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P.º n.º C.P. 72/2012 SJC-CT Direito real de habitação periódica. Possibilidade de realização de partilha e registo no BHDP.

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P.º n.º C.P. 72/2012 SJC-CT Direito real de habitação periódica. Possibilidade de realização de partilha e registo no BHDP.

PARECER

1. Na sequência de um pedido de esclarecimento formulado por serviço de registo, no qual se suscita, entre outras, a questão de saber se o registo de aquisição com base em partilha da herança de que faça parte um direito real de habitação periódica demanda “o reconhecimento presencial de assinatura” a que se refere o artigo 12.º do Decreto-Lei n.º 275/93, e, na hipótese afirmativa, que assinatura deve ser objeto de reconhecimento, vem o helpdesk do BHDP expressar o entendimento de que, exigindo o aludido preceito legal que no certificado predial se inscreva a transmissão:

- No procedimento de habilitação com registos, deverão exarar-se no certificado predial relativo ao direito real de habitação periódica a menção relativa à aquisição a favor dos herdeiros e o reconhecimento presencial das assinaturas de todos os herdeiros, a este servindo de base a habilitação de herdeiros efetuada no BHDP e seguindo-se-lhe o registo no SIRP;

- No procedimento de partilha hereditária e registos, deverão exarar-se no certificado predial relativo ao direito real de habitação periódica a menção relativa à aquisição a favor do herdeiro a quem foi adjudicado o direito e o reconhecimento presencial da assinatura respetiva, a este servindo de base a partilha efetuada no BHDP e seguindo-se-lhe o registo no SIRP;

- No procedimento de partilha por divórcio, deverá ser «efetuado um endosso nos termos gerais», assinado pelo ex-cônjuge «a quem não foi adjudicado o DRHP», e o reconhecimento presencial da assinatura respetiva, a este servindo de base a partilha do património conjugal efetuada no BHDP e seguindo-se-lhe o registo no SIRP.

2. Em face do entendimento do helpdesk do BHDP, submetido a validação dos Serviços Jurídicos, e de acordo com a proposta de remessa do processo para Conselho Técnico, a questão fundamental a que importa dar resposta consiste em saber «se, no âmbito do procedimento simplificado da sucessão hereditária e de partilha do património conjugal, se pode incluir a titulação da transmissão por sucessão hereditária, partilha por morte e partilha por divórcio, do direito real de habitação periódica, cujo regime próprio de titulação se encontra fixado no artigo 12.º do Decreto-Lei n.º 275/93, de 5 de agosto,

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que prevê que a transmissão de direitos reais de habitação periódica se faça por declaração das partes no certificado predial, com reconhecimento presencial das assinaturas do sucessor ou do alienante».

Pronúncia

1. Como frequentemente se tem sublinhado, os procedimentos simplificados de sucessão hereditária e de partilha do património conjugal previstos e regulados nos artigos 210.º-A a 210.º-R, e 272.º-210.º-A a 272.º-C do Código de Registo Civil (CRC) e na Portaria n.º 1594/2007, de 17 de dezembro, inserem-se num leque de medidas de simplificação e desformalização relacionadas com a vida dos cidadãos, tendo por objetivo reduzir obstáculos burocráticos e formalidades dispensáveis nas áreas do registo civil e dos atos notariais conexos.

1.1. Para consecução de tal desiderato, fixou-se, no Código do Registo Civil, a tramitação essencial de cada um dos procedimentos, abrangendo a elaboração, através de meios eletrónicos (artigo 210.º-D/3), do título formal relativo a cada um dos atos previstos, e determinou-se expressamente que os atos de habilitação de herdeiros, de partilha da herança e de partilha do património conjugal assim titulados produzem os mesmos efeitos dos que são realizados mediante outras formas de titulação (artigos 210.º-O/3, 210.º-R e 272.º-A/4).

1.2. Donde, atenta a questão colocada a este Conselho, o primeiro problema é saber se tal equiparação também se verifica quando é imposta uma forma especial, isto é, quando a lei exige que para a produção do efeito real, que é o que nos interessa, o ato se exteriorize ou manifeste de um certo modo, ou que o documento em que se fundamente

o direito sobre um determinado bem preencha determinados requisitos.

