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ECLI:PT:TRE:2012: A.F9

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ECLI:PT:TRE:2012:244.09.0.A.F9

http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ECLI:PT:TRE:2012:244.09.0.A.F9

Relator Nº do Documento

Mário João Canelas Brás

Apenso Data do Acordão

22/03/2012

Data de decisão sumária Votação

unanimidade

Tribunal de recurso Processo de recurso

Data Recurso

Referência de processo de recurso Nivel de acesso

Público

Meio Processual Decisão

Apelação

Indicações eventuais Área Temática

oposição à execução Referencias Internacionais Jurisprudência Nacional Legislação Comunitária Legislação Estrangeira Descritores

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Sumário:

Ainda que o devedor tenha contado com isso, não há alteração anormal das circunstâncias em que contratou, para efeitos do disposto no artigo 437.º, n.º 1, do Código Civil, se o credor (instituição bancária) não registou a reserva de propriedade do bem, porquanto nem sequer é pacífico que uma instituição de crédito, que nunca teve a propriedade do bem, a possa vir a reservar a seu favor. Sumário do relator

Decisão Integral:

Acordam os juízes nesta Relação:

O apelante/executado C…, residente no Sítio…, vem interpor recurso da douta sentença proferida em 25 de Julho de 2011 (a fls. 171 a 181), no Tribunal Judicial da comarca de Tavira, nestes autos de oposição à execução, aí por si deduzidos contra o apelado/exequente “Banco C…, S.A.”, com sede na Av…., Algés (sendo, também, executada a sociedade “Á…, Lda.”) – e que julgou tal oposição totalmente improcedente –, intentando ver revogada essa decisão da 1.ª instância e que se

considere, portanto, que deverá agora vir a ser desobrigado, porquanto o vendedor não entregou à compradora o veículo ou os seus respectivos documentos (negócio para que serviu a livrança a que deu o seu aval, sendo que “anulando-se o contrato de compra e venda, por não entrega da coisa, nem transmissão da respectiva titularidade, padecerá da mesma invalidade o contrato de crédito que lhe é inerente, bem como a livrança que titula a presente execução”), alegando, para tanto e em síntese, que dos diversos fundamentos que invocou na oposição, mantém a sua discordância da sentença proferida quando esta não considera ter havido alteração das circunstâncias que o levaram a dar o seu aval ao negócio, subscrevendo uma livrança em branco, já que no caso sub judice “existe uma alteração dessas circunstâncias, mormente o facto da exequente não ter

procedido, conforme se previa no contrato, ao registo a seu favor da reserva de propriedade sobre o veículo”, dessa maneira “vindo a alterar a sua posição e a onerar a posição do Apelante

enquanto devedor” – que, assim, “viu a garantia dada por si aumentar significativamente, o que implicou uma perturbação do equilíbrio contratual inicialmente ajustado”. São termos em que “deverá ser concedido provimento ao presente recurso”.

Não foram apresentadas contra-alegações. *Vêm dados por provados os seguintes factos: 1) Da livrança que constitui fls. 16 do processo de execução a que esta oposição se encontra apensa consta como subscritora a sociedade “Á…, Lda.”, constando como local, como data de emissão, como data de vencimento e como importância, respectivamente Algés, 31 de Outubro de 2008, 13 de Novembro de 2008 e € 34.046,48 (trinta e quatro mil, quarenta e seis euros e quarenta e oito cêntimos).

2) A livrança foi subscrita a favor de “C…, S.A.”.

3) No local destinado à assinatura do subscritor consta uma inscrição feita com carimbo onde se lê “Á…, Lda.”, e, por cima da referida inscrição, consta uma assinatura manuscrita de C….

4) Em 09 de Setembro de 2005, a referida sociedade comercial por quotas denominada “Á…, Lda.”, NIPC…, com sede no…, e R…, proprietário de um stand de venda de veículos automóveis, celebraram um contrato de compra e venda sobre o veículo automóvel de marca BMW, modelo X5, e com a

matrícula n.º ….

5) Nesse mesmo dia a sociedade ‘Águia do Sul, Lda.’ outorgou o contrato de crédito n.º 800027699594.

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6) O montante do financiamento foi de € 44.265,77 (quarenta e quatro mil, duzentos e sessenta e cinco euros, setenta e sete cêntimos), que a sociedade “Á…, Lda.” se obrigou a pagar em 60 mensalidades de € 1.022,57 (mil e vinte e dois euros e cinquenta e sete cêntimos).

7) No contrato supra referido em 5) constava como entidade financiadora a “C…, S.A.”, actual “Banco …, S.A.”.

8) O contrato de crédito foi realizado exclusivamente para aquisição do veículo identificado. 9) O oponente outorgou o contrato de crédito na qualidade de avalista, tendo subscrito, nessa qualidade, uma livrança em branco a favor do exequente.

