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Ações interventivas no contexto da inclusão Escolar

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Ações interventivas no contexto da inclusão Escolar

Keilla Christina Desidério da Silva Licenciada em Física. Doutoranda em Educação em Ciências pela Universidade de Brasília. Professora da Educação Básica da Secretaria de Educação do DF – SEEDF. E-mail: kcds2007@hotmail.com. Priscila Caroline Valadão de Brito Medeiros Licenciada em Física. Doutoranda em Educação em Ciências pela Universidade de Brasília. Professora da Educação Básica da Secretaria de Estado de Educação do DF – SEEDF. E-mail:

priscilacaro-line@uol.com.br. Gerson de Souza Mól Bacharel e Licenciado em Química pela UFV. Mestre em Química Analítica pela UFMG. Doutor em

En-sino de em Química UnB. Professor do IQ-UnB. E-mail: gmol@unb.br Juliana Eugênia Caixeta Graduada em Psicologia. Doutora em Psicologia pela Universidade de Brasília (UnB). Professora da

Fac-uldade UnB Planaltina, Universidade de Brasília, E-mail: eugenia45@hotmail.com Resumo: Para que a inclusão aconteça no ambiente escolar é importante que professores regentes da classe comum e professores especialistas que atuam no Atendimento Educacional Especializado tra-balhem de forma colaborativa, reconhecendo, respeitando as necessidades específicas dos seus estu-dantes, adaptando recursos e contextos a fim de promover aprendizagem e desenvolvimento. Enquanto o professor da classe comum deve planejar uma aula inclusiva que atenda às necessidades de todos os estu-dantes, o professor especialista atua na promoção da aprendizagem disponibilizando estratégias, recursos humanos, pedagógicos e de acessibilidade para a realização das atividades escolares. Propomos a elabo-ração, o planejamento e a execução de ações interventivas de duas pesquisadoras em uma escola de En-sino Médio com foco nos professores da classe comum e professores especialistas, ambos da área de Ciências da Natureza. O objetivo desse artigo está em descrever como os espaços de formação e profis-sionalização oferecidos aos dois grupos de professores são capazes de apresentar a necessidade de um trabalho colaborativo para que a inclusão aconteça no contexto escolar. No processo formativo utilizamos uma metodologia qualitativa que teve o seu interesse nas falas e nos posicionamentos dos professores, cujas demandas e anseios buscamos ouvir a fim de desenvolver estratégias capazes de favorecer a sua prática pedagógica no Ensino de Ciências. Esse trabalho permitiu o desenvolvimento pessoal e profis-sional dos professores e dos pesquisadores e o desenvolvimento pessoal e coletivo dos alunos daquele contexto social. Evidenciamos a importância de a universidade promover esses espaços de formação e reflexão na comunidade escolar, no nosso caso, os docentes. Acreditamos que surgirão novas práticas, novas concepções, novos compromissos e novos posicionamentos capazes de promover a inclusão e o

desenvolvimento, valorizando a diversidade.

Palavras chave: Professores. Capacitação em Serviço. Inclusão Escolar. Ensino de Ciências. INTERVENTIONAL ACTIONS IN THE CONTEXT OF SCHOOL INCLUSION

Abstract: For inclusion to happen in the school environment, it is important that common-class teachers and specialist teachers working in Specialized Educational Service - SES - work collaboratively, recog-nizing, respecting the specific needs of their students, adapting resources and contexts to promote learn-ing and development. While the ordinary class teacher should plan an inclusive class that meets the needs of all students, the specialist teacher works to promote learning by providing strategies, human resources,

pedagogical and accessibility to perform school activities. We propose the elaboration, planning and

exe-cution of intervention actions of two researchers in a high school with focus on teachers of the common class and specialist teachers, both in the area of Natural Sciences. The aim of this paper is to describe

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how the spaces of formation and professionalization offered to both groups of teachers are able to present

the need for collaborative work for inclusion to happen in the school context. In the training process we

used a qualitative methodology that had its interest in the statements and positions of teachers, in which we seek to listen to their demands and wishes in order to develop strategies capable of favoring their ped-agogical practice in science education. This work allowed the personal and professional development of teachers and researchers and the personal and collective development of students in that social context. We highlight the importance of the university to promote these spaces of formation and reflection in the school community, in our case, the teachers. We believe that new practices, new conceptions, new com-mitments, new placements will emerge and capable of promoting inclusion and development, valuing di-versity.

