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RELAÇÕES POLÍTICAS REGIONAIS: reflexão sobre centro e periferia no capitalismo brasileiro no período de 1930/64

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Academic year: 2021

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Revista Ciência

&

Saberes

Regional political relationship: consideration of center and

periphery in Brazilian capitalism in the period 1930/64

Relações políticas regionais: reflexão sobre centro e periferia no capitalismo brasileiro no período de 1930/64 Las relaciones políticas regionales: la reflexión sobre el centro y la periferia en el capitalismo brasileño en el período 1930-1964

ABSTRACT

Objective: to relate the theory of downtown and periphery in Brazil from the perspective of regional

disparities, noting the socio-historical background of the country, comprising the regional problem, first of all, as a political problem. Methodology: The methodology consisted of a reflection on the topic of regional issues in Brazil, mixing classic references and contemporary readings. It attempted by topics that mention the regional problem and the center-periphery relationship. Results: the survey results point to a regional imbalance problem that has origins in the Empire and was consolidated in the mid-twentieth century, when the migrated economic dynamism strongly to the Southeast. Conclusion: it was observed that the regional problem in Brazil had little attention to the literature where palliative solutions have been suggested and employed to address structural dilemmas such solutions reflect directly the interests of traditional political groups who opted for non-development exchange in the area of obtaining funds to maintain its position.

RESUMO

Objetivo: relacionar a teoria sobre centro e periferia no Brasil na perspectiva dos desníveis regionais,

observando a formação sócio-histórica do país, compreendendo o problema regional, antes de tudo, como um problema político. Metodologia: a metodologia utilizada consistiu numa reflexão sobre o tema da questão regional no Brasil, mesclando referências clássicas e leituras contemporâneas. Buscou-se por tópicos que mencionam o problema regional e a relação centro-periferia. Resultados: os resultados da pesquisa apontam para um problema de desequilíbrio regional que tem origens no Império e se consolidou em meados do Século XX, quando o dinamismo econômico migrou, acentuadamente, para a região Sudeste. Conclusão: observou-se que o problema regional no Brasil teve pouca atenção por parte da literatura, onde soluções paliativas foram sugeridas e empregadas para resolver dilemas estruturais, tais soluções refletem, diretamente, os interesses de grupos políticos tradicionais que optavam pelo não-desenvolvimento da região em troca da obtenção de recursos para manter sua posição.

RESUMÉN

Objetivo: relacionar la teoría de centro de la ciudad y periferia en Brasil desde la perspectiva de las

disparidades regionales, teniendo en cuenta los antecedentes histórico-social del país, que comprende el problema regional, en primer lugar, como un problema político. Metodología: La metodología consistió en una refleción sobre el tema de los problemas regionales en Brasil, mezclando referencias clásicas y lecturas contemporáneas. La búsqueda intentó por hilos que mencionan el problema regional y la relación centro-periferia. Resultados: los resultados de la encuesta apuntan a un problema de desequilibrio regional que tiene orígenes en el Imperio y se consolidó a medios del siglo XX, cuando el dinamismo económico migrado, con fuerza, al sudeste. Conclusión: se observó que el problema regional en Brasil tuvo poca atención en la literatura donde se han sugerido y utilizado para hacer frente a dilemas estructurales y soluciones paliativas. Tales soluciones reflejan directamente los intereses de los grupos políticos tradicionales que optaron por lo no desarrollo de la región de intercambio en el ámbito de la obtención de fondos para mantener su posición.

Descriptors

Downtown. Periphery. Capitalism. Brazil.

Descritores

Centro. Periferia. Capitalismo. Brasil.

Descriptores

Centro de la ciudad. Periferia. Capitalismo. Brasil.

Sources of funding: No Conflict of interest: No

Date of first submission: 2015-03-21 Accepted: 2015-01-27

Publishing: 2015-08-30

Corresponding Address

Rodrigo Santos Cruz

Faculdade de Ciências e Tecnologia do Maranhão, Caxias.

Endereço: Rua Aarão Reis, 1000. Centro. Bairro Centro, CEP: 65600-000.