10) No contrato de crédito figura como entidade vendedora R….

11) O oponente outorgou o contrato de crédito e subscreveu a livrança em branco, na convicção de que o exequente formalizaria o registo da reserva de propriedade.

12) O R… não entregou à sociedade “Á…, Lda.” qualquer documento referente ao veículo adquirido, mormente título de registo de propriedade (com o registo a seu favor averbado), licença de

circulação, documentos fiscais, etc..

13) Não foi efectuado o registo do direito de propriedade do veículo automóvel supra identificado em 4) a favor da sociedade “Á…, Lda.”.

14) A exequente não procedeu ao registo da reserva de propriedade a seu favor.*Ora, a questão que demanda apreciação e decisão da parte deste Tribunal ad quem gira em torno da alteração anormal das circunstâncias, decorrente do facto de a exequente (entidade que prestou o crédito) não ter registado, a seu favor, como havia sido acordado, a reserva de propriedade sobre o veículo. É isso que hic et nunc está em causa, como se vê das conclusões alinhadas no recurso

apresentado.

Efectivamente, nos termos que vêm estabelecidos no n.º 1 do artigo 437.º do Código Civil, “Se as circunstâncias em que as partes fundaram a decisão de contratar tiverem sofrido uma alteração anormal, tem a parte lesada direito à resolução do contrato, ou à modificação dele segundo juízos de equidade, desde que a exigência das obrigações por ela assumidas afecte gravemente os princípios da boa fé e não esteja coberta pelos riscos próprios do contrato”.

O presente caso apresenta as suas próprias peculiaridades, traduzidas no facto de se ter adquirido um veículo automóvel, a crédito – assim se realizando um contrato de compra e venda, um contrato de concessão de crédito por parte duma instituição financeira e um contrato de aval prestado por um terceiro (o ora Apelante), o qual também assinou em nome da sociedade compradora – mas em que, curiosamente, ou não, não se cumpriu nada do que ficou acordado: nem o vendedor Rui

António Pereira de Freitas entregou à compradora “Á…, Lda.” qualquer documento referente ao veículo adquirido, mormente título de registo de propriedade a seu favor, licença de circulação, documentos fiscais, nem foi efectuado o registo do direito de propriedade do veículo a favor da dita compradora, nem a ora exequente (“Banco…, SA”) procedeu ao registo da reserva de propriedade a seu favor, como havia dito que faria.

Quer dizer, nada se fez, o que inculca a ideia de que foi tudo simulado e o veículo, como alega o Banco, foi adquirido para alguém que por qualquer razão não o podia fazer e, por isso, por mero favor de todos estes intervenientes. Mas nada disso (favor ou simulação) ficou provado, pelo que agora se não pode aqui utilizar. Só se refere o facto, para dizer que se fazem estes malabarismos e, só depois, é que vêm as consequências e todos se escusam a querer arcar com elas.

E o ora Apelante/executado/oponente C… não deixou de ter o seu papel – proeminente, de resto – em tudo isso, pois, além de ter aposto a sua assinatura como representante legal da sociedade compradora “Águia do Sul, Lda.”, ainda deu o seu aval pessoal na livrança em branco que veio a

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garantir o negócio. Pelo que será um dos que menos se poderá queixar do imbróglio em que acabou por se meter, sobrando para si o pagamento do preço.

Mas, adiantando, desde já, razões, e salva sempre melhor opinião que a nossa, se constata que a douta sentença agora em recurso decidiu bem a questão da suposta alteração anormal das

circunstâncias, pelo que, nesta sede, não será objecto de qualquer censura.

E isto, pese embora a sageza da construção jurídica invocada aqui pelo Apelante (como, aliás, já o fizera antes, no próprio requerimento da oposição).

É que, bem vistas as coisas, e tendo confessado aceitar a decisão tomada na 1.ª instância sobre a anulabilidade do contrato de compra e venda e do de crédito, acaba por vir pretender obter o mesmo resultado por via da alteração das circunstâncias, entrando na discussão das vicissitudes dos próprios negócios subjacentes ao negócio cartular (este sim, que é o seu), o que aquela sentença já disse não ser possível e, nessa parte, se tendo o ora Apelante confessadamente conformado.

Com efeito, não há diferenças entre vir discutir aqui que o vendedor (R… não entregou o veículo à compradora (“Á… Lda.”); ou que o mesmo não procedeu ao registo do veículo a favor dessa compradora; ou, ainda, que o vendedor não entregou àquela compradora qualquer documento referente ao veículo adquirido, mormente título de registo de propriedade, com registo, a seu favor, averbado, licença de circulação, documentos fiscais, etc.; ou, então, que o exequente (“Banco…, S.A.”) não procedeu ao registo da reserva de propriedade do veículo a seu favor.

