedido formulado em sede recursal, qual seja a reforma da sentença para que seja permitido a realização de mais uma carreta por parte dos seguidores da recorrente.

Uma delas é a de que a Coligação Muda Arcoverde, antes do deferimento da liminar, realizou uma manifestação política a mais do que a recorrente, qual seja a carreata que teve lugar no dia 04 de outubro neste ano, contando, assim, com um número superior de eventos de rua em seu favor.

Haveria, ao sentir da recorrente, uma quebra de isonomia. O argumento, porém, não me impressiona. O princípio da igualdade (art. 5º, I, CRFB) não exclui a possibilidade de distinções, desde que estas sejam razoáveis e justificadas. No presente caso, a razão invocada pela inicial e a sentença, refletindo-se no impedimento que a recorrente visa ultrapassar, foi a da preservação da saúde dos munícipes diante da possibilidade de expansão da COVID – 19, sendo de notar que um dos fatos que ensejou o ajuizamento do pedido residiu justamente numa manifestação de rua promovida pela recorrente, mais precisamente uma passeata ocorrida no dia 03 de outubro (ver petição inicial, lauda 4).

Outro fundamento é de ser extraído das alegações da recorrente, consistindo na circunstância de que a proibição de carreata se mostra fora da razoabilidade. De fato, o art. 1º, §3º, VI, da Emenda Constitucional 107/2020, versando sobre a atuação fiscalizadora da Justiça Eleitoral, dispõe: “VI - os atos de propaganda eleitoral não poderão ser limitados pela legislação municipal ou pela Justiça Eleitoral, salvo se a decisão estiver fundamentada em prévio parecer técnico emitido por autoridade sanitária estadual ou nacional”.

A mensagem do constituinte derivado restou ratificada, sem ampliação, por esta C o r t e a o i n s t a n t e d a r e s p o s t a à C o n s u l t a ( C o n s u l t a n º 0 6 0 0 0 5 2 9 -89.2020.6.17.0000, rel. Des. Gonçalves de Morais, julgada em 28 de agosto do ano corrente), formulada pela Procuradoria Regional Eleitoral.

Por sua vez, compulsando-se o Parecer Técnico 6/2020/SES-PE, elaborado em face da proximidade do período eleitoral, vê-se, no tópico “DISTANCIAMENTO SOCIAL”, Item 5, a menção ao tratamento a ser conferido aos bandeiraços, passeatas, caminhadas, carreatas e similares. Logo após a advertência, constante do item 5.1, no sentido de que a realização de tais atos tem como uma das principais características a aglomeração de pessoas, especifica o parecer, mais adiante, no seu item 5.4, o seguinte: “Na realização de carreatas ou atos similares as pessoas deverão permanecer dentro dos carros para não haver aglomeração de pessoas na saída e chegada”.

Daí se vislumbrar que, observadas tais restrições, bem como as medidas de prevenção aplicáveis nos termos do tópico “PROTEÇÃO/PREVENÇÃO” (itens 1 a 8) do aludido parecer, descaberia à sentença a proibição de carretas de forma

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genérica, pelo só fato de sua realização, ao contrário do que, diferentemente, laborou quanto aos comícios, para os quais a decisão facultou a sua realização contanto adotado o formato drive-in.

Penso que o provimento do recurso não poderá ultrapassar o pedido do recorrente, limitado a uma só carreta, a ter lugar num dia de domingo, dentro do período de propaganda eleitoral, significando dizer que aquela se conformou com os demais termos do dispositivo sentencial.

Da mesma forma, o recurso não alcançará as coligações AVANÇA ARCOVERDE e MUDA ARCOVERDE, as quais assentiram com a sentença, sendo de notar que ambas, mediante petições avulsas (Id. 8557761 e Id. 8639461), manifestaram-se pela não liberação de carreatas, bem assim pela manutenção da sentença.