Telefone: + 55 (86) 98823 1485 E-mail:

rodrigosantoscruz1989@gma il.com

Rodrigo Santos Cruz¹

1 Professor Assistente I da Faculdade de Ciências e Tecnologias do Maranhão-FACEMA – Professor Auxiliar da Universidade Federal do Piauí. Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Piauí. rodrigosantoscruz1989@gmail.com

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Esta reflexão tem o seguinte problema de conhecimento: as relações entre centro e periferia no capitalismo brasileiro, compreendendo o período de 1930/64, foram marcadas por uma equidade nas decisões políticas? A hipótese é que essas relações se estabeleceram de forma desigual entre as duas regiões mencionadas. Pretendemos demonstrar, através de uma revisão bibliográfica, que os problemas de desigualdade regional no Brasil têm longa data e foram sendo construídos aos poucos, num processo histórico dinâmico, onde vários fatores, principalmente políticos e econômicos, mostraram-se cruciais.

CENTRO E PERIFERIA

Quando se fala de centro e periferia nesse trabalho, consideramos o período após 1930, onde já se forma no país uma situação de desigualdade econômica evidente entre as regiões. O café proporcionou um dinamismo econômico jamais visto no Brasil, criando na região Sudeste condições favoráveis ao processo de industrialização primária. A literatura mostra claramente a situação de atraso do Nordeste que, com a crise do setor exportador, não conseguiu dinamizar sua economia. É evidente no documento do Grupo de Trabalho para o Desenvolvimento do Nordeste (GTDN)1 que, mesmo o

estado varguista proporcionando subsídios econômicos através da compensação de recursos para a região nordestina, essa continuou atrasada na sua estrutura produtiva uma vez que a renda do setor privado era aplicada em investimentos no Centro-Sul do país e as políticas compensatórias do governo federal se diluíam em obras assistencialistas, ou seja, sem rentabilidade.

No plano político é complexo falar de relações entre regiões antes de 1930, considerando o que se observa na literatura a propósito do domínio oligárquico regional. Gláucio Soares2 chama atenção para uma questão

importante na análise do sistema de relações políticas no Brasil. O processo de desenvolvimento na infraestrutura não foi acompanhado, com igual progressão, pela superestrutura, isso implica as relações político-institucionais. Claro que tal condição não é sinal de uma esquizofrenia dentro do processo de luta de classes. Apesar

dessa não simultaneidade no desenvolvimento histórico entre infraestrutura e superestrutura, há sim um equivalente relacional que faz com que essas interações assumam um caráter peculiar. Abordo aqui o processo de revolução passiva, situação histórico-social exposta por Antonio Gramsci. É dentro dessas condições de progressão de determinadas forças, conjugadas com aspectos arcaicos, que se estrutura uma situação singular de relação econômica e política. A problematização da questão nordestina na década de 50 do século passado evidencia claramente essa disparidade concreta nas relações político-econômicas.

Na dinâmica política e tomada de decisões do Brasil pós 1930, Gláucio Soares indica o aspecto de atuação em bloco das classes dominantes, ou seja, uma aliança de classes representando setores urbanos e rurais que não permitia alterações significativas na estrutura do país. Os trabalhadores urbanos, pequenos e médios comerciantes, profissionais liberais, etc., foram todos sugados pela lógica do corporativismo; as questões envolvendo capital e trabalho eram resolvidas no âmbito do Estado - representado pelos sindicatos- um Estado que atendia aos interesses de uma aliança entre grupos agrários e industriais nascentes. A problemática apontada por Gláucio Soares é saber até quando a infraestrutura é seguida pela superestrutura, assim:

[...] sem negar a existência de certa sobrevivência e de certa autonomia de uma superestrutura política “característica” de uma infra-estrutura econômica passada, sublinho também, o outro lado da medalha, isto é, que autonomia relativa não implica independência, subsistindo uma clara relação de determinação e que esta superestrutura é, em si, em suas ações e em suas consequências, um fenômeno de classe. Como tal, tem sido fundamentalmente afetada pelas transformações na infra-estrutura da sociedade brasileira, em particular pelas modificações na estrutura

de classes (2). ( p.15)

Com a implantação da República Federada, em 1891, se estabelece uma organização peculiar de distribuição do poder. Os estados se apropriavam das receitas de importação, podiam criar suas próprias forças armadas. Na relação entre autonomia política e dependência econômica, pode-se notar claramente que, as unidades mais pobres e aquelas que se endividavam com

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Portuguese

empréstimos contraídos no estrangeiro, perdiam muito da sua autonomia no sistema federativo. Um fenômeno característico desse período é a política dos governadores, implantada por Campos Sales e que consistia em conceder dominação total a todos os governadores das províncias nos seus respectivos territórios. É importante frisar que mesmo a situação de dependência econômica que alguns estados passaram a ter em relação ao governo central, o federalismo foi largamente aplicado, caracterizando esse período como sendo uma fase de ampla autonomia dos estados brasileiros.

