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2. Riscos Naturais Campos em Socalcos e Incêndios Florestais

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2. Riscos Naturais

Actualmente, os países do sul da Europa são confrontados com os mais variados tipos de riscos naturais. Destes, destacam-se aqueles que estão relacionados, numa primeira abordagem, com condições meteorológicas, às quais os sistemas existentes não conseguem dar resposta.

As paisagens de socalcos, fruto da tenacidade e da capacidade de adaptação do homem ao meio, constituem uma herança cultural, que também ela traduz a a preocupação pelo risco.

2.1. Campos em Socalcos e Incêndios Florestais

Os incêndios florestais constituem um dos principais riscos naturais associados às áreas montanhosas de Portugal e tornaram-se no principal agente modificador da paisagem serrana (fot. 107).

As suas consequências directas revelam-se imediatamente quer através do envolvimento de numerosos meios de combate quer dos milhares de hectares de floresta queimada.

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Com menor visibilidade, mas com consequências bem mais nefastas, surge, por vezes, a destruição de áreas sociais ou a evacuação dos seus residentes mais vulneráveis (crianças e idosos) e a vivência de muitas situações aflitivas na salvaguarda tanto das habitações, que constituem as aldeias serranas, como dos parcos haveres.

Por outro lado, o desequilíbrio desencadeado pelos incêndios acarreta efeitos subsequentes na paisagem que se fazem sentir logo após as primeiras chuvas e podem perdurar no tempo, ao longo de vários anos, nomeadamente os resultantes da erosão acelerada das vertentes.

Foi, sobretudo, a partir de meados da década de 70, do século passado, que o problema dos incêndios florestais se começou a conhecer, assumindo uma frequência significativa, com alguns deles a registarem elevada magnitude (LOURENÇO, L.; NAVE, A., 2006a).

Para que não restem dúvidas sobre essa frequência e magnitude, elaborou-se uma carta de reincidência das áreas ardidas, que dá conta da recorrência dos incêndios florestais ao longo dos últimos 30 anos. Será dado especial enfoque a dois momentos particularmente dramáticos para a área de estudo, correspondentes aos anos de 1987 e, mais recentemente, de 2005, destacando-se o papel que os socalcos desempenharam ou poderiam ter desempenhado na progressão do fogo, pela compartimentação que imprimem à floresta, como na defesa das aldeias afectadas por estes dois incêndios.

O risco dendrocaustológico, ou seja, de incêndio florestal, resulta de um complexo conjunto de factores repartidos por causas de natureza física e humana. De entre os aspectos de natureza física, as condições meteorológicas são fundamentais para justificar a ocorrência de incêndios florestais, pois estes só se desenvolvem quando as situações meteorológicas se revelam favoráveis (temperatura do ar elevada, humidade relativa baixa e vento moderado a forte). De igual modo, certas condições geomorfológicas podem favorecer o desenvolvimento de incêndios florestais. Estas referem-se essencialmente aos declives e à exposição das vertentes. Quanto mais acentuados forem os declives, tanto mais difícil será a extinção do fogo, quer devido a dificuldades de acessibilidade aos meios de combate, quer ao facto de mais facilmente se formarem ventos locais, sobretudo em zonas com orografia acidentada que, em regra, aumentam a velocidade de progressão das chamas (LOURENÇO, L., 1996).

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Também a composição e a estrutura do coberto vegetal podem influenciar o maior ou menor risco de incêndio numa determinada área florestal. Com efeito, o grau de combustibilidade irá variar, consoante o tipo e estado das espécies aí existentes. Por outro lado, a existência ou não, de diversos estratos (arbóreo, arbustivo e herbáceo), bem como de manta morta, determinará uma maior ou menor carga de combustível acumulado.

Como vimos anteriormente, esta região de montanha caracteriza-se pela existência de extensas áreas de monocultura de pinheiro bravo (Pinus pinaster) e de eucalipto (Eucalyptus glubolus). As formações arbustivas são, na sua maioria, constituídas por matos, compostos por espécies mediterrâneas de elevada inflamabilidade, nomeadamente, diversas variedades de urzes (Erica sp.), giestas (Cytisus sp.) e tojos (Ulex sp), bem como, além destas, também o medronheiro (Arbutus unedo), a carqueja (Chamaespartium tridentatum) e a esteva (Cistus ladanifer). A metodologia usada para avaliar a importância que os socalcos podem vir a ter na prevenção de incêndios florestais parte da análise das situações passadas. Assim, o ponto de partida assenta na análise das estatísticas referentes ao número de ocorrências e ao total da área ardida verificada entre 1980 e 2005. Temporalmente, a série de anos estudada deverá ser a mais longa possível pois, só assim, se traçará um perfil histórico-geográfico fiável.

Paralelamente, houve a necessidade de recorrer a levantamentos cartográficos das áreas ardidas nos últimos 30 anos, desde 1975 até 2005. Desta forma foi possível não só quantificar á área ardida, mas sobretudo, localizá-la no espaço, revelando com maior exactidão a frequência e magnitude dos incêndios florestais, através de uma carta de reincidência das áreas ardidas.

Analisando a evolução do número de incêndios e consequente área ardida entre os anos de 1980 e 2005, em ambos os casos, a linha de tendência aponta para um claro aumento em consequência da situação vivida no ano de 2005. No entanto, sobretudo após o ano de 1992, no qual arderam mais de 16 000 ha de floresta, houve anos em que os quantitativos de área ardida registados foram diminutos. No que respeita ás ocorrências essa diminuição não foi tão notória (fig. 46).

Com efeito, pode concluir-se que, em termos de área ardida, a evolução é cíclica, ou seja, após fases de maiores quantitativos, seguem-se anos a registar menores áreas ardidas. O ano de 2005 veio incutir uma ruptura na descida na linha de tendência, resultante do período compreendido entre 1993 a 2004, a registar valores médios muito baixos, quando comparado com os 13 anos anteriores.

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Quanto ao número de ocorrências, a distribuição é mais irregular e aparentemente, não se pode estabelecer, com igual certeza, um padrão evolutivo, dado que os valores máximos atingidos apresentam uma distribuição mais ou menos aleatória, correspondente aos anos de 1995, 1998 e 2005.

Os anos com maior número de ocorrências nem sempre correspondem aos de maiores áreas ardidas, pelo que, do ponto de vista dendrocaustológico, houve anos caracterizados pela ocorrência de incêndios florestais de grandes dimensões. De igual forma, através dos valores médios anuais de área ardida e do número de ocorrências registados nos concelhos (fig. 47), verifica-se que é no de Arganil que os incêndios assumem as maiores proporções, contrariamente, ao concelho de Oliveira do Hospital, com uma orografia menos acidentada e uma maior densidade populacional, regista um elevado número de ocorrências relativamente a área ardida efectiva.

Fig. 47: Relação entre número de ocorrências e área ardida (média anual 1980 - 2005) Fig. 46: Valores totais de número de ocorrências e área ardida nos concelhos de Oliveira

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2.1.1. Reincidência da área ardida

A regeneração natural das espécies herbáceas e arbustivas, faz-se notar logo nos meses seguintes ao incêndio (fot. 108). No entanto, só após alguns anos, estas áreas voltam a atingir níveis de combustibilidade e propagação elevados, capazes de originar grandes incêndios.

Fot. 108: Pormenor da regeneração natural de urze e carqueija, Lomba do Bago.

