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Financiamento Bancário às Pequenas e Médias Empresas em Cabo Verde, Vânia Cardoso Marta, 2016

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Financiamento Bancário às Pequenas e Médias

Empresas em Cabo Verde

Vânia Cardoso Marta Janeiro 2016

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Índice

1. Introdução ... 3

2. A Problemática da Inclusão Financeira ... 4

3. Metodologia ... 6

3.1 O Questionário ... 6

4. Perceção dos Bancos em relação ao Segmento das Pequenas e Médias Empresas ... 8

5. Modelo de Negócio utilizado pelos Bancos no Financiamento a Pequenas e Médias Empresas ... 9

6. A Situação do Financiamento Bancário às Pequenas e Médias Empresas ... 11

6.1 Caracterização das empresas da carteira de crédito bancário e do tecido empresarial cabo-verdiano ... 11

6.2 Principais Características dos Empréstimos às Empresas ... 17

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1. Introdução

Dado o peso das Pequenas e Médias Empresas (PMEs) no sector privado em todo o mundo, estas têm desempenhado um papel importante no desenvolvimento económico, em especial nos países em desenvolvimento onde o emprego e a distribuição da riqueza constituem importantes desafios. Neste sentido, a problemática do desenvolvimento das PMEs, designadamente o seu financiamento, tem sido objeto de grande interesse entre os responsáveis políticos, pesquisadores e outros intervenientes. Em Cabo Verde, as PMEs têm um peso significativo no tecido empresarial e desempenham um papel preponderante na geração de emprego e no desenvolvimento de atividades empreendedoras. Não obstante este reconhecimento, a perceção das empresas a nível nacional é de que o acesso ao financiamento é o maior obstáculo ao desenvolvimento das suas atividades, como aliás foi reportado no “The Global Competitiveness Report 2015-2016” (Schwab, 2015).

De facto, as empresas de menor dimensão são as que geralmente encontram maiores dificuldades em obter financiamento junto de terceiros. A sua estrutura financeira e maior exposição a assimetrias de informação torna-as sujeitas a maiores restrições ao financiamento bancário. Ao mesmo tempo, a substituição do financiamento bancário por fontes alternativas como o mercado de capitais é difícil, na medida em que, dada a sua dimensão, a emissão de dívida no mercado financeiro pode ser demasiado dispendiosa e, por isso, não compensar. Nos últimos anos, contudo, a questão do acesso a financiamento bancário por parte das empresas de menor dimensão tornou-se ainda mais relevante devido ao aumento da restritividade dos critérios e condições de aprovação de empréstimos a empresas. Com efeito, de acordo com os resultados do Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito Cabo-Verdiano do Banco de Cabo Verde, o nível de incumprimento dos clientes e os riscos associados a empresas sem contabilidade organizada destacam-se entre as principais razões para esse aumento de restritividade. Ademais, existe a perceção entre os decisores políticos de que os bancos, em especial os grandes bancos, não estão muito disponíveis para financiar empresas de menor dimensão.

Desta forma, o contributo das PMEs para a economia nacional e o facto de o crédito bancário ser a sua principal fonte de financiamento externo justificam a necessidade de se conhecer de forma completa e detalhada o financiamento bancário às empresas. Assim, o presente estudo procura saber se os bancos financiam as PMEs, o porquê e como.

A informação de base do estudo provém de dois questionários realizados aos bancos. O primeiro, de caráter quantitativo, tem como objetivo recolher informações sobre as condições de financiamento das empresas e a situação dos seus empréstimos. O segundo, de natureza qualitativa, visa captar a perceção dos bancos relativamente ao segmento das PMEs e analisar o modelo de negócio utilizado pelos bancos para financiar estas empresas.

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Para além da introdução, no capítulo 2 faz-se uma breve análise da problemática da inclusão financeira. O capítulo 3 faz uma descrição da metodologia utilizada. O capítulo 4 apresenta a perceção dos bancos em relação ao segmento das PMEs e o 5 o modelo de negócio utilizado pelos bancos no financiamento destas empresas. Por fim, no capítulo 6 caracterizam-se as empresas da carteira de crédito bancário e o tecido empresarial cabo-verdiano, e analisam-se as condições de financiamento das PMEs.

2. A Problemática da Inclusão Financeira

A Inclusão financeira, geralmente definida como a proporção de indivíduos e empresas que usam serviços financeiros numa determinada economia, tornou-se objeto de grande interesse entre os decisores políticos, pesquisadores e outros intervenientes.

De acordo com o Global Financial Development Report (World Bank, 2014), o maior interesse nesta questão reflete uma melhor compreensão da importância da inclusão financeira para o desenvolvimento económico e social e assinala o crescente reconhecimento de que o acesso a serviços financeiros tem um papel crucial na redução da pobreza extrema e no impulsionamento da prosperidade, para além de estimular o desenvolvimento inclusivo e sustentável. O interesse deriva também da crescente tomada de consciência das grandes lacunas existentes ao nível da inclusão financeira.

De facto, uma das principais funções dos sistemas financeiros é alocar recursos para atividades produtivas e, para isso, o seu bom funcionamento é indispensável. Sistemas financeiros inclusivos são aqueles que oferecem a uma percentagem elevada de indivíduos e empresas serviços de crédito, poupança e gestão de riscos. A ausência de inclusão no sistema financeiro leva a que as pessoas contem apenas com as suas poupanças para poderem investir na sua educação ou se tornarem empreendedoras e a que as empresas contem apenas com os rendimentos gerados internamente para aproveitarem oportunidades prometedoras de crescimento. Da mesma forma, a ausência de inclusão pode contribuir para a manutenção da desigualdade na distribuição de rendimentos e para o baixo crescimento económico.

A exclusão financeira exige a tomada de medidas de política se resultar de barreiras que restringem o acesso a serviços financeiros de indivíduos e empresas cujo benefício marginal da sua utilização seria maior do que o custo marginal de prover desses serviços. Efetivamente, inclusão financeira não significa financiamento para todos a qualquer custo. Algumas empresas têm negócios que não necessitam de serviços financeiros. Por este motivo, esforços no sentido de subsidiar esses serviços são contraproducentes e, no caso do crédito, podem levar ao sobre-endividamento e à instabilidade financeira. A própria crise financeira global evidenciou que a concessão de créditos à custa da flexibilização dos padrões de seleção e do afrouxamento da monitorização pode ter implicações severamente negativas tanto para o consumidor como para a estabilidade financeira

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Contudo, em muitos casos, a utilização de serviços financeiros é condicionada por obstáculos regulamentares e legais ou pelas deficiências de funcionamento do mercado, que impedem indivíduos e empresas de beneficiarem dos serviços financeiros. Por esse motivo, determinar se uma empresa tem acesso ao crédito mas escolhe não o utilizar ou se esta mesma empresa não tem acesso ao crédito porque os custos dos serviços financeiros são proibitivamente elevados ou simplesmente esses serviços não estão disponíveis é complexo, e os efeitos da seleção adversa e do risco moral são difíceis de separar.

Segundo Stiglitz e Weiss (1981), o mercado financeiro, em especial o mercado do crédito e dos seguros, é diferente dos outros, na medida em que problemas de assimetria de informação podem levar ao racionamento do crédito e à exclusão financeira. Na verdade, os mercados do crédito e dos seguros são caracterizados pelo dilema da agência, isto é, o problema do principal e do agente, que inclui a seleção adversa e o risco moral. Por isso, a racionalização pode surgir mesmo em mercados de crédito competitivos porque as taxas de juro e as comissões bancárias podem afetar não só a procura, como o perfil de risco dos clientes bancários. Taxas de juro e comissões elevadas tendem a: (1) atrair devedores menos bem intencionados ou com menor probabilidade de pagar o empréstimo e que, por isso, envolvem mais riscos (seleção adversa); (2) alterar os incentivos de reembolso, na medida em que o devedor pode utilizar os fundos para fins que não são consistentes com os interesses do credor (risco moral). Como resultado, a taxa de retorno esperada do empréstimo irá crescer menos rapidamente que a taxa de juro e, até certo ponto, poderá até decrescer. Desta forma, quando se analisam indivíduos e empresas involuntariamente excluídos do sistema financeiro, deve-se fazer a distinção entre aqueles que enfrentam barreiras de custo e exclusão financeira devido aos seus riscos idiossincráticos e aqueles que enfrentam dificuldades de acesso a financiamento devido às imperfeições de mercado como, por exemplo, a assimetria de informação.