Os instrumentos de dominação política característicos desse período são principalmente o empreguismo, nepotismo e violência. Sobre a base socioeconômica agrícola se forma uma estrutura de classes e de poder de conotação claramente oligárquica. A persistência dessas organizações do poder é um aspecto importantíssimo na compreensão da problemática colocada nesse trabalho. Um fato a ser considerado é o fenômeno da urbanização. O processo de industrialização fez com que grande quantidade populacional migrasse para os centros urbanos recém-formados, logo, em algumas regiões - principalmente as que tiveram um amplo processo de urbanização- as oligarquias regionais foram perdendo seu poder, visto que as massas camponesas saíram do domínio rural e foram inseridas em outra lógica produtiva, recebendo salário. Isso é importante ressaltar, pois, mesmo sob a égide de um sistema de classes que respondia aos interesses do recente capital industrial (não é demais lembrar que essas mudanças ocorrem principalmente na região Centro-Sul/, onde o desenvolvimento da indústria foi intenso) diminuía a grande influência das oligarquias rurais, que perdiam o domínio sobre uma ampla massa de camponeses. Esta dominação se consolidava principalmente pela figura do coronel exercida não apenas politicamente:

Esta estrutura, na forma em que se

verificou, dependeu de maneira

fundamental do coronelismo, da dominação total – e não somente política - de populações rurais pelos coronéis, da irrelevância política das classes sociais urbanas organizadas, sobretudo a burguesia, a pequena burguesia e o proletariado, e da inexistência de condições socioeconômicas que propiciassem o advento da ideologia

como elemento relevante da política (2)

Essa irrelevância política das classes sociais urbanas é mais nítida nas regiões menos dinâmicas do país, onde as estruturas do poder tradicional não foram afetadas pelo recente processo de industrialização. As oligarquias, formadas no bojo da República Velha, viam suas ações se intensificarem na medida em que o direito de voto se ampliou, fazendo do coronel elemento importantíssimo no elo entre as políticas locais e federais. Essa ligação era essencial para que o governo central conseguisse atuar em regiões isoladas, (tal característica sempre foi comum na sociedade brasileira que, quando colônia portuguesa, vivia sob o domínio dos senhores de terra e seu aparato de dominação).

Para que houvesse dominação oligárquica, ancorada no sistema de poder coronelista, era necessário, como afirma o autor, que a briga política se desse entre níveis iguais, ou seja, no âmbito das oligarquias entre si, não podendo haver diferenciação ideológica, o que acarretaria um jogo político consciente, formando uma oposição. Ora, sabe-se que mesmo depois da Revolução de 1930, as oligarquias se mantiveram no poder, não com a mesma influência que na República Velha, mas o jogo de poder as posicionava num patamar importante no cenário político, principalmente no Nordeste, aí o jogo político tinha cartas marcadas e as lutas se concretizavam entre grupos regionais que dominavam o poder há décadas.

As transformações realizadas pós 1930, como a extinção de barreiras alfandegárias entre os estados, introdução de imposto de consumo, a perca da capacidade das unidades federadas de legislarem sobre o comércio exterior, etc., criaram condições para a formação de uma economia nacional unificada. O Estado foi o grande patrocinador de infraestrutura para o desenvolvimento da indústria. O governo de Vargas, longe de querer criar condições de desequilíbrios regionais, tentava ao máximo expandir o desenvolvimento em escala nacional de forma equitativa, sendo um maestro no jogo político, relacionando-se com os mais diversos grupos de interesse no poder, contudo, como já foi analisado por Celso Furtado em 1997 no documento do GTDN, o fator político estava submisso ao fator econômico, principalmente no Nordeste, onde as medidas econômicas de substituição de importações prejudicaram mais ainda as relações da região com o comércio exterior. O que ocorreu foi uma integração débil do Nordeste na sociedade brasileira, tanto por ser, no

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cenário nacional, uma região fraca politicamente, uma vez que os fluxos imigratórios provocaram grandes êxodos da população, principalmente para o Centro-Sul, além de conservar o domínio das oligarquias regionais, estas impediram a formação de partidos nacionais, e o fator urbanização, visto que conformava uma zona rural em sua maior extensão (1-2, 3, 4).