Com essas considerações, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso, de maneira a assegurar a recorrente o direito à realização de carreata – e não motocada, até porque não abrangida no pleito recursal -, a ser realizada em dia de domingo, dentro do período de propaganda eleitoral, com a observância do item 5.4 do tópico Distanciamento Social., bem como as medidas de Proteção/Prevenção (itens 1 a 8), ambos do Parecer Técnico 6/2020/SES-PE, sob pena de incidência das sanções previstas na sentença recorrida.”

Da leitura do voto do ilustre relator, constata-se de forma clarividente que o evento foi permitido, destarte, com recomendações expressas quanto às restrições a serem observadas.

Na parte final do voto consta expressamente que o evento deveria observar as diretrizes preconizadas no “item 5.4 do tópico Distanciamento Social, bem como as medidas de Proteção/Prevenção (itens 1 a 8), ambos do Parecer Técnico 6/2020/SES-PE”, os quais possuem a seguinte redação:

“5. Com relação aos bandeiraços, passeatas, caminhadas, carreatas e similares: 5.1 A realização de bandeiraços, passeatas, caminhadas, carreatas e similares têm como uma das principais características a aglomeração de pessoas;

5.2 Podem-se minimizar riscos nos bandeiraços, respeitando o distanciamento mínimo de 100m (cem metros) entre grupos partidários e com, no máximo, 10 (dez) pessoas, respeitando o distanciamento de 1,5m entre elas;

5.3 Nas caminhadas e passeatas, caso permitidas, o distanciamento entre as pessoas e a redução do tempo nas concentrações (saída e chegada) são recomendados porque reduzem o risco de transmissão;

5.4 Na realização de carreatas ou atos similares as pessoas deverão permanecer dentro dos carros para não haver aglomeração de pessoas na saída e chegada; 5.5 Recomenda-se que confraternizações ou eventos presenciais para arrecadação de recursos de campanha sejam feitos de forma virtual, drive-thru ou drive-in.”

Perscrutando o acervo probatório acostado nos autos – vídeos e fotos -, percebe-se que as diretrizes estabelecidas pelo Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco, efetivamente não foram observadas.

Assim se afirma, pois, os participantes não permaneceram no interior dos seus veículos, em especial os três réus que caminharam por entre a multidão e estiveram EM CARRO ABERTO durante todo a duração do evento.

A estrutura do mencionado evento contou ainda com trio elétrico, vários carros de som, veículos com pessoas em suas partes externas, até mesmo caminhões, pessoas em veículos mecanizados de duas rodas, e o que é pior, a aglomeração em massa de pessoas na saída e na chegada, conforme se vê das fotos e vídeos realizados a noite na Praça da Bandeira, nas quais consta a multidão ao redor do veículos no qual estavam os réus Maria Madalena Santos de Britto, José Wellington Cordeiro Maciel e Israel Lima Braga Rubis.

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Deveras não prospera a tese de que a questão ensejaria apenas a fixação de pena pecuniária em razão do eventual descumprimento, mas ao revés, urge a realização de análise sob o prisma do abuso de poder político, efetivamente.

Com efeito, na condição de mandatária do Município de Arcoverde, a ré Maria Madalena Santos de Britto, possuía a obrigação de determinar o pleno e irrestrito cumprimento das diretrizes preconizadas no Decreto n.º 49.055/2020 e do Parecer Técnico n.º 006/2020, da Secretaria Estadual de Saúde, de modo a impedir a realização das aglomerações, destarte, a mesma figura como incentivadora do evento proscrito realizado, tanto é verdade, que ela esteve com os corréus em carro aberto durante todo o trajeto da carreata.

Na realidade, ao perceber que o evento tomou magnitude que ensejou a aglomeração de pessoas, a Prefeita do Município deveria ter ordenado a sua imediata cessação seja através do acionamento da força policial para a dispersar as pessoas, bem como pela atuação da Autarquia de Trânsito Municipal para orientar os participantes que estavam nos veículos a se retirarem do evento, entretanto, não agiu para fins de fazer prevalecer as diretrizes do Decreto Estadual.