Em Cabo Verde, os empréstimos às empresas, que representam 52,7 por cento do total de crédito ao sector privado, cresceram à taxa média de 1,3 por cento entre 2012 e 2014. A redução do volume de crédito concedido nos últimos anos refletiu sobretudo a desaceleração do crescimento económico, a maior efetivação do risco de crédito e a maior aversão ao risco por parte dos bancos. De facto, as empresas, em especial as de menor dimensão que geralmente são as mais suscetíveis a constrangimentos no financiamento bancário, têm reportado que as dificuldades no acesso a financiamento têm sido o maior obstáculo à realização das suas atividades. Tendo em conta a importância das PMEs na economia nacional e o facto de estas empresas estarem associadas à inovação, à criação de emprego e ao crescimento, é importante analisar se a dificuldade no acesso a crédito bancário por parte das PMEs está relacionada com as imperfeições do mercado nacional ou com os riscos idiossincráticos destas empresas. Assim, este estudo propõe uma análise do financiamento bancário a PMEs do lado da oferta. A escolha desta abordagem deriva do facto de, a nível global e também em Cabo Verde, existir um vazio na literatura nessa matéria.

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3. Metodologia

O presente trabalho teve como referência o estudo de Beck et. al (2008) que analisou a problemática do financiamento bancário de pequenas e médias empresas em todo o mundo e cujas principais conclusões indicam que: (1) os bancos financiam as PMEs devido à sua perceção de que este segmento é rentável e tem boas perspetivas; (2) a concorrência entre os bancos e a condições macroeconómicas são os principais obstáculos ao financiamento das PMEs; (3) em todos os países em que os bancos foram inquiridos a estrutura de vendas de produtos financeiros a PMEs é descentralizada, mas a aprovação de créditos, a gestão de riscos e a recuperação de créditos continua centralizada; (5) em comparação com as grandes empresas, os bancos estão menos expostos às PMEs e praticam taxas de juro e comissões mais elevadas nos empréstimos a estas empresas; (6) as PMEs são as que mais incumprem.

3.1 O Questionário

Para recolher informações sobre o financiamento bancário às Pequenas e Médias Empresas foram elaborados dois questionários: (1) o primeiro com o objetivo de recolher informação quantitativa; (2) o segundo com vista a obtenção de informação qualitativa.

O questionário quantitativo, que tem como objetivo recolher informações sobre as condições de financiamento das empresas e a situação dos seus empréstimos, incidiu sobre a carteira total de crédito às empresas dos bancos, com referência a 30 de Setembro de 2014. Este questionário está dividido em dois grupos. O primeiro grupo procura caracterizar as empresas de acordo com a sua localização geográfica, a Classificação das Atividades Económicas de Cabo Verde (CAE CV-Ver.1), o tipo de forma jurídica, o tipo de organização de contabilidade e a dimensão. O segundo grupo do questionário visa recolher informações sobre cada contrato de crédito celebrado entre o devedor e a instituição de crédito. Pretende-se com estas questões conhecer pormenores como a finalidade do empréstimo, o montante concedido, o montante ainda em dívida, a taxa de juro, as comissões, a maturidade e a situação do empréstimo. Note-se que foi solicitada informação sobre a situação do empréstimo a fim de se identificar e caracterizar os devedores com empréstimos em incumprimento.

O questionário qualitativo, cujo objetivo principal é complementar a análise dos dados quantitativos, está dividido em duas partes. A primeira parte pretende captar a perceção dos bancos relativamente ao segmento das PMEs, através de questões sobre os fatores e os obstáculos ao financiamento a PMEs. A segunda parte visa analisar o modelo de negócio utilizado por cada banco para financiar as PMEs. De salientar também que o questionário qualitativo foi realizado presencialmente.

Os questionários foram enviados aos oito bancos que operam no país, mas apenas seis reportaram todas as informações solicitadas para a realização do estudo. Logo, o estudo foi feito com base nas

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informações desses seis bancos, que representam 86,5 por cento do ativo total do sistema bancário nacional.

3.1.1 Definição de Pequena e Média Empresa

O questionário qualitativo, entre outras questões, pedia aos bancos para apresentarem a sua definição de pequena e média empresa. Particularmente, o questionário pedia aos bancos para apresentarem a sua definição em termos do número de trabalhadores, volume de negócios ou valor do ativo. Contudo, nenhum dos bancos possuía uma definição de PME ou classificava as empresas da sua carteira de crédito por dimensão.

Assim, foi fornecida aos bancos uma classificação das empresas por dimensão. As micro e pequenas empresas foram definidas com base no Regime Jurídico Especial das Micro e Pequenas Empresas, Lei nº70/VIII/2014, de 26 de Agosto. De acordo com este regime, uma micro empresa é uma unidade empresarial que emprega até cinco trabalhadores e ou tem um volume de negócios bruto anual não superior a 5.000.000$00 (cinco milhões de escudos). Uma pequena empresa é uma unidade empresarial que emprega entre seis e dez trabalhadores e ou tem um volume de negócios bruto anual superior a 5.000.000$00 (cinco milhões de escudos) e inferior a 10.000.000$00 (dez milhões de escudos). Dada a inexistência de legislação nessa matéria, o conceito de média e grande empresa foi fornecido pelo Departamento de Estudos Económicos e Estatística (DEE) do Banco de Cabo Verde (BCV), após uma análise do volume de negócios de um conjunto de empresas. Posto isto, uma média empresa foi definida como uma unidade empresarial que emprega entre onze e quarenta e nove trabalhadores e ou tem um volume de negócios anual bruto igual ou superior a 10.000.000$00 (dez milhões de escudos) e inferior a 200.000.000$00 (duzentos milhões de escudos). Uma grande empresa é uma unidade empresarial que emprega cinquenta ou mais trabalhadores e ou tem um volume de negócios anual bruto igual ou superior a 200.000.000$00 (duzentos milhões de escudos).

Não obstante, uma vez que não dispunham de informações sobre o número de trabalhadores ou volume de negócios da maior parte das empresas da sua carteira de crédito, os bancos não puderam fazer a classificação das mesmas por dimensão. Para ultrapassar este obstáculo, o DEE-BCV solicitou ao Instituto Nacional de Estatística (INE) os dados sobre o volume de negócios e o número de trabalhadores das empresas. Assim, após o cruzamento da base de dados do INE com a carteira de crédito dos bancos foi possível obter a classificação das empresas por dimensão.

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4. Perceção dos Bancos em relação ao Segmento das Pequenas e Médias Empresas

O questionário qualitativo inclui um conjunto de perguntas cujo objetivo é captar a perceção dos bancos relativamente ao segmento das pequenas e médias empresas. Os bancos foram questionados sobre o tamanho e as perspetivas do mercado das PMEs, as motivações e os obstáculos ao seu financiamento, e o papel dos programas de incentivo ao seu financiamento e da regulação.

De acordo com os resultados do questionário, cinco bancos consideraram que o segmento das PMEs é grande e com boas perspetivas e apenas um banco referiu que o segmento tem um tamanho médio e as suas perspetivas são relativamente boas.

Entre as razões que os levam a financiar as PMEs, os bancos destacaram como a mais importante a perceção de rentabilidade do segmento. Igualmente, os bancos apresentaram outros motivos para financiarem as PMEs. Com efeito, três bancos reportaram que o financiamento das PMEs faz parte do seu modelo de negócio, dois bancos apresentaram a necessidade de diversificação da carteira de crédito como uma das principais razões para financiarem este segmento e apenas um banco referiu que o financiamento de micro e pequenas empresas faz parte da sua missão.

Tal como nas questões anteriores, os bancos parecem concordar sobre os principais obstáculos ao financiamento das PMEs. Na verdade, os bancos reportaram que os riscos associados às garantias, a falta de uma procura adequada (sobretudo porque as empresas não têm um plano de negócio e estão muito endividadas), o atual contexto macroeconómico e a falta de contabilidade organizada estão no topo da lista de obstáculos ao financiamento das PMEs.

Em relação às políticas ou programas que, se promovidos ou operacionalizados, poderiam ter impacto positivo na concessão de empréstimos às PMEs, os bancos destacaram: os programas de garantia de financiamento, a bonificação de juros e os subsídios regulamentares (por exemplo, provisões mais baixas). No entanto, os bancos percecionam os programas de garantia de financiamento, que procuram prestar garantias financeiras para facilitar a obtenção de crédito em condições adequadas aos investimentos e ciclos de atividade das empresas, como os mais positivos. Este resultado deve ser interpretado com cuidado, uma vez que o facto de os bancos considerarem que os programas de garantia podem ter impacto positivo não garante o sucesso dos mesmos. Com efeito, estes programas poderão beneficiar apenas os atuais clientes dos bancos, através de condições de financiamento mais favoráveis e da solidificação das relações entre os dois. Isto é, as empresas que anteriormente não tinham uma relação com o banco poderão continuar sem acesso a crédito bancário, comprometendo desta forma o objetivo do programa/política.