PÓS 1930: MUDANÇA OU PERMANÊNCIA NAS RELAÇÕES POLÍTICAS?

A discussão a respeito do caráter da Revolução de 1930 é assunto amplamente analisado nas ciências sociais brasileira. Como foi colocado anteriormente, não existe consenso sobre o que sucedeu a República Velha. Alguns acreditam que foi uma revolução que modificou as estruturas sociais, colocando o Estado numa posição privilegiada no processo decisório, além da outra discussão ligada ao caráter revolucionário do ocorrido em 1930. Há na literatura consenso de que não houve alteração significativa, mas tão somente uma aliança das classes rurais com os novos setores urbanos (2-4,6).

De fato, é amplamente consensual na literatura que esse período compreendeu no aumento do poder central, consequentemente na perda de grande parte da autonomia das unidades federadas e que o Estado compreende agora a força política dominante dentro do bloco ou frações de classe. O pós 1930 se caracteriza por um aumento da urbanização, principalmente nas regiões que apresentavam dinamismo econômico, estabelecimento de indústrias, que também se concentraram nas áreas mais desenvolvidas, crescimento do operariado e de outras categorias profissionais urbanas; o poder central se fortalece, assim como a burocracia, que, além disso, se expandiu muito junto dos serviços públicos.

Não havia partidos nacionais, as decisões eleitorais tinham o ponto chave nos estados, onde os candidatos possuíam suas bases eleitorais. Assim, uma relação política entre as regiões que pudesse ser considerada importante no plano político estava ausente. Com o aumento do poder central no pós 1930, as mudanças político-institucionais não propiciavam o desenvolvimento de partidos políticos relevantes, como observa Maria do Carmo Campello de Souza:

(...) o início da década de trinta, o pêndulo ideológico se inclinara decisivamente no sentido de centralização autoritária, e que esta concepção dava lugar a uma completa deslegitimação dos partidos políticos e dos

mecanismos eleitorais (6).

Com a negação dos regimes fascistas e nazistas a partir de 1937, é iniciada, dentro do processo político brasileiro, uma abertura inevitável para a formação das organizações partidárias, contudo a discussão sobre participação política no país ainda se encontrava num estágio bastante incipiente. A conjuntura da época não favorecia a expansão dos partidos para horizontes capazes de organizar as massas. Weffort (1980) observa que a democracia em vias de construção a partir de 1945 é frágil e sem participação do povo. Os organismos representativos das classes operárias ao invés de serem elementos intermediadores dos seus membros com o Estado eram, na verdade, apêndices do próprio Estado que os manipulava através de seus líderes (4).

O PSD e o PTB formavam um sistema partidário à época que correspondia aos mandos do chefe do executivo. Uma aliança partidária que fazia do primeiro uma agremiação política comprometida com os interesses dos grupos conservadores ligados à atividade agrária, conseguindo por muitos anos, através do clientelismo, o domínio das áreas rurais. O PTB foi criado por Getúlio e estava comprometido em dar voz às classes trabalhadoras urbanas, todavia usado como mecanismo de cooptação e manipulação de demandas. A manipulação do poder é evidente, pois que as organizações representativas saíam do bojo do Executivo.

[...] a nova democracia difere radicalmente do modelo registrado na tradição ocidental. E a diferença mais notável está em que nesta democracia de massas, o Estado se apresenta de maneira direta a todos os cidadãos. Com efeito, todas as organizações importantes que se apresentam como mediação entre Estado e os indivíduos, em verdade, antes anexos do próprio Estado que órgãos

efetivamente autônomos (4 ).

O caráter da revolução de 1930 não foi apenas a substituição de uma oligarquia por outra. Havia os interesses dos grupos não oligárquicos que consistiam no aumento da cidadania, direito ao voto livre e secreto e o fim da fraude nas eleições. As alianças de grupo que se

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Portuguese

formavam, a exemplo das Alianças Nacionais, estavam contaminadas por interesses oligárquicos, o que diminuiu a capacidade de realização das reivindicações voltadas para a expansão da cidadania. O grupo tenentista, que representava oposição às oligarquias, aos poucos foi sendo cooptado pela aliança de classes que se formava. Interesses agrários e burgueses estavam no jogo do bloco que se constituiu. Aos militares e civis foi concedido chefias estaduais, isso fazia parte do acordo feito para os setores emergentes.