No entanto, quanto maior for a frequência dos incêndios sobre uma determinada área, menor será a possibilidade de espécies arbóreas se regenerarem e desenvolverem. Em consequência, as espécies herbáceas e arbustivas de crescimento rápido acabam por dominar a paisagem.

Por sua vez, a localização das áreas ardidas ao longo dos últimos 30 anos, permitiu quantificar as diferenças existentes entre os campos em socalcos próximos dos aglomerados populacionais e os espaços agro-florestais circundantes, mais afastados (fig. 48) (LOURENÇO, L. e NAVE, A., 2006b).

Relativamente à área de estudo propriamente dita, pode verificar-se que a área nunca atingida por incêndios florestais é de 22 % (fig. 49). Em contrapartida, as classes 1 e 2 registam os maiores efectivos, correspondendo a 59 % da totalidade de área ardida. Finalmente, é de referir a percentagem de 0,35 % registada nas classes 5 e 6, correspondendo a um total de 52,3 ha, relativos a uma área de cabeceiras de linhas de água, localizada no Monte do Colcurinho e no Outeiro dos Penedos (fot. 109), o que significa que estas áreas arderam, em média, de 5 em 5 ou de 6 em 6 anos.

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Fig

. 48:

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Mais especificamente, a reincidência das áreas ardidas nos 1846,3 ha de campos em socalcos inventariados, concentra-se maioritariamente nos graus de reincidência 1 e 2, num total de 7,6 % do total da área de estudo. Apesar de abranger uma pequena área, o grau de reincidência mais elevado encontrado em socalcos, atingiu a classe 4 e localiza-se na freguesia de Moura da Serra.

Ora, o ser humano, enquanto agente modelador da paisagem, suavizou declives, criou patamares e reconduziu linhas de água, de forma a criar condições para o cultivo. A manutenção regular desses espaços permite que se conservem por muitos anos.

Com efeito, a diminuição da população que afecta grande parte das freguesias do interior destes concelhos teve como consequência o abandono progressivo da agricultura, bem como do espaço que tinha sido modelado para esse fim.

Fot. 109: Ao fundo, à esquerda, observa-se o Outeiro dos Penedos e, á direita, o Monte

do Colcurinho. A meio da vertente, do lado esquerdo, a aldeia do Chão Sobral.

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Deste modo, a degradação de alguns desses espaços é inevitável e a natureza, a pouco e pouco, vai reconquistando esses patamares, reorientando o «perfil de equilíbrio dinâmico das vertentes, se o homem, entretanto, deixar de as conservar» (LOURENÇO, 1995).

Consequentemente, as terras férteis acabam por ser ocupadas com estratos arbustivos e arbóreos de surgimento espontâneo ou são alvo da reconversão dos campos agrícolas em áreas florestais (fot. 110).

Nas freguesias mais isoladas, o envelhecimento da população e o fim da actividade agrícola, leva à falta de manutenção dos socalcos, originando o aumento da carga combustível nos campos abandonados e, consequentemente, dos riscos de ignição e de propagação de incêndios nestas zonas serranas.

Os campos em socalcos desenvolvem-se geralmente em redor das povoações, cuja proximidade facilita o seu cultivo, o que mantém a floresta densa afastada das zonas habitacionais.

As descontinuidades da cobertura vegetal arbórea criadas pelos socalcos não abandonados actuam como «aceiros verdes produtivos» que, quando não são suficientes para impedir totalmente a propagação do fogo, pelo menos, facilitam o seu combate (fot. 111).

Fot. 110: Simultaneidade de estratos

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Por outro lado, a existência de culturas hortícolas e de vegetação herbácea nos prados e nas pastagens dos socalcos em uso, associadas à manutenção e conservação de linhas e pontos de água que os abastecem, contribuem também para o controlo dos níveis de humidade, que, geralmente, são mais altos do que nas áreas de mato e floresta envolvendo os campos em socalcos, o que localmente, reduz o risco de incêndio (fot. 112).

Fot. 112: Áreas não ardidas, correspondentes a campos em socalcos, em redor de

Chão Sobral, Agosto de 2005.

Fonte: Gabinete Técnico Florestal da Câmara Municipal de Oliveira do Hospital.

Com o intuito de perceber melhor o papel dos campos em socalcos, enquanto estruturas redutoras da manifestação do risco dendrocaustológico, analisou-se a área neles ardida durante os grandes incêndios ocorridos nos últimos 30 anos.

Em primeiro lugar deve referir-se que, na maior parte das vezes, as áreas de socalcos ardidas, são aquelas que se encontram mais afastadas das povoações, por terem sido votadas ao abandono prematuramente e que, por isso, apresentam uma fisionomia vegetal propícia à progressão do fogo.

No entanto, a escala de análise dos levantamentos cartográficos nem sempre é suficientemente pormenorizada, o que não permite uma análise exaustiva das áreas de socalcos, dado que os aglomerados urbanos e os campos de socalcos não ardidos existentes em seu redor, são, com frequência, incluídos na área queimada.

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No primeiro caso, o grande incêndio destruiu cerca de 10 900 ha de floresta (D. VIEGAS, L. LOURENÇO et al, 1998), dos quais, 6 144,8 ha pertenciam à área de

estudo do projecto Terrisc. Nesse ano, a área de campos em socalcos afectada foi ligeiramente superior a 720 ha, na sua maioria situados em áreas de declives muito elevados e mais afastados dos aglomerados populacionais e, por isso, há muito abandonados (fig. 51).

Por sua vez, no recente ano de 2005, viveu-se uma situação semelhante. Em termos quantitativos, o incêndio afectou uma área de 16 300 ha de floresta. A área de estudo afectada foi ligeiramente superior, ultrapassando 6 444 ha. No entanto, a área ardida em campos em socalcos foi ligeiramente inferior, 584,7 ha (fig. 52). A grande diferença, em relação a 1987, foi o facto deste incêndio ter ameaçado mais de perto alguns aglomerados populacionais, pois o estado de abandono dos campos em socalcos sobranceiros ás povoações estava muito mais avançado. A intensidade e a velocidade das chamas foram de tal ordem que grande parte dos campos situados em redor dos aglomerados populacionais espalhados pela serra foram queimados.

Assim, não foi possível estabelecer uma relação directa entre o estado de abandono e o aumento das áreas ardidas em campos de socalcos, designadamente por se desconhecer com precisão o ano em que ocorreu o abandono e porque a cartografia dos incêndios nem sempre beneficiou do mesmo rigor nos respectivos levantamentos anuais.

No entanto, verifica-se que apenas nos grandes incêndios de 1981, 1987 e 2005 ardeu uma área significativa em campos de socalcos, com especial destaque para os grandes incêndios de 1987 e 2005 (fig. 50).

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Fig. 51: Área ardida nas bacias hidrográficas em estudo, no ano de 1987.

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Na verdade, apenas as casas de habitação ficaram por arder, fruto da concentração de meios de combate nesses locais (fot. 113).

A principal conclusão que se poderá tirar, prende-se com o facto dos campos em socalcos, apesar do estado de abandono de grande parte deles, possuírem um maior nível de resistência aos incêndios do que as restantes áreas das vertentes em que estão inseridos e, por isso, oferecerem maior protecção aos aglomerados populacionais.