No que diz respeito à sua política de crédito, todos os bancos consideraram que as exigências de documentação para concessão de empréstimos a PMEs são “adequadas e vantajosas”. Diferentemente,

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metade dos bancos tem a perceção de que a regulação prudencial afeta negativamente o financiamento às PMEs e a outra metade julga não ter consequências.

O acesso à informação histórica dos clientes é considerado de extrema importância por todos os bancos no processo de concessão de empréstimos a PMEs. Em resposta à questão de que se existisse um serviço proporcionado por uma entidade independente (bureau de crédito privado) que analisasse o historial de crédito dos clientes de forma rigorosa o trabalho dos bancos seria facilitado, estes responderam que sim, caso esta entidade fornecesse informações não disponíveis na central de risco de crédito, designadamente as dívidas fiscais dos clientes e as dívidas com a segurança social e os fornecedores.

Por fim, comparativamente a anos anteriores, dois bancos disseram ter a perceção de que o acesso das PMEs ao financiamento bancário tornou-se consideravelmente mais restritivo, dois bancos consideraram que se tornou ligeiramente mais restritivo e outros dois reportaram que se tornou ligeiramente menos restritivo.

5. Modelo de Negócio utilizado pelos Bancos no Financiamento a Pequenas e Médias Empresas

O questionário qualitativo visa também analisar o modelo de negócio utilizado pelos bancos para financiar as PMEs. Para isso, os bancos foram questionados sobre a sua estrutura organizacional, o grau de descentralização e o processo de aprovação de empréstimos.

Segundo os resultados, os bancos não têm uma estrutura organizacional que trate do financiamento a PMEs separadamente. Apenas um banco afirmou ter um gabinete especializado para tratar das suas relações com as médias e grandes empresas, sendo que as suas relações com as micro e pequenas empresas são mantidas ao nível das agências. Note-se, contudo, que a análise dos processos para aprovação dos empréstimos de todas as empresas é feita de forma centralizada. Da mesma forma, nenhum dos bancos tem uma estrutura especializada para venda de outros produtos e serviços financeiros, aprovação de empréstimos, gestão do risco e recuperação de créditos em incumprimento virada para as PMEs.

Relativamente ao processo de aprovação de empréstimos a empresas, a maioria dos bancos não utiliza o método de scoring, apenas dois bancos reportaram que o utilizam como mais um input no processo de decisão.

De um modo geral, os bancos percecionam os critérios de concessão de empréstimos a PMEs como “adequados”, apenas um banco considera-os ligeiramente restritivos em comparação com as grandes empresas. Em termos dos critérios específicos, os bancos destacaram como os mais importantes o tipo

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de garantia, a avaliação financeira do negócio, o histórico de crédito da empresa junto ao banco e à Central de Risco de Crédito e as características do devedor (idade, habilitações literárias, etc.). Ainda, de acordo com os bancos, independentemente da dimensão da empresa, os imóveis, terrenos, ativos líquidos (por exemplo, os depósitos) e garantias pessoais são os tipos de garantia mais aceites na negociação dos empréstimos. Os equipamentos, ações e obrigações são aceites em casos excecionais. Considerando o impacto da finalidade dos empréstimos no processo de aprovação, metade dos bancos vê de forma positiva os pedidos de empréstimos para investimento e financiamento de necessidades correntes, enquanto a outra metade considera que não tem impacto. Os empréstimos para reestruturação da dívida são vistos de forma negativa pela maior parte dos bancos. Por oposição, boa parte dos bancos considera que os pedidos de empréstimos para financiamento de fusões/aquisições e reestruturação empresarial não são visto nem de forma positiva nem negativa.

No que diz respeito à atividade económica, destaca-se que a maior parte dos bancos vê positivamente os pedidos de empréstimos de empresas do sector do Comércio e metade vê de forma positiva pedidos de empresas dos sectores das Indústrias Transformadoras, Eletricidade, Gás, Vapor, Água Quente e Fria e Ar Frio, Atividade de informação e de Comunicação e Saúde Humana e Ação Social. Pelo contrário, a maior parte dos bancos vê de forma negativa os pedidos de empresas do sector das Atividades Imobiliárias e metade vê negativamente os pedidos de empresas do sector da Construção.

Para prevenir situações de incumprimento, os bancos afirmaram que fazem o seguimento diário da carteira de crédito, acompanham de perto a execução dos contratos numa fase inicial e analisam os

relatórios e contas das empresas.1 Na presença do risco de incumprimento os bancos reportaram que

fazem reuniões com os clientes, enviam cartas, fazem contacto telefónico, visitam as empresas, prestam serviços de consultoria e fazem o acompanhamento contínuo do negócio e da situação financeira da empresa.

Em caso de incumprimento os bancos procuram primeiramente soluções alternativas juntamente com os clientes para regularizar a situação (por exemplo, podem conceder mais alguns dias para a empresa efetuar o pagamento da prestação em atraso). A reestruturação da dívida é o segundo procedimento mais utilizado em caso de incumprimento, enquanto a dação em cumprimento e o procedimento judicial são os menos comuns e desejáveis. Ainda, todos os bancos cobram juros de mora e ou outros encargos aplicáveis às empresas em caso de incumprimento.

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6. A Situação do Financiamento Bancário às Pequenas e Médias Empresas

6.1 Caracterização das empresas da carteira de crédito bancário e do tecido empresarial cabo-verdiano

Os dados quantitativos do estudo são de carácter microeconómico e têm por base a informação sobre a carteira total de empréstimos a empresas de seis bancos, reportados através de um questionário, com referência a 30 de Setembro de 2014. Os detalhes destas informações permitem: (1) caracterizar as empresas por localização geográfica, atividade económica, tipo de forma jurídica, tipo de organização de contabilidade e dimensão; (2) caracterizar os empréstimos quanto ao tipo, montante, taxa de juro, comissões, a existência ou não de colateral, situação e maturidade; (3) distinguir entre grandes bancos e restantes bancos; (4) comparar a amostra com a realidade nacional.

De uma amostra inicialmente apurada de 1954 empresas, após o cruzamento dessas informações com a base de dados das empresas do Instituto Nacional de Estatística, a amostra passou a ser constituída por

1023 empresas, correspondentes a 1923 empréstimos. 23

Nos pontos que se seguem, apresenta-se a estrutura da amostra, a partir da caracterização das empresas e dos empréstimos, tal como referido acima. De salientar que com base na amostra da carteira de crédito a empresas dos bancos não é possível tirar conclusões sobre o nível de inclusão financeira das PMEs com base na proporção dessas empresas que usam serviços financeiros (o conceito genérico de inclusão financeira apresentado no capítulo sobre a problemática da inclusão financeira), na medida em que não existe uma base de comparabilidade comum entre a amostra e os dados oficiais nacionais sobre as empresas. Por um lado, o Inquérito Anual às Empresas de 2013 (IAE 2013, referência da realidade nacional utilizada neste estudo), do Instituto Nacional de Estatística, não é trabalhado na lógica da dimensão das empresas. Por outro lado, no IAE 2013 os empresários em nome individual (ENI) e as sociedades unipessoais por quota estão agrupados (representam 74,6 por cento do total das empresas ativas a nível nacional). A amostra usada neste estudo, contudo, apenas inclui as sociedades unipessoais por quota (com um peso de 27 por cento), uma vez que os empresários em nome individual estão incluídos na carteira de crédito a particulares dos bancos. Apesar destas limitações, far-se-á um esforço para analisar a inclusão financeira das PMEs à luz de inferências que serão feitas a partir da análise das condições de financiamento das mesmas.

2 A amostra original incluía mais de 1954 empresas. Foi feito um trabalho de limpeza no sentido de retirar da amostra as empresas públicas, empresas com empréstimos inferiores a 5.000$00 (cinco mil escudos), empresas apenas com garantias bancárias e empresas que não constavam da base de dados do INE. Refira-se ainda que da amostra inicial foram excluídos empréstimos à Administração Local e Central, a Igrejas e associações.

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Por localização geográfica

No que respeita à localização geográfica, os dados disponíveis

revelam uma elevada

concentração das sedes sociais das empresas nas ilhas com maiores centros urbanos, com destaque para as ilhas de Santiago, que reúne 48,2 por cento das sedes, e São Vicente, com 25,5 por cento. O Sal (13,5 por

cento) e a Boavista (4,3 por cento) surgem como a terceira e quarta ilha mais importante, respetivamente. Santo Antão aparece como a quinta ilha mais importante (4,1 por cento), mas a nível nacional é a quarta ilha com mais empresas registadas A Brava surge em último lugar, com 0,1 por cento, e está representada apenas nos grandes bancos. Refira-se que a fraca representatividade desta ilha na amostra, bem como das ilhas do Fogo e Santo Antão, comparativamente ao IAE 2013, poderá estar relacionada com o facto de na amostra não estarem incluídos os empresários em nome individual. A nível nacional a concentração geográfica tem-se mantido relativamente inalterada há mais de uma década, evidenciando o seu carácter estrutural. Efetivamente, de acordo com os dados do II Recenseamento Empresarial realizado em 2002, as sedes das empresas concentravam-se nas ilhas de Santiago, São Vicente, Santo Antão e Sal, com 82,5 por cento do total. Ainda, a nível nacional, a importância das ilhas de Santigo e São Vicente torna-se mais evidente se se tiver em consideração que as empresas registadas nestas ilhas correspondiam, em 2013, a 70,6 e 75,4 por cento do número de pessoas ao serviço e do volume de negócios, respetivamente.