De acordo com Gláucio Soares a Revolução de 1930 não foi um evento de mudança social. Possuiu um caráter político, de aliança e concessão entre classes. Para o autor, essa revolução foi importante para o que sucedeu a República Velha em quatro aspectos: primeiro, houve elevação do nível de mudança política por uma massa considerável da população, já que as eleições de 1933-34 extinguiram grandes obstáculos colocados nos pleitos do período anterior; segundo, um intenso processo de industrialização ocorreu principalmente em regiões onde já se apresentava certo dinamismo produtivo; terceiro, a criação de sindicatos, que apesar de controlados pelo Estado, funcionavam como organismos a fim de os trabalhadores se mobilizarem; o próprio PTB, partido que tinha um programa para as massas trabalhadoras, obteve grande apoio nas eleições de 1945 devido ao número significativo de operários sindicalizados que votaram na sigla; quarto e muito importante foi o aumento do poder central em detrimento dos poderes das unidades federadas, que organizou a política em interesses de classes com escopo nacional, desfortalecendo a influência das oligarquias regionais, isso proporcionou o direcionamento do jogo político das facções de uma mesma oligarquia para outro nível, ou seja, elevou a disputa para grupos de classes distintos (2).

A partir de 1945 há uma expansão da cidadania a grupos sociais cada vez mais amplos, principalmente nas regiões mais desenvolvidas economicamente. O surgimento de partidos políticos não favoráveis às oligarquias locais não significou o fim da política oligárquica, não tirou de cena a função política das unidades federadas, nem condicionou a política do país para que esta se transformasse numa política nacional.

Após 1930 houve um intenso processo de imigração interna das regiões mais pobres para as mais desenvolvidas.

O Nordeste sofreu uma grande retração demográfica em oposição ao Sudeste e Sul, que aumentaram drasticamente sua população. Outro aspecto importante que diz respeito às relações políticas entre centro e periferia está relacionado ao aumento da participação eleitoral. São Paulo, Minas Gerais e o Rio Grande do Sul representavam os estados onde havia praticamente todo o eleitorado, assim as relações eram de nítido desequilíbrio quando se leva em conta que Nordeste, Norte e Centro-Oeste tinham pouquíssimo poder de voto, estando as decisões políticas concentradas, praticamente, em três estados.

A partir de 1945 o Sudeste já ultrapassava o Nordeste na significação eleitoral. Com a imigração interna muito acentuada, a região nordestina perdia progressivamente o seu eleitorado. É provável que em todas as eleições anteriores a 1945 uma fração considerável da classe média, principalmente das classes inferiores, tenha ficado de fora do processo eleitoral. Isso nem se conta no Nordeste, com maioria da população vivendo na zona rural, e a agricultura configurando principal atividade econômica, a abstenção era enorme uma vez que o dispêndio com o transporte de eleitores nem sempre era viável para o coronel (2).

Assim, a representação do eleitorado na região era insignificante se observarmos a região Sudeste. O quadro político funcionava através do voto de cabresto e o coronel como o grande mediador nas relações entre os candidatos e o povo, camponeses em sua maioria, que viviam nas terras do coronel e dependiam praticamente em todos os aspectos do grande proprietário. O Estado, muita das vezes ausente na prestação de serviços básicos, como saúde, alimentação, emprego, etc., fazia com que a população ficasse dependente do coronel e assim ocorria uma troca de favores pelo domínio do eleitorado. O jogo eleitoral era restrito, os pleitos estavam extremamente passíveis de fraudes. Concentrando as decisões eleitorais praticamente em três estados da nação, só mostra um retrato da exclusão da maioria da população do processo político. “O jogo eleitoral, portanto, era fundamentalmente um jogo para as elites e para uma alta classe média, esta última composta por profissionais liberais e outras pessoas com alta qualificação ocupacional (2)”.