Com efeito, a organização em terraços permite interromper a continuidade do estrato arbustivo. Quando se trata de campos com espécies arbóreas, a continuidade destas, tanto horizontal como vertical, pode e deve ser reduzida, devendo preferencialmente ser formadas por folhosas de crescimento lento (castanheiros e carvalhos), de modo a constituírem verdadeiras faixas de protecção aos aglomerados.

Como vimos, uma das primeiras consequências do abandono dos socalcos é o repovoamento das áreas outrora agrícolas por espécies arbustivas (e arbóreas, numa segunda fase) de crescimento espontâneo.

Deste modo, lentamente, a floresta vai-se aproximando das povoações, trazendo consigo, o aumento do risco de incêndio florestal (fot. 114).

Fot. 113: Povoação da Gramaça. Fot. 114: Lugar do Soito da Ruiva.

Fonte: Gabinete Técnico Florestal da Câmara

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O mato, outrora aproveitado para «as camas» do gado (fot. 115), para acender a lareira e o fogão a lenha e para aquecer o forno, cresce agora e alastra-se nos socalcos abandonados, criando por vezes zonas intransponíveis que chegam a esconder qualquer vestígio da existência de muros de suporte. Esta biomassa combustível, não só potencia a ignição de incêndios, mas também favorece a sua propagação e, acima de tudo, dificulta a progressão no terreno de homens, veículos e máquinas de combate a incêndios.

Fot. 115: Vestígios de uma recolha recente de mato para a cama dos animais, Alentejo.

Consequentemente, o aumento do risco de incêndio nos socalcos abandonados origina também o seu aumento nas zonas habitadas sobranceiras a estas estruturas, uma vez que a vegetação espontânea e o «clima de base claramente mediterrânea» (F. REBELO, 2003), assumem-se, respectivamente, dois dos principais

agentes do risco de incêndio.

Deste modo, a abordagem aos incêndios florestais, deve insistir na tónica da prevenção. As populações serranas devem ser protegidas dos fogos florestais. Contudo, essa protecção não pode ficar apenas por medidas activas, na maior parte das vezes, levadas a cabo, quando a crise já está instalada.

Com efeito, por mais medidas defensivas que se adoptem, o fogo encontra sempre «elos fracos» por onde consegue progredir, dificultando a sua extinção e provocando danos irreparáveis e, por vezes, até perda de vidas humanas.

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Todavia, os campos em socalcos, enquanto matriz paisagística comum a todos os povoados serranos, poderão ser entendidos como estruturas anti-fogo, isto é, áreas de defesa e contenção do fogo em redor dos espaços urbanizados, desde que o coberto vegetal seja alvo de uma redução e de uma gestão capaz de diminuir a velocidade de progressão e a intensidade das chamas, quando estas se dirigem para as povoações (LOURENÇO, L.; NAVE, A.; PEREIRA, N.; SILVA, M.;

CARVALHO, A.; FIALHO, J., 2006).

De igual modo, o risco de ignição de um fogo junto às casas, onde as actividades humanas são mais frequentes e variadas, também diminuirá. E, no caso de eclosão, também diminui o perigo de propagação em direcção às áreas florestais circundantes, uma vez que, naquelas circunstâncias, os socalcos funcionam como efectivas faixas de protecção. Com estas medidas simples, muitos grandes incêndios poderiam ter sido ou vir a ser evitados. Por exemplo, o grande incêndio de Julho de 2005, que teve o seu ponto de ignição no lugar de Malhadas Cilhas, freguesia da Vide, numa área de socalcos bem próxima das habitações, poderia não ter ficado para a história.

As consequências dos incêndios florestais, não se fazem sentir apenas a curto prazo, enquanto dura o combate às chamas. De imediato, as perdas económicas e sociais relacionadas com a destruição da floresta, com a destruição de património ou, no pior dos casos, com a perda de vidas humanas, são as mais sentidas. No entanto, os seus efeitos negativos perduram no tempo, ao longo de vários anos. (L. LOURENÇO, 1996)

A destruição do coberto vegetal, deixará estas áreas mais vulneráveis à erosão, ao escoamento torrencial e aos movimentos em massa. Assim, o incêndio florestal torna-se a principal causa para que outros riscos naturais possam manifestar-se e afectar pessoas e bens.

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2.2. Erosão nos campos em socalcos

A erosão, definida como o conjunto de processos – desgaste, transporte e acumulação – que modelam a superfície da terra (BATOUXAS e VIEGAS, 1998),

resulta da conjugação dos agentes naturais presentes, das condições geomorfológicas e do tipo de coberto vegetal. Como tal, cada área será mais ou menos propensa a determinados processos erosivos, mediante as condições meteorológicas que se fizerem sentir, o tipo de litologia e existência ou não de vegetação.

Os processos que contribuem mais directamente para a erosão na área de estudo são a precipitação e o gelo, enquanto que, indirectamente, são o relevo e os incêndios florestais e, por consequência, a inexistência de coberto vegetal. Os processos ligados ao impacto da gota de água no solo, usualmente designado por splash, podem ser muito acentuados e, são particularmente importantes numa primeira fase, quando do destacamento das partículas (fot. 116). No entanto, este só será considerado se ainda não houver água de escorrência suficiente para amortecer o impacte, sendo o responsável pela criação das superfícies de colmatação ou OPS – organizações peliculares superficiais (CORDEIRO, A. M. R., 2004) (fot. 117).

Fot. 116: Pequenas «chaminés de fada». Fot. 117: Superfície de colmatação num

patamar, Porto Silvado.

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Por sua vez, o gelo também assume uma importância significativa no que respeita à preparação do material para ser posteriormente arrastado, através do destacamento das partículas, efectuado pelas agulhas de gelo (fot. 118). Estas formam-se em altitude, em noites muito frias, normalmente correspondentes a situações anticiclónicas e em locais onde o solo se apresenta desprovido de vegetação. Os pequenos clastos destacados que ficaram disponíveis para serem transportados pelas primeiras chuvas, apresentam dimensões que, nos casos observados, variam entre mícrones e 2 cm.

O declive é essencial para que se verifique erosão (fot. 119), sendo considerado como o limiar o valor de 30% para desencadear movimentação (REBELO, F. e CAMPAR, A., 1986). Contudo, o declive, por si só, pode não ser

muito relevante, mas se conjugarmos elevados declives com falta de vegetação, obtemos uma erodibilidade muito elevada.

Fot. 118: Pormenor de uma agulha de gelo

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2.2.1. Condições meteorológicas

Assim, para compreender e avaliar o papel dos socalcos no controlo da erosão foi fundamental monitorizar as condições meteorológicas locais, principalmente no que respeita à pluviosidade. Apresentam-se de forma descritiva os valores mensais registados nas três estações meteorológicas, relativos ao período de 01 Janeiro a 30 de Setembro de 2006.

Atribuiu-se mais importância às variáveis de temperatura e pluviosidade, visto que para um estudo de erosão torna-se imprescindível o conhecimento detalhado do comportamento destas variáveis no espaço e, principalmente, no tempo.

A estação meteorológica do Colcurinho encontra-se a 650 m de altitude, numa latitude de 40º16’44’’N e longitude de 7º49’57’’W. No referido período, a estação registou um total de 748 mm de chuva. Em termos de temperatura, registou uma média de 15 ºC, com uma máxima absoluta de 38,5 ºC e uma mínima de -3,5 ºC.

