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O PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA NAS INDÚSTRIAS DE CATANDUVA SP

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Academic year: 2021

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O PROCESSO DE REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA NAS INDÚSTRIAS DE CATANDUVA – SP

ELIANE CARVALHO DOS SANTOS E-mail: elianegeounesp@yahoo.com.br UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – UNESP CAMPUS DE PRESIDENTE PRUDENTE

1. INTRODUÇÃO

A crise do sistema capitalista, que em meados dos anos 1960 atingiu os setores econômicos nos países centrais, encaminhou para a necessidade de reestruturação econômica e reformulação do regime de acumulação vigente, definido por Lipietz (1998) como a lógica das leis macroeconômicas que descrevem as evoluções conjuntas, por um longo período, das condições da produção (produtividade do trabalho, grau de mecanização, importância relativa dos diferentes ramos), bem como das condições de uso social da produção (consumo familiar, investimentos, despesas governamentais, comércio exterior...). Assim, o regime de acumulação que até então estava consolidado, que teve sua ascensão no Pós-Segunda Guerra, permanecia assentado na forma do modelo de desenvolvimento conhecido como Fordismo.

Com o diagnóstico da crise nas principais economias mundiais, a delineação de estratégias de superação dos entraves ao retorno do crescimento foi lançada; isso gerou uma crise social e insurgências no campo da coordenação política dos Estados que questionavam a sustentabilidade do paradigma keynesiano, diante das mudanças do ambiente econômico.

Para sair do quadro de crise, governos e empresas adotaram medidas de adaptação, intensificando, nas suas esferas de atuação, as mudanças regulatórias, tecnológicas, organizacionais e produtivas, que, combinadas, acabaram por reorganizar as relações de poder, produção, gerência e as formas de organização do trabalho.

Nesse sentido, a saída para tal período depressivo ou, segundo Silva (2004, p.209) numa perspectiva cíclica, “conjuntura depressiva do ciclo longo (Kondratieff), aberta em 1973 – 1974” foi iniciada gerando um conturbado processo de reestruturação com ajuste

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econômico, social e político, principalmente no âmbito dos Estados que passaram a romper com medidas elaboradas e consolidadas no pós-guerra, sabendo dos riscos que existiam ao modificar o status quo e retirar direitos que foram conquistados pela classe trabalhadora dentro do pacto de desenvolvimento que vigorou na era fordista-keynesiana.

Esse processo de superação do modelo fordista está dando face a um novo regime de acumulação, em processo de consolidação, conhecido por práticas pós-fordistas que estão configurando, de maneira mais abrangente, um regime de acumulação flexível (HARVEY, 1993), emergente da crise e ancorado no pacote tecnológico da Terceira Revolução Industrial.

As práticas teoricamente associadas ao regime flexível trazem em seu bojo impacto sobre a dinâmica espacial de cidades, países e regiões, acompanhados de transformações no âmbito do sistema social, à medida que envolve novas configurações nas relações de trabalho, nos setores econômicos, em especial o produtivo, e nas formas de regulação do poder político e financeiro internacional.

No Brasil, a reestruturação do setor produtivo e o advento da acumulação flexível passaram a se intensificar a partir da década de 1980, como resultados do processo de adoção das deliberações dos organismos multilaterais que incluíam a abertura econômica, a desregulamentação do mercado nacional, o controle dos gastos públicos, entre outras medidas, fundamentadas na política neoliberal.

O impacto desses ajustes levou ao constrangimento do Estado diante da crise interna e externa que, combinadas com a reestruturação produtiva, agravou ainda mais o quadro de estagflação, crise social e desemprego estrutural; quadro esse visível, principalmente, nas regiões metropolitanas do país (MATTOSO, 1999). Porém, ao longo dos anos, a difusão da reestruturação produtiva como necessária para a adaptação das empresas diante das mudanças no mercado nacional e internacional, cada vez mais competitivos, está impactando de maneira significativa os espaços dotados de estabelecimentos industriais, estejam eles nas metrópoles ou em cidades localizadas no interior do país.

Desse modo, a presente pesquisa procura identificar e analisar a intensidade do processo de reestruturação produtiva no setor industrial do município de Catanduva-SP, localizado no noroeste paulista, integrando nessa análise as repercussões desse processo no

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âmbito da produção, relação entre as empresas e nas condições de trabalho a partir da consideração das configurações espaciais do setor produtivo local.

2. REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA: CONTEXTO GLOBAL E ANÁLISE LOCAL

A reestruturação produtiva foi uma maneira oportuna para voltar a gerar os fluxos de acumulação e investimentos necessários para o funcionamento do sistema capitalista, fundamentado no modo industrial de desenvolvimento.

Devido a isso, o setor produtivo foi afetado pela aceleração da geração e difusão de inovações ancoradas no pacote tecnológico da Terceira Revolução Industrial, base material dessa reestruturação intensiva da produção, propiciando a recuperação da produtividade. Porém, essas transformações repercutiram na constituição dos mercados de trabalho com a incorporação de novas formas de manter seu controle e padronização de iniciativas poupadoras de mão-de-obra nos parques industriais tradicionais.

De acordo com Benko (1996), a principal estratégia da reestruturação está no combate à rigidez que fundamentava as estratégias de acumulação fordista, sendo que nesse contexto, se inclui a desvalorização da força de trabalho com a redução de todos os componentes dos custos de sua reprodução.

Aliado a isso, a utilização das inovações tecnológicas que ampliaram a automação da linha de produção (máquinas computadorizadas, robôs, entre outras), foram responsáveis por remodelar a organização do trabalho diante desse novo suporte material que, além de diminuir o capital variável no processo produtivo, levou a disseminação de incertezas quanto à qualidade dos postos de trabalho direcionados para os trabalhadores menos qualificados.

Assim, as empresas passaram a adotar e disseminar transformações na gestão, organização do processo produtivo e nas relações de trabalho. Tais mudanças elaboradas em vários países abarcam implementações como o Just in time, produção horizontalizada, certificação de qualidade ISO, células de produção, entre outras, além de acelerar o processo de inovações, seja de produtos ou de processo, e ampliar de forma maciça o uso das terceirizações, como principal estratégia de enxugamento de pessoal com contrato com a empresa e motor para a fragmentação de grandes plantas industriais que se organizam atualmente em redes de empresas contratadas (net works).

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Outra estratégia de combate à rigidez está na diminuição dos cargos hierárquicos e na qualificação mais intensa do trabalho com a exigência de maior escolaridade e melhor treinamento dos empregados, numa forma de engajamento que os colocam como co-responsáveis pelo desempenho da empresa e utiliza de forma melhor que no fordismo a capacidade intelectual do trabalhador comum, numa tentativa de superação da divisão taylorista entre trabalho intelectual e trabalho manual.

Esses elementos configuram modelos que estão em construção e procuram alternativas para a superação da crise de produtividade do fordismo. Porém, diante das incertezas e da necessidade de adaptação, vários modelos estão em gestação e implicam em vários modos possíveis de hegemonia. Nesse sentido, “práticas neofordistas se solidarizam facilmente com práticas pretensamente pós-fordistas” (BENKO, 1996, p.22), sendo que nessa direção, as ações flexíveis são as que mais se destacam, pois possibilitam várias combinações entre a base técnica da nova indústria, sua organização gerencial e a organização do trabalho.

2.1 Reestruturação produtiva nas indústrias de Catanduva - SP

Essas mudanças parecem demonstrar intensidades diferentes de adoção a partir da configuração das relações que as empresas estabelecem, dos diferentes ramos de produção e dos espaços em que elas estão localizadas. Desse modo, as análises das mudanças locais não podem estar dissociadas da compreensão do amplo processo de reestruturação capitalista em curso no mundo, do qual alguns elementos foram citados anteriormente.

Para apreender as novas relações entre os setores econômicos e as mudanças produtivas, utilizamos procedimentos metodológicos de acordo com o referencial teórico adotado, que é heterogêneo, mas fundamentalmente ancorado nas teses elaboradas pelos autores da escola da regulação francesa.

Aliado a isso, partimos da análise do setor industrial do município em questão considerando a importância dos impactos dos eventos que advêm da escala das forças operantes, quase sempre exógenas ao local, que repercutem nas ações desenroladas endogenamente, ou seja, o local torna-se a escala de ocorrência dos eventos que, ao receber as influências das ações advindas de outras escalas, interagem com a dinâmica do local,

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resultando em uma combinação específica, multifacetada e multideterminada. (SANTOS, 1997).

