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Elaine Cristina Pacheco de Oliveira 1

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51. Horticultura Brasileira 29. Viçosa: ABH.S5777-S5789

Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011 S5777

Estratégias para a conservação e uso dos recursos genéticos de plantas

medicinais e aromáticas na Amazônia

Elaine Cristina Pacheco de Oliveira1

1Universidade Federal do Oeste do Pará, Instituto de Biodiversidade e Floresta, Santarém, PA, e-mail:

ecp.oliveira@yahoo.com.br

BIODIVERSIDADE NA AMAZÔNIA

De acordo com o conceito de Biodiversidade formalizado pela da Comissão de Ciência e Tecnologia do Congresso dos Estados Unidos da América (OTA - Office of Technology Assessment) em 1987 que assim se traduz: “Biodiversidade abrange a variedade e a variabilidade entre os organismos vivos e os complexos ecológicos nos quais eles ocorrem. Diversidade pode ser definida como o número de itens diferentes e sua frequência relativa. Por diversidade biológica, esses itens são organizados em muitos níveis, variando de ecossistemas completos a estruturas químicas que são a base molecular da hereditariedade. Assim, o termo engloba diferentes ecossistemas, espécies, genes e sua abundância relativa”

O Brasil tem a flora mais rica do mundo, com mais de 56.000 espécies de plantas – quase 19% da flora mundial. Estimativas atuais indicam a existência de 5-10 espécies de gimnospermas, 55.000-60.000 espécies de angiospermas, 3.100 espécies de briófitas, 1.200-1.300 espécies de pteridófitos e cerca de 525 espécies de algas marinhas (MMA, 1998). Além da grande extensão territorial, tal fato está relacionado com a existência de uma grande quantidade de diferentes situações climáticas, geomorfológicas e de solos, o que resulta na grande variedade de tipos vegetacionais. Possui ainda, diversas zonas biogeográficas distintas, dando origem aos biomas Amazônia, Caatinga, Zona Costeira e Marinha; Mata Atlântica e Campos Sulinos; Cerrado e Pantanal (BRASIL, MMA, 2011).

Maior reserva de diversidade biológica do mundo, a Amazônia é também o maior bioma brasileiro em extensão e ocupa quase metade do território nacional (49,29%). A bacia amazônica ocupa 2/5 da América do Sul e 5% da superfície terrestre. Sua área, de aproximadamente 6,5 milhões de quilômetros quadrados, abriga a maior rede hidrográfica do planeta, que escoa cerca de 1/5 do volume de água doce do mundo. Sessenta por cento da bacia amazônica se encontra em território brasileiro, onde o Bioma Amazônia ocupa a totalidade de cinco unidades da federação (Acre, Amapá,

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Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011 S5778 Amazonas, Pará e Roraima), grande parte de Rondônia (98,8%), mais da metade de Mato Grosso (54%), além de parte de Maranhão (34%) e Tocantins (9%) (IBGE, 2004).

O potencial de utilização da biodiversidade deste bioma se estende desde o uso de plantas e animais para fins ornamentais, até o uso dos componentes genéticos e químicos nas áreas de biotecnologia e farmacêutica.

A Amazônia é rica em plantas aromáticas que são usadas tanto na Etnomedicina como na Perfumaria nativa. A Aromaterapia local os usa para banhos de cheiro e perfumes caseiros. Estas plantas, ricas em óleos essenciais, podem gerar produtos para a Perfumaria nacional e recursos para as Comunidades Amazônicas. Algumas das principais indústrias de cosméticos do Brasil, por exemplo, utilizam essências vegetais da Amazônia como base para algumas linhas de produtos. Nesse campo, até comunidades tradicionais têm utilizado tais essências para fabricar produtos artesanais, o que tem melhorado a qualidade de vida de muitos. Além disso, é comum a descoberta de falsos cientistas e turistas pirateando plantas e animais com a finalidade de fornecer as grandes indústrias estrangeiras os elementos e conhecimentos tradicionais para o aproveitamento de materiais genuinamente brasileiros.