Da aquisição do drhp em comunhão hereditária ou a favor do sucessor universal ou do legatário

2. Diz-nos o artigo 12.º/3 do Decreto-Lei n.º 275/93, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 180/99, de 22 de maio, pelo Decreto-Lei n.º 22/2002, de 31 de janeiro, pelo Decreto-Lei n.º 76-A/2006, de 29 de março, pelo Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de julho, e pelo Decreto-Lei n.º 37/2011, de 10 de março, que a transmissão por morte do direito real de habitação periódica (drhp) está sujeita a inscrição no certificado predial, devendo a assinatura do sucessor ser reconhecida presencialmente, após

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exibição à entidade que realiza o ato notarial de documento comprovativo dessa qualidade (de sucessor).

2.1. Assim é, segundo cremos, porque da estrutura normativa deste direito ressalta, desde logo, o propósito de ser o certificado predial, não outro qualquer documento, o suporte preferencial para a titulação e prova do direito e o único preconizado para a formalização dos atos negociais de oneração ou de transmissão entre vivos e para prova gráfica ou documental de constatação da aquisição causada pela sucessão por morte (artigo 10.º do Decreto-Lei n.º 275/93).

2.2. E isto porque se trata de um direito que se pretendeu transformar num valor de

mercado, que expeditamente pode circular de mão em mão, sendo que esta desejável

circulabilidade se alcança precisamente através da sua incorporação num título (o certificado predial) e da admissibilidade do endosso como meio de alienação ou oneração do direito, como que se convertendo o direito incorporado no certificado predial num

direito de natureza mobiliária, a que, portanto, não são aplicáveis as exigências de forma

previstas para a alienação ou oneração de bens imóveis1.

2.3. De modo que, relativamente à transmissão inter vivos e à oneração, mesmo que não se queira distinguir no aludido preceito legal a previsão de uma forma interna, no sentido de que sem ela o ato ou não é qualificável como tal ou é mesmo juridicamente

inexistente2, ter-se-á, ao menos, de ver nele a exigência de uma forma especial, insubstituível, e, portanto, sem equivalência a qualquer outra, mesmo mais solene, como é a escritura pública.

2.4. Naturalmente, quando a transmissão é mortis causa, a sucessão é a causa ou o modo de aquisição do direito parcelar, e o que a comprova é o testamento ou a habilitação de herdeiros ou de legatários, demonstrando a qualidade de sucessor de quem dela pretende beneficiar, sendo este o documento ou título formal em que se fundamenta o fenómeno sucessório.

2.5. Por ser a sucessão o título material ou a causa jurídica da aquisição, a aplicação do princípio da legalidade (artigo 68.º do CRP), na dimensão de controlo da validade

1 Henrique Mesquita, Uma nova figura real: O direito de habitação periódica, RDE, 1982. 2 Pedro Pais de Vasconcelos, Teoria Geral do Direito Civil, 2007, p. 705.

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substantiva da inscrição aposta no certificado predial, não dispensa que ao processo de registo se junte a prova da qualidade de sucessor do signatário.

2.6. Porém, em face do disposto no n.º 3 do artigo 12.º do Decreto-Lei 275/93, o certificado predial não deixa de ser um documento fundamental para o registo, depois de nele ser efetuada a inscrição da transmissão por morte, com reconhecimento notarial da assinatura do sucessor, e após a exibição ao notário (rectius, à entidade tituladora) daquele documento (testamento ou habilitação de herdeiros ou de legatários)3.

2.7. Assim, sem embargo da equiparação que na lei se faz entre a habilitação de herdeiros realizada no âmbito do procedimento simplificado e as demais formas de que possa revestir-se este ato jurídico, relevante é sublinhar que ao registo de aquisição do direito parcelar integrado em herança só mediatamente servirá de base o título elaborado no procedimento, posto que é a declaração do sucessor4, aposta no certificado

predial, com o reconhecimento presencial da sua assinatura (ato notarial), que essencialmente sustenta a inscrição tabular.

2.7.1. Logo, se a inscrição no certificado predial constitui um ato do sucessor que não participa da tramitação do procedimento simplificado de sucessão hereditária e exige uma formalidade avulsa (reconhecimento notarial da assinatura), parece-nos ajustado dizer que o registo de aquisição deste direito não poderá ser feito em regime de balcão único, porquanto demanda uma declaração e um ato (notarial) que, claramente, estão fora do plano do procedimento simplificado fixado na lei (cuja lógica é absolutamente contrária à intervenção de documentos avulsos ou externos ao procedimento, para efeitos de documentar o registo); que extravasam a tipologia e a natureza dos títulos a produzir ao abrigo do disposto no artigo 210.º-F; que não combinam com o suporte e o fluxo eletrónico a que se refere o artigo 210.º-D/3; e que não se inserem no âmbito da competência material implicada, antes têm de se orientar, no que à formalidade (reconhecimento da assinatura) diz respeito, pela norma de competência ínsita no artigo

3Cfr. processo C.P. 47/98 DSJ-CT, publicado no BRN 9/98.

