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BREVE HISTÓRICO DO CINTURÃO VERDE EM TRÊS LAGOAS

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Academic year: 2021

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Camila Aparecida Alves da Silva* Universidade Federal de M ato Grosso do Sul/CPTL/DCH

camilaalves39@gmail.com

Aline Cristina Alves da Silva** Universidade Federal de M ato Grosso do Sul/CPTL/DCH

alinegeoufms@hotmail.com

Rosemeire Aparecida de Almeida Universidade Federal de M ato Grosso do Sul/CPTL/DCH

rosimeire-almeida@uol.com.br

Ana Beatriz de Oliveira Ferreira** Universidade Federal de M ato Grosso do Sul/CPTL/DCH

bia.ferreira@hotmail.com

Lucimar Teixeira de Oliveira** Universidade Federal de M ato Grosso do Sul/CPTL/DCH

lucimar.to@hotmail.com

HISTÓRIA DE VIDA E CONSTRUÇÃO DE TERRITORIALIDADES NO CINTURÃO VERDE, MUNICÍPIO DE TRÊS LAGOAS-MS

INTRODUÇÃO

Este trabalho é resultado da pesquisa realizada em 2009, na área conhecida como Cinturão Verde, localizada no Município de Três Lagoas-MS, durante a disciplina “Geografia Agrária e Movimentos Sociais”, ministrada pela Professora Rosemeire Aparecida de Almeida, no 2º Ano no curso de Geografia/Bacharelado da Fundação Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

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A área compreendida como Cinturão Verde teve origem na desapropriação, em 1975, da fazenda Santa Helena para implantação do Distrito Industrial de Três Lagoas. Posteriormente, houve cedência, por parte da Prefeitura Municipal, de uma parte destas terras para comodatários cultivarem hortaliças, ainda no ano de 1975.

Mas, foi somente em dezembro de 2002 que os moradores conquistaram, por meio de ampla mobilização, a lei que criou oficialmente o Cinturão Verde, anteriormente denominado pelos órgãos públicos como área industrial.

Atualmente o Cinturão Verde é constituído por aproximadamente 185 lotes, sendo que morando e trabalhando nesta área temos 53 famílias. Uma parte restante dos lotes é ocupada apenas como área de trabalho. Outra parte encontra-se ociosa a espera de novos comodatários. É importante relatar que depois que a área se tornou cinturão verde houve a retomada de lotes por parte da prefeitura municipal sob alegação que seus ocupantes não atendiam o perfil exigido para comodatário.

OBJETIVOS E METODOLOGIA

Neste ensaio, objetiva-se evidenciar a dinâmica sócio econômica das famílias que vivem e trabalham no Cinturão Verde, em específico suas histórias de vida, a concepção que possuem da terra e as estratégias de construção do território, situações que representam ações dos homens em sociedade, demarcando e organizando o território tanto na forma jurídica como cultural e economicamente. Assim o conceito de território se faz categoria principal da análise geográfica, sendo ele produto e condição dos processos sociais.

O território resulta das relações espaços-temporais, ele é construído a partir da apropriação do espaço transformado historicamente pelas sociedades. Ou seja, manifesta-se como um compartimento do espaço, resultado da diversificação e organização da sociedade. Neste sentido, o Cinturão Verde manifesta-se enquanto território por apresentar características que resultam da organização social e econômica de seus sujeitos que, por meio do trabalho, criam

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estratégias de sobrevivência nesta área diminuta, em que cada lote é composto por um ha de terra.

Neste território construíram, à revelia do poder público, não apenas o lugar de trabalho, mas a morada da vida, uma vez que a maioria absoluta trabalha e mora no lote. Estes fatores, vida e trabalho, formam a territorialidade do Cinturão Verde, que se forma através das condições sociais e territoriais advindo das relações e dos processos históricos que analisados detalhadamente configuram a formação do perfil territorial e cultural. A territorialidade do local torna-se interessante, pois, efetiva-se nas relações cotidianas, ou melhor, ela corresponde à relação social cotidiana, no trabalho, na família e nos meios de produção de cada trabalhador.

Vale salientar que o município de Três Lagoas/MS vive um período de intensificação das dinâmicas territoriais fruto da instalação do complexo de celulose e papel comandado pela FIBRIA, situação que aponta para uma transformação intensa na busca por um processo de organização em rede que elimina barreiras, aumenta os fluxos de produtos e estabelece novas formas de comércio. Todavia, o Cinturão Verde ainda se revela como manifestação de um modo de vida em que os trabalhadores produzem seus alimentos, com destaque para as leguminosas, frutas, verduras, sendo que o excedente é vendido para a população que reside no município de Três Lagoas, em particular no entorno do Cinturão uma vez que o mesmo encontra-se dentro do perímetro urbano.