Por atividade económica

A desagregação das empresas por atividade económica destaca três sectores, nomeadamente Comércio, Indústrias Transformadoras e Atividades Administrativas e dos Serviços de Apoio. O sector do Comércio é o mais representativo na amostra, englobando 33,7 por cento das empresas, sendo que 74,2 por cento das empresas que operam neste sector de atividade estão registadas nas ilhas de Santiago e São Vicente. O sector das Indústrias Transformadoras representa 10,1 por cento do total de empresas, sendo que 86,4 por cento das empresas que operam neste sector estão sediadas nas ilhas de Santiago e São Vicente.AsAtividades Administrativas e dos Serviços de Apoio apresentam-se como o terceiro principal sector ao nível do número de empresas, com 9,9 por cento, sendo que estas empresas encontram-se distribuídas pelas ilhas de Santiago (53,5 por cento), São Vicente (16,8 por cento) e Sal (15,8 por cento).

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Amostra Grandes Bancos Restantes Bancos IAE 2013

E m p er ce nt ag em

Gráfico 6.1 - Caracterização das sedes sociais das empresas por localização geográfica

São Vicente São Nicolau Santo Antão Santiago Sal Maio Fogo Brava Boavista

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Note-se que a nível nacional a estrutura de distribuição das empresas por sector de atividade económica tem-se mantido praticamente inalterada há mais de uma década. Em 2002, os sectores do Comércio, Alojamento e Restauração e Indústrias Transformadoras representavam, respetivamente, 62,3, 16,1 e 8,6 por cento do tecido empresarial cabo-verdiano. No que diz respeito ao número de pessoas ao serviço e ao volume de negócios, em 2013, estes três sectores eram também os três principais, representando conjuntamente 55,2 e 58,2 por cento do total de pessoas ao serviço e do volume de negócios.

Por tipo de forma jurídica

Considerando a desagregação por tipo de forma jurídica, 61,5 por cento das empresas da amostra encontram-se constituídas como sociedades por quotas, 27 por cento como sociedades unipessoais por quotas e somente 11,5 por cento como sociedades

anónimas e outras sociedades. 0

10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Amostra Grandes Bancos Restantes Bancos IAE 2013

E m p er ce nt ag em

Gráfico 6.2 - Caracterização das empresas por tipo de forma jurídica

Sociedade Unipessoal por Quota / ENI

Sociedade por Quota

Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada e Outras

Secção da CAE Amostra Grandes Bancos Restantes Bancos IAE 2013

A Agricultura, Produção Animal, Caça, Floresta e Pesca 0.6 0.6 0.5 0.3

B Industrias Extrativas 0.2 0.2 0.0 0.1

C Indústrias Transformadoras 10.1 9.7 11.4 10.2

D Electricidade, Gás, Vapor, Água Quente e Fria e Ar Frio 0.0 0.0 0.0 0.1

E Captação, Tratamento e Distribuição de Água; Saneamento, Gestão de Resíduos e Despoluição 0.4 0.5 0.0 0.2

F Construção 8.1 8.6 6.2 2.9

G Comércio por Grosso e a Retalho; Reparação de Veículos, Automóveis e Motociclos 33.7 32.7 37.6 47.3

H Transporte e Armazenagem 2.6 3.0 1.4 1.3

I Alojamento e Restauração (Restaurante e Similares) 8.4 7.5 11.9 14.7

J Atividade de Informação e de Comunicação 2.3 2.3 2.4 2.1

K Atividades Financeiras e de Seguros 0.6 0.7 0.0 0.4

L Atividades Imobiliárias 4.5 4.3 5.2 2.7

M Atividades de Consultoria, Científicas, Técnicas e Similares 7.6 8.1 5.7 4.6

N Atividades Administrativas e dos Serviços de Apoio 9.9 9.3 11.9 2.7

P Educação 2.2 2.2 1.9 1.6

Q Saúde Humana e Acção Social 5.9 6.8 2.4 1.4

R Atividades Artísticas, de Espectáculos e Recreativas 1.4 1.4 1.4 0.9

S Outras Atividades de Serviços 1.6 2.0 0.0 6.3

em percentagem Tabela 6.1 - Caracterização das empresas por atividade económica

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No entanto, a nível nacional, em 2013, 74,6 por cento das empresas encontravam-se constituídas como sociedades unipessoais por quotas/empresário em nome individual e 21,2 por cento como sociedades por quotas, representando, respetivamente, 8,8 e 27,8 por cento do volume de negócios total. Por oposição, as sociedades anónimas e outras sociedades, que englobavam apenas 4,2 por cento das empresas, representavam 63,4 por cento do total do volume de negócios. Ainda, as sociedades por quotas apresentavam uma afetação do total de pessoas ao serviço maior, com 37,7 por cento, enquanto as sociedades unipessoais por quotas/empresário em nome individual e as sociedades anónimas e outras sociedades apresentavam uma afetação de 30,1 e 32,2 por cento respetivamente.

Por tipo de organização de contabilidade

Relativamente à desagregação por tipo de organização de contabilidade, 92,5 por cento das empresas da amostra apresentam contabilidade organizada.

A nível nacional, contudo, o número de empresas com contabilidade organizada era menor em 2013, 65,5 por cento. De notar também que as

empresas com contabilidade organizada representavam 78,2 e 96,4 por cento do total de pessoal ao serviço e do volume de negócios, respetivamente.

As diferenças entre a amostra e o IAE 2013 poderão também estar, em grande medida, relacionadas com o facto de a amostra não incluir os empresários em nome individual.

Por dimensão

Atendendo ao objetivo do estudo, apresenta-se aqui uma análise mais detalhada sobre as principais características das empresas tendo em conta a sua dimensão. Desta forma, na amostra, 52,5 por cento das empresas são microempresas, 41,2 por cento pequenas e médias empresas e apenas 6,4 por cento grandes empresas. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Amostra Grandes Bancos Restantes Bancos IAE 2013

E m p er ce nt ag em

Gráfico 6.3 - Caracterização das empresas por tipo de contabilidade

Sem Contabilidade Organizada Com Contabilidade Organizada 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Amostra Grandes Bancos Restantes Bancos

E m p er ce nt ag em

Gráfico 6.4 - Caracterização das empresas por dimensão

Micro Empresa Pequena Empresa Média Empresa Grande Empresa

(15)

15

Em relação à localização

geográfica, as sedes sociais das empresas de todas as dimensões

apresentam uma elevada

concentração nas ilhas de Santiago, São Vicente e Sal. Note-se que não há nenhuma grande empresa registada nas ilhas de São Nicolau, Maio, Fogo e Brava.

Quanto à atividade económica, salienta-se que o sector do Comércio é o mais representativo no total de micro, pequenas e médias empresas. No caso das grandes empresas, o sector de Alojamento e Restauração apresenta-se como o mais importante. Note-se também que, conjuntamente, os sectores da Construção e Atividades Imobiliárias surgem entre os três principais sectores ao nível das micro, médias e grandes empresas. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Micro Empresa Pequena Empresa Média Empresa Grande Empresa

E m p er ce nt ag em

Gráfico 6.5 - Caracterização das sedes sociais das empresas por dimensão e localização geográfica São Vicente São Nicolau Santo Antão Santiago Sal Maio Fogo Brava Boavista

Secção da CAE EmpresaMicro Pequena Empresa EmpresaMédia EmpresaGrande

A Agricultura, Produção Animal, Caça, Floresta e Pesca 0.6 1.1 0.4 0.0

B Industrias Extrativas 0.0 1.1 0.0 0.0

C Indústrias Transformadoras 5.2 11.4 19.5 12.3

E Captação, Tratamento e Distribuição de Água; Saneamento, Gestão de Resíduos e Despoluição 0.2 0.5 0.4 1.5

F Construção 8.0 3.2 10.6 13.8

G Comércio por Grosso e a Retalho; Reparação de Veículos, Automóveis e Motociclos 36.1 37.8 29.2 18.5