O caso configura de forma inequívoca, a figura do ABUSO DE PODER POLÍTICO POR OMISSÃO, que se ocorrer por meio de grave abstenção de agente político, que, deixando de fazer algo a que estava juridicamente obrigado, compromete a normalidade ou a legitimidade das eleições, em benefício ou prejuízo de candidato, partido ou coligação.

Para Hely Lopes de Meirelles, o “abuso de poder tanto pode revestir a forma comissiva como

a omissiva, porque ambas são capazes de afrontar a lei e causar lesão ao direito individual do administrado. A inércia da autoridade administrativa, deixando de executar determinada prestação de serviço a que por lei está obrigada, lesa o patrimônio jurídico individual. É forma omissiva de abuso de poder, quer o ato seja doloso ou culposo.”

(MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 22. ed. São Paulo: Malheiros, 1997).

Ao dissertar acerca da omissão da administração pública, o Douto Juiz de Direito Luiz Sérgio Ribeiro de Souza, do TJRJ, consignou:

“A omissão da Administração Pública também pode caracterizar o abuso de poder. Aqui, há de se discernir entre omissão genérica e omissão específica da Administração Pública. Na primeira, não surge o abuso de poder, porque se trata de escolha do momento mais oportuno para o incremento das políticas de administração, as quais não possuem prazo determinado. Já na omissão específica, a Administração Pública tem o dever de agir face a uma situação determinada, podendo ou não a lei prever o prazo para tanto (neste último caso, deve-se considerar o que a doutrina chama de "prazo razoável"). A omissão específica caracteriza o abuso de poder em virtude do poder-dever de agir da Administração Pública quando a lei assim o determina. Ressalte-se que a omissão não é ato administrativo, mas sim a ausência de manifestação de vontade do poder público. ” ABUSO DE PODER Sérgio Luiz Ribeiro de Souza, Juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Estado Rio de Janeiro. Texto disponibilizado no Banco do Conhecimento em 16 de julho de 2008).

No âmbito eleitoral, a doutrina de igual modo reconhece a figura do abuso de poder político por omissão, conforme se vê do magistério dos Professores José Jairo Gomes e Frederico Franco Alvim:

“O abuso de poder político por omissão realiza-se por meio de grave abstenção de agente político, que, deixando de fazer algo a que estava juridicamente obrigado, compromete a normalidade ou a legitimidade das eleições, em benefício ou prejuízo de candidato, partido ou coligação.” (ALVIM, Frederico Franco. O abuso de poder político por omissão. Revista Jurídica Verba Legis, Goiânia, n. 6, p. 19-28, maio 2010/maio 2011).

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“O abuso de poder político pode se manifestar, também, por meios variados, tais quais a utilização indevida do patrimônio público, serviços ou programas sociais, alterações no quadro de agentes públicos (seja por transferência, suspensão ou demissão), ameaças contra funcionários da Administração direta ou indireta, dentre outros, sendo possível sua ocorrência por ação ou omissão. ” (GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2017).

A jurisprudência dos Tribunais Regionais Eleitorais pátrios, segue a mesma linha, in verbis: “O abuso do poder econômico se caracteriza por conduta ativa ou omissiva em benefício de candidato ou de partido político que almeja certo pleito eleitoral.” (AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL n 178782, ACÓRDÃO n 3009/2012 de 08/11/2012, Relator: Desembargador ROBERTO BARROS DOS SANTOS, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 216, Data 13/11/2012, Página 02).

“Recursos. Ação de Impugnação de Mandato Eletivo. Arts. 73, I, III, VI, "b" , e VII, 74, 75 e 77 da Lei n. 9.504/97. Prefeito e Vice-Prefeito. Procedência. Cassação dos mandatos eletivos dos impugnados, declaração de inelegibilidade pelo período de 3 anos, aplicação de multa e determinação da diplomação dos segundos colocados. Eleições 2004.

