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IX-011 O PLANEJAMENTO DO SISTEMA DE DRENAGEM URBANA NA CIDADE DE BELO HORIZONTE

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IX-011 – O PLANEJAMENTO DO SISTEMA DE DRENAGEM URBANA

NA CIDADE DE BELO HORIZONTE

José Roberto Borges Champs(1)

Engenheiro Civil pela Escola de Engenharia da UFMG. Especialista em Engenharia Sanitária e Ambiental pela UFMG. Engenheiro da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (SUDECAP) – Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, MG.

Silvana Trigueiro Cunha Sasdelli Perez

Engenheira Civil pela Escola de Engenharia da FUMEC. Especialista em Engenharia Sanitária e Ambiental pela UFMG. Engenheira da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (SUDECAP) - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.

Carla Maria Vasconcellos Fróes

Engenheira Química pela Escola de Engenharia da UFMG. Mestrado em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela UFMG . Engenheira da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (SUDECAP) - Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.

Endereço(1): Av. do Contorno, 5454, Funcionários, Belo Horizonte MG CEP: 30110100 Tel: 31xxx 32775014

-e-mail : jrchamps@pbh.gov.br

RESUMO

O Plano Diretor de Drenagem Urbana (PDDU-BH), em elaboração pela Prefeitura de Belo Horizonte, é um instrumento de planejamento do controle e da gestão das águas circulantes na Capital do Estado de Minas Gerais.

A 1ª Etapa do Plano – concluída em janeiro de 2.001, após 16 meses de elaboração – abrangeu os estudos do sistema de drenagem integrados com os diversos componentes da infra-estrutura da cidade, tais como a erosão do solo, a poluição das águas, a ocupação das margens e das áreas de inundação dos cursos d’água, o planejamento urbano e a legislação de uso e ocupação do solo, a saúde coletiva e a estabilidade dos canais. Realizou, ainda, o cadastramento físico e qualitativo de todo o sistema de macro e micro drenagem e implantou um Sistema de Informações Geográficas (SIG) aplicado à estrutura e à dinâmica da drenagem da cidade.

A 2ª Etapa – a iniciar ainda em 2.001 e com prazo de duração de 4 anos – tem como componentes a implantação de uma rede hidrométrica para monitoração da relação chuva-vazão, modelagem hidrológica / hidráulica do sistema de drenagem existente e as proposições de gestão e ações para o aperfeiçoamento do controle das inundações e da circulação das águas.

PALAVRAS-CHAVE: Drenagem Urbana, Controle de Inundações, Planejamento Urbano, Monitoramento

Hidrométrico, Gestão Urbana, Políticas Públicas.

INTRODUÇÃO

No final do século XIX, o arraial conhecido por Curral Del Rey foi escolhido como local para edificação de uma nova cidade destinada a ser a capital do Estado de Minas Gerais. Em 1.897, essa cidade foi fundada com o nome de Belo Horizonte.

O projeto do núcleo urbano inicial, concebido para abrigar uma população de 200 mil habitantes, foi conscientemente planejado pela equipe técnica liderada pelo engenheiro Aarão Reis de acordo com a concepção racionalista de domínio da natureza pelo homem, coerente com as idéias positivistas predominantes, àquela época, no pensamento da elite política do Brasil Republicano.

A hidrografia natural não foi levada em conta no traçado urbanístico, a despeito das considerações feitas pelo então chefe da 5ª Divisão da Comissão Construtora da Nova Capital, em 1.894, Eng. Saturnino de Brito, que sugeriu um novo traçado, denominado traçado sanitário, admitindo dimensões e sinuosidades nas vias compatíveis com os percursos naturais dos córregos e ribeirões existentes na área do projeto, sem desmerecer

FOTO NÃO DISPONÍVEL

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o traçado geométrico inicial da equipe de Aarão Reis, o qual, no entanto, permaneceu inalterado. A Figura I apresenta a planta de Belo Horizonte com os traçados geométrico e sanitário propostos.