4 Atenta a natureza do direito real de habitação periódica e a função de legitimação de direitos atribuída ao

certificado predial, a inscrição a que se refere o artigo 12.º/3 do Decreto-Lei n.º 275/93, com a assinatura de todos os sucessores (e não apenas de um deles ou do cabeça de casal), mais do que a reivindicação do bem para a herança, parece que pode significar, em relação a cada um dos signatários, uma manifestação da

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38.º do Decreto-Lei n.º 76-A/2006, de 29 de março, e pelos requisitos do ato previstos na lei notarial.

2.7.2. Doutra forma, relativamente ao direito parcelar (drhp), o registo feito no balcão não seria uma decorrência imediata e exclusiva do título aí produzido, mas um resultado obtido a partir de um documento interno elaborado no balcão (habilitação de herdeiros), de um documento particular (inscrição no certificado aposta pelo sucessor), sujeito a

qualificação do registador e elaborado por quem, normalmente, não intervém nesta

modalidade de procedimento (ou não intervém na qualidade de sucessor, senão de cabeça de casal) e de um ato notarial tout court (reconhecimento de assinatura do sucessor), sujeito a uma tributação emolumentar autónoma (cfr. artigo 27.º do RERN) e, assim, enxertado no procedimento.

2.8. Ora, como dissemos no processo CP 39/2012 DSJC-T e já antes havia sido notado no processo CP 98/2011 SJC, a “associação” ou junção de documentos externos (neste caso, o certificado predial contendo a inscrição assinada pelo sucessor e o reconhecimento presencial da assinatura respetiva), como título para o registo a efetuar no âmbito de um procedimento simplificado, obrigaria sempre a uma qualificação documental autónoma, balizada no artigo 68.º do CRP, logo, a uma interseção do processo comum do registo no procedimento especial, sem que na lei se localize a disciplina e a competência material necessárias a tal articulação de regimes.

Da aquisição do drhp por partilha da herança

3. A questão ganha maior acuidade quando está em causa a partilha extrajudicial da herança, porquanto da natureza que se lhe atribuir dependerá a aplicação do regime previsto ou no n.º 1 ou no n.º 3 do artigo 12.º do Decreto-Lei n.º 275/93, podendo, assim, acontecer que o título de partilha preconizado no artigo 210.º-F/1/a) do CRC, a mais de, por si só, não ser título suficiente para o registo a favor do herdeiro (exigindo-se o certificado predial), possa não documentar, (exigindo-sequer, o facto jurídico com eficácia real pedido, atenta a natureza e o regime do direito (drhp) em causa.

3.1. Como se sabe, a sucessão culmina com a entrada dos bens da herança no património dos sucessores, a título de património separado, sendo que, no caso de pluralidade de herdeiros, é a partilha o meio próprio para pôr fim à indivisão da herança, constituindo, pois, o ato jurídico tendente à definitiva atribuição, aos herdeiros, dos bens do de cuius.

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3.2. Ora, se dissermos que com a partilha da herança se verifica uma aquisição derivada

modificativa, em que o direito que entra na esfera jurídica do adquirente retira a sua

legitimidade de um direito anterior, mas não é o mesmo direito; se, portanto, atribuirmos à partilha uma eficácia modificativa, em que ao efeito aquisitivo acresce a modificação do direito anterior, é esta operação jurídica (não a morte do autor da sucessão) que produz o efeito final aquisitivo a inscrever (aquisição do bem certo e determinado)5.

3.3. Logo, relativamente ao direito real de habitação periódica, porque o direito exclusivo do herdeiro sobre a coisa hereditária (drhp) passa a sê-lo com a partilha, sendo esta efetuada por via extrajudicial, é no campo dos negócios jurídicos e dos atos entre vivos, por isso, na facti-species do artigo 12.º/1 do Decreto-Lei n.º 275/93, que se insere o facto jurídico com eficácia real correspondente.