Keyword: Teachers. School Inclusion. Training in Service. Science Teaching. Introdução

A inclusão escolar busca uma transformação social e a construção de um olhar diferenciado para a diversidade por meio de ações e reflexões que reconheçam e valorizem as diferenças entre as pessoas. No contexto escolar, almejamos trazer para ‘dentro’ quem esteve de ‘fora’. Na visão das autoras Mantoan e Prieto (2006), é importante, as pessoas perceberem que o sujeito é definido pelas suas peculiaridades, ligadas ao gênero, etnia, crenças, origem, e que nenhuma dessas especificidades sejam motivos para a exclusão e os preconceitos.

Para tanto, o sistema educacional precisa propor práticas inclusivas a fim de atender os estudantes que possuem necessidades específicas, entre elas ofertar o Atendimento Educacional Especializado (AEE), direito garantido pela Constituição Federal do Brasil (BRASIL, 1988) aos estudantes com deficiências, transtornos e/ou altas habilidades, de forma complementar e/ou suplementar, por meio da disponibilização de serviços, recursos de acessibilidade e estratégias que busquem eliminar barreiras com vistas a favorecer a aprendizagem e possibilitar a participação desses alunos na sociedade (BRASIL, 2008).

Muitas barreiras surgirão durante o processo de escolarização, sendo necessária removê-las do/no sistema educacional. A quem cabe remover essas barreiras? Na visão de Carvalho (2016), cabe a todos, da portaria da escola aos que ocupam cargos de chefia. Para a autora, todos são responsáveis, e requer

trabalho de equipe, ou seja, colaborativo, com momentos de troca de ideias que propiciem o

com-partilhamento de experiências e conhecimentos sobre o processo ensino-aprendizagem visando oferecer ‘o melhor que podem’ ao estudante.

Nesse sentido, apresentamos a importância da atuação dos pesquisadores na área educacional a fim de promover formações continuadas que possam estabelecer uma relação mais orgânica entre as ativida-des de pesquisa e o ensino realizado nas escolas. Para Bueno (2003) há várias décadas os pesquisadores têm sido desafiados a realizar tal atividade, buscando romper com a falta de diálogo que se apresenta nas relações entre pesquisadores e professores, e a dissipar as insatisfações que tomaram esses profissionais.

Pretendemos que os professores percebam os pesquisadores também como professores e que não se

sin-tam apenas como um mero objeto de estudo, mas que, finalizada a pesquisa, seja possível colocar em prática o conhecimento construído tanto pelo pesquisador quanto pelos professores.

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Diante desse cenário, nosso objetivo foi planejar e executar uma Capacitação Profissional em

Serviço, enquanto professoras especialistas e pesquisadoras, para professores especialistas do AEE e

para professores da classe comum, sobre o Ensino de Ciências no contexto da inclusão. 1. Da Inclusão Escolar às Ações Interventivas na Escola

Os professores carecem desenvolver competências cognitivas, sociais e emocionais capazes de compensar as limitações e promover espaços em que todos tenham a oportunidade de aprender os conceitos científicos. Uma aula com diferentes abordagens e estratégias, com caminhos diversos (VYGOTSKI, 1995), com atividades adequadas às limitações, direcionadas a toda a turma,

benefi-ciará estudantes com e sem deficiência (MANTOAN, 2003; CARVALHO, 2016).