Diversas espécies de toda essa biodiversidade são utilizadas na área de saúde. O uso de espécies medicinais está associado com a evolução do próprio homem. Nos dias atuais, com o enorme desenvolvimento da tecnologia, os recursos genéticos vêm adquirindo uma importância cada vez maior, provocando discussão sobre uma nova relação entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento. No caso de plantas medicinais, estes recursos assumem importância estratégica, pois as graves deficiências do sistema de saúde oficial e a baixa renda da população, associadas aos conhecimentos acumulados pelas comunidades faz com que grande parte da população utilize as plantas medicinais como recurso terapêutico.

Com o visível retorno do uso de fitoterápicos em todo o mundo nos últimos anos, muitos problemas ligados à conservação de plantas medicinais tornaram-se pontos importantes de discussão. Esses vão desde a falta de políticas públicas voltadas ao atendimento básico de saúde, até o grande valor de mercado que este empreendimento pode lucrar, cerca de US$ 70 bilhões ao ano (GERA et al., 2003; AZEVEDO e SILVA, 2006).

Diversas espécies são usadas tradicionalmente pelas populações locais com finalidade terapêutica, como a andiroba (Carapa sp.), copaíba (Copaifera spp.), muirapuama (Ptychopetalum olacoides Ben.), guaraná (Paullinia cupana H.B.K. var.

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Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011 S5779 sorbilis (Mart.) Ducke), cumaru (Dipteryx odorata (Aubl.) Willd, (Fabaceae)), dentre outros. Produtos da biodiversidade amazônica já são conhecidos há muito tempo, como por exemplo, o curare (venenos retirados principalmente dos gêneros Chondodendron e Strychnos, da qual um dos subprodutos é a estricnina) (Correa, 1984), a quina, qual teve origem da espécie Cinchona spp., para combater a malária desde os tempos de Napoleão e que até hoje é usada no nosso continente e na África.

Apesar da grande diversidade e de sua importância a Amazônia está sendo empobrecida pelo avanço do desmatamento que inviabiliza a continuidade da existência de populações de diversas espécies, inclusive várias de interesse comercial, como é o caso da castanheira (Bertholetia excelsa H.B.K.). Outra grande ameaça à biodiversidade, que também decorre do desmatamento (lançamento de carbono na atmosfera), é o conjunto de mudanças ambientais globais que alteram ciclos naturais e põem em risco muitas espécies naturais e à saúde do ser humano.

CONSERVAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS E AROMÁTICAS NA AMAZÔNIA

Segundo a Organização Mundial de Saúde (WHO) cerca de 3,5 bilhões de pessoas de países em desenvolvimento confiam e fazem uso no tratamento à base de plantas medicinais. E em todo o mundo, aproximadamente 85% das pessoas são praticantes de sistemas tradicionais de cura a base de plantas e cerca de 25% dos medicamentos farmacêuticos são derivados químicos de vegetais (RAI et al., 2000).

A lista vermelha da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) registrou que 91% das espécies vegetais estão 77 ameaçadas de extinção, embora as estimativas ligadas a plantas medicinais variem amplamente. Entretanto, a conservação desses fitorecursos ainda é vista como uma pequena parcela de toda a biodiversidade, mesmo sendo estes oriundos de ambientes florestais onde a presente pressão extrativista exercida sobre estas populações pode ocasionar no desaparecimento de muitas espécies raras ou até mesmo desconhecidas (GERA et al., 2003).

O aumento da população, o avanço da fronteira agrícola, dentre outros, tem ocasionado a pedra da nossa biodiversidade. Essa perda envolve aspectos sociais, econômicos, culturais e científicos. Esforços de todos os setores têm sido empreendidos, mas muitas vezes não se refletem em resultados satisfatórios. Enfocando apenas a bacia Amazônica, que tem um dos maiores bancos genética do planeta, envolvendo plantas,

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Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011 S5780 animais e microorganismos, pode-se afirmar que a ação antrópica nesta região não é diferente das demais florestas tropicais do planeta.

Hoje, a Amazônia, vigiada por ambientalistas do mundo inteiro, vive um momento de busca de modelo de desenvolvimento em que o crescimento da ocupação humana e seus anseios por desenvolvimento econômico capital, não seja antagônica a conservação das riquezas naturais. A sociedade demanda que a ciência possa encontrar uma fórmula para resolver esta equação: DESENVOLVIMENTO X CONSERVAÇÃO DE RECURSOS NATURAIS.

