FATORES SOCIODEMOGRÁFICOS E ESCOLARES ASSOCIADOS À
SÍNDROME DE BURNOUTEM ESTUDANTES DE
UM CURSO TÉCNICO EM ENFERMAGEM
Stephanie Rodrigues Cortes Gonçalves Vieira (1); Isabel Cristina Adão Schiavon (2); Ernani Coimbra de Oliveira (3); Isabella Cristina Moraes Campos (4)
(1, 2, 3, 4) Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais – Câmpus São João del - Rei (isabella.campos@ifsudestemg.edu.br)
Introdução
Dentre os transtornos psiquiátricos aos quais os trabalhadores estão vulneráveis, particularmente os que prestam cuidados diretos a outras pessoas, como no caso da equipe de enfermagem, está a síndrome de Burnout, chamada também de síndrome do esgotamento profissional ou de sensação de estar acabado. Diversos estudos a descreveram como resultante da vivência profissional em um contexto com muitos estressores emocionais e relações sociais complexas. Portanto, a síndrome seria consequente da relação entre o profissional e o seu ambiente de trabalho (Kitze & Rodrigues, 2008; Lacerda & Hueb, 2005; Ministério da Saúde, 2001).
O levantamento bibliográfico empreendido por Campos (2013) apurou os dados alarmantes acerca da prevalência da síndrome de Burnout em profissionais de enfermagem hospitalar. A prevalência da doença variou entre 33% e 82,35% entre os profissionais dos estudos analisados (Moreira et al., 2009; Poncet et al., 2007; Risquez et al., 2008; Santos, Alves e Rodrigues, 2009).
A maior parte das pesquisas iniciais acerca da síndrome de Burnout teve amostras compostas por profissionais da área de saúde, pois sempre foram apontados como os mais vulneráveis ao adoecimento. No entanto, Cushway (1992) referiu que o início da síndrome pode ocorrer ainda durante a fase acadêmica, no período de preparação para o trabalho. Pena e Reis (1997) relataram que os alunos sofrem uma variedade de fatores estressores semelhantes aos que ocorrem nas situações de trabalho. Um dos primeiros estudos com rigor e suporte empírico foi proposto por Schaufeli et al. (2002), que pesquisou a síndrome em estudantes.
O interesse que a síndrome de Burnout está despertando na atualidade vem ocasionando uma maior abrangência de seu campo de estudo que antes era voltado, principalmente, para os trabalhadores que prestavam assistência, tais como os profissionais da área de saúde e professores (Campos, 2013). Mais recentemente, têm surgido estudos nacionais e internacionais com alunos, sendo que a maioria tem amostra composta por estudantes de cursos universitários da área de saúde. No entanto, ao se analisar a literatura da área, observa-se que os estudos sobre a temática ainda são incipientes e precisam ser diversificados, a fim de se fomentar o conhecimento acerca da síndrome de Burnout em estudantes.
Diante da importância dessa temática, foi realizada uma busca sistemática na literatura por meio das bases de dados indexadas IBECS, LILACS, MEDLINE, PubMed, SciELO e Science Direct, utilizando-se a combinação dos seguintes descritores: “enfermagem”, “estudantes” e “Burnout”; “nursing”, “students” e “Burnout”. Os critérios de inclusão adotados para a análise dos estudos foram: ter como objetivo principal verificar a relação entre variáveis sociodemográficas e/ou
escolares e a síndrome de Burnout e amostra composta por estudantes de cursos técnicos em enfermagem. Empregaram-se os seguintes critérios de exclusão: pesquisas com amostras de estudantes de cursos de graduação em enfermagem e que visaram apenas à caracterização da amostra de estudantes acometidos, sem, contudo, fazer a análise da associação das variáveis sociodemográficas e escolares à ocorrência da síndrome.
Adotando-se os critérios de inclusão e exclusão especificados acima, até o presente momento, foi localizado apenas um estudo nacional que fez o levantamento dos fatores sociodemográficos e escolares relacionados à síndrome de Burnout nos estudantes de um curso técnico em enfermagem. Não foram encontrados estudos internacionais.