Entendemos que ações formativas (SILVA, 2018; MEDEIROS, 2018), no ambiente de serviço, podem propiciar uma articulação entre o estudo teórico e a prática pedagógica desenvolvida naquele contexto escolar; entendemos que o docente está em constante transformação porque é um profis-sional reflexivo. Em um processo formativo, existe uma relação de cooperação entre os professores envolvidos, e as ações têm uma perspectiva de formação para intervenção, alternando momentos de reflexão e de prática. É preciso mostrar a relevância de um projeto de formação no âmbito da institu-ição do docente (PERRENOUD, 2000).

Fazer o uso das Tecnologias Assistivas (TA) é essencial no trabalho do AEE, podendo promover o acesso aos espaços da escola e/ou ao conhecimento, buscando atender às expectativas do estudante e do contexto escolar. As tecnologias assistivas ampliam a ação do estudante por meio de recursos. É um recurso do educando e não deve ficar limitado ao Atendimento Educacional Espe-cializado. O docente deve acompanhar o desenvolvimento do estudante usando a tecnologia e que a TA (BERSCH, 2006) favoreça o processo de ensino-aprendizagem de forma diferenciada.

Uma expressão utilizada para identificar todo o arsenal de recursos e serviços que con-tribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e, consequentemente, promover vida independente e inclusão (BERSCH, 2007, p. 31).

A TA pode se apresentar de diversas formas, desde recursos simples, como um lápis

en-grossado, a adaptações arquitetônicas como rampas e elevadores. O uso de material pedagógico am-pliado, adaptado ou em relevo, mouses e teclados alternativos, entre outros, são tecnologias que di-ariamente são usadas na escola inclusiva.

2. Metodologia

Nesta pesquisa decidimos por uma abordagem qualitativa, porque buscamos a compreensão das interações que se estabelecem entre os professores participantes e as professoras-pesquisadoras. Desenvolvemos o estudo em três fases: 1º Levantamento com professores sobre o entendimento que possuíam sobre inclusão; 2º Planejamento, execução e avaliação de uma Capacitação em Serviço para discutir o Ensino de Ciências na perspectiva da inclusão; 3º Elaboração de uma proposta de

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ca-pacitação pedagógica em serviço. Detalharemos aqui a segunda fase dessa pesquisa, organizada para

oferecer uma capacitação para professores de Ciências, Química, Física e Biologia na própria escola.

Os temas escolhidos para as oficinas pedagógicas surgiram da análise do levantamento da fase anterior: na primeira discutimos o significado e a responsabilidade da inclusão; na segunda apresen-tamos e discutimos a legislação que sustenta a educação inclusiva no Brasil; na terceira dialogamos sobre a possibilidade de abordar o Ensino de Ciências de maneira investigativa; na quarta propor-cionamos um momento de discussão e elaboração colaborativa de atividades pedagógicas inclusivas; e na quinta dialogamos e avaliamos os resultados do processo formativo e das atividades produzidas.

A Capacitação em Serviço foi desenvolvida a partir da compreensão de que os

professores-pesquisadores na função de especialistas do AEE têm como atribuição “estabelecer articulação com

os professores da sala de aula comum, visando à disponibilização dos serviços, dos recursos peda-gógicos e de acessibilidade e das estratégias que promovem a participação dos alunos nas atividades escolares” (BRASIL, 2009, p.3).

Para a construção dos dados, gravamos em áudios os encontros da capacitação. E para analisar os dados construídos com as especialistas do AEE, utilizamos a Análise Temática Dialógica

(SILVA; BORGES, 2017), e com o professor da classe comum fizemos a Análise Textual Discursi-va (MORAES; GALIAZZI, 2016).

3. Análise e Discussão dos Resultados

Realizamos duas capacitações em serviço, em escola pública, sendo uma com cinco profes-soras especialistas do AEE e outra com um professor da classe comum. Ambas seguiram a temática apresentada, com estratégias diferenciadas de acordo com as peculiaridades do grupo. A discussão dos resultados foi dividida em duas partes pelo fato de cada capacitação ter focos diferentes.