(...)

Extensão da sanção de inelegibilidade ao Vice-Prefeito. Existência de provas claras de atitude omissiva no comportamento do Vice-Prefeito. Inação intencional. Conhecimento dos fatos. Art. 73, § 8º, da Lei n. 9.504/97. Aplicação da sanção de inelegibilidade ao Vice-Prefeito. Princípios da unicidade e indivisibilidade.

(...).” (TRE-MG. RECURSO EM AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO n 34922006, ACÓRDÃO n 1064 de 23/10/2007, Relator TIAGO PINTO, Publicação: DJMG - Diário do Judiciário-Minas Gerais, Data 13/11/2007, Página 111 ).

A ausência da adoção de providências por parte da ré Maria Madalena Santos de Britto, em fazer cessar o evento que tomou tal dimensão tal que ocasionou aglomerações em manifesta burla ao Decreto Estadual, consubstancia omissão dolosa que teve o condão de favorecer indevidamente a candidatura de José Wellington Cordeiro Maciel e Israel Lima Braga Rubis.

Dessa forma, não é demais dizer que a ré Madalena Britto por sua omissão dolosa e inação intencional em determinar a aplicação das regras previstas no Decreto Estadual n.º 49.055, incorreu, ainda, em ato de improbidade administrativa, elencado no artigo 11, inciso I, da Lei de Improbidade Administrativa e artigo 73, §7º, da Lei Federal n.° 9.504/97, que assim dispõem:

“Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública qualquer ação ou omissão que viole os deveres de honestidade, imparcialidade, legalidade, e lealdade às instituições, e notadamente:

I - Praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso daquele previsto, na regra de competência; ”

“Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos pleitos eleitorais:

(...)

§ 7º As condutas enumeradas no caput caracterizam, ainda, atos de improbidade administrativa, a que se refere o art. 11, inciso I, da Lei nº 8.429, de 2 de junho de

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1992, e sujeitam-se às disposições daquele diploma legal, em especial às cominações do art. 12, inciso III.”

Insta tomar de empréstimo a citação doutrinária trazida no parecer do digno Promotor eleitoral, da lavra do ilustre Procurador Geral de Justiça de Pernambuco, “Diferentemente do abuso de poder econômico, o abuso de poder político ou abuso de poder de autoridade só pode ser cometido por quem detém cargo, função ou emprego na administração direta indireta e fundacional da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, portanto, sempre que um cargo, emprego ou função pública for usada com escopo de obter votos haverá improbidade por desvio de finalidade e, destarte, abuso de poder de autoridade” (Barros, Francisco Dirceu. Manual de Prática Eleitoral. 1ª ed., Leme/SP, JH Mizuno, 2016), para fins de asseverar que a citação se amolda perfeitamente na casuística, eis que o ato omissivo doloso da ré Maria Madalena Santos de Britto, findou por beneficiar indevidamente a candidatura de José Wellington Cordeiro Maciel e Israel Lima Braga Rubis.

Observe-se finalmente que a decisão proferida pelo Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco, visou garantir a Coligação União por Arcoverde, o direito a realização de mais uma carreata para fins de conceder-lhe a igualdade de condições, uma vez que a Coligação Muda Arcoverde realizou o mencionado evento em número superior, destarte, ao deturpar a forma de realização do evento, com a aprovação e participação direta da Prefeita do Município que por ato de omissão dolosa permitiu que o mesmo fosse realizado totalmente fora dos parâmetros constantes no Decreto n.º 49.055/2020 do Governo do Estado de Pernambuco e do Parecer Técnico n.º 006/2020, da Secretaria Estadual de Saúde, afetou-se de forma cabal a igualdade de oportunidades no pleito eleitoral de 2020, de modo que os réus perpetraram ato previsto no caput do artigo 73 da Lei 9.504/97.

Avanço para dizer que, no caso, a potencialidade para influenciar o resultado do pleito é manifesta.