As bases sócio-econômicas que criaram o sistema político dentro da República Velha permaneceram no pós 1930. A Era Vargas não eliminou a estrutura agrária que

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formava o país, e depois, com o pequeno e frágil período democrático a partir de 1945 a situação não sofreu grandes mudanças. O país passou por um processo de urbanização e industrialização, o que acarretou transformações em várias outras esferas da vida social, consequentemente essas modificações tiveram impacto na composição das classes. A base agrária, contudo, não mudou rapidamente, sua alteração foi bem mais lenta. O que conta, nisso tudo, é que apesar de não ter sofrido mudanças significativas, essa base agrária diminuiu seu peso de importância dentro da organização geral do país, tal perda de influência ocorreu justamente nas regiões do Centro-Sul.

A Revolução de 1930, assim, consistiu numa reorganização das antigas forças econômicas dominantes, agora canalizadas de outras formas através do Estado centralizador. A ascensão do varguismo representou a aglutinação de interesses de várias frações de classe num mesmo bloco de poder, agora comandado por um Executivo forte. Dentro da política nacional, os produtores de café perderam seu lugar como grupo dominante devido à crise provocada pela própria revolução. Não se quer dizer com isso que perderam influência nas decisões dentro do seu Estado, no caso São Paulo, nenhuma classe foi capaz de aglutinar sozinha o domínio de toda a sociedade, nem os produtores de café, nem os grupos ligados ao tenentismo, nem a burguesia urbana.

[...] as classes médias tradicionais

brasileiras, como parece ocorrer na maioria dos países latino-americanos, não possuíam condições sociais e econômicas que lhes permitissem uma ação política autônoma em face dos interesses vinculados à grande propriedade agrária. [...] Estes setores nunca conseguiram, por força de sua situação de dependência neste contexto em que a grande propriedade é o padrão social e econômico dominante, definir uma atividade política plenamente radial. [...] esses setores médios que constituíram a grande força de opinião que a conduz a profunda crise do regime oligárquico em 1930, não possuíram condições para negar de maneira radical e eficaz o quadro institucional, mas apenas conseguiram

redefinir suas relações com ele (4).

A Revolução de 1930 foi um episódio onde os compromissos das classes urbanas e rurais se entrelaçaram, formando uma nova situação política onde o Estado era o grande maestro na resolução de interesses. Os limites de

ação dos setores urbanos modernizantes se deram com a formação dessa aliança, já que as classes conservadoras, ligadas a atividade agrária, limitaram o poder de ação daquelas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista o exposto anteriormente, observou-se que a desarmonia das relações políticas entre Cenro-Sul e Nordeste tem origens antigas. O Nordeste está inserido, dentro do processo sócio-histórico brasileiro, como uma região que ficou estruturalmente abalada com a crise do setor exportador em fins do século XIX, retraindo de forma brusca os lucros com a venda de açúcar e algodão. A região, desde então, ficou marginalizada dentro da economia nacional. O café, promissor no Centro/Sul, encontrou condições favoráveis para o seu desenvolvimento, e até a década de 40 do século passado, ainda era o produto de maior significância econômica no país(7).

Nesse sentido, vê-se que o peso político de cada região no Brasil é dispare. Com a população do Nordeste migrando para as áreas economicamente mais dinâmicas, e um processo de industrialização retardatário, a região ficou por muito tempo estagnada e perdeu importância no cenário nacional, situação que não é muito diferente da que se encontra hoje.

REFERÊNCIAS

1. Documento do GTDN. Revista Econômica do Nordeste, 28(04), 1997. p. 387-432

2. Soares G. Sociedade e política no Brasil. São Paulo:Graal; 1973.

3. Maranhão S (org). Desenvolvimento econômico e poder político: algumas reflexões obre o caso do Nordeste brasileiro, 1930-1975. In: ______.A Questão Nordeste: estudos sobre formação histórica, desenvolvimento e processos políticos e ideológicos. Rio de Janeiro, Paz e Terra; 1984.

4. Weffort F. O populismo na política brasileira. 4ªed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1980.

5. Bacelar T. A questão regional e a questão nordestina. In: Tavares MC (org.). Celso Furtado e o Brasil, São Paulo: Fundação Perseu Abramo; 2001.

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Cruz RS Regional political relationship: consideration…

Portuguese

6. Sousa, MCC. Estados e partidos políticos no Brasil (1930-1964). 3ª ed. São Paulo: Alfa Omega; 1990.

7. Perissinoto R. Classes dominantes e hegemonia na república velha. Campinas: UNICAMP; 1994.

Referências

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