A humidade relativa média foi de 64,2%. O vento soprou em média com uma velocidade de 3,9 km/h, tendo atingido 98,2 km/h em rajada máxima. No que respeita à pressão atmosférica, a média foi de 947,5 mb.

Do conjunto dos meses destacam-se Janeiro, Fevereiro e Março, onde os quantitativos pluviométricos foram relativamente elevados (fig 53), com realce para os 205 mm do último mês referido.

Fig. 53: Gráfico termopluviométrico da estação meteorológica do Colcurinho, para o

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Os meses mais secos foram Abril e Maio, já que em Junho, Julho e Agosto se registou alguma queda pluviométrica, principalmente derivado a fenómenos termoconvectivos, precipitando grandes quantidades de água, muito concentradas no tempo e no espaço.

Relativamente à temperatura, observou-se, em termos médios, uma subida gradual entre Janeiro, com uma média mensal de 5 ºC, e Julho, com 22 ºC. A partir deste mês, a temperatura média mensal iniciou uma descida gradual de acordo com a época do ano.

A estação meteorológica de Loriga encontra-se a 633 m de altitude, numa latitude de 40º19’06’’N e longitude de 7º41’52’’W.

No referido período, a estação registou 908,8 mm de chuva. Em termos de temperatura registou uma média de 14,2 ºC, com uma máxima absoluta de 37,4 ºC e uma mínima de -4,7 ºC. A humidade relativa média foi de 69,9 %. O vento soprou, em média, com uma velocidade de 2,3 km/h, tendo atingido os 75,6 km/ h em rajada máxima. No que respeita à pressão atmosférica média, foi de 950,8 mb. A distribuição da precipitação ao longo do referido período foi muito semelhante à do Colcurinho, ainda que, Loriga tivesse registado quantitativos absolutos mais elevados (fig. 54). Os meses que mais contribuíram para esta diferenciação, foram Abril, onde se registaram 142 mm, e Setembro, com 103 mm. Em contrapartida, o mês de Julho foi muito seco comparativamente aos valores registados na estação do Colcurinho. A temperatura teve um comportamento bastante idêntico, onde apenas a média do mês de Julho é mais baixa.

Fig. 54: Diagrama ombrotérmico da estação meteorológica de Loriga, para o período de

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A estação meteorológica do Piódão encontra-se a 695 m de altitude, numa latitude de 40º13’42’’N e longitude de 7º49’44’’W.

No referido período, a estação registou um total de 993,6 mm de chuva. Em termos de temperatura registou uma média mensal de 14,7 ºC, com uma máxima absoluta de 38 ºC e uma mínima de -3,4 ºC. A humidade relativa média foi de 64,2 %. O vento soprou, em média, com uma velocidade de 1,2 km/h, tendo atingido 69,2 km/h em rajada máxima. No que respeita à pressão atmosférica média, foi de 927 mb.

A precipitação, ao longo do tempo do registo, distribuiu-se de forma muito semelhante aos dois casos já apresentados. Apenas merecem destaque os meses de Junho e Julho, com 58 mm e 95 mm, respectivamente (fig. 55). Esta queda pluviométrica, derivada dos já referidos fenómenos termoconvectivos, concentrou-se não só em poucos dias do mês, mas também e sobretudo em poucas horas.

Desventuradamente, as estações meteorológicas estavam programadas para registarem dados com intervalos de 30 minutos e, nos dois episódios mais intensos, embora com duração inferior a esse intervalo de tempo, acabaram por distribuir o valor total por dois intervalos consecutivos, o que não permite determinar com precisão a intensidade da precipitação observada nesses episódios, que foram responsáveis por avultados danos nas infra-estruturas, tendo, mesmo levado à perda de uma vida humana, como veremos adiante.

Fig. 55: Gráfico termopluviométrico da estação meteorológica do Piódão, para o período

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2.2.2 As parcelas de erosão

A erosão em campos de socalcos foi calculada através de recolhas periódicas e sistematizadas da água e dos sedimentos armazenados nas parcelas de erosão (fot. 120), bem como das condições meteorológicas locais registadas nas estações meteorológicas.

A conjugação dos vários registos permitiu criar uma série de gráficos que mostram a forma como a erosão se comportou nas diversas parcelas instaladas, em função do seu coberto vegetal, litologia, declive e outras situações que condicionam a erosão nos campos em socalcos (LOURENÇO, L;

MONTEIRO, R., 1989).

De forma a melhor perceber o papel dos socalcos na regulação hídrica, através da análise comparativa, recorreu-se a um trabalho efectuado nas Malhadas, Serra da Lousã, em 1989 (LOURENÇO, L., 2004). Nesse trabalho, tinham sido

instaladas parcelas de erosão, muito idênticas às usadas no projecto Terrisc, em vertentes sob diferentes condicionalismos físicos. Assim, foi possível comparar dados obtidos nos campos em socalcos, cujos patamares registam declives compreendidos entre 13% e 26%, e em vertentes naturais, semelhantes àqueles em que se encontram instalados, com declives superiores a 40%.

Observou-se que, de um modo geral, os efeitos erosivos em patamares se fizeram sentir essencialmente na sequência de períodos de longo abandono,

Fot. 120: Montagem da parcela de erosão

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conjugados com episódios de precipitação mais ou menos intensa (fot.121), variável em função da estrutura dos campos e do coberto vegetal neles instalado (LOURENÇO, L., 1992).

Além disso, por vezes, existem algumas pequenas estruturas complementares, nomeadamente diques, que ajudam a minimizar a acelaração e os efeitos da erosão hídrica. No entanto, a sua degradação ou destruição, potencia os efeitos erosivos, dando-lhes ainda mais significado (ROMERO MARÍN, L. ; RUIZ FLAÑO, P.

e PÉREZ-CHACÓN, E., 1994).

Com efeito, o rebentamento de uma dessas estruturas, ao provocar o desvio do escoamento superficial directamente para os campos agrícolas, vai conduzir, de um modo geral, à sua destruição parcial ou total (fot. 122), uma vez que não suportam esse acréscimo de água (BENNET, H. H., 1965).

Todavia, antes de analisar algumas situações concretas, considerámos os resultados obtidos nas parcelas experimentais que contemplam, em primeiro lugar, a análise comparativa entre escorrência (l/m2) e precipitação (mm). De

seguida, relacionámos os valores do material sólido erodido (g/m2), tanto com

a precipitação, como com a escorrência (l/m2), em igual período de tempo.

Para as parcelas experimentais que não detêm estação meteorológica, foram extrapolados os valores da mais próxima. Deste modo, Cimo da Ribeira e Porto Silvado assumem os valores de precipitação da estação do Colcurinho e Cabeça, que apresentam valores iguais aos obtidos em Loriga.

Fot. 122: Rebentamento de diques de protecção aos campos em socalcos.

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Assim, pôde observar-se que foi nas parcelas da bacia hidrográfica da ribeira de Loriga, nomeadamente as de Loriga e Cabeça, que a escorrência respondeu mais directamente à precipitação (fig. 56).

Na primeira, terá que se contar com um eventual ruído de fundo, dado que, no decurso dos trabalhos se verificaram situações de escoamento subterrâneo (a cerca de 5 cm abaixo da superfície), derivado da presença de uma levada na base do muro imediatamente a montante da parcela (fot. 123), água essa que, por vezes, rompia para a superfície, gerando uma escorrência considerável, que não se pode atribuir directamente à precipitação.