O estudo de Borges e Carlotto (2004) foi desenvolvido com uma amostra de 255 estudantes de um curso técnico de enfermagem, perfazendo 66,4% da população, em uma escola particular de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Os resultados obtidos confirmaram que os estudantes não apresentaram a síndrome de Burnout, de acordo com os critérios referidos por Schaufeli et al. (2002). No entanto, os estudantes apresentaram pontuações médias em exaustão emocional, havendo a possibilidade de desenvolverem a síndrome. Segundo as autoras, a síndrome, no momento, provavelmente estaria sendo contida pelo alto índice de eficácia profissional.
A dimensão de exaustão emocional e a variável “não realizar estágio” se associaram de forma significativa. Estudantes ainda sem prática de estágio apresentaram maior desgaste emocional quando comparados aos seus colegas que já desenvolveram essas práticas de ensino. Segundo as autoras, este resultado poderia estar relacionado ao fato de que o aluno que ainda não vivenciou a prática de estágio perceber como estressante o ingresso na situação real, nova, diferente, onde deverá passar pelo julgamento de professores e colegas, conforme citaram Nogueira-Martins (2002). Os alunos que não possuíam experiência profissional também apresentam maior descrença com relação ao ensino. As autoras afirmaram que os estudantes que não possuíam alguma vivência de atividade profissional adotaram um comportamento de distanciamento, provavelmente possuíam maiores dúvidas e questionamentos com relação ao exercício prático dos conteúdos teóricos (Borges & Carlotto, 2004).
Com a realização da busca sistemática na literatura científica da área, percebeu-se a escassez de estudos a respeito da referida síndrome em estudantes e, principalmente, com amostras de alunos de cursos técnico em enfermagem, bem como o estudo de suas variáveis preditoras. Assim, esta pesquisa se justifica pela escassez de estudos nacionais sobre os fatores sociodemográficos e escolares associados à síndrome de Burnout nesses estudantes. Torna-se necessário esclarecer melhor a prevalência da síndrome nesses alunos e caracterizá-los melhor, tendo em vista que os resultados do estudo de Borges e Carlotto (2004) não podem ser generalizados a outras populações-alvo. O objetivo do presente estudo foi verificar as possíveis associações entre os fatores sociodemográficos e escolares e a síndrome de Burnout nos estudantes do curso técnico em enfermagem.
Metodologia
Esta pesquisa adotou uma abordagem quantitativa e consistiu em uma Pesquisa de Levantamento, do tipo correlacional e de corte transversal. Teve como população-alvo 80 estudantes do curso técnico em enfermagem do Instituto Federal Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste MG), Câmpus São João del-Rei, que atenderem os critérios de inclusão e exclusão definidos, a seguir. Os critérios de inclusão serão: participantes com idade igual ou superior a 18 anos, de ambos os gêneros, estar cursando o segundo ou o quarto período do curso, frequentar o
curso há, pelos menos, três meses e que concordarem em participar voluntariamente da pesquisa. Serão excluídos os alunos que estiverem ou que estiveram de férias escolares nos três meses anteriores à coleta de dados. Serão excluídos, ainda, os alunos afastados das atividades escolares, no momento da coleta, e aqueles que estiveram afastados por período igual ou superior a um mês e retornaram ao curso há menos de três meses. Serão excluídos, também, os alunos que demonstrarem dificuldades de compreensão das questões dos instrumentos de medida que serão aplicados.
Para a realização deste estudo, não foi empregada técnica de amostragem da população-alvo. Dessa forma, todos os alunos que satisfizerem os critérios de inclusão e exclusão adotados farão parte da amostra desta pesquisa, considerando-se que não se trata de um número excessivo de pessoas. Segundo Selltiz et al. (1987), nas Pesquisas de Levantamento são coletados dados de uma amostra aleatória representativa ou de toda a população-alvo. Este procedimento amplia a validade externa da pesquisa, permitindo a generalização dos resultados a toda população-alvo.