Os primeiros sistemas sanitários e de drenagem foram implantados com base nos princípios higienistas, também predominantes naquela época. Assim, o método de escoamento prevalecente foi o da evacuação rápida das águas reunidas em sistemas unitários. Nessa época foram construídos os primeiros canais e retificados os primeiros cursos d’água. Entretanto, estes sistemas converteram-se em condutos de efluentes poluídos, meros meios de transporte de rejeitos dos primeiros núcleos populacionais da cidade.

Figura I: Traçados Geométrico e Sanitário de Belo Horizonte – Fonte: Fundação João Pinheiro, 1996

A Superintendência de Desenvolvimento da Capital – SUDECAP, propôs, em 1.979, um plano de intervenções nos cursos d’água, para um prazo de 10 anos, denominado Plano de Urbanização e Saneamento Básico de Belo Horizonte – PLANURBS – onde recomendou como única alternativa o revestimento em concreto dos córregos e ribeirões localizados nas áreas já urbanizadas ou destinadas à expansão urbana, totalizando 305 km de extensão.

A Prefeitura Municipal, nas três décadas seguintes, executou um intenso programa de obras de canalizações. Considerando todos os canais implantados no Município, estima-se que os investimentos financeiros superaram com folga a cifra de US$ 1 bilhão.

A CRISE DO SISTEMA TRADICIONAL DE DRENAGEM

Três fatores determinam a crise do sistema tradicional de drenagem: o custo ambiental, o custo financeiro e o funcionamento inadequado das canalizações da rede de macrodrenagem.

O custo ambiental do sistema tradicional de drenagem está na exclusão dos cursos d’água do cenário urbano. As justificativas em geral apresentadas para esta exclusão e a consequente implantação de canalizações são feitas sob os seguintes argumentos: (a) O curso d’água transformou-se em esgoto a céu aberto; (b) a comunidade deseja a canalização; (c) a canalização é necessária para viabilizar a implantação de uma via; (d) a canalização possibilita a implantação dos interceptores de esgotos; (e) a canalização facilita a manutenção do córrego, e (f) o córrego deve ser canalizado para aumentar a velocidade de escoamento e reduzir os níveis de pico das cheias e, consequentemente, reduzir as ocorrências de inundações.

Diversas grandes obras de regularização de cheias em cidades brasileiras foram planejadas e executadas com recursos da União, onde o antigo Departamento Nacional de Obras de Saneamento/DNOS desempenhou papel destacado. A pouco mais de uma década atrás, os municípios ainda podiam contar com financiamentos

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para drenagem oriundos da União através de programas do tipo FIDREN e FAS, geridos pela Caixa Econômica Federal. Mais recentemente, o programa PROSANEAMENTO, da Secretaria de Política Urbana (SEPURB) do Ministério do Planejamento, impunha maiores exigências para financiamento de programas municipais de drenagem urbana em comparação com outros tipos de empreendimentos de saneamento. O tratamento hierárquico seguia a seguinte ordem : esgotamento sanitário; abastecimento de água; resíduos sólidos; e, por último, a drenagem urbana. A taxa de jurosanual para a drenagem era de 8%, enquanto para os outros programas era de 5%. Do mesmo modo discriminava-se também quanto à contrapartida do município, sendo de 20% para a drenagem e de 10% para os outros sistemas. As condições para análise de engenharia das solicitações de financiamento também eram mais exigentes para a drenagem. Foi pois com propriedade que já se disse que a drenagem urbana, no Brasil, é a filha bastarda do saneamento.

Desse modo, recai atualmente sobre as administrações municipais o fardo mais pesado do ônus financeiro dos custos de implantação e manutenção dos sistemas de prevenção e controle de inundações. O que ainda agrava esta situação é o fato dos municípios não disporem de meios de tributação pela prestação destes serviços, à exceção, talvez, da cidade paulista de Santo André. Assim, as prefeituras encontram-se desprovidas de condições financeiras para arcar com os elevados custos das novas obras e de manutenção do serviço municipal de drenagem.