H Transporte e Armazenagem 1.1 2.7 5.5 4.6

I Alojamento e Restauração (Restaurante e Similares) 4.8 10.8 11.0 21.5

J Atividade de Informação e de Comunicação 1.5 1.6 4.2 4.6

K Atividades Financeiras e de Seguros 0.4 0.0 0.8 3.1

L Atividades Imobiliárias 6.5 1.6 2.1 4.6

M Atividades de Consultoria, Científicas, Técnicas e Similares 10.8 5.4 3.8 1.5

N Atividades Administrativas e dos Serviços de Apoio 10.2 13.0 6.8 9.2

P Educação 2.4 2.7 0.8 3.1

Q Saúde Humana e Acção Social 8.6 3.8 3.0 0.0

R Atividades Artísticas, de Espectáculos e Recreativas 1.3 1.6 1.3 1.5

S Outras Atividades de Serviços 2.2 1.6 0.4 0.0

Tabela 6.2 - Caracterização das empresas por dimensão e atividade económica

(16)

16 No que respeita à desagregação por

forma jurídica, pelo menos 60 por cento das micro, pequenas e médias empresas encontram-se constituídas como sociedades por quotas. Por sua vez, as sociedades anónimas e outras sociedades são as mais representativas, com 56,9 por cento, no caso das grandes empresas. Ainda, as sociedades

unipessoais por quotas representam, respetivamente, 33,7, 22,7 e 22 por cento do total das micro, pequenas e médias empresas.

Considerando a desagregação por tipo de organização de contabilidade, pelo menos 90 por cento das empresas de todas as dimensões têm contabilidade organizada. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Micro Empresa Pequena Empresa Média Empresa Grande Empresa

E m p er ce nt ag em

Gráfico 6.6 - Caracterização das empresas por dimensão e tipo de forma jurídica

Sociedade Unipessoal por Quota

Sociedade por Quota

Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada e Outras 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Micro Empresa Pequena Empresa Média Empresa Grande Empresa

E m p er ce nt ag em

Gráfico 6.7 - Caracterização das empresas por dimensão e tipo de contabilidade

Sem Contabilidade Organizada

Com Contabilidade Organizada

(17)

17 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Amostra Grandes Bancos Restantes Bancos

E m p er ce nt ag em d o m on ta nt e to ta l d e em pr és tim os

Gráfico 6.9 - Finalidade dos empréstimos - Montante total de empréstimos

Financiar o investimento Financiar necessidades de fundo de maneio/necessidades correntes Financiar a reestruturação da dívida Financiar fusões/aquisições e reestruturação empresarial Outros

Descoberto em DO Cartão de Crédito 6.2 Principais Características dos Empréstimos às Empresas

Nesta secção pretende-se analisar a extensão, o preço e o tipo de financiamento bancário às empresas. A análise é feita a partir de variáveis como finalidade do empréstimo, montante, taxa de juro, comissões, existência ou não de colateral, situação do empréstimo e maturidade. Ainda, sempre que possível, é feita a comparação das condições dos empréstimos entre grandes bancos e restantes bancos e entre empresas de diferentes dimensões.

Finalidade e montante dos empréstimos

Comparando os grandes bancos com os restantes bancos, observa-se que, em ambos os casos, os empréstimos para financiar o investimento são os mais representativos, com pesos superiores a 40 por cento em termos de número de empréstimos e superiores as 60 por cento em termos de montante de

empréstimos concedidos. Os

empréstimos para financiar necessidades de correntes surgem em segundo lugar, tanto no caso dos grandes bancos como no caso dos restantes bancos, com valores superiores a 20 por cento do número e volume de empréstimos. Estes resultados estão em linha com o esperado uma vez que os empréstimos para investimento visam financiar as

necessidades de longo prazo das empresas (por exemplo, imobilizado), que exigem, portanto, maior capital e maturidade.

Considerando as empresas por dimensão, nota-se que as microempresas em quase todas as finalidades de empréstimo apresentam um peso superior às outras no que diz respeito ao número de empréstimos obtidos. No entanto, olhando para o montante dos empréstimos verifica-se que os bancos estão mais expostos às médias e grandes empresas, estas representam, respetivamente, 41,8 e 31,7 por cento do montante total de empréstimos concedidos.

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Amostra Grandes Bancos Restantes Bancos

E m p er ce nt ag em d o nú m er o de e m pr és tim os

Gráfico 6.8 - Finalidade dos empréstimos

Financiar o investimento Financiar necessidades de fundo de maneio/necessidades correntes Financiar a reestruturação da dívida Financiar fusões/aquisições e reestruturação empresarial Outros

Descoberto em DO Cartão de Crédito

(18)

18

Esta situação estará, em parte, relacionada com o facto de que quanto maior for a empresa maiores serão as necessidades de financiamento de curto e longo prazo e maior será a capacidade de reembolso da dívida.

Quanto à desagregação do montante de empréstimos concedidos por sector de atividade económica (Anexos-Tabela A), destacam-se na amostra os três principais sectores: Comércio (25,8 por cento),

Atividades Imobiliárias (17,2 por cento) e Construção (14,3 por cento).4

Taxas de juro e Comissões

As taxas de juro são uma medida do custo de financiamento e por isso podem representar um

obstáculo ao acesso a

financiamento por parte das empresas. Os resultados reportados no gráfico mostram que para as finalidades de empréstimos mais importantes os grandes bancos praticam taxas de juro mais

elevadas quando comparados com os restantes bancos. Isto poderá estar relacionado com facto de

4 A desagregação do montante de empréstimos concedidos por atividade económica e dimensão das empresas é apresentada na Tabela B dos Anexos.

Finalidade do Empréstimo Micro Empresa Pequena Empresa Média Empresa Grande Empresa

Financiar o investimento 41.6 17.2 29.1 12.0

Financiar necessidades de fundo de maneio/necessidades correntes

36.7 20.6 31.4 11.2

Financiar fusões/aquisições e reestruturação empresarial 25.0 25.0 50.0 0.0

Financiar a reestruturação da dívida 22.2 11.1 44.4 22.2

Outros 46.7 23.1 23.7 6.5

Descoberto em DO 44.6 20.6 26.7 8.1

Cartão Crédito 47.8 13.4 26.9 11.9

Financiar o investimento 20.7 8.2 36.9 34.2

Financiar necessidades de fundo de maneio/necessidades correntes

9.4 7.9 52.1 30.6

Financiar fusões/aquisições e reestruturação empresarial 1.1 5.9 93.1 0.0

Financiar a reestruturação da dívida 4.4 2.2 17.2 76.3

Outros 21.4 26.6 30.0 22.0

Descoberto em DO 9.3 23.8 54.2 12.6

Cartão Crédito 68.5 2.4 20.2 8.9

Tabela 6.3 - Finalidade dos empréstimos por dimensão das empresas

em percentagem do número de empréstimos

em percentagem do montante total de empréstimos

0 5 10 15 20 25

Cartão Crédito Descoberto em DO Outros Financiar fusões/aquisições e reestruturação

empresarial

Financiar a reestruturação da dívida Financiar necessidades de fundo de

maneio/necessidades correntes Financiar o investimento

Em percentagem

Gráfico 6.10 - Média das taxas de juro por finalidade dos empréstimos e dimensão dos bancos

Grandes Bancos Restantes Bancos Amostra

(19)

19

bancos mais pequenos poderem ter uma maior necessidade de assumir uma atitude mais agressiva no mercado de crédito (por exemplo, através da oferta de taxas de juro mais baixas), para atrair desta forma mais clientes, e de bancos maiores poderem apresentar estruturas de custos mais elevadas, com a perceção de risco dos bancos, ou ainda com as próprias opções de política de crédito dos bancos. Separando as empresas por dimensão, é de se salientar que as taxas de juro de empréstimos para financiar o investimento e as necessidades correntes apresentam o mesmo padrão, isto é, quanto maior a empresa menor a taxa de juro. Neste caso, pode-se dizer que a dimensão da empresa é considerada um indicador de risco de crédito da empresa, uma vez que quanto menor a empresa menor a probabilidade de sobrevivência e maior o risco de incumprimento, e a taxa de juro funciona como uma medida de restrição do acesso a financiamento e de redução dos riscos por parte dos bancos. Para o caso dos Outros empréstimos, que é o terceiro principal empréstimo em termos de volume de crédito concedido, note-se que esse padrão é quebrado pelas pequenas empresas que apresentam uma taxa de juro inferior às médias empresas. Ainda, nos empréstimos para financiar fusões/aquisições e reestruturação empresarial, os bancos parecem ser mais benevolentes com as microempresas. As empresas de menores dimensões poderão estar a ser mais estimuladas a se tornarem maiores ou a se reestruturarem, através de uma taxa de juro mais baixa. Esta poderá ser uma medida de redução dos riscos por parte dos bancos, uma vez que empresas de maiores dimensões, por terem uma estrutura financeira maior, geralmente, apresentam menores riscos.