Sendo uma área granítica e com um declive de 16%, seria de prever uma escorrência com menos significado. No entanto, eliminando a situação descrita anteriormente, verificou-se um resposta directa da escorrência à precipitação (LOURENÇO, L.; FIALHO, J., 2006a).

A parcela de Cabeça, com um declive de 21 %, instalada em xisto, obtém, de igual modo, uma forte resposta da escorrência face à precipitação, derivado do facto de se tratar de uma área queimada em Julho de 2005.

As parcelas de Colcurinho, com um declive de 25 %, Porto Silvado, de 27 % e Piódão, de 21%, obtêm valores de escorrência idênticos entre si, mas, em termos relativos, a parcela do Colcurinho e do Porto Silvado, revelaram uma maior importância na escorrência, dado que os valores de precipitação aí registados foram inferiores aos do Piódão, em cerca de 245 mm.

Fig. 56: Comparação entre a escorrência e a

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Contrariamente, a parcela do Cimo da Ribeira, com um declive de 13 %, apresenta, para os mesmos valores de precipitação registados no Colcurinho, valores de escorrência muito inferiores. Pode apontar-se como principal causa, o facto de se tratar de uma área granítica, próxima de uma auréola de contacto com xistos, onde o substrato geológico se encontra muito meteorizado. Consequentemente, os materiais são mais permeáveis, verificando-se, por isso, valores de escorrência menores, em detrimento de uma maior infiltração.

No que respeita à relação entre o material erosionado e a precipitação, verificou-se que entre estas duas parcelas existiu uma resposta diferente, comparativamente com a da escorrência (fig. 57).

Neste caso, foi a parcela do Porto Silvado que apresentou os valores mais elevados de carga sólida transportada, na ordem dos 60 g/m2. Podemos apontar

como principais causas, o facto desta área ter ardido em 2005 e, por outro lado, por se encontrar no enfiamento de uma linha de água que, apesar de incipiente, se manifestou com relativa importância na sequência dos temporais ocorridos no final do Verão de 2006 e que desenvolveremos mais à frente.

A parcela de Cabeça assume o segundo valor mais alto do conjunto, dado que conjuga três factores preponderantes: declive ligeiramente mais acentuado, substrato xistoso e área ardida. Os restantes valores não têm grande significado no que respeita ao transporte de material sólido.

Na relação entre material erosionado e escorrência (fig. 58), destacam-se dois casos discrepantes. No primeiro caso, a parcela de Loriga, apesar da elevada escorrência (fot. 124), regista valores dos mais baixos de material erosionado.

Fig. 57: Comparação entre o material

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Contrariamente, a parcela de Porto Silvado, que se encontrava numa fase precoce de regenaração da vegetação, apresenta uma carga sólida mais elevada (fot. 125), apesar dos valores de escorrência serem bem inferiores.

Já na parcela de Cimo da Ribeira (fot. 126), o valor de material erosionado registado poderia indicar uma elevada competência da escorrência, mas, derivado

Fot. 125: Parcela de erosão do Porto Silvado, totalmente desprovida de vegetação,

Fevereiro de 2006.

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da natureza mais friável do regolito aqui existente, a operação de instalação provocou o destacamento inicial de partículas, que se reflectiu nos quantitativos de material recolhido nas primeiras semanas. As parcelas do Colcurinho (fot. 127), Piódão e Cabeça, apesar de registarem valores diferentes entre si, proporcionalmente, apresentam uma resposta muito idêntica.

Fot. 126: Parcela experimental de Cimo da

Ribeira, Novembro de 2005. Fot. 127: Parcela experimental doColcurinho, Maio de 2006. Com base nos dados disponiveís em trabalhos realizados entre 1988 e 1989 (LOURENÇO, L., 2004, p. 93-131), na Serra da Lousã, foi possível efectuar

comparações de valores de precipitação, escorrência e material erosionado, recolhidos em vertente e em socalco, em condições atmosféricas e litológicas idênticas, de forma a compreender o comportamento e o papel desempenhado pelos socalcos na regularização hídrica das vertentes.

Deste modo, sob coberto vegetal arbóreo, verificou-se que, para valores idênticos de precipitação, se registaram quantitativos de escorrência muito semelhantes, tanto em patamar como em vertente.

No entanto, no primeiro período de 2005, na parcela do Piódão, verificou-se que a escorrência foi mais elevada do que a registada nas semanas seguintes, o que resultou do facto da água das primeiras chuvadas ser obrigada a escoar-se à superfície, em virtude da camada hidrofóbica criada após o incêndio.

No que respeita à quantidade de material erosionado, ele é quase inexistente em ambas as parcelas, nunca ultrapassando 10 g/m2 (fig. 59).

(26)

Efectivamnete, verifica-se que, com vegetação, o comportamento da erosão é muito idêntico nos dois casos. Neste contexto, a presença de manta morta (fot. 128), por um lado, e a cobertura oferecida pela copa das árvores, por outro, são variáveis a ter em linha de conta para a diminuição do factor erodibilidade.

Em contrapartida, em área ardida (fot. 129), os valores de escorrência e de material erosionado, foram, em ambos os casos, mais elevados do que nas outras situações descritas. Na vertente, mesmo com precipitações inferiores às registadas no patamar, registam-se quantitativos de água de escorrência muito superiores (fig. 60). Com efeito, em função do maior declive, a escorrência aumenta, provocando a diminuição das taxas de infiltração e um consequente aumento da quantidade de material erosionado. No período de 13 a 27 de Fevereiro de 1989, a carga sólida transportada chegou a ultrapassar 300 g/m2

A análise comparativa dos resultados obtidos nas parcelas de erosão não deixa qualquer dúvida quanto ao importante papel desempenhado pelos socalcos enquanto infraestruturas anti-erosão, papel que ainda sai reforçado quando, a seguir, analisarmos os resultados das situações provocadas pelos episódios pluviosos extremos ocorridos em 1988 (LOURENÇO, L., 1988c) e em 2006.

Fig. 59: Análise comparativa dos valores do material erosionado e da escorrência,

registados nas parcelas do GAHC, na Serra da Lousã, em 1989 (à esquerda) e do Piódão, em 2006 (à direita), a primeira, sob coberto de castanheiros e, a segunda, sob-coberto de

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Fig. 60: Análise comparativa dos valores do material erosionado e da escorrência, registados

nas parcelas do GAMO, na Serra da Lousã, em 1989 (à esquerda) e do Porto Silvado em 2006 (à direita) ambas em áreas ardidas no ano imediatamente antecedente.

Fot. 128: Parcela experimental de GAHC,

instalada sob coberto de castanheiros. experimental de Porto Silvado, instaladaFot. 129: Pormenor da parcela em área ardida.

(28)
(29)

2.3. Reacção dos campos em socalcos a episódios pluviosos extremos

Os incêndios florestais, ao destruírem a vegetação e, por conseguinte, ao deixarem o solo exposto directamente ao embate das gotas de água da chuva, contribuem para acelerar os efeitos erosivos provocados pelas intempéries

(LOURENÇO, L. PEDROSA; A. FELGUEIRAS, J., 2000).

Com efeito, como a água das chuvas passa a precipitar-se sobre vertentes desnudadas, a sua acção erosiva intensifica-se, mesmo com valores normais de pluviosidade e aumenta significativamente quando, por vezes, a chuva se manifesta de forma mais violenta e concentrada, situações que originam uma erosão mais vigorosa (fot. 130) (FOURNIER, F., 1975).