No entanto, apesar da existência de um certo equilíbrio entre o autoconsumo e a venda de excedente, notamos que há muitas dificuldades principalmente em relação a falta de apoio para a diversificação da produção, bem como para o estímulo à indústria doméstica. Neste sentido, são poucas as famílias que conseguem agregar valor a seus produtos a fim de transformá-los em doce, rapadura, farinha, licor, etc.

Cabe destacar que este modo de vida, em que o trabalhador não se separa do seu meio de produção (a terra) e nele produz parte significativa de seus alimentos, nos revelou que a terra tem para os moradores do Cinturão Verde um sentido de vida e trabalho, portanto diferente do sentido de mercadoria alienada que geralmente ocorre no sistema capitalista. Isso não quer dizer que eles não saibam o valor econômico da terra, tanto é que o maior sonho é receber o título

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definitivo do lote, mas percebe-se nos relatos e entrevistas que a terra é patrimônio da família, fonte de sobrevivência física e cultural daqueles que nela vivem.

O caminho metodológico deste trabalho são os seguintes: leitura sistematizada sobre o tema da questão agrária no Brasil; leitura sobre o histórico do Cinturão Verde; saída a campo, no caso para o Cinturão Verde.

As saídas de campo objetivaram o levantamento de dados junto aos moradores, em seguida foi realizada a tabulação e compilação destes dados em forma de gráficos e tabelas para auxílio na reflexão teórica necessário para compreensão da territorialidade do Cinturão Verde.

Das 53 famílias residentes no Cinturão Verde foram entrevistas 15 famílias, sendo que o questionário aplicado versava sobre trajetória de vida; perfil sócio-econômico; perspectivas de futuro.

HOMENS E MULHERES DO CINTURÃO VERDE: VIDA E TRABALHO

Muitos moradores residentes do bairro do cinturão verde são migrantes, sendo grande parte do estado de São Paulo e de outras cidades do Mato Grosso do Sul. Há também migrantes da Bahia, Paraná e Rondônia.

A maioria das famílias entrevistadas adquiriu seus lotes no ano de 2006 e 2007, portanto recentemente. Seguida por um grupo mais antigo que adquiriu em 2001. Portanto, o tempo de residência no cinturão verde varia muito de família para família.

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Gráfico 1 - Quando Adquiriu o Lote no Cinturão Verde

Fonte: Trabalho de Campo da Disciplina, 2009.

Grande parte dos lotes foi adquirida pelos moradores através da prefeitura (via comodato) ou repassados de morador para morador. Um caso em especifico relata que comprou o direito de uso através da CESP (Companhia Energética de São Paulo).

Em cada lote residem de duas a quatro pessoas, sendo que em alguns lotes vivem mais de quatro pessoas. Das famílias entrevistadas pode-se perceber que muitos filhos moram no Cinturão Verde – embora a área seja diminuta (1 ha) - e seguem os mesmos passos de seus pais.

A maior parte da renda das famílias entrevistadas vem da aposentadoria, pois são pessoas de idade avançada. Seguida de renda adquirida com a produção no lote e com a venda dos produtos da indústria doméstica (doces, farinha, rapadura). Alguns dos moradores utilizam o programa bolsa família do governo como forma de renda. Uma pequena parte não possui nenhum tipo de renda. E apenas um dos entrevistados é pensionista.

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Gráfico 2: Tipo de Renda

Fonte: Trabalho de Campo, 2009.

Quando perguntamos se a renda obtida é suficiente para o sustento da família o resultado ficou na média. Ou seja, 50% acreditam que é possível sobreviver com a renda obtida no lote e a outra metade disse o contrário, como mostra o gráfico 3.

Gráfico 3: A renda é

suficiente para o sustento da família

Fonte: Trabalho de Campo da Disciplina, 2009.

Nos lotes a água utilizada para consumo é conservada em poços, somente algumas pessoas consomem a água encanada. Já em relação à energia elétrica, todos a utilizam no lote.

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Um dos problemas destacados pelos moradores do Cinturão Verde é a falta de orelhões, situação que obriga as famílias a se direcionarem a outros bairros para a utilização do aparelho telefônico.

Em todos os lotes visitados há presença de bens de consumo duráveis como televisão, rádio, bicicleta.

Quando o assunto é a organização dos moradores do Cinturão Verde, a maioria declarou que não faz parte do Sindicato dos Trabalhadores Rurais.

Gráfico 4 – Faz parte do Sindicato dos Trabalhadores Rurais

Fonte: Trabalho de Campo da Disciplina, 2009.

LIMITES E POSSIBILIDADES DA RECRIAÇÃO CAMPONESA NO CINTURÃO VERDE

O Cinturão Verde se organiza de forma relacional, em que a vivência e a simplicidade o caracterizam, evidenciando a produção através das famílias que ali se relacionam e trabalham, produzindo seus produtos.

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Fonte: Almeida, 2009.