Apesar das grandes somas de recursos financeiros investidos em seu sistema de drenagem, Belo Horizonte continua padecendo com as inundações. Muitos dos canais implantados funcionam de maneira inadequada, não comportando as vazões para as quais foram projetados e recebendo cargas de entulhos que obstruem a passagem das águas. Entre as causas da deficiência de funcionamento de muitos desses canais, estão a metodologia de cálculo empregada originalmente em seus projetos, as interferências com outros componentes da infra-estrutura urbana, tais como a rede coletora de esgotos, adutoras, lançamentos indevidos de resíduos sólidos, assoreamento, ocupação das margens pela população de baixa renda etc.

Novos métodos de cálculo baseados em meios informáticos – os chamados modelos matemáticos – permitiram que outros elementos intervenientes no ciclo da água pudessem ser incorporados nos critérios para dimensionamento das estruturas do sistema de macrodrenagem. O fato é que as dimensões das canalizações já implantadas revelaram-se insuficientes para o escoamento das cheias de projeto quando submetidos a uma análise através desses novos procedimentos.

A gravidade dos efeitos das inundações pode ser exemplificada através da comunicação feita pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil de Belo Horizonte (COMDEC) em janeiro de 1.991, onde, durante aquele mês, registraram-se 709 ocorrências de danos devido às chuvas, sendo 112 inundações de residências e 102 desabamentos. Na edição de 17 de setembro de 1.991, o jornal Estado de Minas divulgou que as chuvas ameaçavam 16 mil moradores residentes em áreas ribeirinhas e em encostas de morros.

Em um levantamento dos registros de eventos de cheias noticiados pela imprensa local, foi possível verificar que no período de 1.980 a 2.000 foram registradas 335 inundações devido a transbordamentos de córregos e ribeirões, em sua quase totalidade revestidos com concreto. A Figura II ilustra os registros noticiados pela imprensa local nas seis últimas décadas.

Fonte : Plano Diretor de Drenagem Urbana de B. Horizonte – Sudecap

Figura II - SÉRIE HISTÓRICA DA EVOLUÇÃO POPULACIONAL E OCORRÊNCIAS DE INUNDAÇÃO NO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE

15 15 26 65 270 0 50 100 150 200 250 300 1940 1950 1960 1970 1980 1990 ANO OCORRÊNCIAS DE INUNDAÇÃO 0 500.000 1.000.000 1.500.000 2.000.000 2.500.000 POPULAÇÃO OC. INUNDAÇÃO POPULAÇÃO

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Observação : Não foram realizados levantamentos de eventos para a década de 60.

A BUSCA DE NOVOS PARADIGMAS PARA A DRENAGEM URBANA

O desejo das comunidades urbanas de canalizar os córregos é uma aspiração legítima, porém equivocada. É legítima porque reflete a vontade de se livrar de problemas decorrentes da falta de saneamento, da poluição, das doenças, dos maus odores, de cenários deploráveis de miséria e insalubridade. É equivocada, porque essa medida apenas esconde os problemas, não os resolve e nem combate suas causas. Trata-se de um falso saneamento.

A inclusão dos cursos d’água na paisagem urbana é uma exigência do mundo moderno, que também exige o saneamento de suas águas. A palavra de ordem para essa questão é a valorização das águas, incluindo-se as águas que circulam nas cidades.

O controle das cheias e a prevenção de inundações podem ser feitos também na área da bacia hidrográfica de um curso d’água. Para isso, medidas que visem o aumento da permeabilidade do solo, da retenção e do retardamento dos escoamentos superficiais podem aliviar as vazões afluentes aos fundos de vale e calhas dos córregos. É possível, então, aplicar o conceito de vazão de restrição nos canais urbanos, seja em leito natural ou revestido, tornando possível a proposição de soluções aplicáveis à bacia, invertendo o procedimento tradicional de se intervir exclusivamente nos leitos dos cursos d’água, o que invariavelmente resulta em grandes estruturas de canais em concreto armado cada vez maiores e de eficiência limitada.