Como estruturas capazes de contrariar estes processos erosivos, mormente após os incêndios florestais, surgem os socalcos, pois, enquanto se mantêm conservados, funcionam como verdadeiras estruturas anti-erosão (fot. 131).

Em condições normais de precipitação, nas áreas queimadas, como tivemos a oportunidade de verificar, os socalcos servem para travar a erosão. Contudo, com condições meteorológicas extremas, estas estruturas são, por vezes, danificadas e, então, assiste-se à plena manifestação do risco (fot. 132).

Fot. 130: Ravinamento de uma vertente

ardida, Casas Figueiras.

Fot. 131: Os socalcos, por interromperem o

declive natural das vertentes, desaceleram os processos erosivos.

(30)

A água proveniente da precipitação é um dos principais, senão mesmo o mais importante agente erosivo que actua neste palco, pelo que, a quantidade e a duração da precipitação serão preponderantes tanto para a desagregação das vertentes, como para o escavamento do leito e, ainda, para o arrastamento dos detritos. Quanto mais intensa for a precipitação, ou seja, quanto maior for a quantidade de água caída em menor período de tempo, tanto maior será o escoamento superficial, transmitindo uma enorme energia à água que se concentra nas ravinas e ribeiras, ganhando então uma força viva e, por conseguinte, uma capacidade5 e competência6 de transporte muito grandes (fot. 133).

Os efeitos dos temporais na intensificação da erosão em vertentes afectadas por incêndios florestais são já bem conhecidos (LOURENÇO, L., 1988c; LOURENÇO,

L. e DIREITO, A. C., 1994 e LOURENÇO, L. e LOPES, N. C., 2004), do mesmo

modo que estão identificados os tipos de locais onde o risco de erosão

Fot. 132: Socalcos parcialmente destruídos

por uma enxurrada, Loriga. abandonado no leito da Rib.ª do Piódão.Fot. 133: Bloco de grandes dimensões,

5 Capacidade, corresponde à maior quantidade de detritos que um rio pode deslocar como carga do leito (CRISTOFOLLETI, 1980, p. 73).

6 Competência, assinala o maior diâmetro encontrado entre os detritos transportados como carga do leito (idem).

(31)

normalmente se manifesta com mais intensidade e que correspondem sempre a intervenções antrópicas nas vertentes, que, no presente, a maior parte das vezes estão relacionadas com a abertura de estradas e caminhos florestais, enquanto que, no passado, foram feitas para transformar as vertentes declivosas em terras agrícolas, através da construção de socalcos, que ficavam protegidos das enxurradas por diques marginando os valados que recebiam a água das chuvas (fot. 134).

Fot. 134: Estrutura composta por dique e valado, na ribeira de Teixeira .

Sempre que, por falta de manutenção ou porque a carga arrastada não está em consonância com o dimensionamento das infra-estruturas de condução das águas pluviais, sejam os valados de antanho, sejam os aquedutos ou as manilhas de agora, ocorrem entupimentos que, de um modo geral, obrigam ao desvio dos cursos de água, que muitas vezes retomam os antigos leitos fossilizados, intensificando-lhes o seu poder erosivo.

No final da Primavera, início do Verão de 2006, ou seja, numa altura do ano em que estes fenómenos seriam pouco frequentes, ocorreram duas tempestades com forte intensidade pluviométrica, que afectaram a área de estudo.

No dia 16 de Junho de 2006, uma situação de instabilidade atmosférica levou à formação de trovoadas muito fortes, por todo o país. A cidade de Coimbra, assim como outras cidades portuguesas, foram atingidas por vários desses fenómenos atmosféricos, tendo provocado danos nas infra-estruturas, principalmente, viárias.

(32)

Sobre as bacias hidrográficas da ribeira de Pomares e da ribeira do Piódão, precipitaram-se, em menos de uma hora, cerca de 22 mm de chuva, sendo este valor muito elevado, se atendermos à curta duração do temporal7 (fig. 61).

As suas consequências, em termos erosivos, fizeram-se notar em toda a bacia, principalmente através das acumulações de detritos deixadas nas piscinas fluviais existentes em vários rios e ribeiras, como Soito da Ruiva, Sobral Magro, Pomares, Avô, Piódão, Foz de Égua e Vide (LOURENÇO, L. e PEREIRA, N., 2006a).

Verificaram-se, também obstruções de aquedutos com acumulação de detritos e ravinamentos a jusante, nas proximidades das Fontes do Cide, numa pequena barroca, afluente da Barroca da Figueira, por sua vez afluente da Ribeira do Gondufo (fig. 62).

As piscinas fluviais ficaram total ou parcialmente cobertas por material mineral, de todas as dimensões, arrancado às vertentes, ao qual se juntaram troncos e ramos de árvores queimadas. As estruturas ficaram completamente inutilizáveis e, no caso específico do Soito da Ruiva (fot. 135), a sua reabilitação será muito difícil, já que o acesso só se efectua a pé, e a população ficou com pouca força anímica para reverter a situação.

Fig. 61: Gráfico termo-pluviométrico do dia 16 de Junho, Piódão.

7 Registos da estação meteorológica do NICIF, nas proximidades do Piódão. Contudo, nas

cabeceiras da bacia hidrográfica, esse valor terá sido bem mais elevado, em função da maior altitude. De acordo com o testemunho de vários observadores locais, a duração de precipitação mais intensa terá tido entre 10 e 15 minutos, ocorrendo por volta das 17H30, razão pela qual aparece distribuída pelo intervalo 17:00 - 17:30 (12,45 mm) e 17:30 - 18:00 (9,65 mm).

(33)

No Sobral Magro, a represa também se encontrava danificada, já que, neste caso, os troncos e grandes ramos transportados pela enxurrada, «encalharam» na estrutura de betão, que serviu de barragem, tanto à água, como a todo o material por ela transportado (fot. 136).

Nas restantes piscinas fluviais os problemas foram idênticos aos descritos anteriormente, com a estrutura da represa bloqueada com troncos e ramos que obrigaram à deposição do material detrítico.

Ainda em consequência deste temporal, nas proximidades das Fontes do Cide, ocorreu uma situação típica das enxurradas após incêndios florestais e que

Fig. 62 : Áreas afectadas pelo temporal de 16 de Junho. Legenda: 1 – Área não ardida no

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Fot. 136: Pormenor da piscina fluvial do

Sobral Magro.

Fot. 135: Piscina, fluvial do Soito da Ruiva.

Fot. 137: Aspecto da obstrução do aqueduto nas imediações das Fontes do Cide.

levam ao entulhamento das manilhas das estradas (LOURENÇO, 1988b), que, neste

caso, levou a que a água corresse por cima desta, arrastando e acumulando detritos, não tendo, no entanto, danificado a via (fot. 137).

(35)

A particularidade desta situação, prende-se com o facto desta barroca ter funcionado e outra, situada a 500 metros a Nordeste, não ter funcionado com a mesma violência, o que nos permitiu localizar com relativa precisão o limite Norte da área submetida a precipitação intensa (fig. 62).

Na mesma estrada de acesso ao Gondufo e sensivelmente 750 metros a SSW da situação anterior, outra obstrução de entrada de manilha, provocou uma considerável acumulação de material sobre a estrada e o ravinamento do aterro da berma (fot. 138).

