FESTA DAS FOGACEIRAS
A Festa das Fogaceiras já vem sendo vivida á 505 anos, é o momento de rumar a Santa Maria da Feira.
Autocaravana preparada com o necessário para dois dias de autonomia, alguma roupa e o frigorifico vazio, que a motivação da viagem, também passava pela gastronomia que se iria encontrar.
Com o Sol a brilhar, depois de vários dias de chuva, o animo para enfrentar o trânsito da manha estava no seu máximo, aquelas filas intermináveis de que tem de ir para os seus afazeres, faz-nos dar valor aos muitos anos de trabalho, mais de quarenta, sempre a sonhar com o dia em que guiar fosse um prazer e não uma obrigação.
Com as nuvens a envolver o Palácio da Pena, deixamos Sintra para traz, e a primeira paragem, foi em Mafra junto ao Convento
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Um parque de estacionamento pago, mas muito agradável pela localização, zona norte do Convento, foi o sitio ideal para a autocaravana nos aguardar, enquanto tomávamos o pequeno almoço na Pastelaria Fradinho, Praça da República, mesmo em frente da entrada principal do Convento.
O fabrico dos "Doces Fradinhos", doce de ovos, amêndoa e feijão, são apenas um do muitos motivos para se frequentar esta Pastelaria, numa praça com um enquadramento, a solicitar o uso da máquina fotográfica.
De novo na estrada, que havia muitos quilómetros a vencer, algumas portagens e muito trânsito de veículos pesados, foi tudo o que tivemos de enfrentar, para chegar a Mealhada.
Este nome, já e suficiente para nos abrir o apetite, á beira da estrada os
restaurantes de leitão sucedem-se, mas só nos deixamos convencer, pelo Pedro dos Leitões
.
Qualquer outro poderá servir, mas a frequência de muitos anos, sem uma desilusão, merece o nosso respeito.
O parque de estacionamento do Restaurante Meta dos Leitões, localizado mesmo em frente, do outro lado da estrada, convém para um estacionamento com espaço e vigilância.
Já se esperava que os últimos quilómetros fossem os mais difíceis, a digestão de um almoço na Mealhada pede algum repouso, mas a vontade de chegar e muita, e convém que a procura de um lugar, para estacionar a autocaravana para a pernoita, seja feita com luz de dia. Com redobrado animo, vencemos os 74km ate Santa Maria da Feira.
O local para estacionar, foi encontrado num parque bastante grande, a entrada da cidade, junto aos Bombeiros e a estação de serviço da BP.
Estava na altura de começar a viver a Festa das Fogaceiras, começamos pela Escola de Hotelaria local, onde se desenrolava uma amostra de comeres medievais, com destaque para a fogaça, vários tipos de pão e outros manjares servidos por alunos da escola, vestidos com trajos medievais.
Para quem só tinha passado o dia a conduzir, este lanche veio mesmo a calhar...
Abrir o apetite para o jantar, era a tarefa seguinte, um passeio ate a Igreja Matriz onde podemos assistir a preparação dos andores, que sairiam na procissão do dia seguinte, foi uma boa escolha.
A igreja matriz toda iluminada e com um intenso odor a flores, era o pronuncio da festa que se aproximava. Ai tivemos uma conversa muito interessante, com
varias senhoras que colaboravam na decoração dos andores, sobre a história da cidade, das igrejas locais, e especialmente sobre os doces "caladinhos" , que foram buscar o seu nome, a necessidade de as pessoas se calarem durante o antigo regime. O tempo passou tão rápido, que estava na altura de procurar o jantar. Ó desilusão, os restaurantes conhecidos em outras viagens, de comida local, estavam fechados... Apenas pizarias onde já não havia lugar e outro restaurante que não agradou, empurraram-nos para um snack-bar. Comer ao balcão, em frente a um cozinheiro, que passa a noite a fazer "francezinhas", pode não parecer uma boa opção, e se os panados apenas se limitaram a cumprir a sua missão de matar a fome, o "curso" de francesinhas valeu pela refeição.
A noite parecia ser calma, apenas perturbada pela passagem ocasional de algum automóvel mais barulhento, e quando o sono se aproximava, eis que tivemos a oportunidade, de conhecer a fanfarra dos Bombeiros locais, em todo o seu esplendor, especialmente o bombo que parecia estar dentro da
autocaravana...
O sol já estava alto, quando saímos para procurar o pequeno almoço, e para nosso espanto, o que na véspera era um calmo e vazio parque de
estacionamento, estava agora apinhado de carros, autocarros de excursões, e roulottes de comida. Por acaso foi numa destas, que escapamos as filas que se formavam nos poucos cafés abertos, e que estavam mais interessados em vender Fogaças, do que servir pequenos almoços.
Máquinas fotográficas preparadas e o primeiro encontro do dia foi com o Sr. Alberto Gomes, de Espinho, "Retratista a Lá minuta", que percorre o pais na sua autocaravana, acompanhado da esposa, que lhe faz muita falta, como logo afirma no começo da conversa, e que com a sua fantástica máquina, ajuda a guardar recordações.
O objectivo da nossa viagem estava prestes a ser cumprido, ia começar o desfile das Fogaceiras.
Com origem num voto a S. Sebastião. A região terá sido assolada por uma peste,
que dizimava a população, esta procurou a proteção do Santo, e em troca da cura, ofereceram ao Santo as "Fogaças", que depois foram distribuídas pelos pobres e doentes
A Fogaça, um bolo feito com farinha de trigo, ovos, manteiga, fermento, agua, canela, sal e limão, cuja receita é de todos conhecida, não deixa por isso de ter paladar e textura tão diferentes, conforme a casa onde é fabricada.
Entidades locais e Bombeiros, dão a envolvência ao ponto alto do desfile, centenas de meninas vestidas de branco, com uma faixa a cintura com as cores da cidade, transportam a cabeça uma Fogaça.
Saindo Do edifício da Câmara e percorrendo as ruas da cidade, chega a Igreja Matriz onde são recebidas pelo padre.
As fogaças são depositadas, junto ao altar, e a Igreja fica cheia da devoção, de uma população que partilha este momento de alegria, pelo cumprimento da promessa.
Enquanto na Igreja o momento é vivido de forma intensa, que culmina com a bênção das fogaças, no centro da cidade decorrem as restantes actividades, exposições sócio-culturais e uma mostra das varias casas, que fabricam em fornos de lenha, as fogaças, que são de imediato vendidas.
A procissão pela tarde, e toda a animação popular, são também um motivo para a visita a Santa Maria da Feira, nesta Festa das Fogaceiras.
A viagem de regresso, foi feita pela estrada nacional, ate Leiria, onde nos desviamos para a A8. Algumas portagens evitadas e o mais económico
consumo de combustível, fez com que na chegada a casa, já estivesse no nosso pensamento a próxima viagem.