Os diversos sistemas que compõem a infra-estrutura urbana interagem entre si e integram-se num único corpo que é a própria cidade. O serviço de coleta de lixo, o esgotamento sanitário, o controle das erosões, a saúde coletiva, o planejamento da ocupação do solo e a estrutura viária interferem com o ciclo da água no espaço e no tempo e impõem uma dinâmica de causa e efeito entre os elementos em jogo. A drenagem, portanto, só pode ser analisada e desenvolvida enquanto parte desse sistema complexo que é o sistema urbano, assim como deve ser planejada de forma integrada aos demais sistemas e serviços urbanos.

Os métodos a serem utilizados para este desenvolvimento urbano integrado devem, entretanto, procurar ajustar-se às modernas concepções de planejamento que dominam a cena política e científica da parte desenvolvida do nosso mundo. Estas concepções exigem um tratamento multidisciplinar dos problemas e pressupõem soluções a longo prazo, negociação política e participação social. Priorizam metas de desenvolvimento que tem por finalidades a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, a busca de uma melhor organização econômica para a sociedade e a garantia da conservação do meio ambiente. Desse modo, as soluções de planejamento que se subordinam a uma visão de emergência ou de urgência, imediatista, ou então meramente tecnicista e desvinculada do contexto econômico e social devem ser descartadas.

CONSTRUINDO UM NOVO MODELO DE GESTÃO PARA A DRENAGEM

“O planejamento é uma ferramenta de trabalho utilizada para tomar decisões e organizar as ações de forma lógica e racional, de modo a garantir os melhores resultados e a realização dos objetivos, com os menores custos e no menor prazo possível” (Buarque, Sérgio C., 1.999).

O processo de tomada de decisão, por sua vez, vai depender das prioridades de intervenção já definidas pela Administração Municipal e dos pressupostos políticos estabelecidos pela sociedade.

Em Belo Horizonte, onde a Prefeitura instituiu a participação popular no processo de definição da aplicação de recursos do orçamento municipal nas obras de melhoria urbana, o planejamento de uma atividade setorial (por exemplo, a drenagem) deve estar articulado com a dinâmica desta participação social. Na sequência do processo, serão grandes as possibilidades de se criar um novo modelo de gestão para as águas circulantes na cidade. No bojo desse novo modelo, há que se aplicar o conceito de gestão solidária, compartilhando-se as responsabilidades com as comunidades envolvidas. “Uma política solidária leva em consideração a interdependência estreita entre os diferentes territórios (urbanos, periferias urbanas e rurais) e bacias a montante e a jusante e entre pessoas que as habitam e as frequentam, que as gerenciam e as colocam em destaque. Uma política solidária implica em novas práticas comunitárias baseadas no consenso da participação e da cooperação coletiva” (Kauark-Leite, L, 2.000). Com a gestão solidária, a comunidade auxilia na escolha das soluções, responsabiliza-se pela conservação das estruturas e do funcionamento do sistema e também contribui para a erradicação da poluição.

Medidas para garantir a sustentabilidade do novo modelo devem ser adotadas, entre elas devem ser priorizadas a preservação do patrimônio já instalado para drenagem, a compensação dos efeitos da expansão

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da urbanização, o diagnóstico permanente do sistema de drenagem e sua sustentação financeira. As principais propostas correntes e em estudo para sustentação financeira, são: aplicação do princípio usuário-pagador, através da criação da taxa de drenagem, aplicação do princípio poluidor-usuário-pagador, com a imposição de penalidades e multas aos poluidores e aplicação de taxas de contribuição de melhorias quando se tratar de investimentos para novas obras.

Em Belo Horizonte, o caminho utilizado para implantação desse novo modelo de gestão foi a de instituir um plano diretor de drenagem urbana.

O PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA DE BELO HORIZONTE

O Plano tem sua metodologia descrita e consolidada no Termo de Referência produzido em 1.997 pela Superintendência de Desenvolvimento da Capital – SUDECAP, Autarquia municipal encarregada da execução do plano de obras da Prefeitura Municipal.

Este documento contou com a participação de professores e pesquisadores do Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos (EHR) da Escola de Engenharia da UFMG que, por sua vez, agregou a participação da empresa francesa CERIC / SAFEGE que à época elaborava o Plano Diretor de Drenagem da Bacia do Rio Sena, na cidade de Paris.

Para desenvolver o Plano, a SUDECAP dividiu sua elaboração em duas etapas. A primeira, já concluída, iniciou-se em setembro de 1.999 e terminou em janeiro de 2.001.

Nesta primeira etapa realizou-se um completo levantamento cadastral de todos os elementos que integram o sistema de drenagem da cidade, abrangendo a micro e a macrodrenagem. O levantamento da micro incluiu a rede tubular, as caixas de captação, o estado de conservação destes elementos e as ocorrências de inundações e anomalias como assoreamento, poluição etc. Foram realizados levantamentos em 4.270 km de vias de 11.200 logradouros públicos, 11.500 poços de visita, 60 mil grelhas-caixas-coletoras (bocas-de-lobo), 1.100 pontos de lançamentos d’água em cursos d’água e 4.400 dispositivos diversos integrantes da infra-estrutura de drenagem. O levantamento da rede de macrodrenagem foi feito em fases distintas, iniciando-se pelos cursos d’água em leito natural e em seguida pelos canais revestidos. Foram cadastrados cerca de 288 km de córregos e ribeirões nas duas bacias onde a cidade de Belo Horizonte está inserida, que são as bacias do Arrudas e da Onça (140 km de canais revestidos fechados, 40 km revestidos abertos e 108 km em leito natural) Além disso foram estudados os demais cursos d’água existentes para fins de caracterização quanto ao estado de salubridade de suas águas. Foram verificadas e registradas as características geométricas dos canais, as condições de estabilidade das estruturas e as condições sanitárias.

A área da zona de estudo foi de 420 km2, sendo 77 % desse total situado no município de Belo Horizonte, 19 % em Contagem e 4 % em Sabará.

Nesta primeira etapa também foi realizada a divisão da malha hidrográfica do município de Belo Horizonte em diversas bacias elementares, as quais passaram a representar as unidades de planejamento do Plano Diretor de Drenagem. Os critérios prevalecentes para a delimitação destas bacias foram definidos pela conveniência da modelagem hidrológica, preservando-se as identidades físico-regionais de cada área, resultando em quatro macro-bacias (Onça – Isidoro – Arrudas e Diretas Velhas) e 94 bacias elementares, conforme ilustrado pela Figura III.

A codificação escolhida para as bacias elementares foi aquela que permitiu uma flexibilização para inclusão de novas subdivisões futuras. A toponímia adotada foi feita de forma coerente com as denominações históricas e, na falta destas, adotaram-se as denominações populares locais.

As bacias elementares foram caracterizadas através dos seguintes elementos: área, população, extensão do talvegue principal (ou do curso d’água principal), diferença de cota entre a seção de controle da bacia e seu ponto mais à montante,

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Figura III – Bacias Elementares do Município de Belo Horizonte

A metodologia adotada no PDD para estimar as áreas impermeáveis de cada bacia foi elaborada por Campana (1.992). Esta metodologia preconizou a utilização de imagens digitais obtidas por sensoriamento remoto e uma abordagem de leitura com base na matemática “fuzzy”. Foram utilizados dados do satélite Landsat 5-TM relativos a duas passagens, uma em 1.996 e outra em 1.999. Foram estimadas as taxas de área impermeável para trinta regiões de Belo Horizonte, a partir da imagem de 1.996, com densidade de população conhecida, com a finalidade de estabelecer uma relação funcional entre a fração de áreas impermeáveis e a densidade de população. A seleção destas regiões levou em conta áreas com densidades demográficas semelhantes e próximas de 2 km2, os limites das bacias elementares e a diversidade de uso e ocupação do solo.