Desta forma, uma das estratégias de minimizar a perda da biodiversidade á a conservação dos recursos genéticos, através de Banco Ativo de Germoplasma (BAG) ou coleções. Esta conservação pode ser in situ – no local de ocorrência natural da espécie, ou ex situ – fora do seu local de ocorrência natural. Uma variação dessa forma vem ganhando espaço que é a conservação on farm, que pode ser definida como o manejo sustentável da diversidade genética de variedades de cultivos tradicionais com espécies selvagens e herbáceas, desenvolvidos localmente por agricultores em sistemas de agricultura, horticultura, ou agro-silvicultura tradicionais. Outras formas de conservação podem ser aquelas em que o uso da biotecnologia se faz necessário, como cultura de tecidos, criopreservação ou mesmo temperaturas mais amenas como o uso de câmaras frias.

Diversos Bancos Ativos de Germoplasma (BAG´S) estão distribuídos na Amazônia. Em Belém, PA, destacam-se os BAG´s de Cephaelis ipecacuanha Brote (ipeca, ipecacuanha), de Derris sp. (timbó), Bixa orellana L. (urucum), Pilocarpus microphyllus Stapf (jaborandi), Carapa guianensis Aubl. (andiroba) dentre outros, bem como, uma coleção com cerca de 265 espécies de plantas medicinais e aromáticas na Embrapa Amazônia Oriental. Há também, óleos essenciais: Croton sp., Piper sp. e extratos fixos: Arrabidaea sp. em Manaus, AM. Já no Acre destaca-se um grande banco de Piper hispidinervum C. DC. (pimenta-longa), rica fonte de safrol, composto fixador de aromas.

Na Universidade Federal do Oeste do Pará, em Santarém, estão sendo desenvolvidas pesquisas, cuja finalidade é a prospecção de óleos essenciais de plantas aromáticas da região, bem como a produção de mudas de Aniba rosaeodora Ducke (pau rosa), espécie amazônica em extinção, como uma ação importante para o conhecimento de nossa biodiversidade e para a detecção de novas moléculas e que servirão de base para a conservação destas espécies.

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EXPERIÊNCIAS DE CONSERVAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS E AROMÁTICAS NA AMAZÔNIA

As principais pesquisas realizadas na Amazônia que têm por finalidade a conservação e uso dos recursos genéticos de plantas medicinais e aromáticas na região são:

- Estudo etnobotânico;

- Coleta, conservação, avaliação e caracterização de germoplasma; - Determinação de sistemas de cultivo;

- Manejo sustentado em sistemas naturais; - Métodos de propagação;

- Avaliação de épocas de coleta (sazonalidade); - Manipulação fitoquímica;

- Farmacologia;

- Fitomedicina e transferência de tecnologia e uso de espécies medicinais.

Principais espécies amazônicas utilizadas por indústrias na fabricação de cosméticos

a) Euterpe oleracea Mart. (açaí): rico em vitaminas C, B1, B2 e B3, carboidratos e flavonóides (antocianinas), proteínas, lipídeos e sais minerais. Utilizado principalmente na fabricação de xampu, gel, sabonete, hidratante, dentre outros. b) Bertholletia excelsa H.B.K. (castanha do Pará): possui ácidos palmítico, oléico,

linoléico e pequenas quantidades de ácido mirístico, esteárico e fitosterol. Vitaminas A, B, C e E. É utilizada na fabricação de creme, loção (cremosa de limpeza, hidroalcoólica ou tônica), xampu, gel, produto para banho, pós barba, máscara facial, perfume, etc.

c) Theobroma grandiflorum Willd. ex Spreng. (cupuaçu): possui vitaminas A, C, B1, B2, B3, proteínas, lipídeos, glicosídeos e sais minerais. É utilizado para fabricação de creme, gel, loção, xampu, condicionador, sabonete, perfumes, etc. d) Carapa guianensis Aubl. (andiroba): possui propriedades anti-sépticas,

antiinflamatórias, emolientes e cicatrizantes. O óleo dessa planta nativa da Amazônia, quando aplicado em cremes e loções proporciona suavidade à pele e promove a regeneração cutânea. Em xampus e condicionadores, aumenta a maciez dos cabelos, comprovada por avaliações das propriedades visco elásticas

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Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011 S5782 das fibras capilares em condições nas quais os cabelos são expostos a grandes esforços de penteabilidade.

e) Dipteryx adorata (Aubl.) Willd. (cumaru): suas sementes são utilizadas na formulação de perfumes e outros cosméticos (cumarina), óleos essenciais, ácidos graxos.