Finalidade do Empréstimo EmpresaMicro Pequena Empresa EmpresaMédia EmpresaGrande

Financiar o investimento 10.5 10.4 9.9 9.1

Financiar necessidades de fundo de maneio/necessidades correntes 11.8 11.6 11.2 10.0

Financiar fusões/aquisições e reestruturação empresarial 9.8 10.1 9.9

-Financiar a reestruturação da dívida 9.5 11.0 10.5 10.1

Outros 10.9 10.5 10.8 9.2

Descoberto em DO 19.5 18.7 19.7 20.7

Cartão Crédito 19.3 19.7 19.8 19.8

em percentagem Tabela 6.4 - Média das taxas de juro por finalidade dos empréstimos e dimensão das empresas

(20)

20 As comissões bancárias cobradas

pelos bancos, que correspondem aos serviços prestados ao cliente, representam também um custo de financiamento. No gráfico as comissões são calculadas em percentagem do montante de empréstimo concedido. Para o caso dos dois tipos de empréstimos mais representativos as comissões

diminuem à medida que aumenta a dimensão da empresa. Com efeito, para os empréstimos ao investimento, as comissões são em média 1,47 por cento no caso das microempresas e 1,36 por cento para as grandes empresas. Este resultado poderá estar relacionado com o facto do volume de empréstimo contraído pelas grandes empresas ser mais elevado e, por isso, a base de incidência das comissões ser maior.

Garantia/Colateral

A existência ou não de colateral como garantia na concessão de empréstimos é muito importante tanto para as empresas como para os bancos. As empresas com maior capacidade de reembolso da dívida e com maior disponibilidade para apresentar colateral como garantia na negociação de um empréstimo têm acesso a mais crédito e em melhores condições. No caso dos bancos, a possibilidade de utilizar colateral em caso de insolvência das empresas diminui as suas perdas.

Com efeito, é possível observar na tabela abaixo que nos empréstimos para investimento às micro, pequenas e médias empresas os imóveis são o tipo de colateral mais importante para os bancos, com peso superior a 40 por cento. As outras hipotecas, no entanto, são o tipo de garantia mais utilizado nos empréstimos para investimento das grandes empresas, com 40,4 por cento. Uma explicação possível para este resultado seria o facto de as grandes empresas terem maior capacidade de apresentar outros colaterais, que não os imóveis, como garantia na concessão de empréstimos.

Nos empréstimos para financiar necessidades correntes, as outras cauções são o tipo de garantia mais representativo para as micro e grandes empresas, com peso superior a 40 por cento. Para as médias empresas as hipotecas continuam a ser, embora em menor grau, o tipo de garantia mais importante, com 33,8 por cento. No caso das pequenas empresas as outras hipotecas surgem a par com as outras cauções, representando cada uma 35,2 por cento do total das garantias.

0 2 4 6 8 10 Outros Financiar a reestruturação da dívida Financiar fusões/aquisições e reestruturação empresarial Financiar necessidades de fundo de maneio/necessidades correntes Financiar o investimento

Em percentagem do monatnte total do empréstimo

Gráfico 6.11 - Comissões dos empréstimos por finalidade e dimensão das empresas

Grande Empresa Média Empresa Pequena Empresa Micro Empresa

(21)

21

Nas outras finalidades de empréstimo, outros tipos de garantia, especialmente as garantias pessoais e os depósitos, ganham relativamente maior peso no total das garantias. Note-se ainda que, na maior parte dos casos, os descobertos em depósitos à ordem e os cartões de crédito não são cobertos por garantias Uma explicação relacionada seria o facto de a necessidade de existência de colateral e o valor do colateral depender do montante de empréstimo obtido.

Finalidade do Empréstimo Tipo de Garantia Micro Empresa

Pequena Empresa

Média

Empresa Grande Empresa

Caucionado por Depósitos, etc. 6.9 8.1 8.3 0.0

Garantia da Administração Central 0.0 0.0 0.4 0.0

Garantia de Outras Entidades 0.6 0.0 1.2 0.0

Garantias Pessoais 3.6 3.4 5.6 2.9

Hipoteca sobre Imóveis 42.2 44.3 42.5 26.9

Outras 2.2 2.0 1.2 3.8

Outras Cauções 22.8 17.4 15.1 24.0

Outras Hipotecas 18.3 23.5 24.2 40.4

Penhor 3.1 1.3 1.6 1.9

Sem Garantia 0.3 0.0 0.0 0.0

Caucionado por Depósitos, etc. 8.6 10.5 7.5 3.5

Garantia de Outras Entidades 1.1 1.9 1.3 0.0

Garantia de Outras Instituições de Crédito 0.0 0.0 0.6 0.0

Garantias Pessoais 10.2 7.6 6.9 12.3

Hipoteca sobre Imóveis 25.1 35.2 33.8 24.6

Outras Cauções 46.5 35.2 30.6 40.4

Outras Hipotecas 5.9 8.6 16.9 17.5

Penhor 2.7 1.0 2.5 1.8

Caucionado por Depósitos, etc. 50.0 0.0 0.0

-Garantias Pessoais 50.0 0.0 50.0

-Hipoteca sobre Imóveis 0.0 100.0 25.0

-Outras Hipotecas 0.0 0.0 25.0

-Caucionado por Depósitos, etc. 0.0 0.0 25.0 0.0

Garantias Pessoais 100.0 100.0 50.0 50.0

Hipoteca sobre Imóveis 0.0 0.0 0.0 50.0

Outras Cauções 0.0 0.0 25.0 0.0

Caucionado por Depósitos, etc. 8.9 17.9 2.5 18.2

Garantia de outras Instituições de Crédito 1.3 0.0 0.0 0.0

Garantias Pessoais 2.5 7.7 0.0 0.0

Hipoteca sobre Imóveis 39.2 28.2 30.0 18.2

Outras Cauções 27.8 15.4 35.0 27.3

Outras Hipotecas 16.5 23.1 32.5 27.3

Penhor 3.8 7.7 0.0 9.1

Garantias Pessoais 3.8 0.0 0.0 0.0

Sem Garantia 96.2 100.0 100.0 100.0

Cartão Crédito Sem Garantia 100.0 100.0 100.0 100.0

Descoberto em DO

Tabela 6.5 - Tipo de garantia por finalidade dos empréstimos e dimensão das empresas

Financiar o investimento

Outros

em percentagem

Financiar a reestruturação da dívida Financiar fusões/aquisições e reestruturação empresarial

Financiar necessidades de fundo de maneio/necessidades correntes

(22)

22

Situação do empréstimo

O aumento de empréstimos em incumprimento representa uma deterioração da qualidade da

carteira de créditos e,

consequentemente, da saúde financeira dos bancos. No Gráfico 6.12 observa-se que cerca de 21 por cento dos empréstimos na

amostra estão em

incumprimento. Em termos de montantes, os empréstimos em incumprimento representam 30,2 por cento do montante total de empréstimos em dívida.

Relativamente aos empréstimos em situação regular, nos grandes bancos 7,2 por cento destes são

empréstimos reestruturados,

enquanto nos restantes bancos 3,2 por cento dos empréstimos

em situação regular são

empréstimos reestruturados.

Nota-se no Gráfico 6.13 que para quase todas as finalidades de empréstimo as médias empresas são as que apresentam maior percentagem de empréstimos reestruturados, com 10,8 por cento do total de empréstimos. Comparando as empresas por dimensão e tendo em conta o montante total de empréstimos

ainda em dívida, as

microempresas apresentam maior percentagem de empréstimos em incumprimento, 25,1 por cento do

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Amostra Grandes Bancos Restantes Bancos

E m p er ce nt ag em

Gráfico 6.12 - Situação dos empréstimos por dimensão dos bancos

Regular Em Atraso Contencioso 0 20 40 60 80 100 Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim C ar tã o C ré di to D es co be rto em D O O ut ro s Fi na nc ia r a re es tru tu ra çã o da d ív id a Fi na nc ia r fu sõ es /a qu is iç õe s e re es tru tu ra çã o em pr es ar ia l Fi na nc ia r ne ce ss id ad es de fu nd o de m an ei o/ ne ce s si da de s co rre nt es Fi na nc ia r o in ve st im en to Em percentagem

Gráfico 6.13 - Crédito Reestruturado por finalidade dos empréstimos e dimensão das empresas

Grande Empresa Média Empresa Pequena Empresa Micro Empresa 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Micro Empresa Pequena Empresa Média Empresa Grande Empresa

E m p er ce nt ag em d o m on ta nt e to ta l d o em pr és tim o e m dí vi da

Gráfico 6.14 - Situação dos empréstimos em percentagem do montante total em dívida

Regular

Em Atraso

(23)

23

montante total em dívida de empréstimos às microempresas. Esta percentagem diminui com o aumento da dimensão das empresas, representando nas grandes empresas 12,1 por cento do montante total em dívida de empréstimos às grandes empresas. No entanto, analisando o montante total em dívida de empréstimos em incumprimento na amostra, as médias empresas representam a maior percentagem, com 58,4 por cento. As micro, pequenas e grandes empresas representam, respetivamente, 18,7, 10,6 e 12,2 por cento do montante total em dívida de empréstimos em incumprimento na amostra.