Pela importância dos seus efeitos, as consequências deste episódio pluvioso deveriam merecer maior desenvolvimento. Contudo, ainda estávamos a analisar essas consequências quando um novo episódio da mesma natureza veio perturbar a pacatez do dia-a-dia destes povos serranos. E, posteriormente, já este trabalho estava pronto para entrar na gráfica, ocorreu uma nova situação que, por esse motivo, não pôde ser investigada a tempo de ser aqui incluída, razão porque nos referiremos, apenas, à anterior. No entanto, entendemos vir a dar-lhes um maior desenvolvimento e apresentá-las durante a realização de um evento previsto para o final do ano (LOURENÇO e FIALHO, 2006b; LOURENÇO e PEREIRA, 2006b).

Ora, no dia 14 de Julho de 2006, uma depressão de origem térmica, centrada na Península Ibérica, gerou fortes chuvas, de origem termo-convectiva, provenientes de nuvens do tipo cumulonimbo, logo com grande desenvolvimento vertical.

Verificou-se, inclusivamente, segundo testemunhas oculares, a queda de granizo abundante, acompanhada de pedras de grande dimensão, provando que o arrefecimento das massas que ascendiam era feito de forma muito brusca e até altitudes muito elevadas.

A estação meteorológica do Piódão registou uma queda pluviométrica de cerca de 40 mm, no espaço de uma hora (fig. 63), bastante superior à situação vivida no mês anterior8. À semelhança dos temporais do mês anterior., este também

afectou maioritariamente a bacia hidrográfica da ribeira do Piódão (fig. 64), onde além dos avultados danos materiais, se registou a perda de uma vida humana.

A já referida intensa queda pluviométrica concentrou-se em duas linhas de água e respectivos tributários, das cabeceiras da Ribeira do Piódão, nomeadamente

8 Desta vez, de acordo com os populares, a duração do episódio mais intenso também teve uma

duração inferior a 20 minutos que, por ter ocorrido por volta das 16H:30, acabou por se diluir, em termos de registo, por dois períodos de 30 minutos.

(36)

Fot. 138: Estrada do Gondufo, cruzamento para o Piódão. Obstrução do aqueduto da

estrada e consequente acumulação de detritos sobre o asfalto. Notar a reduzida dimensão da bacia de recepção (A) e a altura dos detritos, através da placa de sinalização do Piódão,

que serve de escala (B) e o escavamento com ravinamento da berma a jusante da «protecção» oferecida pelo asfalto (C).

A

B

C C

(37)

Barroca dos Prados e Barroca do Cadoiço (fig. 64) situadas imediatamente a nascente da Barroca do Bago, a protagonista do episódio anterior, provocando uma intensa erosão, principalmente a nível de escavamento no leito das pequenas ribeiras, que, em alguns locais, sofreram uma incisão de vários metros de profundidade (fot. 139 e fig. 65).

Este escavamento, associado ao material proveniente da desagregação das vertentes, mobilizou uma quantidade colossal de detritos sólidos, que foram transportados pelo enorme volume de água que correu nestas pequenas ribeiras, muitos dos quais foram acumulados a jusante, em função de obstáculos que impediram a sua marcha ou de diminuição do declive do talvegue.

De entre as muitas situações que poderíamos mencionar, vamos referir apenas algumas das mais significativas, como a vivida a montante da aldeia, num viveiro de trutas, instalado junto ao leito da Barroca dos Prados, para aproveitar a água corrente, e que ficou totalmente fossilizado pelo material arrastado pela enxurrada (fot. 140). Imediatamente a jusante do mencionado viveiro passa a estrada Piódão - Chãs de Égua, sob a qual foram instaladas manilhas para solucionar a travessia tanto da Barroca dos Prados, como da Barroca dos Coixões, situada cerca de 200 metros a nascente. À semelhança de outros locais, é frequente o recurso a manilhas para efectuar este tipo de travessias. Podendo ser uma solução prática, ela é muitas vezes ineficaz por duas ordens de razões. A primeira delas é porque, quase sempre, estão sub-dimensionadas, face ao regime torrencial que os caudais

(38)

Fig. 64 : Cabeceiras da Ribeira do Piódão e localização das áreas mais afectadas.

1 Peneda das Sombras, 2 Depósito de confluência, 3 Viveiro das trutas, 4 -Obstrução de manilha - B.ca dos Prados, 5 - Obstrução de manilha - B.ca dos Pereirinhos,

6 - Perfil 1, 7 - Perfil 2, 8 - Perfil 3, 9 - Perfil 4, 10 - Perfil 5 (ver Fig. 65), 11 - Bloco de grandes dimensões, 12 - Aqueduto da B.ca dos Prados, obstrução, 13 - Aqueduto da B.ca do Cadoiço, obstrução, 14 - Garagens destruídas, 15 - Parque de estacionamento,

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Fot. 139: Leito da Barroca dos Prados

fortemente escavado. Fot. 140: Restos do viveiro de trutas destruído pelos materiais arrastados pela enxurrada.

Fig. 65: Perfil longitudinal da Barroca dos Prados e perfis transversais da secção entre o

(40)

destas linhas de água atingem em situações de precipitação extrema, mormente quando se conjugam com vertentes despidas de vegetação, por antes ela ter sido incinerada pelos incêndios florestais. A segunda tem a ver com o facto de serem colocadas sub-horizontalmente, o que dificulta o arrastamento do caudal sólido, ou seja, dos detritos e, em consequência, leva a que estes se acumulem à entrada ou no interior e, assim, obstruam a passagem dos caudais obrigando-os a escoar-se sobre o asfalto (fot. 141)

Nestes casos, as manilhas com 80 cm de diâmetro, não deram resposta ao enorme afluxo de água, resultando no galgamento da estrada e à sua destruição parcial, por um processo de remontar de cabeceiras (fot. 141) que, se não for travado, acabará por destrui-la completamente.

Mesmo em situações em que os caudais são menos abundantes, é frequente observar a acumulação de detritos à entrada das manilhas que, paulatina e progressivamente, ajudam à sua provável obstrução (fot. 142)

Antigamente, quando era necessário atravessá-las, havia um grande «respeito» pelas linhas de água, resultante de um longo conhecimento acumulado sobre o modo de funcionamento do seu regime torrencial. Deixava-se sempre espaço para a livre circulação das águas, de modo a evitar que as infra-estruturas

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Fot. 142: Aspecto das consequências da obstrução do aqueduto localizado a jusante do

viveiro das trutas, na estrada Piódão - Chãs de Égua.

construídas fossem danificadas. De igual modo, quando era necessário proceder ao estreitamento do vale, para conquistar terra para a agricultura, o estreitamento das margens das ribeiras era feito de modo a compensar em altura de água a redução da largura, podendo manter-se assim a superfície molhada (fot. 143 e 144).

Prevenindo as situações, os antigos evitavam a necessidade de reconstrução das infra-estruturas e o dispêndio de mais mão de obra, que, assim, poderia ser usada noutros fins, bem como os recursos financeiros, no passado sempre escassos, sobretudo nas áreas serranas, o que implicava uma boa gestão dos existentes.

Um exemplo paradigmático desta situação corresponde à do pontão existente no antigo caminho do Torno para o Piódão, sobre a barroca do Soito Escuro, tributária da ribeira do Piódão, sob o qual foi colocada uma manilha de 80 cm de diâmetro, quando o caminho foi transformado em estrada (fot. 145).