3.1. Capacitação em Serviço com Professor da Classe Comum

A Capacitação em Serviço com o professor de Física Eduardo ocorreu em sete encontros, com

três horas de duração. Da análise emergiram três categorias significativas: a formação, o produto e o

momento de reflexão, Figura 1, discutidas a seguir.

Figura 1 - Mapa de significados da Capacitação em Serviço com professor da classe comum

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3.1.1. Formação

Eduardo demonstrou ter entendimento sobre inclusão (MANTOAN, 2003), ao afirmar que é: “dar oportunidade para o diferente apreender de maneira igual aos demais”. Quanto às dificuldades

para incluir, o professor destacou dificuldades pessoais: “nem sempre conseguimos fazer um

planejamento que alcança todos os alunos” e institucionais: “espero ter mais informações para aper-feiçoar a minha contribuição para a inclusão”. Reconhece que, na atuação docente, com vistas à

in-clusão, pode haver um processo de tentativas e erros, até encontrar o melhor caminho (VIGOTSKI, 1995).

Quanto aos aspectos legais, o professor afirmou que desconhecia a legislação: “eu nunca fui

atrás de ler a lei em si”. Ele percebe que o docente precisa conhecer as determinações legais

(BRASIL, 1996; 2009) para a inclusão, notando que: “de fato, a lei não chega em quem deve

ex-ecutar”. Quando compara a legislação, com sua atuação e dos colegas, o professor se espanta: “fazendo uma autorreflexão noto que ainda temos muito a fazer para uma inclusão de fato”.

Em relação ao ensino, o professor entende que não proporciona ao estudante a construção do próprio conhecimento, conforme o texto discutido (PÉREZ et al., 2001), valorizando os resultados e não os processos de descobertas, quando afirma: “nunca apliquei isso de fato, problematizar, criar

aquelas hipóteses e deixar o aluno pensar”, no entanto, sobre a avaliação do momento formativo, o

professor destaca: “pude perceber que podemos melhorar a didática no Ensino de Ciências”. O pro-fessor percebe que necessitamos abordar um ensino acessível, que estimule o aluno a descobrir e com-preender os conceitos científicos, que o conhecimento científico seja construído e não transmitido (BACHELARD, 1996).

3.1.2. O produto

Após a discussão, construímos uma atividade demonstrativa investigativa. Tivemos a pre-ocupação de proporcionar um experimento acessível, para que todos os alunos se sentissem incluídos na aula.

Quanto às dificuldades, o professor destacou o custo da preparação da aula tendo em vista o

benefício ao final de todo o processo: “em um primeiro momento, diante das dificuldades, pensei se valia a pena o custo/tempo/benefício”. Evidenciamos que as consequências foram positivas tanto para

o professor Eduardo, pois teve a possibilidade de se posicionar como um professor problematizador (FREIRE, 2006; PERRENOUD, 2000) e de ter o apoio da pesquisadora-professora, quanto para os alunos participantes da aula: “o trabalho foi recompensado quando alguns alunos chegaram no fim da

aula e disseram que agora tinham compreendido os circuitos, e outros falando que assim era bem mais fácil”.

3.1.3. Momento reflexão

No momento reflexão sobre as estratégias de mediação dos encontros, Eduardo afirmou: “gostei de explorar o assunto, discutir casos concretos, conversar sobre as minhas dificuldades, ter o auxílio na montagem da aula inclusiva”. Sobre a interação que teve com a professora-pesquisadora

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especia-lista do AEE, destacou: “o suporte que você me deu foi superinteressante”. Destacou ainda que

junta-mente com as atividades propostas, como o desafio da aula, foram valorosas para a sua formação

co-mo professor. Com a mediação, ele conseguiu construir reflexões (FREIRE, 2006; PERRENOUD, 2000) que geraram mudanças de concepções e de ações (BUENO, 2003) sobre como se podem ensinar conceitos científicos para todos os alunos.