Como sabido, o nexo de causalidade quanto à influência das condutas no pleito eleitoral é tão-somente indiciário; ou seja, não é necessário demonstrar, de plano, que os atos praticados foram determinantes do resultado da competição (cf. o RO nO728, reI. Min. Luiz Calos Lopes Madeira, RO nO896, reI. Min. Caputo Bastos, Ag nO4.311, reI. Min. Gilmar Mendes, e o REspe n.º 25.822, reI. Min. Cesar Asfor Rocha); basta ressair, dos autos, a probabilidade de que os fatos se revestiram de desproporcionalidade de meios, pois se tratou de último evento de campanha, que foi assegurado pelo Egrégio Tribunal Regional Eleitoral para assegurar a igualdade de condições, entretanto, os réus deturparam a oportunidade concedida para erigir evento de grande magnitude, com manifesta desobediência às diretrizes estabelecidas pela Corte Eleitoral.

Ressalte-se que as demais Coligações, não tiveram o mesmo direito de realizar evento semelhante após a realização daquele que é objeto da ação em comento, de modo que na percepção do eleitorado, o evento conduzido pelos réus restou caracterizado como de grande proporção, afetando inegavelmente a igualdade de condições.

Daí o procedente magistério de Emerson Garcia, segundo o qual: "(...) bastará que o ato, analisado em si e sob a ótica da conjuntura em que foi praticado, denote ser potencialmente daninho à legitimidade do pleito, sendo apto a comprometer a igualdade entre os candidatos e a influir sobre a vontade popular (...)" (O Abuso de Poder Nas Eleições - Meios de Coibição -, Editora Lumen Júris, 3 3 Edição, pág. 20).

Convergentemente, lanço mão dos ensinamentos do Min. Fernando Neves: "(...) para a caracterização do abuso de poder é necessária a verificação da potencialidade de os fatos narrados influírem na vontade do eleitor e, consequentemente, no resultado do pleito, que poderia ser outro se não tivessem ocorrido as práticas abusivas. Para essa análise, o julgador deve levar em conta os fatos: a quantidade, o valor da benesse, a data da prática, etc; e as circunstâncias em que ocorridos, como o tamanho do município ou bairro (...) Cálculos matemáticos somente poderiam ser de alguma utilidade se se exigisse o nexo de causalidade, entendido esse como a comprovação de que o candidato foi eleito devido ao ilícito ocorrido. Isso, todos nós sabemos, não é possível. O que se deve verificar é se as

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práticas irregulares teriam a capacidade ou potencial para influenciar o eleitor, para fazê-lo votar em alguém em quem, em outra situação, não votaria. (...)".(TSE.RO n.º 7521/ES, ReI. Min. Fernando Neves).

Não haveria o abuso de poder político por omissão dolosa da primeira ré, tampouco o condão de afetar a igualdade de condições, caso o evento tivesse ocorrido nos estritos moldes preconizados pelo Tribunal Regional Eleitoral, sendo importante destacar o que consignou o Eminente Desembargador EDILSON NOBRE: “o direito à realização de carreata – e não motocada, até porque não abrangida no pleito recursal -, a ser realizada em dia de domingo, dentro do período de propaganda eleitoral, com a observância do item 5.4 do tópico Distanciamento Social., bem como as medidas de Proteção/Prevenção (itens 1 a 8), ambos do Parecer Técnico 6/2020/SES-PE, sob pena de incidência das sanções previstas na sentença recorrida”, mas o que se constata dos autos, é que deturpando o direito que foi assegurado, realizou-se evento de forma totalmente contrária, gerando aglomeração de pessoas, e consequentemente para fins de demonstração de força política apta a firmar a convicção do eleitor que os nomes dos candidatos da primeira ré possuíam maior força política.