Outro exemplo, ainda mais flagrante, diz respeito à solução adoptada para o atravessamento da ribeira do Piódão, para efeitos de implantação do parque de estacionamento e da travessia da estrada para o Torno e Foz de Égua. Bastava atentar na solução anteriormente usada para atravessamento da ribeira, imediatamente a jusante do parque, pelo antigo caminho de comunicação do Piódão com o exterior, para imaginar que, mais cedo ou mais tarde, a solução encontrada levantaria problemas, como se confirmou.

(42)

Fot. 143: Encanamento da ribª. do Fontão

Covo, em Casal do Rei. Fot. 144: Pormenor do interior de umencanamento, Torno.

Fot. 145: Intubagem da ribª. do Fontão

(43)

Com efeito, a ponte do caminho pedonal deixou o leito com uma largura de 2,60 m. No ponto central do vão, o arco tem uma altura de 5,30 m (fot. 146), o que corresponde a uma possível superfície molhada com cerca de 10 m2, a qual

permite o escoamento de um caudal significativo. Por exemplo, para uma velocidade média de 10 m/s corresponde a 100 m3/s.

A construção da ponte, que data do início do séc. XX, foi feita com a preocupação de deixar superfície suficiente para escoamento de caudais instantâneos abundantes e de manter o declive do talvegue, para evitar a acumulação da carga sólida.

Mais recentemente, a construção dos aquedutos na barroca do Cadoiço, no final da década de sessenta ou início da de setenta do século passado, dimensionado com 1,10 de largura por 2,20 de altura, ou seja, cerca de 2,5 m2 de superfície

(fot. 147) e o da barroca dos Prados, posterior a 1974, dimensionado com 2 m de largura por 2,20 m de altura, ou seja, cerca de 5 m2 (fot. 148), no conjunto,

corresponde a menos de 7 m2, valor bem inferior ao da ponte pedonal,

anteriormente descrita.

Fot. 148: Aqueduto da Barroca dos Prados,

Piódão.

Fot. 147: Aqueduto da Barroca do Cadoiço,

(44)

Acresce, além disso, que não respeitaram o declive dos respectivos talvegues, tendo ficado com soleiras sub-horizontais que, ao dificultarem o arrastamento dos detritos, facilitam a sua acumulação e, por conseguinte, a posterior obstrução das entradas dos aquedutos.

Ora, entre estes aquedutos e a ponte antes referida, situada a jusante, foi implantado o já antes mencionado parque de estacionamento. A solução encontrada para a sua implantação consistiu em intubar a barroca dos Prados após a sua confluência com a do Cadoiço, reduzindo-a a uma superfície molhada de 1,75 m2, uma vez que o diâmetro das manilhas é de 1,5 m (fot. 149), ou seja,

manifestamente incapaz de escoar as afluências, em pontas de cheia, provenientes das duas barrocas que nelas confluem.

Não será pois de admirar que no dia dia 14 de Julho, em que, com base nas observações efectuadas na barroca dos Prados, se estimaram, em certos locais, superfícies molhadas instantâneas de 47 m2, as manilhas fossem insuficientes para

escoarem tamanhos caudais. A própria ponte ficou submersa.

Fot. 149: Manilha de escoamento colocada

(45)

Como o parque de estacionamento estava instalado sobre a ribeira (fot. 150) e as manilhas de betão ficaram com a entrada completamente obstruída pelo material transportado pela enxurrada, a água passou sobre o parque, provocando a sua total destruição (fot. 151)

Os estragos processaram-se ao longo de toda a linha de água e foram particularmente também avultados na piscina fluvial da aldeia, já que a estrutura ficou totalmente coberta por material, até à altura do pontão das comportas. O facto de duas das três comportas se encontrarem fechadas, pois já estávamos em meados de Julho, agravou a situação, já que uma foi insuficiente para permitir a livre passagem da água tanto mais que ficou obstruída com troncos e ramos, obrigando a deposição, a montante, da carga sólida transportada, a qual fossilizou completamente a piscina (fot. 152).

Imediatamente a montante da piscina e para acesso à mesma, existia uma ponte pedonal que foi levada pela corrente e arrastou consigo um turista que a ia a atravessar e viria a falecer, só tendo sido encontrado mais de uma semana depois, apesar dos esforços dos intervenientes nas operações de busca.

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Fot. 152: Vista parcial da praia fluvial do Piódão.

Esta morte, muito provavelmente, poderia ter sido evitada, se não tivessem sido criados, a montante, uma série de estrangulamentos à normal circulação dos caudais.

Por isso, valerá a pena reflectir, no momento de tomar decisões quanto à construção de aquedutos, se eles respondem às condições exigidas para o escoamento de caudais.

Se, por um lado, as manilhas constituem um processo expedito para resolver o problema porque é pouco dispendioso e de fácil aplicação, por outro lado, elas próprias não devem constituir problemas no futuro, o que será facilmente evitável se forem aplicadas as seguintes três medidas:

1. Dimensionar o diâmetro das manilhas de modo a que possam escoar pontas de cheia produzidas por aguaceiros intensos, sobre vertentes declivosas e desprovidas de vegetação, provenientes da área de recepção situada a montante das mesmas.

2. Colocação das manilhas de modo a respeitar o normal declive da linha de água, ou seja, de modo a facilitar o escoamento da carga sólida, evitando a sua deposição no interior das manilhas e sem criar rupturas de declive, sobretudo a montante, a qual facilita a obstrução da entrada das manilhas.

(47)

3. Afeiçoar em forma cónica o espaço lateral da entrada das manilhas, como se de um funil se tratasse, de modo a facilitar a canalização da água e outros materiais – ramos, troncos, pedras e lixo diverso, para o interior das manilhas (fot. 153).

No entanto, importa sublinhar, que todos os episódios pluviosos mencionados só tiveram as consequências apresentadas porque ocorreram depois de incêndios florestais que, antes desses episódios, destruíram a cobertura vegetal e, por conseguinte, o papel de protecção que esta oferece ao solo contra o poder erosivo das gotas de água da chuva e do escoamento superficial que se lhe segue. Deste modo, os efeitos dos incêndios florestais não terminam com a extinção das chamas, pois perduram e continuam a manifestar-se de forma negativa, por vezes, durante muito tempo, pelo que prevenir os incêndios também significa travar a erosão e combater o despovoamento.

Com efeito, apesar da reabilitação e preservação dos campos em socalcos na sua totalidade se revelar uma tarefa utópica, pelos custos que implicaria, os agentes locais deverão concentrar esforços na reabilitação paisagística e estrutural dos campos em socalcos mais próximos das povoações.

Estas acções proporcionarão uma dualidade de benefícios complementares, capazes de aumentar a sustentabilidade destas regiões cada vez mais deprimidas.

Fot. 153: Instalação de manilhas com um traçado interior em curva e bruscas rupturas de

declive à entrada da manilha, que criam perturbação ao normal escoamento das águas pluviais. Estrada de Teixeira - Vide.

(48)

Fot. 155: Vista geral da povoação de Loriga. Fot. 154: Vista geral da povoação da Gramaça.

Em suma, aliar a defesa das populações contra os incêndios florestais (fot. 154) ao turismo de natureza e aventura, diminuirá a sua vulnerabilidade e minimizará o isolamento que as afecta. Para isso, os campos em socalcos (fig. 155) e todas as estruturas a eles associadas, deverão ser olhados e geridos como estruturas protectoras.

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