A história de vida e a produção do Cinturão Verde são costumeiramente desconhecidas da grande maioria da população de Três Lagoas, apesar de ser uma área considerada urbana em virtude da proximidade com a sede do município. Esses desconhecimentos se fazem por interessar mais os relatos oferecidos pela mídia acerca do modo de vida urbano-industrial centrado no discurso do desenvolvimento, no qual se pauta no momento no processo de industrialização do município.

A produção das famílias entrevistadas do Cinturão Verde baseia-se na produção de horti-fruti e animais de pequeno porte, que é voltada, primeiramente, para o autoconsumo e depois o excedente é vendido em porta em porta, nos supermercados de pequeno porte do bairro próximo (Vila Piloto) e também tem a venda feita no próprio lote.

Foto 2: Criação de Suínos

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Porém se as vendas dessas mercadorias forem valorizadas por meio de políticas públicas municipais haveria a possibilidade de expansão das vendas destinando-as as classes de baixo nível econômico que vivem na cidade, pois apresentam valor acessível e boa qualidade. Desta forma, as duas pontas ganham: os moradores que produzem e os citadinos que precisam de alimentos de baixo custo e de boa qualidade.

Apesar da existência de certo equilíbrio entre o autoconsumo e a venda de excedente, há muita dificuldade para a distribuição e diversificação da produção, em especial ausência de assistência técnica e correção do solo.

Cabe destacar que os moradores do Cinturão Verde estão intimamente ligados ao seu meio de produção (a terra). Nele produzem com o trabalho familiar suas próprias mercadorias. Estes elementos tornam o local uma propriedade camponesa que não explora o trabalho do outro.

Este território é camponês, cuja família produz para seu próprio consumo e venda de excedente. No entanto, mesmo com a presença de uma dinâmica territorial onde eles têm casa, terra e alimento podemos constatar que existem grandes desafios no que diz respeito ao melhoramento da qualidade de vida destas famílias.

Acreditamos que a conquista desta maior qualidade de vida passa pela conquista da valorização da produção familiar camponesa. Desafio a ser enfrentado nacionalmente, mas que pode começar no local, ou seja, em Três Lagoas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De forma geral concluímos que a pesquisa no Cinturão Verde revela a forma como a sociedade organiza o espaço combinado seus elementos e, desta maneira, modela seu território através da energia, da informação, de estratégias de comunicação. Tudo isso de uma forma relacional porque o território se faz a partir dessa forma interativa que a vida apresenta. Assim a própria conquista da lei que cria o Cinturão Verde é fruto dessa forma relacional que a vida produziu na área em questão, ou seja, a luta nasceu porque as famílias lá vivam e se relacionavam.

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Estas famílias que moram e trabalham no Cinturão Verde são pessoas comuns, cujas falas, história de vida, são costumeiramente desconhecidas da grande maioria da população de Três Lagoas, por interessar mais os relatos oficiais veiculados pela mídia acerca do modo de vida urbano-industrial centrado no discurso do desenvolvimento a qualquer preço. Logo, o desconhecimento e a descrença em relação ao modo de vida das famílias do Cinturão Verde, modo de vida que resiste a avalanche de “modernidade” que tem invadido Três Lagoas e que, por resistir, desafia a omissão do poder público.

Aos pesquisadores cabe a tarefa de dar visibilidade a estes homens e mulheres que vivem e trabalham no Cinturão Verde, como já ensinava Santos:

Aqui o papel dos intelectuais será, talvez, muito mais do que promover um simples combate às formas de ser da "nação ativa"- tarefa importante mas insuficiente, nas atuais circunstâncias -, devendo empenhar-se por mostrar, analiticamente, dentro do todo nacional, a vida sistêmica da nação passiva e suas manifestações de resistência a uma conquista indiscriminada e totalitária do espaço social pela chamada nação ativa. Tal visão renovada da realidade contraditória de cada fração do território deve ser oferecida a refleção da sociedade em geral, tanto a sociedade organizada nas associações, sindicatos, igrejas, partidos como a sociedade desorganizada, que encontrarão nessa nova interpretação os elementos necessário para postulação e o exercício de uma outra política, mais condizente com a busca do interesse social (SANTOS, 2006, p.158).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Rosemeire A. (Org.). A questão agrária em Mato Grosso do Sul: uma visão

multidisciplinar. Campo Grande: Editora da UFMS, 2008.

ARANHA-SILVA, Edima et al. Estudos sócio-econômicos para o cadastramento das

famílias da área do cinturão verde no município de Três Lagoas – MS. Relatório de

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FONSECA, Silas Rafael. Análise geográfica da terra no Cinturão Verde em Três

Lagoas/MS: uma discussão sobre Terra- Território. Monografia de Bacharelado em

Geografia. Três Lagoas, 2010.

SANTOS, Milton. A transição em marcha. In:____. Por uma outra globalização.13.ed. Rio de Janeiro: Record, 2006, p.141-174.

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