Eduardo entendeu que a operacionalização da proposta foi complexa assim como o desafio a mudar: “a parte mais difícil é a elaboração, pois tira o professor da zona de conforto”. Ministrando a aula, percebeu que: “quanto mais inclusiva a aula, mais gente atinge”, pois “quanto mais recursos eu

uso, e meios de explicar a mesma coisa, tenho certeza de que atinjo mais alunos”. Evidencia que:

“uma aula inclusiva traz um ganho pedagógico tanto para os alunos com alguma deficiência como

para toda classe”. Com essas afirmações, o professor reconhece que a inclusão melhora a qualidade

de ensino nas escolas (MANTOAN, 2003; CARVALHO, 2016).

3.2. Capacitação em Serviço com Professoras Especialistas do AEE

A Capacitação em Serviço com as professoras especialistas contou com a participação de cinco profissionais da área de Ciências Naturais/da Natureza que atuavam no AEE. Ao todo foram realiza-dos seis encontros com duração de três horas cada.

Das questões trabalhadas na capacitação no contexto do Ensino de Ciências e do AEE, a partir dos relatos analisados, surgiu um mapa de significados, Figura 2, com os subtemas: os encontros, a consolidação da aprendizagem e os produtos, discutidos a seguir.

Figura 2 — Mapa de significados sobre a Capacitação em Serviço com professoras especialistas

Fonte: autoras

3.2.1 Os Encontros

As professoras foram unânimes em considerar as dinâmicas como sendo agradáveis e capazes de proporcionar interação e diálogo (FREIRE, 2006), mas consideraram poucos encontros e que esses deveriam acontecer continuamente, ao longo do ano letivo. A professora Fernanda disse:

Capacitação em serviço

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As atividades desenvolvidas nos encontros foram bem coerentes e bem orientadas. A ordem que foi proposta foi bem interessante e enriquecedora e [...] possibilitou que a discussão fluísse de forma natural e crescente rumo à proposta final de buscarmos o concreto para ajudar na compreensão dos conceitos (Fernanda).

As professoras perceberam que os artigos científicos foram provocadores de reflexão, pois trouxeram informações atuais que possibilitaram a construção de novas concepções:

O texto questiona as etapas do trabalho científico e a exatidão dos processos de construção do conhecimento; isso pra mim trouxe novidades porque ainda acreditava na precisão inalterável dos conceitos científicos e finalizei a leitura com uma compreensão mais consciente do assunto (Elisângela).

Os posicionamentos das professoras evidenciaram que o artigo científico (PÉREZ et al., 2001) utilizado como mediador oportunizou a criação de um contexto reflexivo sobre a atuação delas no Ensino de Ciências e, também, um espaço de compartilhamento de informações contemporâneas so-bre a área, o que foi considerado relevante para a formação, proporcionando um entendimento de que a Ciência pode ser explorada por outras abordagens que não seja a memorização de cálculos e/ ou fórmulas (CAMARGO; NARDI, 2009; SANTOS; MORTIMER, 2002).

3.2.2. Consolidação da Aprendizagem

A percepção das professoras evidenciou que a Capacitação em Serviço foi um espaço de com-partilhamento que promoveu a solidariedade no sentido de reciprocidade. Ao compartilhar suas tra-jetórias acadêmicas e profissionais, de maneira geral, e no AEE, de maneira específica, elas puderam enunciar experiências — entendidas como aquilo que me toca (BONDÍA, 2002), comuns, o que gerou empatia: “fiquei mais animada ouvindo as colegas com seus anseios, dificuldades; descobri

que não estou sozinha neste universo vasto que é o Ensino Especial” (Cristina).

Quanto às possibilidades de atuação, percebemos dois focos de destaque: 1. Contribuição geral da capacitação e 2. Contribuição específica da capacitação. Quanto à contribuição geral, eviden-ciamos que as professoras perceberam que os diálogos, os estudos e as atividades geraram possi-bilidades de atuação docente especializada, sem focar nenhum aspecto específico como podemos ler, por exemplo, no texto de Fernanda: “toda reflexão e estudo realizados certamente contribuirão para

melhorar a nossa prática pedagógica” (Fernanda). Nesse sentido, evidenciamos que as

partici-pantes deixam de ser apenas objetos de estudo e são capazes de utilizar os conhecimentos propostos pela pesquisa em sua prática docente, conforme defende Bueno (2003), e assim apostar na melhoria do ensino.