Conhecimentos Tradicionais Associados:

Na história da humanidade, a produção de conhecimentos, segundo padrões e processos orientados por formas de organização sociais tradicionais, sempre foi uma importante fonte de energia para os sistemas de compreensão e aproximação com a natureza. O conhecimento tradicional é a forma mais antiga de produção de teorias, experiências, regras e conceitos, isto é, a mais ancestral forma de produzir ciência.

Como fonte de produção de sistemas de inovação, os conhecimentos tradicionais destacam-se por seu vasto campo e variedade que comportam: “técnicas de manejo de recursos naturais, métodos de caça e pesca, conhecimentos sobre os diversos ecossistemas e sobre propriedades farmacêuticas, alimentícias e agrícolas de espécies e as próprias categorizações e classificações de espécies de flora e fauna utilizadas pelas populações tradicionais” (SANTILLI, 2005, p. 192).

A conservação diz respeito à estratégia de uso da natureza sob bases sustentáveis, ou seja, pautadas em manejo, racionalidade da exploração dos recursos considerando o homem uma peça fundamental no equilíbrio de tal relação. Isto é, a estratégia de uso sustentável dos recursos naturais permite inserir os povos tradicionais como atores primordiais da proteção da biodiversidade.

Desta forma, projetos de pesquisa que visam à conservação e uso de recursos genéticos de plantas medicinais e aromáticas, vêm sendo desenvolvidos na Amazônia. Palestras, cursos, treinamentos, instalação de hortos comunitários, visitas, dias de campo, publicações diversas, divulgação na mídia, dentre outros, são mecanismos utilizados para que as populações envolvidas estejam treinadas e conscientizadas do papel que terão no uso e manipulação de plantas medicinais.

Estado da arte de estudos atuais de três espécies nativas da Amazônia

A Amazônia possui imensas riquezas minerais, hidrelétricas, dentre outros, mas é conhecida primariamente como o último grande reservatório de biodiversidade e recursos genéticos da humanidade, e compete aos países que compartem esta riqueza

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Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011 S5783 conservá-la e torná-la disponível. Tanto a conservação quanto a potencialização desta riqueza genética dependem da manutenção do ecossistema, incluindo os sistemas de produção tradicionais.

Enquanto a biodiversidade permanecer desconhecida, será uma simples ilusão, conducente a todo tipo de especulação. Adicionalmente, seu valor estratégico para o país e a região somente se tornará realidade à medida que seja conhecida e potencializada na forma de recursos genéticos.

Dentre as espécies nativas da Amazônia que estão sendo estudadas nos últimos anos destaca-se a Copaifera spp. Em face das diversas pressões antrópicas atuantes sobre os ecossistemas amazônicos, a exploração do óleo-resina da copaíba, por meio de manejo florestal, pode constituir-se numa importante atividade para a conservação das florestas e manutenção da tradição extrativista das populações locais. Dentre os fatores de manejo que podem ser considerados, estão o potencial produtivo dos diferentes morfotipos de copaíba encontrados na região e os fatores ambientais que influenciam a produção do óleo-resina.

As estimativas de produção de óleo de copaíba podem variar ainda em relação ao tipo de manejo para a retirada do óleo e do período entre extrações consecutivas. A re-extração em uma mesma árvore também deve ser considerada quando se planeja produzir óleo-resina de copaíba.

No bioma amazônico ocorrem várias espécies do gênero Copaifera, entretanto, normalmente sua identificação botânica não é feita de forma sistemática (VEIGA Jr. e PINTO, 2002), o que tem limitado a identificação no nível de gênero ou no conhecimento empírico das características morfológicas da casca e das folhas (PLOWDEN, 2003).