A Figura IV apresenta os resultados obtidos a partir desta amostra de dados, representando o comportamento da taxa de impermeabilização em função da densidade habitacional.

Pode-se observar que a distribuição dos pontos seguiram duas tendências: A Tendência 1 refere-se ao caso de áreas com relevo acidentado e acentuada verticalização, ou seja forte aumento populacional vertical com pouca impermeabilização do restante da área, válida para a maioria das bacias elementares. A Tendência 2 é de aplicação restrita para bacias elementares onde parte da área verticalizou e o restante apresenta áreas em franca expansão e desenvolvimento urbano. A equação logarítmica para a curva de tendência 1 (y = 22,967 ln (x) – 31,882) e a poligonal para a tendência 2 (y = - 0,0002x2 + 0,3368 x +7,1476) apresentaram coeficientes de determinação de 0,90 e 0,98, respectivamente. Estas relações podem ser utilizadas no prognóstico de acordo com as características de cada bacia elementar.

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Figura IV – Relação entre densidade populacional e impermeabilidade do solo em Belo Horizonte

Os dados referentes aos levantamentos cadastrais e as caracterizações das bacias elementares foram inseridos em um Sistema de Informações Geográficas/SIG, cuja plataforma gráfica foi o sistema Microstation-Bentley. A base inicial de dados foi obtida na empresa municipal de processamento de dados – PRODABEL.

Em hidrologia muitos dados são pontuais, enquanto outros são espaciais. O SIG possibilita a combinação destes diferentes dados, além de potencializar a manipulação e a efetiva divulgação pública das informações. Outra possibilidade é a inclusão no SIG de módulos hidrológicos / hidráulicos associados a uma rede de medições hidrométricas, o que permitirá uma modelagem permanente do sistema de drenagem.

A segunda etapa tem sua previsão de início em setembro de 2.001 e duração de 4 anos. São partes integrantes desta etapa: monitoramento hidrométrico, modelagem do sistema, estudos para gestão e plano de ação para aperfeiçoamento do sistema de drenagem.

A hidrologia urbana tem suas peculiaridades que diferem da hidrologia aplicada às grandes extensões de áreas rurais, ou naturais. Destacam-se a distribuição espacial das precipitações, as durações para as chuvas críticas e o tempo de resposta do sistema de drenagem às tormentas. Para o planejamento da drenagem urbana há que se considerar a desuniformidade da distribuição de uma chuva, sua curta duração e a rapidez da resposta no sistema de escoamento. Assim sendo, a densidade da cobertura de registro dos eventos deve ser compatível com essas características. Um exemplo notável é o evento do dia 21/01/2.000, responsável pelo transbordamento do córrego Cachoeirinha na região da avenida Bernardo Vasconcelos, onde três pluviógrafos situados a apenas alguns quilômetros de distância da inundação registraram diferentes intensidades com variação superior a 50%.

Para o serviço de monitoramento hidrométrico estão previstas 17 estações de medição de chuva, 22 de vazão e 3 de qualidade da água.

A modelagem (ou modelos de simulação), é representada pelo conjunto de programas informáticos capazes de efetuar os cálculos matemáticos relativos à simulação da transformação chuva-vazão e ao escoamento no sistema de drenagem. Os modelos serão dos tipos hidrológico e hidráulico. O primeiro efetuará a simulação da transformação chuva-vazão à saída das bacias hidrográficas e fornecerá as entradas para a simulação dos escoamentos no sistema de drenagem. O segundo efetuará a simulação hidráulica dos escoamentos no sistema de drenagem.

Os estudos de gestão do sistema de drenagem serão abordados em um contexto de sustentabilidade, enquanto serviço prestado pela municipalidade. Implicará, portanto, na definição da estrutura administrativa e operacional, além da financeira.