De forma geral, a capacitação trouxe benefícios para a atuação docente. No entanto, nossa in-tenção era investigar, também, as contribuições específicas da capacitação na atuação docente espe-cialista. Percebemos que as professoras destacaram o trabalho conjunto com o professor regente, in-clusive, para a produção de recursos didáticos: “vamos trabalhar para produzir mais recursos

facil-itadores de aprendizagem em corroboração com o professor regente” (Karla). A professora

Elisângela relatou: “esse trabalho em conjunto é primordial para minimizar as dificuldades

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ação que ainda acontece em muitas escolas: a responsabilidade de a inclusão ficar sobre o

profission-al do AEE em lugar de ser uma responsabilidade compartilhada.

3.2.3. Os Produtos

Os produtos congregaram as produções finais da Capacitação em Serviço. Esse tema parecia muito claro às professoras pelo fato de apresentarem a produção concreta, coletiva, original e protag-onista delas, fruto de suas reflexões e afetos, vividos durante a capacitação.

Decidimos, coletivamente, uma tecnologia assistiva e/ou metodologia e elaboramos um Pro-grama Facilitador de Aprendizagem — Construindo Tecnologias Assistivas — envolvendo o docen-te especialista e o regendocen-te por meio de um trabalho colaborativo buscando novos caminhos de apren-dizagem aos estudantes, a fim de que os estudantes sejam capazes de internalizar/abstrair os con-ceitos (VIGOTSKI, 1995).

A professora Fernanda apresentou a sua opinião sobre o programa e como foi planejado:

“imaginamos que construir uma proposta que explore os conceitos por meio de materiais concretos através de modelos ou de experimentos poderá ajudar o aluno com e sem deficiência e os profes-sores regentes de Ciências” (Fernanda).

Trabalhar como esse objetivo exige do docente uma atuação diferenciada, investigativa, con-textualizada e que tenha significado para o estudante, eleve a sua autoestima e se sinta feliz por

aprender (BERSH, 2006; MILLAR, 2003).

Considerações Finais

A Capacitação Profissional em Serviço apontou implicações positivas na comunidade escolar, quando a universidade possibilitou a interação das pesquisadoras-professoras com professores, espe-cialistas e das classes, promovendo momentos de formação, compartilhamento de experiência, colaboração e reflexão-ação, no intuito de planejar metodologias/estratégias inclusivas investigati-vas.

Entendemos que o estudo colabora para: 1º. Identificar que a parceria dos professores

especial-istas do AEE com os professores da classe comum, no contexto do Ensino de Ciências, gera

contex-tos de ensino mais inclusivos e investigativos; 2º. Comprovar que uma das funções do AEE deve ser a Capacitação em Serviço de professores da classe comum, haja vista que essa estratégia de me-diação possibilita aprimorar a relação dos profissionais que compõem o AEE e os docentes, por meio de espaços intencionalmente organizados para provocar diálogo, reflexão e aprendizagem sobre con-ceitos, metodologias e estratégias acessíveis a todos os alunos para o desenvolvimento de aulas mais significativas; 3º. Aproximar os dois espaços de trabalho, universidade e escola, e conectar os conhecimentos das duas entidades de ensino em busca de um objetivo maior que é a melhoria da

ed-ucação, não como responsabilidade única da escola.

Ao proporcionarmos um momento de formação de professores, na própria escola, aproximan-do a teoria da prática pedagógica, fortalecemos os laços da Universidade com a escola e, nós,

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pesquisadores, estaremos atuando como transformadores e sendo transformados, afastando a ideia de

que os professores são apenas consumidores do que é produzido nas Universidades, estabelecendo

uma via de mão dupla, de aprendizado recíproco entre os dois espaços, percebendo a escola, tam-bém, como um rico espaço de formação.

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