Os resultados apresentados na Tabela 6.6 indicam que nos empréstimos para investimento a percentagem de empréstimos em incumprimento diminui à medida que aumenta a dimensão das empresas. Na verdade, o risco de incumprimento das empresas de menor dimensão é maior do que o das empresas de maior dimensão, uma vez que as últimas podem apresentar maior capacidade de gerar rendimentos para saldar a dívida. No caso dos empréstimos para financiar as necessidades correntes e dos outros empréstimos este padrão é quebrado pelas pequenas empresas que apresentam uma percentagem de empréstimos em incumprimento menor que as médias empresas.

Finalidade do Empréstimo Situação do Empréstimo EmpresaMicro Pequena Empresa EmpresaMédia EmpresaGrande

Contencioso 1.7 0.7 0.8 3.8 Em Atraso 25.0 18.8 13.9 10.6 Regular 73.3 80.5 85.3 85.6 Contencioso 2.7 3.8 4.4 0.0 Em Atraso 25.7 15.2 21.3 14.0 Regular 71.7 81.0 74.4 86.0 Contencioso 0.0 0.0 25.0 0.0 Em Atraso 50.0 50.0 25.0 0.0 Regular 50.0 50.0 50.0 0.0 Contencioso 0.0 100.0 0.0 0.0 Em Atraso 0.0 0.0 25.0 0.0 Regular 100.0 0.0 75.0 100.0 Em Atraso 24.1 15.4 22.5 0.0 Regular 75.9 84.6 77.5 100.0 Contencioso 3.0 0.0 3.8 0.0 Em Atraso 18.9 23.0 12.7 8.3 Regular 78.0 77.0 83.5 91.7 Em Atraso 3.1 0.0 0.0 0.0 Regular 96.9 100.0 100.0 100.0 Cartão Crédito

Tabela 6.6 - Situação dos empréstimos por finalidade e dimensão das empresas

Outros

em percentagem Financiar o investimento

Descoberto em DO

Financiar a reestruturação da dívida

Financiar fusões/aquisições e reestruturação empresarial Financiar necessidades de fundo de maneio/necessidades correntes

(24)

24

A Tabela E dos Anexos apresenta a situação dos empréstimos por sector de atividade económica. De acordo com os resultados, os sectores com maior número de empréstimos em incumprimento são: (1) Construção (35,7 por cento), Atividades Imobiliárias (35,2 por cento) e Agricultura (33,3 por cento), no caso das microempresas; (2) Atividades Imobiliárias (77,8 por cento), Agricultura (33,3 por cento) e Atividades de Informação e Comunicação (33,3 por cento), para o caso das pequenas empresas; (3) Atividades Imobiliárias (57,9 por cento), Atividades de Informação e Comunicação (41,7 por cento) e Construção (30,8 por cento), para as médias empresas; (4) Transporte e Armazenagem (42,9 por cento), Educação (25 por cento) e Alojamento e Restauração (24 por cento), no caso das grandes empresas. Considerando que os sectores das Atividades Imobiliárias e da Construção conjuntamente representam 31,5 por cento do montante total de empréstimos concedidos, isto é, que existe uma elevada exposição dos bancos a estes sectores, o seu elevado nível de incumprimento constitui risco importante.

A Tabela F dos Anexos apresenta a situação dos empréstimos por localização geográfica. Segundo os resultados, entre as ilhas com maior número de empréstimos em incumprimento destacam-se: Fogo (37,5 por cento), Maio (29,4 por cento) e Sal (25,6 por cento).

Por fim, analisando o grau de

concentração a nível dos

devedores, verifica-se que 46,2 por cento das grandes empresas contraíram empréstimos em mais de um banco. Este nível diminui à medida que diminui a dimensão das empresas, sendo que no caso das microempresas apenas 9,7 por

cento destas contraíram

empréstimos em mais de um banco. Assim, tendo em conta que as médias e grandes empresas representam 73,5 por cento do montante total de empréstimos concedidos, a falta de diversificação, isto é, a concentração do volume de empréstimos num pequeno número de devedores pode levar a uma significativa deterioração da qualidade da carteira de crédito dos bancos.5

5 As micro, pequenas, médias e grandes empresas representam, respetivamente, 17,3, 9,2, 41,8 e 31,7 por cento do montante total de empréstimos concedidos.

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Micro Empresa Pequena Empresa Média Empresa Grande Empresa

E m p er ce nt ag em

Gráfico 6.15- Percentagem de empresas com empréstimos em vários bancos

Três ou Mais Bancos Dois Bancos Um Banco

(25)

25

Maturidade

No que diz respeito à maturidade, nota-se que, tal como o esperado, os empréstimos para investimento apresentam uma maturidade maior uma vez que se destinam a financiar necessidades de longo prazo das empresas e, por isso, os seus montantes são mais elevados. Os empréstimos para financiar necessidades correntes e os outros empréstimos têm uma maturidade menor na medida em que, geralmente, destinam-se a necessidades de financiamento de curto e médio prazo das empresas. Os restantes empréstimos destinam-se a financiar situações específicas e, assim sendo, a sua maturidade depende do montante concedido.

Finalidade do Empréstimo Micro

Empresa Pequena Empresa Média Empresa Grande Empresa Financiar o investimento 7.2 7.0 7.9 8.0

Financiar necessidades de fundo de maneio/necessidades correntes 2.0 1.7 2.3 2.7

Financiar fusões/aquisições e reestruturação empresarial 3.8 6.0 8.1

-Financiar a reestruturação da dívida 3.5 5.0 4.7 4.0

Outros 3.8 5.5 4.0 3.0

Tabela 6.7 - Maturidade dos empréstimos por finalidade e dimensão das empresas

(26)

26

7. Conclusões

A teoria económica sugere que a melhoria do acesso ao financiamento pode ter impacto positivo no alívio da pobreza e no desenvolvimento inclusivo e sustentável. De facto, a melhoria do acesso pode, através da redução dos constrangimentos ao financiamento, impulsionar atividades empreendedoras, fazendo assim com que empresas de pequena dimensão, mas com boas oportunidades de crescimento, possam ir para além da subsistência.

Sendo a alocação de recursos para atividades produtivas uma das principais funções dos sistemas financeiros, o objetivo deste estudo era inicialmente identificar o nível de inclusão financeira das pequenas e médias empresas (PMEs) em Cabo Verde, com base na análise da carteira de crédito a empresas dos bancos. Contudo, como foi explicado anteriormente, a análise da carteira de crédito a empresas apenas assente nas condições de financiamento das mesmas não permite tirar conclusões claras sobre o nível de inclusão financeira das PMEs, uma vez que faltaria analisar a questão da proporção de empresas desta dimensão com acesso ao financiamento bancário.

Assim sendo, os resultados obtidos indicam que as PMEs representam 41,2 por cento do total de empresas da carteira de crédito dos bancos e 51 por cento do montante total de empréstimos concedidos a empresas. Analisando as condições de financiamento das PMEs, nomeadamente taxas de juro e comissões, conclui-se que a estas empresas são aplicadas condições mais favoráveis que às microempresas, mas menos favoráveis que às grandes empresas. De salientar que as hipotecas sobre imóveis são o tipo de garantia mais utilizado nos empréstimos a PMEs. No que diz respeito à situação dos empréstimos, as pequenas e médias empresas representam, respetivamente, 10,6 e 58,4 por cento do montante em dívida de empréstimos em incumprimento.

De acordo com os resultados qualitativos, de um modo geral, os bancos financiam as PMEs porque têm a perceção de que este segmento é grande, com boas perspetivas e rentável. Os bancos não dispõem de uma estrutura organizacional que lhes permita tratar do financiamento a PMEs de forma separada ou de uma estrutura especializada para venda de outros produtos e serviços financeiros, aprovação de empréstimos, gestão do risco e recuperação de créditos em incumprimento virada para as PMEs. Ainda, os bancos parecem concordar que sobre os principais obstáculos ao financiamento das PMEs, nomeadamente os riscos associados às garantias, a falta de uma procura adequada, o atual contexto macroeconómico e a falta de contabilidade organizada, e percecionam os programas de garantia de financiamento como os mais positivos. Desta forma, as evidências sugerem que as condições do financiamento bancário às PMEs estão mais relacionadas com o panorama nacional do mercado de crédito do que com a dimensão das empresas por si só.