3.4. Como atrás notámos, o esquema legal seguido na regulamentação do direito real de habitação periódica está, todo ele, orientado pela consideração deste direito como um

valor de mercado incorporado no certificado predial, como que se convertendo este num

direito de natureza mobiliária ou num “título nominativo negociável por via de endosso”, pelo que é no certificado predial que se encontra o suporte ou a base adequada para a disposição voluntária, por ato entre vivos, do direito real de habitação periódica6.

3.5. Assim, não sendo extensivas aos negócios jurídicos reais com este objeto as formas legais previstas para transmissão ou oneração de bens imóveis, e antes se prevendo uma

forma especial para a exteriorização do encontro de vontades de todos os interessados

quanto à atribuição do direito real de habitação periódica, nem a partilha formalizada por escritura pública ou por documento particular autenticado se mostra suficiente para comprovar o efeito real aquisitivo deste bem, nem o procedimento simplificado de partilha, realizado no BHDP, deverá inclui-lo, posto que o título a elaborar ao abrigo do disposto no artigo 210.º-F/1/a) do CRC não se equipara ao endosso previsto no artigo 12.º/1 do Decreto-Lei n.º 275/93, não o substitui e, por isso, não é de molde a permitir o

5Luís A. Carvalho Fernandes, Lições de Direito das Sucessões, 2.ª edição, pp. 331/332.

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registo obrigatório (incindivelmente associado a tal procedimento e ao título nele elaborado) da atribuição do direito exclusivo a favor do herdeiro7.

3.6. A verdade é que sem a intercorrência de um ato avulso (porque não previsto na tramitação indicada no artigo 210.º-F do CRC), de cariz particular (porque consubstanciado em declaração a redigir pelas partes) e sujeito a formalidades (reconhecimento presencial das assinaturas dos partilhantes) distintas das que estão contempladas no procedimento simplificado de partilha e registo, e enquadradas, do ponto de vista da competência do sujeito que as produz e dos requisitos legais, noutro normativo (artigo 38.º do Decreto-Lei n.º 76-A/2006 e Código do Notariado), não se logra a obtenção de um título suficiente para o registo.

3.7. Havendo o acordo de todos os interessados para que a partilha da herança se faça extrajudicialmente, é então a declaração das partes (todos os interessados que hão de participar no acordo a que alude o artigo 2102.º do CC), com o reconhecimento presencial das assinaturas respetivas, que determina a aquisição do direito parcelar (drhp) por uma delas (herdeiro) e, portanto, opera o efeito real relevante para o registo8-9, pelo que, por força desta especialidade legal, só no processo normal de registo

7 Se assim não fosse, atento o disposto nos artigos 204.º/1/d) do CC e 22.º/f) do Decreto-Lei n.º 116/2008, de

4 de julho, pertinente seria perguntar: fora do certificado predial, qual a forma legal exigida para a partilha da herança ou do património conjugal de que fizesse parte um direito real de habitação periódica, senão a escritura pública, o documento particular autenticado a que se refere o artigo 24.º do mencionado Decreto-Lei ou o título elaborado no âmbito do procedimento simplificado (artigo 210.º-R do CRC)? Por outro lado, que lógica ou racionalidade se encontraria na imposição de tal forma, quando a natureza do direito e o seu regime justamente apontam para uma simplificação de forma e toda a arquitetura do instituto assenta no certificado predial como suporte dos negócios jurídicos atinentes ao direito que titula e legitima?

8 Convém, ainda assim, sublinhar que não obstante ser esta declaração que produz o efeito final aquisitivo a

inscrever (aquisição do bem certo e determinado) e possa, por conseguinte, dizer-se que o certificado predial que a contém é o título formal principal para o registo (de modo que só a falta deste documento é de molde a determinar a recusa do registo, nos termos do artigo 69.º/1/b) do CRP), à concretização do princípio da legalidade (artigo 68.º do CRP) fará sempre falta a demonstração do facto complexo de produção sucessiva em que se analisa o fenómeno sucessório e, como tal, a apresentação do documento comprovativo da qualidade de sucessores e únicos interessados de todos quantos detêm uma posição concorrencial na herança e cuja intervenção legitima a cessação da indivisão.