Assevere-se finalmente que o resultado da apuração dos votos demonstra essa realidade, eis que após a totalização dos votos, a diferença entre os candidatos das Coligações União por Arcoverde e Muda Arcoverde, findou em menos de três por cento dos votos válidos, daí a demonstração inequívoca de que o evento efetivamente corroborou para influenciar o resultado do pleito.

Saliente-se por oportuno, que o abuso de poder eleitoral não mais possui, para sua configuração, a exigência da presença do pressuposto da potencialidade do fato alterar o resultado das eleições, sendo necessária tão somente a caracterização da gravidade das circunstâncias do ato tido por abusivo, que sobejaram na hipótese vertente, conforme demonstrado.

Essa inovação, de índole interpretativa, introduzida pela Lei Complementar 135, de 2010 (Lei da Ficha Limpa), que acrescentou o inciso XVI ao artigo 22 da LC 64, de 1990, segundo o qual “para a configuração do ato abusivo, não será considerada a potencialidade de o fato alterar o resultado da eleição, mas apenas a gravidade das circunstâncias que o caracterizam”.

A gravidade das circunstâncias do ato em si considerado, e não a sua probabilidade em influir no resultado da eleição, passa a ser o pressuposto para configurar o abuso de poder.

A inovação legislativa possui o evidente sentido de afastar a exigência da potencialidade para influir no resultado das eleições como pressuposto da declaração de presença de ato abusivo, assim, conclui-se que os réus estão aptos ao sancionamento previsto na lei.

Forte nessas razões, resta demonstrada a ocorrência de abuso de poder político pela omissão dolosa da ré Maria Madalena Santos de Britto, que desconsiderando as diretrizes previstas no Decreto Estadual n.º 49.055, permitiu a realização de evento que ocasionou aglomeração proscrita de pessoas, e dele teve participação direta ao desfilar em carro aberto, tudo com a finalidade de fomentar a candidatura daqueles que a mesma apoiou – os corréus José Wellington Cordeiro Maciel e Israel Lima Braga Rubis, em manifesta quebra da igualdade de oportunidades no pleito eleitoral de 2020, de modo a configurar a hipótese preconizada no caput do artigo 73 da Lei 9.504/97, na linha da fundamentação apresentada.

DISPOSITIVO:

Ante o exposto e por tudo mais que dos autos consta, com o fim de garantir os preceitos constitucionais do Estado Democrático de Direito, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido formulado na presente Ação de Investigação Judicial Eleitoral, PARA FINS DE RECONHECER A PERPETRAÇÃO DE ATO DE ABUSO DE PODER POLÍTICO PELA OMISSÃO DOLOSA DA SRA. PREFEITA DO MUNICÍPIO DE ARCOVERDE, EM BENEFÍCIO DOS CANDIDATOS, razão pela qual conclui-se pela CONDENAÇÃO DOS RÉUS JOSE WELLINGTON CORDEIRO MACIEL, ISRAEL LIMA BRAGA RUBIS E MARIA MADALENA SANTOS DE BRITTO, face a perpetração de atos defesos previstos no artigo 73, caput da Lei n.º 9.504/97.

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Como consectário da condenação, determina-se:

A CASSAÇÃO DOS DIPLOMAS, após a expedição dos mesmos e quando encerrado o trâmite recursal, uma vez que os réus José Wellington Cordeiro Maciel e Israel Lima Braga Rubis, sagraram-se vencedores no pleito realizado em 15 de novembro de 2020;

a.

A SUSPENSÃO DOS DIREITOS POLÍTICOS dos réus Maria Madalena Santos de Britto, José Wellington Cordeiro Maciel e Israel Lima Braga Rubis, PELO PRAZO DE OITO ANOS, a contar das eleições de 2020;

a.

O PAGAMENTO DE MULTA no importe individual de vinte mil UFIR’s. a.

Deixo de condenar os réus no pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, por se tratar de ação eleitoral.

Publique-se. Registre-se. Intimem-se. Arcoverde, 10 de dezembro de 2020. DRAULTERNANI MELO PANTALEÃO

Referências

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