Atualmente estão sendo desenvolvidas pesquisas na região no que concerne a produção do óleo (melhor época de coleta em função da sazonalidade), avaliação química, física e biológica do óleo, o qual têm se mostrado como uma boa alternativa no combate à fitopatógenos (OLIVEIRA, et al., 2006).

Outra espécie que vêm sendo estudada é o curauá. O curauá, cujo nome científico, Ananas comosus var. erectifolius (L. B. Smith) Coppens & Leal, é uma planta da região amazônica com grande potencial para o uso de suas fibras lignocelulósicas (FROLLINI et al., 2000). Embora seu fruto seja comestível, o interesse econômico pelo curauá está primordialmente associado às fibras extraídas de suas folhas. As fibras extraídas são

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Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011 S5784 relativamente macias e com elevada resistência mecânica, comparativamente com outras fibras lignocelulósicas.

O soro resultante do processamento das folhas ainda pode servir como adubo orgânico. Possui ainda propriedades medicinais, sendo mencionado na literatura atividades antiinflamatória, hipoglicêmica, imunomoduladora, anticoagulante e antiviral relacionadas aos polissacarídeos mucilaginosos encontrados em diferentes espécies vegetais e que foram encontrados também nesta espécie, que é tradicionalmente utilizada como planta medicinal para a cicatrização de ferimentos causados pelos instrumentos utilizados para o desfibramento de suas folhas. Testes microbiológicos mostraram que a espécie apresenta atividade antibacteriana contra cepas clínicas e padronizadas de Staphylococcus aureus (FUJIHASHI& BARBOSA, 2002).

No Brasil e no exterior, a fibra de curauá é submetida à frequentes pesquisas, que vêm apresentando resultados significativos, o que torna essa espécie a mais promissora entre as espécies produzidas na Amazônia brasileira.

O centro de origem do curauá é a Região Amazônica, portanto, essa planta somente se desenvolve em clima quente e úmido (REIS et al., 2004). Pela qualidade da fibra, o cultivo do curauá pode ser uma das alternativas do aproveitamento de plantas da Amazônia. No entanto, é de fundamental importância o desenvolvimento de ações de pesquisa sobre métodos de cultivos, consórcios agroflorestais, aproveitamento dos subprodutos, beneficiamento, bem como estudos referentes à qualidade das fibras.

Resultados mostram que em condições mais sombreadas, a produção do curauá se dá de modo mais eficiente, em relação aos plantios à pleno sol (CORDEIRO, et al., 2010).

Atualmente, as pesquisas que vêm sendo realizadas com esta espécie, são em função de aumentar sua produção nas comunidades amazônicas, pois a demanda de mercado por suas fibras é maior do que a oferta. Para se ter uma idéia o produtor tradicional fornece o quilo das folhas de curauá por R$0,10, enquanto o quilo de suas fibras a R$5,00.

Além disso, a fibra de curauá está sendo utilizada por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para substituir a fibra de vidro no reforço de materiais poliméricos. As aplicações da fibra vegetal são variadas. Pode ser usada tanto em pára-choques de carros como na confecção de componentes de aparelhos eletroeletrônicos. A nova técnica, já patenteada, resulta de uma pesquisa coordenada

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Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011 S5785 pelo professor Marco Aurélio De Paoli, do Instituto de Química da Universidade. A compatibilidade da fibra de curauá com a matriz polimérica foi obtida por meio do tratamento com plasma a frio, método de baixo custo e que não gera resíduos. Durante experimentos em laboratório, os pesquisadores constataram que a fibra vegetal apresentou propriedades mecânicas comparáveis às de fibra de vidro. O curauá, custa bem menos que a fibra de vidro, além de ser biodegradável.

Outra espécie que tem grande destaque na Amazônia é a andiroba (Carapa guianensis Aubl.). É uma árvore do sub-dossel ou dossel que ocorre preferencialmente em áreas mais úmidas da floresta de terra firme. A andiroba é uma das árvores de multiuso mais conhecida da região. A madeira de excelente qualidade é apontada como sucedânea do mogno (Swietenia macrophylla), e o óleo extraído de suas sementes é muito procurado para uso medicinal e cosmético. A sua exploração extrativista é cada vez mais promissora e inevitável, e pode ser futuramente ainda mais intensificada (FERRAZ, et al., 2002).