9 Embora a questão não esteja em tabela, se a partilha tiver de fazer-se através de inventário, não cabendo

convocar o disposto no artigo 12.º/1 do Decreto-Lei n.º 275/93, gizado para a titulação dos factos de índole negocial, ao registo há de então servir de base o documento extraído do processo de inventário, que comprove o facto aquisitivo, acompanhado do certificado predial, no qual tenha sido aposta a inscrição de aquisição do direito a favor daquele que agora o pode transmitir ou onerar. Dada a obrigatoriedade de entrega dos

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a que aludem os artigos 41.º e seguintes do CRP, com base no certificado predial e prova complementar (documento comprovativo da qualidade e legitimidade dos intervenientes no endosso), poderá obter-se a inscrição respetiva.

Da aquisição do drhp por partilha do património conjugal

4. Idêntico raciocínio cabe para a partilha extrajudicial do património conjugal de que faça parte um direito real de habitação periódica, porquanto, também aí, a exteriorização de vontades atinente à atribuição deste direito há de ficar refletida no certificado predial, mediante a declaração das partes a que alude o artigo 12.º/1 do Decreto-Lei n.º 275/93. 4.1. Aduzimos, assim, a este propósito, as razões atrás alinhadas para concluir que o

título principal para o registo predial é o certificado predial, contendo a declaração dos

partilhantes quanto à atribuição do direito parcelar nele incorporado e o reconhecimento presencial das assinaturas respetivas, pelo que é o processo normal de registo, não o procedimento simplificado de partilha e registos, orientado por outras regras de titulação e de competência material, e apoiado noutro tipo de suporte documental, que há de servir à inscrição do efeito real aquisitivo produzido pela partilha deste direito.

Encerramento

Usando de todos os subsídios interpretativos, somos pois levados a concluir que, não obstante a finalidade declarada no preâmbulo do Decreto-Lei n.º 324/2007, de 28 de setembro, ter sido a de permitir que todas as operações e atos relacionados com a sucessão hereditária e com a partilha do património conjugal possam ser efetuadas num único balcão de atendimento, o que na letra da lei se delineou foi uma competência material específica, que não cobre senão os atos expressamente previstos, e um regime de registo assente na verificação dos pressupostos para o prosseguimento do procedimento, ou seja, na decisão de deferimento implícita neste prosseguimento, e no título elaborado no procedimento.

Não se prevê e, como tal, não se regula a interferência de atos avulsos, a realizar com ou sem a colaboração dos serviços, que se coloquem de permeio, entre o ato de titulação e

documentos relativos aos bens atribuídos ao herdeiro (artigo 2120.º do CC) e sendo o certificado predial o suporte que titula e legitima a transmissão e oneração do direito (artigo 10.º do Decreto-Lei n.º 275/93), parece aqui pertinente a analogia com o disposto no artigo 12.º/3 do Decreto-Lei n.º 275/93, e a observância

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o ato de registo, e que, servindo à feitura deste, para mais, reclamem um controlo de legalidade próprio do processo normal de registo.

E bem se compreende que assim seja, pois, dissemos já no processo CP 91/2010 SJC-CT, os procedimentos simplificados de sucessão hereditária não constituem uma duplicação de meios, com repetição do iter preconizado para a titulação e o registo enquanto atos autónomos e isolados, antes se apresentam como instrumentos de agilização, desburocratização e simplificação que exigem clareza e inequivocidade acerca dos seus requisitos essenciais, do seu âmbito e do conjunto de atos que nele podem ser desenvolvidos, e, acima de tudo, subordinação ao direito substantivo, com salvaguarda das especialidades nele contidas que não se ajustem à sua maneira de ser.

Na certeza de que não chega perscrutar a inspiração do legislador e atentar apenas no

para quê do Procedimento Simplificado; de que se afigura antes de considerar o

pensamento legislativo que tenha na letra da lei um mínimo de correspondência verbal; de tomar o enunciado linguístico como ponto de partida e como limite; de colher do texto um sentido que condiga com o significado natural e correto das expressões utilizadas; e de presumir que o legislador soube encontrar a solução mais acertada; é o que se nos oferece dizer sobre a questão colocada.

Parecer aprovado em sessão do Conselho Consultivo de 21 de março de 2013. Maria Madalena Rodrigues Teixeira, relatora, Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, António Manuel Fernandes Lopes, Luís Manuel Nunes Martins, António José dos Santos Mendes, Maria de Lurdes Barata Pires de Mendes Serrano, Laura Maria Martins Vaz Ramires Vieira da Silva, Maria Filomena Fialho Rocha Pereira, José Firmino Fernandes Lareiro.

Este parecer foi homologado pelo Exmo. Senhor Presidente do Conselho Diretivo em 25.03.2013.

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