O plano de ação para aperfeiçoamento do sistema é a própria síntese do Plano Diretor. Este plano de ação deverá conter todo o elenco de intervenções estruturais e não-estruturais, necessariamente hierarquizadas e priorizadas.

DENS IDADE HABITACIONAL VERS US ÁREA IMPERMEÁVEL

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0 100 200 300

Densidade populacional (hab/ha)

Impermeabilidade (%)

Tendência 1 Tendência 2 Ajuste Tendência 1 Ajuste Tendência 2

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Um produto do PDD é o programa de saneamento de cursos d’água concebido pela Prefeitura, denominado DRENURBS – Programa de Recuperação Ambiental e Saneamento dos Fundos de Vale e dos Córregos em Leito Natural de Belo Horizonte. Este programa prevê a despoluição de 135 km de cursos d’água, abrangendo 73 córregos, correspondendo a 20% da extensão total e 30% do número de córregos da cidade. Prevê, também, o tratamento urbanístico dos fundos de vale envolvidos e sua integração no contexto da cidade. A área de abrangência do Programa é de 177 km2 (51% da área total do Município) e a população atingida é de 1.011.000 habitantes, correspondendo a 45% da população total da cidade. Sua proposta tem também um caráter estratégico de preservação da condição original das calhas dos córregos em leito natural remanescentes do impacto da urbanização. Representará uma inovação técnica em relação ao passado, sobretudo ao antigo PLANURBS. Sua abordagem é multidisciplinar e integradora dos diversos sistemas urbanos. Prevê, ainda, a elaboração de diagnósticos sanitários e ambientais e estudos de pré-viabilidade, tanto do ponto de vista propriamente ambiental quanto técnico e financeiro. Serão elaborados projetos básicos de esgotamento sanitário, drenagem pluvial, coleta de resíduos sólidos, controle de erosões, remoção de residências situadas em áreas ribeirinhas e seu reassentamento, estabilização de margens e ocupação social das áreas remanescentes.

CONCLUSÃO

A hidrografia natural de Belo Horizonte, ainda na fase de planejamento de nossa capital, foi negligenciada. Devido a isto, a abordagem praticada em relação à implantação dos sistemas de drenagem e de esgotamento sanitário foi equivocada, visto que se prestou apenas a transferir as inundações locais para regiões situadas a jusante, a esconder a insalubridade, o mau cheiro e a degradação ambiental com a construção de canais em concreto, excluindo o curso d’água do contexto da cidade.

Dentro deste cenário, o DRENURBS – integrante do Plano Diretor de Drenagem – propõe uma nova abordagem que visa estabelecer meios de preservação das condições naturais dos córregos da cidade, saneando-os e desocupando suas margens e calhas de inundação.

Respeitadas estas premissas, e com a implementação global do Plano Diretor de Drenagem, espera-se uma melhor qualidade de vida para a população ribeirinha e até mesmo, para toda a comunidade de Belo Horizonte.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÄFICAS:

1. BAPTISTA, M.B.; NASCIMENTO, N.; RAMOS, M.H.D., CHAMPS, J.R.B., Aspectos da Evolução da Urbanização e de Problemas de Inundações em Belo Horizonte. Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, ABRH, (1.997). Vitória, ES.

2. BUARQUE, SÉRGIO C., Metodologia de Planejamento do Desenvolvimento Local e Municipal Sustentável, Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura – IICA, (1.999), Brasília, DF. 3. CHAMPS, JOSÉ ROBERTO, Planejar a Drenagem Urbana : Menos Inundações e Mais Qualidade de

Vida, Revista Planejar BH, Secretaria Municipal de Planejamento / PBH, (1.999), Belo Horizonte, MG. 4. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, Saneamento Básico em Belo Horizonte, Trajetória em 100 anos,

(1.996). Belo Horizonte, MG.

5. SUDECAP – Superintendência de Desenvolvimento da Capital, Plano Diretor de Drenagem Urbana, (2.000), Belo Horizonte, MG.

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