Assim, as leituras de obras e artigos científicos que tratam das diversas manifestações desse processo e dos diferentes ambientes em que ele se insere, são de fundamental importância, pois tais processos compreendem uma gama de análises que trazem importantes contribuições para nossa investigação dos impactos desses eventos no local pesquisado.

Por isso, fica evidente que para compreender as relações capitalistas e, principalmente, as industriais nesse contexto de reestruturação é necessária uma análise de forma ampla, pois são múltiplas as determinações que configuram qualquer quadro analítico, fazendo-se necessária a consideração das teorias, das informações atuais (apreendidas em jornais, programas televisivos e revistas) e das dinâmicas que não se interrompem e, correntemente, atropelam o tempo da reflexão acadêmica, como a do mercado financeiro e das medidas governamentais lançadas como resposta aos indicadores econômicos.

Com essas considerações, compilamos dados quantitativos de fontes secundárias (RAIS, IBGE, SEADE, entre outras) referentes ao setor industrial do município e da Região Administrativa de São José do Rio Preto (escalas de ocorrência analisadas) que nos forneceu um quadro geral da configuração dos ramos que atuam na produção industrial local. Assim, vimos quais ramos são os mais representativos com relação à geração de empregos; geração de valor adicionado; a evolução, ao longo dos anos, do número de estabelecimentos por ramo; a faixa etária e escolaridade dos empregados, etc.

De acordo com os dados da RAIS, os setores mais significativos, de maneira geral, quanto às variáveis acima relacionadas, são os alimentícios, mecânica, metalúrgica, editorial e gráfica. Com essa constatação, entramos em contato com alguns estabelecimentos desses ramos para a aplicação de questionários, com perguntas elaboradas de acordo com as relações associadas aos elementos que configuram um quadro de reestruturação produtiva no estabelecimento.

Na visita ao local, procuramos identificar as implementações acima relacionadas nas empresas do município e entender como essas mudanças foram apreendidas pelos trabalhadores e gestores, num quadro que nos ajudou a relacionar os dados quantitativos compilados, o arcabouço teórico e a dinâmica local.

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Com isso, mesmo ainda em andamento (falta um ano para a finalização), a pesquisa já apresenta algumas conclusões nas quais estamos trabalhando para aperfeiçoar a análise e compreender melhor os resultados. Assim, as etapas realizadas levaram a resultados parciais que demonstram a incorporação das indústrias locais diante da disseminação dos elementos constituintes da reestruturação produtiva, como a adoção de inovações de produtos e na organização do trabalho, de máquinas modernas computadorizadas, células de produção,

Just in time e série ISO.

De acordo com os gestores dos estabelecimentos entrevistados, as transformações nos transportes e nas telecomunicações têm acirrado a competitividade e, diante disso, a implementação desses aspectos se faz necessária para acompanhar a concorrência.

Mas, dentre essas mudanças a que mais se destacou foi o uso extensivo de terceirizações que abarcaram diferentes esferas da produção industrial, sendo relativas às etapas da produção ou aos serviços complementares como contabilidade e marketing.

Essa é a principal estratégia de desintegração vertical, que enxuga o quadro de funcionários ligados diretamente à empresa com a contratação de trabalhadores de empresas terceirizadas com contratos por tempo determinando, e reduz os riscos a partir da flexibilidade no número de funcionários que podem ser dispensados a qualquer momento.

Com isso, o piso salarial dos trabalhadores é reduzido, pois as empresas terceirizadas pagam menos que as contratantes, ao passo que são fomentadas a criação de micro e pequenas empresas especializadas nesse mercado, aumentando as relações interindustriais e ampliando os serviços especializados.

Assim, de maneira geral, esses resultados preliminares nos sugerem que os aspectos da reestruturação produtiva, considerados necessários para a competitividade das empresas diante das multideterminações dos eventos supracitados, estão sendo disseminados de forma abrangente nos estabelecimentos industriais localizados no município; porém, vale destacar, que há muitos aspectos teoricamente relacionados às práticas fordistas que ainda se fazem presentes, aliados aqueles fundamentados no modelo flexível, apontando para permanências e continuidades das dinâmicas da regulação anterior, mas com tendência a perda de sua hegemonia, pelo menos diante das considerações acima destacadas.

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Referências

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