Foram utilizados dois instrumentos de medida, o Inventário de Burnout de Maslach – versão Student Survey, cuja aplicação visou avaliar a ocorrência da síndrome de Burnout entre os alunos do curso técnico em enfermagem. O segundo consistiu em um questionário sociodemográfico e escolar, testado em um estudo piloto, e que serviu para a caracterização do perfil da amostra do estudo e avaliação dos possíveis fatores associados à síndrome de Burnout.
A aplicação dos instrumentos de medida foi conduzida pela pesquisadora e por uma estagiária em pesquisa do curso técnico em enfermagem, previamente treinada. Este estudo seguiu as normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos determinadas pela Resolução n. 466 (2012) do Conselho Nacional de Saúde. Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa do IF Sudeste MG.
A análise dos dados foi realizada por meio do software Statistical Package for the Social Sciences for Windows (SPSS), versão 20.0. Os testes estatísticos foram conduzidos adotando-se o nível de significância de p < 0,05, de acordo com as recomendações de Levin (1987). Foi feita estatística descritiva com cálculo de médias, desvios-padrão, porcentagens e valores mínimos e máximos para: (a) caracterização da amostra, com a descrição das características sociodemográficas e escolares dos estudantes do curso técnico em enfermagem; e (b) descrição das pontuações do MBI-SS, com escore de cada subescala – exaustão emocional, descrença e eficácia profissional.
Foram calculadas as porcentagens de estudantes acometidos em cada subescala, separadamente, conforme preconizaram Maslach e Jackson (1981). Para comparar as porcentagens de casos da síndrome de Burnout entre os dois grupos de alunos (do primeiro e terceiro períodos) foi empregado o Teste Qui-quadrado. Além disso, foi apresentada a distribuição dos participantes em função dos níveis de classificação das pontuações obtidas em cada subescala do MBI-SS. As pontuações também foram comparadas entre os dois grupos de alunos, tendo em vista que os alunos do terceiro período realizam o estágio curricular, enquanto que os do primeiro período apenas têm aulas teóricas e aulas práticas no laboratório.
Para a comparação dos grupos caso e não caso da síndrome de Burnout em relação aos fatores sociodemográficos e escolares foi empregado o Teste t de Student para amostras independentes no caso das variáveis contínuas. Para as variáveis categóricas, foi utilizado o Teste Qui-Quadrado. A partir desse procedimento, foram selecionadas as variáveis que serão inseridas, posteriormente, nas análises de regressão logística. Segundo recomendações de Hosmer e Lemeshow (2000), foram incluídas, nessas análises, além das variáveis que apresentaram diferenças significativas (p < 0,05), aquelas com valores de p ≤ 0,25, pois poderiam se mostrar significativas nas análises de regressão. A variável dependente foi a ocorrência da síndrome, por subescala, e as
variáveis independentes foram as variáveis sociodemográficas e escolares. Esta análise permitiu a verificação da ordem de importância das variáveis preditoras da síndrome.
Resultados e Discussão
Os dados já foram coletados e estão em fase final de análise. Com base na revisão bibliográfica, espera-se encontrar uma alta prevalência da síndrome de Burnout nos alunos avaliados. Espera-se, também, que os resultados obtidos com a realização dessa pesquisa possibilitem identificar quais as variáveis sociodemográficas e escolares estão associadas à ocorrência da síndrome nos estudantes e quais são suas principais variáveis preditoras.
Espera-se encontrar diferenças significativas da prevalência da síndrome do esgotamento profissional entre os dois grupos de alunos. Espera-se, ademais, descrever as condições escolares destes alunos, relacionando-as ao surgimento da síndrome investigada neste estudo.
Conclusões
Este estudo possibilitará uma reflexão sobre o processo de adoecimento dos estudantes de cursos técnico em enfermagem e poderá lançar questões para pesquisas posteriores, principalmente porque, conforme mencionado, as pesquisas sobre a síndrome de Burnout em estudantes ainda estão sendo fomentadas. Além disso, poderá subsidiar esforços para que se alcance uma forma de organização dos cursos de enfermagem que minimize seus possíveis efeitos nocivos à saúde desses alunos. Portanto, os resultados deste estudo serão importantes para a área de saúde, ampliando o conhecimento existente na área e servindo como fonte de consulta, visando à prevenção de doenças.
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