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De futuro, seria interessante analisar as informações sobre o financiamento a PMEs também do lado da procura, para que se possam identificar outros constrangimentos e adotar medidas de política mais adequadas e eficientes.

Por fim, poderá ser útil a análise dos mercados de capitais, na medida em que poderão ser uma potencial fonte de financiamento para algumas PMEs.

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Referências

Beck, T., A. Demirguç-Kunt e M. Pería (2008), “Bank Financing for SMEs around the World: Drivers, Obstacles, Business Models and Lending Practices”, World Bank, Policy Research Working Paper no 4785, Washington DC.

Instituto Nacional de Estatística (2014), “Estatísticas de Empresas: Inquérito Anual às Empresas 2013”, Cabo Verde.

Schwab, Klaus (2015), “The Global Competitiveness Report 2015-2016”, World Economic Forum, Geneva.

Stiglitz, Joseph, e Andrew Weiss (1981), “Credit Rationing in Markets with Imperfect Information”, American Economic Review 71 (3): 393-410.

World Bank (2014), “Global Financial Development Report 2014: Financial Inclusion”, Washington DC: World Bank.

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Anexos

Secção da CAE Amostra Grandes Bancos Restantes Bancos

A Agricultura, Produção Animal, Caça, Floresta e Pesca 0.4 0.5 0.1

B Industrias Extrativas 0.2 0.3 9.2

C Indústrias Transformadoras 10.7 11.3 0.0

E Captação, Tratamento e Distribuição de Água; Saneamento, Gestão de Resíduos e Despoluição 4.6 6.2 0.0

F Construção 14.3 16.2 8.7

G Comércio por Grosso e a Retalho; Reparação de Veículos, Automóveis e Motociclos 25.8 22.0 36.9

H Transporte e Armazenagem 2.2 2.5 1.2

I Alojamento e Restauração (Restaurante e Similares) 8.7 7.6 12.0

J Atividade de Informação e de Comunicação 5.1 3.8 8.7

K Atividades Financeiras e de Seguros 0.5 0.6 0.0

L Atividades Imobiliárias 17.2 18.0 14.8

M Atividades de Consultoria, Científicas, Técnicas e Similares 1.8 1.7 2.1

N Atividades Administrativas e dos Serviços de Apoio 5.6 6.0 4.6

P Educação 0.4 0.5 0.2

Q Saúde Humana e Acção Social 1.8 2.2 0.6

R Atividades Artísticas, de Espectáculos e Recreativas 0.3 0.2 0.6

S Outras Atividades de Serviços 0.5 0.5 0.4

em percentagem do montante total de empréstimos Tabela A - Montante de empréstimos por atividade económica

Secção da CAE Micro

Empresa Pequena Empresa Média Empresa Grande Empresa

A Agricultura, Produção Animal, Caça, Floresta e Pesca 1.6 0.8 0.0 0.0

B Industrias Extrativas 0.0 2.4 0.0 0.0

C Indústrias Transformadoras 5.3 6.4 15.6 8.6

E Captação, Tratamento e Distribuição de Água; Saneamento, Gestão de Resíduos e Despoluição 0.0 1.1 4.7 8.0

F Construção 9.3 3.3 17.1 16.5

G Comércio por Grosso e a Retalho; Reparação de Veículos, Automóveis e Motociclos 25.1 38.2 21.6 28.0

H Transporte e Armazenagem 0.4 1.6 2.1 3.4

I Alojamento e Restauração (Restaurante e Similares) 5.0 6.3 11.5 7.9

J Atividade de Informação e de Comunicação 0.7 0.3 1.7 13.3

K Atividades Financeiras e de Seguros 2.5 0.0 0.1 0.0

L Atividades Imobiliárias 30.3 10.2 18.2 10.7

M Atividades de Consultoria, Científicas, Técnicas e Similares 6.8 3.1 0.4 0.6

N Atividades Administrativas e dos Serviços de Apoio 6.2 21.8 4.2 2.5

P Educação 0.6 0.9 0.1 0.6

Q Saúde Humana e Acção Social 3.7 2.3 2.3 0.0

R Atividades Artísticas, de Espectáculos e Recreativas 0.5 0.8 0.3 0.0

S Outras Atividades de Serviços 2.0 0.5 0.2 0.0

Tabela B - Montante de empréstimos por atividade económica e dimensão das empresas

em percentagem do montante total de empréstimos

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Finalidade do Empréstimo Tipo de Garantia EmpresaMicro Pequena Empresa EmpresaMédia EmpresaGrande

Caucionado por Depósitos, etc. 6,1 6,8 6,3 0,0

Garantia da Administração Central 0,0 0,0 0,6 0,0

Garantia de Outras Entidades 0,7 0,0 1,7 0,0

Hipoteca sobre Imóveis 39,6 44,4 37,4 20,8

Outras Cauções 26,6 17,9 17,2 19,4

Outras Hipotecas 23,7 29,9 35,1 58,3

Penhor 2,9 0,9 1,7 1,4

Sem Garantia 0,4 0,0 0,0 0,0

Caucionado por Depósitos, etc. 6,3 8,3 4,3 0,0

Garantia de Outras Entidades 1,4 2,4 1,7 0,0

Garantia de Outras Instituições de Crédito 0,0 0,0 0,9 0,0

Hipoteca sobre Imóveis 24,6 35,7 31,6 20,5

Outras Cauções 57,7 41,7 37,6 53,8

Outras Hipotecas 7,7 10,7 23,1 25,6

Penhor 2,1 1,2 0,9 0,0

Financiar fusões/aquisições e

reestruturação empresarial Outras Hipotecas 0,0 0,0 100,0 0,0

Caucionado por Depósitos, etc. 8,0 17,6 2,6 18,2

Garantia de Outras Instituições de Crédito 1,3 0,0 0,0 0,0

Hipoteca sobre Imóveis 40,0 29,4 28,2 18,2

Outras Cauções 29,3 17,6 35,9 27,3

Outras Hipotecas 17,3 26,5 33,3 27,3

Penhor 4,0 8,8 0,0 9,1

Descoberto em DO Sem Garantia 100,0 100,0 100,0 100,0

Cartão Crédito Sem Garantia 100,0 100,0 100,0 100,0

em percentagem Tabela C - Tipo de garantia por finalidade dos empréstimos e dimensão das empresas (Grandes Bancos)

Financiar necessidades de fundo de maneio/necessidades correntes Financiar o investimento Outros

(31)

31

Finalidade do Empréstimo Tipo de Garantia Micro

Empresa Pequena Empresa Média Empresa Grande Empresa

Caucionado por Depósitos, etc. 9,8 12,5 12,8 0,0

Garantias Pessoais 15,9 15,6 17,9 9,4

Hipoteca sobre Imóveis 51,2 43,8 53,8 40,6

Outras 9,8 9,4 3,8 12,5

Outras Cauções 9,8 15,6 10,3 34,4

Penhor 3,7 3,1 1,3 3,1

Caucionado por Depósitos, etc. 15,6 19,0 16,3 11,1

Garantias Pessoais 42,2 38,1 25,6 38,9

Hipoteca sobre Imóveis 26,7 33,3 39,5 33,3

Outras Cauções 11,1 9,5 11,6 11,1

Penhor 4,4 0,0 7,0 5,6

Caucionado por Depósitos, etc. 50,0 0,0 0,0 0,0

Garantias Pessoais 50,0 0,0 66,7 0,0

Hipoteca sobre Imóveis 0,0 100,0 33,3 0,0

Caucionado por Depósitos, etc. 0,0 0,0 25,0 0,0

Garantias Pessoais 100,0 100,0 50,0 50,0

Hipoteca sobre Imóveis 0,0 0,0 0,0 50,0

Outras Cauções 0,0 0,0 25,0 0,0

Caucionado por Depósitos, etc. 25,0 20,0 0,0 0,0

Garantias Pessoais 50,0 60,0 0,0 0,0

Hipoteca sobre Imóveis 25,0 20,0 100,0 0,0

Garantias Pessoais 23,8 0,0 0,0 0,0

Sem Garantia 76,2 100,0 100,0 100,0

Cartão Crédito Sem Garantia 100,0 0,0 0,0 0,0

em percentagem

Tabela D - Tipo de garantia por finalidade dos empréstimos e dimensão das empresas (Restantes Bancos)

Financiar necessidades de fundo de maneio/necessidades correntes Descoberto em DO Financiar a reestruturação da dívida Financiar fusões/aquisições e reestruturação empresarial Financiar o investimento Outros

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