Existem ao menos dois processos de extração do óleo de andiroba. As comunidades indígenas e caboclas da região Norte utilizam um método artesanal que consiste em: as sementes frescas de andiroba são cozidas, em seguida permanecem em descanso na sombra por algumas semanas. Ao iniciar o processo de desprendimento do óleo, verificado através do tato, deve-se separar a casca da semente e socá-la em um pilão. Quando esse material estiver bem amassado, ele passa a ser chamado de “pão – de - andiroba” que é colocado ao sol acima de uma superfície inclinada para liberar gradativamente o óleo por gotejamento. Para produzir um litro de óleo é necessário processar cerca de 27 kg de sementes (Gonçalves 2001). O outro método, mais industrial, consiste em: as sementes são quebradas em pedaços que mais uma vez são reduzidos a pequenas frações. Posteriormente, são conduzidas a uma m 8% de umidade (PINTO, 1963).

O óleo da andiroba é extremamente amargo e é usado para iluminação, para preparação de sabão e cosméticos. Em pequenas quantidades, o óleo é muito usado contra distensões musculares e demais alterações dos tecidos cutâneos. Alguns grupos indígenas e populações tradicionais o utilizam como repelente de insetos (Pinto, 1963). Na ilha de Marajó (PA) é usado no tratamento da artrite. A Fundação Osvaldo Cruz lançou no mercado velas de andiroba que são indicadas para repelir mosquitos transmissores de doenças como a dengue e a malária.

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Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011 S5786 O chá da casca e das flores também pode ser usado como remédio para combater infecção bacteriana. O cerne é utilizado como fungicida (HAMMER & JOHNS, 1993).

Segundo alguns relatórios do IBGE (1996/98), entre as décadas de 70 e 80, uma média de 310 t de amêndoas de andiroba foram exportadas, porém não se discriminou o uso que os importadores deram a estas sementes. De acordo com informações obtidas de comunitários é possível extrair cerca de 1,2 t/ano de óleo de andiroba da Floresta Nacional do Tapajós (GOLÇALVES 2001).

Há, portanto, uma necessidade para conservar este recurso natural, e para tanto deve-se em primeiro lugar reunir informações sobre estas espécies, principalmente para subsidiar projetos de propagação e para desenvolver seu manejo adequado.

Nesse sentido, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão ambiental do governo brasileiro, criado pela lei 11.516, de 28 de agosto de 2007, coordena pesquisas desde 2010 no Pará, voltadas ao manejo da andiroba, com a colaboração da Universidade Federal do Oeste do Pará, bem como, da Universidade Estadual de Campinas. Um dos objetivos é envolver as comunidades tradicionais que exploram de forma artesanal os óleos de andiroba e copaíba, no sentido de estruturar e desenvolver um sistema de manejo para os óleos como alternativa para o desenvolvimento de comunidades extrativistas na Floresta Nacional do Tapajós.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O número de instituições que têm atividades vinculadas à conservação de germoplasma de plantas medicinais e aromáticas é inversamente proporcional à riqueza da biodiversidade do País. É evidente a necessidade de ações concretas para a geração de novos conhecimentos e para a sistematização das informações existentes.

Tendo em vista as pesquisas aqui mencionadas e a inegável necessidade de consolidar práticas de conservação de plantas medicinais e aromáticas por meio da integração do conhecimento científico e o saber local, é evidente a necessidade de mais estudos que venham a ser desenvolvidos numa perspectiva interdisciplinar capaz de obter consistentes informações particulares de cada região, em especial da Amazônia, por meio do conhecimento tradicional como uso e conservação do solo, estrutura da vegetação, disponibilidade de recursos, sistemas agrícolas sustentáveis, taxas de extrativismo, e informações de mercado tanto da exploração quanto do comércio ilegal dos produtos para que assim, os estudos passem a contemplar melhores práticas de

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Hortic. bras., v.29, n. 2 (Suplemento - CD ROM), julho 2011 S5787 manejo, conservação e uso sustentável dos recursos genéticos de plantas medicinais e aromáticas do bioma aqui exposto.

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REFERÊNCIAS

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Referências

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