São tudo vicissitudes – e constitui essa a defesa apresentada pelo opoente (C…) – dos negócios subjacentes ao da subscrição da livrança por si, como avalista, e cuja concretização o terá

motivado a contratar.

E, no entanto, ele acaba por aceitar que não pode discutir tais vicissitudes na medida em que constituem circunstâncias de negócios jurídicos em que ele não é parte (ele é parte no dito negócio cartular e pode, como é comummente aceite, discutir apenas a violação do pacto de preenchimento que tenha havido, e somente no âmbito das relações imediatas – reportadas ao negócio subjacente –, e já não no das relações mediatas – reportadas ao próprio título).

Mas o que costuma constar do pacto de preenchimento são factos/dados que se apõem depois no título, mormente se este for subscrito em branco (como aconteceu in casu), tais como a data da emissão ou do vencimento da obrigação, o lugar, ou o valor da mesma, não uma efectivação de um registo de reserva de propriedade, que, ao contrário do também alegado, não dependerá apenas da vontade do Banco credor, pois é preciso ser aceite pelo Sr. Conservador, e sabe-se que há uma discussão jurídica e jurisprudencial que defende não poder a entidade financiadora do negócio registar a seu favor a reserva de propriedade, pois nem sequer é, ou foi, sua, alguma vez, a

propriedade do veículo. E, por aí, cessava também a pretendida função de garantia, para o avalista, que lhe adviria reflexamente do mencionado registo da reserva de propriedade.

[Que o objectivo do apelante é discutir, de novo, os negócios subjacentes ao título, atesta-o a seguinte passagem das suas doutas alegações de recurso, a fls. 209/210 dos autos: “Ora, no caso concreto em apreço, parece não oferecer dúvidas que, objectivamente, o registo de propriedade a favor da exequente constitui uma das bases do negócio, mormente por estar em causa um contrato misto, constituído por um contrato de compra e venda de veículo e um contrato de mútuo para aquisição desse mesmo veículo” (sic).]

Consequentemente, ainda que se admita a discussão autónoma da questão da alteração das circunstâncias – por se entender que ela não contenderia com a apreciação dos demais negócios subjacentes ao negócio cartular do avalista – se não poderia concluir que a não realização de um

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acto de registo que nem sequer é pacífico que pudesse ser feito, constituiu uma alteração das circunstâncias que levaram o avalista a dar o seu aval na livrança em branco (e muito menos que se tratasse de uma alteração anormal). Ele até poderia estar a contar com isso, e ter contratado nessa expectativa, mas é algo com que não poderia legitimamente contar. Este, um primeiro aspecto da não alteração relevante das circunstâncias.

O segundo aspecto da irrelevância duma tal alteração tem que ver com o facto de também não ser adequado afirmar-se que se aquele registo tivesse sido efectivado, a posição do avalista seria agora mais confortável ou favorável do que sem a realização do registo da reserva de propriedade a favor da instituição de crédito que financiou o negócio. E, por isso, não há aqui qualquer alteração anormal e relevante nas circunstâncias que levaram o avalista a contratar.

Pois se a responsabilidade do avalista é solidária com a do avalizado – e autónoma face a ele –, não goza do benefício da excussão prévia, pelo que não poderá recusar-se a pagar a obrigação que consta do título invocando que o credor não executou primeiro outros bens ou garantias (por isso que o portador do título de crédito livrança não está obrigado a respeitar qualquer ordem para fazer pagar o avalista, nomeadamente levando em conta primeiro o valor do veículo cuja reserva estivesse feita – note-se que o portador poderia já nem ser o Banco que tivesse efectuado o registo dessa reserva de propriedade).

[Vide, sobre isso, os artigos 32.º e 47.º, aplicáveis às livranças ex vi do artigo 77.º, todos da Lei Uniforme Relativa às Letras e Livranças, e “Os Títulos de Crédito”, de José A. Engrácia Antunes, da Coimbra Editora, ano de 2009, a páginas 84, onde se registou: “A responsabilidade do avalista é solidária com a dos demais obrigados cambiários, ou seja, o avalista não goza de qualquer

benefício de excussão prévia dos sacadores, aceitantes ou endossantes, respondendo em primeira linha pelo pagamento da letra diante do portador”.]

Razões para que, nesse enquadramento fáctico e jurídico, se deva manter, intacta na ordem

jurídica, a douta sentença da 1ª instância que assim decidiu, e improcedendo o presente recurso de Apelação. Decidindo.

Assim, face ao que se deixa exposto, acordam os juízes nesta Relação em negar provimento ao recurso e confirmar a douta sentença recorrida.

Custas pelo Apelante. Registe e notifique.

Évora, 22 de Março de 2012 Mário João Canelas Brás Jaime de Castro Pestana Paulo Amaral

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